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Análise Insumo Produto para competitividade do gás natural no Brasil

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Análise Insumo Produto para

competitividade do gás natural no Brasil

Cassiano Ricardo Gomes Peres1

Resumo: Este trabalho aborda a utilização do gás natural por diferentes tipos de

consumidores e setores da economia brasileira. Avalia, através da análise de insumo-produto, como fomentar o uso do gás natural no Brasil. Os resultados demonstram que o setor de distribuição de gás natural possui forte ligação com os setores industriais de (1) Resinas e Elastômeros, (2) Produtos químicos, (3) Aço, metalurgia e produtos de metal e (4) Transporte armazenagem e correio. Sendo que o aumento na demanda final daqueles setores em 7,6% aumentaria a necessidade de gás natural no Brasil em torno de 5%, e produziria um aumento na produção nacional de 6,15%. Adicionalmente, constatou-se que caso houvesse uma redução de 50% das alíquotas de impostos diretos, indiretos e uma diminuição de 12,4% no excedente operacional bruto (lucro) dos setores de exploração e distribuição de gás natural, teríamos uma redução de 10% no preço do gás e uma redução total de preços da economia brasileira da ordem de 0,16%. Conclui-se que mesmo com o adequado arcabouço regulatório, fortes incentivos são necessários para que o gás natural seja competitivo frente outros energéticos.

1 - Cassiano Ricardo Gomes Peres - Doutorando do Departamento de Energia da Faculdade de Engenharia

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1 Introdução

Mesmo depois da publicação das leis 9.478/1997 (Lei do Petróleo) e 11.909/2009 (Lei do Gás) a desejada competição motivada pelo pensamento político liberal dos anos de 1990 não foi alcançada no setor de gás natural do Brasil. Importantes avanços na regulação como a manutenção das autorizações de transporte por 30 anos após a publicação da Lei do Gás e exclusividade do uso de gasodutos por 10 anos após a entrada de operação forneceram a estabilidade necessária para um período de transição, ao fim do qual objetiva-se realizar leilões para construção e operação de gasodutos de transporte.

Adicionalmente, a publicação da resolução ANP 51/2013, que separa as atividades de carregamento (produção, distribuição e comercialização) das atividades de transporte de gás natural, representa mais um avanço claro para o estimulo da competitividade na indústria do gás nacional. Contudo, restam alterações a serem feitas no modo de análise de projetos no PEMAT (Plano de Expansão da Malha de Transporte) e que seja produzida regulação/fiscalização clara e efetiva para os preços de transporte de gás praticados pela única fornecedora de gás natural do mercado nacional, a Petróleo do Brasil S.A. (Petrobrás).

Passados quase 20 anos desde a flexibilização do monopólio do petróleo e da atuação da ANP, ainda temos um monopólio de fato na indústria do gás natural brasileiro. A posição da Petrobrás continua dominante, responde pela produção, importação e transporte de quase todo o gás natural comercializado no Brasil. A empresa também controla a Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia – Brasil S.A. – TBG, proprietária e operadora do gasoduto Bolívia-Brasil. Além disso, possui participação acionária em 19 distribuidoras estaduais de gás natural (a Petrobrás vendeu suas participações na GASMIG em 2014), 6 transportadoras, e conta com um parque termelétrico composto de 21 usinas próprias e alugadas, totalizando 6.407,5 MW de capacidade instalada. Sendo que 5.497 MW são de usinas termelétricas próprias a gás natural, o que corresponde à aproximadamente 42% da capacidade de geração de energia termelétrica a gás natural do Brasil em 2015.

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Figura 1 demonstra as participações da Gaspetro (subsidiária da Petrobrás) em várias empresas.

Figura 1 – Partições da Gaspetro

Fonte: Gaspetro (2012)

À parte das discussões sobre regulação existem dois fatos básicos que necessitam ser abordados em relação ao desenvolvimento da indústria do gás natural nacional: a demanda e os preços do gás. Por definição o gás natural é um energético de substituição, e concorre principalmente com a eletricidade, óleo combustível, óleo diesel e GLP. É neste escopo que este trabalho se desenvolve.

Os objetivos aqui pretendidos são; (i) identificar quais setores são chaves para o estímulo do gás natural no Brasil; (ii) avaliar os impactos de uma possível política fiscal de fomento ao uso do gás natural; e (iii) avaliar os impactos da redução de preços do gás natural.

Para isso será utilizada a metodologia de insumo produto. A seguir passaremos para uma breve descrição do consumo de gás natural no Brasil.

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2 Consumo de gás natural no Brasil

Em 2014 o Brasil teve uma oferta de gás natural média de 100 milhões de m³ / dia, sendo que 73,4 milhões de m³ / dia foram para venda nas distribuidoras, 14 milhões de m³ / dia para consumo em refinarias e fábricas de fertilizantes nitrogenados (FAFENS) e 12,6 milhões de m³ / dia para consumo térmico direto do produtor e de consumidores livres. Dos 100 milhões de m³ / dia ofertados, 48,3 milhões de m³ / dia são de origem nacional e 51,71 milhões de m³ / dia de origem importada.

O consumo de gás natural tem crescido de modo constante no Brasil desde a entrada em operação do gasoduto Bolívia-Brasil, em 1999. A taxa composta média de crescimento foi de 10,8% para o período entre 2000 e 2013. Contudo, o consumo de gás no Brasil tem um padrão diferente de outros países emergentes, pois o setor industrial é o principal demandante enquanto o setor de geração termoelétrica é extremamente variável e altamente dependente das chuvas e disponibilidade de geração hidrelétrica.

A Figura 2 demonstra a variação do volume por segmentos de consumo de gás natural no Brasil. Vemos que a participação do setor industrial mudou, contudo os valores absolutos de consumo não variaram tanto entre 2011 e 2014, em torno de 40 milhões de m³ / dia. Já o setor de geração de energia variou de 10 para quase 50 milhões de m³ / dia no mesmo período.

Figura 2 – Consumo (mil m³ / dia) de gás natural no Brasil por segmento, entre 2009 e 2014

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Quando olhamos o consumo de gás natural dentro da categoria indústria vemos que existe uma forte participação do setor industrial de Metais não ferrosos e outros, Cerâmico, Ferro Gusa e Aço, e Químico. A Figura 3 demonstra a evolução dos consumos de gás natural por setor industrial dentro da categoria de consumo indústria.

A maior parte dos consumidores de gás natural do Brasil se encontra na região sudeste, 93%, que consome cerca de 64% do gás distribuído. Os dois estados mais intensivos no uso de gás natural são São Paulo e Rio de Janeiro. Em São Paulo 68% do gás distribuído em 2014 destinou-se ao segmento industrial, enquanto 17% ao segmento de geração termelétrica. Já no Rio de Janeiro, 13% do gás foi consumido pela indústria e 74% pela geração termelétrica.

Figura 3 – Evolução do consumo de GN por segmento industrial (10³ tep)

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O consumo pela indústria de gás natural no Estado de São Paulo pode ser dividido conforme demonstra a

Figura 4.

Figura 4 – Consumo de GN por segmento da indústria de São Paulo em 2013

Fonte: Balanço energético do estado de São Paulo 2014

O consumo pela indústria de gás natural no Estado do Rio de Janeiro pode ser dividido conforme demonstra a Figura 5.

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Fonte: Balanço Energético do Rio de Janeiro 2014

Pode-se notar que no estado de São Paulo existe uma distribuição mais balanceada no uso de gás natural entre os setores de Cerâmica, Químico, Ferro Gusa e Aço, Papel e Celulose e Alimentos e Bebidas. Enquanto, no estado do Rio de Janeiro temos alta concentração do uso de gás nos setores de Ferro Gusa e Aço, e Química. A Tabela 1 demonstra a intensidade do uso de gás natural em cada um dos setores acima mencionados.

Tabela 1 – Intensidade do uso de GN em setores industriais 2013 (10³ tep) Setores industriais São Paulo Rio de Janeiro

Ferro Gusa e Aço 475,0 628,4

Química 634,0 120,2

Papel e Celulose 401,0 32,2

Cerâmica 632,0 1,4

Consumo de GN dos setores acima na região 2.142,0 782,2 Consumo industrial total de GN na região 3.672,0 1.114,4 Fonte: Elaboração própria

Como mencionado anteriormente a principal barreira para entrada de novos agentes no setor de gás natural é o transporte. Atualmente, a Petrobras é a única transportadora e possui participação em 19 das 27 distribuidoras locais de gás natural do Brasil. Esse monopólio gera uma situação circular, onde novos investimentos na malha de transporte não se justificam pela falta de demanda. Por exemplo, no Plano Decenal de Expansão da Malha de Transporte Dutoviária (PEMAT 2022), publicado em 2014, o único gasoduto previsto resultou de provocação da Petrobras, para atendimento ao Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (COMPERJ).

Neste sentido, a próxima seção deste trabalho será destinada a analisar quais setores da economia brasileira mais solicitam o gás natural e como uma política fiscal poderia

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fortalecer e aumentar a demanda final de gás natural no Brasil. E para isso será utilizada a metodologia de análise insumo-produto.

3 Análise Insumo-produto

A análise de insumo produto dos setores de exploração e distribuição de gás foi baseada na economia brasileira de 2009, principalmente por não apresentar grande influência dos despachos de térmicas a gás. Tradicionalmente o setor de exploração de gás encontra-se agregado no setor de Petróleo e gás natural, e o setor de distribuição de gás natural encontra-se agregado no setor de Produção e distribuição de eletricidade, gás, água, esgoto e limpeza urbana. Nesta análise os setores de exploração e distribuição de gás natural foram desagregados, e a matriz de dimensão 56 por 56 (56 setores) foi agregada para uma matriz de 30 por 30 (30 setores).

O modelo de insumo produto representa as transações monetárias entre setores de uma determinada economia, em um determinado ano. O dados necessários para a construção do modelo são os fluxos monetários de cada setor industrial produtor para cada setor comprador, e também o fluxo monetário dos setores produtores para compradores não industriais, como famílias, governo e exportação. Tais setores não industriais compradores formam a demanda final, que é mais exógena à produção. A Figura 6 demonstra essas relações.

Na Figura 6 os elementos z representam o consumo intermediário entre setores da economia, por exemplo, z21 representa em valor monetário que o setor 1 da economia

consumiu do setor 2 para produzir x2. Os elementos c, i, g, e representam o consumo das

famílias, os gastos em investimento, os gastos do governo e as exportações – juntos formam a demanda final f. Os elementos l representam as remunerações pagas às famílias pelos setores e os elementos n representam todas as outras formas de pagamento dos setores, tais como: excedente operacional (lucro das empresas), rendimento misto (ganhos de empresas não constituídas em sociedade), impostos indiretos líquidos e impostos de produção. Já os elementos m representam as importações.

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Fonte: Miller & Blair (1985)

De forma resumida, podemos utilizar a teoria de insumo produto para avaliar as variações na produção de um determinado setor, quando aumentamos a demanda final de algum setor. Isso nos permite predizer em termos gerais como a economia de um setor ou país irá se comportar frente as variações que possíveis políticas de incentivo possam ter.

Leontief desenvolveu seu modelo admitindo que a relação entre os insumos consumidos em cada atividade e a produção total dessa atividade é constante e medida no que chamou de coeficiente técnico de produção, definido como: aij =

xj zij

, onde aij representa o valor

produzido na atividade i e consumido pela atividade j para produzir uma unidade monetária.

Para mais informações e detalhes da teoria de insumo produto recomenda-se a leitura de GUILHOTO (2005) e MILER & BLAIR (1985).

As duas equações básicas utilizadas do modelo de insumo produto serão: Dx = L . Df e Dp = L´ . Dvc

onde,

Dx = variação na demanda total; Df = variação na demanda final; Dp = variação de preços; Dvc = variação de valor adicionado por unidade produção; L = matriz inversa de Leontief; L´ = transposta da matriz inversa de Leontief;

Como mencionado anteriormente, a matriz L, inversa de Leontief, foi obtida através da matriz de insumo-produto da economia brasileira em 2009, matriz Z agregada em 30

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setores, com o setor de extração de gás natural desagregado1. E, de modo a explorar melhor

a competitividade do gás natural e seus impactos na economia brasileira os objetivos do trabalho foram divididos através de três perguntas mais específicas:

1) Quais setores da economia brasileira mais utilizam, e em que proporção o fazem, o gás natural como insumo para sua produção?

2) Quais seriam os impactos no setor de distribuição de gás natural de aumentos expressivos na demanda final dos setores anteriormente identificados?

3) Qual deveria ser a redução no lucro (excedente operacional bruto) das empresas dos setores de extração e distribuição de gás natural, juntamente com a redução de impostos, para que o preço do gás natural diminuísse 10% em 2009?

3.1 Matriz de coeficientes técnicos da economia brasileira

Averiguando-se as contas nacionais percebemos que o setor de extração de gás natural, em 2009, alimentou principalmente os setores de distribuição de gás natural e refino de petróleo, respectivamente 51% e 38% de toda a produção do setor de extração de gás natural, que foi de R$ 9,4 milhões. Já o setor de distribuição de gás alimentou principalmente os setores de Aço Metalurgia e Metais (11%), Comércio (9%) e Produtos Químicos (8%).

A Tabela 2 fornece os coeficientes técnicos do setor de distribuição de gás, esses coeficientes representam o quanto o setor de gás encanado deve fornecer para cada setor específico produzir uma unidade (em termos monetários) de produto à demanda final.

Tabela 2 – Contribuição do setor de gás encanado para indústria e comércio Resinas e elastômeros Produtos químicos Aço, metalurgia e produtos de metal Transporte, armazenagem e correio Comércio 4,7% 2,3% 1,2% 0,4% 0,3%

1 Por motivos de espaço não foi possível inserir neste texto a matriz insumo produto citada anteriormente, os

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A seguir passaremos para análise das questões 2 e 3, apresentando os resultados que os choques nas demandas finais dos setores acima identificados teriam no setor de distribuição de gás.

3.2 Choques nas demandas finais dos setores mais intensivos de GN como insumo

Em 2009 a economia brasileira passava por um revês decorrente da crise financeira mundial ocorrida em 2007. Conforme vemos na Figura 7 o PIB brasileiro encolheu 0,3% em 2009, situação muito semelhante ao contexto atual, e em 2010 houve um forte crescimento de 7,6%.

Em 2008 e 2009 o governo federal promoveu políticas para aumentar o consumo das famílias facilitando crédito, aumentando o aumento de repasses de programas sociais, reduzindo taxas e impostos aduaneiros para indústrias orientadas ao consumo de automóveis e manufaturados de linha branca. Houve uma redução de 50% de IPI para automóveis flex e de 100% para automóveis a gasolina até duas mil cilindradas.

Figura 7 – Evolução do PIB brasileiro entre 1995 e 2014

Fonte: IGBE (2015)

A exemplo do que ocorreu em 2010, a premissa desse trabalho baseia-se num aumento de 7,6% dos setores de Resinas e elastômeros, Produtos químicos; Aço, metalurgia e produtos

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de metal; Transporte, armazenagem e correio; e Comércio com base na redução de impostos dos referidos setores na mesma proporção da redução dos impostos acima citados, ou seja, serão reduzidos os impostos diretos e indiretos em 50%.

A Tabela 3 demonstra os resultados que teriam o aumento na demanda final dos setores identificados na produção do setor distribuição de gás natural.

Tabela 3 – Choques individuais nos setores identificados

Resinas e elastômeros Produtos químicos Aço, metalurgia e produtos de metal Transporte, armazenagem e correio Comércio Participação setorial 4,75% 2,26% 1,20% 0,42% 0,33%

Valor da produção (R$ mil 2009) 21.566 64.447 169.590 270.901 491.963

Df 7,60% 1.639 4.898 12.889 20.588 37.389

Dx Distribuição de gás 0,51% 0,74% 1,21% 0,65% 0,87%

Vemos que o setor de distribuição de gás natural teria o maior impacto com o aumento da produção do setor de Aço, metalurgia e produtos de metal. Um aumento de 7,6% da demanda final daquele setor resultaria num aumento de 1,21% na produção do setor de distribuição de gás natural.

Ademais, considerando uma política que favorecesse o aumento simultâneo da demanda final de todos os setores identificados, e que esse aumento fossem da ordem de 10% teríamos um aumento da produção do setor de distribuição de gás natural da ordem de 5,25%.

Seguindo a avaliação, será abordada a questão da variação dos preços em impostos (diretos e indiretos líquidos) e remuneração (excedente operacional bruto) dos agentes do setor de gás natural.

3.3 Choques nos preços do setor de gás natural

Para simulações de preços serão trabalhados dois setores, o de extração de gás natural e distribuição de gás natural. As premissas adotas serão a redução da ordem de 50% nos impostos diretos e indiretos desses setores, a exemplo do que ocorreu com a redução de IPI para automóveis em 2009.

A partir de dados de demonstrações financeiras da Comgás e CEG, a duas maiores distribuidoras de gás natural para indústria no Brasil, verificou-se que em 2009 o preço médio do gás natural para o setor industrial das duas concessionárias foi de 14,65 US$ /

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MMBtu. A Tabela 4 demonstra a composição dos preços agregados do gás natural nas duas distribuidoras em 2009.

Tabela 4 – Agregado de preço de gás natural do segmento industrial Segmento industrial 2009

Comgás CEG Total

Volume (MMBtu) 123.609.813 18.741.982 142.351.795 Receita Bruta (US$) 1.831.160.357 254.267.829 2.085.428.185 Preço médio (US$ / MMBtu) 14,81 13,57 14,65

Os preços do gás para consumidores finais no Brasil são altos quando comparados com aqueles de outros mercados da América do Sul e até da Europa: grandes consumidores industriais chegam a pagar mais de US$ 16/MMBtu, conforme MME (2009) enquanto o preço do mesmo produto na União Europeia foi de 13,53 US$ / MMBtu.

Logo, também foi considerada uma redução efetiva das margens dos setores de exploração e distribuição de gás, o que significa diminuir o valor do excedente operacional bruto (EOB) dos dois setores, até que o preço do gás natural ofertado ao mercado nacional diminua 10% e se aproxime do preço praticado na União Europeia.

O resultado das simulações indica que para se alcançar uma redução de 10% nos preços do setor de distribuição de gás em 2009, deveríamos ter além da redução 50% de impostos diretos e indiretos líquidos, uma redução de 12,4% dos excedentes operacionais brutos (lucros) das empresas dos setores de extração e distribuição de gás natural.

4 A competitividade do gás natural frente outras fontes

de energia

Diferentemente de outras fontes energéticas o gás natural apresenta uma série de vantagens como menor custo operacional, poluir menos que seus produtos substitutos e possuir elevado potencial de mercado no Brasil. É um combustível bastante versátil, pois pode ser utilizado tanto na geração de energia elétrica, quanto em motores de combustão do setor de transportes, na produção de chamas (como substituto do GLP), calor e vapor. Ou seja, é um combustível que tecnicamente possui penetração em todos os setores da economia. A Tabela 5 demonstra as principais fontes de energia dos setores da economia brasileira em 2013.

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(10³ tep) Industrial Transporte Energético Residencial Comercial Gás Natural 9.737 1.647 5.824 321 181 Óleo combustível 2.677 957 354 - 14 Óleo diesel 1.154 38.433 1.307 - 6 Gasolina automotiva - 24.393 - - - Álcool - 11.889 - - - Gás liquefeito de petróleo 1.027 - 78 6.521 420 Bagaço de cana 17.238 - 12.241 - - Lenha 7.706 - - 5.741 96 Carvão Mineral 3.630 - - - - Carvão Vegetal 3.661 - - 402 90 Coque 7.807 - - - - Eletricidade 18.067 162 2.551 10.741 7.257 Total do setor 88.295 83.153 26.139 23.730 8.064 Fonte: MME (2015)

Assim, podemos elencar quais são as principais fontes energéticas concorrentes ao gás natural em termos de volume, conforme Tabela 6.

Tabela 6 – Principais concorrentes ao gás natural por segmento

Segmento Principais fontes energéticas

Industrial Eletricidade, Bagaço de cana, lenha, coque, carvão Transporte Óleo diesel, gasolina automotiva e álcool

Energético Bagaço de cana e óleo diesel

Residencial Eletricidade, GLP, lenha

Comercial Eletricidade e GLP

Fonte: Elaboração própria

A

Tabela 7 demonstra as variações de preços e volumes versus variações de número de clientes das duas principais concessionárias de energia elétrica e de gás natural do estado de São Paulo, entre 2013 e 2014.

Tabela 7 – Comparações entre Comgás e Eletropaulo

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Preço Volume Clientes Comgás Eletropaulo Comgás Eletropaulo Comgás Eletropaulo

Residencial 6,1% 4,3% -6,3% -3,3% 70.674 85.962

Industrial 6,1% 7,1% -3,2% -5,5% 24 -770

Comercial 6,0% 7,7% 2,1% 9,8% 1.454 -25.420

Fonte: Demonstrações resultados Comgás e Eletropaulo, 2014

Vemos que a penetração do gás natural no setor comercial e residencial é maior que na indústria. De fato, considerando que a base de clientes da Comgás entre 2013 e 2014 foi em torno de 1 000 000 enquanto a da Eletropaulo foi de 6 000 000, o incremento de clientes residenciais da Comgás foi proporcionalmente muito maior. E no segmento comercial vemos um claro avanço do gás, haja vista que a base de clientes da Comgás neste segmento é de aproximadamente 13 000 enquanto a da Eletropaulo é de 370 000.

Apesar de verificarmos aumentos maiores do gás natural, em termos relativos os preços desse produto são atrativos quando comparados com os preços da energia elétrica. A Tabela 8 demonstra os preços equivalentes das concessionárias Comgás e Eletropaulo, de 2013 e 2014.

Tabela 8 – Preços equivalentes de energéticos, Comgás e Eletropaulo (R$ / m³)

(R$ / m³) 2014 2013

Comgás Eletropaulo Comgás Eletropaulo

Residencial 3,82 3,39 3,60 3,25

Industrial 1,43 3,01 1,35 2,81

Comercial 2,65 3,2 2,50 2,97

Fonte: Elaboração própria

No segmento industrial o preço do gás natural deve ser tal que incentive o futuro consumidor, não somente a mudar de energético, como também a custear a conversão dos seus equipamentos. A definição de um preço competitivo para o gás natural, ou seja aquele que possibilitará a troca de energéticos, pode ser obtida através da utilização de um preço econômico ou de fatores prêmio.

O preço econômico computa além o preço do combustível, óleo combustível por exemplo, os custos de armazenagem, aquecimento, manutenção de equipamentos, pesagem, e levam em conta o rendimento do equipamento com aquele combustível. Algebricamente

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Pe(o) = preço econômico do óleo combustível ; P(o) = preço do óleo combustível ao consumidor ; Ca = custo de armazenagem ; Caq = custo de aquecimento ; Cm = custo de manutenção ; Cp = custo de pesagem ; h(o) = rendimento energético do óleo no equipamento considerado.

O preço competitivo do gás natural pode ser calculado pela equação: Pe(g) = P(g) / h(g), onde Pe(g) é o preço econômico do gás natural ; P(g) é o preço do gás ao consumidor e h(g) é o rendimento do gás no equipamento considerado.

No equilíbrio teremos Pe(o) = Pe(g). Desse preço deve ser deduzido o custo unitário de conversão do equipamento, ao menos durante o período necessário à amortização dos investimentos do consumidor que pode variar entre 2 e 5 anos.

Alternativamente, pode-se utilizar o conceito de “premium value” ou fator prêmio. É um prêmio que se pode adicionar ao preço do gás, levando em conta suas vantagens e rendimento. GOMES (1996) realizou um cálculo para as diferentes indústria do estado de São Paulo, e a Figura 8 demonstra os fatores prêmio para cada tipo de indústria.

Figura 8 – Fator prêmio médio por setor industrial – São Paulo

Fonte: Gomes (1996)

Conforme vemos na Figura 9, os preços do óleo combustível permaneceram um pouco abaixo dos preços do gás natural em 2014. Enquanto os preços do gás natural variaram entre 18 e 16 US$ / MMBtu, os preços do óleo combustível variaram entre 17 e 15 US$ / MMBtu. Dentro da margem do fator prêmio para os setores industriais (de 4 a 14%). Logo não percebemos grandes incentivos para a indústria substituir óleo combustível pelo gás natural.

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Figura 9 –Preços do gás natural (barras azuis) e óleo combustível (linha vermelha) para indústria em SP (20 mil m³/dia)

Fonte: MME (2015)

A baixa penetração no setor residencial pode ser atribuída a vários fatores: o clima moderado do Brasil, a falta de infraestrutura urbana, subsídios ao GLP, altos preços do gás natural e a falta de financiamento para pequenas distribuidoras locais de gás. Quanto ao GNV, em janeiro de 2014 o Brasil tinha 1 162 postos e aproximadamente 1,8 milhão de veículos. A competição deste segmento se dá com o etanol, e principalmente depois do advento dos carros flex a conversão de carros para o GNV diminuiu drasticamente. Além disso os seguintes fatores impedem a adoção maciça do GNV.

 Falta de infraestrutura com pressão adequada para entrega eficiente de gás para compressores em estações de GNV;

 Relutância dos fabricantes brasileiros de carros para instalação de kits de GNV antes do veículo deixar a fábrica (consumidores são penalizados perdendo a garantia do veículo depois que a conversão é realizada);

 Os cilindros de alta pressão ocupam grande parte dos porta malas e ainda são bem pesados;

 A maioria dos ônibus são de ciclo diesel, o que significa que o gás natural não pode ser usado como único combustível (depois de dois a cinco anos, os proprietários de frotas revendem os ônibus para empresas localizadas no interior do Brasil, onde muitas localidades não possuem estações de GNV).

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Relativo à geração termelétrica à gás natural, constatamos a grande variação do consumo de gás natural deste setor está ligada a disponibilidade de energia hidráulica. E que, nesse setor existem exigências regulatórias que impedem o fortalecimento do uso de gás natural como fonte de geração de energia. Pois, o sistema elétrico brasileiro é hidro térmico, sendo que as térmicas só entram em operação quando os custos marginais da geração hidráulica estão muito altos.

Ademais, nos leilões de energia elétrica os proponentes devem comprovar mediante documento de compromisso a disponibilidade de gás natural para um período entre 20 e 30 anos. E como a única provedora de gás é a Petrobrás, que também atua no setor de energia. Essa exigência serve apenas para consolidar a Petrobrás como única geradora térmica a utilizar gás natural no Brasil.

5 Conclusões

Após realizada a análise insumo produto dos setores de exploração e distribuição de gás, concluímos que os setores chaves para a indústria do gás natural são (1) Aço, metalurgia e produtos de metal, (2) Comércio e (3) Produtos químicos.

Verificamos que a penetração do setor comercial, entre 2014 e 2013, foi maior que nos outros segmentos principalmente quando comparado o gás natural e a eletricidade. Já a comparação dos preços entre o gás e o óleo combustível no segmento da indústria demonstrou que não existiu grandes incentivos para substituição ou implantação de maquinário que utilize gás ou invés do óleo combustível. Principalmente, que o preço econômico dos dois combustíveis são praticamente idênticos.

Para o autor ficou bem claro que mesmo com a implantação de regulação mais incisiva para aumentar a concorrência no setor de gás natural brasileiro, ainda sim restam importantes ações governamentais para o estímulo do consumo do gás natural. Com a atual configuração tecnológica, retratados pelos coeficientes técnicos da matriz insumo produto, mesmo com um forte aumento da demanda de gás natural em vários setores chaves teríamos um aumento moderado no setor de distribuição de gás natural.

Finalmente, mesmo com uma redução forte de impostos diretos e indiretos líquidos dos setores chaves para a demanda do gás natural ainda sim seria necessária uma grande redução do excedente operacional bruto (lucro) dos setores de exploração e distribuição de gás natural. Permitindo assim substituição tecnológica de maquinário para o gás natural e fomentando o consumo do energético em setores chaves.

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6 Bibliografia

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Referências

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