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TERMOS E MODOS DE FAZER RELACIONADOS AO ESTUQUE DENOMINADO DE ESCAIOLA NOS REVESTIMENTOS DE PAREDES NO SEC. XIX

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Instituto de Ciências Humanas

Departamento de Museologia e Conservação e Restauro Bacharelado em Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis

TERMOS E MODOS DE FAZER RELACIONADOS AO

ESTUQUE DENOMINADO DE ESCAIOLA NOS REVESTIMENTOS

DE PAREDES NO SEC. XIX

FABIO GALLI ALVES

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FABIO GALLI ALVES

TERMOS E MODOS DE FAZER RELACIONADOS AO ESTUQUE DENOMINADO DE ESCAIOLA NOS REVESTIMENTOS DE PAREDES NO

SEC.XIX

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Bacharelado em Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis da Universidade Federal de Pelotas, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis.

Orientador: Prof.Dr. Pedro Luis Machado Sanches

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Banca Examinadora:

____________________________________

Prof. Dr. Pedro Luis Machado Sanches –(UFPEL /Orientador) ____________________________________

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Dedicatória

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Agradecimentos

Agradeço ao corpo docente, aos discentes e funcionários da Universidade Federal de Pelotas pelo empenho na consolidação do curso de Bacharelado em Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis em especial ao Magnífico Reitor Dr. César Borges e à Profª Dra. Maria Letícia Ferreira que acreditaram neste curso.

Agradeço ao Prof°. Dr. Pedro Luis Machado Sanches pelo apoio, paciência e conselhos para que este trabalho se realizasse plenamente.

Sou grato a Profa. Ms. Andréa Lacerda Bachettini pelo grande incentivo nos estudos de restauro e excelente bibliografia generosamente sempre disponível.

A Profa. Dr. Francisca Michelon, incansável em suas orientações.

Agradeço também aos colegas do Grupo de Estudos em Estuque (GEPE) com os quais pude sempre trocar informações sobre esta técnica tão antiga.

Agradeço ao Prof. Dr.José Luiz de Pellegrin, sempre um bom conselheiro e educador.

Agradeço a minha prima Eliane Zanella Prates pelo incentivo e apoio sempre.

Agradeço a Arq. Cristina Rozinski que me colocou e deu grande apoio no caminho dos estuques.

Ainda a todas as pessoas que acreditaram no meu trabalho como restaurador, me incentivando a concluir esta formação com muito orgulho.

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Jerivá torto, não dá ripa! João Simões Lopes Neto

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Resumo

ALVES, Fábio Galli. Termos e modos de fazer relacionados ao estuque denominado de escaiola nos revestimentos de paredes internas no sec.XIX. 2011. 85 f. Monografia (Graduação) – Curso de Bacharelado em Conservação e Restauro da Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS.

No presente trabalho, realizou-se um levantamento da nomenclatura e das técnicas de feitura do estuque de revestimento interno de parede denominado de “escaiola”, ou “escariola”, em Pelotas, RS, Brasil. Muito utilizado no séc. XIX, este acabamento terá aplicação nesta cidade até aproximadamente o segundo quartel do sec.XX.

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Abstract

ALVES, Fábio Galli. Terminology and production processes related of the stucco wall finishes in the historic buildings of Pelotas, Brazil.2011 85 pgs f. Monograph (Undergraduate degree) – The Conservation and Restoration Course in Federal University of Pelotas, Pelotas (RS), Brazil.

This study is a survey of the nomenclature and techniques of production of stucco interior walls finishes called "escaiola" or "escariola" in Pelotas, Brazil. Widely used in the XIX Century, this type of finishes will be applied in this city until about the second quarter of the XX century.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Reprodução fotográfica feita da matéria veiculada na edição do jornal Diário

Popular de 21 de março de 2010. ...21

Figura 2: Reprodução fotográfica feita de matéria veiculada na edição de 21 de março de 2010. . ...21

Figura 3: Reprodução da capa da Revista da Associação dos Proprietários de Imóveis de Pelotas em 1939.. ...22

Figura 4: Reprodução do Anúncio da Revista da Associação dos Proprietários de imóveis de Pelotas.. ...23

Figura 5: Modelo de Composição Decorativa...40

Figura 6: Fotografia de detalhe do IJSLN usada como modelo para pintura. ...41

Figura 7: Detalhe do soco. ...42

Figura 8: Detalhe do primeiro painel. ...42

Figura 9: Detalhe do friso pintado. ...43

Figura 10: Exemplos de moldes vasados para pintura. ...43

Figura 11: Friso pintado. ...44

Figura 12: Detalhe do friso pintado. ...44

Figura 13: Comparação da espessura do revestimento no hall de entrada do casarão 2.45 Figura 14: Massa aplicada na lacuna conforme receita com o início do “fingido” de mármore pintado a fresco.. ...46

Figura 15: Estratigrafia das camadas de argamassa até o revestimento final em pó de mármore e cal. . ...47

Figura 16: Vista do patamar da escada no segundo piso. ...48

Figura 17: Imagem da fachada do Casarão 6. ...48

Figura 18: Detalhe do pórtico de entrada do Casarão 6. ...49

Figura 19: Imagem de detalhe do corredor do Cassarão 6. ...49

Figura 20: Detalhe de decoração acima de uma das aberturas do Casarão 6 ...50

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Figura 22: Detalhe de quadro do pórtico de entrada do Casarão 6 ...51

Figura 23: Detalhe de fingimento no Casarão 6 ...51

Figura 24: Detalhe de parede do ambiente social do Casarão 6 ...52

Figura 25: Visão geral de quarto de banho no andar superior do Casarão 6 ...53

Figura 26: Detalhe da decoração do quarto de banho. ...53

Figura 27: Detalhe de corredor da área de serviço do Casarão 6 ...54

Figura 28: Lacuna em parede do corredor do Casarão 6 ...55

Figura 29: Detalhe do hall de entrada do Casarão 8 ...56

Figura 30: Detalhe do desenho geometrizado no hall de entrada do Casarão 8 ...56

Figura 31: Imagem reproduzida do Manual do Formador Estucador. ...57

Figura 32: Detalhe do ambiente que distribui para os ambientes da área nobre do casarão 8. ...58

Figura 33: Detalhe do primeiro painel e friso do ambiente de distribuição do Casarão 8 .58 Figura 34: Detalhe do emprego de geometrização nos fingidos do Casarão 8...59

Figura 35: Segundo detalhe do emprego de geometrização nos fingidos do Casarão 8 ..59

Figura 36: Lacuna no revestimento em ambiente no casarão 8 ...60

Figura 37: Detalhe de lacuna de revestimento em ambiente do casarão 8 ...61

Figura 38: Hall de entrada de residência que pertenceu ao Senador Joaquim Augusto Assunção. . ...62

Figura 39: Detalha da decoração do hall de entrada. ...63

Figura 40: Foto do Instituto João Simões Lopes Neto. ...64

Figura 41: Foto de por menor de instituição particular. ...65

Figura 42: Foto de colunas do prédio que abriga a sede do Clube Comercial de Pelotas. ...65

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 12

1 INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DOS ESTUQUES E EMPREGO DA ESCAIOLA NA CIDADE DE PELOTAS ... 15

1.1 ESTUQUE ... 15

1.2 ESCAIOLA: TERMO EMPREGADO E APROXIMAÇÃO DA TÉCNICA PREDOMINANTE EM PELOTAS ... 19

1.3 DA FORMAÇÃO DA MÃO DE OBRA E MANUAIS PRÁTICOS ... 23

2 RESULTADOS DA PESQUISA DE TERMOS RELACIONADOS À ESCAIOLA E/OU IMITAÇÃO DE MÁRMORE EM ESTUQUE ... 27

2.1 STUC OU MARBREFACTICE, (ART MÉCHAN.) ... 27

2.1.1 COMENTÁRIO SOBRE STUC OU MARBREFACTICE ... 27

2.2 ESCAIOLA: IMITAÇÃO DO MÁRMORE ... 27

2.2.1 COMENTÁRIO SOBRE ESCAIOLA IMITAÇÃO DE MÁRMORE ... 28

2.3. REVESTIMENTOS COM ESCAIOLA: ... 28

2.3.1 COMENTÁRIO SOBRE REVESTIMENTO EM ESCAIOLA: ... 29

2.4 SCA.GLIA ... 29

2.5 SCA.GLIA.RE ... 29

2.6 SCA.GLIO.LA ... 29

2.7. ESCAYOLA: ... 29

2.7.1 COMENTÁRIO SOBRE ESCAYOLA. ... 29

2.8. STUCCHI ALÚCIDO ESCAGLIOLE RICETTA CN. 12 ... 29

2.8.1 COMENTÁRIO SOBRE RICETTA CN. 12 STUCCHI ALÚCIDO E SCAGLIOLE ... 30

2.9 MARMORINO (modos tradicionais de realizar-se um marmorino) ... 30

2.9.1 MARMORINO COM UMA ÚNICA COR E BRILHO NATURAL ... 30

2.9.2 MARMORINO POLIDO A FRESCO ... 31

2.9.3 MARMORINO POLIDO A FRESCO E A QUENTE ... 31

2.9.4 PINTURA E DECORAÇÃO A FRESCO DO MARMORINO ... 31

2.9.5 IMITAÇÃO DE MÁRMORE CLARO ... 32

2.9.6 IMITAÇÃO DE UM MÁRMORE A PINTURA FORTE ... 32

2.9.7 DECORAÇÃO DE PINTURA A FRESCO SOBRE MARMORINO ... 33

2.9.8 COMENTÁRIO SOBRE AS RECEITAS DE MARMORINO (MODOS TRADICIONAIS DE REALIZAR UM MARMORINO) 2.6.1 À 2.6.7 ... 33

2.10 ESCAIOLAS ... 34

2.10.1 COMENTÁRIO SOBRE ESCAIOLAS ... 34

2.11 STUCCO-LUSTRO ... 34 2.12 STUCCO-MARMO ... 35 2.13 SCAGLIOLA ... 35 2.14 ESTUQUE LUSTRO... 35 2.15 ESCAIOLA ... 35 2.16 ESTUQUE MARMORIZADO ... 36 2.17 STUC-MARBRE ... 36 2.18 SCAGLIOLA ... 36 2.19 ESCAIOLA ... 36 2.20 ESCAIOLA ... 36

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2.21 SCÀGLIA S.F. ... 37

2.22 SCAGLIÒLA ... 37

2.23 ESCAIOLA ... 37

3 DESCRIÇÃO DAS ESCAIOLAS DE PELOTAS ... 39

3.1 CASARÃO 2 ... 45

3.2 CASARÃO 6 ... 48

3.3 CASARÃO 8 ... 56

3.4 OUTROS EXEMPLOS DE APLICAÇÃO DA TÉCNICA EM PELOTAS ... 62

CONCLUSÃO ... 67

REFERÊNCIAS ... 69

APÊNDICE A ... 71

DIPINTURA ... 81

(13)

INTRODUÇÃO

A cidade de Pelotas no extremo sul do Brasil no ano de 2012 completará 200 anos, a história da cidade e as reminiscências da arquitetura local apontam um período de grande prosperidade do meio para o fim da segunda metade do sec. XIX. (MAGALHÃES, 1993 apud CHEVALLIER, 2002)

Exemplares arquitetônicos, construídos neste período, possuem no seu interior uma técnica decorativa de acabamento de parede, que imita o mármore, relacionada aos estuques, muito utilizada até o início da segunda metade do séc. XX, definida como escaiola localmente ou “escariola” conforme jargão popular.

Procuramos então com este trabalho pesquisar a origem do uso deste termo,e a que tipo de estuque está relacionado, uma vez que em consultas a dicionários, manuais, livros de arquitetura e artes e ainda na própria rede internacional, ora o encontramos relacionado a um material, ora a uma determinada técnica de estuque. Será observado ainda que os testemunhos orais são de certa forma escassos ou inconclusivos, ao tratar de como o termo, escaiola ou escariola, foi incorporado à técnica aplicada em âmbito local. Veremos mais adiante que o uso do termo escaiola pode ser empregado em diversos contextos e não corresponder ao estuque encontrado em Pelotas.

A escassez de terminologia científica em língua portuguesa, questão levantada por alguns autores em introdução aos seus trabalhos científicos (LEITE, 2008), e a divergência encontrada em material institucional1 de conservação de estuques de parede, que podem apresentar uma técnica discordante da que se apresenta no âmbito local ou ainda a necessidade de formar glossários2, são

1 Podemos citar o manual de IPHAN (BRASIL, 2005) e de Proprietários de Imóveis Inventariados

da cidade de Pelotas (SILVA, et. al. 2008) que descrevem uma técnica com nomenclatura de escaiola que não corresponde a usual na cidade por uma série de características, as quais discute-se adiante neste trabalho.

2 Silvana Bojanoski em recente trabalho apresentado no V Seminário Internacional de Memória e

Patrimônio “A construção da Conservação-Restauração como disciplina científica: da necessidade de elaboração de terminologias científicas; definindo glossário como repertório de unidades

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fatores importantes aos profissionais que atuam na área de conservação e restauro. Reconstituir e pesquisar nomenclaturas podem ser importante, uma vez que problemas desta ordem podem ocasionar falta de entendimento do que lhe é exposto, dificuldade na identificação e na elaboração de estratégias de conservação e restauro quando necessário.

A preocupação com registros e nomes e modos de fazer, não vem dos dias de hoje, o ponto de partida considerado essencial na cultura clássica no que se refere às artes de estuque parte de uma fonte comum, os Dez Livros de

Arquitetura de Vitrúvio, tratado escrito como manual prático de um arquiteto

Romano do século I d.C. e publicado na época de Augusto, tornou-se da maior importância na cultura arquitetônica e artística da cultura ocidental, sendo de influencia decisiva no tratadismo sobre técnicas arquitetônicas até sec. XIX.Quando da sua (re)descoberta no sec. XV, sua reintrodução faz-se baseada em diversas transcrições o que desde logo levantaram importantes polêmicas sobre o aspecto da redação e do significado do texto original. Em Vitrúvio é particularmente fascinante observar a atualidade de suas descrições e técnicas, sua leitura ajuda a compreender a gênese de muitas soluções de revestimentos que podem ser observados ainda hoje em edifícios históricos. Ainda no decorrer da história no sec. XVIII os iluministas reinvestem através do conhecimento enciclopédico no estudo rigoroso das artes práticas e revalorização da sua pedagogia com a edição da obra de Diderot , a Encyclopédie, ou Dictionnaire

Raisonné des Sciences, des Arts et des Métiers, por une Société de Gens de Lettres3 com o objetivo de registrar termos e técnicas. (AGUIAR, 2005)

lexicais de uma especialidade com suas respectivas definições ou outras especificações sobre seus sentidos. Composto sem pretensão de exaustividade, o trabalho aponta dentre as necessidades dos campos da metodologia e da terminologia, a composição de glossário ou dicionário definindo termos de que possuem uma pertinência temática ou pragmática e estabelecimento de suas definições (BOJANOSKI, 2011).

3 O iluminismo reinveste, através do conhecimento enciclopédico, no estudo rigoroso das artes

práticas, exemplo desse regresso é a celebre enciclopédia de Diderot e de D’Alembert,

DICTIONNAIRE RAISONNÉ DES SCIENCES, DES ARTS ET DES MÉTIERS, que repõem a

atenção sobre conhecimento prático e a necessidade de revalorizar a sua pedagogia. (AGUIAR, 2005, p.181).

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Levantar os registros do termo escaiola ou escariola, suas variáveis no emprego e no uso dos estuques juntamente com sua aplicação parece necessário para definir o valor e as estratégias de conservação deste patrimônio em Pelotas.

Associa-se a tal objetivo a necessária determinação da técnica mais semelhante com o revestimento que encontramos na cidade através de observações organolépticas e a reunião de termos possíveis que definam esta técnica, para que possa ser usada por profissionais das mais variadas áreas.

A nomenclatura aplicada em Pelotas como ponto de partida desta pesquisa oferece uma grande possibilidade de conhecimento pela popularização e emprego contínuo durante de aproximadamente 100 anos da técnica de escaiolas, demonstrando grande apreço popular, justificando ainda a necessidade de reconstituir esta nomenclatura, suas receitas e modos de fazer, pois estas não mudam ao mesmo tempo em que os termos, aplicando neste caso uma inversão de hierarquia de conceitos da teoria de desconstrução de Jacques Derrida.

Num primeiro momento, a desconstrução visa inverter a hierarquia dos conceitos, procurando pensar o segundo termo como principal e originário. Na relação entre causa e efeito, por exemplo, este é tradicionalmente entendido como secundário e derivado daquela. Mas, em nossa experiência, primeiramente constatamos a manifestação do efeito, para então remontarmos a suas causas. Assim concebido, o efeito é que deveria ser tido como originário, pois é por causa dele que um fenômeno pode ser concebido como causa. Em outras palavras, numa perspectiva desconstrucionista, o efeito é entendido como a causa de sua própria causa. (VASCONCELOS, 2005, p.158).

Ainda pela integração entre as áreas: o conservador-restaurador poderá trabalhar com os mesmos termos que o historiador, o etnólogo, o proprietário e, principalmente, o estucador fingidor4.

Como primeiro passo foi pesquisado o léxico escaiola em dicionários, livros de arte, manuais e bibliografia relacionada à arquitetura e a construção civil, num segundo momento a pesquisa se estendeu às receitas relacionadas à escaiola e as relacionadas ao estuque encontrado em Pelotas pela observação de suas características.

4 Fingidor é um termo usado por Segurado para definir o profissionais que imitavam (fingiam) os

materiais nobres. Acabamento das construções. (Segurado, s/data,p.196).

O termo também será empregado quando a técnica dos estuques se populariza pela Europa no sec. XVII. (AGUIAR, 2005, p.258).

(16)

Portanto introduzimos o estuque e sua história, a escaiola como um tipo de revestimento em estuque, suas características e partimos para pesquisa de termos e modos de fazer, reunindo-os em um glossário para posteriores comentários e conclusões em relação à técnica aplicada em Pelotas.

1 INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DOS ESTUQUES E EMPREGO DA ESCAIOLA NA CIDADE DE PELOTAS

1.1 ESTUQUE

Para se falar de escaiolas não podemos deixar de antes dar uma breve história da arte do estuque no tempo antigo. Recentes escavações na ilha de Malta, no complexo templário de Tarxiem, trouxeram a luz, traços de estuque e decoração em pinturas realizadas no último período do séc. calcolítico maltes, que remete de 3.000 a 2.500 a.C. No secundo milênio anterior a nossa era, próximo ao Elam, o estuque começou a substituir a terracota. Alem disso foi usada a cal (em substituição ao betume) para unir os tijolos, tendo em conta seu rápido endurecimento. Fazem-se hipóteses que levam a crer que os estuques arquitetônicos são nativos na província oriental do Irã e posteriormente difundidos na Mesopotânia.

No Egito foi feito grande uso do gesso no revestimento murário com uso de pintura. O gesso era misturado com areia e palha e usando como ligante, o limo do rio Nilo, ainda era usado para adornar sarcófagos de madeira e como revestimentos das pedras das construções.

Do mundo oriental passamos à Grécia e aos modos de trabalhar a terracota para realizar arquitetonicamente, paredes, pisos e etc., que passa deste material para o estuque, onde teve um grande e racional emprego, se constituindo de uma mistura de cal apagada e agregados apropriados especialmente o pó de mármore. (FOGLIATA, 2004). A técnica era usada pelos antigos romanos,

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Pompéia é repleta de estuque. Vitrúvio, em seus livros, deixou testemunhos das paredes decoradas.

No Período da Arte Grega Helenística a arte plástica por adição (estuque) aparece por influência do Oriente. Os templos eram todos decorados, coloridos e não brancos como se sabe historicamente. Usado tanto o estuque forte (marmorino), quanto o estuque de gesso (estuque marmorizado). Nos períodos Paleo-cristão, tardo romano, lombardo, romano e gótico, encontramos ainda , importantes e significativos traços dessa técnica em Ravena, Milão e Brescia. No Renascimento a técnica volta a ser difundida. O estuque volta a ser utilizado por volta de 1430 / 1440 por Donatello (cerca de 1386-1466), nas obras do arquiteto Brunelleschi (1337-1446). Nesta época o estuque era branco, no máximo com dourado, com baixo relevo e figuras sempre emolduradas. Durante escavações arqueológicas, por volta de 1500, descobre-se o Palácio do Imperador Nero, todo decorado em estuque forte, com adição de pó de mármore na massa, com flores, animais e figuras mitológicas; o que despertou grande interesse dos artistas da época, definindo-se como Arte Grotesca5, pois foram encontradas em edifícios que pareciam grutas subterrâneas.

Giovanni da Udine com sua ornamentação grotesca é influenciado por seu grande mestre Rafael Sanzio, sendo o grande estucador da época do Renascimento. Por volta de 1600 no início do que é considerado o período Barroco, se encontram o fundo do marmorino colorido e as massas pigmentadas.

Na primeira parte do Barroco, a decoração era muito pesada, robusta, consistente, desaparecem as molduras e a decoração toma conta de todo o espaço. A técnica do estuque foi muito difundida nesta época, por ser uma execução mais rápida e mais leve em relação à pedra.

As figuras vão soltando-se da parede, tornando-se cada vez mais tridimensionais. Para sustentar toda essa massa moldada, começa-se a usar armação- esqueleto aparece a partir daí a técnica da escultura ‘a sbalzo’6.

5 O termo grotesco, originário do italiano grotta,que significa gruta, se torna associado àquela

decoração parietal extravagante, formada por ramos, frutas, flores,folhagens, figuras híbridas do homem ligado a animais e outros elementos,imitando as decorações que foram realizadas em Roma estre os séculos XV e XVI. (Mascarenhas, 2008, p.30).

6 Execução de ornamentos em alto-relevo, utilizando um tipo de “armação” que ajuda a suportar a

massa. Empregava-se pedaços de madeira recoberta de fibra natural a fim de facilitar a aderência do material.

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Primeiro uma camada de reboco (massa) mais grossa com tijolo moído. Sobre esta a massa de estuque aplicava-se cal e pó de mármore ou pó de pedra.

No Barroco, pela necessidade excessiva de decoração, o tempo curto para execução e a distância entre o observador e estes elementos, o acabamento não era refinado, era mais grosseiro, sem brilho, com a última camada sendo feita até com uma caiação, sem polimento.

Nas últimas décadas de 1600, esta decoração carregada perde-se, por influência oriental e das colônias. Há um retorno à utilização das técnicas da Renascença. As cores voltam a ser pastéis, a espessura dos detalhes decorativos tomam-se mais suaves, menos volumosos. Mantêm a continuidade da decoração e acrescentam-se arabescos, geometrias e curvas assimétricas. (Informação Verbal)7.

Com esta breve história do estuque, pode-se considerar que os revestimentos com base em cal, gesso, agregados finos como pó de mármore e pigmentos aplicados em camadas, utilizados durante milênios e até meados do séc. XX, e denominados como estuque, se prestaram para técnicas decorativas artisticamente complexas, como afrescos, semi-afrescos, os grafitos e os esgrafiados, os baixo-relevos e os altos relevos, os fingidos e os efeitos ilusionistas, tanto em superfícies interiores como exteriores dos edifícios, constituindo o testemunho material de uma prática muito antiga e um patrimônio de elevado valor artístico e histórico.

Patrimônio este em vias de desaparecer em muitos locais, pela quase completa extinção dos saberes de manufatura e ainda por substituição dos materiais e modificação das práticas construtivas.

Os revestimentos exteriores com base em cal constituem em um efectivo sistema de protecção (enquanto camada sacrificial) das alvenarias e estruturas e de comunicação formal na arquitectura. Durante milênios e até meados do século XX, as argamassas de cal com diferentes tipos de agregados, geralmente de proveniência local, utilizaram-se tanto nos acabamentos interiores como exteriores dos edifícios. Os romanos deram a este tipo de revestimentos a termo genérico de stucco, que parece provir da antiga palavra lombarda stuhhi,que indicava crosta, ou pele. Uma pele que protegia e revestia, de forma esteticamente adequada, a estrutura muraria, como esclarece Giogio Forti: “E como La

7 (Palestra da Arquiteta Enilda Miceli Sobre estuque e escaiola na I Jornada sobre Preservação do

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pelle ed il vestito possono caratterizzare, com Le loro intonazioni cromatiche, l’uomo, cosi l’intonaco e lo stucco, a seconda della cromia, possono caractterizzare l’intera architettura” (apud. ROSÀRIO, 2004,

p.1).

Na introdução do livro Arte de los yesos, Rojas (1999) 8 define muito bem a crise que vivemos em relação às velhas tradições, quando diz que nunca se conseguiu nada parecido com os novos materiais que hoje inundam o mercado. O esquecimento absoluto das técnicas históricas e o grande massacre artesanal tem sido um dos aspectos mais negativos dos avanços da era industrial no séc. XX.

A promoção dos novos materiais que invadem o mercado e o imenso poder de persuasão e convincente das multinacionais, não somente acabaram com os materiais tradicionais, com suas técnicas e seus artesões, como também cegaram os profissionais, e o que é muito pior, cegaram as docências oficiais, que passaram a considerar tudo o que fosse tradicional, como obsoleto diante da chegada da modernidade.

Ainda segundo Rojas os novos materiais, Portland9 ou os sintetizados dos resíduos já inservíveis, do petróleo (pigmentos e tintas), criam, por suas características, barreiras de vapor, com a conseguinte concentração de sais solúveis na parte interna do invento. O que causará estragos na parede, esfarelando-a, desagregando seus materiais construtivos em geral de estuque, pedra ou tijolo, e criando fissuras e outras agressões.

A qualidade e durabilidade dos revestimentos com base em cal e areia dependem tanto do cuidado na seleção das matérias primas, como das tecnologias da produção e aplicação da decoração a base de estuque, o que também definia materiais que poderiam ser empregados no interior ou no exterior das edificações. Um importante exemplo disso está no fato da matéria prima cal poder ter sido utilizada, conforme características específicas, tanto no interior como no exterior, enquanto o gesso teve seu uso restrito à parte interna dos edifícios.

8 Ignácio Garate Rojas Dr, Arquiteto em seu livro A Arte de Los Yesos, vai se unir a um químico e

um artífice como colaboradores, produzindo uma obra com registros valiosos na área dos estuques.

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Importante ainda é compreender a base onde o revestimento está aplicado que podem ser de ripas de madeira, telas de arame, tijolos assentados com barro, pedra e etc. O que pode gerar um número bem complexo de patologias em conjunto com a massa quando expostas a fatores não previstos. Com todas estas características e embora a simplicidade dos materiais, é necessário que se conheçam os antigos saberes, para entender e conseguir intervir de maneira conservativa10, propondo metodologias com materiais de restauro que não afetem os originais, normalmente em péssimo estado de conservação devido ao passar do tempo, uso e intervenção com materiais inadequados, mudanças nas condições climáticas e atmosféricas desfavoráveis, trafego e falta de manutenção das residências. Evita-se assim, na medida do possível, substituições do material original que nada mais é que a pele que reveste nosso patrimônio.

1.2 ESCAIOLA: TERMO EMPREGADO E APROXIMAÇÃO DA TÉCNICA PREDOMINANTE EM PELOTAS

A cidade de Pelotas teve em sua história um período de grande riqueza gerada pela indústria saladeril (produção de charque) que irá influênciar a cultura e a arquitetura local.

Os anos entre 1845 e 1860 foram marcados por um esforço de recuperação econômica e de retomada do crescimento urbano. Em 1853, o relatório da Presidência da Província registrou a existência na zona rural, de 38 charqueadas e de 37 olarias, ou seja, a cidade estava pronta para retomar seu desenvolvimento. Em seu livro Opulência e Cultura na Província de São Pedro: um estudo sobre a história de Pelotas (1860 – 1890), Mário Osório Magalhães conclui que a cidade de Pelotas viveu, entre os anos de 1860 e 1890, seu apogeu sociocultural, explicado pela “convergência de boas condições urbanas e econômicas” (CHEVALIER, 2002, p. 27).

“Escaiola” ou “escariola” é o termo designado para os revestimentos de paredes internas encontrados nas residências do dito “apogeu sociocultural”, na cidade de Pelotas. É um tipo de pintura a fresco aplicada sobre uma massa lisa,

10 Conservação - todas aquelas medidas ou ações que tenham como objetivo a salvaguarda do

patrimônio cultural tangível, assegurando sua acessibilidade às gerações atuais e futuras. A conservação compreende a conservação preventiva, a conservação curativa e a restauração. Todas estas medidas e ações deverão respeitar o significado e as propriedades físicas do bem cultural em questão. (Boletim Eletrônico da ABRACOR- Número 1. Julho de 2010).

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fina e lustrosa (estuque) demonstrando grande apuro técnico, artístico e grandes dimensões, típicas do sistema construtivo a base de cal, cujos seus executores ficaram na maioria anônimos e desapareceram com a popularização do uso de azulejos e outros acabamentos, não sendo encontrado até hoje registros escritos da execução da técnica nesta região, apenas o testemunho material nas paredes de residências construídas até a metade do sec. XX, aproximadamente. Hoje não há mais quem execute essas obras em suas dimensões, apenas quem as restaure, tornando-as verdadeiras relíquias do sistema construtivo e decorativo do sec.XIX, até o XX onde eram ainda muito utilizadas como revestimento de paredes internas.

Em Portugal e em Espanha, perdeu-se o significado original do termo “escaiola”, que derivava da scagliola italiana e que, nos últimos dois séculos, por corruptela ou por simplificação, passou a designar, sem o ser, a técnica do stucco-lustro e até por vezes, do stucco-marmo, situação que leva a algumas confusões terminológicas propagadas até nossos dias. Entre nós é muito freqüente chamar “escaiolas” a todo tipo de fingimentos de pedra, sejam estes feitos com pintura ou com cor dada na massa, como se pode comprovar consultando a entrada ”escaiola” de dicionários de Belas-Artes dos séculos XIX ou XX. (AGUIAR, 2005, p. 258).

Como podemos constatar, a questão terminológica também se faz presente em Pelotas, aqui o termo “escariola “é aplicado por profissionais tanto da área da construção como da decoração, como foi constatado em entrevista de jornal com profissional do aposentado e anúncio em revista de 1939.

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Figura 1: Reprodução fotográfica feita da matéria veiculada na edição do jornal Diário Popular de 21 de março de 2010. Fonte: O autor, 2011.

Figura 2: Reprodução fotográfica feita de matéria veiculada na edição de 21 de março de 2010. Fonte: O autor, 2011.

(23)

Nas figuras 1 e 2 temos a reprodução fotográfica feita da matéria publicada na edição do jornal Diário Popular11 de 21 de março de 2010, da qual reproduziremos as passagens mais relevantes ao assunto em questão.

Com o título de “Bens culturais, como as escaiola, seguem por gerações de profissionais que buscam preserva os saberes antigos” a entrevista realizada com o senhor Sued Macedo, de 75 anos de idade, pedreiro aposentado.procura resgatar parte deste conhecimento.

“(Acostumei-me a ver aquelas paredes de pé direito altíssimo, ‘escarioladas’(gosto de usar o termo popular) em branco puro fingindo um carrara).

Quem não tinha condições de azulejar a casa mandava ‘escariolar’12.”

Figura 3: Reprodução da capa da Revista da Associação dos Proprietários de Imóveis de Pelotas em 1939. Fonte: O autor, 2011.

11 Jornal da cidade de Pelotas fundado em 1890. 12 Diário Popular, 21 mar. 2010, p. 8

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Figura 4: Reprodução do Anúncio da Revista da Associação dos Proprietários de imóveis de Pelotas. Fonte: O autor, 2011.

Nas figuras 3 e 4 foi reproduzido o anúncio veiculado na Revista da Associação dos Proprietários de Imóveis de Pelotas em 1939 onde oferece serviços de pinturas decorativas, estuques e “escariolas”, o que demonstra que o termo popular ainda prevalece até o final da década de trinta.

1.3 DA FORMAÇÃO DA MÃO DE OBRA E MANUAIS PRÁTICOS

Segundo o arquiteto Aguiar (2005, p. 193) em se Livro a Cor e a Cidade Histórica até meados do sec. XX a formação da mão de obra era invariavelmente prática: o aspirante a profissional iniciava como aprendiz, passando a oficial, e quando dominada a arte, finalmente se tornava mestre.

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Na construção tradicional existia uma hierarquia, estrita e bem estruturada definindo o lugar preciso de cada um, em função da capacidade e responsabilidade artística. Como exemplo dentro da corporação dos pintores, era marcada a distinção entre o brochante, o pintor vulgar, o pintor fingidor e o pintor decorador, alguns profissionais de grande especialização.

Nos grandes centros industriais e artísticos há fingidores que só imitam madeiras, outros que só fingem mármores havendo ainda especialistas para [fingir] determinadas madeiras e certos mármores, que não fazem outra coisa. (AGUIAR, 2005, p.193).

Sobre manuais ainda diz que na segunda metade do séc.XIX, no embalo do “Fontismo”13 de uma política de desenvolvimento que se caracteriza pela liberalização e gradual especialização do saber, há uma obrigação de sistematizar os saberes disponíveis, surgem em Portugal manuais como o Guia do Operário nos trabalhos públicos (GUERRA, 1896) o Curso Elementar de Construções (LEITÃO, 1896) e também o essencialmente técnico Bases Para Orçamentos (Direção-Geral de Engenharia, Lisboa, Lallement Frères,1877). Fazia parte da natureza destes manuais a definições de preços com base no trabalho, a discrição, seus materiais e quantificação dos mesmos, além de, assegurar com pragmatismo a descrição dos trabalhos e dos materiais para a construção, sob pena de na sua falta se perder a objetividade, ao tornar generalista seu conteúdo. Já em meados do séc. XX este conteúdo dos manuais tende a se simplificar perdendo sucessivamente, sua utilidade enquanto repositório do modo de fazer.

No livro Os Mestres das fachadas artistas e artesões, a artista plástica e pesquisadora Yvoti Macambira (1985) dedica o capitulo quarto a “Como se Modelavam um Artesão”.

O capítulo aborda desde o período colonial com ensino profissional ministrado pelos jesuítas, à necessidade de formação de mão-de-obra instrumentada com a abolição da escravatura, período que até então, toda a atividade manual era executada por escravos, incluindo as artísticas. As

13

Fontismo é a designação dada ao período que se seguiu à regeneração e à consequente diminuição, ainda que temporária, da crônica instabilidade política em que tinha mergulhado a monarquia constitucional portuguesa. A designação fontismo deriva do nome de Fontes Pereira de Melo, a figura líder do período. (RIOS, 2007).

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atividades manuais então rejeitadas pelas classes abastadas são ensinadas apenas a órfãos pobres e desvalidos, sendo fundado em 1874 o Instituto de Educandos e Artífices. Esse tipo de instituições ensinavam aos alunos, as quatro operações, alfabetização e ofícios como de alfaiate, marceneiro, serralheiro e outros do mesmo tipo, introduzidos à medida que se faziam necessários para a comunidade. Prevalecia o sentido de coisa menor atribuído à atividade manual, esta por sua vez, era entendida como arte menor.

Com a chegada de um grande número de imigrantes, e com a necessidade de ensinar a falar e escrever a língua nacional, em 1874 é fundada a Sociedade Propagadora da Instrução Popular. Em 1882, a Sociedade passa a Instituto Profissional, adotando o nome de Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo.

O Liceu de Artes e Ofícios terá seu currículo inspirado nos Liceus de artes e Ofícios fundados conforme os planos de Le Breton (coordenador da Missão Francesa no Brasil) já existente na cidade do Rio de Janeiro desde 1820. (MACAMBIRA, 1985.).

A partir de 1895 assume o arquiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo (1851-1928) tendo estudado na Bélgica era dono do escritório de engenharia responsável pela maioria da obras públicas da cidade de São Paulo no período. Ramos de Azevedo tinha então no Liceu o máximo interesse em instrumentar artífices, capazes de trabalhar nos projetos encomendados em seu escritório. O modelo implantado era semelhante aos das escolas que ele havia conhecido na Europa, o programa era amplo e o conteúdo era composto de: Desenho Linear-geométrico, Desenho Linear e a Mão Livre, Desenho Arquitetônico, Desenho Profissional, Modelação, Desenho e Pintura nas Artes decorativas.

Somente em 1911 são fundadas pelo Governo do Estado escolas que efetivamente se incumbem do ensino profissional. O programa era muito semelhante ao do Liceu.

Vale a pena destacar então, o descrito no cap. VI. Atribuições e Técnicas dos Artistas/artesões, subtítulo 3 O Pintor Decorador letra A.

Quando se tratava de desenhos exclusivos, o pintor confeccionava ele próprio as máscaras para esse fim. Cabia ao pintor também executar todo o trabalho de douração, mais comumente usado nas igrejas. Dividia com o frentista o trabalho de aplicar diversas técnicas de estucagem,

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quando estas dependiam do trabalho de pintura para proporcionar os resultados desejados. O pintor complementava o trabalho do frentista na confecção de estuque, pintando por exemplo, imitações de pedra. Com tintas em pó desfeitas em água, produzia os efeitos desejados na superfície previamente preparada com a técnica conhecida por “estuque lustro”. (MACAMBIRA, 1985, p.84).

No panorama apresentado até aqui, torna-se então necessário entender e definir qual o revestimento de paredes que é encontrado na cidade de Pelotas.

Quando da observação das paredes e suas patologias, vamos encontrar as informações necessárias para nos aproximarmos da identificação da técnica.

Para tanto foi feita uma seleção de residências construídas no séc. XIX nas quais se identificaram algumas de suas características através de uma observação in loco e registro.

Vale apena ressaltar que na grande maioria os estudos são em torno da datação e atribuição enfocando os projetos de fachada, que na sua grande maioria encontrasse em pesquisa.

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2 RESULTADOS DA PESQUISA DE TERMOS RELACIONADOS À ESCAIOLA E/OU IMITAÇÃO DE MÁRMORE EM ESTUQUE.

Neste capítulo foram reunidos 23 termos lexicais e/ou receitas relacionados à escaiola e de termos que levam a imitação de mármore em estuque. Em alguns casos acompanhados de um comentário. A ordem em que os mesmos serão apresentados será pela data da publicação, da mais antiga para amais atual, com a posterior tradução, do termo em língua estrangeira.

Para uma maior fluidez do trabalho as definições alongadas e receitas na língua original foram relacionadas na integra, em apêndice neste trabalho.

2.1 STUC OU MARBREFACTICE, (ART MÉCHAN.)

Estuque ou mármore artificial (arte mecânica). Estuque ou mármore falso é invenção humana a base de gesso, conhecida tanto por sua dureza como por sua durabilidade. Pode ser composto por diferentes cores que podem representar quase que naturalmente os mámores mais preciosos. (DIDEROT; D’ALMBERT,1778)

2.1.1 COMENTÁRIO SOBRE STUC OU MARBREFACTICE

Esta definição relaciona estuque a arte mecânica (manual) e a representação de falso mármore. Menciona matéria prima gesso e pigmentos, enaltecendo as qualidades do resultado final com dureza e semelhança ao Mármore verdadeiro.

2.2 ESCAIOLA: IMITAÇÃO DO MÁRMORE

O mármore com as suas lindas e variadas cores foi sempre considerado como uma pedra estimada para as construções luxuosas, mas ao mesmo tempo como um material dispendioso pela sua raridade, havendo mesmo países onde ele não existe.

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Por esta razão fizeram-se muitas experiências para substituir o mármore por qualquer processo artificial, e só depois de aparecer o cimento branco, que pela sua rigidez pode igualar na resistência o mármore, é que se conseguiu um resultado satisfatório.

A imitação do mármore a que chamaram escaiola, quando é executada por artistas de competência dá uma perfeita semelhança dos mármores naturais. Apesar do seu custo de fabrico ser bastante elevado, já hoje em quase todos os estabelecimentos modernos se encontram colunas, pilastras, lambris, etc. revestidos de escaiola.

O material para a preparação da massa que se emprega na escaiola, é, como já dissemos, principalmente o cimento branco (cimento inglês), além de tintas em pó necessárias para a confecção das diversas cores e pedra hume (alúmen). Para os acabamentos são empregados a pedra pomes, pedra de Escócia, pó de poteia14, óleo de nozes, cera dissolvida em aguarás e panos para esfregar. (SEGURADO, s/data).

2.2.1 COMENTÁRIO SOBRE ESCAIOLA IMITAÇÃO DE MÁRMORE

Aqui o autor apresenta mármore como material estimado para construções luxuosas e que devido ser o mesmo raro e dispendioso, pode ser substituído por um processo artificial. Neste processo inclui o cimento branco como o material que possibilitou esta imitação o que nos remete ao final do séc. XIX início do vinte. Na apresentação da receita pode-se constatar que é uma massa de espessura de 15 mm, aplicada e moldada numa superfície em partes e que deve ser desbastada e polida. Chama a atenção uso exclusivo do cimento branco, as matérias primas gesso, cal, pó de mármore e areia não são citadas na receita.

2.3. REVESTIMENTOS COM ESCAIOLA:

O revestimento com escaiola é feito sobre o emboço da parede e consiste em cobrí-la com uma camada de material devidamente polido que imita o mármore, o alabastro ou outras pedras de valor. (ver na integra em apêndices). (PIANCA, 1977)

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2.3.1 COMENTÁRIO SOBRE REVESTIMENTO EM ESCAIOLA:

O autor apresenta situações de emprego da escaiola, as vantagens em certos casos sobre o uso de azulejos e receita com matérias primas cal ou gesso, areia fina, pó de mármore e corantes incorporados ou não a massa. Para áreas sujeitas a ação da água indica o uso de cimento branco. O polimento será dado esfregando pedra pomes e posteriormente aplicando-se óleo de linhaça e encerando-se com cera e água raz. Em nenhum momento faz comentário sobre a espessura da massa e veios de mármore.

2.4 SCA.GLIA

[sk'aya] sf Zool. escama. Min. Lasca. (POLITO, 1993). 2.5 SCA.GLIA.RE

[skay’are] vt jogar, atirar, arremessar; descamar (peixe), vpr jogar-se, atirar-se. (POLITO, 1993)

2.6 SCA.GLIO.LA

[skay'cla] ou sca.gliuo.la [skaVwola] sf Bot. alpiste. (POLITO, 1993).

2.7. ESCAYOLA:

Sulfato de cálcio a 180°C, material de rápido endurecimento para aplicações e moldes. Quanto maior a temperatura de calcinação, mais lentamente endurece.

2.7.1 COMENTÁRIO SOBRE ESCAYOLA.

Aqui vemos apenas a definição da matéria prima gesso e suas características conforme a temperatura de calcinação. A autora não relaciona à imitação de mármore. (GONZÁLEZ; MARTÍNES, 1997)

2.8. STUCCHI A LÚCIDO ESCAGLIOLE RICETTA CN. 12

Argamassa com gesso e cal para o estuque polido. Composição e aplicação. Estuque polido e escaiola [...] As aplicações em edifícios modernos

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podem ser preparadas de duas maneiras: em ambos os casos é necessário a premissa da aplicação de revestimento áspero e comum de gesso, deixando secar perfeitamente.

1 - Espalhe sobre a superfície uma pasta de gesso e água cola e sobre esta primeira camada é sobreposta por uma segunda mais fina e lisa de gesso, misturada com água de cola e pigmentos, ocre amarelo, vermelho ou qualquer cor conforme o gosto. Quando o gesso secar, polir com pedra-pomes e água, após aplicar uma camada de óleo para dar brilho. Por este meio o estuque de gesso, imita perfeitamente qualquer tipo de mármore, de excelente durabilidade quando não exposto à água ou umidade. É de elevado custo e necessita de muita mão-de-obra.

2 - Sobre o gesso comum é aplicada, por meio de espátula, uma fina camada de argamassa de espessura 1-2 milímetros, feita de pó de mármore, areia fina e cal, em que pode-se adicionar uma pequena quantidade de ocre vermelho ou amarelo, para imitar o fundo do mármore que se deseja. Em seguida, com o pincel pintar a superfície, com manchas e listras de acordo com o mármore que deseja imitar. Então com um ferro quente, alise a superfície, repetindo este processo até obter o alto brilho do mármore. [...] (ARCOLAO, 1998)

2.8.1 COMENTÁRIO SOBRE RICETTA CN. 12 STUCCHI A LÚCIDO E SCAGLIOLE

Nestas receitas podemos constatar que o termo scagliole está relacionado à segunda receita. A mesma descreve aplicação de massa com colher a uma expessura de 1-2 mm sendo esta a base de cal, pó de mármore e areia fina. Indica pigmento na massa e pintura a fresco fingindo o mármore. O polimento é dado com ferro quente.

2.9 MARMORINO (modos tradicionais de realizar-se um marmorino) 2.9.1 MARMORINO COM UMA ÚNICA COR E BRILHO NATURAL

Trabalho da jornada: Molhar a superfície, com um nebulizador, onde será aplicado o primeiro estrato se aplica o primeiro estrato de marmorino composto de 6 partes de pó de mármore e 4 de pasta de cal, em movimentos circulares

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com o fratacho de madeira, nivelando a superfície. O segundo estrato, com 5 partes de pasta de cal e 5 partes de pó de mármore, se aplica em seguida que o primeiro começar a aderir, uma camada muito fina em movimentos circulares. O terceiro estrato ou de polimento ,composto de 6 partes de pasta de cal e 4 de pó de mármore, será aplicado quando o segundo também já estiver aderido, de modo a formar uma fina película, o polimento. O operador deve atentar a uniformidade na aplicação das massas para obter como resultado uma superfície homogenia. Após estas operações será feito o alisamento da superfície com o fratacho de ferro polido e a colher de estucador.

2.9.2 MARMORINO POLIDO A FRESCO

Trabalho da jornada: executar todas as etapas anteriores e passar ao alisamento a fresco. Se pega a solução de sabão previamente preparada, e aplica-se uma camada da mesma, com um pincel macio, por toda a superfície, sem causar defeitos, duas ou três vezes intercalando a direção. Deixa-se secar por volta de 10 a 30 minutos para o sabão penetrar através do marmorino, após com um pincel macio e seco elimina-se qualquer resquício de sabão que possa ter ficado em excesso na forma de pó.

Procede-se ao polimento com a colher de estucador como explicado anteriormente.

2.9.3 MARMORINO POLIDO A FRESCO E A QUENTE

Sobre o marmorino preparado como nas etapas anteriores se aplica ao polimento com um ferro de aço quente que era comumente chamado de ferro de “estiro”. Tal método é empregado para acelerar o polimento de grandes áreas. 2.9.4 PINTURA E DECORAÇÃO A FRESCO DO MARMORINO

Para pintar a fresco um marmorino são indispensáveis: o marmorino como da receita 2.6.1, solução de sabão em água, pigmento em pó, pinceis macios de diversos tamanhos, esponja marinha, colher de estucador e eventualmente cera.

Leva-se também em consideração aqui, o trabalho de uma jornada, para determinar o início e o fim de um ciclo de trabalho de pintura, pois após se

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encerrar um ciclo não é mais possível continuar a pintura, pois o matérial já estará em fase de secagem não tendo mais condição de receber cor. Todo o aparato decorativo deve ser dividido em torno do que será possível executar numa jornada de trabalho. A subdivisão se faz com uma incisão no marmorino ainda fresco deixando uma margem de meio centímetro para que em outra data o operador possa unir perfeitamente o outro marmorino.

2.9.5 IMITAÇÃO DE MÁRMORE CLARO

Trabalho da jornada: se prepara uma marmorino com cor na massa conforme o mármore a ser imitado, terminado o marmorino como na receita 2.6.1 se aplica uma ou duas mão de solução de sabão. Se mistura os pigmentos das cores escolhidas em solução de sabão ocupando tantos recipientes quanto forem os pigmentos necessárias, a densidade da mistura colorida deve ser semelhante a do leite. Com pinceis adequados de diversos tamanhos, e com esponja marinha, inspirado na natureza, desenhe veios e manche para imitação do mármore escolhido. Para que não se misturarem é importante passar a colher de estucador entre as aplicações de cores.Terminada a imitação do mármore, aplicar um polimento geral com a colher de estucador, sem adição de sabão. A eventual aplicação de cera após secagem do marmorino proporcionará um efeito muito realista ao fingimento.

2.9.6 IMITAÇÃO DE UM MÁRMORE A PINTURA FORTE

Trabalho da jornada: para executar a imitação de um mármore de forte tonalidade, (ex.Verde de Genova, Granito vermelho Índia, Porto Ouro, Vermelho de Verona etc.) se prepara um marmorino branco natural, sem pigmento na massa, trabalhado como em 2.6.1.

Suponhamos imitar o Verde de Genova, então em um recipiente se mistura e se escolhe o pigmento que dará a cor de fundo, neste caso Preto videira ou outro preto, se aplica a cor sobre a superfície com um pincel macio e de qualidade a modo de veladura, cruzando as pinceladas.

No tempo de absorção da tinta, que é relativo a extensão da área pintada, se deve polir suavemente com a colher de estucador. Quando se obtiver uma superfície colorida e lisa e com a cor fixada, se passa a outra fase. Teremos então

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preparado em outros recipientes as cores necessárias para este trabalho, que serão aplicadas com pinceis e esponja marinha até obter o efeito necessário, seguindo então ao polimento com a colher de estucador.

2.9.7 DECORAÇÃO DE PINTURA A FRESCO SOBRE MARMORINO

Trabalho da jornada: se prepara o marmorino como na receita 2.6.1,se presume que o projeto da pintura já foi resolvido e elaborado, os modelos a serem aplicados preparados assim como o material de aplicação, as cores já foram escolhidas previamente. Se prepara o marmorino da jornada, se aplica os desenhos elaborados sobre a superfície do mesmo ainda fresco, pelo método de pequenos furos no desenho e sujando com uma pequena bucha com pigmento dentro ou se desenha por cima do mesmo com uma ponta arredondada de metal com leve pressão para marcar de forma incisa a forma no marmorino (método muito antigo adotado por Michelangelo para pintura da Capela Sistina).

Inicia-se a pintar com pincel macio, com pigmento em água de sabão, com veladuras rápidas e sobrepostas formando o motivo decorativo com sombra e luz.

É importante repetir que se deve polir uma cor antes de se passar para outra para evitar que se misturem. Quando estiver seco, poderá ser tratado com cera, o resultado estético será visivelmente idêntico a encáustica Romana.

2.9.8 COMENTÁRIO SOBRE AS RECEITAS DE MARMORINO (MODOS TRADICIONAIS DE REALIZAR UM MARMORINO) 2.6.1 À 2.6.7

No conjunto de receitas apresentadas a titulo de marmorino podemos observar que a primeira (2.6.1) apresenta o modo de fazer do que será a base para as receitas posteriores as quais, poderão receber métodos de acabamentos e decoração distintos, é extremamente detalhada (ver apêndice) indicando o sentido de trabalhar com a massa e inclusive sugerindo o número de executores para uma “jornada de trabalho”. Dá ainda a entender que o marmorino se presta a diversos acabamentos, sendo uma matéria prima ou base para ser utilizado com ou sem polimento e pigmento, adicionado de pigmento e polido e pintado a fresco com veios e composições variadas. Pode ainda ser usada para estuques ornamentais tridimensionais. (FOGLIATA, 2004).

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2.10 ESCAIOLAS

Podem ser executadas no próprio local da aplicação ou nas oficinas dos estucadores e transportadas ao local de fixação, que se dará por parafusos ou outro meio. O local de execução deve ser isento de poeiras e umidade. Deve ser utilizado gesso de primeira qualidade, muito bem peneirado. A água de cola (1 litro de água para 500 gramas de cola de carpinteiro) deve ser preparada diariamente. As superfícies que receberão a escaiola devem estar limpas e bem molhadas. Na preparação entra o cimento branco e as diversas tintas em pó, a serem misturadas à massa. A cor depende da natureza da pedra que se quer imitar.

A massa a ser aplicada é formada por gesso, amassado em superfície de mármore, com água e cola concentrada, de modo a constituir pasta pouco fluida e que cure entre 12 e 20 horas.

Caderno de Encargos do Programa Monumenta editado pelo IPHAN na página 90 item 04.07.06.00 - Escaiola (parede) subitem 04.00.00.00 cita e apresenta o modo de fazer na p.238 que define ESCAIOLA. (BRASIL, 2005). 2.10.1 COMENTÁRIO SOBRE ESCAIOLAS

A receita remete a escaiola feita de gesso, chama à tensão o fato de que pode ser feita fora da parede e aplicada posteriormente.

2.11 STUCCO-LUSTRO

Stucco-lustro (stuccolustro), que imitando pedras ornamentais, como mármores ou brechas, através da pintura (a fresco, ou a seco) feita sobre estuques lisos de argamassas de cal e de areia finíssima ou de pasta de cal com pó de mármore, ou também sobre argamassas de gesso e cal, no fim pintados e cuidadosamente acabados, por vezes com pinturas brunidas a ferro quente e depois polidas, podendo levar acabamento final com ceras e vernizes. (AGUIAR, 2005).

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2.12 STUCCO-MARMO

Stucco-marmo (por vezes também erradamente designado, na nossa literatura técnica e artística, como scagliola ou escaiola),uma outra técnica decorativa, onde a simulação se conseguia incorporando pigmentos nas próprias argamassa, utilizando-se massas de gesso e/ou pastas de cal. (AGUIAR, 2005) 2.13 SCAGLIOLA

Verdadeira scagliola, que propõe revestimentos ornamentais simulando embutidos de pedra, compondo esquemas decorativos policromos que se executam com massas de gesso (ou gesso e pasta de cal) carregadas de diversos pigmentos e colas, jogando com os contrastes das cores, recortando espaços necessários numa camada-base e preenchendo-os com distintas massas coloradas. (AGUIAR, 2005).

2.14 ESTUQUE LUSTRO

Esta técnica, também conhecida como fresco lustro, é de procedência italiana. Em algumas localidades pode ser denominada de estuque pranchado ao

fogo ou estuque pranchado quente. Ela consiste praticamente em uma pintura

”marmorizada” executada a fresco sobre uma superfície preparada de cal e pó de mármore bem fino, seguida de solução aquosa de sabão e aplicação de pranchas de ferro ou aço, previamente aquecidas em um fogão, ou pranchas elétricas, tornando a superfície mais lisa e brilhante. (MASCARENHAS, 2008). 2.15 ESCAIOLA

A escaiola é uma técnica semelhante ao estuque lustro, sendo em algumas localidades considerada a mesma. A grande diferença está em utilizar no lugar da prancha aquecida uma espécie de colher de pedreiro especial – cazzuola -, que apresenta acabamento arredondado nas bordas, usada para dar o polimento e o brilho desejado nas superfícies. Este método de imitação de mármore é conhecido como marmorino decorati, finto marmo ou scagliola.

O processo consiste então na reprodução de mármores realizada por meio de aplicação de veios, utilizando pincel com pêlos bem finos, penas de ave e ou

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esponja natural do mar, seguida de polimento com colher de metal – cazzuola – sobre marmorino, colorato ou não. (MASCARENHAS, 2008).

2.16 ESTUQUE MARMORIZADO

Na Itália, denominado como stucco marmo, é a imitação perfeita do mármore. Ele é executado a partir de uso de gesso, que determina o diferencial em relação ás outras técnicas de estuque tradicional – stucco veneziano e escaiola. Estas utilizam a pasta cal como elemento de ligação entre componentes. Curiosamente, apesar do termo – stucco marmo-, não se emprega pó de mármore. A receita é simples: gesso, pigmento natural ou químico, cola animal, e água. A pureza e a dosagem correta da cola de coelho garantem a qualidade e a longevidade do estuque. (MASCARENHAS, 2008)

2.17 STUC-MARBRE

Termo usado na França para denominar stucco marmo. (MASCARENHAS, 2008)

2.18 SCAGLIOLA

Existem algumas discordâncias quanto ás terminologias que variam de um lugar para outro. A técnica descrita como escaiola é reconhecida no Brasil. No entanto, alguns autores e especialistas na Alemanha, Itália e na Espanha definem escaiola como stucco marmo, ou seja, a técnica que utiliza gesso, pigmentos e cola. (MASCARENHAS, 2008).

2.19 ESCAIOLA

É um tipo de estuque executado com argamassa à base de gesso, utilizada para espaços interiores, cuja aparência geralmente simula mármore e outros revestimentos nobres. (SILVA; LAER; FRATTINI, 2008).

2.20 ESCAIOLA

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Peça que, empregada em revestimentos, imita o mármore ornamental e consiste em uma base de gesso e cola sobre a qual, quando mole, adiciona-se pó de mármore, granito etc.

Etimologia: it. scagliola (1567-1573) ‘lasquinha, gesso; pó de gesso utilizado para estuque', der. de scaglia lasquinha, escama (peixes), cascalho (pedra, mármore), fragmento, lasca, este do gót. skaíja telha; fragmento (de madeira, pedra ou metal), lasca. (HOUAISS, 2009)

2.21 SCÀGLIA S.F.

1) sf squama, dei pesci e dei rettili

2) sf piastra, piccola lamina, frammento di metallo, di pietra o altro. 2.22 SCAGLIÒLA

1sf . gesso puro, cotto e ridotto in polvere, che fa rapida presa ed è usato

specialmente per gli stucchi. (DIZIONÁRIO ITALIANO, 2011). 2.23 ESCAIOLA

s.f. Combinação de gesso e cola que serve para cobrir estátuas, colunas etc. (Aplicada de modo especial nas paredes, serve para fingir pedra.) / Estuque. (AURÉLIO, 2011).

Podemos concluir que a palavra “escaiola” existe na língua portuguesa pelo registro nos dicionários Houaiss e Aurélio, tendo provável origem na palavra italiana scagliòla que é relacionada a um tipo de matéria prima, o gesso. O dicionário Houaiss ao apresentar a etimologia da palavra com sua derivação em

scaglia, confirmando o definido nos dicionários italianos Michaelis e Dizionario-italiano.

Quanto à palavra “escariola”, não foi encontrado nenhum registro na literatura técnica e artística consultada.

As definições em dicionários e receitas sobre escaiola, apresentam em comum a descrição de uma técnica de revestimento de gesso, acrescido de cola animal e pigmento na própria massa, para imitar mármore, com exceção da “2.8

Ricetta CN.12 Stucchi a Lúcido e scagliole” item de número 2, que apresenta pó

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Por tanto após a investigação efetuada neste capítulo, com suas nomenclaturas, receitas e modos de fazer, poderemos investigar com conhecimento prévio, qual a técnica que mais se aproxima aos estuques decorativos de paredes internas em Pelotas.

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3 DESCRIÇÃO DAS ESCAIOLAS DE PELOTAS

Antes da descrição das escaiolas em Pelotas será feita uma breve abordagem dos “Princípios básicos a observar na conservação de revestimentos e acabamentos”, descritos por Aguiar ( 2005 p. 396-397) .O autor vai em busca de referencias essenciais que orientem a operação de conservação de revestimentos de edifícios históricos. Em consulta às Carta de Veneza de 1967 e na Carta Internacional para a Conservação das Cidades Históricas (ou Carta de Toledo) de 1987 ainda neste documento destaca no Anexo B, Instruções para proceder à conservação, manutenção e restauro das obras de interesse arquitetônico, no “Ponto 3. Intervenção nas aplicações decorativas em estuque, frescos e em esgrafiados” e no “Ponto 4. Reintegração e/ou substituição de guarnecimentos e /ou colorações.

As propostas da Carta de 1987, privilegiando a preservação dos revestimentos existentes e recomendando a sua consolidação, aceitavam também, por comparação com a Carta del Restauro de 1972, uma maior latitude na possibilidade de proceder a substituições com técnicas similares às ancestrais, prática que é entendida como fazendo parte das operações de manutenção necessárias à conservação arquitectónica. A nova proposta de Carta do Restauro indicava os métodos e as técnicas básicas a utilizar nas reintegrações, na substituição de revestimentos e/ou em novas colorações, para o que regulava as condições de realização de exames estratigráficos prévios. Para a substituição de revestimentos e acabamentos cuja conservação fosse considerada inviável, a Carta de 1987 recomendava a sua substituição com processos, materiais e granulometrias o mais semelhantes possível às do contexto envolvente, recomendando parcimónia na utilização dos materiais sintéticos e procurando aparências e consistências similares às das texturas originais. Recomendava também o cuidado de assinalar de forma sóbria, o limite entre os velhos e os novos revestimentos, procedendo à documentação exaustiva das operações 245. (AGUIAR, 2005).

Ainda será relevante destacar a nota feita pelo autor neste parágrafo (n° 245).

Esta necessidade de marcar a distinção entre o novo e o velho é hoje algo discutível porque, na prática, a distinção entre as partes é suficiente

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visível, aumentando essa visibilidade com a passagem do tempo (envelhecimento diferencial). (AGUIAR, 2005, p.589).

Então aqui veremos justificada a necessidade de investigação exaustiva do objeto de restauro e de nomenclatura aplicada a este, para determinar futuras ações de conservação e restauro do bem.

As escaiolas de Pelotas são assim:

As escaiolas na cidade de Pelotas recepcionam as pessoas, estão inseridas na decoração desde as paredes do hall de entrada, seguindo para corredores, salas de jantar, estar, área intima cozinha e até ao banheiro. Com pinturas em formas e motivos próprios a cada ambiente, lembram os desenhos de mármores e granitos de diversas cores e formas. A base (estuque) e normalmente branca, lisa e lustrada, refletindo a luz e transmitindo uma sensação fria ao toque.

São de grandes dimensões, acompanhando a configuração arquitetônica dos prédios que decoram, revestindo suas paredes do piso ao roda forro e ainda colunas quando estes as possuem.

Sua composição decorativa normalmente e formada de três sessões: o soco, uma representação de painel a uma altura média, um friso e acima deste, uma segunda representação de painel até o roda forro.

Figura 5: Modelo de Composição Decorativa. Fonte: O autor, 2011. 2° painel Friso 1° Painel Soco

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Fig.5 Reprodução da pintura da escaiola do IJSLN, executada pelo autor, para a cadeira de Pintura Decorativa, ministrada no 1° semestre de 2011 pela Profa Andréa Bachettini, onde podemos visualizar as divisões na composição decorativa.

Figura 6: Fotografia de detalhe do IJSLN usada como modelo para pintura. Fonte: O autor, 2011

Fig. 6 fotografia de detalhe de escaiola do Instituto João Simões Lopes Neto que foi utilizada para modelo da figura anterior. Vale a pena salientar aqui as grandes dimensões dos painéis e o início da decoração rente ao piso, terminando no roda forro.

O soco que seria uma saliência na base da parede, medindo aproximadamente 20 cm de altura e projeção entorno de 1 cm para fora,que quando em escadas, acompanham o contorno da inclinação desta. Sua cor normalmente é mais escura que as outras representações de pedra, pois não é pintado sobre fundo branco.

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Figura 7: Detalhe do soco. Fonte: O autor, 2011.

O Primeiro Painel uma primeira representação de painel, variando sua altura até 1m em relação ao soco. Podem possuir painéis internos menores como se fossem embutidos, com desenhos geometrizados e efeitos de claro e escuro no contorno, sobre um fundo de uma representação de veios de um tipo diferente do interno. Normalmente a pintura é executada sobre fundo branco.

Figura 8: Detalhe do primeiro painel. Fonte: O autor, 2011.

O Friso acima do primeiro painel, tem uma altura que podem ter medidas que variam conforme o desenho empregado, é decorado com os mais diversos motivos à escolha do executor. Para a execução do desenho são utilizados moldes vazados, podem ainda ser emoldurados por faixas em tons claros e escuros para dar efeito de volume.

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Figura 9: Detalhe do friso pintado. Fonte: O autor, 2011.

Figura 10: Exemplos de moldes vasados para pintura. Fonte: O autor, 2011.

A Fig.10 apresenta três exemplos de moldes vazados confeccionados em papel para aplicação, como no exemplo acima e nas outras situações onde este tipo de decoração (frisos decorados) é aplicada.

O Segundo Painel: pode medir até 3m de altura acima do friso, com divisões verticais para compor painéis menores em paredes mais largas , dividindo a área em painéis internos, formando quase sempre retângulos dentro de retângulos, com molduras e/ou frisos no entorno.

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Fig. 11 e 12 detalhe do friso pintado IJSLN.

Para a descrição

revestimento de paredes em Pelotas nos Casarões 2, 6 e 8 que fazem parte de um conjunto de prédios tombados pelo Instituto de Patrimônio Artístico Nacional 15no entorno da Praça Cel. Pedro Osório

erigidos no período da década de setenta do sé

15 Respectivamente Livro de Belas Artes e Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico. Bens

móveis e imóveis inscritos nos Livros do Tombo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Figura 11: Friso pintado.

Fonte: O autor, 2011.

Figura 12: Detalhe do friso pintado. Fonte: O autor, 2011.

detalhe do friso pintado no estuque aplicado

descrição da técnica foram observados exemplares de revestimento de paredes em Pelotas nos Casarões 2, 6 e 8 que fazem parte de um conjunto de prédios tombados pelo Instituto de Patrimônio Artístico Nacional no entorno da Praça Cel. Pedro Osório, sendo o 2 reformado e os outros dois

ríodo da década de setenta do séc. XIX (Ceres Chevallier

Respectivamente Livro de Belas Artes e Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico. Bens móveis e imóveis inscritos nos Livros do Tombo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico no estuque aplicado na parede do da técnica foram observados exemplares de revestimento de paredes em Pelotas nos Casarões 2, 6 e 8 que fazem parte de um conjunto de prédios tombados pelo Instituto de Patrimônio Artístico Nacional 2 reformado e os outros dois c. XIX (Ceres Chevallier, 2002). 16 Respectivamente Livro de Belas Artes e Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico. Bens móveis e imóveis inscritos nos Livros do Tombo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico

Referências

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