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Uma brasa acesa de amor e morte

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Academic year: 2021

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Texto

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Uma brasa acesa

de amor e morte

Bárbara Lia

selo gueto editorial

poesia anárquica, micronarrativas, fragmentos e afins colcha de retalhos manuscritos descarregada na rede

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Selo Gueto Editorial

Edição e projeto gráfico

Jerome Knoxville Edição e revisão Amanda Sorrentino Contatos https://revistagueto.com https://twitter.com/revistagueto https://www.facebook.com/revistagueto | editorgueto@gmail.com | Licença Creative Commons

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livro quatro

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Silêncio: esta inominável arma de guerra e coragem de apagar-se como estrela

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# b re v e s 4 | B á rb a ra L ia

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Não suporto o ruído dourado do sol A arrastar seu manto sobre os tristes Grão a grão toda beleza é triturada O tempo agora é liquido — lacrimado

rb a ra L ia

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Um deus que lesse Maiakovski Um deus que criasse o silêncio

Como os russos criaram as babushkas Um silêncio dentro de outro silêncio Dentro de outro silêncio...

Adentrar o silêncio — em camadas — Total ausência de som Ficar lá até a alma voltar Ao estado de lago plácido Ficar lá até respirar

O ar, não mais este ácido

# b re v e s 4 | B á rb a ra L ia

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“era a tristeza”

Clarice Lispector

Nas noites caladas a mulher acaricia o tédio Bêbada de entornar a rotina fria: casa, louça, pia Cotidiana tristeza, mesmice crônica

Cortada pelo perfume da flor de laranjeira

A arrastar — lerdo como um trem — aquele sim Para a vida inteira

rb a ra L ia

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“Crucificada pela lassidão Arranha uma chaga”

Clarice Lispector Quem volta para abraçar um pássaro não o encontra mais # b re v e s 4 | B á rb a ra L ia

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“Não gosto de nada, sou como os poetas”

Clarice Lispector

Como os poetas, sigo avessa ao mundo Como os poetas, questiono até as pedras Como os poetas, sei mais que quiromantes — olhos de enxergar no escuro —

Há em mim o clarão do sim

Que deus disse na primeira manhã Depois desta iluminação...

Ao que amar? A quem? rb a ra L ia

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Liquefaz o sangue do sol Em mil luzes de orvalho Ameniza! Estica o tempo

Feito orgasmo de rainha

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“Enquanto eu inventar Deus. Ele não existe.”

Clarice Lispector

Sempre a colidir com Deus Nas horas incríveis

Nas horas túrgidas Nas horas cruas

Mas, no dia a dia — Deus esfuma Eu sempre quis ser íntima

Brincar com ele Qual na infância

Como se ele fosse um vizinho Que se chama pelo vão da cerca: — Vê as amoras maduras?

Vamos devorá-las depois do pique esconde? — Pena. Amanhã eu vou. Hoje fiquei de castigo (A mãe dele o afasta da janela e fecha a cortina. Antes acenamos um ao outro, um pouco tristes)

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O mundo é o lixão de deus Somos as laranjas podres Nos cestos e nas bocas Cuspidas

Massacradas

Espargindo o podre

O mundo é o lixão de deus Existe outro lugar

Com rodopios de valsas

E colibris no cio as asas em orgasmo Lá seremos o perfume de laranjeira Hálito de deus

Vivendo a paz de uma simples Quarta-feira # b re v e s 4 | B á rb a ra L ia

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Deus semeia seres como minha mãe semeava hortaliças

Deus derrama gelo nas almas e elas ficam quais as gramas brancas Deus é o horticultor terrível a rasgar nossas entranhas

Como a raposa rasga a carne das galinhas que ela alcança Somos alcançados por Deus e não sobra osso sobre osso Deus sai caminhando duro e nem ao menos move o pescoço Deus semeia seres como minha mãe semeava hortaliças Para depois triturá-los como a raposa às aves no galinheiro Sai displicente sem olhar pra trás e ficamos assim —

Triturados — sem ver a face de Deus nunca mais

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Deus é só uma televisão ligada no andar de cima: Melhor ler Rimbaud

E se me perguntarem o que será: Dia nenhum sem pão e música Mundo melhor Amém! E esqueçam Deus! # b re v e s 4 | B á rb a ra L ia

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Este poema é maior que o momento... Raptada Pelo ar Do poema Embalsamada Em um colarinho Engomado De silêncios rb a ra L ia

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Eu mesma

Estou retalhada n’alma Ainda assim sustento

Um escultural Gorro de begônias No rasurado azul noturno Este olhar de dois segundos

O enigma O ramo seco

(Quero uma primavera perfeita para — só depois — morrer)

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E as rosas mínimas almas? E os espinhos mínimas prisões? Cada jardim é um mundo

Guardado por metáforas Chuviscado de poesia E ainda há os que dizem Que a vida é fria

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Madrugada esfoliada

Acossada por cenas intensas A espiar da janela

A cena molhada: As rosas fazendo sexo — despudoradamente — Diante dos lírios da paz

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O limbo é uma ilha cercada de nãos por todos os lados o amor é um lugar onde a fúria amorável nos põe pra dormir se não fosse tanto se não fosse táctil se não fosse ar rb a ra L ia

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Alma arredia

rosa tardia

corpo arredio

sol com frio

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Tempo de luta das rosas rebeldes

não aquelas dos buquês mas aquela rosa selvagem aferrada ao solo

pra nunca mais ser morta

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Poucas coisas vêm a mim trazendo o medo pela mão — felicidade é uma delas — nada é mais amedrontador que ser feliz a vida inteira resta cultivar esta dor sem fim como ao mais amado jardim

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Viver é habitar reticências... rb a ra L ia

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O Rio de Janeiro é uma brasa acesa de amor e morte Iemanjá pranteia o diabo goza as estrelas gritam as areias respiram a dor e a glória o Cristo

quer descascar a pedra descer ao asfalto

sambar na quarta-feira e em cinzas

diluir

— para nunca mais ver tanta dor, ancorado no azul distante.

# b re v e s 4 | B á rb a ra L ia

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das rosas (Lumme editor, 2007), A última chuva

(Mulhe-res Emergentes, 2007), Constelação de Ossos (Vidráguas,

2010), Paraísos de Pedra (Penalux, 2013), Solidão

Calci-nada (Imprensa Oficial do PR-SEEC, 2008), Respirar (Ed.

do autor, 2014) e Forasteira (Vidráguas, 2016). Integra

várias Antologias, entre elas: O que é Poesia? (Confraria

do Vento / Cáliban), O Melhor da Festa 3 (Festipoa), Amar

— Verbo Atemporal (Rocco), Fantasma Civil (Bienal

In-ternacional de Curitiba), A Arqueologia da Palavra e a

Anatomia da Língua (Maputo).

selo gueto editorial

este projeto digital é destinado a correr livre na rede

Referências

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