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AS EXPERIÊNCIAS EM SOCIOECONOMIA SOLIDÁRIA EM MINAS GERAIS

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AS EXPERIÊNCIAS EM SOCIOECONOMIA SOLIDÁRIA EM MINAS GERAIS

Geisa Daise Gumiero Cleps1 Renata Rodrigues da Silva2 João Cleps Junior1 Lucimeire de Fátima Cardoso2

Resumo: Entende-se como economia solidária à geração de emprego e renda, a viabilidade econômica, a autogestão, a divisão justa de ganhos; objetivando a inserção de pessoas excluídas do mercado forma que, a partir dessa “nova economia”, encontra perspectivas de trabalho e renda.

Em assentamentos rurais os desafios para a consolidação e a viabilidade produtiva são inúmeros, sendo assim, a mobilização em torno de empreendimentos de socioeconomia solidária mostra-se fundamental no fortalecimento dos laços de união entre os trabalhadores.

Portanto, além da necessidade de consolidação do processo produtivo, a comercialização apresenta-se como um entrave à plena concretização e viabilidade desse sistema produtivo.

Nesse contexto, o comércio solidário surge como uma opção viabilizadora do processo produtivo, apresentando-se como uma etapa da socioeconomia solidária, tendo como principal objetivo à inserção de pequenos produtores no mercado. A prática do comércio solidário vem trazendo bons resultados, isso pode ser observado, dentre outros fatores, pelo aumento das exportações e pelo poder de compra, porém observa-se também a falta de incentivo em relação à prática do comércio justo.

Dessa forma, a pesquisa tem como objetivo principal à discussão acerca da comercialização dos produtos resultantes da socioeconomia solidária tanto em assentamentos rurais quanto em empreendimentos urbanos no estado de Minas Gerais.

Palavras-chave: Socioeconomia Solidária, Autogestão, Comércio Solidário, Assentamentos Rurais, Minas Gerais.

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Pesquisadores do Núcleo de Estudos Agrários e Territoriais – NEAT/CNPq

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1. I NTRO DUÇÃO

O sistema capitalista que tem como princípio a acumulação e concentração de riqueza, exploração e subordinação da classe trabalhadora, faz com que cada dia mais pessoas estejam vivendo de maneira precária, sem condições razoáveis de moradia, de saúde, de alimentação, de educação, uma vez que o desemprego tem alcançado altos índices e atingido uma parcela bastante significativa da população brasileira.

A concentração de riqueza e a má distribuição de renda são responsáveis pela exclusão econômica e social da população urbana e tornou-se também uma e constante também no campo brasileiro.

A modernização ocorrida essencialmente a partir da década de 1970, modifica as relações de trabalho – introdução de máquinas modernas e eficientes, responsáveis pela substituição da mão-de-obra humana – sendo os mesmos dispensados e, portanto, obrigados a buscarem novas alternativas e espaços para sua sobrevivência e manutenção.

A partir dessa realidade, as pessoas são obrigadas a deixarem sua vida no campo – sendo desterritorializadas do local onde mantinham laços de afetividade, caracterizando dessa maneira o êxodo rural, pois nesse local já não existe trabalho para seu sustento, aumentando assim a quantidade de pessoas que vão para cidade à procura de trabalho.

Partindo desse contexto e situação da população brasileira, a sociedade se depara com a necessidade de busca de novos espaços, organizações alternativas e fortalecedoras que possam minimamente incluir os indivíduos, até então marginalizados do contexto econômico, na busca por renda e sobrevivência e (re)criação de relações de trabalho e convivência social.

O desafio posto é repensar o modelo de desenvolvimento econômico, bem como a busca de alternativas e viabilidades da Economia Popular Solidária (EPS) como pilar de sustentação e reprodução das relações de trabalho, caracterizadas pelo cooperativismo e ações coletivas, contribuindo para a inserção de indivíduos e aumentando as possibilidades de participação na vida econômica de maneira mais significativa da sociedade ao qual está inserido.

O trabalho realizado a partir das práticas solidárias, coletivas e cooperativistas, pode contribuir para o combate ao desemprego e à superação do status quo encontrado

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nos diversos empreendimentos individuais. Segundo Singer (2003) a economia solidária é entendida como

O conceito (economia solidária) se refere a organizações de produtores, consumidores, poupadores, etc., que se distinguem por duas especificidades: (a) estimulam a solidariedade entre os membros mediante a prática da autogestão e (b) praticam a solidariedade para com a população trabalhadora em geral, com ênfase na ajuda aos mais desfavorecidos (SINGER, 2003, p. 116).

Dessa forma, merece destaque o comércio solidário ou comércio justo, que faz parte da economia solidária. Em relação ao comércio observa-se que o mesmo consiste num processo de troca, sendo seu surgimento anterior à urbanização e a invenção da moeda. A partir do capitalismo o comércio se intensificou, aumentando desigualdades e injustiças, pois a tendência é de que os países desenvolvidos tornem-se cada vez mais ricos, aumentando a dependência dos países em desenvolvimento, obrigando-os a buscarem alternativas para controlar essa situação. Uma promissora alternativa tem sido a prática do comércio solidário, cujo principal objetivo consiste em inserir o pequeno produtor no mercado.

2. OBJETIVOS

O presente trabalho objetiva fazer uma discussão acerca dos princípios e experiências em socioeconomia solidária, uma vez que a mesma representa uma forma de inserção de indivíduos no processo produtivo e econômico, tendo em vista a impossibilidade de o mercado formal contemplar a coletividade.

Dessa forma, inicialmente faz-se necessário o entendimento e a análise em relação ao trabalho coletivo e autogestionário, e como o mesmo apresenta-se e desenvolve-se nos diversos desenvolve-setores econômicos.

Por último, o trabalho busca elaborar uma análise da atual situação das experiências em economia solidária no estado de Minas Gerais, tais como nas áreas de comércio justo, bem como em áreas de assentamentos rurais, onde a mesma surge como

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alternativa às dificuldades de organização e trabalho, entraves muitas vezes difíceis de serem superados por esses atores sociais.

3. METODOLOGIA

A metodologia utilizada baseou-se na análise bibliográfica da temática em sentido amplo, voltada para a economia popular solidária e, em específico, para experiências autogestionárias de produção rural e da produção em diversos setores da economia.

Os trabalhos de campo foram utilizados, uma vez que os mesmos são importantes para o contato inicial e o aprofundamento das relações essenciais para o desenvolvimento da pesquisa. A realização de tais trabalhos de campo também permitiu o levantamento de dados referentes ao comércio solidário no estado de Minas Gerais, visto que esses dados não são de fácil acesso, o que se deve, dentre outros motivos, ao fato de que o comércio solidário se constitui como uma prática recente.

No caso da pesquisa em áreas de assentamento rural, foram importantes os diálogos, a participação em reuniões e conversas informais com os assentados da Fazenda Nova Tangará, uma vez que as mesmas constituíram elos de aproximação, de construção e de fortalecimento da relação entre pesquisador e pesquisado.

4. DISCUSSÃO TEÓRICA

Alguns Princípios

A socioeconomia solidária caracteriza-se como uma alternativa à geração de emprego e renda, possibilitando a viabilidade econômica e tem como princípios a autogestão e a democracia, bem como a divisão justa de ganhos.

Os desafios para a consolidação e a viabilidade produtiva são inúmeros, sendo assim, a mobilização em torno de empreendimentos de socioeconomia solidária mostra-se fundamental no fortalecimento dos laços de união entre os trabalhadores. No contexto social atual, onde a necessidade de união e fortalecimento dos indivíduos torna-se fundamental para sua própria existência, os assentamentos

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rurais e a luta pela terra surgem como “alternativa” viabilizadora da busca por espaços de moradia e de (re)produção de milhares de brasileiros que buscam por condições favoráveis e propícias ao seu desenvolvimento. A própria luta pela terra é uma ação coletiva que reúne diversos indivíduos em torno de um objetivo comum.

As experiências em Assentamentos Rurais

Nos projetos de assentamento rural, conforme pode ser observado pela pesquisa, a situação é bastante adversa, principalmente no período em que os mesmos configuram-se ainda em pré-assentamentos, pois nesse momento não contam com apoio governamental no que se refere á créditos e assistência técnica efetiva.

Sugiro que a citação seja incorporada ao texto, pois não é tão importante aqui!

[...] as unidades criadas são espacialmente dispersas, muitas vezes sem nenhuma infra-estrutura viária (dificultando ou mesmo inviabilizando mercados para os produtos gerados), com apoio financeiro, de assistência técnica, sanitário e educacional em geral muito deficientes. (LEITE, 2000, p. 42).

Esses fatores dificultam principalmente a produção de alimentos em locais adequados, devido às incertezas geradas no processo de distribuição e divisão dos lotes, ao constatar-se que a maioria dos assentados consegue apenas produzir para sua subsistência, mas que trabalham majoritariamente de maneira coletiva e unida. Em um estudo de caso realizado no assentamento da Fazenda Nova Tangará, localizado no município de Uberlândia, pode ser claramente analisado sob a perspectiva de luta e resistência, bem como um espaço cujos trabalhadores têm buscado pela autogestão produtiva a forma comunitária de trabalho baseado no modelo de Economia Popular Solidária.

A organização e cooperação em áreas de assentamento rural, majoritariamente, têm como princípio as relações de proximidade e vizinhança, pela “comum convivência” em uma mesma realidade, contributiva para o fortalecimento e coesão dos grupos de trabalho, pela construção de laços laborais quanto afetivos, que resultem na construção de identidades territoriais e de pertencimento à comunidade local. O assentamento da Fazenda Nova Tangará possui grupos que têm como princípios norteadores do trabalho a cooperação e solidariedade, sendo que os mesmos

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produzem produtos agrícolas e de origem animal, minhocultura e até mesmo o artesanato.

Porém, os assentados encontram muitas dificuldades em suas atividades produtivas, sendo que a implantação e continuidade dos sistemas coletivos são fundamentais para o sucesso dos empreendimentos, necessitando dessa forma a participação coletiva de todos os indivíduos da comunidade.

Conforme relatos obtidos por meio de entrevistas e conversas informais com as lideranças do assentamento, foi possível notar as dificuldades encontradas pelas lideranças que de uma maneira reflete o mesmo processo geral por todos os indivíduos que vivem nesse local, especialmente no momento da comercialização da produção obtida no assentamento.

Conforme trecho da entrevista3 a seguir, é possível notar as dificuldades na comercialização dos produtos que os assentados produzem e levam para a cidade, buscando um mercado consumidor, não conseguindo na maioria das vezes um resultado positivo.

Suelena (assentada): Prantaram quiabo né? Aí aquela distância, muito longe, e ... colhe aqui as caixinhas de quiabo, vai leva lá na cidade, chega lá, anda, anda, anda, não consegue vender, volta com negócio, pra trás de novo, é difícil, mas se a gente não tentar....

O desenvolvimento socioeconômico popular tem como principais características à solidariedade, a autogestão, a democracia e a cooperação, como formas de trabalho e organização a serem adotadas em assentamentos rurais, uma vez que as dificuldades são inúmeras, sendo necessária à coesão e o agrupamento das famílias para que, dessa forma, viabilize os processos produtivos e, conseqüentemente, a permanência das mesmas em seus lotes.

Os produtores assentados defrontam-se com diversos obstáculos para se manterem e se reproduzirem em seus lotes, com a necessidade de formas alternativas para se organizarem, tanto na produção, quanto na comercialização dos seus produtos no mercado consumidor.

O processo produtivo enfrenta muitas dificuldades, uma vez que os lotes, na maioria dos casos, são pouco férteis, sendo necessárias correções e aplicações de corretivos e adubos, para que, dessa forma, a maior produtividade seja alcançada. Porém, para a realização desse “melhoramento” é necessário investimento

3 De acordo com entrevista realizada em 9 de dezembro de 2005 no PA Nova Tangará, sendo que a

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financeiro, fator que impede ou dificulta a produção, pois os assentados, em sua maioria, não possuem renda em dinheiro para o custeio dessas despesas.

Além da dificuldade no processo produtivo, a comercialização também se apresenta como um obstáculo, pois os assentados encontram dificuldade para levar a produção até o local da comercialização, visto que a maioria das famílias não possui veículo para esse fim. Outro agravante é a dificuldade de aceitação dos comerciantes dos produtos advindos do assentamento. Porém, a partir do momento que compram a primeira vez reconhecem a qualidade dos produtos e passam a estabelecer um elo comercial com os assentados.

Por outro lado, a feira livre é uma opção de comercialização pelo alto índice de consumidores. Porém, pela burocracia imposta pelos órgãos oficiais locais, nem todos os assentados têm condições de expor seus produtos nesses locais, diminuindo, dessa forma, a possibilidade de comercialização dos produtos produzidos nos assentamentos.

Nesse contexto, o trabalho coletivo constitui-se em um viés promissor, pois fortalece o grupo, a partir da participação dos envolvidos na busca por um objetivo comum. No caso dos assentamentos, as atividades produtivas e sua posterior comercialização seriam alicerçadas na realização conjunta, pela eficácia competitiva que resulta em maior produtividade e competitividade mercadológicas locais propiciadora de preços mais acessíveis que os praticados no mercado, condizentes às aspirações do grupo envolvido.

O Comércio Solidário

A socioeconomia solidária está presente no cotidiano de muitos brasileiros, que se encontravam excluídos do mercado de trabalho, a mesma apresenta-se como alternativa ao desemprego e como complementação de renda. A finalidade dos produtos da socioeconomia solidária é, principalmente, a comercialização, e, à partir dessa realidade, que surge o comércio solidário, que trata-se de uma forma de comercialização diferenciada, em que não apenas a questão econômica é considerada, pois o comércio justo também envolve a questão social e ambiental. Dessa forma, segundo Cattani (2003), o comércio solidário é pautado em um tripé: “socialmente justo, economicamente viável e ambientalmente correto”. Portanto, o comércio solidário desempenha um importante papel no âmbito da socioeconomia solidária, tendo em vista que a comercialização é uma das finalidades da mesma.

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O comércio solidário surgiu na Europa, fortalecendo-se por volta das décadas de 1960 e 1970, com intuito de pagar ao produtor a remuneração justa por seu trabalho. Contudo, suas propostas não se limitam apenas à questão social, incluem também a preocupação com o meio ambiente, tendo como base o desenvolvimento sustentável. Não se trata apenas de uma relação comercial, pois através da compra de um produto é estabelecida uma relação de compromisso com os produtores. Tal modalidade de comércio é sustentada, segundo Cattani (2003), pelo tripé socialmente justo, ambientalmente correto e economicamente viável.

No Brasil, esta nova modalidade de comércio intensificou-se no fim da década de 1990 com um grupo de agricultores nordestinos, da cidade de Mossoró (RN), difundindo-se, posteriormente, para outras regiões. Hoje se faz presente em outros estados, como é o caso de Minas Gerais, onde o comércio solidário é expressivo para produtos agrícolas e para o artesanato, que são comercializados seguindo alguns critérios, como a preocupação com o social e o ambiental, os quais se diferenciam das demais formas de comercialização.

Organizações como a Secretária Nacional de Economia Solidária (SENAES), o Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES), o Instituto Marista de Solidariedade (IMS), a Rede Solidária e outras, preocupadas com o desenvolvimento social são as principais incentivadoras do comércio solidário no país.

Segundo o Fórum de Articulação do Comércio Ético e Solidário no Brasil, os princípios do comércio justo no país são: o fortalecimento da democracia; o respeito à liberdade de opinião e organização; as condições justas de produção e a comercialização; o apoio ao desenvolvimento local e sustentável; o respeito ao meio ambiente e aos direitos das mulheres, das crianças, dos grupos étnicos e dos trabalhadores (as); e informação ao consumidor.

Nota-se, no Brasil, a existência de algumas instituições que são exclusivamente voltadas para ações em prol do comércio solidário, como exemplo, destacam-se a Viva Rio e o Faces do Brasil. Porém, o maior incentivo a prática dessa modalidade de comércio ocorre por parte de algumas Organizações não-governamentais (ONG’s), preocupadas com o desenvolvimento social e que, dentre outras ações, apóiam o comércio justo. Mas, essas não são as únicas formas de prática do comércio solidário. Existem também algumas associações e cooperativas, principalmente do setor agropecuário, que defendem e se beneficiam de tal forma de comércio.

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No que se refere ao comércio solidário, muitos aspectos podem ser observados, a exemplo das diferentes formas de comercialização dos produtos da economia solidária, que pode ser feita em lojas próprias deste tipo de comércio. Além da comercialização em lojas especificas de comércio justo, há também a venda dos produtos em feiras, quer sejam exclusivas de comércio solidário ou feiras livres, com barracas diferenciadas de economia solidária. Outra forma de comercialização dos produtos solidários é a que ocorre em lojas tradicionais, sendo que esses produtos podem ou não ser identificados como resultantes da economia solidária. Apesar de todas essas formas de comercialização, a forma de venda mais comum dos produtos da economia solidária ocorre nos próprios empreendimentos, mesmo que estes não possuam uma loja em suas dependências. Os consumidores têm o costume de comprarem os produtos solidários onde os mesmos são produzidos, podendo assim, observarem a forma como tais produtos são fabricados.

A principal função do comércio solidário é auxiliar em uma das mais difíceis etapas da agricultura familiar que é a comercialização, principalmente da produção sustentável. Na tentativa de facilitar tal situação é que a Rede de Comercialização da Agricultura Familiar atua. Esta rede surgiu de uma parceria entre o governo de Minas Gerais, através da EMATER-MG, do Governo Federal, por meio da EMBRAPA e do Instituto Kairós.

O comércio solidário também é muito importante para a atividade de artesanato, pois auxilia na manutenção e no fortalecimento da cultura popular, sendo que uma das principais entidades envolvidas com essa modalidade, a “Artesanato Solidário”, atua em âmbito nacional e tem como principal objetivo incentivar o artesanato de tradição em comunidades de baixa renda, sendo muito importante no Norte e Noroeste de Minas Gerais.

No caso de Minas Gerais, a maioria das redes de comércio justo ocorre na agricultura e no artesanato como, por exemplo, na produção e na comercialização de café orgânico e de artesanato, no Sul e no Norte do estado, respectivamente. Nota-se, portanto, a importância do comércio solidário para os pequenos produtores, pouco lembrados ou beneficiados por políticas públicas.

No quadro 1, a seguir, apresentam-se algumas instituições mineiras de comércio justo, onde podem ser observados os produtos comercializados pelas mesmas e, também, à localidade onde tais instituições se encontram. De acordo com o quadro (1), observa-se que a maioria dos produtos comercializados pelo comércio solidário

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em Minas Gerais refere-se a produtos alimentícios ou ao artesanato, o que se deve ao fato de que o mercado solidário para produtos agrícolas e para o artesanato é muito grande e está passando por um processo de expansão.

Inserir o produtor no mercado através da comercialização de seus produtos é uma forma muito mais eficaz de promover o desenvolvimento social do que investir em políticas assistencialistas, que nada contribuem para o desenvolvimento econômico do país, onde o produtor não se sente como parte do sistema, da economia.

Quadro 1: Redes de Comércio Solidário em Minas Gerais – 2007

LOJAS LOCALIDADE NATUREZA DA ATIVIDADE

ESTAÇÃO GERANA Pouso Alegre

Alimentos Orgânicos, alimentação natural, marcenaria, brinquedos educativos

GENTE DE FIBRA

(COMARTE) Maria da Fé

Artesanato com fibra de bananeira

A BAMBUZEIRA Itanhandu Artesanato em bambu

ÉTICA COMÉRCIO SOLIDÁRIO

Belo Horizonte

redes, bijuterias e artesanato em pedra-sabão

BROTO BRASILIS Aiuruoca artesanato

PROJETO URUCUIA Urucuia Agricultura e artesanato

OFICINA DE AGOSTO Tiradentes

Artesanato (bonecas de madeira e de papel)

GENTE DE FIBRA Maria da Fé

Produção de produtos feitos de fibra de bananeira e papel velho

CASA DO ARTESÃO Paracatu

Artesanato de forma geral e alimentos (doces, bolachas, compotas)

CASA DO ARTESÃO Campina Verde

Artesanato de forma geral e alimentos (doces, bolachas, compotas)

CASA DO ARTESÃO Uberaba

Artesanato de forma geral e alimentos (doces, bolachas, compotas)

ASSORART – Loja de Artesanato

Frutal

Artesanato de forma geral e alimentos (doces, bolachas, compotas)

ARTESANATO SOLIDÁRIO Natalândia Tecelagem

Org. Silva, R. R. da, 2006. Fonte: Projeto Terra, 2006.

A prática do comércio solidário vem trazendo bons resultados e isso pode ser observado, dentre outros fatores, pelo aumento das exportações e, também, pelo aumento do poder de compra dos pequenos produtores. Citar a fonte da informação, pos é uma frase polêmica e sem respaldo! Porém, observa-se também a falta de

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incentivo, principalmente por parte dos governantes, em relação à prática do comércio justo.

O Estado de Minas Gerais apresenta um grande potencial para o comércio solidário, assim como o restante do país. O que ocorre é que, em algumas regiões o espírito de coletividade e cooperativismo entre as pessoas não é tão evidente, o que se deve à questão cultural e histórica, as quais não serão discutidas neste trabalho. Mas, em outras regiões, como no Vale do Jequitinhonha e na região metropolitana de BH, são muitos os exemplos de grupos que desenvolvem a economia solidária e que praticam o comércio justo. É neste sentido que a prática e o incentivo ao comércio solidário se fazem necessários, pois contribuem com o desenvolvimento econômico e social do país.

Contudo, observa-se que é difícil para pequenos produtores, isolados ou organizados em associações ou cooperativas, serem inseridos no comércio solidário sem o apoio de uma instituição capaz de dar suporte ao processo de inclusão e também de apoiá-los ao longo de suas atividades. Além da comercialização, considerada como uma etapa difícil para os pequenos produtores, deve-se levar em conta também a questão da falta de apoio e suporte em relação a capacitação e gestão dos empreendimentos, que muitos produtores enfrentam a exemplo dos produtores do assentamento analisado pela pesquisa (Tangará).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A busca por espaços de sobrevivência e inserção no processo econômico representa um desafio para uma grande parcela da sociedade brasileira atual, pois as dificuldades que se apresentam são inúmeras, como o desemprego e o subemprego, que não garante uma renda suficiente para suprir as necessidades básicas do cotidiano de milhões de brasileiros.

Nesse sentido, os assentamentos que são uma forma de resistência e luta por distribuição de terras, têm como premissa as ações conjuntas realizadas desde o momento da ocupação, contribuindo para o fortalecimento do grupo, servindo como suporte para ações produtivas conjuntas, por portarem em seu cerne valores como união, cooperativismo e solidariedade.

A economia solidária tem se constituído em alternativa caracterizada por um conjunto de princípios de trabalho coletivo, pautado na democracia, cooperação e

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solidariedade, características fundamentais ao desenvolvimento de atividades produtivas e de relações sociais em assentamentos de reforma agrária. Dessa maneira, constitui-se ainda importante estratégia para contornar obstáculos que os assentados encontram em áreas sem infra-estrutura e apoio governamental.

A partir das dificuldades que se apresentam, a socioeconomia solidária pode ser vislumbrada como uma opção de geração de renda e trabalho. Porém, essa alternativa esbarra em alguns entraves como a concepção individualista presente no modo de vida da maioria dos indivíduos, o que dificulta o trabalho coletivo e se mostra como um empecilho ao desenvolvimento econômico e social dos grupos sociais.

Além da dificuldade no processo produtivo, onde a falta de incentivos financeiros e, principalmente, de apoio técnico por parte dos órgãos públicos, a comercialização apresenta-se como uma das mais difíceis etapas da cadeia, que envolve produção-distribuição-comercialização.

Uma das principais formas de comercialização dos produtos de economia solidária, tanto em áreas de assentamentos em empreendimentos de outra natureza, são as feiras que ocorrem em áreas urbanas. Porém, os produtores encontram dificuldades no transporte dos produtos e das mercadorias.

Enfim, faz-se necessário o desenvolvimento de políticas públicas no âmbito da socioeconomia solidária, pois, dessa forma viabilizaria a inserção de uma parte da população que se encontra marginalizada e dependente de políticas assistencialistas, que nada contribuem para o desenvolvimento pessoal, social e econômico, tão importante para a conquista da dignidade humana.

6. REFERÊNCIAS

CATTANI, A. D. (org.) A outra economia. Porto Alegre: Voraz Editores, 2003.

Fórum Brasileiro de Economia Solidária, disponível em: http://www.fbes.org.br, acesso em 14 de abril.

LEITE, S. Impactos Regionais da Reforma Agrária no Brasil: aspectos políticos, econômicos e sociais. In: Reforma agrária e desenvolvimento sustentável. Brasília: Paralelo 15/Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento/Ministério do Desenvolvimento Agrário, p. 37-53, 2000.

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MEDEIROS, L.S. Reforma Agrária no Brasil. São Paulo, Fundação Perseu Abramo, 2003.

NARCISO SHIKI, S. F. Desenvolvimento agrícola nos Cerrados: Trajetórias de acumulação, degradação ambiental e exclusão social no entorno de Iraí de Minas. 132 p. Dissertação (Mestrado em Economia) – Instituto de Economia, Universidade Federal de Uberlândia, 1998.

Rede Solidária, disponivel em: http://www.redesolidaria.com.br, acesso em 14 de abril de 2007.

SINGER, P. Economia Solidária. In: CATTANI, A.D. A outra economia. Porto Alegre, Veraz Editores, 2003.

SINGER, P. SOUZA, A.R. (Org.) A economia solidária no Brasil: a autogestão como resposta ao desemprego. Petrópolis, Editora Vozes, 1999.

SOUZA, A.R. CUNHA, G.C. DAKUZAKU, R.Y. (Org.) Uma outra economia é possível: Paul Singer e a Economia Solidária. São Paulo, Editora Contexto, 2003. Terra Projeto Comércio Solidário, disponível em: http://www.projetoterra.com.br, acesso em 14 de abril de 2007.

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