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Doenças crônicas e os impactos na cognição

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Academic year: 2021

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www.sbnpbrasil.com.br

Doenças crônicas

e os impactos na

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Sociedade Brasileira de Neuropsicologia (SBNp)

Presidente

Rochele Paz Fonseca Vice-presidente Annelise Júlio-Costa Tesoureira Geral

Andressa Moreira Antunes Tesoureira Executiva Beatriz Bittencourt Ganjo Secretária Geral

Caroline de Oliveira Cardoso Secretário Executivo Victor Polignano Conselho delibetarivo Deborah Amaral de Azambuja

Márcia Lorena Fagundes Chaves Nicole Zimmermann

Rodrigo Grassi-Oliveira Conselho Fiscal Laiss Bertola Maicon Albuquerque Natália Martins Dias SBNp Jovem Presidente Maila Rossato Holz Vice-presidente Giulia Moreira Paiva Secretária Geral Patrícia Ferreira

Membros da SBNp Jovem Ana Carolina R.B.G. Rodrigues Ana Paula Cervi Colling Andressa Hermes-Pereira Andreza Lopes

Elissandra Serena de Abreu Érika Pelegrino

Luana Teixeira

Luciano da Silva Amorim Lycia Machado

Monique Pontes Ronielo Ribeiro

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Editora

Andressa Hermes-Pereira Editora Assistente Ana Paula Cervi Colling Projeto gráfico e editoração Luciano da Silva Amorim

Editada em: maio de 2021 Última edição: abril de 2021 Publicada em: maio de 2021

Sociedade Brasileira de Neuropsicologia

Sede em: Avenida São Galter, 1.064 - Alto dos Pinheiros CEP: 05455-000 - São Paulo - SP

sbnp@sbnpbrasil.com.br www.sbnpbrasil.com.br

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REVISÃO HISTÓRICA

Doenças crônicas

REVISÃO ATUAL

Cefaleia, suas manifestações clínicas e alterações cognitivas: Uma revisão atual da literatura

ENTREVISTA

Cefaleia e cognição

HANDS ON

A Necessidade de Avaliação neuropsicológica para acompa-nhamento do paciente com Parkinson

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REVISÃO HISTÓRICA

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) as doenças crôni-cas são um conjunto de condições relacionadas a múltiplas causas. São caracterizadas por início gradual, prognóstico incerto, com longa ou indefinida duração. Entre as condições crônicas estão as doenças cerebrovasculares, cardiovasculares, diabetes, doenças respiratórias obstrutivas, transtornos mentais, doenças neurológicas, desordens ge-néticas, entre outras (OMS, 2005). Atualmente é um tema de grande destaque, mas nem sempre foi assim. Abaixo segue uma breve revisão de como o conceito foi sendo tratado ao longo da história.

Doenças crônicas até o século XX

Em Chronic disease in the twentieth century, Weisz (2014) discute que os primeiros tratados médicos, do período greco-romano, eram abran-gentes e dividiam as doenças entre agudas e crônicas. Aretaeus, o Capadócio (segundo século DC) descreveu as doenças crônicas res-saltando o longo período da doença, a dor crescente e a recuperação incerta. Outros médicos, minimizaram as diferenças entre os conceitos de doença aguda e crônica devido ao fato de uma doença aguda poder se tornar crônica (Weisz, 2014).

Antes do século XIX, as doenças eram pensadas como perturbações e desequilíbrios individuais. William Cadogan propôs que a gota e todas as doenças crônicas eram resultados da “indolência, intemperança e vexame.” Mais tarde, outras doenças foram atribuídas ao temperamen-to e práticas inadequadas de higiene. Muitemperamen-tos médicos destinavam as doenças crônicas apenas um tipo de tratamento, como se as doenças tivessem a mesma origem (Weisz, 2014).

Apesar disso, alguns médicos do século XIX, começaram a distinguir

Luana Teireira Batista

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entre a variedade de condições que existiam: condições causadas por lesões orgânicas, por uma predisposição constitucional ou por uma cau-sa externa, formas simples e formas complexas caucau-sadas pela coexis-tência de fatores, condições curáveis e que responderam ao tratamento etc. No século XVIII e XIX, centenas de livros foram publicados sobre doenças crônicas. Isso sugere que a taxa de mortalidade por doenças crônicas era mais alta do que as estatísticas oficiais (Weisz, 2014). No século XX, o conceito ainda permanecia impreciso, mas gradu-almente adquiriu um novo significado para saúde pública. De 1935 a 1936 o Serviço de Saúde pública dos Estados Unidos realizou um sen-so para determinar a incidência de doença crônica e deficiência. Em 1955 surgiu um periódico sobre doenças crônicas, o “Jornal of Chronic Disease”. De 1970 em diante o termo foi sendo menos associado a po-breza e incurabilidade. Para os historiadores e sociológos, o interesse pelo conceito ao longo do século reflete a mudança nos padrões de do-ença no mundo: o aumento da capacidade de prevenção de dodo-enças infecciosas. No século XX, muitos que sofriam de doenças infecciosas podiam sobreviver mais e com melhor tratamento (Weisz, 2014).

Doenças crônicas no século XXI

Já no século XXI muitas mudanças na preocupação com as doenças crônicas ocorreram. Atualmente, existem grandes setores de políticas de saúde, onde os profissionais estão em contato, lendo a mesma lite-ratura e compartilhando ideias. Se antes, o cuidado era direcionado ao individuo existe agora um olhar para a comunidade (Machado, 2006). O desenvolvimento científico e tecnológico aumentou a expectativa de vida, levando a população ter um maior risco de desenvolver doenças crônicas. No Brasil, A população também passou por transformações nas formas de trabalho, produção e consumo o que modificou as condi-ções de saúde da população (Malta et. al., 2006).

Prevê-se que as doenças crônicas sejam a causa de 35 milhões de mortes no mundo. Esse é um número crescente e chega a ser o dobro da estimativa combinada de todas as doenças infecciosas*. Estima-se que 60% das mortes no mundo sejam causadas por doenças crônicas. Dessas mortes, 16 milhões são em pessoas com menos de 70 anos de idade e 80% acontecem em países de baixa e média renda (OMS, 2005).

A crescente demanda das doenças crônicas é preocupação mundial e

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representa um grande desafio para a saúde pública (Machado 2006). Atualmente as doenças crônicas continuam sendo o que foi mostrado ao longo da história: um conjunto de condições heterogêneas, com uma ampla variedade de fatores que tem grande impacto social e coletivo. * dados coletados antes da pandemia da COVID-19.

Referências

Oliveira-Campos, M., Rodrigues-Neto, J. F., Silveira, M. F., Neves, D. M. R., Vi-lhena, J. M., Oliveira, J. F., ... & Drumond, D. (2013). The impact of risk factors of non-communicable chronic diseases on quality of life. Ciencia & saude coleti-va, 18(3), 873. https://doi.org/10.1590/S1413-81232013000300033 Machado, A. M. (2006). Doenças crônicas. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, 42(1), 0-0.

Malta, D. C., Cezário, A. C., Moura, L. D., Morais Neto, O. L. D., & Silva Junior, J. B. D. (2006). A construção da vigilância e prevenção das doenças crôni-cas não transmissíveis no contexto do Sistema Único de Saúde. Epidemio-logia e serviços de saúde, 15(3), 47-65. http://dx.doi.org/10.5123/S1679-49742006000300006

Weisz, G. (2014). Chronic disease in the twentieth century: a history. JHU Press.

World Health Organization, Public Health Agency of Canada, & Canada. Public Health Agency of Canada. (2005). Preventing chronic diseases: a vital invest-ment. World Health Organization. Retrieved from: https://apps.who.int/iris/ bitstream/handle/10665/43314/9241563001_eng.pdf

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REVISÃO ATUAL

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EDor crônica é um dos principais motivos de busca por atendimento médico e são causas comuns de diminuição da produtividade e inca-pacitação do paciente (Dahlhamer et al., 2018). Com base nisso, as do-res crônicas impactam negativamente a qualidade de vida (Smith et al., 2001) e desse modo, associadas a sintomas de ansiedade e depressão (Castro et al., 2011). As dores crônicas mais frequentes são as dores de cabeça, pois ainda estão relacionadas a outras patologias.

Com isso, dificilmente a dor de cabeça passa despercebida. Classifi-cada como uma das doenças crônicas mais comuns e atinge cerca de 9 a 35% da população mundial, causando prejuízos significativos nas atividades de vida diária (Saylor & Steiner, 2018). Apesar dessa ser de muito conhecimento da população em geral, a dor de cabeça é uma das doenças neurológicas mais complexas devido à dificuldade do diag-nóstico bem estabelecido, diferentes manifestações e variações clíni-cas além das comorbidades a outros diagnósticos.

Historicamente, o diagnóstico das cefaleias era descrito a partir de va-riações clínicas vagas, com critérios apenas para frequência e duração da dor de cabeça. A partir de 2004, a Classificação Internacional dos Distúrbios da Cefaleia (ICHD-2, 2004) foi revisada e atualizada poste-riormente em 2013, sendo estabelecidos critérios mais definidos e de-limitado à caracterização clínica, visando a efetividade do diagnóstico e tratamento nesta população (Olesen et al., 2013).

Monique Castro-Pontes & Patricia da Silva

Cefaleia, suas manifestações

clínicas e alterações cognitivas:

Uma revisão atual da literatura

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quadro é distinção entre causa primária e secundária. A investigação e classificação devem, necessariamente, descartar outras condições secundárias que podem estar causando este quadro. As cefaleias pri-márias são identificadas pela frequência baixa a moderada (com frequ-ência menor do que 15 dias com dor de cabeça), ou dor de cabeça “epi-sódica” e de alta frequência ou dores de cabeças crônicas diárias (mais de 4 horas por dia). Dentre os transtornos relacionadas a ela estão (a) enxaqueca (migranea), (b) cefaleia tipo tensional (c) cefaleia trigeminais autonômicas (Joubert, 2005; Olesen et al., 2013; Ravishankar, 2016). Nas cefaleias secundárias, outros diagnósticos apresentam este sinto-ma ou sinto-manifestação devido a diversos fatores. As alterações que podem gerar a cefaleia podem ser desde prejuízos visuais (como estrabismo, glaucoma), nariz e seios nasais (sinusite crônica, rinite), arcada dentária (absesso dentário, oclusão), até as alterações na coluna cervical e nos nervos cranianos. Além disso, pode estar associada a quadros de le-sões adquiridas, como as doenças vasculares intracranianas (trombo-se, aneurisma cerebral, acidente vascular cerebral), distúrbios de pres-são intracraniana (aumento da prespres-são intracraniana); e a quadros de infecções, como as infecções intracranianas (encefalite, meningite) ou outros tipos de infecção (gripes, malária), e por fim, a avaliação do uso/ abuso de medicações pode causar esse quadro de cefaleia secundária crônica (Olesen et al., 2013; Ravishankar, 2016; Saylor & Steiner, 2018). As dores oriundas da cefaleia, sendo primárias ou secundárias, trazem consigo diversos prejuízos na qualidade de vida e funcionalidade. Em um estudo, Monteiro (2006) classifica estes prejuízos como diretos e indiretos. O primeiro refere-se ao prejuízo funcional, ao bem estar sub-jetivo, e dificuldades na carreira laborativa. Os prejuízos indiretos estão ligados às questões sociais, como a baixa na produtividade, impacto no ambiente familiar e social (como isolamento, dificuldade de socializa-ção devido às dores) e aumento dos gastos para custear tratamento e medicação. Em pacientes diagnosticados com um tipo específico de cefaleia, a enxaqueca apresenta comorbidade com alterações psiqui-átricas, como depressão e ansiedade. Os sintomas moderados de de-pressão apresenta-se em cerca de 18% em pacientes com enxaqueca em comparação com 7,4% da população geral (Galego, Cipullo, Cordei-ro, & Tognola, 2004).

Embora os déficits cognitivos não estejam entre a sintomatologia da cefaleia primária, muitos pacientes queixam-se de dificuldades

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cog-nitivas associadas à cefaleia e/ou enxaqueca. Dentre as queixas mais frequentes, alguns estudos referem maiores queixas de atenção (con-centração), funções executivas (alternar e controlar impulsos e resolu-ção de problemas) e memória (aprendizagem de conteúdo) (Martins, Gil-Gouveia, Silva, Maruta, & Oliveira, 2012; Silva & Teixeira, 2008). Um estudo longitudinal de coorte na Nova Zelândia investigou a asso-ciação de cefaleia (cefaleia tensional e enxaqueca) à alterações cogni-tivas. Neste estudo (n=980), os autores investigaram o desempenho em tarefas cognitivas (habilidades motoras, visuoespaciais e de lingua-gem verbal) nos participantes dos 3 aos 13 anos de idade. Ao longo do tempo, dividiram esta amostra de acordo com a manifestação da dor de cabeça (cefaleia tensional, migrânea e sem nenhum desse sintoma). Os resultados apontaram que o grupo com cefaleia tensional apresentou um desempenho menor em tarefas verbais, mas sem diferenças signifi-cativas, quando comparado ao grupo controle (Smith et al., 2001). Outro estudo transversal aponta que pacientes com enxaqueca pare-cem apresentar desempenho abaixo do esperado em habilidades exe-cutivas, incluindo memória de trabalho, flexibilidade cognitiva e altera-ção no processamento de recursos visuais. Enquanto pacientes com o quadro de migranea episódica e crônica apresentaram prejuízos da me-mória de trabalho, atenção, linguagem e escolha de estratégia. Por sua vez, pacientes com migranea parecem apresentar pior desempenho em tarefas de memória verbal, de memória visual e de funções executivas, em períodos livre de dor (Martins et al., 2012).

Por fim, a presente matéria teve como objetivo esclarecer a importância de compreender melhor a cefaleia e a relação com aspectos cognitivos, que devem ser considerados na prática neuropsicológica. Compreen-der sintomas de dor na anamnese pode ajudar a entenCompreen-der períodos mais críticos de dificuldades cognitivas e aspectos emocionais que podem se associar. Ainda há poucos estudos que investigam a relação entre os aspectos cognitivos e a cefaleia e suas diferentes manifestações. Por isso, faz-se necessário a identificação mais clara dos sintomas e classi-ficações da cefaleia e estudos que associem possíveis alterações cog-nitivas e relações anatomoclínicas. A partir disso, podemos pensar em práticas de reabilitação neuropsicológica e terapias que considerem es-ses aspectos que por vezes podem passar ser a devida atenção. Outro aspecto para finalizar, é a prática neuropsicológica atrelada a multidisci-plinaridade, para tratamentos efetivos combinados com neurologistas.

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Referências

Castro, M. M. C., Quarantini, L. C., Daltro, C., Pires-Caldas, M., Koenen, K. C., Kray-chete, D. C., & de Oliveira, I. R. (2011). Comorbid depression and anxiety symptoms in chronic pain patients and their impact on health-related quality of life. Archi-ves of Clinical Psychiatry (São Paulo), 38(4), 126–129. https://doi.org/10.1590/ S0101-60832011000400002

Dahlhamer, J., Lucas, J., Zelaya, C., Nahin, R., Mackey, S., DeBar, L., … Helmick, C. (2018). Prevalence of Chronic Pain and High-Impact Chronic Pain Among Adults — United States, 2016. MMWR. Morbidity and Mortality Weekly Report, 67(36), 1001–1006. https://doi.org/10.15585/mmwr.mm6736a2

Galego, J. C. B., Cipullo, J. P., Cordeiro, J. A., & Tognola, W. A. (2004). Depres-sion and migraine. Arquivos de Neuro-Psiquiatria, 62, 774–777. https://doi. org/10.1093/acprof:oso/9780192618108.003.0020

Headache Classification Committee of the International Headache Society. The international classification of headache disorders. (2004). Cephalalgia (Vol. 24). Joubert, J. (2005). Diagnosing headache. Australian Family Physician, 34(8), 621–625.

Martins, I. P., Gil-Gouveia, R., Silva, C., Maruta, C., & Oliveira, A. G. (2012). Migraine, headaches, and cognition. Headache, 52(10), 1471–1482. https://doi.org/10.1111/ j.1526-4610.2012.02218.x

Monteiro, J. M. P. (2006). Cefaleias primárias: causas e consequências. Rev Port Clin Geral, 22, 455–459. https://doi.org/10.24824/978652510243.6.119-132 Olesen, J., Bes, A., Kunkel, R., Lance, J. W., Nappi, G., Pfaffenrath, V., … Wöber--Bingöl, C. (2013). The International Classification of Headache Disor-ders, 3rd edition (beta version). Cephalalgia, 33(9), 629–808. https://doi. org/10.1177/0333102413485658

Ravishankar, K. (2016). Cefalea Cuando Y Como. Headache, 1685–1697.

Saylor, D., & Steiner, T. J. (2018). The global burden of headache. Semin Neurol, 38, 182–190.

Silva, M., & Teixeira, A. (2008). Neuropsicologia das cefaléias. Migrâneas Ce-faléias, 11(2), 114–117.

Smith, B. H., Elliott, A. M., Alastair Chambers, W., Smith, W. C., Hannaford, P. C., & Penny, K. (2001). The impact of chronic pain in the community. Family Practice, 18(3), 292–299. https://doi.org/10.1093/fampra/18.3.292

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ENTREVISTA

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As dores de cabeça são comumente conhecidas e dificilmente alguém não a sentiu em algum momento da vida. Essas dores são diversas e podem estar associadas diretamente a problemas neurológicos como as enxaquecas ou ainda, podem estar associadas a outros quadro de doença, como infecções. Essas dores podem ter um alto impacto na qualidade de vida, saúde mental e na cognição das pessoas.

Pessoas que sentem dores de cabeça do tipo migrânea, apresentam queixas frequentes de memória. Estudo que envolvem pacientes com e sem migrânea, apresentam resultados de piores resultados nos testes de funções executivas, memória verbal e visual (Martins, Gil-Gouveia, Silva, Maruta, & Oliveira, 2012; Silva & Teixeira, 2008). As cefaleias do tipo tensional ainda não apresentam resultados consistentes, isto por-que, podem ser mais subnotificadas.

Um estudo de revisão associou cefaleia com demência e encontraram resultados significativos que faziam relação positiva. Ou seja, não raro associar histórico de migrânea com demência em idosos. Essa relação ainda não está bem estabelecida na literatura, pois pode haver relação com o impacto na cognição além do uso de medicação para alívio das dores (Sharif et al., 2021). Esses achados podem estar relacionados

Cefaleia e cognição

Monique Castro-Pontes & Patrícia da Silva Entrevistada: Dra. Daiana Paola Perin

Médica formada pela Universidade do Vale do Itajaí (2014/1). Neu-rologista (RQE 34959) pelo Hospital Moinhos de Vento, Porto Alegre - RS. Pós Graduação em Neurologia Vascular pelo Hospital Moinhos de Vento, Porto Alegre - RS. Realizando especialização em Cefaleia e Neuropsiquiatria/Neurologia cognitiva no Hospital de Clínicas de Por-to Alegre - RS. @neuro.daianaperin

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Comprometimento cognitivo é um efeito adverso da polifarmácia que deve ser observado (Niikawa et al., 2017). Portanto, o tratamento para dores crônicas em idosos ainda requer maior atenção.

Com base nesses achados, a SBNp Jovem convidou a Dra. Daiana Pa-ola Perin - Neurologista cefaliatra para esclarecer alguns pontos impor-tantes sobre cefaleia.

As dores de cabeça são múltiplas e com frequência há equívocos sobre diferenças. Gostaria que nos explicasse as diferenças entre essas dores.

Primeiro, é importante esclarecer que cefaleia é sinônimo de dor de ca-beça e que a enxaqueca é um dos 200 tipos de cefaleia que existem, estando entre as maiores causas de incapacidade no mundo! Para ter uma ideia, a enxaqueca representa 18,5 milhões de anos perdidos por causa das limitações físicas e mentais que provoca. Já a cefaleia tipo tensão é a mais comum das dores de cabeça. As duas tem caracterís-ticas específicas que permitem ao médico diferenciá-las e tratar ade-quadamente.

Ainda sobre os tipos, podemos classificar as cefaleias em primárias e secundárias. As primárias são aquelas cujo sintoma é a própria doença e as secundárias são provocadas por algum outro motivo. Isso é impor-tante porque nos atenta aos casos nos quais são necessários exames para prosseguir investigação.

Quais são os perigos a automedicação pode oferecer a quem tem cefaleia?

Os perigos da automedicação estão relacionados, entre outros, aos efeitos colaterais possíveis, reações adversas que poderiam ser evita-das com a orientação médica, à interação medicamentosa, principal-mente nos pacientes que usam mais de uma medicação, e à cefaleia por uso excessivo de analgésicos. Esta é uma entidade muito comum porque existem vários analgésicos de venda livre, ou seja, sem neces-sidade de receita, facilmente disponíveis nas farmácias. A cefaleia por uso excessivo de analgésicos é difícil de tratar, pois para se livrar des-sa “dependência” a pessoa precides-sa cesdes-sar por completo o uso daquela medicação, pelo menos por 3 meses.

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rela-ção com ciclo menstrual. Por que isso ocorre?

É importante salientar, inicialmente, que a causa da enxaqueca é gené-tica, se trata de uma doença crônica que não tem cura, mas tem trata-mento. Sim, ela é mais comum em mulheres e o que se sabe é que há uma relação com a variação hormonal durante o ciclo menstrual. A que-da do hormônio estrogênio é que desencadeia o sangramento mens-trual e essa variação parece ser responsável também pelas crises de dor de cabeça. É por isso também que, durante a gestação, pode haver melhora no número de crises de enxaqueca, já que a partir do segundo trimestre os níveis de hormônios ficam estáveis. Quando o bebê nasce, ocorre outra reviravolta hormonal que, somada à privação de sono e de-mandas do puerpério, pode desencadear as crises novamente.

Situações e períodos de alto estresse, ansiedade e/ou depressão intensificam o quadro de cefaleia? Nesses momentos de tanta tensão e estresse, quais as dicas você nos dá para lidar com a ce-faleia?

No mundo em que vivemos, com preocupação e estresse constan-tes, não é à toa que a cefaleia tipo tensão é a mais comum no mundo. Com certeza, fatores emocionais são gatilhos e podem se relacionar a um aumento no número de dias de dor por mês, principalmente no que se refere à cefaleia crônica. Para entendermos um pouco sobre o que acontece: durante episódios de estresse, há aumento da produção de glicocorticoides, pela ativação do sistema autonômico e neuroendó-crino e isso pode desencadear crises de enxaqueca. Se não tratamos os transtornos de humor, por exemplo, o resultado do plano terapêu-tico pode ser prejudicado. Aí vão algumas dicas para lidar com a ce-faleia tipo tensão: utilizar o analgésico adequado conforme prescrição médica; praticar atividade física regular (durante a crise de cefaleia tipo tensão, pode aliviar a dor e faz parte do tratamento profilático da enxa-queca); praticar meditação regularmente.

A higiene do sono e hábitos saudáveis podem nos auxiliar na qua-lidade de vida pensando em diminuir a frequência de enxaqueca?

Não só podem auxiliar como fazem parte do tratamento profilático das dores de cabeça. Sabe-se que tanto dormir demais como dormir de menos podem ser gatilhos para crise de enxaqueca. Também se sabe que comer saudável, evitando longos períodos em jejum e evitando ali-mentos ultra processados pode diminuir as chances de ter crises. Não posso deixar de salientar a atividade física regular (150min/semana) com um hábito saudável que faz diferença no tratamento da enxaqueca,

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além de prevenir muitas outras doenças como demências e AVC.

Os quadros depressivos e ansiosos aumentam a frequência de crises e a intensidade da dor na cefaleia. Além do tratamento psi-cológico para os sintomas, quais são as indicações de hábitos e rotinas para pacientes com a cefaleia com esses sintomas de an-siedade e depressão?

É importante que os pacientes organizem a sua semana de modo a ter um tempo, além do trabalho, para o descanso e o lazer. Cuidar de si tam-bém é se permitir ler um livro que goste, cultivar uma horta ou apreciar uma boa música. Seja lá qual atividade lhe dá prazer, permita-se! É co-mum que pacientes com ansiedade e depressão tenham alteração no padrão de sono. Para melhorar, além de seguir os passos de higiene do sono, bem conhecidos como um dos melhores tratamentos para insô-nia, sugiro a procura por acompanhamento de um profissional que ava-lie a necessidade de usar alguma medicação.

No tratamento da dor crônica, tem-se uma piora na qualidade de vida e no funcionamento nas atividades diárias. Neste sentido, a cognição também sofre algum tipo de impacto com a cefaleia/en-xaqueca?

Assim como os sintomas de depressão e ansiedade, a dor crônica tam-bém é documentada como fator agravante de alterações cognitivas. Quem sofre com um incômodo constante tem dificuldade de concen-tração e atenção, o que está intimamente relacionado ao processo de armazenamento da memória.

Quais são as principais queixas cognitivas e emocionais relatadas pelos pacientes?

É comum que os pacientes com cefaleia crônica tenham outra comor-bidade associada. As principais queixas estão relacionadas com difi-culdade de concentração e atenção. Durante as crises de enxaqueca, muitos pacientes ficam incapacitados para realizar suas atividades e precisam parar qualquer coisa que estiverem fazendo, tamanha a inten-sidade da dor. Como os episódios são imprevisíveis, medo e inseguran-ça também podem abalar emocionalmente os pacientes.

O que se sabe de pacientes com cefaleia (crônica ou não) em re-lação ao desempenho cognitivo? Existe algum estudo que relata piora no desempenho cognitivo e funcional nesta população com cefaleia?

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Sabe-se que a enxaqueca se caracteriza como uma doença que tem pródromos e pós dromos bem caracterizados. A fase que antecede a dor já pode apresentar sintomas prejuízo cognitivo, dificuldade de fala (encontrar palavras durante o discurso) e de leitura. Um estudo pros-pectivo transversal avaliou pacientes através de um questionário aberto e revelou que cerca de 89% dos pacientes com enxaqueca sem aura afirmaram ter, durante a fase de dor, sintomas cognitivos e mudanças de humor. Essa frequência é semelhante a náusea e fotofobia, que fa-zem parte do diagnóstico de enxaqueca! Dos sintomas cognitivos, os que são mais relatados se referem à disfunção atencional ou executiva, prejuízo de concentração e dificuldade de raciocínio. Apesar de se sa-ber que, em estudos envolvendo neuroimagem durante todas as fases da crise de enxaqueca, foi demonstrada uma ativação consistente das regiões corticais posteriores, que atendem às funções visuoespaciais, os pacientes não costumam queixar disso.

Referências

Martins, I. P., Gil-Gouveia, R., Silva, C., Maruta, C., & Oliveira, A. G. (2012). Mi-graine, headaches, and cognition. Headache, 52(10), 1471–1482. https://doi. org/10.1111/j.1526-4610.2012.02218.x

Niikawa, H., Okamura, T., Ito, K., Ura, C., Miyamae, F., Sakuma, N., … Awata, S. (2017). Association between polypharmacy and cognitive impairment in an el-derly Japanese population residing in an urban community. Geriatrics and Ge-rontology International, 17(9), 1286–1293. https://doi.org/10.1111/ggi.12862 Sharif, S., Saleem, A., Koumadoraki, E., Jarvis, S., Madouros, N., & Khan, S. (2021). Headache - A Window to Dementia: An Unexpected Twist. Cureus, 13(2). https://doi.org/10.7759/cureus.13398

Silva, M., & Teixeira, A. (2008). Neuropsicologia das cefaléias. Migrâneas Ce-faléias, 11(2), 114-117.

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HANDS ON

Já pensou na possibilidade de preparar cuidador e familiares para o se-guimento de doenças crônicas? Sim, essa é uma atribuição que o neu-ropsicólogo pode assumir e que faz toda diferença na qualidade de vida da família do paciente. Com apoio da Avaliação Neuropsicológica, tanto no pré, quanto no pós cirúrgico, desenvolver cuidados para os acometi-dos por Doença de Parkinson é uma forma de evitar o adoecimento psí-quico em paralelo ao curso da doença crônica. É sobre isso que conver-saremos no Hands On deste mês, associe-se a SBNp e venha conferir.

Érika Pelegrino

A Necessidade de Avaliação

neuropsicológica para

acompanhamento do paciente

com Parkinson

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Referências

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