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Aula 01
Direito Processual Penal
Inquérito Policial / Ação Penal
Professor: Pedro Ivo
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Caros alunos de todo o Brasil, sejam bem-vindos a nossa primeira aula!
Começaremos nosso curso com um tema importante e que é objeto de
questionamento por praticamente todas as bancas de prova: O inquérito
policial.
É um assunto interessante e que constantemente lemos nos jornais e
escutamos falar nos telejornais... O problema é que muitas vezes tal tema é
tratado de uma maneira incorreta e esses erros acabam ficando na cabeça.
Observe o texto publicado pelo jornal “o globo”:
“A origem das balas com cocaína que levaram 17 crianças e adolescentes a
passar mal em uma escola municipal de Santo Antonio da Posse vai ficar sem
resposta. A polícia decidiu nesta quinta-feira arquivar o inquérito que apurava o
caso.”
Será que este texto está correto? Será que a autoridade policial pode arquivar o
inquérito?
Bom, estas e outras perguntas serão respondidas no decorrer da aula e, ao
final, você começará a prestar mais atenção nas notícias... Afinal, só mesmo
concurseiros “de carteirinha” ficam procurando (e encontrando) erros que quase
ninguém acha nos jornais!!!
Dito isto, vamos ao que interessa?
Bons estudos!!!
***************************************************************
1.1 CONCEITO
Constantemente vemos na sociedade fatos que são claramente infrações
penais, entretanto não é possível, de pronto, a determinação da autoria e a
configuração correta do delito.
Assim, surge no ordenamento jurídico, mais precisamente no Código de
Processo Penal (CPP), a figura do inquérito policial, um
PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO
que tem por finalidade o levantamento de informações a
fim de servir de base à ação penal ou às providências cautelares.
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Você deve se lembrar do triste caso da menina Isabella Nardoni onde ouvimos
falar muito no inquérito. Qual era a real finalidade deste procedimento?
A finalidade era a apuração dos autores do delito e a definição de como
efetivamente ele ocorreu, a fim de propiciar a atuação do Ministério Público.
Conforme lição do saudoso Prof. Mirabete, o “inquérito policial é todo
procedimento policial destinado a reunir os elementos necessários à apuração
da prática de uma infração penal e de sua autoria. Trata-se de uma instrução
provisória, preparatória, informativa em que se colhem elementos por vezes
difíceis de obter na instrução judiciária...“.
Regra geral, os inquéritos são realizados pela Polícia Judiciária (Polícias Civis e
Polícia Federal) e são presididos por delegados de carreira, entretanto o art. 4º,
parágrafo único, do Código de Processo Penal deixa claro que existem outras
formas de investigação criminal como, por exemplo, as investigações efetuadas
pelas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) e o inquérito realizado por
autoridades militares para apurar infrações de competência da Justiça Militar
(IPM).
Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades
policiais no território de suas respectivas circunscrições e terá por
fim a apuração das infrações penais e da sua autoria.
Parágrafo único. A competência definida neste artigo não
excluirá a de autoridades administrativas, a quem por lei
seja cometida a mesma função. (grifo nosso)
1.2 CARACTERÍSTICAS
PROCEDIMENTO ESCRITO
Conforme dito anteriormente, a grande finalidade do inquérito é servir de
base para uma posterior ação penal.
Desta forma o art. 9º do CPP deixa claro que as peças do inquérito serão
reduzidas a escrito ou datilografadas, não sendo possível a ocorrência de
uma investigação verbal.
Art. 9
oTodas as peças do inquérito policial serão, num só
processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso,
rubricadas pela autoridade.
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OBSERVAÇÃO: Algumas vezes você encontrará a expressão “o
depoimento foi REDUZIDO A TERMO”. Isso só quer dizer que foi escrito
ou datilografado.
PROCEDIMENTO SIGILOSO
O CPP no seu art. 20 nos diz:
Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à
elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade.
O sigilo é um elemento de que dispõe a autoridade policial para facilitar
seu trabalho na elucidação do fato.
Tal sigilo encontra-se extremamente atenuado, pois, segundo
entendimento do STF, é um direito do advogado examinar, em qualquer
repartição policial, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de
inquérito, findos ou em andamento.
É importante ressaltar que para os atos que dependem de autorização
judicial, segundo a CF (escuta, interceptação telefônica etc.), o advogado
só terá acesso se possuir PROCURAÇÂO ESPECÍFICA. Neste sentido já se
pronunciaram por diversas vezes o STF e o STJ.
Também é permitido o acesso total aos autos ao Ministério Público e ao
Juiz.
O sigilo deverá ser observado também como uma forma de preservar a
intimidade do investigado, resguardando-se seu estado de inocência.
Devido a esta presunção, dispõe o CPP em seu Art. 20, Parágrafo Único:
Art. 20 [...]
Parágrafo único. Nos atestados de antecedentes que lhe forem
solicitados, a autoridade policial não poderá mencionar quaisquer
anotações referentes a instauração de inquérito contra os
requerentes, salvo no caso de existir condenação anterior.
O inquérito policial é público, não podendo a autoridade policial impor sigilo, ainda que necessário à elucidação do fato.
Gabarito: ERRADA
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INDISPONIBILIDADE
Nos termos do art. 17 do CPP, a autoridade policial não poderá mandar
arquivar autos de inquérito.
Este é um ponto que gera inúmeras dúvidas, pois se contrapõe ao que
normalmente imaginamos como válido. Entretanto, fique tranquilo que
tudo ficará claro quando tratarmos, especificamente, do arquivamento.
OFICIOSIDADE
O início do inquérito independe de provocação e DEVE ser determinado
de ofício quando houver a notícia de um crime. A oficiosidade decorre do
princípio da legalidade (ou obrigatoriedade) da ação pública.
Existem algumas ações para as quais o inquérito não segue este princípio,
mas voltaremos neste assunto quando tratarmos das espécies de ação.
É importante frisar que não é por toda notícia que deverá ser instaurado
imediatamente o inquérito, sendo razoável uma avaliação preliminar para
determinar se o ato noticiado realmente constitui crime. Entretanto, a
requisição de instauração do inquérito por parte do Ministério Público ou
do Juiz tem natureza de ordem e não deve ser questionada ou verificada
pela autoridade policial.
***A autoridade policial poderá promover o arquivamento do IP, desde que comprovado cabalmente que o indiciado agiu acobertado por uma causa excludente da ilicitude ou da culpabilidade
Gabarito: ERRADA
CAIU EM PROVA!
***A requisição do MP para instauração do IP tem a natureza de ordem, razão pela qual não pode ser descumprida pela autoridade policial, ainda que, no entender desta, seja descabida a investigação.
Gabarito: CORRETA
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OFICIALIDADE
Somente órgãos de direito público podem realizar o inquérito policial.
Ainda quando a titularidade da ação penal é atribuída ao particular
ofendido (ação penal privada), não cabe a este a efetuação dos
procedimentos investigatórios.
INQUISITIVO
ATENÇÃO
ESTA É A CARACTERÍSTICA MAIS EXIGIDA EM
PROVA!!!
É inquisitivo o procedimento em que as atividades visando à elucidação do
fato e à determinação da autoria ficam concentradas em uma única
autoridade, no caso a figura do Delegado de Polícia. Este poderá,
discricionariamente, decidir como vai proceder para alcançar a finalidade
do inquérito.
Durante o inquérito não há que se falar em contraditório e ampla
defesa, pois ainda não existe acusado e o indiciado não é sujeito de
direitos, mas objeto de investigação.
O ilustre mestre Alexandre de Moraes dispõe que:
"O contraditório nos procedimentos penais não se aplica aos inquéritos
policiais, pois a fase investigatória é preparatória da acusação,
inexistindo, ainda, acusado, constituindo, pois, mero procedimento
administrativo, de caráter investigatório, destinado a subsidiar a atuação
do titular da ação penal, o Ministério Público".
***Pelo fato de o IP ser um procedimento administrativo de natureza inquisitorial, a autoridade policial tem discricionariedade para determinar todas as diligências que julgar necessárias ao esclarecimento dos fatos, pois a persecução concentra-se, durante o inquérito, na figura do delegado de polícia.
GABARITO: CORRETA
CAIU EM PROVA!
ATENÇÃO!!!
O ÚNICO INQUÉRITO QUE ADMITE O CONTRADITÓRIO É O INSTAURADO PELA POLICIA FEDERAL, A PEDIDO DO MINISTRO DA JUSTIÇA, OBJETIVANDO A EXPULSÃO DE ESTRANGEIRO. (LEI Nº. 6.815/80).
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Do exposto podemos resumir:
1.3 INCOMUNICABILIDADE
A incomunicabilidade do investigado está regulamentada no art. 21 do Código
de Processo Penal nos seguintes termos:
Art. 21. A incomunicabilidade do indiciado dependerá sempre de
despacho nos autos e somente será permitida quando o interesse
da sociedade ou a conveniência da investigação o exigir.
Parágrafo único. A incomunicabilidade, que não excederá de três
dias, será decretada por despacho fundamentado do Juiz, a
requerimento da autoridade policial, ou do órgão do Ministério
Público, respeitado, em qualquer hipótese, o disposto no artigo 89,
inciso III, do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil.
A jurisprudência majoritária inclina-se para a inconstitucionalidade do
dispositivo.
O mais forte argumento no sentido da não recepção deste dispositivo tem por
base o art. 136, § 3º, IV, da CF, segundo o qual, na vigência do estado de
defesa é vedada a incomunicabilidade do preso.
Parece evidente que se a Constituição proíbe a incomunicabilidade até mesmo
na vigência de um "estado de exceção" não seria nada razoável admiti-la em
condições normais como consequência de um simples inquérito policial.
Ademais, a incomunicabilidade afigura-se incompatível com as garantias
insculpidas no art. 5º da CF/88, mormente com as plasmadas em seus incisos
LXII ("a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão
comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à
pessoa por ele indicada") e LXIII ("o preso será informado de seus direitos,
entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da
família e de advogado").
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Apesar das divergências, um aspecto é indiscutível: a incomunicabilidade
prevista no art. 21 do Código de Processo Penal não pode impedir o contado do
advogado com o preso. Prevê o art. 7º, III do Estatuto da Advocacia que
sempre será facultado ao advogado comunicar-se com seu cliente de forma
pessoal e reservada.
1.4 VALOR PROBATÓRIO
Digamos que determinado indivíduo, durante um inquérito, confessou ao
delegado de polícia a participação em um crime e tal confissão foi reduzida a
termo. Será que a decisão condenatória poderia ser apoiada exclusivamente
nesta confissão extrajudicial?
A resposta é não, pois, segundo o STF, não se justifica sentença condenatória
baseada unicamente no inquérito policial.
Realmente, agora que já sabemos que o inquérito policial é um procedimento
inquisitivo, não seguindo os princípios da ampla defesa e do contraditório, fica
fácil entender o
VALOR PROBATÓRIO RELATIVO
atribuído a tal
procedimento administrativo pela Suprema Corte.
Como peça meramente informativa, destinada tão somente a autorizar o
exercício da ação penal, não pode por si só servir de lastro à sentença
condenatória, sob pena de se infringir o princípio do contraditório, garantia
constitucional.
1.5 VÍCIOS
Os vícios do inquérito não contaminam ou ocasionam nulidades no processo. Tal
fato tem por base o caráter meramente informativo da fase inquisitorial.
Assim, se uma confissão foi obtida mediante tortura na fase do inquérito, esta
situação não será passível de gerar a anulação da ação penal.
***Eventuais nulidades ocorridas no curso do inquérito policial contaminam a subsequente ação penal.
GABARITO: ERRADA
CAIU EM PROVA!
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1.6 A NECESSIDADE DO INQUÉRITO
Para se chegar à conclusão da obrigatoriedade ou não do inquérito policial basta
pensar na real finalidade de tal procedimento. Se, sem nenhuma investigação
policial, for possível a determinação da autoria e do fato, é razoável que esta
fase preliminar seja dispensada. O art. 39 § 5
o, do CPP deixa claro esta não
obrigatoriedade:
Art. 39.[...]
§ 5
oO órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com
a representação forem oferecidos elementos que o habilitem a
promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no
prazo de quinze dias. (grifo nosso)
No mesmo sentido já definiu o STF:
1.7 “NOTITIA CRIMINIS”
É a fase preliminar do inquérito policial. Conforme leciona o professor Fernando
Capez, dá-se o nome de notitia criminis (notícia do crime) ao conhecimento
espontâneo ou provocado, por parte da autoridade policial, de um fato
aparentemente criminoso. É com base nesse conhecimento que a autoridade dá
início às investigações.
1.7.1 CLASSIFICAÇÃO:
1. NOTITIA CRIMINIS DE COGNIÇÃO DIRETA OU IMEDIATA
Também chamada de espontânea ou inqualificada, caracteriza-se pela
inexistência de um ato jurídico formal de comunicação da ocorrência do
delito
Ocorre quando a autoridade policial toma conhecimento direto do ilícito
através de suas atividades de rotina, de jornais, pela descoberta do corpo do
delito, por comunicação da polícia preventiva, por investigações da polícia
judiciária, etc.
"O inquérito policial não é imprescindível ao oferecimento de denúncia ou queixa, desde que a peça acusatória tenha fundamento em dados de informação suficiente à caracterização da materialidade e autoria da infração penal (STF, RTF 76/741).
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Nestes casos, a autoridade policial deve proceder a uma investigação
preliminar, com a máxima cautela e discrição, a fim de verificar a
verossimilhança da informação, somente devendo instaurar o inquérito na
hipótese de haver um mínimo de consistência nos dados informados.
2. NOTITIA CRIMINIS DE COGNIÇÃO INDIRETA OU MEDIATA
Também chamada de notitia criminis provocada ou qualificada. Ocorre
quando a autoridade policial toma conhecimento do ilícito por meio de algum
ato jurídico de comunicação formal do delito.
São exemplos de notitia criminis de cognição indireta:
Delatio criminis simples É a comunicação por escrito ou verbal,
prestada por pessoa identificada. (CPP, art. 5º, § 3
o).
§ 3
oQualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da
existência de infração penal em que caiba ação pública
poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade
policial, e esta, verificada a procedência das informações,
mandará instaurar inquérito.
Requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público (CPP,
art. 5º, II)
Requisição do Ministro da Justiça (CP, art. 7º, §3º, b)
Representação do ofendido (CPP, art. 5º, §4º)
3. NOTITIA CRIMINIS DE COGNIÇÃO COERCITIVA
Ocorre no caso de prisão em flagrante. Nesta hipótese, a comunicação do
crime é feita mediante a própria apresentação de seu autor por servidor
público no exercício de suas funções ou por particular.
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O assunto pode ser resumido através do quadro abaixo que facilita a
memorização:
1.8 O INÍCIO DO INQUÉRITO POLICIAL
O início do inquérito dependerá do tipo de ação penal.
Sobre este tema, para a compreensão deste tópico, faz-se necessário
apresentar alguns breves apontamentos sobre a ação penal. Posteriormente,
aprofundaremos os conceitos.
1.8.1 ESPÉCIES DE AÇÃO PENAL
No nosso país as ações penais são divididas em dois grandes grupos:
C COOGGNNIIÇÇÃÃOO D DIIRREETTAAOOUU I IMMEEDDIIAATTAA C COOGGNNIIÇÇÃÃOO I INNDDIIRREETTAAOOUU M MEEDDIIAATTAA C COOGGNNIIÇÇÃÃOO C COOEERRCCIITTIIVVAA 1-ATIVIDADES ROTINEIRAS 2-JORNAIS 3-INVESTIGAÇÕES 4-CORPO DO DELITO 5-DELAÇÃO APÓCRIFA I INNEEXXIISSTTÊÊNNCCIIAADDEEUUMMAATTOO J JUURRÍÍDDIICCOOFFOORRMMAALL!!!!!! 1-DELATIO CRIMINIS 2-REQUISIÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO 3-REQUISIÇÃO DO MINISTRO DA JUSTIÇA 4-REPRESENTAÇÃO DO OFENDIDO E EXXIISSTTÊÊNNCCIIAADDEEUUMMAATTOO J JUURRÍÍDDIICCOOFFOORRMMAALL!!!!!! PRISÃO EM FLAGRANTE N NOOTTIITTIIAA C CRRIIMMIINNIISSwww.pontodosconcursos.com.br | Prof. Pedro Ivo 12
1. AÇÃO PENAL PÚBLICA
2. AÇÃO PENAL PRIVADA
Essa divisão atende a razões de exclusiva política criminal e é isso que
entenderemos agora através de exemplos.
Imaginemos que um indivíduo comete um homicídio. Este delito,
obviamente, importa sobremaneira a toda sociedade, pois, a partir de tal
fato, fica claro que há um indivíduo no mínimo desequilibrado solto na
sociedade.
Desta
forma,
a
ação
recebe
a
classificação
de
PÚBLICA
INCONDICIONADA
e não depende de qualquer pedido ou condição para
ser iniciada bastando o conhecimento do fato pelo Ministério Público.
Pensemos agora em outra situação em que uma mulher chega para um
homem e diz que ele é “mais feio que briga de foice no escuro”.
Neste caso, temos claramente um crime contra a honra e eis a pergunta: O
que este delito importa para a sociedade?
Na verdade, ele fere a esfera íntima do indivíduo e, devido a isto, o Estado
concede a possibilidade de o ofendido decidir se inicia ou não a ação penal,
atribuindo a este a titularidade. Temos aí a
AÇÃO PENAL PRIVADA
.
Em um meio termo entre a Pública Incondicionada e a Privada temos a
PÚBLICA CONDICIONADA.
Neste caso, o fato fere imediatamente a esfera íntima do indivíduo e
mediatamente (secundariamente) o interesse geral. Desta forma, a lei
atribui a titularidade da ação ao Estado, mas exige que este aguarde a
manifestação do ofendido para que possa iniciar a ação. Tal fato ocorre, por
exemplo, no delito de ameaça.
É IMPORTANTE RESSALTAR QUE A REGRA GERAL É A AÇÃO PENAL
PÚBLICA, SENDO A PRIVADA, A EXCEÇÃO.
1.8.1.1 AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA
É a ação que pode ser iniciada logo que o titular para impetrá-la tiver
conhecimento do fato, não necessitando de qualquer manifestação do
ofendido.
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Exemplos de crimes perseguidos por ação pública incondicionada: roubo,
corrupção, seqüestro.
Sobre a titularidade para iniciar a ação dispõe o Código de Processo
Penal:
Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por
denúncia do Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o
exigir, de requisição do Ministro da Justiça, ou de representação
do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo. (grifo
nosso)
Conforme o CPP a titularidade da ação pública incondicionada é do
Ministério Público, podendo instaurar o processo criminal independente da
manifestação de vontade de qualquer pessoa e até mesmo contra a
vontade da vítima ou de seu representante legal.
1.8.1.2 AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA
É a ação PÚBLICA cujo exercício está subordinado a uma condição. Essa
condição tanto pode ser a demonstração de vontade do ofendido ou de
seu representante legal (REPRESENTAÇÂO), como a REQUISIÇÃO do
Ministro da Justiça.
Neste tipo de ação, a TITULARIDADE, assim como na ação pública
incondicionada, é do Ministério Público.
São exemplos previstos no Código Penal: Perigo de contágio venéreo (art.
130), ameaça (art. 147), violação de correspondência comercial (art.
152), divulgação de segredo (art. 153), furto de coisa comum (art. 156),
etc.
1.8.1.3 AÇÃO PENAL PRIVADA
Neste tipo de ação, o delito afronta tão intimamente o indivíduo que o
ESTADO transfere a legitimidade ativa da ação para o ofendido. Perceba
que nesta transferência de legitimidade reside a diferença fundamental
entre a ação penal PÚBLICA E PRIVADA.
Neste tipo de ação o Estado visa impedir que o escândalo do processo
provoque um mal maior que a impunidade de quem cometeu o crime.
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Exemplo de crime perseguido por ação privada: todos os crimes contra a
honra (calúnia, injúria, difamação - Capítulo V do Código Penal), exceto
em lesão corporal provocada por violência injuriosa (art. 145).
1.8.2 FORMAS DE INICIAR O INQUÉRITO POLICIAL NOS CRIMES DE
AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA (CPP, art. 5º, I e II, §§ 1º,
2º e 3º)
1- Portaria da autoridade policial de ofício, mediante simples notícia
do crime.
Art. 5
oNos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado:
I - de ofício;
2- Requisição do Ministério Público
Art. 5
oNos crimes de ação pública o inquérito policial será
iniciado:
[...]
II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério
Público
3- Requisição do juiz de Direito
OBSERVAÇÃO IMPORTANTE
A REQUISIÇÃO DO JUIZ E DO MINISTÉRIO PÚBLICO POSSUI CONOTAÇÃO DE EXIGÊNCIA, DETERMINAÇÃO.
DESTA FORMA, NÃO PODERÁ SER DESCUMPRIDA PELA AUTORIDADE POLICIAL.
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4- Requerimento de qualquer pessoa do povo
Art. 5
oNos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado:
[...]
II – [...] ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver
qualidade para representá-lo.
§ 1
oO requerimento a que se refere o n
oII conterá sempre que
possível:
a) a narração do fato, com todas as circunstâncias;
b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as
razões de convicção ou de presunção de ser ele o autor da
infração, ou os motivos de impossibilidade de o fazer;
c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profissão e
residência. (grifo nosso)
Neste caso a autoridade policial não precisa “cumprir” o que é solicitado pelo
indivíduo caso entenda descabido o requerimento. Entretanto, a fim de dar
garantias ao solicitante e impedir indeferimentos arbitrários, preceitua o
parágrafo 2º do art. 5º do CPP:
§ 2
oDo despacho que indeferir o requerimento de abertura de
inquérito caberá recurso para o chefe de Polícia
.
Mas quem é o chefe de polícia? Para a sua PROVA é o SECRETÁRIO DE
SEGURANÇA PÚBLICA.
5- Auto de prisão em flagrante (APF) Apesar de não mencionado
expressamente no artigo 5º o APF é forma inequívoca de instauração de
inquérito policial, dispensando a portaria subscrita pelo delegado de
polícia.
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1.8.3 FORMAS DE INICIAR O INQUÉRITO POLICIAL NOS CRIMES DE
AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA (CPP, art. 5º, § 4º)
1- Mediante
R
R
E
E
P
P
R
R
E
E
S
S
E
E
N
N
T
T
A
A
Ç
Ç
Ã
Ã
O
O
do ofendido ou de seu representante
legal
Art. 5º
[...]
§ 4
oO inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de
representação, não poderá sem ela ser iniciado.
Por representação, também conhecida como delatio criminis postulatória,
compreende-se a manifestação pela qual a vítima ou seu representante legal
autoriza o Estado a desenvolver as providências necessárias à investigação e
apuração judicial nos crimes que a requerem.
Nada impede que a representação esteja incorporada na comunicação de
ocorrência policial e neste sentido já se manifestou, por diversas vezes, o
STJ. Observe o julgado:
2- Mediante requisição do Ministro da Justiça.
Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por
denúncia do Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o
exigir, de requisição do Ministro da Justiça[...].
Existem alguns delitos que, por questões de política, necessitam da
manifestação do Ministro da Justiça para que possam ser investigado. Como
exemplo podemos citar os crimes cometidos por estrangeiro fora do País e os
crimes contra a honra cometidos contra o Presidente da República.
A representação nos crimes de ação penal pública condicionada prescinde de qualquer formalidade, sendo necessário apenas a vontade inequívoca da vítima ou de seu representante legal, mesmo que realizada na fase policial.
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3- Mediante requisição do Juiz ou do Ministério Público Desde que
exista representação da vítima ou do Ministro da Justiça, dependendo do
caso.
4- Auto de Prisão em Flagrante Desde que exista representação da
vítima ou do Ministro da Justiça, dependendo do caso.
1.8.4 FORMAS DE INICIAR O INQUÉRITO POLICIAL NOS CRIMES DE
AÇÃO PENAL PRIVADA (CPP, art. 5º, § 5º)
5- Mediante requerimento escrito ou verbal, reduzido a termo neste
último caso, do ofendido ou de seu representante legal.
Art. 5º[...]
§ 5
oNos crimes de ação privada, a autoridade policial somente
poderá proceder a inquérito a requerimento de quem tenha
qualidade para intentá-la.
1- Mediante requisição do Juiz ou do Ministério Público Desde que
exista requisição da vítima ou do representante legal.
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Podemos resumir o tema da seguinte forma:
CRIMES DE AÇÃO PENAL PÚBLICA
INCONDICIONADA
CRIMES DE AÇÃO PENAL PÚBLICA
CONDICIONADA
CRIMES DE AÇÃO PENAL PRIVADA
Ex officio pela autoridade policial, através
de portaria;
Requisição do Ministério Público ou Juiz; Requerimento de qualquer do povo, não
importando a vontade da vítima;
Auto de prisão em flagrante;
Representação da vítima ou do representante legal;
Requisição do ministro da justiça;
Requisição do juiz ou ministério público,
desde que acompanhada da representação da vítima ou da requisição do ministro da justiça;
Auto de prisão em flagrante, desde que instruído com a representação da vítima.
Requerimento do ofendido ou representante legal
Requisição do Ministério Público ou Juiz,
desde que acompanhada do requerimento do ofendido ou de seu representante legal;
Auto de prisão em flagrante, desde que instruído com o requerimento da vítima ou do representante legal.
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1.9 PROVIDÊNCIAS – ART. 6º DO CPP
Imaginemos um inquérito policial para apurar um homicídio duplamente
qualificado e outro para averiguar um furto de galinhas no quintal do vizinho. O
inquérito será exatamente igual? Ou melhor, será que seria possível definir um
rito procedimental exato a ser executado pela autoridade policial em qualquer
situação?
É claro que a resposta é negativa, e o que encontramos no art. 6º do CPP é
uma série de procedimentos que, via de regra, deverão ser executados,
entretanto para cada caso será uma ritualização diferente, conveniente e
oportuna. Observe o disposto:
Art. 6
oLogo que tiver conhecimento da prática da infração penal,
a autoridade policial deverá:
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o
estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos
criminais;
II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após
liberados pelos peritos criminais
III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do
fato e suas circunstâncias;
IV - ouvir o ofendido;
V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do
disposto no Capítulo III do Título Vll, deste Livro, devendo o
respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe
tenham ouvido a leitura;
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a
acareações;
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de
delito e a quaisquer outras perícias;
VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo
datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de
antecedentes;
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista
individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e
estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e
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quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do
seu temperamento e caráter.
Agora resumindo o que importa para sua PROVA:
O inciso I do supracitado artigo nos traz que a autoridade policial deverá
dirigir-se ao local, providenciando para que não dirigir-se alterem o estado e a condirigir-servação
das coisas, até a chegada dos peritos criminais.
Para esta regra existe uma exceção na lei nº. 5.970/73 que nos diz que para
acidentes de trânsito a autoridade ou o agente policial que primeiro tomar
conhecimento do fato poderá autorizar a imediata remoção dos feridos, bem
como dos veículos se estiverem prejudicando o tráfego.
Seguindo no artigo 6º, a autoridade deverá apreender os objetos que tiverem
relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais. Esta busca e
apreensão poderá ocorrer:
1- No local do crime;
2- Em domicílio;
3- Na própria pessoa.
A autoridade policial ouvirá o ofendido e o indiciado, que poderão ser
conduzidos coercitivamente para prestar esclarecimentos caso não atendam às
intimações. Poderão ser realizadas acareações e o reconhecimento de pessoas e
coisas.
Deverá ser determinada a realização do exame de corpo de delito sempre que a
infração deixar vestígios.
No decorrer de nosso curso trataremos mais detalhadamente sobre algumas
das citadas providências.
1.9.1 REPRODUÇÃO SIMULADA DOS FATOS
Reza o art. 7º do CPP:
Art. 7
oPara verificar a possibilidade de haver a infração sido
praticada de determinado modo, a autoridade policial poderá
proceder à reprodução simulada dos fatos, desde que esta não
contrarie a moralidade ou a ordem pública.
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A reprodução simulada é um instrumento importante de que dispõe a
autoridade policial para elucidar um crime.
Desde que não contrarie a moralidade ou a ordem pública, todos os passos
do delito podem ser refeitos com acompanhamento de peritos, possibilitando
um maior número de informações para o inquérito.
O indiciado poderá ser forçado a comparecer, mas não a participar da
reconstituição, pois, segundo a Constituição Federal, ninguém é obrigado a
produzir prova contra si.
1.9.2 IDENTIFICAÇÃO DATILOSCÓPICA
Datiloscopia é o processo de identificação humana por meio das impressões
digitais.
O art. 6
o, VIII do CPP trata da identificação datiloscópica, dizendo que a
autoridade policial deverá determiná-la.
Aqui há um ponto importantíssimo que precisa ser deixado bem claro:
Dispõe a súmula 568 do STF que a identificação criminal não constitui
constrangimento ilegal, ainda que o indiciado já tenha sido identificado
civilmente.
Entretanto, tal dispositivo foi editado pela Suprema Corte em 1977 e
encontra-se superado pela Constituição de 1988 que traz expressamente no
art. 5º LVIII o seguinte texto:
Art. 5º [...]
LVIII - o civilmente identificado não será submetido a identificação
criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei;
***A reprodução simulada dos fatos ou reconstituição do crime pode ser determinada durante o inquérito policial, caso em que o indiciado é
obrigado a comparecer e participar da reconstituição, em prol do princípio da verdade real.
GABARITO: ERRADA
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Isso quer dizer então que NUNCA o civilmente identificado será submetido à
identificação criminal? A resposta é negativa, pois o próprio texto
constitucional deixa claro que salvo nas hipóteses previstas em lei.
1.10 PRAZO DO INQUÉRITO
O art. 10 do CPP assim dispõe:
Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o
indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso
preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia
em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias,
quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela.
A partir deste artigo podemos definir a seguinte regra geral para a conclusão do
inquérito:
INDICIADO PRESO 10 DIAS.
INDICIADO SOLTO 30 DIAS.
O parágrafo 3º do supracitado artigo admite a prorrogação do prazo quando o
fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto:
§ 3
oQuando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver
solto, a autoridade poderá requerer ao juiz a devolução dos autos,
para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado
pelo juiz.
Tal prorrogação não encontra um limite definido no CPP, entretanto, segundo
entendimento doutrinário e jurisprudencial deve ser razoável à elucidação dos
fatos.
***O inquérito policial não pode ter seu prazo de conclusão prorrogado.
GABARITO: ERRADA
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Conforme enfatizado, o previsto no art. 10 do CPP é a regra e esta é
excepcionada por algumas leis especiais que fixam outros prazos. Vamos,
agora, conhecer os prazos definidos pelas leis extravagantes:
1.10.1 PRAZOS ESPECIAIS
1
1
-
-
C
C
R
R
I
I
M
M
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E
S
S
C
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/
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1
1
:
:
INDICIADO PRESO OU SOLTO 10 DIAS.
2
2
-
-
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3
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4
3
3
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/
0
0
6
6
:
:
INDICIADO PRESO 30 DIAS.
INDICIADO SOLTO 90 DIAS
3-
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:
:
INDICIADO PRESO 20 DIAS.
INDICIADO SOLTO PRAZO DE 40 DIAS PRORROGÁVEL
POR MAIS 20 DIAS.
4-
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1
1
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0
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/
6
6
6
6
:
:
INDICIADO PRESO PRAZO DE15 DIAS PRORROGÁVEL
POR MAIS 15.
INDICIADO SOLTO 30 DIAS
1.10.2 CONTAGEM DO PRAZO
O prazo para o término do inquérito segue a regra do art. 798 § 1º do CPP,
ou seja, despreza-se o dia inicial e inclui-se o dia final. Como exemplo, se
determinado inquérito teve início no dia 15 de fevereiro às 16:00h,
completará a contagem do primeiro dia às 24:00 do dia 16.
É importante ressaltar que para a contagem do prazo do inquérito não há que
se falar em sábados, domingos e feriados, pois a Polícia Judiciária possui
expediente em tempo integral.
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1.11 O FIM DO INQUÉRITO
Concluídas as investigações, a autoridade policial deverá fazer um relatório
detalhado de tudo o que foi apurado no inquérito, indicando, se necessário, as
testemunhas que não foram ouvidas e as diligências não realizadas.
Art. 10[...]
§ 1º A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido
apurado e enviará autos ao juiz competente.
§ 2º No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que não
tiverem sido inquiridas, mencionando o lugar onde possam ser
encontradas.
A autoridade não deve emitir opiniões ou qualquer juízo de valor sobre os fatos
narrados, os indiciados, ou qualquer outro aspecto relativo ao inquérito ou à
sua conclusão.
Concluído o relatório, os autos do inquérito serão remetidos ao juiz competente,
acompanhados dos instrumentos do crime e dos objetos que interessam à
prova.
Art. 11. Os instrumentos do crime, bem como os objetos que
interessarem à prova, acompanharão os autos do inquérito.
Deverá também a autoridade policial enviar informações relativas ao inquérito
ao Instituto de Identificação e Estatística, nos termos do art. 23 do CPP.
Art. 23. Ao fazer a remessa dos autos do inquérito ao juiz
competente, a autoridade policial oficiará ao Instituto de
Identificação e Estatística, ou repartição congênere, mencionando
o juízo a que tiverem sido distribuídos, e os dados relativos à
infração penal e à pessoa do indiciado.
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1.12 ARQUIVAMENTO
Agora será tratado um tema
importantíssimo
para concurso público e que
consequentemente deve ser muito bem estudado. O art. 28 do CPP assim
dispõe:
Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a
denúncia, requerer o arquivamento do inquérito policial ou de
quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de considerar
improcedentes as razões invocadas, fará remessa do inquérito ou
peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a
denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para
oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só
então estará o juiz obrigado a atender.
1.12.1 COMPETÊNCIA PARA O ARQUIVAMENTO
O primeiro ponto que deve ser deixado claro é que a autoridade competente
para o arquivamento de um inquérito é o Juiz. Diferentemente do que muitos
pensam, a autoridade policial (Delegado) não pode determinar tal ato,
conforme expressamente previsto no já analisado art. 17 do CPP.
Outro ponto importante é a participação do Procurador Geral quando ocorre
divergência de entendimento entre o MP e a autoridade judicial quanto ao
cabimento ou não do arquivamento.
1.12.2 DESARQUIVAMENTO
Dispõe o art. 18 do CPP:
Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela
autoridade judiciária, por falta de base para a denúncia, a
autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de
outras provas tiver notícia.
Perceba que a autorização é SOMENTE para a realização de novas pesquisas,
se surgirem NOVAS PROVAS. Embora tal artigo trate especificamente da
autoridade policial, o STF, na súmula 524, amplia a abrangência consolidando
a jurisprudência:
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SÚMULA 524: Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz,
a requerimento do Promotor de Justiça, não pode a ação penal ser
iniciada, sem novas provas.
Assim, podemos concluir que o despacho que arquivar o inquérito é
irrecorrível, sendo excetuada tal regra somente nos casos de crime contra a
economia popular, onde cabe recurso oficial e no caso das contravenções
penais previstas nos art. 58 e 60 do Decreto-Lei nº. 6.259/44, quando caberá
recurso em sentido estrito.
OBSERVAÇÕES:
1- Não existe número máximo de desarquivamentos, mas, por
ser evidente, se ocorrer a prescrição, decadência ou outra
causa extintiva da punibilidade, não será possível o
desarquivamento.
2- Quando o arquivamento é determinado em virtude da
atipicidade do fato, não é possível o desarquivamento
constituindo, excepcionalmente, coisa julgada material.
3- O Juiz não pode arquivar o inquérito sem a manifestação
neste sentido do titular da ação.
4- Segundo o STJ, o Juiz não pode desarquivar o inquérito
policial de ofício, ou seja, se o IP foi arquivado a
requerimento do Ministério Público, e este não concorda com
a reabertura, a autoridade judicial não poderá reabri-lo para
determinar novas diligências.
Podemos compreender o trâmite do arquivamento através do seguinte quadro
esquematizado:
***Por entender inexistente o crime apurado em inquérito policial, o representante do Ministério Público requereu ao juiz competente o arquivamento dos autos. Em tal caso o juiz, aceitando o pedido do Ministério Público e arquivando o inquérito policial, não poderá desarquivá-lo diante de novas provas.
GABARITO: ERRADA
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1.12.3 ARQUIVAMENTO IMPLÍCITO
Embora seja muito comum sua prática do dia a dia forense, não está
previsto em nenhuma norma expressa, pois se trata de uma construção
doutrinária e jurisprudencial.
O arquivamento implícito é fenômeno no qual o Ministério Público, deixa de
mencionar na denúncia algum (uns) fato (os) criminoso que estava contido
no inquérito ou peça de informação, ou ainda, deixa de denunciar algum
(uns) indiciado, sem se manifestar expressamente os motivos que o
levaram a tal omissão.
Vindo o arquivamento implícito a ser consumado, quando o magistrado ao
exercer sua fiscalização sobre o princípio da obrigatoriedade da ação penal
(art. 28 – CPP), deixa de se pronunciar em relação aos fatos que foram
omissos na denúncia.
Para ficar mais fácil a compreensão, observe como alguns autores tratam do
tema:
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“Entende-se por arquivamento implícito o fenômeno de ordem processual
decorrente de o titular da ação penal deixar de incluir na denúncia algum
fato investigado ou alguns dos indiciados, sem expressa manifestação ou
justificação deste procedimento. Este arquivamento se consuma quando o
Juiz não se pronuncia na forma do art. 28 com relação ao que foi omitido na
peça acusatória” (JARDIM).
“o arquivamento implícito ocorre sempre que há inércia do promotor de
justiça e do juiz, que não exerceu a fiscalização sobre o princípio da
obrigatoriedade da ação penal” (RANGEL).
O arquivamento implícito poderá ser analisado diante de um duplo aspecto.
No aspecto subjetivo; quando tratar-se de omissão de indiciados. E no
aspecto objetivo; quando tratar-se de omissão a fatos investigados.
Exemplo: omissão de outros crimes ou omissão de qualificadoras.
Parte da doutrina ainda prevê uma terceira modalidade de arquivamento
implícito, que ocorrerá quando estiverem sendo investigados vários fatos
criminosos em um único inquérito, e o Ministério Público se pronuncia pelo
arquivamento de todo conteúdo do inquérito, no entanto, se referia apenas
a um dos fatos que foi apurado no inquérito, alegando que este não era
passível de oferecimento de denúncia.
Caso o Juiz homologue totalmente o requerimento, e não se manifeste em
relação aos outros fatos criminosos, estará também configurado o
arquivamento implícito do inquérito policial. É o também chamado de
arquivamento expresso, mas lacunoso.
1.12.4 ARQUIVAMENTO INDIRETO
O arquivamento indireto ocorre na hipótese de o promotor, simplesmente,
manifestar-se no sentido de não oferecer a denúncia sob o fundamento de
que o juízo é incompetente para a ação penal.
Tal situação não é considerada admissível pela doutrina e poderá ocasionar
a responsabilidade disciplinar do promotor. Explico: Se o membro do
Ministério Público entender que o juízo é incompetente deve solicitar ao
magistrado a remessa dos autos ao juízo competente e não deixar de
oferecer a denúncia quando há justa causa.
No caso de haver divergência entre o promotor e o magistrado, por analogia
com o art. 28 do CPP, a “palavra final” será do procurador-geral.
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1.13 REGRAS PROCEDIMENTAIS REFERENTES AO INQUÉRITO
Há no CPP algumas regras meramente procedimentais, mas que são exigidas
em PROVA. Citarei aqui as que são importantes:
Os instrumentos do crime, bem como os objetos que interessarem
à prova, acompanharão os autos do inquérito.
O inquérito policial acompanhará a denúncia ou queixa, sempre
que servir de base a uma ou outra.
O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado poderão
requerer qualquer diligência, que será realizada, ou não, a juízo
da autoridade.
Se o indiciado for menor, ser-lhe-á nomeado curador pela
autoridade policial.
O Ministério Público não poderá requerer a devolução do inquérito
à
autoridade
policial,
senão
para
novas
diligências,
imprescindíveis ao oferecimento da denúncia.
***************************************************************
FUTURO(A) APROVADO, MUITO BOM!!!
AQUI VOCÊ ACABA DE FINALIZAR UM IMPORTANTE
TEMA RUMO À TÃO SONHADA APROVAÇÃO.
DITO ISTO, RESPIRE FUNDO, RECARREGUE AS SUAS
ENERGIAS E VAMOS À LUTA COM O ÚLTIMO ASSUNTO
DE NOSSA AULA!!!
***************************************************************
2.1 AÇÃO PENAL - INTRODUÇÃO
Sabemos que no mundo onde vivemos existem determinados delitos que, por
mais que pensemos, não conseguimos imaginar uma razão pelo menos
compreensível.
Imagine que existisse no Brasil alguém tão “doente” a ponto de jogar uma
criança pela janela. Neste caso, se você pudesse escolher qualquer coisa, o que
faria com este indivíduo?...Então, exatamente para evitar que, motivados por
instintos próprios, fujamos do preceituado no ordenamento jurídico existente,
existe a
AÇÃO PENAL
, através da qual o Estado será capaz de aplicar o direito
penal, na mensuração cabível, ao caso concreto.
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2.1.1 CONCEITO
FERNANDO CAPEZ define ação penal como o direito de pedir ao Estado-Juiz a
aplicação do direito objetivo a um caso concreto. Segundo o renomado autor
é também o direito público subjetivo do Estado-Administração, único titular
do poder-dever de punir, de pleitear ao Estado-Juiz a aplicação do direito
penal objetivo, com a consequente satisfação da pretensão punitiva.
Diante do conceito apresentado, podemos dizer que a ação penal é:
I)
Um direito autônomo, pois não se confunde com o direito
material que se pretende tutelar;
II) Um direito abstrato, pois independe do resultado final do
processo;
III) Um direito subjetivo, pois o titular pode exigir do Estado-Juiz a
prestação jurisdicional;
IV) Um direito público, pois a atividade jurisdicional que se pretende
provocar é de natureza pública.
2.1.2 CONDIÇÕES DA AÇÃO PENAL
Existem determinadas situações em que o direito de ação não pode ser
exercido por não cumprir determinado requisito.
Só para exemplificar, imaginemos que um determinado indivíduo resolve dar
início a uma ação penal exigindo a prisão de seu desafeto pelo fato de ele
torcer para o Flamengo.
É claro que nesta situação a ação não será possível, pois torcer para
determinado time não é crime, certo? Assim, podemos citar as seguintes
condições da ação:
1. POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO;
2. INTERESSE DE AGIR;
3. LEGITIMAÇÃO PARA AGIR;
4. JUSTA CAUSA.
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POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO Para que haja a
possibilidade do início da ação, faz-se necessário a
caracterização da tipificação da conduta, ou seja, a
demonstração de que o caso concreto se enquadra em um fato
típico em abstrato (situação descrita no código penal).
Assim, por exemplo, pode-se dar início a uma ação contra um
indivíduo que matou alguém porque o código penal diz que
MATAR ALGUÉM é fato típico.
Diferentemente, não posso iniciar uma ação contra um indivíduo
que usa camisa amarela pelo simples fato de eu não gostar da
cor...a não ser que a camisa seja minha e ele a tenha furtado...
INTERESSE DE AGIR Constitui a presença de elementos
mínimos que sirvam de base para o Juiz concluir no sentido de
que se trata de acusação factível.
Imaginemos a seguinte situação: Mévio, paulista, tem um
relacionamento de 04 anos com Tícia e é aprovado em um
concurso, com previsão de trabalhar em Brasília.
Tícia, com medo de perder seu amado, tenta complicar a
admissão de Mévio oferecendo uma queixa completamente sem
provas, alegando o delito de calúnia.
Neste caso o Juiz deverá rejeitar a inicial acusatória sob pena de
caracterizar-se hipótese de constrangimento ilegal impugnável
mediante habeas corpus.
O interesse de agir encontra embasamento no código de
processo penal:
Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: [...]
III - faltar justa causa para o exercício da ação penal.
LEGITIMAÇÃO PARA AGIR Em uma ação penal, devemos
atentar para a legitimação ativa e passiva.
No caso da ativa, estamos tratando da pessoa correta para dar
início à ação penal, o que em nosso país, via de regra, é feito
pelo Ministério Público e, em algumas hipóteses, pelo próprio
ofendido (veremos isto mais na frente).
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No polo passivo, estamos tratando de quem está sendo acusado,
ou seja, do Réu.
Imaginemos que Tício, no seu aniversário de 30 anos, resolve
dizer para Mévio, 16 anos, que ele é mais feio que indigestão de
torresmo. Mévio, inconformado com tal declaração, desfere
golpes em Tício ocasionando lesões corporais. Tício tenta iniciar
um processo penal comunicando ao Ministério Público as
inúmeras lesões.
Nesta situação, Mévio está protegido pelo art. 27 do CP e art.
228 da CF, sendo inimputável, ou seja, não podendo figurar no
polo passivo de um processo penal.
JUSTA CAUSA Torna-se necessário ao regular exercício da
ação penal a demonstração, prima face, de que a acusação não é
temerária ou leviana, por isso que é lastreada em um mínimo de
prova.
Este suporte probatório mínimo se relaciona com indícios da
autoria, existência material de uma conduta típica e alguma
prova de sua antijuridicidade e culpabilidade.
Podemos resumir o assunto da seguinte forma:
2.1.3 ESPÉCIES DE AÇÃO PENAL
Quando tratamos do inquérito vimos que em no nosso país as ações penais
são divididas em dois grandes grupos:
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1. AÇÃO PENAL PÚBLICA Subdividida em Pública Incondicionada e
Condicionada.
2. AÇÃO PENAL PRIVADA Subdividida em Exclusiva, Personalíssima e
Subsidiária da Pública.
Vamos agora tratar especificamente de cada forma de ação penal e veremos
que a aplicabilidade de cada uma está relacionada com o quanto
determinado delito importa para a sociedade.
Desde já, cabe ressaltar que
SEJA QUAL FOR O CRIME
, QUANDO FOR
PRATICADO EM DETRIMENTO DO PATRIMÔNIO OU INTERESSE DA
UNIÃO, ESTADOS E MUNICÍPIOS,
A
A
A
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A
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.
.
Vamos começar:
2.2 AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA
2.2.1 CONCEITO
É a ação que pode ser iniciada mediante
DENÚNCIA
, logo que o titular para
impetrá-la tiver conhecimento do fato, não necessitando de qualquer
manifestação do ofendido. É a forma de ação adotada em regra no Brasil.
AÇÃO PENAL PÚBLICA PRIVADA INCONDICIONADA CONDICIONADA EXCLUSIVA PERSONALÍSSIMA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA
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