• Nenhum resultado encontrado

ERLIQUIOSE MONOCÍTICA CANINA : RELATO DE CASO

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "ERLIQUIOSE MONOCÍTICA CANINA : RELATO DE CASO"

Copied!
11
0
0

Texto

(1)

1

ERLIQUIOSE MONOCÍTICA CANINA : RELATO DE CASO

[Canine monocytic ehrlichiosis

– case report]

Cassio Mirair Muniz DOS REIS

1

Luciana Campos PINTO

2

RESUMO

A erliquiose monocítica canina é um doença infecto-contagiosa de alta incidência na rotina clínica veterinária, causando sérios prejuízos à saúde animal. Os sinais clínicos da afecção compreendem apatia, hiporexia, perda de peso e anemia. O diagnóstico rápido é necessário para que o tratamento seja implementado o quanto antes, sendo o cloridrato de doxiciclina a droga mais preconizada para essa afecção. É necessário que se faça uma boa prevenção, a fim de evitar a doença, principalmente no que diz respeito ao controle de carrapatos, uma vez que este é seu vetor. Este trabalho tem por objetivo relatar um caso de erliquiose mocítica canina, discorrendo sobre suas particularidades, como ferramenta de ajuda aos médicos veterinários para maior conhecimento dessa enfermidade.

Palavras-chave: Ehrlichia canis; Hemoparasitose; diagnóstico; tratamento

ABSTRACT

The canine monocytic ehrlichiosis is an infectious disease of high incidence in clinical routine, causing serious damage to animal health. The clinical signs of the disease include apathy, hyporexia, weight loss and anemia. Early diagnosis is needed for the treatment to be implemented as soon as possible, doxycycline hydrochloride being most recommended drug for this disease. It is necessary to make a good prevention, to avoid the disease, especially with regard to the control of ticks, since this is its vector. This study aims to report a case of canine monocytic ehrlichiosis, discussing its particularities, such as help tool for veterinarians to better understanding of this disease.

Keywords: Ehrlichia canis; Hemoparasitosis; diagnosis; treatment.

1

Médico Veterinário Autônomo

2 Docente do curso de Medicina Veterinária – Centro Universitário do Norte Paulista – UNORP *Autor para correspondência. lucpvet@gmail.com

(2)

2

INTRODUÇÃO

A erliquiose monocítica canina é uma enfermidade causada pela bactéria

Ehrlichia canis, de ampla ocorrência no

Brasil, principalmente em áreas urbanas, devido à alta prevalência do seu vetor, o carrapato da espécie Rhipicephalus sanguineus (AGUIAR et al., 2007; LABARTHE et al, 2003).

A E. canis parasita células sanguíneas mononucleares, causando, também, alteração da membrana celular de plaquetas e eritrócitos, acarretando alterações hematológicas importantes (SAITO, 2009).

A doença pode ter evolução aguda, subclínica e crônica, com a possibilidade de ser fatal para os animais infectados (LUDWING, 1988; QUINN et AL, 2005). O gênero Ehrlichia, pertencente à família das Rickettsiaceae, é constituído por bactérias intracelulares obrigatórias dos leucócitos (monócitos e polimorfonucleares) ou trombócitos (DUMLER et al, 2001).

A Ehrlichia canis é parasita primário de artrópodes, sendo os vertebrados seus hospedeiros secundários. Acomete todas as raças de cães e em todas as idades, apesar de serem os filhotes os mais severamente por ela acometidos (CORRÊA & CORRÊA, 1992).

É um microrganismo pequeno, pleiomórfico, que se localiza nas células reticuloendoteliais do fígado, baço e nódulos linfáticos, replicando-se na membrana citoplasmática dos leucócitos circulantes do hospedeiro por difusão binária, no interior dos monócitos, linfócitos e raramente neutrófilos. A princípio são observados corpúsculos elementares iniciais, que depois se multiplicam por divisão binária formando uma inclusão. Estes corpos moruliformes, que recebem o nome de mórula, se

dissociam em novos corpúsculos elementares, deixando as células brancas por exocitose ou rompimento das mesmas, indo parasitar novas células (CORRÊA & CORRÊA, 1992).

A infecção no cão ocorre quando o carrapato, R. sanguineus, ao realizar o repasto sanguíneo, inocula, junto com a saliva, a E. canis. A infecção também pode ser introduzida em cães suscetíveis, por transfusão sanguínea (TILLEY; SMITH, 2008). No momento da transmissão da Ehrlichia o carrapato poderá transmitir outros agentes tais como

Babesia, Hepatozoon e Hemobartonella canis (KLAG et al., 1991).

Após o período de incubação da enfermidade de oito a vinte dias, o agente intracelular obrigatório se replica no interior das células sanguíneas mononucleares e nos órgãos do sistema monocitico-fagocitário, fígado, baço e linfonodos (CORREA, CORREA, 1992, GREGORY, FORRESTER, 1990).

Além de infectar monócitos e linfócitos a

Ehrlichia canis causa alteração da membrana celular das plaquetas, eritrócitos e leucócitos levando a uma hiperestimulação antigênica contra essas células, pela alteração do sistema complemento e formação de complexo autoimune, desencadeando lise e fagocitose das células infectadas (GREGORY; FORRESTER, 1990; NEER, 1999.).

No Brasil, a Ehrlichia canis é de ampla ocorrência, principalmente em áreas urbanas, devido à alta prevalência do

Rhipicephalus sanguineus (AGUIAR et al.,

2007). Em Belo Horizonte, Costa et al. (1973) relataram pela primeira vez a doença no Brasil. Posteriormente, foi relatada acometendo aproximadamente 20% dos cães atendidos em hospitais e

(3)

3

clínicas veterinárias de estados das regiões Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste (LABARTHE et al., 2003).

A maior prevalência observada é na região Nordeste (43%) e a menor na região Sul do país (1,70%). A incidência da doença é mais comum nos meses mais quentes quando há um maior desenvolvimento do carrapato, podendo ser diagnosticada todo o ano, além disso, não existe uma predileção etária para a

Ehrlichia canis (LABARTHE et al., 2003).

Fatores epidemiológicos relacionados as condições climáticas, distribuição do vetor, população sob estudo, comportamento animal e habitat, assim como a metodologia empregada na investigação do agente podem afetar os níveis de prevalência da Ehrlichia canis no Brasil (DAGNONE et al., 2001).

Técnicas baseadas na detecção de anticorpos podem indicar uma infecção previa ou atual e, ainda, apresentar reatividade cruzada com outros organismos (WANER et al., 2001). As técnicas moleculares, como PCR, identificam sequências genômicas especificas do agente e tendem a ser mais sensíveis e especificas (MAGGI et al., 2006).

Moreira et al. (2003), em um estudo retrospectivo da casuística clínica de

Ehrlichia canis atendidos entre março de

1998 e setembro de 2001 na cidade de Belo Horizonte, analisaram 194 fichas clinicas de animais com suspeita de hemoparitoses, destes, 15,9% (31) cães apresentaram E. canis no exame parasitológico direto de esfregaço sanguíneos.

Uma pesquisa realizada em uma área rural do estado de São Paulo indicou uma prevalência de 45,2% do agente da

Ehrlichia, utilizando o método de PCR

(MACIEIRA et al., 2005). Na cidade de

São Paulo, 68% dos cães, alguns com sintomas sugestivos de Ehrlichia canis, atendidos no Hospital Veterinário da faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, apresentaram títulos compatíveis com a presença de anticorpos para E. canis (AGUIAR et al., 2007).

A soro-prevalência da Ehrlichia canis, investigada em três regiões rurais distintas do estado de Minas Gerais, demonstrou a presença de anticorpos para a bactéria em 65,5% dos cães em Nanuque, 37,8% em Belo Horizonte e 24,7% em Lavras (COSTA et al., 2007).

O vetor de maior importância na transmissão da enfermidade é o carrapato, mais especificamente, o

Rhipicephalus sanguineus (COUTO, 1998). Esta espécie é de grande importância por ser cosmopolita, tendo como hospedeiro principal o cão. Pode também ser vetorizada por mosquitos e pulgas e por transfusão de sangue contaminado com o microrganismo (CORRÊA; CORRÊA, 1992).

O cão é infectante apenas na fase aguda da doença, quando existe uma quantidade importante de hemoparasitas no sangue. O carrapato poderá permanecer infectante por um período de aproximadamente um ano, visto que a infecção poderá ocorrer em qualquer estado do ciclo (WOODY et al., 1991).

A infecção por Ehrlichia canis pode ser classificada em três fases: aguda, subclínica e crônica (TILLEY; SMITH, 2008).

Na fase aguda, ocorre vasculite decorrente da migração de células mononucleares infectadas para pequenos vasos, com sinais clínicos de moderados a severos, caracterizados por febre, apatia, perda de peso, linfadenopatia. Nessa fase evidencia-se a presença de

(4)

4

carrapatos (NELSON; COUTO, 2001) e consegue-se identificar mórulas do parasita em leucócitos nos esfregaços sanguíneos (FELDMAN, 2000; ORIÁ, 2001; NAKAGHI et al., 2008). No hemograma, observa-se frequentemente, uma trombocitopenia entre dez a vinte dias após a infecção, em consequência da destruição imunológica periférica das plaquetas. Em alguns casos, há também leucopenia, progredindo para leucocitose, além de anemia normocítica normocrômica regenerativa (COUTO, 1998; ANDEREG; PASSOS, 1999). Os exames bioquímicos mostram uma hiperbilirrubinemia, principalmente por betaglobulinemia, assim como um aumento das enzimas alaninaminotransferase, fosfatase alcalina e das bilirrubinas, indicando comprometimento hepático (ANDEREG; PASSOS, 1999).

A fase subclínica ocorre em seis a nove semanas, podendo persistir por até cinco anos em cães naturalmente infectados, com sinais clínicos mínimos e valores de células sanguíneas ainda baixos. É nesta fase que se observa alta concentração de anticorpos para Ehrlichia canis no sangue dos cães infectados (JAIN, 1997; MENDONÇA et al., 2005).

Apesar de alguns cães imunocompetentes conseguirem eliminar o microrganismo durante a fase subclínica, às vezes a bactéria persiste de forma intracelular, resultando na fase crônica da infecção, sua forma mais severa, com hemorragias, distúrbios neurológicos, edema periférico, emagrecimento, aumento de volume das articulações, hepato e esplenomegalia (NELSON; COUTO, 2001; QUINN et AL, 2005).

O diagnóstico da erliquiose monocítica canina pode ser realizado pela detecção das mórulas nos leucócitos parasitados nos esfregaços sanguíneos (MACHADO,

2004; MOREIRA et al., 2005; NAKAGHI et al., 2008), por testes de biologia molecular, como a reação em cadeia da polimerase (PCR) (CASTRO et al., 2004; ALVES et al., 2005; NAKAGHI et al., 2008) e ainda outros testes como os de sorologia do tipo ELISA ou imunofluorescência indireta (IFI) de anticorpos (RISTIC et al., 1972; ORIÁ, 2001; CASTRO et al., 2004; NAKAGHI et al., 2008).

A detecção de mórulas da Ehrlichia canis em células mononucleares de esfregaços sanguíneos é achado circunstancial, dada sua infrequência (JAIN, 1997; ORIÁ, 2001). Na rotina clínica, os médicos veterinários levam em consideração o valor da contagem de plaquetas, pois um dos principais sinais da Ehrlichia canis é a trombocitopenia (JAIN, 1997; CASTRO, 1997; MENDONÇA et al., 2005). Hoje, existem no mercado, diversos “kits” sorológicos utilizados na detecção da

Ehrlichia canis, como, por exemplo, o “kit”

Immunocomb, baseado na técnica de “Dotblot-ELISA”, que é capaz de determinar anticorpos da classe IgG específicos para o agente infectante (CASTRO, 1997; MACHADO, 2004; NAKAGHI et al., 2008).

De acordo com resultados encontrados por Aguiar et al. (2007) e Nakaghi et al. (2008) é reforçada a possibilidade do uso de testes sorológicos como auxiliares no diagnóstico da erliquiose monocítica canina, desde que aliados ao histórico e ao exame clínico do cão.

Várias drogas efetivas estão disponíveis atualmente, como tetraciclina, cloridrato de doxiciclina, minociclina, oxitetraciclina, dipropionato de imidocarb e cloranfenicol. Mas, para o tratamento da doença, em qualquer fase, a droga de eleição é o cloridrato de doxiciclina (TILLEY; SMITH, 2003). Essa droga é lipossolúvel e alcança uma elevada concentração

(5)

5

sanguínea e tecidual, penetrando rapidamente na maioria das células. Além disso, quando utilizada por via oral, a doxiciclina resulta em menor taxa de recidiva em comparação as outras tetraciclinas. Como sua eliminação se dá por via fecal, em pacientes com

insuficiência renal as concentrações da doxiciclina não tendem a aumentar no sangue, sendo, portanto, ideal para tratar infecções suscetíveis quando a insuficiência renal for um fator complicante (ALMOSNY, 2002; ADAMS, 2003).

O diproprionato de imidocarb pode ser considerado eficaz no tratamento da erliquiose, principalmente em casos de co-infecção por Babesia spp. Entretanto, a terapia de suporte pode ser necessária em casos de anemia grave ou de comprometimento de outros órgãos (HARRUS et al., 1997).

Devido aos eventos imunomediados, é recomendável a utilização de doses antiinflamatórias ou imunossupressoras de glicocorticóides, como a prednisona, nos casos agudos (NELSON; COUTO, 2001).

A recomendação em literatura é de que o tratamento seja realizado por, no mínimo, 10 dias, podendo chegar até oito semanas, dependendo da evolução clínica do quadro (NELSON; COUTO, 2001; QUINN, 2005).

É necessário que se faça uma boa prevenção, para se evitar a doença, principalmente no que diz respeito ao controle dos carrapatos, uma vez que este é o vetor do agente etiológico (CASTRO, 1997).

O prognóstico dependerá de qual fase da doença o animai se encontra. Na fase aguda o prognóstico é excelente com terapia apropriada (TILLEY; SMITH, 2008). Já na fase subclínica, o prognóstico é de favorável a reservado, pois os cães estão assintomáticos ou com risco de desenvolverem a fase crônica. O prognóstico da fase crônica é ruim se a medula óssea ficar gravemente hipoplásica, e em casos de hemorragia fatal (ANDEREG; PASSOS, 1999; TILLEY; SMITH, 2008).

O objetivo deste trabalho é relatar um caso de erliquiose monocítica canina, discorrendo sobre as particularidades da doença quanto a etiologia, epidemiologia, sinais clínicos, diagnóstico e tratamento.

RELATO DE CASO

Um paciente da espécie canina, raça Husky Siberiano, macho, com 9 anos de idade e pesando 17kg, deu entrada na clínica veterinária devido a queixa do proprietário de que o animal apresentava apatia e emagrecimento, com epistaxe bilateral, bem como hiporexia, sem saber precisar o tempo de evolução do quadro. O dono relatou, ainda, presença de carrapatos no animal, manejo nutricional à base de ração seca, ausência de contactantes, vacinação atualizada (polivalente canina e antirrábica) e vermifugação regular a cada quatro meses.

Ao exame físico constataram-se freqüências cardíaca e respiratória de 90 bpm e 28 mpm, respectivamente, temperatura de 37,8°C, desidratação 5%, pulso normocinético, linfonodos inalterados, mucosas hipocoradas e epistaxe bilateral. O paciente apresentava apatia, escore corporal abaixo do peso e infestação por carrapatos Rhipicephalus

sanguineus.

Foram solicitados exames complementares, cujos resultados estão descritos na figura 1.

(6)

6 Eritrograma Resultados Valores de referencia

Eritrócitos 4,0 milhões/µl 5,5 a 8,5/µl Hemoglobina 8,6 g/dl 12 a 18 g/dl Hematócrito 25,0 % 37 a 55%

VCM* 62,5 fL 60 a 77fL

CHCM** 34,4 % 32 a 36%

Proteína plasmática total 8,0 g/dl 6,0 a 8,0 g/dl Morfologia e observação Discreta anisocitose e

policromasia Leucograma

Leucócitos 4.400/µl 6.000 -17.000/µl

Relativo (%) Absoluto (/µl) Relativo Absoluto (/µl)

Mielócitos 0,0 0 0 0 Metamielócitos 0,0 0 0 0 Bastonetes 0,0 0 0 - 3 % 0 - 300 Segmentados 68 2.992 60-77% 3.000 – 11.500 Eosinófilos 8 352 2-10% 0 – 1.250 Basófilos 0,0 0 Raros 0 - 100 Linfócitos 16,5 704 12 - 30% 1.000 - 4.800 Monócitos 8,0 352 3 -10% 150-1.350 Trombograma Plaquetas 15.000/µl 200.000 a 500.000/µl Morfologia Observações

Morfologia celular Normal Pesquisa de Hematozoários

Não foram observados

Figura 1- Valores hematimétricos do paciente obtidos através de hemograma realizado no dia da primeira consulta.

*VCM: Volume corpuscular médio

**CHCM: Concentração de hemoglobina corpuscular média

O hemograma revelou anemia do tipo normocítica e normocrômica, leucopenia e trombocitopenia (pancitopenia), que, aliado ao quadro clínico do animal e a presença de carrapatos, sugeriu um quadro de erliquiose monocítica canina. Por questão de foro íntimo o proprietário optou por não realizar exame confirmatório, sendo então instituída terapêutica de acordo com a suspeita clínica.

Foi prescrito cloridrato de doxiciclina (5,0 mg/kg, a cada 12 horas, por via oral, durante 21 dias), prednisona (1,0 mg/kg, a cada 24 horas, por via oral, durante 10 dias) e suplemento vitamínico Hemolitan

pet® (20 gotas a cada 24 horas, durante 15 dias). Para controle dos carrapatos, coleira à base de flumetrina e aplicação semanal, durante 30 dias, de solução a base de amitraz 0,04% nas paredes do local onde o animal permanecia.

Após 15 dias de tratamento o animal retornou para acompanhamento do caso. Seu proprietário, então, relatou que o cão estava com comportamento mais próximo ao normal, bem como o apetite havia retornado. Ao exame físico constatou-se ausência da epistaxe e melhora no escore corporal do animal. Nesse dia foi realizado novo hemograma, cujos valores obtidos estão descritos na figura 2.

(7)

7 Eritrograma Resultados Valores de referencia

Eritrócitos 4,60 milhões/µl 5,5 a 8,5 milhões/µl Hemoglobina 9,6 g/dl 12 a 18 g/dl Hematócrito 29,0 % 37 a 55 %

VCM* 63,5 fL 60 a 77 fL

CHCM** 33,4 % 32 a 36%

Proteína plasmática total 8,2 g/dl 6.0 a 8.0 g/dl Morfologia e observação Discreta anisocitose e policromasia

Leucograma

Leucócitos 5.700/ µl 6.000 -17000/µl

Relativo (%) Absoluto (µl) Relativo (%) Absoluto (µl) Mielócitos 0,0 0 0 0 Metamielócitos 0,0 0 0 0 Bastonetes 0,0 0 0 - 3 0 - 300 Segmentados 71,0 2.992 60 – 77 3.000 - 11.500 Eosinófilos 13,0 352 2 -10 0 – 1.250 Basófilos 00 0 Raros 0 - 100 Linfócitos 10,5 570 12 - 30 1.000 - 4.800 Trombograma Plaquetas 50.000/µl 200.00 a 500.00/µl

Figura 2- Valores hematimétricos do paciente obtidos através de hemograma após 15 dias de tratamento. *VCM: Volume corpuscular médio **CHCM: Concentração de hemoglobina corpuscular média

Como ainda apresentava pancitopenia, o tratamento com o cloridrato de doxiciclina e o Hemolitan Pet® foi prorrogado por mais 15 dias, nas mesmas dosagens anteriormente prescritas. Um novo retorno foi indicado com 30 dias de tratamento, estando o animal com o comportamento e apetite normais, segundo informações do proprietário, e sem alterações ao exame físico. Foi, então, realizado um novo hemograma de controle, cujos resultados estão descritos na Figura 3.

A partir das informações obtidas do proprietário e do exame físico, e da normalização dos valores hematimétricos ao hemograma, optou-se pela alta do paciente.

DISCUSSÃO

Os sinais clínicos de apatia, perda de peso e hiporexia apresentados pelo animal são compatíveis com os descritos

por Nelson e Couto (2001), Couto (1998) e Quin (2005) para os casos de erliquiose monocítica canina na fase aguda. Porém, segundo os mesmos autores, a epistaxe sugere que o quadro estaria evoluindo para cronicidade.

Ao contrário do preconizado por Nelson e Couto (2001), que indicam a febre como um dos sinais clínicos da erliquiose monocítica canina aguda, o animal apresentou hipotermia.

A pancitopenia observada está de acordo com as afirmações de Couto (1998) e Andereg e Passos (1999) para animais infectados por E. canis.

O paciente foi tratado com cloridrato de doxiciclina que é o fármaco mais indicado pelos autores (ANDEREG; PASSOS, 1999; TILLEY; SMITH, 2008), sendo que o uso da prednisona e o tempo de tratamento realizado vão de encontro ao preconizado por Nelson e Couto (2001) e Quinn (2005).

(8)

8 Eritrograma Resultados Valores de referencia

Eritrócitos 5,50 milhões/µl 5.5 a 8.5/µl Hemoglobina 12,0 g/dl 12 a 18 g/dl Hematócrito 34,0 % 37 a 55%

VCM 63,0 fL 60 a 77 f/l

CHCM 32,4 % 32 a 36%

Proteína plasmática total 8,0 g/dl 6,0 a 8,0 g/dl Morfologia e observação Morfologia celular normal

Leucograma Resultados Valores de referencia

Leucócitos 10.000/µl 6.000 -17.000/µl

Relativo (%) absoluto (/µl) Relativo (%) Absoluto (/µl) Mielócitos 0,0 0 0 0 Metamielócitos 0,0 0 0 0 Bastonetes 0,0 0 0.3 % 0 - 300 Segmentados 82,0 8.200 60-77% 3.000 – 11.500 Eosinófilos 6,0 600 2-10% 0 – 1.250 Basófilos 0,0 0 Raros 0 - 100 Linfócitos 12 1.200 12 - 30% 1.000 - 4.800 Trombograma Resultados Valores de referencia Plaquetas 280.000 200.00 a 500.00

Figura 3 - Valores hematimétricos do paciente, obtidos através de hemograma após 30 dias de tratamento.

O controle de carrapatos prescrito está de acordo com a orientação de Castro (1997) para evitar a reinfecção pelo hemoparasita.

Apesar de Harrus et al. (1997) preconizarem o uso do diproprionato de imidocarb nos casos de erliquiose monocítica canina, para possíveis co-infecções por Babesia, o fármaco não foi administrado nesse paciente.

O quadro evoluiu de acordo com Tilley e Smith (2008), que descrevem um prognóstico favorável nas infecções por E.

canis tratadas apropriadamente na fase

aguda.

CONCLUSÃO

Para um prognóstico favorável dos casos de erliquiose monocítica canina é crucial a introdução de tratamento efetivo, o acompanhamento da evolução clínica e dos valores hematimétricos do paciente acometido.

O sucesso do diagnóstico terapêutico instituído no caso relatado foi devido à inexistência de co-infecções por outros hemoparasitas.

Nos casos de suspeita de hemoparasitose, com ausência de exames confirmatórios do(s) agente(s) etiológico(s) envolvido(s), a associação de fármacos deve ser instituída, pois o tempo

(9)

9

para início de terapêutica efetiva é inversamente proporcional ao sucesso do tratamento.

O combate aos carrapatos deve fazer parte do tratamento e controle da erliquiose monocítica canina.

REFERÊNCIAS

ADAMS, H. R. Farmacologia e terapêutica em veterinária. 8. ed. Rio de

Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.

AGUIAR, D.M.; SAITO, T.B.; HAGIWARA, M.K.; MACHADO, R.Z; LABRUNA, M.B. Diagnóstico sorológico de erliquiose canina com antígeno de Ehrlichia canis.

Ciência Rural. v.37, n.3, p. 796-802,

2007.

ALMOSNY, N. R. P. Hemoparasitoses

em pequenos animais domésticos e como zoonoses. Rio de Janeiro: NDL. F.

Livros, 2002.

ALVES, L.M.; LINHARES, G.F.C.; CHAVES, N.S.T; MONTEIRO, L.C.; LINHARES, D.C.L. Avaliação de Iniciadores e protocolo para o diagnóstico da pancitopenia tropical caninapor PCR.

Ciência Animal Brasileira. v.6, n.1,

p.49-54, 2005.

ANDEREG, P.; PASSOS, L. Erliquiose canina: revisão. Revista Clínica Veterinária. São Paulo, n.19, p.31-38,

1999.

CASTRO, M.B. Avaliação das alterações

hematológicas, imunológicas e anatomopatológicas na infecção aguda experimental de cães, por Ehrlichia canis. 2004. 75 f. Tese. (Doutorado em

Medicina Veterinária – Área de concentração Patologia Animal) – Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, 2004.

CASTRO, M.B.; MACHADO, R.Z.; AQUINO, L.P.C.T.; ALESSI, A.C.; COSTA, M.T. Experimental acute canine monocytic ehrlichiosis: clinicopathological and immunopathological findings.

Veterinary Parasitology. Amsterdam,

2004

CORRÊA, W.M.; CORRÊA, C.N.M.

Enfermidades infecciosas dos mamíferos domésticos. 2ed. Rio de

Janeiro, 1992, cap. 48,p.477-483

COSTA, J.O. et al. Ehrlichia canis

infections in dog in Belo Horizonte – Brazil Arq. Esc. Vet. UFMG. v.25, n.2,

p.199-200, 1973.

COSTA, L.M.; REMBECK, K;RIBEIRO, M.F.B.;BEELITZ, P.;NPFISTER, K.; PASSOS, L.M.F.Sero prevalence and risk indicators for canine ehrlichiosis im three rural areas of Brazil. The Veterinary

Journal, v. 174, p. 673-676, 2007.

COUTO, C.G. Doenças Rickettsiais In: BIRCHAD, SHERDING, Manual Saunders: Clínica de pequenos animais.

São Paulo: Roca, p.139-142, 1998.

DAGNONE, A. S.; MORAIS, H. S. A.; VIDOTTO, O. Erliquiose nos animais e

no homem. Semina: Ci. Agrárias, Londrina, v. 22, n.2, p. 191-201, jul./dez. 2001

DUMLER, J.S. et al. Reorganization of genera in the families Rickettsiaceae and Anaplasmataceae in the order Rickettsiales: unification of some species of Ehrlichia with Anaplasma, Cowdria with Ehrlichia and Ehrlichia with Neorickettsia, descriptions of six new species combinations and designation of

Ehrlichia equi and HGE agent as

subjective synonyms of Ehrlichia

phagocytophila. Int J Syst Evol

Microbiol, v.51, p.2145-2165, 2001.

FELDMAN, B.F., ZINKL, J.G, JAIN, N.C.

(10)

10

Lippincott Williams & Wilkins: Philadelphia, 2000.

GREGORY, C; FORRESTER, S..O.

Ehrichiacanis, E. equi, E. risticci infections. In: GREENE, C.E. Infectious diseases ofthe dog and cat. Philadelphia: W.B.

Saunders: 404-14, 1990

HARRUS, S. et al. Canine monocytic ehrlichiosis: a retrospective study of 100 cases, and an epidemiological investigation of prognostic indicators for the disease. Veterinary Record, v. 141, p. 360-363, 1997.

JAIN, V.K.; GUPTA, S.L. – Successful treatment of canine ehrlichiosis with doxycycline – A case report.. Indian Vet.

J., 74: 252-3, March, 1997.

KLAG, A.R.; DUNBAR, L.E.;GIRARD, C.A. Concurrent erlichiosis and babesiosis in a dog.Can. Vet. Volume 32: 305-7, 1991. LABARTHE, N. et al. Serologic prevalence of Dirofilaria immintis, Ehrlichia canis and Borrelia burgdorferi infection in Brazil. Vet

Ther, v.4, p.67-75, 2003.

LUDWING C.S. Doenças produzidas por Rickettsias. In: BEER, J. Doenças

infecciosas em animais domésticos.

1.ed. São Paulo: Roca, 1988, p.410 - 420. MACHADO, R. Z. Ehrlichiose canina.

Revista brasileira de parasitologia veterinária, v13, p 53-57, 2004.

MACIEIRA, D. B. et al. Prevalence of Ehrlichia canis infection in thrombocytopenic dogs from Rio de Janeiro, Brazil. Veterinary Clinical Pathology, v. 34, n. 1, p. 44-8, 2005.

MAGGI, R. G.; DINIZ, P. P.; BREITSCHWERDT, E. B. The use of

molecular diagnostic techniques to detect Anaplasma, bartonella and Ehrlichia species in arthropods patients. International CVBD Symposium.

P. 8-14, UK, April, 18 to 20, 2006.

MENDONÇA, C.S.; MUNDIM, A.V.; COSTA, A.S.; MORO, T.V. Erliquiose Canina: Alterações hematológicas em

cães domésticos naturalmente infectados. Bioscience Journal. v.21,

n.1, p.167-174, 2005.

MOREIRA, S.M. et al. Retrospective study (1998-2001) on canine ehrlichiosis in Belo Horizonte, MG, Brazil. Arquivo Brasileiro

de Veterinária e Zootecnia. v.55,

p.141-147, 2003.

MOREIRA, S.M. et al. Detection of Ehrlichia canis in bone marrow aspirates of experimentally infected dogs. Ciência

Rural. v.35, n.4, p.958-960, 2005.

NAKAGHI, A. et al. Canine ehrlichiosis: clinical, hematological, serological and molecular aspects. Ciência Rural, v. 38, n. 3, p. 766-770, 2008.

NEER, T.M. et al. Efficacy of enrofloxacin for the treatment of experimentally induced Ehrlichia canis infection. Journal of

Veterinary Internal Medicine, v.13, p.501-504, 1999.

NELSON, R.W.; COUTO, C.G. Medicina

interna de pequenos animais. 2ed. Rio

de Janerio: Guanabara Koogan, 2001, p.1008-1009

ORIÁ, A.P. Correlação entre uveítes,

achados de patologia clínica, sorológicos (Reação de Imunofluorescência indireta e Dot-blot ELISA) e de anatomopatologia do bulbo do olho, em animais da espécie canina, natural e experimentalmente infectados pela Ehrlichia canis. 2001. 89f. Dissertação (Mestrado em Cirurgia Veterinária) – Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, 2001. RISTIC, M. et al. Serological diagnosis of tropical canine pancytopenia by indirect immunofluorescence. Infect Immun. n.6, p.226-231, 1972.

(11)

11

QUINN, P. J.; MARKEY, B. K.; CARTER, M. E.; DONNELLY, W. J. C.; LEONARD, F. C. Microbiologia veterinária e

doenças infecciosas. Porto Alegre: Artmed, 2005.

SAITO, T. B. Estudo da erliquiose em

cães expostos a carrapatos

Rhipicephalus sanguineus

experimentalmente infectados. 2009.

127 f. Dissertação (Doutorado) - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.

TILLEY, L. P.; SMITH, F. W. K. Consulta

veterinária em 5 minutos: espécies canina e felina. 3. ed. Barueri: São Paulo,

2008. 1550 p.

WANER, T; HARRUS, S; JONGEAN, F.; BARK, H,; KEYSARY, A.; CORNELISSEN, A. W. Significance of serological testing for ehrlichial diseases in dogs with special emphasis on diagnosis of caninemonocytic ehrlichiosis cused by

Ehrlichia canis. Veterinary parasitology,

v.95, n 1, p 1-15, 2001.

WOODY, B.J.; HOSKINS, J.D. Ehrlichial diseases of the dog.Veterinary Clinical

North America: Small animal practice,21 (1): 45-98, 1991.

Referências

Documentos relacionados

Vimos que o ponto de inflex˜ ao n˜ao se altera, e continua sendo determin´ıstico, quando a condi¸cao inicial ´e fuzzy enquanto que, ao considerarmos que o parˆ ametro de alometria

Plasticity and Permeability in Carbonates: Dependence on Stress Path and Porosity. An Experimental Study for Mechanical Formation

O presente estudo tem como objetivo analisar a necessidade, viabilidade e melhor solução para contratação dos serviços para execução dos eventos para o Instituto Federal de

Foram utilizados 70 ratos Wistar, machos, pesando entre 180 a 210 g, divididos em quatro grupos experimentais com 15 animais cada grupo (VASP – veia ao avesso sem preenchimento;

A FACULDADE METROPOLITANA DA AMAZÔNIA, por intermédio do Núcleo Gestor de Pesquisa e Extensão – NUPEX torna pública a homologação das inscrições de candidatos a

A aceitação do presente regulamento implica, obrigatoriamente, que o participante autoriza aos organizadores da prova a gravação total ou parcial da sua participação na

Área de Saúde e Segurança Corporativa Comitê de Segurança Comitê de Segurança Comitê de Segurança Comitê de Segurança Gerência de Saúde e Segurança Local Gerência

Negociação por sessão mais recente e de menor tamanho: nesta política a sessão escolhida para ser descartada é aquela que além de estar ativa a menos tempo no sistema, enviou