Universidade De Brasília Faculdade de Direito Teoria Geral do Processo 2
Trabalho 2
INSPEÇÃO JUDICIAL
Nome: Daniel C. A. Richter
Matrícula: 11/0113314 Data:31/05/2013
CONCEITO E PROCEDIMENTO
Não é a inspeção judicial modalidade de perícia técnica, posto ser exame realizado pelo próprio julgador da causa. A inspeção é diferente da perícia, pois a nesta ultima o exame é concedido por um técnico\perito que apresenta um laudo, o juiz, por sua vez, na inspeção, extrai suas conclusões de leigo sobre o assunto inspecionado, com o entendimento e percepções de um homem mediano, de um homem comum, mesmo que seja possível o juiz ser acompanhado de um ou mais peritos, pois a lei faculta ao juiz ser acompanhado de um ou mais peritos, visando facilitar a sua compreensão do fato, determinando a ida ao local onde se encontre a pessoa ou coisa quando julgar necessário para melhor verificação ou interpretação dos fatos que deva observar, ou se a coisa não puder ser apresentada em juízo sem consideráveis despesas ou graves dificuldades, CPC, art. 442, do CPC, contudo somente
a presença direta e pessoal do magistrado identifica a prova como “inspeção judicial.”
De acordo com o autor Moacyr Amaral Santos, “a inspeção judicial é a percepção sensorial direta do juiz, a fim de se esclarecer quanto ao fato, sobre qualidades ou circunstâncias corpóreas de pessoas ou coisas.”
Para Graciela Iurk Marins, “a inspeção é espécie de prova que confere ao decisor o contato direto com o lugar, a coisa ou a pessoa e ressalta que não existe inspeção judicial indireta, pois esta seria a própria prova pericial. É o próprio juiz quem realiza o exame, objetivando verificar as características e situações das pessoas ou coisas e usualmente realiza após a produção das outras provas, já que sua finalidade é o esclarecimento de pontos duvidosos da demanda, embora em casos especiais. Poderá o juiz ordenar a sua realização antes do início e coleta das provas mais tradicionais, pois em conformidade com o art. 440 do CPC, a inspeção pode ser feita em qualquer momento.”
A inspeção judicial, muito mais que um meio de prova, é elemento de convicção unilateral do juiz, através de exame pessoal sobre fato relevante para o sentenciamento do processo. Tal exame tem a finalidade de gerar no íntimo do julgador percepções pessoais, ausentes na prova pericial. Pode ser ela determinada de ofício ou a requerimento da parte, em qualquer fase do processo, consistindo em inspeção de pessoas ou coisas (CPC, art. 440). CPC
A preocupação principal da inspeção judicial é a inspeção de pessoas e de coisas, sendo a sua única relevância para o provimento da diligência a importância para a prova, como podemos verificar no exemplo de uma inspeção judicial em processo curatelar, sob o argumento de estado comatoso do curatelado, o juiz pode deslocar-se e ir até o hospital para tirar as suas próprias conclusões acerca do que lhe fora informado.
Apesar de o Código de Processo Civil tentar outorgar-lhe características de prova submetida ao contraditório, através da garantia de assistência das partes ao ato, facultando-lhes a prestação de esclarecimentos e observações que reputem de interesse para a causa, não há como negar a natureza íntima da “prova” a ser realizada (CPC, art.
443).
Feita a inspeção, o juiz mandará lavrar auto circunstanciado de tudo o que entender útil para o julgamento da causa (CPC, art. 443), uma vez que a jurisprudência entende que este requisite possui caráter essencial para outorgar validade de prova à inspeção judicial.
HISTÓRIA DA INSPEÇÃO JUDICIAL
A inspeção judicial foi textualmente contemplada no art. 440 do CPC de 1973, embora já constasse de modo implícito no art.117 do Código de Processo Civil de 1939, e implícito, porque o Código de Processo Civil de 1939 não faz referencia à inspeção judicial como sendo um meio de prova, embora a inspeção judicial tivesse voz doutrinária e prática forense.
Nos comentários ao CPC de 1939, Pontes de Miranda alude ao aspecto histórico do art. 117, quando ressalta que o princípio da discricionariedade da prova permite ao juiz ordenar qualquer diligência que repute essencial à instrução do processo e, com efeito, um desses instrumentos manifesta-se pela via da inspeção judicial, por provocação das partes ou mesmo de ofício, sempre em despacho motivado.
DOUTRINA E O DIREITO COMPARADO
Ulderico Pires dos Santos desgosta a raridade com que ocorrem as inspeções judiciais, geralmente por conta do excesso de trabalho ao que os juízes hoje são expostos, do grande acúmulo de serviço e da carência de magistrados, tornando de certa maneira impossível o tempo demandado à inspeção judicial, quando não exibida no próprio juízo.
Buscando comparar a inspeção judicial no direito brasileiro, em perspectiva ao direito italiano, Graciela Iurk Marins aponta substancial diferença de tratamento, pois, “na Itália, a inspeção judicial é meio processual de conhecer os fatos da causa; no Brasil sua finalidade está apenas em tentar melhor esclarecer qualquer fato que interesse à decisão desta. Assim visto, para a processualística italiana, a inspeção judicial exerce uma função principal, pois diz que o juiz irá conhecer os fatos, dai lhes conferindo maior peso, tal a importância que tem a proposta de afastar o julgador de seu ambiente de trabalho e deslocá-lo para o cenário do litígio que lhe foi relatado através de laudas escritas para leitura e análise periférica, ao passo que a inspeção, dará ao juiz, sempre uma idéia muito mais concreta e segura dos fatos e das circunstâncias que cercam a demanda que deverá julgar.”
Para o direito processual brasileiro, a inspeção judicial tem somente a função de tentar melhor esclarecer os fatos que interessam à causa, numa espécie de função complementar, não se podendo entender outra coisa provinda do art. 440 do CPC, quando prescreve que o juiz pode “inspecionar pessoas ou coisas a fim de se esclarecer sobre
fato que interesse à decisão da causa.” Algumas situações concretas poderão muitas vezes ser solucionadas apenas pela simples visita do juiz ao local, por exemplo na hipótese de interdição judicial de alguma construção embargada.
No entanto, não há como aceitar esta diferenciação que procura graduar a prova processual da inspeção judicial, pois será sempre a decisão do julgador que irá ditar e mensurar o real valor da diligência tomada pelo juiz da causa, mesmo porque, saberá ele mesmo orientar e indicar na fundamentação de sua decisão o valor que deita sobre cada um dos meios probatórios considerados, podendo concluir, como vimos no caso da visita do próprio Juiz ao local embargado, que a inspeção judicial foi fundamental para o seu julgamento.
O art. 442 do Diploma Adjetivo Civil indica quando se afigura importante a inspeção judicial de pessoa ou coisa e onde uma e outra encontram-se, sempre quando: “I) julgar necessário para melhor verificação ou interpretação dos fatos que deva observar; II) a coisa não puder ser apresentada em juízo, sem consideráveis despesas ou graves dificuldades; III) determinar a reconstituição dos fatos”
Diz Francisco Maia Neto, que “a inspeção judicial outorga às partes o direito de assistirem os trabalhos realizados, podendo ainda prestar todos os esclarecimentos julgados necessários e fazerem as observações que considerem de interesse ao esclarecimento da causa, como garantia às partes o parágrafo único do art. 442 do CPC.”
O AUTO DE INSPEÇÃO
Prescreve o art. 443 do CPC que, uma vez concluída a diligência, o juiz mandará lavrar auto circunstanciado, mencionando nele tudo quanto for útil ao julgamento da causa, acrescentando o parágrafo único do mesmo dispositivo legal que o auto poderá ser instruído com desenho, gráfico ou fotografia.
Portanto, o auto deve recolher o maior número possível de observações a serem registradas pelo juiz, até porque não podem ser desconsiderados alguns fatores de excepcional importância, sendo um deles o fato de que, “para plena utilidade da sentença, convém, e assim é pretensão da lei, que do auto lavrado conste tudo quanto for útil ao julgamento da causa, não devendo o juiz inspetor poupar informações por ele extraídas ao tempo da diligência; em segundo lugar, porque sempre terá que ser considerado que os fatos verificados também precisam ser cientificados às partes, para que possam concordar ou discordar com o auto e com as conclusões judiciais, e, sobretudo, deve ser considerada a possibilidade de ocorrer a substituição do juiz que fez a inspeção por outro que julgará o processo, quer por sua promoção ou outra circunstância qualquer, o que não impede a realização de uma nova diligência, pelo novo juiz, se assim reputar importante e não se sentir suficientemente esclarecido com o auto anteriormente lavrado. Segundo Pontes de Miranda, “a lei não exige unidade da diligência de inspeção nem afasta que se suspenda para continuar no dia seguinte, nos dias seguintes ou em dias marcados”, tudo dependendo da coisa ou da pessoa a ser inspecionada, sendo perfeitamente compreensível
que determinadas diligências demandem uma sintonia com o tempo, a distância, o volume e as especificidades próprias de cada coisa ou pessoa a ser inspecionada.”
BIBLIOGRAFIA
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