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EMERGÊNCIA E SIGNIFICADO DA INTERNACIONAL SITUACIONISTA Marcus Vinicius Costa da Conceição 1 ; Nildo Viana 2 RESUMO

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Academic year: 2021

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EMERGÊNCIA E SIGNIFICADO DA INTERNACIONAL SITUACIONISTA Marcus Vinicius Costa da Conceição1; Nildo Viana2

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Bolsista PIBIC/CNPq, graduando do curso de História, UnUCSEH - UEG

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Orientador, Docente do curso de História, UnUCSEH - UEG

RESUMO

A Internacional Situacionista se constitui como um grupo de expressão artística e política na Europa na década de 1950 e 1960. Deste modo procuramos apresentar neste trabalho as principais teses do movimento em respeito às artes e a sociedade e como esses posicionamentos influenciaram a dinâmica da IS. Para isso nos utilizaremos das principais publicações do movimento, que são: a revista Internationale Situationniste e nos livros A Sociedade do Espetáculo de Guy Debord e A arte de viver para as novas gerações de Raoul Vaneigem.

Palavras Chave: Internacional Situacionista – Arte - Revolução Introdução

Com a queda do Muro de Berlim reabriu-se uma nova perspectiva de contestação da sociedade capitalista por teorias antes sufocadas pela União Soviética. E neste momento que vemos o renascimento do anarquismo, e de correntes comunistas como o conselhismo e o autonomismo, e neste momento que as idéias situacionistas começam a chegar ao Brasil.

A Internacional Situacionista (IS) surge em 1957 com a união de três vanguardas artísticas européias pós-segunda guerra mundial, sendo elas: a Internacional Letrista, o Movimento por uma Bauhaus Imaginista(MIBI - composto em sua maiorias por integrantes do grupo Cobra) e também pelo Comitê Psicogeográfico de Londres. Essas vanguardas já eram responsáveis por alguns estudos sobre a cidade que vão ser transplantados para a IS principalmente na sua primeira fase (1957-1962), a qual podemos classificar como a

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responsável pelas elaborações a respeito das teorias criticas sobre a sociedade tendo como parâmetro as artes.

Contudo, porém ao mesmo tempo em que observamos a chegada das idéias situacionistas, percebemos que está se dá em um plano contrário ao foi colocado inicialmente pelos situacionistas. Apesar da questão artística ter sido durante a primeira fase da IS, um ponto central, ela se torna nos anos 90 praticamente a única interpretação das teorias situacionistas chegando ao ponto de a teoria da sociedade do espetáculo ser compreendido apenas como uma questão crítica em relação ao aspecto midiático da sociedade contemporânea.

Deste modo nosso objetivo é entender o processo de transição que ocorre no interior da Internacional Situacionista, do campo artístico para o político, buscando compreender o posterior posicionamento da IS em relação a sociedade capitalista.

Material e Métodos

Nossa metodologia se baseou na análise das teses situacionistas e na emergência histórica desse movimento. Para a análise das teses situacionistas fizemos leituras das principais obras do movimento como Debord (1997), Vaneigem (2002), entre outros (Baderna, 2002; Jacques, 2003). A obra de Debord é considerada por nós como o principal texto teórico dos situacionistas e também o que contém uma síntese das idéias desse movimento. Para a análise da emergência histórica do situacionismo analisamos o processo histórico dos anos 50 e 60 na Europa, sobretudo na França aonde o movimento ganhará um maior vigor e destaque.

Resultados e Discussão

A França foi durante as primeiras décadas do século XX um importante centro de debate cultural, com o desenvolvimento em seu território das duas principais vanguardas artísticas do século XX (que mais tarde terão uma profunda influência na IS) : O dadaísmo e o surrealismo. Esses movimentos se desenvolvem como as duas últimas vanguardas artísticas realmente fortes e que tem como noção de arte, conceitos que mais tarde serão usados pelos situacionistas em sua primeira fase: o conceito derivado dos dadaístas e dos surrealistas, da supressão da arte enquanto algo desvinculado dos demais aspectos do cotidiano e sua realização na vida. Os situacionistas levarão essa proposta ao extremo, sendo essa uma

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uma vanguarda artística “revolucionária” para um grupo revolucionário. Além disso, serão essas duas vanguardas que começam a esboçar no início do século as primeiras críticas ao urbanismo como elemento de dominação e da importância deste para a revolução na vida. (FELICIO, 2007, p.6).

Os situacionistas vão fazer uma crítica feroz às novas arquiteturas, principalmente ao funcionalismo de Le Coubusier, o qual proclamava uma arquitetura contra a revolução, enquanto os situacionistas entendiam, nesse período, que este era um dos principais pontos para que a revolução acontecesse. Para os situacionistas, as novas cidades e o rumo que as antigas tomaram após a reconstrução da Segunda Guerra Mundial estavam privilegiando somente os valores burgueses da vida (o conforto e o automóvel) e deixando de lado os seus aspectos lúdicos e a impossibilidade de contato social entre as pessoas.

Essas novas cidades serão um entrave às experiências situacionistas sobre a cidade, uma vez que passaram a constituir um núcleo urbano extremamente organizado não permitindo a Deriva nesses ambientes. Os bairros proletários serão a maior demonstração desse tipo de organização com sua homogeneização. A visão da IS sobre esses acontecimentos fica muito claro no texto de Raoul Vaneigem, Comentários contra o Urbanismo, em que ele chega a declarar: “Se os nazistas tivessem conhecidos os urbanistas contemporâneos, teriam transformado os campos de concentração em conjuntos habitacionais” (VANEIGEM in JACQUES, 1961:154), demonstrando claramente a mudança de paradigma que estava ocorrendo no interior da IS nesse período.

Juntamente com os estudos sobre a cidade se desenvolverá também a critica da vida cotidiana. Os situacionistas compreendem que uma revolução só será possível se está ocorrer a partir da vida cotidiana, uma vez que está se tornou a representação máxima da sociedade capitalista. Desta formas eles compreendem que o cotidiano ao nesta sociedade se restringe ao consumo, à sobrevivência, não deixando o ser humano livre para se desenvolver. E neste ponto que os estudos sobre a cidade e o cotidiano na IS se casam, uma vez que não é possível

uma revolução total, como pretendiam os situacionistas, sem que esses pontos se casassem. A análise da vida cotidiana se situa nesse momento como uma alternativa aos estudos

economicistas realizados pelos teóricos ditos marxistas, e neste ponto que se situa Henri Lefebvre, sociólogo e teórico marxista francês, que será um nome que estará em permanente contato com a IS até 1961, o único intelectual com que se correspondiam. Apesar disso e do

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intenso contato e troca de teorias sobre o cotidiano e a cidade, a IS vai negar qualquer influência do pensamento de Lefebrve nas suas teorias.

Contudo, a principal discussão que se dará dentro da IS nesse período será a respeito do conceito de arte e de como ela deveria ser executada. Nesse momento a IS tem duas posturas diferentes: a) a primeira representada pela facção francesa que conta com nomes como Guy Debord e Michele Bernestein, que acreditava que a arte deveria ser abolida e integrada a vida cotidiana como um meio de se processar a revolução através da participação efetiva de todos os indivíduos; b) a segunda representada pelo grupo Spur e mais alguns integrantes como Asger Jorn, que acreditavam em uma realização coletiva da arte.

A primeira pautada, sobretudo, numa visão revolucionária que via a sociedade a partir da luta de classes e que compreendia o processo artístico como burguês e que queria a abolição da arte, juntamente com a destruição do capitalismo. Para essa tendência, a partir da supressão da sociedade capitalista, e a implantação da sociedade comunista, o individuo seria livre para desenvolver todas as suas habilidades e a arte se desenvolveria livre, e não como uma especialidade causada pela divisão social do trabalho.

A segunda, pautada numa visão mais reformista, não previa a supressão da sociedade capitalista e dessa forma compreendia que a arte deveria continuar existindo nos paramentos da sociedade burguesa, ou seja, no bojo da divisão social do trabalho, mas defendia que ela fosse feita de forma coletiva e não individualizada.

Até 1960, essas duas tendências conseguem conviver em sintonia. Esse será o período em que a IS desenvolverá uma série de exposições artísticas e de intervenções urbanas. Destaca-se aqui uma técnica de pintura conhecida como industrial, desenvolvida por Gallizio e Malanotte, que consistia em pintar enormes rolos de tela e depois vender os seus pedaços. Essa técnica servia tanto como uma critica a forma mercadológica que a arte tinha tomado com as galerias em que quadros eram vendidos a preços exorbitantes e também como uma maneira de financiar a IS, uma vez que era preciso dinheiro para a manutenção da revista.

A partir de 1959 esses desentendimentos começam a se mostrar mais acirrados principalmente nas conferências realizadas com todas as facções. Entre 1960-61 ocorre à expulsão de vários artistas como Gallizio e Melanotte e a retirada de Constant e a entrada de outros membros como Raoul Vaneigem e Attila Kotanyi. Essa reconfiguração que ocorre na IS nesse período vai ser de fundamental importância para compreender o posterior

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posicionamento do grupo. Podemos compreender essas expulsões como uma maneira de tirar da IS o seu caráter de vanguarda artística, já que ela se auto-intitulava e agia como tal até esse momento. Observamos que todos os seus posteriores atos e textos seguem uma posição de negação dessa tradição e de se afirmar como um grupo político.

É nesse momento em que fará sentir também na IS a influência do marxismo. Este é apresentado através de Lefebvre e orientará o desenvolvimento dos temas do grupo até a sua dissolução em 1972. Podemos ver isso através de um manifesto do grupo publicado na sua revista em 1966:

“O movimento situacionista não pode de maneira alguma ser qualificado como anarquista e menos ainda como pós-surrealista. As posições desenvolvidas aqui são notadamente marxistas: na verdade, as únicas posições realmente marxistas de que temos conhecimento.” (INTERNACIONAL SITUACIONISTA, 2002; 20).

A sua ligação se dá a um marxismo não-ortodoxo, negando as influências do leninismo e se ligando a outras como as do jovem Marx dos Manuscritos Econômicos e Filosóficos, de György Lukács de História e Consciência de Classe e de Karl Korsch de Marxismo e Filosofia, tradição denominada de esquerdismo por ser uma “fracção do movimento revolucionário que oferece, ou quer oferecer, uma alternativa radical ao marxismo-leninismo como teoria do movimento operário e da sua revolução” (GOMBIN, 1972; 20 e 21).

É preciso salientar a questão do Espetáculo, essencial para compreender a segunda fase da IS. O conceito surge praticamente junto com o movimento e apesar de não ter ponto central no primeiro período, a partir 1962 este será a sua principal teorização. Apesar disso não encontramos na obra situacionista uma definição para o que venha a ser o espetáculo, apenas algumas de suas características, deste modo podemos defini-lo pela degradação da vida cotidiana, a partir do momento em que se soma a produção alienada, o consumo – também alienado – e a mercadoria passou a valer não pelo seu conteúdo, mas pela sua representação.

A partir de 1962, a IS abandona os seus estudos sobre a arquitetura e urbanismo e começa a se envolver em discussões de caráter político revolucionário, como a questão da organização e do estudo do capitalismo naquele período. E neste período também que eles passam a realizar a crítica da União Soviética caracterizando-a como uma sociedade de Capitalismo de Estado e tornam-se herdeiros dos comunistas de conselhos, crendo que o

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verdadeiro embrião revolucionário seriam os conselhos operários. Debord na tese 179 do seu livro A Sociedade do Espetáculo deixa claro esse novo posicionamento do grupo:

“A idéia mais revolucionaria a respeito do urbanismo não é uma idéia urbanística, tecnológica ou estética. É a decisão de reconstruir integralmente o território de acordo com as necessidades do poder dos conselhos de trabalhadores, da ditadura do anti-estatal do proletariado, de diálogo executório. E o poder dos conselhos que só pode ser efetivo ao transformar a totalidade das condições existentes, não poderá adotar uma tarefa menor se quiser ser reconhecido e reconhecer a si mesmo em seu mundo” (DEBORD, 2006; 118).

É interessante observarmos a tentativa de negação de toda a antiga tradição da IS com respeito ao estudo da cidade e aos seus projetos artísticos. Isso ocorre com o intuito de tentar apagar o passado de uma vanguarda artística que o movimento declarava ser:

“O urbanismo não existe: não passa de uma ‘ideologia’, no sentido definido por Marx. A arquitetura existe realmente tanto quanto a Coca-Cola: é uma produção envolta em ideologia, mas real, satisfazendo falsamente uma necessidade forjada; ao passo que o urbanismo é compatível ao alarido publicitário em torno da Coca-Cola, pura ideologia espetacular. O capitalismo moderno, organizado de modo a reduzir toda a vida social a espetáculo, é incapaz de oferecer um espetáculo que não seja o de nossa própria alienação. O seu sonho de urbanismo é sua obra-prima.” (KOTÁNYI e VANEIGEM IN JACQUES, 1961, p. 139).

Conclusão

Dessa maneira podemos compreender que a passagem da Internacional de uma fase artística para uma política, não se deu por predomínio de uma facção por outra, como previa nossa hipótese inicial, mas sim foi pautada por várias determinações: o período histórico que é propício ao desenvolvimento de um pensamento heterodoxo, que rompa com os padrões entendidos como marxistas no período, a aproximação de Henri Lefebvre do grupo e a “apresentação” do marxismo ao grupo, a entrada de novos integrantes e a própria evolução política de determinados membros do coletivo.Assim a constituição política do grupo se estrutura, passando este a se considerar como um novo elemento de combate a sociedade capitalista instituída.

Referências Bibliográficas

DEBORD, Guy. A sociedade do Espetáculo. Comentários sobre a sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 2006.

FELÍCIO, Erahsto (org.) Internacional Situacionista: deriva, psicogeografia e urbanismo unitário. Porto Alegre: Deriva, 2006.

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INTERNACIONAL SITUACIONISTA. Situacionista: teoria e prática da revolução. São Paulo: Conrad, 2002.

JACQUES, Paola B (org.). Apologia da deriva: escritos situacionistas sobre a cidade. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003.

Referências

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