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Sumário. Texto Integral. Supremo Tribunal de Justiça Processo nº 02A4017

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Supremo Tribunal de Justiça Processo nº 02A4017

Relator: FARIA ANTUNES Sessão: 14 Janeiro 2003

Número: SJ200301140040171 Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: REVISTA.

Sumário

Texto Integral

Acordam no Supremo Tribunal de Justiça

A "A", moveu execução cambiária ordinária, com base num cheque, contra B, visando obter desta a quantia de 7.429.902$00 (sendo 6.408.115$00 de capital e 1.021.787$00 de juros vencidos) e os juros de mora vincendos, até efectivo pagamento.

A executada deduziu embargos à execução, resumidamente com os seguintes fundamentos:

- Ocorre ilegitimidade passiva, uma vez que apenas constam duas assinaturas, sem qualquer elemento identificativo da sociedade embargante;

- A obrigação cambiária é nula por vício de forma;

- A obrigação cambiária está prescrita, uma vez que a acção não foi intentada no prazo de 6 meses, contados do termo do prazo de apresentação a

pagamento do cheque;

- Após prescrição da acção cambiária, o cheque não constitui título executivo como documento particular nos termos da alínea c) do art. 46º do CPC; - Os juros liquidados excedem o limite legal de 7%.

Contestou a exequente/embargada, concluindo pela improcedência dos embargos.

No saneador, o Mmº Juiz conheceu do mérito dos embargos, julgando-os

procedentes apenas quanto aos juros de mora, a liquidar à taxa anual de 7%, e não de 12% conforme o pedido exequendo, ordenando o prosseguimento da execução quanto ao mais.

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acórdão de 11.06.02, negou provimento ao recurso, confirmando o despacho impugnado.

Irresignada , uma vez mais, recorreu a embargante de revista, fechando a minuta com as seguintes

Conclusões:

1) Dos factos dados como provados resulta que, quando em 30/11/00 a Recorrida intentou a presente execução, já haviam decorrido mais de seis meses sobre o termo da data de apresentação do cheque a pagamento (cfr. art. 52º da LUCH);

2) Perante a verificação do não pagamento de um cheque, o seu portador pode designadamente, verificados que sejam os respectivos pressupostos legais, intentar apenas a respectiva acção cível, apresentar queixa-crime ou,

simultaneamente, intentar acção cível e apresentar queixa-crime;

3) Se é verdade que não é pelo facto de o portador de um cheque intentar acção cambiária que se pode concluir da sua intenção de actuar em termos jurídico- criminais contra o respectivo subscritor, também não será pelo facto de se apresentar uma queixa-crime que se poderá concluir que o queixoso pretende vir aí a deduzir pedido de indemnização civil;

4) O facto de o portador de um cheque apresentar uma queixa-crime, revela apenas a sua intenção de exercer o direito que lhe é conferido por lei de ver criminalmente punidos os subscritores do cheque, e não a intenção de exercer os direitos cambiários inerentes ao mesmo cheque;

5) A apresentação de queixa-crime contra os subscritores de um cheque sem provisão não se integra no elenco de factos interruptivos da prescrição

previstos no art. 323º do CC;

6) A prescrição prevista no art. 52º da LUCH reporta-se à acção cambiária, e é relativamente a esta que tem de ser averiguado se verificou algum facto

interruptivo da prescrição, ou seja, se se verificou algum acto "que exprima, directa ou indirectamente, a intenção de exercer o direito, seja qual for o processo a que o acto pertence e ainda que o Tribunal seja incompetente"; 7) Pelo facto de, em termos meramente abstractos, ser possível à Recorrida deduzir pedido de indemnização cível no referido processo-crime, não resulta a sua intenção de aí exercer o direito que lhe é conferido através da

propositura da acção cambiária;

8) O Acórdão recorrido enferma pois de erro de facto e de direito, ao concluir que no "processo penal instaurado mediante queixa da Apelada, devia ser deduzido pedido de indemnização cível, com o fim de obter a condenação ao pagamento do cheque, como determina o art. 71º do Código de Processo Penal" ;

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qualquer facto em que aquela conclusão possa basear-se, a dedução do pedido de indemnização cível encontra-se ao inteiro dispor do respectivo lesado; 10) Aliás, se a apresentação de queixa-crime por cheque sem provisão fosse suficiente para interromper o prazo de prescrição da acção cível, não teria qualquer sentido a norma transitória do art. 3º do D.L. 316/97, de 19/11; 11) Com efeito, o referido nessa norma, bem como no preâmbulo do D.L. 316/97, de 19/11, só se justifica à luz de um entendimento que vá no sentido de que a apresentação de queixa-crime por cheque sem provisão não

interrompe o prazo de prescrição da respectiva acção civil;

12) Assim, ao decidir que a acção cambiária não se encontrava prescrita porque o prazo de prescrição foi interrompido com a apresentação da queixa-crime por parte da Recorrida, o Acórdão recorrido enferma de erro de

interpretação e aplicação da norma do art. 323º do CC;

13) Pelo exposto, não tendo ocorrido qualquer facto interruptivo da prescrição, verifica-se que na data em que a Recorrida intentou a acção

cambiária (30/11/2000) já se encontrava decorrido o prazo de prescrição (seis meses) previsto no artº 52º da LUCH;

14) Nos termos do artº 46º/c do CPC, são títulos executivos "os documentos particulares, assinados pelo devedor, que importem a constituição ou o reconhecimento de obrigações pecuniárias";

15) Ora, do documento (cheque) dado à execução apenas consta uma ordem ("pague por este cheque"), nada aí se referindo quanto ao motivo pelo qual foi dada essa ordem;

16) Se é verdade que, no campo das meras hipóteses, subjacente a essa ordem pode estar o pagamento de uma dívida própria, também é certo que

subjacente a essa mesma ordem pode estar, v.g., um empréstimo feito pelo sacador à pessoa à ordem da qual o cheque é emitido, um pagamento de uma dívida de terceiro, uma garantia de um negócio que se não chegou a realizar; 17) Por conseguinte, para que o cheque dado à execução pudesse constituir um título executivo, para além da ordem de pagamento, deveria conter a razão dessa ordem de pagamento;

18) Assim não tendo acontecido, tal documento, por si só, não importa a constituição ou o reconhecimento de nenhuma obrigação pecuniária; 19) Nos termos expostos, o cheque dado à execução não constitui título executivo face ao disposto no art. 46º/c do CPC,

Devendo a decisão recorrida ser revogada e substituída por outra que declare que:

a) na data em que a Embargada instaurou a acção executiva (30/11/2000), já se encontrava prescrito o direito de acção cambiária baseada no cheque dado à execução; e que,

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b) Por esse motivo, o cheque dado à execução, porque se encontra fora do regime e dos princípios da lei cambiária, não constitui título executivo, devendo com tais fundamentos ser a Recorrente absolvida do pedido executivo.

A parte adversa não contra-alegou. Correram os vistos legais.

Apreciando e decidindo.

A Relação de Coimbra considerou assente a seguinte factualidade:

Em 30.11.2000, a ora Embargada intentou execução cambiária contra a ora Embargante, fundada em cheque no valor de 6.408.115$00, emitido a seu favor, em 31.07.99, figurando no lugar do sacador a assinatura de dois gerentes da Embargante;

Apresentado a pagamento, foi o referido cheque devolvido por falta de provisão em 06.08.99;

Em 26.01.2000, a ora Embargada apresentou queixa-crime contra os então gerentes da Embargante (inquérito nº 119/00), tendo sido notificada do despacho de arquivamento por carta registada remetida em 06.10.2000; Como fundamento de tal despacho de arquivamento, o facto de não se tratar de um cheque para pagamento imediato de uma dívida, deixando, assim, de gozar de tutela penal, nos termos do nº 3 do art. 11º do DL 454/91, de 28/12, na redacção introduzida pelo art. 1º do DL 316/97, de 19/11.

A primeira questão que se coloca no conclusório da minuta de recurso é a de saber se na data em que foi instaurada a acção executiva, já se encontrava prescrito, ou não, o direito de acção cambiária.

A Relação entendeu que não, na senda do decidido na 1ª instância. A recorrente sustenta precisamente a tese contrária.

Propendemos decididamente para dar razão à Relação de Coimbra, com cujo discurso concordamos, no essencial.

É certo que a recorrida podia ter proposto a acção cível logo que o cheque foi devolvido por falta de provisão, formulando pedido de indemnização cível em separado, perante o tribunal civil, visto o crime de emissão de cheque sem cobertura não ser um crime público e portanto não ser aplicável o princípio da adesão (artºs 71º e 72º, nº 1, alínea c) do Código de Processo Penal - em anexo à Lei nº 59/98, de 25/8).

Segundo o nº 2 do citado artº 72º, no caso de o procedimento criminal depender de queixa ou de acusação particular, a prévia dedução do pedido perante o tribunal civil pelas pessoas com direito de queixa ou de acusação vale como renúncia a este direito.

Por conseguinte, se a recorrida tivesse deduzido inicialmente acção cível em separado, considerar-se-ia que tinha renunciado ao direito de queixa

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relativamente ao crime de emissão de cheque sem cobertura.

Não quis renunciar a esse direito de queixa, e, por conseguinte, fez a correspondente participação criminal.

Ao fazer tal participação, não renunciou ao direito de enxertar no processo crime, na devida oportunidade, pertinente pedido cível.

Estando em jogo um crédito na avultada quantia de 6.408.115$00 (quantia inscrita no ajuizado cheque que não obteve cobertura) a recorrida não prescindiria de o reclamar, o que recorrente não devia ignorar.

A participação crime consubstanciou, em suma, um acto que exprimiu, directa, ou pelo menos indirectamente, a intenção de exercer o direito ao

ressarcimento, pelo que se interrompeu a prescrição de seis meses prevista no artº 52º da Lei Uniforme sobre Cheques, ut artº 323º, nº 1 do Código Civil. O cheque está datado de 31.07.99, foi devolvido por falta de provisão em 06.08.99, tendo a queixa-crime sido apresentada em 26.01.2000 (antes de decorrido o prazo de prescrição a que se reporta o artº 52º da LUCH). E, notificada do arquivamento do processo crime por carta de 06.10.2000 (arquivamento esse, ex vi artº 11º, nº 3 do Decreto-Lei nº 316/97, de 19/11, devido a não se tratar de um cheque para pagamento imediato de uma dívida), logo a recorrida se apressou a instaurar a execução em 30.11.2000, dentro, portanto, do prazo de 6 meses após aquela notificação.

Destarte, a recorrida, não pretendendo renunciar ao direito de queixa, o que sucederia caso propusesse logo uma acção cível, fez a aludida participação criminal, sendo altíssimo o grau de verosimilhança de que deduziria pedido cível, com o qual a recorrente, portanto, logo devia ter ficado a contar.

Deste modo, o prazo da prescrição da acção cambiária, a que se reporta o artº 52º da LUCH, interrompeu-se, atento o disposto no nº 1 do artº 323º do

Código Civil (cfr. o artº 26º do Anexo II da LUCH).

Só por grave negligência do seu Advogado é que a recorrida deixaria de procurar a via judicial para se ressarcir, e não foi seguramente esta remota hipótese que a recorrente vislumbrou quando teve conhecimento da pendência do inquérito judicial nº 119/00 a que se reporta a certidão de fls. 86 a 89,

sendo, ao invés, expectável para ela, que seria demandada em acção cível a enxertar na acção penal, a seu devido tempo.

O argumento do nº 1 do artº 3º do Decreto-Lei nº 316/97, de 19/11 (diploma que alterou o regime jurídico do cheque sem provisão instituído pelo Decreto-Lei nº 454/91, de 28/12) não tem a virtualidade que dele pretende extrair a recorrente.

Trata-se de uma norma transitória, aplicável apenas aos processos que

estavam pendentes à data da sua entrada em vigor, e o que tal dispositivo nos transmite de especial é a concessão que fez de um ano para intentar a acção

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cambiária, prazo que, na falta desse preceito legal, seria apenas de seis meses sob pena da prescrição contemplada no artº 52º da LUCH.

Compreende-se assim que no preâmbulo do mesmo diploma se aluda a que as disposições transitórias nele inseridas se destinaram a facilitar (não a

possibilitar o que doutro modo estaria proibido!) o exercício da acção cível por falta de pagamento.

Uma outra questão suscitada na revista é a de saber se, a considerar-se prescrito o direito de acção cambiária, o cheque exequendo constitui título executivo como documento particular assinado pelo devedor, reconhecendo uma obrigação cambiária, nos termos do artº 46º, c) do Código de Processo Civil.

No saneador decidiu-se que, caso se considerasse prescrita a acção cambiária com base no cheque, este não valeria como documento particular de

reconhecimento de uma obrigação pecuniária, não podendo basear a execução ao abrigo do artº 46º, alínea c) do CPC. No acórdão recorrido expendeu-se que, sendo tal entendimento correcto, a verdade é que a acção cambiária não prescreveu, e isso prejudica o conhecimento daqueloutra questão.

Concordamos. Tratando-se de um cheque relativamente ao qual não decorreu o prazo de prescrição da obrigação cartular, vale como título executivo,

ficando destarte prejudicado o conhecimento da questão de saber se pode valer como documento particular assinado pelo devedor e que importa

constituição ou reconhecimento de obrigação pecuniária. A própria exequente só subsidiariamente "para o caso de se considerar que a acção cambiária baseada no cheque estava prescrita " se opôs à execução com o argumento de que o cheque não constituía título executivo como documento particular de reconhecimento de uma obrigação pecuniária.

Termos em que negam a revista, com custas pela recorrente. Lisboa, 14 de Janeiro de 2003

Faria Antunes Lopes Pinto Ribeiro Coelho

Referências

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