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Marechal Rondon, um acontecimento público. 1

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Academic year: 2021

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1 Marechal Rondon, um acontecimento público.1

Caroline Cristina Pedrozo CÂNDIDO2

Fernanda Elisa TRINDADE3

Isabelle de Almeida FELISBERTO 4

Tainara Léia GRIESANG5 Pedro Pinto de OLIVEIRA6

Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, MT

Resumo:

O presente trabalho apresenta a pesquisa de análise comunicacional da figura de Marechal Rondon visto enquanto acontecimento público. Como corpus do nosso estudo, selecionamos dois filmes documentários para a análise da construção da narrativa dessa personalidade pública. A pergunta condutora foi: como podemos ver a figura pública de Rondon enquanto acontecimento? Partimos então para a reflexão sobre como a comunicação articula a interação entre o acontecimento e o público. Em nossos achados percebemos como os valores atravessaram esse processo comunicativo e como são fixados e reverberados pela mídia. Como conceitos operadores usamos a noção de acontecimento com Louis Quéré e Vera França e as noções de performance e enquadramento de Erving Goffman.

Palavras-chave: Comunicação; Mídia; Acontecimento; Enquadramento; Performance. Introdução

Em 2015, Cândido Mariano da Silva, mais conhecido como Marechal Rondon completou 150 anos. A data “redonda”, simbólica, nos convocou a pensar no personagem histórico do país. Rondon teve sua imagem projetada em diversos setores da sociedade, destacando-se na narrativa construída os valores da não violência, o trato pacífico com os índios, e o traço mítico de herói do sertão pelo desbravamento de mais de 70 mil quilômetros do interior brasileiro. Ele “abriu caminhos”, lançou linhas telegráficas e mapeou-as. Durante sua expedição, explorou fronteiras e

¹ Trabalho apresentado no DT 1 – Jornalismo do XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro-Oeste realizado de 19 a 21 de maio de 2016

2Caroline Cristina Pedrozo. Estudante do Curso de Comunicação Social – Habilitação em Publicidade e Propaganda

da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT); Email:carollpedrozo@gmail.com

3Fernanda Elisa Trindade. Estudante do Curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo da Universidade

Federal do Mato Grosso (UFMT); Email: fernanda_p.c@hotmail.com

4Isabelle de Almeida. Estudante do Curso de Comunicação Social – Habilitação em Rádio e TV da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT); Email: isabelle_almeidaf@hotmail.com

5Tainara Léia Griesang. Estudante do Curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo da Universidade

Federal do Mato Grosso (UFMT); Email: tainaragriesang@hotmail.com

6Professor Adjunto do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) e orientador do trabalho. Email: ppo@terra.com

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descobriu inúmeros elementos da natureza ainda não conhecidos. Acompanhou Theodore Roosevelt, ex-presidente norte-americano, na sua expedição ao Amazonas.Rondon deixou como legado a criação de instituições com o intuito de proteção a todos os indígenas no Brasil.

Marechal Cândido Rondon morreu aos 92 anos, tendo recebido diversas homenagens em vida e também depois da sua morte. Como reconhecimento da instituição militar, recebeu medalha de ouro pelo seu trabalho prestado ao exército brasileiro durante trinta anos.

Em 1925, Rondon foi indicado, dizem alguns historiadores, por meio de uma carta, ao prêmio Nobel da Paz pelo físico Albert Einstein. Porém Rondon só foi receber oficialmente a indicação ao Nobel da Paz, pelo Explorer Club de Nova Iorque [EUA], pelo seu trabalho como defensor da telecomunicação e inovador das formas de registros documentais com o uso de imagens e vozes, fotografias e filmes e pela relação pacífica, de não violência, com a população indígena que encontrou ao longo das suas expedições pelo interior do país.

Este trabalho de iniciação científica nasceu a partir das aulas da disciplina de Teoria da Comunicação II no curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), sob a orientação do professor Dr. Pedro Pinto de Oliveira. A pesquisa estudou a figura pública de Marechal Rondon, que faz parte da história do país, já analisada por diferentes disciplinas, como a própria história, antropologia e sociologia, entre outras, buscando oferecer uma visada do campo da comunicação. A pergunta condutora da pesquisa foi: como podemos ver a figura pública de Rondon enquanto um acontecimento? A partir daí desenvolvemos questões que sustentaram a formulação geral: qual foi o papel atribuído à figura no desenrolar dos acontecimentos? Qual é sua representação no meio social da época e atual? Como a mídia atual enquadra esse personagem histórico? Como são apresentados os feitos de Rondon? Como as narrativas midiáticas atuam na construção da comunicação compartilhada de Rondon enquanto um acontecimento público?

Com conceitos operadores recorremos a autores como Erving Goffman tratando de performance e enquadramento, foram utilizados também os estudos de Vera França (2012), em sua proposta de análise “acontecimento e a Mídia”, sustentando o eixo relacional de análise, enquanto experiência pública recorremos aos estudos de Louis Quéré e Cédric Terzi.

O objetivo desse estudo foi refletir sobre a imagem pública de Cândido Mariano vista como um acontecimento. Como corpus da pesquisa, selecionamos dois filmes documentários que contam a história de vida da figura pública Rondon. Um em 1999 e o outro mais recentemente, em 2014

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produzidos por diretores de Mato Grosso. Pela visada comunicacional analisamos como a mídia narra e fixa a imagem pública de Rondon enquanto acontecimento. Como os valores de um contexto da época continuam sendo reaplicados, dados como “naturais”, inerentes à figura, sem desvelar que se trata de uma construção de sentidos articulados na e pela interação.

Escolhemos essas duas narrativas porque são produções locais, nos interessando conhecer esse “olhar” de dentro, de produtores culturais de Mato Grosso, e porque são, mesmo que de autores regionais, constroem diferentes enquadramentos.

Não tivemos como foco uma análise comparativa dos diferentes enquadramentos, ainda que em nossos achados pontuamos, eventualmente, alguns aspectos complementares, de oposição e semelhança.

Feita a apresentação do percurso do artigo, passamos à apresentação da figura, o Marechal Rondon. Uma apresentação difícil, uma vez que por ser uma figura mais do que centenária e com aspectos sedimentados na sua trajetória, o viés comunicacional tenta incorporar um novo olhar para a “velha” figura. Um desafio tão rico quanto árduo para as pesquisadoras.

Cenário Rondon

Marechal Rondon, desbravou terras interiores brasileiras a fim de levar estrutura ao setor da comunicação. Nasceu na comunidade de Mimoso, em Santo Antônio do Leverger no dia 05 de maio de 1865, no estado de Mato Grosso, e neste ano completaria 150 anos.

Essa figura pública articulou dentre várias atividades, a implantação do telégrafo, projetadas em diversos setores da sociedade. Cândido Mariano faleceu dia 19 de janeiro de 1958 aos 92 anos de idade no Rio de Janeiro. Durante sua vida desenvolveu trabalhos que resultaram em conquistas pessoais. Estas o fizeram se destacar, até os dias atuais, como um herói nacional.

Rondon desbravou mais de 70 mil quilômetros de sertão, explorando fronteiras, abrindo caminhos para construir a ligação dos mais afastados com as linhas telegráficas. Uma das mais importantes foi em 1907, quando ligou as fronteiras de Cuiabá a Santo Antônio do Madeira por meio da telegrafia.

Marechal estudou os costumes dos lugares percorridos e desenvolveu trabalhos pelo sertão brasileiro, por mais de vinte anos, destacou-se ainda, por sua postura pacífica no trato com os índios.

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Após sua morte, Rondon recebeu diversas homenagens. Na capital do estado de Mato Grosso, Cuiabá, está localizado o Museu Rondon criado em 1972 e inaugurado em 1973 no campus da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), com intuito de funcionar como centro de pesquisas das culturas indígenas do estado. O museu abriga peças de usos indígenas e fotografias do cotidiano das aldeias. Outra homenagem a Rondon está localizada no centro da cidade, um obelisco erguido em 1903 para demarcar o centro geodésico da América do Sul, em frente ao Palácio Filinto Müller.

Rondon acompanhou o ex-presidente americano, Theodore Roosevelt, em sua expedição no Amazonas. Em 1925, foi indicado pelo físico Albert Einstein ao prêmio Nobel da Paz e foi reconhecido ainda, como defensor da telecomunicação.

Em 2015, recebeu inúmeras homenagens pelos seus 150 anos, algumas delas: as do correios que lançaram selos em comemoração ao seu aniversário, as imagens representam a vida de Rondon com referência no sertanejo, na sua jornada militar e sua importância para as comunicações; em Nova Iorque há um museu com um andar inteiro dedicado ao nosso conterrâneo; as obras que estavam paradas no município de Mimoso no meio do pantanal foram retomadas após 15 anos de abandono. Em comemoração também ao seu aniversário a TV Centro América estreou a minissérie “Rondon - o grande chefe” dividido em cinco episódios, a serie relatou toda trajetória dessa figura brasileira.

Fundamentação Teórica

A figura pública de Cândido Mariano da Silva Rondon expressa valores que atravessam diferentes contextos sócios históricos e que são acionados quando tratamos, em retrospecto, da sua trajetória. A descrição do indivíduo e personalidade pública, nesta pesquisa, incorporou algumas dessas diferentes narrativas convocando valores que emergem mais ou menos evidentes na comunicação sobre essa figura. O interesse deste artigo é realizar uma descrição analítica, traçando uma linha do tempo de ideias e valores que formam uma base da imagem conceitual dessa personalidade.

Tal descrição analítica foi sustentada por uma fundamentação teórica, a visada e o lugar que organiza, seleciona e dá unidade ao objeto descrito. Segue então à apresentação da fundamentação, desde o eixo relacional da comunicação ao conceito operador da análise.

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Nesse sentido, a imagem dessa personalidade está assentada na relação com o público, oeixo teórico parte do paradigma relacional, inserido em alguns campos de estudos comunicacionais. O principal papel da comunicação é estabelecer relações, que pode ser vista na sociedade através das interações, que cada indivíduo desempenha por meio de ações. A sociedade é fruto de um processo relacional, pois dependemos da interação com o outro para existir, gerando uma dependência, bem como a própria existência da comunicação. Entretanto, essas ações uma vez compartilhadas, estarão abertas a julgamentos. A mídia pode ser vista então, como um lugar de julgamentos, de embates a que estão sujeitas as figuras públicas, mortas ou vivas, demonstrando a instabilidade dos sujeitos em interação e as ações destes no compartilhamento de sentidos articulados pela comunicação, assim se resultam no acontecimento, ou pelo menos é essa uma das noções do acontecimento visto a partir de uma análise comunicacional.

O acontecimento é um dos conceitos operadores que foram escolhidos com base na ideia do relacional e nesse artigo apresenta-se pela performance do Marechal sobre o contexto e situação em que ele se insere enquadrado pele mídia nos dias atuais.

O acontecimento, segundo Vera França (2012, p. 12):

Trata – se de uma palavra banal, que usamos fartamente no nosso dia a dia, tanto para nos referirmos ao que acontece conosco ou ao nosso redor, como para falar das ocorrências do mundo. Mas é necessário problematizar um pouco mais a palavra e o conceito. Se as coisas acontecem o tempo todo, nem todas tem o mesmo peso, o mesmo poder de afetação. Chamamos então acontecimento os fatos e as ocorrências que se destacam ou merecem maior destaque.

A noção de performance para comunicação se destaca pela interação, experiência e qualidade dos sentidos para os sujeitos. As ações humanas quaisquer podem ser estudadas enquanto performance. Ervin Goffman, construiu um modelo de analise para este tema, em que para este estudioso, a performance é como uma interpretação de um indivíduo para o outro. Para Goffman (1959, p.15-16):

Uma performance pode ser definida como toda e qualquer atividade de um determinado participante em uma certa ocasião, e que serve para influenciar de qualquer maneira os participantes. [...] O padrão pré-estabelecido da ação desenvolvida durante de uma performance e que pode ser apresentada ou encenada em outras ocasiões pode ser chamada de ‘parte’ ou de ‘rotina’. Estes termos situacionais podem facilmente ser relacionados com casos de estrutura

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6 convencional. Quando uma pessoa ou ator executa o mesmo papel para o mesmo público em ocasiões diferentes, quase surge uma relação social.

Marechal Rondon refere-se a um acontecimento, pois se tornou público por suas conquistas profissionais, que beneficiaram a sociedade através dos conhecimentos adquiridos em suas expedições e, consequentemente, trouxe por esses resultados maior interação comunicacional. É uma personalidade pública em ação a um acontecimento, que está ancorado na temporalidade. Esse processo de afetação possui uma qualidade em que permite a partir disso estar aberto a julgamentos. Logo, acontecimento causa uma descontinuidade, pois provoca uma mudança da experiência social. Toda ação que realizamos no círculo social, provoca uma afetação que é de fato o deslocamento de uma experiência.

Portanto, a afetação se constitui pela interação social. Sendo assim possível analisar tal qualidade, que está pautada na ideia de valores. Se houve uma afetação de tal acontecimento pelo sujeito, haverá consequentemente uma reação e a reverberação dessa reação é a qualidade, em que irá deslocar a experiência desse sujeito. Porém, existe outra maneira de ocorrer essa afetação, que é pela simbolização na qual permite observar como se constrói o discurso do acontecimento, que símbolos estão presentes e quais são os significados.

Sobre o deslocamento da experiência do sujeito, a noção de John Dewey (1931, p.249) explica:

Formular a natureza de um problema significa que a qualidade subjacente [...] tornou-se o objeto de um pensamento articulado. Entretanto, algo se apresenta como problemático antes que seja reconhecido qual é o problema. O problema é vivido. Ou então, é algo de que se experiência, antes que ele possa ser enunciado ou enfatizado; mas é vivido enquanto qualidade imediata de uma situação global.

Dessa forma, a experiência é resultado da interação do homem com o mundo. São todas as nossas ações, ou seja, a vida é uma experiência, o sofrer e o agir dessa noção deweyana.

O acontecimento, dessa maneira, tornar-se público pela narrativa. Em nosso estudo de casos por essas narrativas da mídia na qual trata de divulgar e repercutir as ações na sociedade em que traz por consequência o gesto de avaliar e julgar próprio da natureza humana e vai além, trazendo um conhecimento do passado para transformar o futuro, já que foi analisada uma figura passada, mas que repercute ainda seus feitos e conhecimentos nos dias atuais. Pode tornar-se público por

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meio das diferentes descrições de um mesmo acontecimento, mas ambos fazendo com que o acontecimento esteja sempre no presente.

Para Louis Quéré (2012, pg.23) o papel da comunicação do acontecimento passa a ser compartilhada pelos indivíduos:

O que é coletivo é a ação e não o sujeito. É a ação que convoca as pessoas a ocuparem papeis e lugares sociais em determinado contexto institucional. Se é a ação que é coletiva, e não o sujeito, pode-se inferir que o que define o público é um modo de associação na experiência e uma situação; uma maneira determinada de agir e de aguentar junto.

Assim, o acontecimento se torna público por ter sido compartilhado entre os sujeitos que sofreram a afetação da ação na qual a experiência foi deslocada.

A noção de enquadramento se apresenta como outro conceito operador de base relacional da comunicação. Ele se define sendo uma situação na qual a performance ocorre. Dessa maneira, Goffman desenvolve o conceito de enquadramento em diálogo com o pragmatismo de William James, a fenomenologia de Schütz, a etnometodologia de Garfinkel e por fim, com a ideia batesoniana de enquadre. No texto, Frame analysis: an essay on the organization of experience (1986), o autor delimita e aplica o conceito a diversas sequências interativas, explorando sua vitalidade metodológica para a realização de uma microssociologia sistemática. O objetivo de Goffman não é o de investigar grandes estruturas e sistemas sociais. Seu foco incide sobre as pequenas interações cotidianas que organizam a experiência dos sujeitos no mundo, os quais se deparam, em toda situação, com a questão: “O que está acontecendo aqui?”.

Portanto, este objeto de estudo do campo comunicacional, de base relacional, foi analisado a partir do conceito operador do acontecimento e seus desdobramentos enquanto imagem pública e que sua trajetória serviu como uma experiência que gerou a afetação nos sujeitos sociais, reagindo e repercutindo nos enquadramentos dados pela mídia, e que continua no presente. Essa fundamentação, vista na sua aplicação prática, serviu de base para a análise proposta da personalidade pública de Rondon visto como um acontecimento.

Procedimentos Metodológicos

A pesquisa teve como objetivo analisar a figura do Marechal Cândido Rondon enquanto acontecimento público.

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Como corpus, utilizamos dois documentários de grande repercussão em Mato Grosso, sendo o primeiro, Rondon o último dos bandeirantes, de época e o segundo, Rondon o Grande Chefe, lançado recentemente e veiculado pela afiliada da Rede Globo, a TV Centro América. Ao explorar mais a fundo ambos, foram observados o formato e enquadramento das interações, performance de atores e também o posicionamento e fala de tais. Assim, foram analisados pelo viés comunicacional de Marechal Rondon enquanto acontecimento. Na sequência dos procedimentos metodológicos para recorte do objeto empírico, foram classificados quatro subtítulos que nortearam a discussão do trabalho: Cenário Rondon é uma breve abordagem sobre o objeto de estudo, contando a trajetória pessoal de Cândido Mariano e sua história.

Utilizamos os conceitos operadores de acontecimento, assim destacado por Vera França (2012): “fatos que merecem ser noticiados seriam os acontecimentos”. Ainda na noção de acontecimento incorporamos as argumentações dos autores Louis Queré e Cédric Terzi, que tratam o acontecimento enquanto experiência pública E as noções de enquadramento e performance da obra de Erving Goffman, em especial o livro The presentation of self in everyday life.

Rondon na tela

A vida de Marechal Cândido Rondon foi reproduzida em dois documentários, que contam a trajetória desde sua infância até a sua morte, mostrando Rondon, do ponto de vista cultural e político, e o quanto o seu trabalho foi considerado superior a outros bandeirantes, pois ele não suprimia os índios e sim lutava por eles. Sendo assim, as fichas técnicas dos dois documentários realçam esses valores, dos cuidados que Cândido Mariano tinha com a população indígena e seu lado humanista.

Rondon o último dos bandeirantes

Título Rondon o último dos bandeirantes Ano de Produção 1998/99

Dirigido por Joel Vaner Leão

Estreia 2000 em Mato Grosso, 2002 no Brasil

Duração 01:02:00

Classificação Livre

Gênero Documentário, Drama

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Um documentário em formato docudrama dirigido pelo cineasta Joel Leão, que o levou dois anos de pesquisa e três de gravação para ser finalizado, foi lançado pela primeira vez no Teatro da Universidade Federal do Mato Grosso. Apresentado por Paulo Ramos, o documentário mostra a história do homem que virou mito, as pessoas que influenciaram sua personalidade, crença e determinação. Rondon “o último dos bandeirantes” é completo por cenas gravadas em Cuiabá, Mimoso (Pantanal), Missão Meruri, Fortaleza de Santa Cruz (Niterói) e Rio de Janeiro, relatando a história do mato-grossense.

Rondon o grande chefe

Título Rondon o grande chefe

Ano de Produção 2004

Dirigido por Marcelo Santiago

Estreia 2014

Duração Cinco capítulos de 25 minutos cada Classificação Livre

Gênero Minissérie, Drama, Histórico

País de Origem Brasil

Uma produção de Lucy, Luiz Carlos Barreto e Rodrigo Piovezan com direção de Marcelo Santiago, a minissérie que possui cerca de duas horas (2h) de exibição, passou a ser exibida em canais abertos e fechados da televisão brasileira, no ano de 2014. As cenas foram gravadas em Cuiabá, Manso, Nova York (EUA) e Boston. Assim, Piovezan relata ao jornal Circuito Mato Grosso que “Além de relatar a vida de Rondon, a minissérie vai projetar as belezas naturais de Mato Grosso”. O documentário levou cerca de seis anos para ser finalizado, juntamente com pesquisas para a realização do mesmo. O seriado busca relatar a trajetória de Rondon, na qual liderou expedições cobrindo mais de 10 mil quilômetros quadrados de território brasileiro. E mostrar que Rondon foi também responsável pelo contato inicial com dezenas de nações indígenas do país.

Análise dos achados

De acordo com a narrativa de “Rondon: O Último dos Bandeirantes”, o documentário inicia vangloriando-se de Rondon ao apresentar sua principal tecnologia usada ao longo de sua expedição, o telégrafo. Um dos valores foi o patriotismo de Rondon, no qual foi destacado antes mesmo de

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seu nascimento: apresenta uma cena familiar, mostrando o último desejo de seu pai que ele optasse pela carreira militar e servisse a pátria. Seu nascimento em período de guerra foi como uma representação de um novo começo e novas invenções para o país. Durante sua infância desenvolveu um personagem sertanista, como todos da época desenvolviam. Marechal ainda menino possuía rápida capacidade de aprendizagem desde a sua infância. Compreende-se que um homem comum de origem humilde após a realização de seus feitos, contrapondo sua antiga imagem, se tornou homem extraordinário com inúmeros valores que reverberam sedimentados até os dias atuais por conta dessas narrativas que se sucedem.

Contudo, sendo o desejo de seu pai, seu tio buscou o pequeno Cândido para morar na capital e dar continuidade aos seus estudos, tal ideia que acabou gerando um conflito familiar entre seu tio e seu avô. Após ir para a cidade, seu único foco passou a ser lutar pelo seu objetivo e servir a pátria, tal feito na época era uma ascensão social. Seu tio, capitão da guarda nacional, queria adotar Cândido Mariano para que assim, conseguisse adentrar com maior facilidade na carreira militar, Rondon, porém não aceitou, querendo conseguir tudo por seu próprio mérito, caso isso não acontecesse, voltaria à vida de vaqueiro.

Já no Rio de Janeiro todos se surpreenderam com seu feito e por sua dedicação aos estudos, cumprindo assim seu objetivo de estudo já traçado. Assim, sempre buscando lutar a favor da pátria, Rondon tem como princípio ordem por base e progresso por si. Apesar de conservador e de desejar a família acabava deixando-a, pois a pátria o chamava mais alto. Com excesso de esforço acabava adoecido frequentemente.

Mais tarde, Marechal assume o posto no exército e horas depois a República é proclamada. Passa a ser também, capitão engenheiro e chefe do distrito telegráfico. Cândido Mariano registra todos seus trabalhos e feitos como uma forma de divulgação. Protege as tribos indígenas ao mesmo tempo em que tenta socializa-los, proporcionando vestimenta e armamentos a eles, demarcando o território indígena. Militar, homem de guerra não praticante, contrapondo a natureza militar. Nomeava-se pacificador quando dizia “morrer se preciso for matar nunca”. Por fim, ao final do documentário Rondon é acusado de “dilapidar” os cofres públicos em função das linhas telegráficas para distribuição indígena, onde se conclui que em qualquer país civilizado e polido estaria esse general na cadeia. Após o acontecido, Marechal pediu demissão do cargo por não se sentir bem com o ocorrido. A partir de então, não há mais relatos sobre o ocorrido.

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Em “Rondon o grande chefe” as informações são apresentadas por pesquisadores e costumam ser mais ricas em detalhes biográficos, abordando mais sobre a vida de Cândido Mariano. Continua-se afirmando o desejo do pai e Rondon se dedicando para cumpri-lo. Esse documentário destaca que Rondon, garantiria o progresso do país com bons tratos a indígenas ao mesmo tempo em que os socializava para que fossem vistos como “pessoas normais” pela sociedade, sendo assim, os defendia e também intervia na vivência de tais. Possuía um respeito natural pelo índio por conta de sua origem. Candido Mariano vivia longe de sua família e para manter contato se comunicava através de cartas, era conservador.

Rondon faz-se herói por conta da socialização de seus feitos, utilizando os registros obtidos durante expedições. De acordo com seu neto possuía uma visão completamente diferente de outros colegas. Por ser melhor aluno e ter conhecimentos das terras da região centro-oeste foi nomeado comandante da expansão do telégrafo. A participação de Theodore Roosevelt durante a expedição ao Amazonas fez com que sua imagem fosse ainda mais vangloriada, principalmente no momento em que Rondon “salva a vida” de Roosevelt. Cândido Mariano da Silva adotou o sobrenome Rondon antes mesmo de sair do Mato Grosso, pois era o sobrenome da sua mãe e também em fidelidade ao seu tio, contrapondo o que se dizia no documentário antigo, no qual retratava que Rondon havia adotado o sobrenome após adentrar na carreira militar. O positivismo era sua linha moral na qual acreditava e regia sua vida. Ordem e progresso, ideias do positivismo, eram tidas também por Rondon no qual já estava de acordo com a pátria e o nacionalismo. Envolvido ainda, na formação do Brasil-República.

Aumentando seu feito, recebeu também o prêmio Nobel da Paz indicado por Albert Einstein, porem só recebeu o prêmio em 1957, pelo Explorer Club de Nova Iorque [EUA].

ConsideraçõesFinais

Diante do estudo realizado, consideramos que Marechal Rondon foi e continua sendo uma figura de grande relevância e referência como “herói” nacional, ou seja, não apenas para o seu estado de origem – Mato Grosso – mas para todo o país. Seus feitos deixaram legados e o Marechal continua sendo visto como uma figura que expressa valores positivos: homem de grande honra, honestidade e importante para o país por ter realizado várias expedições para a construção das vias telegráficas e, também, por seu cuidado e preocupação com as tribos indígenas, tratando-as sempre de forma pacífica. Foi com a construção das vias telegráficas que a comunicação pode alcançar

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novos espaços, preencher os “vazios” a serem ocupados, de forma melhor e mais rápida, facilitando as relações entre a população brasileira e fazendo com que o país se desenvolvesse de maneira mais ágil. Além do levantamento cartográfico e topográfico da pátria, Marechal também foi de grande importância para a catalogação da flora e da fauna brasileira, pois em suas expedições foram descobertas e catalogadas várias espécies que antes eram desconhecidas.

A mídia com seu enquadramento de exaltação é chave para a formação e a celebração da imagem pública de Cândido Mariano, agregando valores positivos para a avaliação da sociedade, cujo rótulo de forte significado simbólico é ser reconhecido como patrono das Comunicações. Por esses fatores reunidos em nossos achados, podemos apontar que acreditamos ter agregado novos conhecimentos sobre a figura pública de Rondon, estudado pela comunicação enquanto acontecimento. Por sua performance narrada de forma positiva pela mídia, sem acentuar conflitos ou discutir incoerências, passamos assim a compartilhar sentidos dessa figura pública de origem e ação no interior do Brasil

Referências Bibliográficas

BOTELHO, M. Rondon o último bandeirante. Jornal Diário de Cuiabá. Disponível em: http://www.diariodecuiaba.com.br/arquivo/200200/dc2.htm. Acesso em: 28 de agosto de 2015, às 14h05.

CARVALHO, S. Mal. Rondon em O Grande Chefe. Circuito Mato Grosso. Disponível em: http://circuitomt.com.br/flip/487/files/assets/downloads/page0009.pdf. Acesso em: 28 de agosto de 2015, às 13h30.

FRANÇA, V. O acontecimento e a mídia. Galaxia (São Paulo, Online), n. 24, p. 10-21, 2012.

GOFFMAN, E. The presentation of self in everyday life. Monograph No. 2. University of Edinbugh Social Sciences Research Centre. 1956.

QUERÉ, L. TERZI, C. Os fundamentos sensíveis da experiência pública. IN: FRANÇA, V. e OLIVEIRA, L. de (orgs). Acontecimento: reverberações. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2012.

QUERÉ, L. A vida do acontecimento: por um realismo pragmatista. Pág. 21 à 38. IN: FRANÇA, V. Acontecimento: reverberações. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2012.

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13 SÁ, L. V. Rondon: O Agente Público e Político. Tese de doutorado apresentada ao Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo: São Paulo 2009.

Referências

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