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Katha Upanishad: uma síntese-reprodução 1

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Katha Upanishad: uma síntese-reprodução

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1. Introdução de Shankaracharya

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Nosso propósito, ao dar uma breve explicação sobre a palavra Upanishad, é tornar fácil o entendimento das lições da Katha Upanishad.

A palavra Upanishad denota o Conhecimento do Ser (Brahman), a ser estabelecido no texto que pretendemos comentar. Qual a razão etimológica para que a palavra Upanishad signifique Conhecimento? É porque seu estudo despedaça, mata e destrói avidya, ou a ignorância, semente do samsara. Os buscadores da verdade, após conquistarem a Liberação, perdem o desejo por objetos materiais visíveis e audíveis, aproximando-se do Conhecimento encontrado nas Upanishads. Esse Conhecimento será explanado presentemente e cultivado com extrema firmeza e devoção.

O Conhecimento de Brahman ou Brahmavidya é designado Upanishad porque é um modo de conhecimento onde Brahman é atingido. Esse Conhecimento capacita os buscadores da Liberação a alcançarem o Supremo Brahman.

Finalmente, o Conhecimento do Fogo ou Agnividya, o primeiro-nascido e onisciente ramo de Brahman, conduz à obtenção do Plano Celestial e por essa razão, faz cessar a miséria sob as formas de repetidas moradas em úteros, nascimentos, velhice.

Por esta interpretação etimológica do termo Upanishad, são estabelecidas as qualificações daqueles que estão preparados ou competentes para o conhecimento. A essência das Upanishads é o Supremo Brahman, o Ser interno de todas as coisas. O objetivo das Upanishads é a obtenção de Brahman, o que provoca a cessação do samsara. Esse objetivo também indica a relação entre uma Upanishad e a sua essência 3.

2. O que ensina o Katha Upanishad sobre

4

1 Síntese-reprodução do Capítulo 4, Katha Upanishad, do livro As Upanishad, de Carlos Alberto Tinôco, publicado em São Paulo, pela IBRASA, em 1996. De responsabilidade de Antônio José Botelho.

2 Transcrito por Tinôco do livro The Upanishad, de Swami Nikhilananda, publicado em New York por Ramakrishna-Vivekananda, em 1990.

3 George Feuerstein, em A Tradição do Yoga, publicado em São Paulo, pela Editora Pensamento, em 2006, à pagina 181 e 182, disserta:

“O desenvolvimento das novas doutrinas yogues se dá, no texto, em torno de uma antiga lenda: certa vez, um brâmane pobre ofereceu aos sacerdotes, como taxa de sacrifício, algumas vacas velhas e fracas. Seu filho Naciketas, preocupado com o destino do pai na outra vida, ofereceu-se a si mesmo como oferenda mais digna. Despertou com isso a ira do pai, que o enviou a Yama, soberano do mundo da morte. Yama, porém, estava ausente, e Naciketas teve que esperar três dias sem comer nem beber até que o poderoso deus voltasse ao seu reino. Satisfeito com a paciência do rapaz, Yama concedeu-lhe três pedidos.

Primeiro, o rapaz pediu que fosse devolvido vivo ao seu pai. Depois, pediu para conhecer o segredo do fogo sacrificial que leva ao céu. Por fim, insistiu em conhecer o mistério da vida após a morte. Yama procurou fazer o rapaz desistir do terceiro pedido, oferecendo-lhe em lugar dele coisas aparentemente muito mais interessante, como filhos e netos, uma vida longa, rebanhos imensos, a convivência com as ninfas celestiais, etc . Quando viu que Naciketas jamais desistiria do pedido, Yama passou a instruí-lo no caminho da emancipação. Num certo nível, a história retrata a determinação que os que buscam a espiritualidade têm de ter no caminho, desafiando até mesmo a morte. Num outro, representa o processo iniciático, que exige a reclusão, o jejum e o confronto com a morte”.

4 Ao invés de sintetizar-reproduzir o texto integral da Katha Upanishad, optou-se pela citação de trechos vinculados aos tópicos do Capítulo 11 do livro de Tinôco. Vide nota de roda pé n°1. Para

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Deus) [equação fundamental das Upanishads ⇒ Brahman = Atman]:

Yama ensinando:

“Aquele que conhece a alma individual, a experimentadora dos frutos da ação, identificando-a com o Atman que está dentro de si mesmo, e conhecendo também o Senhor do passado e do futuro, identifica-se com ambos e com nada mais” [Parte II; (1,5)];

Ainda Yama:

“É o Purusha quem permanece desperto, enquanto os órgãos sensoriais estão dormindo. Durante o sono, estes, seguem elaborando formas graciosas, umas após as outras. Aquele que, silenciosamente, observa tudo isso, é o Ser Puro só, o Brahman, o Imortal. Todas as palavras encontram nele os seus limites e ninguém pode ultrapassá-lo” [Parte II; (2,8)].

2.2. As

qualidades

de

Atman

(Purusha)

/

Brahman

(Imanência,

transcendência, infinitude, eternidade, bem-aventurança, poder absoluto

de criar, governar e extinguir o cosmo, etc.):

Yama ensinando:

“O Ser, oculto em todas as formas viventes, não brilha exteriormente; no entanto, poder ser visto por videntes sutis, mediante a concentração das suas mentes e dos seus agudos intelectos” [Parte I; (3,12)];

Ainda Yama:

“O Atman que deve ser realizado é sem som, intangível, sem forma, puro, sem sabor, eterno e sem odor; a pessoa que realiza o Atman, que não tem começo nem fim, que está além do Grande e é imutável, está livre das mandíbulas da morte” [Parte I; (3,15)];

2.3. A possibilidade de se poder conhecer Brahman, Atman (ou Purusha),

através do Yoga e a impossibilidade de se conhecer Brahman, Atman (ou

Purusha), através dos sentidos corpóreos, da racionalidade, do estudo dos

textos védicos, da prática de rituais e sacrifícios:

Yama ensinando:

“Sua forma não se assemelha a nenhum objeto visível; ninguém O percebe com os olhos. Aquele que possui o intelecto livre de todas as dúvidas e medita constantemente, está em condições de conhecê-Lo. Todas as pessoas que sabem essas verdades tornam-se imortais” [Parte II; (3,9)];

“Quando os cinco sentidos concentram-se junto com a mente e quando o intelecto não se movimenta, produzindo divagações, então a pessoa alcança o Supremo Estado, uma condição de concentração serena e penetrante” [Parte II; (3,10)];

“Esse estado, caracterizado por firme controle dos sentidos, é obtido pela prática do Yoga; quem assim procede, torna-se vigilante. A prática do Yoga pode ser benéfica ou injuriosa, depende dos objetivos dessa prática” [Parte II; (3,11)];

O Atman não pode ser alcançado pela fala, pela mente ou através da visão. Como pode o Atman ser realizado, por qual caminho pode ser encontrado, a não ser através da afirmação e dos ensinamentos daqueles que dizem; o Atman é?” [Parte II; (3,12)];

cada tópico serão citados apenas dois ou três versos ou um conjunto de versos seqüenciados, apesar da indicação ampla de Tinôco com vários versos e/ou conjuntos de versos seqüenciados. A escolha recaiu exatamente naqueles que este sintetizador-reprodutor percebe ser neste momento o mais representativo por facilidade de entendimento.

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3

“O Atman deve ser realizado primeiramente como Existência (limitado por upadhis) e depois, pela Sua natureza transcendental. Desses dois aspectos, o Atman realizado como Existência, leva aquele que O procura à realização de Sua própria natureza” [Parte II; (3,13)];

“Quando todos os desejos que moram no coração humano desaparecem, fenecendo, então, o mortal torna-se imortal, alcançando Brahman ainda nesta vida” [Parte II; (3,14)];

“Quando todas as lágrimas de dor são rudemente derramadas sobre a terra, então o mortal torna-se imortal. Essa é a conclusão dos ensinamentos (das escrituras)” [Parte II; (3,15)].

2.4. A mente (origem, estrutura, relação com o Atman) e os estados da

consciência:

Yama ensinando 5:

“Os órgãos sensoriais, são comparados aos cavalos; os objetos do mundo são as estradas. O sábio chama o Atman, unido ao corpo, aos sentidos e à mente, de o desfrutador” [Parte I; (3,4)];

“Se o buddhi, estando sempre associado à mente que é sempre distraída, perde-se em discriminações, então, os sentidos ficam incontrolados, como os cavalos viciosos da carruagem” [Parte I; (3,5)];

“Mas, se o buddhi está associado a uma mente sempre controlada, sem descriminações, então os sentidos permanecem sob controle, semelhante aos cavalos dóceis da carruagem” [Parte I; (3,6)];

“Se o buddhi está relacionado à mente distraída e perde sua capacidade de controlar as discriminações, permanecendo sempre impura, então o Atman encarnado nunca atingirá o seu objetivo, permanecendo preso à roda dos nascimentos” [Parte I; (3,7)]; “Se o buddhi está ligado à mente disciplinada e possuidora de discriminações, embora permaneça sempre pura, então o Atman encarnado alcança o seu objetivo final, não renascendo novamente” [Parte I; (3,8)];

“O homem que tem discriminação por seu ‘condutor da carruagem’, segurando as rédeas da mente com as mãos firmes, encontra o final da estrada. Esta é suprema posição do Vishnu” [Parte I; (3,9)];

“Além dos sentidos estão os objetos, além dos objetos está a mente; além da mente está o intelecto” [Parte I; (3,10)];

“Além do intelecto está o Poderoso Atman; além do Poderoso Atman está o Imanifesto; além do Imanifesto está o Purusha. Além do Purusha nada há. Este é o final, o Supremo Objetivo” [Parte I; (3,11)];

“O Ser, oculto em todas as formas viventes, não brilha exteriormente, no entanto, pode ser visto por videntes sutis, mediante a concentração das suas mentes e dos seus agudos intelectos” [Parte I; (3,12)];

“O homem sábio coloca sua fala na sua mente, e a sua mente no seu intelecto (buddhi). Ele mergulha seu intelecto na mente Universal (Saguna Brahman) e esta, no Tranqüilo Ser (Nirguna Brahman)”; [Parte I; (3,13)].

5 Sobre A Metáfora da Carruagem, Heinrich Zimmer ilustra, em Filosofias da Índia, publicado em São Paulo, pela Editora Palas Athena, em 2005, à página 264, que “o bhoktr [forças sensoriais] e o kartr [forças de ação], funcionando juntos, possibilitam que o organismo saudável leve adiante o processo da vida ... [para atravessar] os véus que oculta[m] o Eu, por meio da conquista das forças naturais de seu próprio organismo, o condutor da carruagem já não [fica] envolvido [pelos] sofrimentos, prazeres e interesses mundanos; ele se torn[a] livre [para sempre]” [negrito e adaptações de responsabilidade do sintetizador-reprodutor].

A Amritanada Upanishad, de natureza yoguica, também utilizada a simbologia da carruagem para caracterizar o caminho espiritual. Veja o verso 2 à página 84 do livro As Upanishads do Yoga, de Carlos Alberto Tinôco, publicado em São Paulo, pela Editora Madras, em 2005: “Subindo então no carro / que a sílaba Om / tendo Vishnu por Cocheiro / o yoguin devotado ao serviço de Rudra / avança no caminho carroçável / que leva ao Céu de Brahman”.

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4

Yama ensinando:

“Nenhum mortal vive apenas pelo Prana, que sobe, nem pelo Apana, que desce. O homem vive por uma causa diferente, de quem dependem o Prana e o Apana” [Parte II; (2,5)];

Ainda Yama:

“Ele é quem conduziu a Prana para o alto e para baixo, espalhando-o. Todos os Devas O adoram, esse Ser situado no meio” [Parte II; (2,3)];

Mais uma vez Yama:

“Existem cento e uma artérias que partem do coração, uma das quais conduz ao topo do crânio. Na morte, o Ser interno do homem caminha através dessa artéria, saindo do corpo, alcançando a imortalidade. Mas, quando o seu Prana segue através de outras artérias, caminhando em outras direções, então, o Ser interno volta a renascer no mundo” [Parte II; (3,16)].

2.6. A sílaba sagrada OM (AUM), que representa Brahman

7

:

Yama ensinando:

“Esta sílaba é Brahman. Esta sílaba é a expressão do Mais Elevado. Todo aquele que conhece verdadeiramente esta sílaba, não sofre, não é atormentado por desejos” [Parte I; (2,16)].

2.7. A importância do papel do Guru (Mestre espiritual), na libertação do

discípulo (Moksha, Kaivalya )

8

:

Yama ensinando:

“O Atman sutil não pode ser ouvido por muitos. Mesmo que consigam ouvi-lo, muitos não o compreendem. Maravilhoso é o Atman que está sempre desejando ser ouvido, mas raros são os ouvintes; raros também são os que experimentam o Atman, mesmo com o auxílio de um preceptor espiritual” [Parte I; (2,7)];

Ainda Yama:

“Levantai! Despertai! Aproximai-vos dos sábios e procurai aprender. Eles dizem que o caminho para o Atman é semelhante ao afiado gume de uma navalha. É um caminho difícil de ser trilhado, duro de ser transposto” [Parte I; (3,14)].

2.8. Os Gunas

9

:

2.9. Os diversos corpos que “revestem” o Amam (upadhis) e a fisiologia mística

(chakras, nadis e relação entre os Pranas e os órgãos sensoriais):

Yama ensinando:

“O homem sábio, percebendo o Atman morando dentro dos corpos impermanentes, sendo Ele mesmo sem corpo, vasto e a tudo permeando, liberta-se do sofrimento” [Parte I; (2,22)];

Ainda Yama:

6 Excepcionalmente, este sintetizador-reprodutor selecionou três versos, inclusive invertendo a seqüência numérica dos dois primeiros.

7 Excepcionalmente Tinôco indicou apenas um verso sobre esse ensinamento, o que indica que não há outra passagem nessa Upanishad sobre o mesmo.

8 Para esse ensinamento Tinôco aponta apenas dois versos, o que indica que a Upanishad não o aborda em outras passagens.

(5)

5

“O Atman deve ser realizado primeiramente como Existência (limitado por upadhis) e depois, pela Sua natureza transcendental. Desses dois aspectos, o Atman realizado como Existência, leva aquele que O procura à realização de Sua própria natureza” [Parte II; (3,13)].

2.10. O Karama e o Samsara (ciclo de morte-renascimento):

Yama ensinando:

“O outro mundo nunca revela a si mesmo a uma pessoa discriminadora e perplexa diante da ilusão das riquezas. Essas pessoas pensam: ‘Somente este mundo existe, não há outro’. Assim, permanecem, sempre e sempre, sob o meu domínio” [Parte I; (2,6)] 10;

Ainda Yama:

“Alguns Jivas entram em úteros para encarnarem como seres vivos e outros, vão para o mundo vegetal, de acordo com suas ações e de acordo com seus conhecimentos” [Parte II; (2,7)];

Mais uma vez Yama:

“Se um homem pode realizar Brahman aqui nesta vida, antes do seu corpo físico perecer, alcança a Libertação. Não conseguindo isso, o homem reencarna novamente em mundos criados” [Parte II; (3,4)].

2.11. Avidya (ignorância) e Maya (ilusão que o mundo produz através dos

sentidos)

11

:

Naciketas falando:

“Contai-me Ó Yama, o segredo sobre a morte, o segredo sobre o qual os homens guardam profunda dúvida” [Parte I; (1,29)].

Convencido da firmeza de Naciketas, Yama ensinou o segredo da imortalidade. Yama ensinando:

“A ignorância e o conhecimento conduzem a caminhos diferentes. Ouvindo a resposta ao pedido que formulastes, as pessoas podem compreender diferentemente. Decide certo quem escolhe o caminho do bem. Aqueles que escolhem o caminho dos prazeres ou da ignorância, caminham para o fim” [Parte I; (2,1)];

“Tudo depende do caminho escolhido pelo homem; o do conhecimento ou o da ignorância. A alma cheia de calma, examina ambos os caminhos e faz sua escolha. Ele prefere o bem ao prazer. Mas os tolos escolhem o prazer e a avareza” [Parte I; (2,2)];

10 Pedro Kupfer oferece a seguinte tradução a esse verso conforme apresentada em Katha Upanishad; há vida além da morte? [Parte I], contida em Cadernos de Yoga, de Outuno de 2004 [p. 36/37]: “A passagem [morte] não está clara para aqueles com mentalidade infantil, ofuscados pelas ilusões do mundo material. Pensando “este é o mundo real! Não há nada além dele!”, eles voltam vezes e mais vezes a ficar sob meu controle [continuam presos na roda do samsara, ciclo de mortes e renascimentos sucessivos]”. Em seguida oferece o seguinte comentário: “Aqui Yama aborda a questão matéria/espírito tão direta que pode parecer incompreensível para o leitor desatento. Quando Yama diz que há pessoas com mentalidade infantil, quer dizer que levamos nossa vidinha material muito a sério, chorando quando nossos brinquedos quebram, assustando-nos com filmes violentos, emocionando-nos com telenovelas, preocupando-nos com futilidades ... As diferentes experiências criam impressões na mente que não nos permitem transcender o mundo unidimensional, e acabamos por nos transformar em crianças grandes, mantendo intactas a ignorância e a conduta infantil. Assim, o mundo limitado que criamos para nós mesmos através das nossas conquistas e derrotas no plano material transforma-se na nossa única realidade, na qual ficamos girando e girando, presos no nosso parquinho de diversões particular. E assim, a vida vai passando...”.

11 Excepcionalmente, neste tópico este sintetizador-reprodutor abordou um diálogo entre Naciketas e Yama. Ao mesmo tempo, interligou dois conjuntos de versos apontados por Tinôco para demonstrá-lo, isto é, uniu os versos 1 e 2 do capítulo 2 da primeira parte com os versos 4, 5 e 6 , inserindo como parte integrante do diálogo o verso 3.

(6)

6

riqueza, escolhida por muitos” [Parte I; (2,3)] 12;

“Os caminhos a serem escolhidos são os seguintes: a ignorância e aquilo que pode ser designado por Conhecimento. Eu vos considero um firme aspirante ao caminho do Conhecimento. Os prazeres sensoriais não irão tentar-vos nesse caminho” [Parte I; (2,4)];

“Os tolos moram nas sombras, embora considerem a si próprios como sábios e eruditos. Assim, de ronda em ronda, por muitos caminhos tortuosos, os tolos se assemelham a um cego que guia outro cego” [Parte I; (2,5)];

“O outro mundo nunca se revela a se mesmo a uma pessoa discriminadora e perplexa diante da ilusão das riquezas. Essas pessoas pensam: ‘Somente este mundo existe, não há outro’. Assim, permanecem, sempre e sempre, sob o meu domínio” [Parte I; (2,6)].

2.12. A gênese do universo, do mundo e do ser humano

13

:

3. Comentários

14 15

É considerado um texto popular e de muita clareza, em virtude da sua brevidade e de fácil compreensão dos seus enunciados místicos. É elaborado em função de uma narrativa em forma de diálogo, entre um menino chamado Naciketas e Yama. Irado com o filho o pai o envia ao reino dos mortos, controlado por um Deva chamado Yama. Atendendo aos pedidos de Naciketas, Yama, com relutância, lhe ensina o Yoga, palavra que aparece de forma explícita.

As influências dos antigos rituais védicos ainda se fazem sentir no texto. 16 A fórmula

vedanta Atman = Brahman = luz, aparece nesta Upanishad com muita clareza.

Há referência ao Prana e ao Apana, dois tipos de força vital. No texto original, há três referências ao Yoga como um caminho para a identificação de Atman com Brahman. Apesar de afirmar a existência da vida depois da morte, o texto é vago sobre essa outra “vida”.

Nesta Upanishad, vale destacar os seguintes aspectos:

3.1. Um trecho de grande força espiritual é a alegoria da carruagem, onde é feita analogia entre o Atman cativo no corpo e o passageiro da carruagem, observando o cocheiro que comanda os cavalos através das rédeas. Os cavalos representam os sentidos físicos, as rédeas representam a mente; o cocheiro representa buddhi, a parte mais nobre e racional

12 Esta passagem lembra muita parte do diálogo que Deus teve com Salomão transcrito nos versículos 7 a 12 do capítulo 3 da História do Reino de Salomão contida na Bíblia Sagrada.

13 Assim como no tópico oitavo, Tinôco nada selecionou o que pressupõe que esta Upanishad não aborda a gênese do universo, do mundo e do ser humano.

14 De responsabilidade de Carlos Alberto Tinôco.

15 Pedro Kupfer argumenta quatro grandes temas em Katha Upanishad; há vida além da morte? [Parte II], contida em Cadernos de Yoga, de Inverno de 2004 [p. 18-20]: “O tema central de todas as Upanishads, assim como da filosofia vedanta, é a identidade entre Brahman, o Ser Absoluto, e o atman, a alma individual ... O segundo desses temas refere-se à figura do guru; nesta vida, não podemos aspirar à realização espiritual sem a ajuda de um mestre vivo realizado ... O terceiro grande assunto desta segunda parte da Katha é a prática de Yoga como veículo para a realização ... O quarto grande tema desta obra é a lei do karma, o princípio de casualidade através do qual cada ser humano determina seu próprio destino...”.

16 Tinôco ratifica que a Katha Upanishad como exposta nesta síntese-reprodução foi baseada numa tradução do texto modificado de Swami Nikhilananda [vide nota de roda pé n° 2], comparada com outras traduções inglesas e com a tradução em português da mesma Upanishad, constante do livro de Prabhavananda e Manchester.

(7)

7

da mente. O corpo físico representa a carruagem. O Atman é o passageiro que apenas observa a paisagem. É importante que os cavalos, irados, não assumam o comando da carruagem. Ao contrário, os sentidos devem ser comandados pela mente. Daí, a carruagem pode caminhar com equilíbrio 17;

3.2. O verso (I, 2, 11) 18, com a sua beleza, dá ao texto maior poder espiritual;

3.3. O verso (II, 1, 15)

19

nos remete a uma discussão vedantina de natureza

monista, defendida por Shankaracharya. O Atman, ao encontrar Brahman,

funde-se com Ele, perdendo a sua individualidade? Os vedantinos dizem que não, o

Atman não perde sua individualidade ao encontrar Brahman. Está discussão

permeia as diferentes escolas vedantas;

3.4. O verso (I, 3, 1)

20

diz que residem no coração do homem dois seres, o Ser

Individual e o Supremo Ser ou Brahman. Dentro do coração há um espaço

denominado Brahmapuram pelos sábios vedantas, onde ambos residem. Durante a

primeira fase da meditação, o aspirante contempla Brahman como um espaço

luminoso dentro do coração. No segundo estágio, o aspirante percebe Brahman

refletido em buddhi ou no intelecto. É então que ele realiza a si mesmo, percebendo

sua consciência como a Consciência Cósmica. Os vedantas se referem ao akaska

(éter) localizado dentro do coração, como um espaço luminoso, infinitamente mais

puro do qualquer outro akaska. Nesse verso, tanto o Ser individual como o

Supremo Ser (Brahman) são os desfrutadores dos frutos das ações

21

. Na verdade,

apenas Jiva é o desfrutador. O Brahman é a testemunha silenciosa das atividades

do ser individual. Enquanto o primeiro está envolvido com as ações no mundo, o

Brahman é livre. Estas são questões típicas do vedanta;

3.5. Deve-se enfatizar a coragem e a determinação

22

do menino Nikacetas, em

querer saber sobre verdade espiritual. Este aspecto é realmente comovente;

17 Releia o conjunto de versos (3,4-13) da Parte I.

Ilustrando complementarmente com Mircea Eliade, em Yoga: Imortalidade e Liberdade, publicado em São Paulo, pela Editora Palas Athena, em 2004, à página 108/109: “O homem que é perfeitamente senhor de si é comparado a um hábil cocheiro, que sabe dominar seus sentidos:é esse homem que conquista a liberação ... Ainda que o Yoga não seja mencionado, a imagem é especificamente yóguica ... Esta alusão não é sem importância; revela a existência de um sistema de fisiologia mística a respeito do qual os textos posteriores, sobretudo as Upanisads Yóguicas e a literatura tântrica, acrescentarão mais e mais detalhes”.

18 “Os desejos humanos, os fundamentos do mundo, a praia onde não há medos, que é adorável e grandiosa, tudo isso vós já percebestes; sendo um sábio, nada disso pode vos prender”.

19 “Assim como a água pura vertida no rio cristalino, torna-se una com ele, a mente do sábio ao encontrar Brahman, ó Guatama (Naciketas), torna-se una com ele”.

20 “Há dois seres habitando dentro do corpo, no buddhi – o Jivatman (ou ser individual) e Paramatman (o Supremo Ser). Ambos é o supremo éter residente no coração e percebem os resultados das boas e más ações. Os conhecedores de Brahman descrevem ambos como luz. É algo semelhante às oblações do ritual dos Cinco Fogos, ou àqueles que realizam por três vezes o Ritual Naciketas”.

21 Por isso que talvez esteja lembrado no Bhagavad Gita, no contexto da teoria do desapego, que todos os frutos, tanto da ação quanto da inação, devem ser dedicados à OM.

22 E lembra também muito o esforço [energia e disciplina] necessário para se alcançar a restrição das atividades da mente, conforme orienta Patanjali nos versos (I, 12-14) do Yoga Sutras, respectivamente: “A restrição delas vem pelo esforço e pela ausência de paixão”; “O esforço é a dedicação no sentido da estabilidade”; e “Ela se torna segura através da dedicação intensa, duradoura e contínua” [Martins, Roberto de A. Significado e Bases do Rãja-Yoga. Rio de Janeiro: Corifeu, 2007; p. 83]. O próprio verso (II, 3, 17) transcrito na nota de roda pé n° 27 ratifica a necessária dedicação para trilhar o caminho que leva à libertação. Vários versos das Upanishads do Yoga, reproduzidas por Tinôco no livro citado na nota de roda pé n° 5, traduzem essa orientação.

(8)

8

além do Atman e do Imanifesto. Para o autor do texto, Purusha e Brahman seriam

a mesma coisa;

3.7. O verso (II, 1, 4)

24

nos remete mais uma vez, às discussões vedantinas;

3.8. O verso (I, 3, 14) se refere à importância do mestre espiritual na busca da

libertação

25

;

3.9. Os versos (II, 2, 3-5)

26

se referem a um exercício de Yoga, que consiste em unir

no Chakra Manipura, o Prana e o Apana;

3.10. O verso (II, 3, 17)

27

limita o tamanho do Purusha ao de um polegar. Como

pode o Purusha, que está além do Atman, permeando todo o universo, possuir as

dimensões de um polegar, segundo esta Upanishad?

28

;

Certamente, esta é uma das mais belas Upanishads. A ansiosa busca espiritual de

Naciketas, consubstanciada na sua última pergunta

29

feita a Yama, tem como

resposta: o Yoga! É o Yoga quem liberta o homem da morte. Yoga foi o que Yama

ensinou a Naciketas

30

.

Registramos como exemplo o verso 15 da Yogatattva Upanishad, à página 183: “O yoguin esclarecido / de deseja a libertação / deve esforçar-se ao mesmo tempo / por adquirir o conhecimento / e praticar o Yoga de modo conveniente / pois a fonte da infelicidade está na ignorância”.

23 Vide sua transcrição no item 2.4 acima.

24 “… Ao realizar o Atman que a tudo permeia o homem não é mais atormentado pelo sofrimento”. 25 Este comentário está ratificado no item 2.7 acima, onde consta o verso mencionado transcrito. 26 Releia, na ordem natural, os versos (II, 2, 3) e (II, 2, 5) já transcritos no item 2.5 acima, intercalando-os com o verso (II, 2, 4): “Quando o Ser Interno mora no corpo, identificando-se com ele e em seguida, dele se liberta, o que nesse corpo permanece?”.

27 “Purusha, o Ser Interno do tamanho aproximado de um polegar, sempre mora no coração do homem. Purusha pode ser separado do corpo humano, mediante a prática da perseverança e da firmeza, do mesmo modo que alguém retira pacientemente o talo de uma folha de relva. Quem assim faz, conhece o Ser Interno que é Brilhante e Imortal, sim, que é Brilhante e Imortal” [negrito meu em função da nota de roda pé n° 22]. Finalizando esse comentário, Tinoco adiciona que “para residir no coração do homem, Purusha deve ter as dimensões de um polegar; por ser idêntico a Brahman, Purusha deve ser ilimitado. Esta aparente contradição é uma decorrência da limitação da linguagem humana para traduzir a equivalência entre Purusha e Brahman”.

28 Talvez possa porque a própria Katha Upanishad assegura no verso (I, 2, 20) que “O Atman, [ que é] menor do que a menor coisa, [e ao mesmo tempo] maior que qualquer coisa, está oculto nos corações de todas as criatutras...”. Para tanto, adota-se o comentário 3.6 acima de Tinoco, combinado com a equação fundamental das Upanishads de que Brahman = Atman.

29 Releia o item 2.11 combinado com o 2.3 acima.

30 Este ensinamento pode e talvez deva ser combinado com a orientação de Patanjali contida no verso (II, 28) do Yoga Sutras: “Pela prática dos membros do Yoga elimina-se a impureza e obtém-se o brilho do conhecimento discriminativo” [Martins, Roberto de A. Significado e Bases do Rãja-Yoga. Rio de Janeiro: Corifeu, 2007; p. 92].

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