Adaptado por Sarah Nathan e Sela Roman
Narrativa Juvenil
Capítulo
1
N
um vale verdejante junto de um fiorde profundo, o castelo de Arendelle permanecia em silêncio na noite. O vivo resplendor da aurora boreal, a dançar através das janelas, acordou uma menina pequena que estava dentro de um quarto. Ela ergueu-se, sentou-se e sorriu ao ver aquela luz verde maravilhosa.FROZEN | NARRATIVA JUVENIL
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A menina saltou da cama e caminhou em bicos dos pés pelo quarto para acordar a irmã.
– Elsa, Elsa – disse em tom urgente. – Acorda!
A menina mais velha, com cerca de oito anos, resmungou e en-colheu-se por baixo dos cobertores.
– Anna, vai dormir.
No entanto, Anna não desistiria.
– Não consigo. O céu está acordado, por isso, eu estou acordada, e então tenho de brincar – afirmou. – Queres fazer um boneco de neve?
Os olhos da Elsa ficaram de repente bem abertos. Aquilo tinha--lhe chamado a atenção.
As raparigas, filhas do rei e da rainha de Arendelle, eram muito amigas. Elsa não conseguiu resistir ao pedido da Anna. As irmãs desataram a correr, ainda com as suas camisas de noite, rindo en-quanto avançavam rapidamente pelo corredor. Quando entraram no Grande Salão, onde eram realizados todos os bailes reais, voltaram--se uma para a outra.
– Estás pronta? – perguntou a Elsa, sorrindo.
– Estou, estou! – exclamou a Anna, ao mesmo tempo que fazia cócegas à irmã.
Elsa soltou um risinho e, de repente, flocos de neve surgiram das suas mãos como se estivesse a cair um nevão.
Anna, muito contente, bateu palmas. Sabia que a irmã tinha um dom muito especial: era capaz de criar neve e gelo, mesmo em pleno verão!
Fazendo um gesto rodopiante com as mãos, Elsa invocou magi-camente os poderes do gelo. Depressa encheu o Grande Salão com montes de neve fofa, o que o transformou num recreio de inverno. Em seguida, bateu com os pés, e o chão ficou coberto de gelo. Ria ao ver a pequena Anna alegremente aos saltos.
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Juntas, começaram a trabalhar na construção de um boneco de neve. Anna riu e fez o seu melhor para dar forma ao corpo do boneco de neve. Em seguida, foi buscar a correr uma cenoura para o nariz.
– Boneco de neve! – exclamou com orgulho. Elsa riu-se daquele boneco torto.
– Olá, eu sou o Olaf – disse ela com voz profunda, fingindo ser o boneco de neve. – E gosto de abraços calorosos.
As raparigas riram e dançaram em volta do engraçado boneco de neve.
Elsa concentrou então a sua magia e fez um escorrega de gelo muito inclinado. Anna gritou de satisfação. Subiu alegremente para o cimo do escorrega, depois desceu com grande rapidez e subiu de novo ao longo da curva de gelo. Elsa criou logo outro escorrega para apanhar a Anna quando ela desceu. Em seguida, a menina ganhou velocidade e foi lançada para cima outra vez. Elsa tinha de
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trabalhar depressa para acompanhar o ritmo da Anna. Continuou a fazer mais escorregas para que a irmã pudesse manter-se no ar e voar em redor da sala.
– Anna, mais devagar – disse Elsa, começando a ficar preocu-pada. – É muito alto!
No entanto, a Anna estava a divertir-se. A princesinha era des-temida: saltava e deslizava para cada nova estrutura de gelo tão depressa quanto Elsa as fazia. Elsa ergueu a mão para criar mais um escorrega, mas, de repente, um dos seus pés resvalou. Ao cair, a sua magia falhou. O fluxo de gelo atingiu um dos lados da cabeça de Anna, passando através do seu cabelo.
Anna soltou um gemido e caiu no chão, inconsciente. – Anna! – gritou Elsa, correndo para a sua irmã.
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Ergueu a Anna e sentiu que ela tinha o corpo frio e a tremer. Uma mecha de cabelo da Anna ficara completamente branca no local onde a magia a tinha atingido. – Mamã! Papá! – gritou Elsa desesperadamente.
Enquanto Elsa pedia ajuda, pingentes de gelo formavam-se no teto e picos de gelo cresciam em altura à volta das raparigas, visto que a preocupação de Elsa criava ainda mais gelo.
O rei e a rainha entraram precipitadamente no Grande Salão e encontraram as filhas envolvidas numa paisagem congelada. Sabiam que Elsa tinha uma capacidade especial para criar gelo, mas aquilo era mais do que alguma vez tinham visto.
– Elsa – gritou o rei. – Isto está a ficar descontrolado!
– Peço desculpa – respondeu Elsa, aflita. – Não fiz de propósito! – Anna! – exclamou a rainha, enquanto corria para a sua filha mais nova.
Capítulo
2
A
biblioteca do castelo estava escura, mas o rei sabia do que estava à procura: um livro antigo, cheio de conhecimentos de séculos passados. Tirou-o da prateleira e folheou rapidamente as páginas. Por fim, encontrou a secção de que precisava. Nela havia o desenho de um troll, que parecia segurar a aurora boreal nas mãos. Em frentedo troll, um ser humano ferido estava imóvel, enquanto o troll usava
a magia da aurora boreal para o curar. O rei virou a página e viu um documento quase a desfazer-se enfiado no livro. Era um mapa antigo, que ele apressadamente desdobrou.
Sem perder tempo, o rei e a rainha puseram as suas capas, agasa-lharam as filhas e ordenaram que os cavalos fossem selados. A família real afastou-se apressadamente do castelo. A rainha viajou com a Elsa no seu próprio cavalo, enquanto o rei levou a Anna nos seus braços. Os cavalos galoparam a toda a velocidade pelo caminho da montanha.
Kristoff e Sven iam a descer o trilho da montanha rochosa sob o brilho intenso da aurora boreal. Mas, quando ouviram o barulho dos cascos, saíram do trilho, receando os cavalos que se aproximavam. Viram os cavaleiros passar a galope e deixar um rasto de gelo atrás deles.
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Kristoff e Sven, cheios de curiosidade, seguiram os viajantes até ao cume que se elevava sobre um vale da alta montanha. Escon-deram-se os dois atrás de uma rocha e observaram os cavalos, que relincharam e, por fim, pararam. O rei e a rainha desmontaram. O rei pegou numa menina pequena ao colo, a rainha deu a mão a uma rapariga um pouco mais velha.
– Por favor, preciso de ajuda! – gritou o rei. – A minha filha! A encosta parecia vazia. Em seguida, muitas pedras rolaram pela encosta abaixo. De repente, as pedras desdobraram-se em pernas e braços e puseram-se de pé, revelando que não eram pedras, mas sim pequenas criaturas cinzentas!
– Trolls – murmurou Kristoff para Sven.
Naquele momento, uma pedra ao lado de Kristoff levantou-se e transformou-se numa mulher troll, baixinha e coberta de musgo.
Chamava-se Hulda.
– Chiu – disse Hulda a Kristoff distraidamente. – Estou a tentar ouvir.
Depois, assustada, Hulda olhou mais de perto para Kristoff, percebendo então que ele não era um troll. Com um sorriso
es-tampado no rosto, estendeu as mãos para dar um grande abraço a Kristoff e Sven.
– Lindinhos! – disse ela, rindo.
O rei permanecia no vale com as suas filhas quando Pabbie, um
troll muito velho, abriu caminho através da multidão de trolls para
observar as princesas.
Primeiro, olhou para Elsa.
– Ela nasceu com poderes ou amaldiçoada? – perguntou. – Nasceu com poderes – respondeu o rei. – E estão a ficar mais fortes.
O troll prestou depois atenção à pequena Anna, que ainda estava
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– Por sorte, o coração dela não foi atingido – comentou Pab-bie. – Não é nada fácil mudar o coração, mas a cabeça pode ser persuadida.
Fez uma pausa.
– Temos de remover toda a magia, mesmo as memórias da magia, para não correr riscos.
O rei concordou e disse: – Faça o que for preciso.
Com um toque suave dos dedos, o troll retirou uma série de memórias brilhantes da cabeça da pequena Anna. As memórias pairaram no ar enquanto o troll as transformou em cenas mais sensatas. Em vez de um boneco de neve mágico no salão de baile, Anna lembrar-se-ia agora de uma cena de inverno no pátio. Em vez de flocos de neve no corredor, lembrar-se-ia de flocos de neve a cair do lado de fora da janela. Todos os momentos mágicos que ela tinha compartilhado com Elsa tinham desaparecido, substituídos por momentos normais e felizes. A única coisa que restava do acidente mágico era a mecha branca no seu cabelo.
– Pronto – disse Pabbie quando terminou. – Ela vai lembrar-se da diversão, mas não da magia.
– Ela não vai lembrar-se de que eu tenho poderes? – perguntou a Elsa.
– Não – respondeu Pabbie. – É o melhor – disse o rei à filha.
– Ouve, Elsa – observou Pabbie. – O teu poder não vai parar de crescer. Há nele beleza, mas também um grande perigo.
Enquanto falava, o troll fez aparecer no céu uma imagem de Elsa
já mais velha. A imagem andou à volta graciosamente, rodeada por belos flocos de neve. Então, no meio da aurora boreal, os flocos de neve transformaram-se em espigões afiados. Em seguida, imagens
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de uma multidão juntaram-se a Elsa no céu, e as pessoas usaram os espigões de gelo como armas para atacar a imagem brilhante da jovem.
– Tens de aprender a controlar o teu poder – continuou Pabbie. – O medo será o teu inimigo.
O rei abraçou Elsa carinhosamente.
– Vamos protegê-la – prometeu. – Vamos fechar os portões, reduzir o pessoal e manter os poderes dela ocultos de todos… até da Anna.