• Nenhum resultado encontrado

A SAGRADA ESCRITURA NA OBRA DE ANSELMO DE AOSTA

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A SAGRADA ESCRITURA NA OBRA DE ANSELMO DE AOSTA"

Copied!
9
0
0

Texto

(1)

A SAGRADA ESCRITURA NA OBRA DE ANSELMO DE AOSTA

Manoel Vasconcellos

Um problema sempre presente quando se trata de Anselmo de Aosta (1033 – 1109), diz respeito às fontes de seu pensamento. Parcimonioso nas alusões e escasso nas citações, suas obras não deixam, contudo, de revelar, a quem se dedica a perscrutá- las com atenção, em que bases se sustentam. O estudo que ora apresentamos, não tem a pretensão de ser exaustivo. Quer, tão somente, tecer algumas considerações sobre as relações entre as Escrituras e o rigor dialético encontrado na obra anselmiana.

A Escritura é, inegavelmente, uma fonte de Anselmo. A leitura de suas obras de modo algum esconde tal fato, mas isto não significa que ele faça apelo constante aos textos bíblicos em seus escritos1. A Escritura, contudo, se faz sempre presente, as vezes, de modo bem explícito. O argumento do Proslogion, por exemplo, partindo de um texto bíblico, o salmo 13, quer mostrar ao homem que diz em seu coração que Deus não existe, como sua afirmação é carente de senso, daí o salmista chamá- lo insensato. Não podemos esquecer que nesta obra de Anselmo, o argumento único pretende ser reconhecido por sua força argumentativa e não, em virtude de uma possível concordância com a Escritura, apesar das recorrentes citações bíblicas presentes no texto2, especialmente em alguns capítulos. O próprio autor deixa isto bem claro, quando, na Epistola de Incarnatione Verbi, ao referir-se ao Proslogion e ao Monologion, declara que a argumentação, utilizada nos seus dois primeiros opúsculos, visava tudo provar pelo encadeamento das razões necessárias, sem recorrer à autoridade das Escrituras3.

1

Como nota S. Tonini, “Eccetuando infatti il De processione, le due lettere a Waleramno e qualche capitolo qua e là degli altgri libri, in genere la S. Scrittura vi comparisce assai poco e in funzione, apparentmente almeno, assai poco importante” . S. Tonini La Scritura nelle Opere Sistematiche di S.Anselmo – Concetto, Posizione, Significato”, in Analecta Anselmiana vl. II, p. 73.

2

Uma relação completa das referências bíblicas presentes no Proslogion pode ser encontrada no estudo de S. Tonini , op. cit p. 62.

3

“Sed et si quis legere dignabitur duo parva mea opuscula, Monologion scilicet et Proslogion, quae ad hoc maxime facta sunt, ut quod fide tenemus de divina natura et eius personis praeter

(2)

Anselmo não deixa de apelar para o livro sagrado também em outras obras. Jean-Robert Pouchet,por exemplo, em seu estudo Saint Anselme lecteur de Saint Jean4, bem evidencia como o quarto evangelho é fonte primordial da trilogia De veritate, De libertate arbitrii e De casu diaboli. No De veritate, por exemplo, percebe-se que a lógica aristotélica, recebida de Boécio, é colocada a serviço da Escritura, a fim de conduzir a uma correta interpretação dos textos bíblicos. Pouchet, em seu estudo, destaca a forte influência da segunda parte do capítulo oitavo do evangelho joanino no texto do opúsculo anselmiano sobre a verdade.

A Escritura, contudo, não é somente uma fonte entre outras. Os textos bíblicos, para Anselmo, são critério de verdade, pois sua origem é divina. Não cabe ao cristão senão a aceitação e veneração do texto sagrado. Anselmo, cerca de um ano antes de sua morte, mostra como vê a Escritura. Diz isto com toda clareza no De concordia. Em uma esclarecedora passagem desta obra o arcebispo de Cantuária nos diz que, assim como Deus, no princípio, criou os frutos da terra para que servissem de alimento ao homem, também formou o coração dos profetas, dos apóstolos e dos evangelistas, os quais são fecundas sementes de salvação. Portanto, prossegue Anselmo, se algumas vezes a razão humana se antecipa ao que não está claro nas Escrituras, estas deverão ser o parâmetro a conferir se o que foi proposto pela razão é veraz. Se a razão não nega, nem contradiz as Escrituras, se a razão não induz a erros, então, as Escrituras, com sua autoridade, atestam a veracidade do que se chegou através da razão. Porém, acrescenta o autor, se as Escrituras se opõem ao que foi alcançado pela razão, mesmo que o raciocínio humano pareça correto, deve ser rejeitado, já que a Sagrada Escritura contém a autoridade de toda a verdade. O fruto da razão é verdadeiro, pois, quando seu resultado é afirmado, ou pelo menos, não negado pela autoridade incontestável das Escrituras5.

incarnationem, necessariis rationibus sine scripturae auctoritate probari possit...” Epistola de Incarnatione Verbi VI, 20, 16 – 19.

4

Cf. Jean-Robert Pouchet. Saint Anselme lecteur de Saint Jean in Les Mutations

Socio-Culturelles au Tournant des XIe – XIIe Siècles – Études Anselmiennes (IV session), 1982.

5

“Si enim aperta ratione colligitur, et illa ex nulla parte contradicit, quoniam ipsa sicut nulli adversatur veritati, ita nulli favet falsitati - : hoc ipso quia non negat quod ratione dicitur, eius, auctoritate suscipitur. At si ipsa nostro sensui indubitanter repugnat: quamvis nobis ratio nostra

(3)

Simone Tonini, em seu amplíssimo e bem documentado estudo sobre a escritura nos escritos sistemáticos de Anselmo, sintetiza em cinco pontos o sentido que o texto bíblico assume no conjunto da obra do autor. Apresentemos, resumidamente, estes cinco pontos6: 1) a Escritura é o verbum dei o qual, através da ação do Espírito Santo, se faz presente no coração dos apóstolos, profetas e evangelistas; 2) a Escritura não pode ser dissociada da saúde eterna do homem; 3) a Escritura age através do intelecto sobre a vontade; 4) a Escritura é Graça divina, pois é semente da primeira Graça; 5) a Escritura compreende toda a verdade e toda justiça.

Apesar de reservar um tão excelso papel ao texto sacro, Anselmo nem sempre o utiliza de modo uniforme em suas obras. É importante salientar que nenhum de seus escritos teve por escopo ser um comentário a qualquer livro da Sagrada Escritura. Não estamos diante de um exegeta, embora seja inegável que ele conheça as Escrituras. Basta olharmos para suas orações e meditações e bem evidenciamos o quanto elas estão presentes na reflexão de um beneditino, que está plenamente inserido na tradição monástica que enseja a leitura e a meditação do texto sagrado7.

Se é verdade que, em algumas obras, as Escrituras são bastante referidas– é o caso dos últimos tratados – outras há em que parcas são as citações. Uma obra, em especial, merece nossa atenção pela particularidade que envolve sua relação com a Sagrada Escritura. Trata-se do primeiro opúsculo de Anselmo, o Monologion. Escrito por volta de 1076, a obra é fruto da conversação do então prior da abadia beneditina de Bec, na Normandia, com seus formandos. Estes solicitaram a seu Prior que colocasse por escrito alguns temas que foram objeto dos debates, referentes à essência divina e outras questões conexas. Estabeleceram que a argumentação utilizada deveria prescindir de qualquer recurso à autoridade, seja dos Padres, seja das Escrituras. Ora, o que os

videatur inexpugnabilis, nulla tamen veritate fulciri credenda est. Sic taque sacra scriptura omnis veritatis quam ratio colligit auctoritatem continet, cum illam aut aperte affirmat aut nullatenus negat”.De concordia III [6], 272, 1- 7. 6

Cf. S. Tonini, op. cit, p. 79. 7

Cf. Jean Chatillon. Saint Anselme et l’Ecriture in Les Mutations Socio-Culturelles au Tournant

(4)

monges pediam a Anselmo era que procedesse fazendo apelo tão somente à razão. A autoridade dos Padres e, tampouco, a das Escrituras deveriam ser utilizadas como recurso argumentativo em favor da certificação dos argumentos.

Cabe, desde já, uma indagação. Será que esta primeira obra sistemática do monge de Bec está de acordo com aquela recomendação que há pouco referimos, presente no De Concordia? Se o velho arcebispo de Cantuária coloca as Escrituras como fundamento inquestionável da verdade, o Prior de Bec, em seu primeiro escrito sistemático não teme em proceder, guiado apenas pelo rigor dialético, fazendo com que tudo o que fora dito, fosse atestado apenas pelo encadeamento das razões necessárias8.

Esta omissão das Escrituras deu notoriedade ao primeiro tratado de Anselmo e não deixou de provocar desconfianças. A correspondência do autor com seu antigo formador, Lanfranco de Pavia nos permite deduzir quanta perplexidade a obra suscitou. Por quê? Justamente por que nela o autor intenta um procedimento exclusivamente racional, colocando entre parênteses as Escrituras. Num contexto onde não havia suficiente clareza quanto ao papel que deveria ser desempenhado pela dialética no que se refere à análise do objeto sagrado, onde os ecos da polêmica entre Lanfranco e Berengário, em torno do sacramento eucarístico, ainda se faziam presentes, num tal contexto, dizíamos, o Monologion e seu procedimento exclusivamente racional não poderia deixar de suscitar algumas inquietações.

O fato de Anselmo prescindir das Escrituras no Monologion não é secundário, evidenciando mesmo o caráter do opúsculo. O tema geral do escrito – a essência divina e outras questões a ela ligadas – desenvolve-se em meio a um rígido procedimento dialético. O autor parte de Deus em si mesmo, analisa o verbo divino, culminando em uma análise da Trindade, tal qual Agostinho no De Trinitate, mas valendo-se de um método bastante diverso. Enquanto o bispo de Hipona se apóia constantemente em

8

“ ... hanc mihi formam praestituerunt: quatenus auctoritate scripturae penitus nihil in ea persuaderetur, sed quidquid per singulas investigationes finis assereret, id ita esse plano stilo et vulgaribus argumentis simplicique disputatione et rationis necessitas breviter cogeret et veritatis claritas patenter ostenderet. Voluerunt etiam, ut nec simplicibus paeneque fatuis obiectionibus mihi occurrentibus obviare contemnerem” Mon. Prologus. 7, 7 – 12

(5)

citações bíblicas, seu discípulo do século XI esforça-se, justamente, em omitir qualquer referência explícita à autoridade bíblica. Não temos dúvida em afirmar que a ausência da Escritura, no primeiro escrito sistemático de Anselmo, se conforma ao método escolhido pelo autor e comprova o caráter filosófico de seu escrito. É preciso, contudo, bem entender o que significa esta ausência da autoridade bíblica no Monologion . Em verdade, Anselmo não refere explicitamente à Escritura, mas alude à mesma. Muitas são as alusões bíblicas presentes na obra9, elas se referem, fundamentalmente ao Novo Testamento, particularmente aos evangelhos de Mateus e João e também às cartas de Paulo. Tais alusões evidenciam que o autor é um monge que discorre sola ratione sobre o objeto de sua crença.

Vejamos alguns exemplos do modo como Anselmo faz uso de textos bíblicos no Monologion. Quando, a partir do capítulo LXVIII da obra, o autor começa a tratar da postura adequada à criatura racional diante de seu criador, Anselmo prossegue, como havia sido proposto desde o início do texto, seguindo uma argumentação exclusivamente racional. Diz, então, que cabe ao homem aplicar-se no amor à essência soberana, pois foi criado para isto, devendo amar e buscar a compreensão do Sumo Bem. Um tal empenho, prossegue Anselmo, não pode deixar de receber uma justa recompensa, pois o Sumo Bem é também a Suma Justiça. Qual seria a recompensa reservada ao homem que se dedica com todo empenho a amar a Natureza Suprema? A recompensa só pode ser uma, a maior possível e consiste em poder contemplar face a face o Sumo Bem10. Ora, não está aí uma referência quase explícita à passagem da primeira carta do apóstolo Paulo aos coríntios, quando o apóstolo das gentes declara “agora vemos em espelho e de maneira confusa, mas, depois, veremos face a face11”?

9

Uma relação completa das alusões bíblicas presentes no Monologion pode ser encontrada no estudo, já referido de S. Tonini La Scritura nelle Opere Sistematiche di S.Anselmo – Concetto, Posizione, Significato”, in Analecta Anselmiana vl. II, p. 60.

10

“ Nihil ergo verius, quam quod omnis anima rationalis, si quemadmodum debet studeat amando desiderare summam beatitudinem, aliquando illam ad fruendum percipiat. Ut quod nunc videt quasi per speculum et in aenigmate, tunc, videat facie ad faciem” Mon. LXX, 80, 79 – 81,1.

11

(6)

Vejamos um outro exemplo. No início da obra, quando Anselmo, ao iniciar a argumentação em torno das propriedades da essência soberana12declara ter ela feito tudo o que existe e ela mesma dá força e vida às criaturas, fazendo com que permaneçam, pois a natureza suprema não somente criou, mas conserva. Diz mais Anselmo: tudo existe dela, por ela e nela13. Ora, uma vez mais aí vemos uma alusão a um texto Paulino, agora se trata da epístola aos Romanos: “Porque tudo é dele, por ele e para ele14”.

Poderíamos prosseguir com outras alusões, pois elas sempre se apresentam no texto do Monologion. Se nos ativéssemos ao riquíssimo conjunto de capítulos, onde trata da relação da essência soberana com seu verbo, veríamos como o início do prólogo do evangelho de João é peça fundamental na construção da argumentação racional do monge de Bec. Não pretendemos aqui levar a cabo uma exaustiva análise de cada passagem bíblica presente no Monologion. O que desejamos ressaltar é que a Escritura, apesar de não estar presente no primeiro tratado sistemático de Anselmo, não deixa de ser um referencial importantíssimo na construção de sua argumentação exclusivamente dialética. O Monologion busca, portanto, mostrar apenas pela razão, que o conteúdo da fé, expresso nas Sagradas Escrituras, não é carente de sentido. Não está aí apenas uma intenção apologética. Parece-nos que mais do que mostrar ao não crente que as Escrituras contêm a verdade, Anselmo quer proporcionar ao crente a alegria de ver confirmado pela razão aquilo que é objeto de suas profundas convicções, posto que garantido pela autoridade dos textos sagrados.

Assim entendido, há mais semelhanças do que se poderia inicialmente supor, entre a recomendação sobre o papel primordial das Escrituras, feito no De concordia e a omissão da autoridade bíblica, tal como está proposta no método do Monologion. Não nos parece que se possa ver uma diferença de postura entre o relativamente jovem autor do Monologion que deseja proceder sola ratione e o velho autor do De concordia que reserva uma tão elucidativa função às Escrituras. A postura é a mesma. Se as Escrituras não aparecem de forma explícita no Monologion, isto se deve a uma fundamental

12

Cf. Mon. XIII – XXVIII. 13

“Si igitur haec illis quae superius sunt inventa iungantur: eadem est, quae in omnibus est et per omnia, et ex qua et per quam et in qua omnia”. Mon. XIV, 27, 25 – 26.

14

(7)

preocupação metodológica. O Monologion é uma obra filosófica que nasce do esforço de apresentar os temas em conformidade com um rigoroso procedimento dialético. Em conformidade com tal metodologia, a Escritura ausenta-se do Monologion , mas trata-se de um afastar-se, enquanto instrumento de prova. O autor da obra procede dialeticamente, colocando entre parênteses a Escritura, mas sempre se trata da obra de um cristão que procede com rigor dialético sobre os temas que são objetos de sua fé. A razão dialética não deve apelar para a Escritura, mas isto não significa que o texto sagrado não seja inspiração para o dialético.

Uma chave para a correta interpretação deste opúsculo e de toda a obra anselmiana pode ser encontrada no título primitivo do Proslogion, ou seja, a fé que busca a compreensão, fides quaerens intelectum. Sempre se trata da elucidação do objeto da fé. Um tal procedimento se radica não na descrença, mas na firme convicção de que, para quem está suficientemente preparado, não há por que temer em dar as razões de sua fé. Em que consiste um tal preparo? Consiste não apenas em dominar a aridez da argumentação dialética, mas também no conhecimento do que sustenta a fé. Não basta dominar o procedimento racional, pois a razão anselmiana não é um fim em si mesma. É preciso ir além, é preciso também conhecer as Escrituras. Um tal conhecimento é bem mais do que uma atividade intelectual. O monge não apenas estuda o texto sacro, mas medita-o em profundidade. O Monologion, o Proslogion, o De concordia e toda a produção de Anselmo antes de serem escritos, foram meditados. Por isso, podemos dizer que a postura é a mesma em todas as obras, apesar da diversidade metodológica.

O Monologion não nega a Escritura. Se a omite, é para mostrar que a razão humana é capaz de conduzir o homem à verdade, independente da fé, mas não contra a fé. Podemos dizer que uma tal atitude metodológica va i de encontro à recomendação do De concordia ? Parece-nos que não. Quando Anselmo, em sua obra sobre o acordo da presciência, da predestinação e da graça divina com o livre arbítrio (De Concordia), nos diz que a Escritura é o grande critério de verdade, ele não está postulando que a razão deva estar submissa às Escrituras, apenas diz que é preciso que seus resultados sejam confrontados com a fonte que inspira e sustenta a fé.

(8)

O texto bíblico não cerceia a argumentação racional, mas se oferece como guia. A Escritura, dessa forma, aparece não como uma âncora que impediria o avançar do movimento dialético, mas como uma bússola que orienta o encadeamento da argumentação racional a fim de que não se perca no mar revolto da argumentação dialética. O conteúdo, revelado pelas Escrituras, não exime a criatura racional de dar as razões da fé. O homem, imagem e semelhança de seu criador, é capaz de empreender o esforço racional15, mesmo que sua razão seja limitada. Anselmo não descura os efeitos da primeira queda e reconhece que a Graça vem em socorro do homem, pois a razão não pode dar conta de tudo, ela só pode ir até certo ponto, mas isso não implica em renúncia ao trabalho do intelecto.

Anselmo no Monologion colocou entre parênteses as Escrituras. Em outras obras, mesmo referindo-se explicitamente às mesmas, não postula que venham em substituição do encadeamento das razões necessárias. Poderíamos dizer que, em sua obra, se dá uma integração entre esforço racional e texto sacro, entre argumentação dialética e autoridade das Escrituras. Uma tal integração dá segurança ao empreendimento da razão, impedindo os erros de uma razão em contradição com a fé e com as Escrituras. Assim procedendo, Anselmo pensa poder evitar a postura daqueles dialéticos de seu tempo que serão por ele criticados na Epistola de Incarnatione Verbi, justamente por não estarem devidamente preparados para executar o trabalho da razão integrado ao conteúdo revelado, presente nas Escrituras e na tradição cristã.

Dessa forma compreendido, o esforço argumentativo, levado a cabo com minucioso ardor dialético no Monologion, se mostra como sendo a reflexão de um cristão que, convicto de sua fé, lança-se ao desafio da sua compreensão racional. A Escritura e, podemos acrescentar, a autoridade dos Padres e da tradição cristã não comparecem no texto do Monologion, mas nem por isso estão ausentes da mente e do coração do homem que, diríamos hoje, filosoficamente trata de questões que se apresentavam como fundamentais para ele, para seus interlocutores mais próximos e - por que não dizer? – questões que continuam, ainda que de outras formas, sendo

15

“Clarum ergo est rationalem creaturam totum suum posse et velle ad memorandum et intelligendum et amandum summum bonum impendere debere, ad quod ipsum esse suum se cognoscit habere” Mon. LXVIII, 79, 6 – 9.

(9)

importantes para a reflexão filosófica, tornando- nos também nós, de certo modo, interlocutores de Anselmo, posto que sua reflexão filosófica continua incitando o diálogo.

Referências

Documentos relacionados

Este capítulo tem uma abordagem mais prática, serão descritos alguns pontos necessários à instalação dos componentes vistos em teoria, ou seja, neste ponto

5 “A Teoria Pura do Direito é uma teoria do Direito positivo – do Direito positivo em geral, não de uma ordem jurídica especial” (KELSEN, Teoria pura do direito, p..

As etapas que indicam o processo de produção do milho moído são: recebimento da matéria prima pela empresa, transporte manual, armazenamento, elevação mecanizada do produto,

O objetivo do curso foi oportunizar aos participantes, um contato direto com as plantas nativas do Cerrado para identificação de espécies com potencial

Nessa situação temos claramente a relação de tecnovívio apresentado por Dubatti (2012) operando, visto que nessa experiência ambos os atores tra- çam um diálogo que não se dá

Este estudo apresenta como tema central a análise sobre os processos de inclusão social de jovens e adultos com deficiência, alunos da APAE , assim, percorrendo

é bastante restrita, visto que tanto suas duas entradas, quanto as galerias e condutos que interligam os pequenos salões são bastante estreitos, e a umidade na maioria dos salões

8- Bruno não percebeu (verbo perceber, no Pretérito Perfeito do Indicativo) o que ela queria (verbo querer, no Pretérito Imperfeito do Indicativo) dizer e, por isso, fez