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FINANÇAS COMPORTAMENTAIS: UM ESTUDO SOBRE A AVERSÃO A PERDA NA TOMADA DE DECISÃO

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FINANÇAS COMPORTAMENTAIS: UM ESTUDO SOBRE A AVERSÃO

A PERDA NA TOMADA DE DECISÃO

Josiel Nascimento Oliveira

Universidade Federal Rural do Estado do Rio de Janeiro – UFRRJ

josiel.financas@gmail.com Everlam Elias Montibeler

Universidade Federal Rural do Estado do Rio de Janeiro - UFRRJ

everlamelias@gmail.com

RESUMO

Os estudos de Finanças Comportamentais emergiram como opção ao estudo do universo das decisões econômicas, firmando um debate entre psicologia e a economia. Enquanto o lado psicológico busca incessantemente pela alternativa que traga o maior prazer com o mínimo de esforço, a economia se esforça para manter a racionalidade e gerir os recursos escassos e limitados. Fato é que as emoções tendem a destruir o equilíbrio primordial à tomada de decisões e, o fato de não entenderem de forma científica e clara com o que estão se deparando, criam limites ao conhecimento (molduras cognitivas). Os estudos recentes sobre Finanças Comportamentais revelaram ainda, que a irracionalidade advinda das emoções ocorrem também em escolhas de financistas, economistas e demais profissionais do mercado financeiro. Baseado no estudo de Kahneman e Tversky (1997) “Prospect Theory: An Analysis of Decision under Risk”, este trabalho buscou verificar entre um grupo escolhido aleatoriamente o grau de aversão às perdas.

Palavras-Chave: Finanças Comportamentais. Tomada de Decisão. Aversão à perdas. Risco.

ABSTRACT

Behavioral finance studies emerged as an option to study the universe of economic decisions, establishing a debate between psychology and economics. While the psychological side incessantly pursues the alternative that brings the greatest pleasure with the least effort, an economy strives to maintain rationality and manage scarce and limited resources. Fact is that emotions tend to destroy the primary balance of decision making, the fact of not understanding the research and the clear, as it comes across, create cognitive frames. Recent studies on Behavioral Finance have also revealed that it is an irrationality flowing from the emotions in themes also in the choices of financiers, economists and other financial market professionals. Based on the studies of Kahneman and Tversky (1997) "Prospect Theory: An Analysis of Decision at Risk," this paper sought to check in between a randomly chosen group or the degree of loss aversion. The results were confirmed as cognitive frames previously studied by these authors.

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1 INTRODUÇÃO

A teoria que estuda as Finanças modernas concentra-se na premissa de que, as pessoas em geral, a partir do momento em que reúnem as informações necessárias, são racionais na tomada de decisão e assim, capazes de administrá-las e tomar a melhor decisão. Esta suposição sustenta que todos os agentes econômicos são racionais em suas escolhas, usando sempre o conjunto das informações às quais tem acesso da maneira mais coerente e acertada. Com isso, conclui-se que, uma vez que os agentes agem de forma individual da maneira mais racional, e partindo da hipótese que todos agem assim, podemos definir que, os mercados em geral, são 100% eficientes, uma vez que reúnem todos esses agentes racionais e com clareza em suas tomadas de decisão.

Sustentando essa teoria, várias ferramentas foram desenvolvidas para estruturar essas decisões racionais e instrumentalizar os retornos positivos dessas previsões. Um exemplo é a moderna teoria de portfólio, que segundo Nofsinger (2006, p.5) “serve para obter o maior retorno possível esperado, sem levar em consideração o nível de risco que o investidor esteja disposto a aceitar”. Outras ferramentas ajudam a precificar os ativos, como a precificação de opções, que trabalha principalmente com os modelos Binomial e Black & Scholes, e o CAPM (Capital Asset Pricing Model – Determinação de Preços dos Ativos), que também é outra técnica bastante utilizada.

Parece incoerente com a teoria da racionalidade humana supor que, após anos a fio, entendendo a fundo os modelos do mercado, fazendo análises para terem a melhor previsão e entender o contexto do mercado, tendo assim todos os requisitos e informações necessárias para serem o mais padronizado e previsível, admitir que as emoções podem ter um papel importante no comprometimento da melhor decisão. Levando em consideração as teorias racionais, Simon (1957) traz o estudo da racionalidade limitada, ele foi um dos pioneiros a confrontar a teoria da racionalidade absoluta. Para ele, a racionalidade em qualquer processo de tomada de decisão é difícil de ser analisada de forma holística. Em diferentes situações em que a tomada de decisão se faz necessária, analisar todas as variáveis do processo se torna inviável, uma vez que se deve ser levado em conta que a maioria das decisões é apresentada em ambiente de pressão, incerteza, alta complexidade e, normalmente, em casos que são únicos, tornando a previsibilidade e o movimento estruturado ainda mais frágil. Ele ainda acrescenta a influência quanto à consistência das preferências e crenças do agente, o grau de conhecimento e consideração das alternativas e a informação sobre a relação entre as possíveis alternativas.

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Essas características de julgamento e tomada de decisão é um tema relativamente novo e que vem ganhando bastante espaço com o advento da economia comportamental, e, mais especificamente, quando se trata dessa tomada de decisão em ambiente financeiro, temos as finanças comportamentais. As propostas sugeridas pelas finanças comportamentais se baseiam num conjunto teórico que confronta a ortodoxia caracterizada pela Hipótese de Mercados Eficientes. A teoria da eficiência dos mercados baseia-se na noção de um comportamento humano maximizador de utilidade esperada (KAHNEMAN; TVERSKY, 1979).

A economia comportamental, usado de forma mais ampla que as finanças comportamentais, enxerga, contrapondo a visão tradicional, que a realidade uma vez formada por pessoas, além de levarem em consideração à teoria aprendida, decidem com base em hábitos, experiências em problemas parecidos e história de vida. Kahneman e Tversky (1979) citam que as pessoas no geral são imediatistas, aceitam soluções satisfatórias ao invés de ótimas, não visualizam o longo prazo e são influenciadas sobremaneira por fatores emocionais e psicológicos. Assim, os estudiosos do campo comportamental procuram entender como essas manifestações psicológicas e emocionais, tomadas de forma consciente ou inconsciente, afetam o ser humano em geral. Nesse trabalho usaremos o termo Finanças Comportamentais, por ser o foco do nosso estudo.

Pesquisadores de diversas áreas, em especial da Psicologia tem chegado a evidências nas quais comprovam que as pessoas desviam-se de maneira sistemática do julgamento adequado na tomada de decisão. As Finanças Comportamentais vieram enriquecer esses estudos, ao trazer as teorias econômicas os aspectos psicológicos. Assim, como na teoria tradicional das finanças, o campo comportamental é comprovado através de hipóteses e argumentos empíricos.

Esse campo de estudo tem tido uma significativa relevância na área da economia e finanças, concedendo a pesquisadores dessa linha o prêmio Nobel de algumas edições, podemos citar Herbert Simon em 1978, Amartya Sen em 1998, Daniel Kahneman e Vernon Smith em 2002 e Robert Shiller em 2013. A listagem de fenômenos, que não conseguiram ser explicados pelos modelos tradicionais das linhas econômicas, tem sido investigado e encontrado explicação através das finanças comportamentais.

Os professores e psicólogos Kahneman e Tversky trouxeram grande contribuição a área, o que os fizeram serem citados na maioria dos trabalhos que tratam do tema, e de acordo com Kimura e Basso (2003, p.1) ressaltam que, após mais de trinta anos, os trabalhos dos pesquisadores mostram-se atuais quando analisada as tomadas de decisões que envolvam

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certeza e incerteza, isso independentemente de aspectos relacionados com a cultura, nacionalidade e a evolução do contexto no qual é analisado o mercado.

Os estudos de Finanças Comportamentais tem mostrado grande relevância no exterior, e aos poucos vem ganhando significativa expressão aqui no Brasil. Bons pesquisadores tem se debruçado a estudar o tema, além de podermos contar com alguns eventos que começam a ganhar notoriedade, como exemplo a Conferência de Ciências Comportamentais e Educação do Investidor e o Encontro Brasileiro de Economia e Finanças Comportamentais. Esse estudo se propõe a analisar um conceito específico da literatura denominado aversão à perdas. O trabalho abordará outros conceitos de Finanças Comportamentais, porém o foco será fazer o aprofundamento específico (KIMURA; BASSO, 2003).

Este trabalho se propõe a estudar as características do comportamento na tomada de decisão de um grupo de pessoas escolhidas aleatoriamente e comparar por meios de experimentos com as pesquisas realizadas por Kahneman e Tversky (1997), buscando explicar, após abordar o tema central, a aversão à perdas, trazendo assim um passeio pela literatura ao referido tema. O presente trabalho justifica-se por estudar um dos fatores mais complicados de se entender: o fator humano. A teoria das Finanças Comportamentais tem sido mesclada com outras áreas sociais, como a psicologia e a sociologia, trazendo assim uma nova abordagem para as finanças. As bases teóricas ainda são iniciantes sobre o tema aqui no Brasil, pelo fato de poucos terem conhecimento do assunto ou acharem sua importância irrelevante.

Esse estudo pode, através da análise dos dados, identificar como as pessoas (investidores) se comportam em seus investimentos e trazer a tona formas de nos blindarmos desses comportamentos, em especial à aversão a perda, que faz com que fundos de investimentos, planos privados de aposentadoria, decisões financeiras pessoais etc. tornem-se enviesados. Tendo em vista a referida introdução, adotou-se o seguinte problema de pesquisa: Qual o comportamento do grupo analisado em relação à aversão às perdas?

2 DESENVOLVIMENTO

A globalização tem se intensificado sobremaneira nos últimos anos, principalmente pós anos 90. A área econômica e financeira não tem ficado de fora dessa transformação. Assaf Neto (2010) enfatiza que esse fenômeno tem levado a uma grande interdependência entre as economias dos países, aumentando exponencialmente a possibilidade de crises locais afetarem mercados de diversos outros países.

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Esse atual cenário, embora tenha aumentado a competição e a movimentação das economias tem também trazido uma enorme preocupação quanto ao risco envolvido, principalmente o risco sistêmico, que é aquele onde as empresas e em visão macro os governos não conseguem combater com a diversificação de seus investimentos, uma vez que afetam a todas as instituições daquele nicho ou mercado. Assaf Neto (2010) ressalta que a nova realidade dos negócios trouxe a todas as organizações o desafio de controlarem o risco e gerar valor a seus acionistas, motivadas por estratégias corporativas que sejam adequadas ao comportamento do mercado.

Muitos são os escândalos financeiros mostrados nesses últimos anos, a tecnologia e a facilidade de tomar decisões com poucos cliques, fez com que as empresas se prevenissem e investissem em maior transparência, governança e capacidade de tomada de decisão de seus colaboradores.

O conceito de valuation começa a tomar conta dos ambientes financeiros, por este se entende, de acordo com Assaf Neto (2010), o processo de conversão de uma projeção em uma estimativa do valor de uma empresa ou de alguma parte da empresa. Entender esse valor faz toda diferença para que a empresa continue a ser competitiva no seu mercado. Dentro das ferramentas que foram desenvolvidas para trazer uma maior entendimento da maneira de agir das empresas, de forma que fosse compatível com o atual cenário. Dentre essas ferramentas desenvolvidas destaca-se o Balanced ScoreCard (BSC) criada por Kaplan e Norton, em 1990, procuravam alinhar as estratégias das empresas com medidas de desempenho sobre quatro perspectivas: financeiras, clientes, processos internos e aprendizagem e crescimento.

Nesse contexto nasce as Finanças Comportamentais. Renomados analistas de empresas e cientistas organizacionais passaram a estudar a relevância que o comportamento humano tinha na tomada de decisão. Um dos mais expressivos foi Herbert Alexander Simon (1916-2001), um notável pesquisador americano, professor da Universidade da Califórnia, em Benkeley, e prêmio Nobel de Economia em 1978, e um dos mais influentes cientistas sociais do século XX, desenvolveu a teoria da racionalidade limitada onde ele defende que a capacidade das pessoas em lidar com as informações necessárias à tomada de uma decisão é limitada, uma vez que as emoções e fatores psicológicos diversos impedem fazem com que isso ocorra. Assim, as pessoas escolhem, sistematicamente, a opção contrária aquela que maximilizaria a utilidade esperada, tomando a decisão mais satisfatória para aquele determinado momento. O uso do termo “sistematicamente”, remete a nossa previsibilidade em sermos irracionais, Ariely (2008, p.8), em sua relevante obra “previsivelmente irracional”, destaca que nossa irracionalidade ocorre da mesma maneira, repetidamente; entender isso é o

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ponto de partida para aperfeiçoar nossas decisões e modificar nossa vida para o nosso bem. De acordo com Barbedo (2008), pessoas inteligentes tomam decisões buscando a maximização da utilidade, ou seja, da utilidade que algo possa produzir de benefício. Mesmo assim, a todo o momento, pessoas perdem dinheiro, seja no mercado de ações, em jogos, em compras malfeitas, em empreendimentos pessoais, e em atividades que envolvam decisões.

As Finanças Comportamentais fundamentam-se em estudar a ação humana, bem como suas falhas e pontos frágeis no que tange a tomada de decisão. Sewell (2005 apud BARBEDO, 2008, p.18), conceitua Finanças comportamentais como o estudo da influência da psicologia sobre o comportamento dos gestores financeiros e o subsequente efeito sobre os mercados; já Gary Belsky e Thomas Gilovich (1999) apud Barbedo (2008, p.18), denominam Finanças Comportamentais como uma área que combina disciplinas gêmeas – psicologia e economia – “para explicar por que e como as pessoas tomam decisões aparentemente irracionais ou ilógicas quando gastam, investem, poupam ou pedem dinheiro.” A finalidade das Finanças Comportamentais é identificar e compreender os conflitos cognitivos aos quais fazem as pessoas tomarem decisões irracionais na hora de uma decisão.

Os conceitos econômicos tradicionais sugerem que os investidores arrisquem quando estão ganhando, fazendo suas posições serem mantidas e falam que sejam prevenidos, avessos ao risco quando estão em perda, desfazendo assim suas posições. Contrariando essa lógica, pela ótica das Finanças Comportamentais, o investidor é avesso às perdas em momentos de prejuízo.

Kahneman e Tversky (1979) ressaltam que os investidores quando estão atuando no mercado financeiro, tem a tendência a não aceitar as perdas, relutando a se desfazer de suas posições nas quais estão tendo prejuízo e vendem antes do tempo adequado às posições que estão obtendo lucros. Esses investidores tendem a dar maior valor às notícias favoráveis sobre as empresas que tiveram bons resultados no passado e ignoram as notícias sobre empresas que estão obtendo maus resultados.

A área de finanças tem se mostrado lenta em aceitar a possibilidade de que as decisões em economia podem ser presumivelmente tendenciosas. Na última década, as evidências de que a psicologia e as emoções influenciam as decisões financeiras tornaram-se mais convincentes. (NOFSINGER, 2006, p.6).

De acordo com Flávia e Bianchi (2015, p.14) Finanças Comportamentais é a união do trabalho de pesquisas proveniente da incorporação, pela economia, de desenvolvimentos teóricos e descobertas empíricas no campo da psicologia. A essa área podemos somar, as

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contribuições da neurociência e de outras ciências sociais como sociologia. Essa teoria vem de encontro à forma tradicional em economia, que segundo as autoras, apoiada na concepção do “homo economicus”, descreve o tomador de decisão racional, ponderado, voltado ao interesse pessoal e contendo uma capacidade infinita de adquirir e processar as informações.

Milanez (2003, p.28), destaca que não é objetivo das Finanças Comportamentais abdicar totalmente da visão moderna das finanças, todavia se esforça para em mostrar como e por que os pressupostos tradicionais não satisfazem a contento quanto a compreensão de muitas situações da tomada de decisão, em particular do mercado financeiro.

As Finanças Comportamentais recorrem por vezes as chamadas heurísticas, que de acordo com Ferreira (2011, p.21), funcionam como uma espécie de atalho mental, servem para que andemos mais rápido e poupemos esforços na hora de reunir informações em geral.

Ferreira (2011, p.23) ainda destaca que é muito fácil nos auto sabotarmos à medida que algo nos parece familiar, tendemos a relaxar a análise e acreditar que seja verdadeiro. Essa atitude pode ser muito danoso para nossas finanças e outras áreas de nossa vida, além de, atitudes assim, tomadas por grande parte da população podem trazer sérios problemas para a economia de um país.

Dentro desse campo de estudo surge uma concepção psicológica que temos com frequência: a aversão a perdas. Flávia e Bianchi (2015, p.201), destacam que as pessoas tem maior sensibilidade à perda que a ganhos com a mesma proporção. As autoras concluem que, em média, as pessoas são duas vezes mais propícias à perda que a ganhos similares.

Flávia e Bianchi (2015, p.182), dizem também que a teoria da aversão à perdas (loss

aversion), também chamado de Efeito Disposicional, evidencia que investidores relutariam

em enfrentar a perda de dinheiro quando em contexto de perda. Para esquivarem-se dessa perda, postergam a venda dos ativos que causaram prejuízos (diz-se: “evitam desfazerem posições perdedoras”) e privilegiam a venda de ativos que estão gerando ganhos (diz-se: “desfazem posições vencedoras”). Kahneman e Tversky (1979) dizem que as pessoas preferem não sofrer a dor de perder algo do que o prazer de um ganho equivalente, assim, elas preferem não perder R$ 10,00 a ganhar esses mesmos R$ 10,00; esse conceito também diz que as pessoas não são avessas ao risco, mas sim as perdas, logo, elas estão propícias a assumir riscos maiores quando estão perdendo do que quando estão ganhando.

Esse conceito partiu do desenvolvimento da Teoria da perspectiva (prospect theory). Essa teoria diz que as pessoas são mais propensas ao risco quando estão no campo das perdas do que no campo dos ganhos.

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Figura 1 – Função valor utilidade na prospect theory

Fonte: Adaptada de Kahneman e Tversky (1979)

Nofsinger (2006, 48), destaca que os investidores arquitetam suas opções de ganhos e perdas potenciais em cenários de incerteza, fazendo uma relação com um ponto de referência e consideram o preço de compra como uma importante referência. Dessa forma, os indivíduos avaliam os ganhos e as perdas de acordo com a função de utilidade em forma de “S”, como demostrado na figura 1.

Fazendo uma análise da figura 1, percebe-se que a inclinação da curva referente aos ganhos mostra-se côncava e evidencia um elevado grau de satisfação (alto valor de utilidade) das pessoas relacionadas aos seus ganhos, demonstrando dessa forma uma maior aversão ao risco. Na inclinação da curva referente às perdas, temos uma curva convexa, demostrando assim que as pessoas/investidores não ficam tão à vontade quando estão perdendo, assumindo dessa forma uma maior propensão ao risco em suas escolhas, objetivando reverter ou diminuir as perdas.

O conceito de aversão às perdas é tão interessante que observamos que as pessoas com medo de perder tomam decisões irracionais, tornando-as indiferentes as informações adquiridas, como exemplos têm os investidores que preferem comprar ações que tem um passado recente de alta, apostando que elas continuarão a subir, sem levar em conta qualquer outra análise.

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4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Nas questões analisadas foi verificado o valor matemático de cada alternativa e assim comparando-as com os resultados colhidos por Kahneman e Tverky (1997); a partir disso foi possível constatar como os entrevistados se comportaram em relação à aversão a perdas em opções de risco.

Questão 1

Em um jogo de cara e coroa, considere a seguinte aposta: “cara” você ganha R$ 20,00, “coroa”, perde R$ 20,00. Você aceitaria jogar?

a) Sim

b) Não

Nessa questão, as duas opções tinham a mesma probabilidade de ganharem a aposta (50% cada uma), no entanto 69,4% optaram pela alternativa “B”, enquanto que apenas 30,6% optaram pela alternativa “A”. Apesar de terem a mesma chance de ganhar ou perder, fica claro que os respondentes arriscam menos quando está em jogo alguma perda. Esse resultado foi muito semelhante ao encontrado por Kahneman e Tversky, em que 74% dos respondentes optaram pela opção “B”, a qual mostra um conservadorismo maior quando existe a chance de perca.

Questão 02

Escolha entre:

a) Certeza de perder R$ 750,00

b) 75% de chance de perder R$ 1.000,00 e 25% de chance de não perder nada.

Nessa questão, as duas opções são matematicamente iguais, veja que (75% x 1.000,00 = 750,00 + 25% x 0,00 = 0,00), porém uma grande quantidade dos respondentes, 83%, escolheram a opção “B”, demonstrando dessa forma uma forte propensão ao risco quando é colocado uma situação que evidenciem as perdas. Esse resultado foi compatível com as pesquisas de Kahneman e Tversky, no qual 87% dos respondentes optaram pela opção “B”.

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Questão 03

Há algum tempo, você e família vem esperando para ir a um jogo de futebol, que ocorrerá na semana seguinte. No dia do jogo, cai uma forte chuva. É mais provável que vocês vão ao jogo se:

a) Tiver pago os R$ 40,00 pelos ingressos. b) Tiver recebido como cortesia.

Nessa questão, esperava-se que a maioria dos respondentes optasse pela alternativa “A”, e foi exatamente o que aconteceu 94,4% optaram por essa opção, contra 5,6% da alternativa “B”. Nessa situação em particular, observamos que os respondentes tiveram forte aversão a perda quando eles teriam que fazer o desembolso, o que levou a quase totalidade a ir ao evento caso tivessem pagado. Interessante que poucos levaram em consideração o fato de alguém ter pago para eles irem ao evento e despendido do mesmo valor que eles teriam pago. Fica claro o apego que temos em proteger o que é nosso, e não se importar quando outrem tem o dispêndio. A pesquisa foi bem coerente com os resultados encontrados por Kahneman e Tversky, embora não tenha colocado em forma de porcentagem. Para eles a resposta é imediata: sabemos que quem pagou por seu ingresso tem maior probabilidade de ir. A contabilidade mental fornece a explicação. Presumimos que ambos os casos foi criada uma conta para o jogo que esperavam ver. Perder o jogo significará fechar essas contas com um balanço negativo. Independentemente do modo como tenham obtido seu ingresso, ambos ficarão desapontados — mas o balanço final é nitidamente mais negativo para o caso de ter comprado o ingresso e está agora não só com o bolso vazio como também sem poder ver o jogo. Como ficar em casa é pior para esse indivíduo, ele está mais motivado a ver o jogo e desse modo é mais provável que enfrente a forte chuva.

Questão 04

Há algum tempo, você e família vem esperando para ir a um jogo de futebol, que ocorrerá na semana seguinte. No dia do jogo, cai uma forte chuva. É mais provável que vocês vão ao jogo se tiver comprado os ingressos por R$ 40,00:

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b) Comprados ontem.

Parecida com a questão anterior, onde os valores são matematicamente iguais, observa-se que o efeito do tempo do custo incorrido foi bem presente. As pessoas tendem a sofrer mais quanto mais recente for o custo, à medida que o tempo se distancia do presente elas tendem a aceitar mais o prejuízo. Isso foi provado na questão acima, onde 76,4% optaram pela opção “B” enquanto 23,6% optaram pela opção “A”. Pensando pela ótica financeira, optar pela alternativa “B” realmente é mais coerente, uma vez que, levando em conta o valor do dinheiro tempo, o respondente estaria abrindo mão de um valor financeiramente maior.

Os resultados obtidos se fizeram coerente com a pesquisa realizada por Kahneman e Tversky. Embora não ter colocado em porcentagem, no livro Rápido e Devagar (2011), Kahneman mostra que a maioria optou pela opção “B”.

Questão 05

Qual das alternativas você prefere:

a) 33% de chances de ganhar R$2500 66% de chances de ganhar R$2400

1% de chances de ganhar R$0

b) 100% de chances de ganhar R$2400

Nessa questão os respondentes tinham 33% de chance de ganhar R$ 2500,00, valor maior que os R$ 2400,00 que ganhariam com certeza na opção “B”. Embora a chance de não ganhar nada fosse apenas 1%, o risco de não ganhar nada fez 73,6% dos respondentes optarem pela alternativa “B”. A aversão a perda se mostrou forte nessa questão. O resultado foi compatível com os números encontrados pelos professores Kahneman e Tversky, que obtiveram 82% dos respondentes optando pela opção “B” e 18% pela opção “A”.

Diante dos dados levantados, podemos chegar a uma resposta ao problema de pesquisa levantado, qual seja: O comportamento do grupo analisado em relação à aversão às perdas mostrou-se que realmente existe essa aversão. Os dados levantados não somente

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comprovam a existência dessa afirmação, como foi completamente compatível com os estudos da pesquisa original de Kahneman e Tversky.

Diante dos dados levantados, analisemos as duas hipóteses levantadas, baseadas nas questões 03 e 04.

A primeira hipótese (Ho), com base na questão 03, será a da pesquisa à qual afirma que temos menor sensibilidade ao dinheiro gasto por terceiros ao desembolsado por nós, ainda que ambos seja em nosso favor. Para esta etapa, será considerado o nome do teste como Teste – T1, o qual irá se referir ao resultado da questão nº 03.

T1 – Quadros 01, 02 e 03.

Quadro 1 - Estatísticas de uma amostra

N Média Desvio

Padrão Estatística Estatística Modelo

Padrão Estatística Questão 03 N válido (de lista) 72 72 1,125 ,0392 ,3330

Fonte: dados da pesquisa.

Quadro 2 – Testes de uma amostra

N Válido

Ausente

Média

Erro de média padrão Modelo padrão 72 0 1,125 ,0392 ,3330

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Quadro 3 – Outros Dados

Frequência Porcentual Porcentagem Válida Porcentagem acumulativa Válido 1,0 2,0 Total 63 9 72 87,5 12,5 100,0 87,5 12,5 100,0 87,5 100,0

Fonte: dados da pesquisa.

O questionário não conta com questões de escalas e em sua grande parte são perguntas de sim ou não, e para o programa gerar dados estatísticos, ele precisa de variáveis que sejam numéricas, o que não era o caso do questionário, então, como uma forma de quantificar as respostas, optou-se por numerar as opções. E desta forma de quantificar as respostas, optou-se por numerar as opções, foi determinada a seguinte adoção dos números: 1 = não; 2 = sim.

Desta forma, pode-se afirmar que a hipótese (Ho) baseada na pesquisa de Kahneman e Tversky (1979) está coerente com os resultados encontrados pela pesquisa original, uma vez que 87,5% dos respondentes optaram pela alternativa 01.

Para a segunda hipótese, será analisada a questão 04 do questionário. Assim:

T2 – Quadros 04, 05 e 06.

Quadro 4 - Estatísticas de uma amostra

N Média Desvio

Padrão Variância Estatística Estatística Modelo

Padrão Estatística Estatística Questão 03 N válido (de lista) 72 72 1,306 ,0547 ,4639 ,215

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Quadro 5 – Testes de uma amostra

N Válido Ausente Média

Erro de média padrão Modelo padrão 72 0 1,125 ,0392 ,3330 Fonte: dados da pesquisa.

Quadro 6 – Outros Dados

Frequência Porcentual Porcentagem Válida Porcentagem acumulativa Válido Comprados ontem Há um ano Total 55 17 72 76,4 23,6 100,0 76,4 23,6 100,0 76,4 100,0

Fonte: dados da pesquisa.

Desta forma, pode-se afirmar que a hipótese (Ho) baseada na pesquisa de Kahneman e Tversky (1979) está coerente com os resultados encontrados pela pesquisa original, uma vez que 76,4% dos respondentes optaram pela alternativa 01.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A racionalidade do tomador de decisão começa a ser questionada com o advento das Finanças Comportamentais. A teoria tradicional, validade pela hipótese do mercado eficiente, tem agora suas bases questionada. Aos poucos, diversos estudos teóricos e empíricos, realizados nas últimas décadas do século XX, reforçaram as limitações teóricas e os paradigmas estabelecidos no ambiente decisório. O recrudescimento da Teoria de Finanças Comportamentais contrapondo a Teoria do mercado eficiente abriu novos campos para o questionamento da racionalidade do indivíduo e a maneira como nossas emoções limitam nossa capacidade decisória, mesmo em indivíduos com grande base de informações, que, por lógica deveriam ser frios e altamente metódicos em suas decisões.

Este artigo procurou analisar empiricamente, através das lentes das Finanças Comportamentais à aversão a perda em determinado grupo. Partiu das experiências realizadas

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por Kahneman e Tversky (1979), focando principalmente no que tange à aversão a perda. Essa teoria diz que as pessoas em geral, rejeitam uma perda à um ganho equivalente.

De acordo com o questionário realizado, em situações em que ocorra a aversão a perda em ambiente de risco, os resultados ficaram bem próximo daqueles encontrados por Kahneman e Tversky (1997), concluindo que existe uma maior propensão das pessoas em sofrer mais pela perda que a um ganho proporcional.

Os resultados obtidos nessa pesquisa só enfatizam o quanto o campo das Finanças Comportamentais ainda precisa ser explorado, e que é bastante promissor para àqueles que desejam enriquecê-lo. A contribuição dos estudos dos professores Kahneman e Tversky foi de grande significância para que uma nova ciência fosse iniciada, à qual envolve a análise do risco, a psicologia e as finanças.

REFERÊNCIAS

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Experimental. São Paulo: Economia Comportamental, 2015.

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FERREIRA, Vera Rita de Melo. Decisões Econômicas: Você já parou pra pensar?. São Paulo: Évora, 2011.

GIL, A. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo: Atlas, 1989.

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<https://www.princeton.edu/kahneman/docs/Publications/Anomalies_DK_JLK_RHT_1991.p df . Acesso em: 08 abr. 2017.

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Referências

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