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O PAPEL DO GÊNERO RELATO DE EXPERIÊNCIA NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE PROFESSORAS EM FORMAÇÃO

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Academic year: 2021

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O PAPEL DO GÊNERO RELATO DE EXPERIÊNCIA NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE PROFESSORAS EM FORMAÇÃO

Juliane Ferreira Vieira (PG-Universidade Estadual de Maringá - UEM) Giana Amaral Yamin (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul - UEMS)

Resumo: Este estudo está vinculado à investigação intitulada “O que é ser professor/a? Olhares e saberes da escola (re)construídos das/os bolsistas Pibid/UEMS” e objetiva analisar o gênero relato de experiência, quanto ao tema apresentado, escrito por graduandas do curso de Pedagogia, as quais desenvolvem atividades relacionadas ao Programa de Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência(Pibid). Essas atividades foram desenvolvidas em uma escola municipal de Dourados, estado de Mato Grosso do Sul. Após realizarem o planejamento, com orientação, as pibidianas desenvolveram as atividades propostas nas salas de aulas e na biblioteca da escola. Em seguida, relataram por meio da escrita como desenvolveram suas atividades. Esses relatos foram lidos e revisados pela coordenadora de área, os quais foram devolvidos para a reescrita. São esses relatos de experiência o corpus deste estudo, os quais são analisados quanto ao seu papel na formação de professoras em formação, tendo em vista que se tratam de futuras agentes de letramento. Assim, esses relatos de experiências do Pibid foram analisados adotando a perspectiva teórica do Círculo de Bakhtin, observando os temas que emergem de seu uso. Os gêneros são concebidos como formas flexíveis de enunciados, não sendo vistos como estruturas fixas e fechadas em si. As análises demonstraram que o gênero relato de experiência do Pibidapresenta diferentes papéis, como ser um instrumento de avaliação/reflexão do processo de ensino-aprendizagem por parte da professora em formação; apontar resultados de tomadas de posicionamentos político-judiciais na educação de Mato Grosso do Sul; indicar a avaliação de professores com relação ao Pibid e a seus conteúdos; mostrar como é o processo de alfabetização no Pibid-Pedagogia-UEMS; demonstrar a concepção de criança apresentada pelas professoras em formação. Verificou-se ainda que os relatos de experiências do Pibidtêm papel fundamental no processo de ensino-aprendizagem de professoras em formação, pois proporciona o desenvolvimento de competências linguístico-discursivas, além de se compor como um instrumento basilar para as futuras pedagogas e também para suas vidas sociais.

Palavras-chave: Gênero relato de experiência; Formação Docente, Pibid.

Primeiras Palavras

Este estudo, vinculado à investigação intitulada “O que é ser professor/a? Olhares e saberes da escola (re)construídos das/os bolsistas Pibid/UEMS”, parte do pressuposto de que as professoras em formação, futuras pedagogas, irão, durante suas atividades docentes, desenvolver trabalhos com práticas de linguagem, envolvendo experiências de leitura e escrita, em variadas modalidades, mídias e suportes. A investigação em questão foidesenvolvida por graduandas do curso de Pedagogia, vinculadas aoPrograma Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência(Pibid), da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), na Escola Municipal Avani C.

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Fehlauer, localizada no município de Dourados, estado de Mato Grosso do Sul (MS).As atividades foram desenvolvidas com as crianças matriculadas no primeiro e no segundo anos do Ensino Fundamental, em encontros ocorridos duas vezes por semana durante o ano de 2015. As atividades relatadas resultaram do planejamento orientado e do desenvolvimento das atividades propostas emduplasde alunas ou individualmente.

Após essa fase, as pibidianas escreveram relatos de experiências, em que demonstraram como desenvolveram as atividades planejadas, como ainda mostraram como foram suas avaliações a respeito do aprendizado das crianças. Esses relatos foramrevisados e reescritos.

O trabalho em revisar um mesmo texto até cinco ou seis vezes tem como objetivo tentar responder a uma inquietação que compartilhamos com Kleiman e Matencio: “Como formar os nossos alunos para que possam exercer suas funções de agentes de letramento na escola e na comunidade, de forma independente, flexível e consciente da importância da escrita nos processos de transformação identitária vividos no ambiente escolar?” (2005, p. 9-10).

O caminho para responder a esse questionamento a nosso ver, tendo como base as orientações das próprias autoras questionadoras, está no letramento situado na formação inicial professor, isto é, no desenvolvimento de práticas letradas durante a formação inicial do docente. Letramento é concebido aqui, segundo Kleiman (1995, p. 11): “como um conjunto de práticas sociais, cujos modos específicos de funcionamento têm implicações importantes para as formas pelas quais sujeitos envolvidos nessas práticas constroem relações de identidade e poder”.

Múltiplas são as formas de se usar a escrita, as quais estão organizadas em gêneros textuais/discursivos. No caso deste estudo, o gênero textual/discursivo em foco é o relato de experiência no contexto do Pibid. Objetivamos analisar o seu papel, tendo em vista seu tema, na avaliação do processo de ensino-aprendizagem realizada pelas pibidianas. Para isso, adotamos a perspectiva teórica do Círculode Bakhtin, expondo brevemente uma caracterização do gênero Relato de Experiência no contexto do Pibid.

O Gênero Relato de Experiência no Contexto do Pibid

O Círculo de Bakhtin caracteriza os gêneros como “tipos relativamente estáveis de enunciados” (BAKHTIN, 2000, p. 279), o que nos leva a compreender que os gêneros não são instâncias fechadas em si ou que possuem estruturas fixas, sendo relativamente estáveis do ponto de vista do tema, do estilo e da organização

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composicional. É o caráter da ‘relatividade’ destacado por Bakhtin que é fundamental para caracterizar brevemente o gênero Relato de Experiência no contexto do Pibid. Isso porque no Pibid o relato apresenta, por exemplo, temas diferentes de outros relatos próprios de outras práticas sociais (relato de viagem, relato pessoal). Concordamos com Moterani e Menegassi (2010), quando afirmam que o conteúdo temático não se trata do assunto em si, porém contempla diferentes atribuições de sentidos e também de recortes próprios e possíveis para um dado gênero do discurso.

Nesse sentido, no contexto da pesquisa realizada, os relatos de experiência do Pibid apresentaram temas, como questionamentos acerca da prática docente; processo de alfabetização; diálogo entre teoria e prática; avaliação do processo de ensino-aprendizagem; relação dos alunos com o Pibid; relação entre pibidianas e professores; relação entre pibidianas e alunos; construção do fazer docente; realidade da educação no município de Dourados-MS e no Estado de Mato Grosso do Sul.

Uma breve análise do papel do gênero relato de experiência no contexto do Pibid Neste momento do texto, apresentamos excertos dos relatos escritos por professoras em formação do curso de Pedagogia, da UEMS, vinculadas ao Pibid. Importa destacar que as docentes em formação serão identificadas por nomes fictícios, embora todas elas tenham autorizado por escrito a análise e a divulgação dos relatos. Essa decisão foi tomada por nos proporcionar maior liberdade ao analisarmos os dados.Cabe destacar também que, para este estudo, foram analisados 28 relatos referentes ao primeiro semestre do ano de 2015, dos quais selecionamos alguns excertos.

De acordo com Júlia: “No quinto ano as crianças não parecem mais ser tão crianças, muitas são bem maiores que eu. […] O livro [...] com enredo cheio de repetições e onomatopeias, perfeito para usar a sonorização do pandeiro, cantar uns trechos, brincar com as vozes dos animais e divertir crianças…” (Júlia. Bolsista Pibid, Relato de Experiência, 2015). No primeiro momento, observamos no relato de Júlia uma constatação quanto à política educacional do estado de Mato Grosso do Sul no que diz respeito à entrada de crianças com cinco anos de idade no primeiro ano do Ensino Fundamental, segundo prevê uma liminar judicial de 2007. A professora em formação constata em sala de aula, durante sua experiência no Pibid, que crianças que entraram com cinco anos de idade no primeiro ano podem ficar retidas, o que ocasiona em crianças já “grandes” no quinto ano. Por meio do gênero relato, é possível verificar que

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decisões judiciais podem gerar aos alunos resultados negativos,comoa reprovação,resultado de um conjunto de fatores como a falta de adequação do como ensinar por parte dos professores, a ausência de adequação das escolas. Nesse sentido, o gênero apresenta-se como um instrumento que, primeiro, avalia o processo de ensino-aprendizagem por parte da professora em formação, indicando que ela terá de replanejar suas ações para desenvolver sua aula com o 5º quinto, e, segundo, denuncia a forma como o ensino é tratado em Mato Grosso do Sul.

Além disso, a pibidiana também mostrou em seu relato a relação estabelecida entre a teoria e a prática quando avalia o livro a ser lido em sala de aula “perfeito para usar a sonorização do pandeiro, cantar uns trechos, brincar com as vozes dos animais e divertir crianças”. Percebemos que Júlia avalia o livro a partir dos pressupostos apresentados pelo curso de Pedagogia.

Ana, também bolsista Pibid, relata: “Não atendemos o 5º ano, a professora da turma falou para nossa orientadora, que os alunos estavam faltando, e como hoje tinha Pibid muitosforam, então ela aproveitou para dar conteúdo” (Ana, Bolsista Pibid, Relato de Experiência, 2015). Em seu relato, Ana nos mostra a relação que os alunos da escolatêm com o Pibid. Podemos perceber que os alunos avaliam positivamente o Pibid, pois “muitos” comparecem à aula em dia em que haveria atividades do Programa, o que demonstra o interesse das crianças pelas atividades propostas e a significância que essas atividades estão tendo para elas. Por meio do gênero relato de experiência, é possível perceber também que, no entanto, a professora titular de sala não aceitou a ida à biblioteca, já planejada, devido à sua ansiedade por“aproveitar” a presença dos alunos a fim de ministrar conteúdos de sua disciplina, uma consequência da organização das disciplinas das escolas municipais de Dourados.

A respeito dos caminhos para alfabetizar sem a cartilha, Alice e Amanda discorrem que: “Essa atividade era de ordenação de frases de uma parlenda. […]foi um sucesso, as crianças se envolveram muito, e elas fizeram representações da parlenda por meio do desenho. […]as crianças leram as frases em grupo para montar a parlenda” (Alice e Amanda. Bolsista Pibid, Relato de Experiência, 2015). Observamos, no relato das bolsistas, o processo de alfabetização como tema, o qual está desvinculado da cartilha tradicional e ancorado no ensino de gêneros textuais. Também percebemos a avaliação feita pelas pibidianas a respeito do trabalho realizado que, segundo elas, “foi um sucesso, as crianças se envolveram muito”.

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Verificamos ainda por meio do relato a concepção de criança apresentada pelas futuras professoras. Ao relatarem que as crianças “fizeram representações da parlenda por meio do desenho [...] leram as frases em grupo para montar a parlenda”sinalizam para uma concepção de criança como sujeito do processo de aprendizagem. Nesse processo, a criança é alguém que pensa, que tem conhecimentos prévios, que é capaz, e que éconsiderado desde o planejamento das atividades.

Palavras Finais

Preocupadas em desenvolver práticas letradas durante a formação inicial de graduandas em Pedagogia, tendo em vista o seu papel como futuras agentes de letramento em suas escolas e na sociedade, o relato de experiência no contexto do Pibid configurou-se como um gênero textual/discursivo que colaborou para o desenvolvimento das competências linguístico-discursivas, além de se compor como um instrumento basilar para as futuras pedagogas e também para suas vidas sociais. Observamos que o gênero relato de experiência apresentou vários papéis, como ser um instrumento de avaliação/reflexão do processo de ensino-aprendizagem por parte das professoras em formação; apontar resultados de tomadas de posicionamentos político-judiciais na educação de Mato Grosso do Sul; indicar como a organização dos conteúdos, implantada pela Secretaria Municipal de Educação de Dourados, apresenta consequências para a relação entre professores, conteúdos e tempo destinado para alcançar os objetivos; e ainda mostrar como ocorreu o processo de alfabetização no Pibid-Pedagogia-UEMS.

Referências

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. de Maria Ermantina Galvão Gomes Pereira; rev. da trad. Marina Appenzeller. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

KLEIMAN, Angela B.; MATENCIO, Maria de Lourdes Meirelles (Orgs.). Letramento

e formação do professor: práticas discursivas, representações e construção do saber.

Campinas, SP: Mercado de Letras, 2005. 271 p. (Coleção idéias sobre linguagem). KLEIMAN, A. B. Os significados do letramento: uma perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas: Mercado de Letras, 1995.

Referências

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