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VIVÊNCIAS EM ARTE DA SALA DE AULA AO ATELIER DO ARTISTA

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Academic year: 2021

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VIVÊNCIAS EM ARTE – DA SALA DE AULA AO ATELIER DO ARTISTA

Luciane Ruschel Nascimento Garcez – lucianegarcez@gmail.com Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC

RESUMO

Esta comunicação pretende discutir como podemos ampliar as experiências, conhecimentos e percepções de sala de aula levando os alunos a vivenciar a arte cerâmica a partir de ateliers de artistas, exposições, workshops, fora do ambiente da universidade, enfatizando sempre a presença e a palavra do artista que está nos recebendo.

PALAVRAS-CHAVE: Arte-educação; cerâmica; universidade.

Esta comunicação pretende discutir como podemos ampliar as experiências, conhecimentos e percepções de sala de aula levando os alunos a vivenciar a arte cerâmica a partir de ateliers de artistas, exposições, workshops, fora do ambiente da universidade, enfatizando sempre a presença e a palavra do artista que está nos recebendo. O ambiente em questão é a Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC, o curso é graduação em Artes Visuais, alunos tanto do Bacharelado quanto da Licenciatura.

Sou professora de cerâmica e de teoria e história da arte há alguns anos, e ao longo do tempo fui percebendo que certas práticas educativas, derivadas de ementas mais engessadas, acabavam por diminuir as possibilidades de abordagem dos conteúdos. Fui, aos poucos, tentando abrir a metodologia para novas experiências. Nas aulas de Teoria e História da Arte, separei um tempo de até 30% das aulas programadas para ou recebermos convidados – artistas, curadores, críticos de arte – ou visitarmos exposições com palestras organizadas. Estas práticas ampliaram e muito o olhar dosalunos, que passaram a ter outra visão do mundo da arte, além de terem a oportunidade de exercitar o olhar crítico do estudante de artes visuais. Percebi também que o contato direto com os artistas motivou os alunos a seguirem suas próprias

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trajetórias com mais confiança. Ao conhecer o artista, o aluno tem a oportunidade de trocar experiências, saber da vivência deste artista até chegar a uma carreira “consolidada”, conhecer as dificuldades pelas quais este artista passou e quais os caminhos que ele escolheu percorrer, com as vantagens e desvantagens percebidas. Com estes diálogos, os alunos foram se identificando, vendo que as dificuldades chegam para todos, e acessando maneiras de contornar os obstáculos comuns na vida de aspirante a artista.

Pude observar nos resultados das disciplinas a diferença que estas vivências trouxeram. Com isto, estendi as experiências às aulas práticas de cerâmica também. Passei a convidar artistas para virem em sala de aula mostrarem seus processos poéticos, obras, falarem sobre suas trajetórias na cerâmica. Em pouco tempo percebi as diferenças poéticas e técnicas nos trabalhos produzidos pelas turmas. Passei então a promover o movimento inverso, reservei parte das aulas programadas no semestre para sairmos em visitas. Ao menos 3 ou 4 saídas por semestre, por turma. As saídas foram organizadas entre exposições dedicadas à cerâmica artística, e ateliês de artistas-ceramistas que se

dispuseram a recebê-los e dar uma pequena palestra, in loco, mostrando não só o

processo poético, mas também seus ambientes de trabalho, materiais utilizados, ferramentas, etc.

Após estes últimos semestres, realizando estas atividades fora da metodologia tradicional acadêmica, pude perceber o crescente interesse dos alunos pela cerâmica como um todo. Uma das questões que chamou a atenção foi o próprio interesse da turma em comparecer ao Contaf 2016, inclusive enviando propostas de comunicação, sendo que na sua maioria são alunos calouros, e esta será a experiência de congresso para eles. O ambiente acadêmico é extremamente rico e permite trocas e aprendizados constantes, mas ao longo destes últimos dois semestres, com as mudanças no planejamento das disciplinas, oportunizando o contato dos alunos direto com artistas que estão produzindo e expondo seus trabalhos, a mudança na qualidade das peças apresentadas em disciplinas também foi marcante.

Além das visitas, também proporcionamos cursos extras e workshops nos próprios ateliers dos artistas visitados. Mudaram inclusive as ambições profissionais despertadas nestas turmas. Percebi que a partir do interesse fomentado pelas visitas externas ao ambiente acadêmico a visão dos alunos mudou drasticamente, a produção

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seguiu este rumo, e o interesse pelas técnicas e materiais foi muito além do proposto pela ementa da disciplina. Todos os alunos tiveram um rendimento muito acima do esperado. Alguns trabalhos mostram de onde vêm as referências de suas próprias poéticas: obras vistas nas visitas, onde a visualidade acaba por “contaminar” o fazer do aluno, dando uma dimensão maior ao seu próprio trabalho e às suas experimentações.

Seguindo neste rumo, é importante também comentar do movimento contrário que propus nas mesmas disciplinas: o convite a artistas conhecidos no seu meio para darem palestras em sala de aula, mostrando seu trabalho no ambiente da universidade. Esta experiência se desdobrou em outra riquíssima: uma oficina com 20 aulas de duração. A artista Rosângela Rosa proferiu uma palestra na nossa sala de aula. Trouxe trabalhos de diversas séries e períodos, bem como catálogos onde figuram seus trabalhos, fotos, reportagens. O que era para ser uma palestra de 1 hora se transformou em uma aula participativa de 4 horas de duração e se desdobrou em um curso de torno no contra turno, dentro da referida universidade, no atelier de cerâmica da instituição, com completo apoio do departamento de artes visuais. Esta foi uma experiência que se mostrou um sucesso absoluto, visto que esta mesma turma estará prosseguindo para um estágio mais avançado do torno no próximo semestre e houveram pessoas da comunidade que se interessaram, pela primeira vez na vida, pela cerâmica, e estão também, participando do curso.

Nas visitas externas, vale descrever três que foram significativas pelos frutos que renderam em sala de aula: a visita à exposição das artistas Marina Uieara e Marina Takase, atelier da artista Ilca Barcelos, e atelier da artista Sara Ramos.

Para estas ações, o departamento disponibilizou transporte da própria universidade, de forma que conseguimos nos organizar de forma prática e sem desgaste para os alunos que moram mais afastado.

A exposição Semelhanças e diferenças, das Marinas foi no Espaço Oficina

Galeria/Estúdio. Os alunos tiveram a oportunidade de conhecer obras com uma qualidade técnica extremamente significativa, principalmente na área da esmaltação, da artista Marina Uieara, e trabalhos diferenciados na técnica do engobe, da artista Marina Takase. Na ocasião das visitas, Marina Uieara nos recebeu e deu uma palestra de aproximadamente 1 hora, onde discorreu sobre o processo poético e técnico que

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resultou nas obras da exposição. Após sua fala foi aberto espaço para perguntas, trocas, a artista disponibilizou livros e revistas da área, e mostrou ferramentas que ela usa em seu atelier. Alguns artistas acabaram por manter contato com Marina e agendaram visitas ao seu atelier. Uma das questões que ficou clara nesta visita foi de que o nível técnico desta artista, Marina Uieara - que é doutora em química a atuou como docente universitária por quase 30 anos – de certa forma encantou e assustou os alunos iniciantes. Vários me disseram que sentiram impressionados com as obras, mas sentiram que eram trabalhos quase que “inacessíveis” a eles, como se eles nunca tivessem condições de chegar no nível apresentado. Foi uma experiência interessante, pois mostrou que mesmo estando a artista à disposição, conversando, trocando receitas e detalhes técnicos, os alunos, muito crus na área, não alcançaram a questão da fatura da obra, acessando somente o resultado.

Marina Uieara em palestra com os alunos na exposição. Março 2016

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Alunos visitando a exposição de Marina Uieara. Março 2016

Fonte da imagem: própria.

Trabalhos de Marina Uieara, exposição Semelhanças e diferenças. Março 2016

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A segunda experiência foi uma visita ao atelier de Sara Ramos. Artista ceramista muito conhecida no cenário nacional e internacional, recebeu os alunos para uma palestra em seu espaço de trabalho, onde mostrou diversos materiais, obras, livros, ferramentas. Sara cursou a mesma instituição que eles, a UDESC. Mostrou partes de seu processo técnico, catálogos, fotos, discorreu sobre como funcionam seus projetos artísticos, montou material didático e mostruário de esmaltes. Foi impressionante perceber a conexão dos alunos com a trajetória desta artista. Cada turma passou uma tarde no atelier trocando experiências e desfrutando dos conhecimentos de Sara Ramos. Sara é bastante reconhecida por seus trabalhos modulares, que criam obras dinâmicas e de dimensões que podem variar de acordo com o número de peças acopladas. Várias de suas obras partiram de peças feitas no torno.

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Atelier de Sara Ramos. Abril 2016.

Fonte das imagens: própria.

Atelier de Sara Ramos. Abril 2016.

Fonte da imagem: própria.

A terceira visita foi ao atelier de Ilca Barcelos. Ilca proporcionou uma experiência um pouco diferente, pediu que cada aluno levasse placas de argila em ponto mais plástico, mas não muito molhadas, estecas e ferramentas diferenciadas, ao gosto de

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cada um. Além da palestra e conversa sobre obras e processos, mostrou livros, catálogos, fotos, revistas. Após as perguntas e após os alunos examinarem minuciosamente os trabalhos de Ilca, esta acomodou a todos ao redor das mesas do seu atelier e orientou um workshop de texturas, onde suas próprias obras serviram de referência e ponto de partida. Ilca é uma artista conhecida por seus bichos, figuras muito orgânicas onde a textura é bastante importante na apreensão do conjunto.

Atelier de Ilca Barcelos. Abril de 2016. Fonte da imagem: própria.

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Algumas das placas com textura feitas pelos alunos. Atelier Ilca Barcelos.

Fonte da imagem: própria.

Ilca Barcelos e alunos trabalhando. Atelier Ilca Barcelos. Fonte da imagem: própria

Mostrarei agora alguns exemplos de resultados dinâmicos destas experiências. Alguns alunos, calouros, tiveram seus trabalhos finais do semestre ancorados nestas

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visitas. As referências são claras nas peças resultantes. Sofia Brightwell, por exemplo, caloura e sem experiência prévia com cerâmica, modelou sua primeira peça na técnica do acordeladousando a oficina no atelier de Ilca como referência. Ariel Pinho modelou seu primeiro vaso em acordelado com mais de meio metro de altura, sua terceira peça em argila foi a cabeça de seu pai em modelagem livre. Também aluno calouro e sem experiência na cerâmica. Ramoni Pereira, da mesma turma, mergulhou na oficina de torno e finalizou o semestre com diversas peças modeladas nesta técnica, produzidas no contra turno, na oficina com Rosângela Rosa, e decoradas e finalizadas nas aulas da disciplina. Estes são alguns exemplos, uma minoria.

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Primeira peça de acordelado, texturizado, esmaltado.

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Ariel Pinho. Primeira peça em acordelado, 2 primeiras experiências com placa e primeira cabeça modelada.

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Rosângela Rosa e a turma na oficina de torno. Atelier da UDESC.

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Alunas na oficina de torno. Atelier da UDESC. Fonte das imagens: própria.

Rosângela Rosa ensinando. Oficina de torno. Atelier da UDESC. Fonte da imagem: própria.

Duas peças do primeiro dia de oficina. Atelier da UDESC.

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Peça do torno esmaltada: a primeira experiência. Fonte da imagem: própria.

Esta comunicação pretendeu abordar estratégias de ensino na área da cerâmica, que vão além das ementas disciplinares, além das metodologias convencionais, além do ambiente acadêmico. Contar como os alunos desfrutaram destas experiências e quais os resultados concretos que pudemos observar, provando ser absolutamente positivo este movimento de expansão de olhares, ambientes e valores poéticos.

Referências

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