ABSTRACT: The aim of this paper is to discuss the ideological role of English as an International Language (ElL). We try to demonstrate that the spread of English is part of a world process in which some nations and peoples are being politically and culturally dominated by others.
KEY WORDS: ideolgy, English as an International Language (ElL), neutrality, naturality and benefit.
Os falantes do mundo estao divididos em duas partes: aqueles que falam a lfngua universal - 0 ingles, os escolhidos e aqueles que falam as outras linguas - as locais, os exclufdos. Essa divisao e ainda mais acentuada em pafses como 0Brasil, pois, alem dos exclufdos da lfngua da globaliza~ao, encontram-se aqueles exclufdos da modalidade escrita de J{ngua nacional - os analfabetos.
Este artigo faz parte do projeto Integrado CNPq
Da Torre de Marfim
a
Torre
de Babe4 uma analise discursiva do ensino-aprendizagem da escrita em Ungua
materna e lIngua estrangeira.
Objetivamos, ainda que sumariamente, refletir sobre 0 papel ideol6gico da Ifngua inglesa no mundo e mais especificamente no Brasil, com 0intuito de ajudar a entender melhor 0alcance de nosso trabalho como professores de lfngua inglesa.
A espa~onave "Voyager" levava mensagens de boas vindas em 55 lfnguas faladas na terra, mas a mensagem principal foi gravada em ingles, pelo secretlirio geral das Na~oes Unidas (Pennycook, 1994: 1). As implica~oes que subjagem a este tipo de escolha - a da lfngua que levara a mensagem principal - passam desapercebidas em nossa sociedade. Assim, parece indiscutfvel e, portanto, natural que a mensagem principal seja gravada na principallfngua falada da terra.
A "escolha" da Hngua inglesa como Hngua universal e tida como "natural" e as questoes levantadas pelos lingiiistas, de urn modo geral, referem-se a implica~oes metodol6gicas ou relativas aos aspectos estruturais ou sintaticos. Assim, discute-se 0 metodo, a abordagem, as estrategias, etc. de aquisi~ao do ingles, mas nao 0seu papel e as implica~oes ideol6gicas no mundo atual.
Para se discutir a lfngua inglesa e0discurso da globaliza~iio
e
necessario trazer It baila as mudan~as pelas quais passou 0discurso do InglBs como LIngua Internacional (ILl). Pennycook (id, ibid: 6) assevera que 0 discurso do InglBs como Lingua Internacional:mudou de um discurso de expansiio colonial, passando por um discurso de ajuda ao desenvolvimento, para um discurso de mercado internacionallivre. (tradu~iio nossa)
Segundo 0 autor, 0 discurso do
ILl
baseia-se em 3 pontos tornados como evidentes e indiscutfveis: a naturalidade, a neutralidade e 0beneficio. Partiremos desses 3 pontos abordados pelo autor para defender os argumentos levantados aqui.A difusiio da lfngua inglesa
e
tida comonatural
no sentido de ser vista como urn resultado de for~as globais inevitaveis;e
vista comoneutra,
ja que se pressupoe que a lfngua tenha se expandido como lfngua de comunica~iio universal, de algum modo dissociada de seu contexto cultural e, por ultimo,e
consideradabeneftca,
ja que possibilita uma comunica~iio igualitaria e cooperativa entre as na~oes.A naturalidade, neutralidade e beneficio funcionam como mitos que, tornados a priori num contexto universal, na verdade corroboram para apagar as condi~oes de produ~iio do discurso do
ILl
que se apresenta apoiado na filosofia positivista, camuflando a ideologia, ou seja, as rela~oes de poder. Utilizamos ideologia niio enquanto macro-estrutura - representada pelas rela~oes de poder em 2 polos: a classe dominante (os opressores) e a classe dominada (os oprimidos), conforme concebe Marx, por exemplo, mas enquanto:As discussoes acima sobre ideologia e poder levam-nos a encarar as no~oes de naturalidade, neutralidade e beneficio associadas It difusiio do
ILl
como ideol6gicas, como valores culturalmente adquiridos, como mitos que devem ser desnaturalizados.Naysmith (Apud Pennycook, 1994: 21) admite que
• 0ensino da [{ngua inglesa faz parte de um processo no qual uma parte do mundo se
tornou po[{tica, econ{jmica e culturalmente dominada por outra. (tradu~iio nossa) Assim, niio
e
devido a urn acidente fisico que a lfngua inglesa se tornou tiio difundida internacionalmente, mas como resultado de for~as de poder que visam promover 0usa mundial do inglBs por razoes de domina~iio econ6mica e polftica. Nesse sentido, a lfngua inglesae
"vendida" como uma mercadoria que da acesso ao prestfgio econ6mico e social e It cultura acadBmica.o
"corpus" de nossa analise consiste em material de propaganda utilizado por cursos de lfngua, do qual pretendemos levantar as imagens veiculadas.o
ensino de ingles como L.E. evidentemente traz vantagens tanto para aqueles que 0 promovem (produtores de material didatico, donos de cursos de Ifnguas, professores, etc.) quanta para os alunos (acesso a uma lfngua de prestfgio). Nesse sentido, 0ensino de ingles e urn neg6cio lucrativo, haja vista a infinidade de cursos, metodologias, exames (TOEFL, IELTS, Cambridge, Michigan, etc.), trabalhos, disserta~oes, teses, encontros, seminlirios, congressos, etc.Por se tratar de urn neg6cio, urn born neg6cio alias, existe todo urn "marketing" que envolve as transa~oes comerciais. As propagandas dos cursos de lingua partem do pressuposto de que0aprendizado da lingua inglesa e benefico. A ideia de modernidade,
globaliza~ao, intercdmbio, Internet, informatiza~ao, TV a cabo, etc. estao sempre presentes:
Outro recurso utilizado nas propagandas dos cursos e transferir a responsabidade ao interlocutor pela escolha ou nao de dominar a lingua inglesa e, conseqiientemente, pelo seu sucesso ou nao na vida:
The business world is divided in two parts. The ones who speak English and the ones who don't.
Which side are you?
o
mundo dos neg6cios estd dividido em duas partes. OsquefalamingMs e os que niio.
De que lado voc2 estd?
Chamamos a aten~ao para a imagem que subjaz a essa dicotomia: 0genocfdio
lingilfstico; pois, a partir do momenta em que se restringem os falantes do mundo, divididos em dois tipos, aqueles que falam 0ingles e os que nao falam,
desconsideram-se as diversidades lingilfsticas. 0 ingles amedronta as outras lfnguas e esta difusa9 dramatica ocasiona urn fen6meno de restri~ao lingilfstica, caminhando-se em dire~ao ao monolingilfsmo.
Assim como toda propaganda pretende vender urn objeto associando-o, geralmente, a urn outro culturalmente desejavel, propagandas de cursos de ingles fazem usa dessa estrategia, como se pode obervar a seguir:
Voc2 que estd numa das melhores universidades do pats sabe muito bem como 0ingMs
Informamos que esta propaganda foi exposta em mural da Unicamp.
o
homem moderno que quer se globalizar nao pode perder tempo. A rapidez constitui-se em urn dos recursos utilizados na propaganda, de alto valor argumentativo:Business. Tecnico. Cient(jico. Viagem. Para quem niio tem tempo
Aperder IngMs em 12 meses
Turmas reduzidas Horariosjlex{veis e programaveis.
Obervamos que a norrao de rapidez se manifesta lingUisticamente por frases nominalizadas ou curtas, nessa propaganda.
Temas de pertin8ncia mundial SaDassociados comumente
a
Hngua inglesa, com o intuito de persuadira
globalizarrao:Cursos para crianfas a partir de 4 anos- artes, jogos, ecologia.
Chamamos atenrrao para 0tema ecologia, nessa propaganda.
Concebida como uma mercadoria, a venda do ingl8s ongina competitividade, seja do ponto de vista econ6mico, como em:
o
professor nativo e 0 material importado SaD costumeiramente apresentadosnas propagandas, como em:
o
mito do professor nativo ou material importado, lingiifsticamente puro e imaculado, carrega uma ideologia de primazia dos falantes de uma Hngua particular, enfatizando 0biol6gico em detrimento do social. Eu diria que, em ultima instAncia,e
0mesmo constructo te6rico da "rarra pura".
Dos exemplos analisados, observamos que 0 ingl8s
e
comumente "vendido" como uma mercadoria util, modern a e fundamental para a felicidade do ser humano sobre a face da terra.Ha urn discurso dominante do Ingl@s como Lingua Internacional (ILl) que tende a ignorar a hist6ria dessa difusiio, trazendo
a
tona apenas aspectos de for~as globais como naturais e livres de ideologia.o
treinamento profissional de ELT (English Language Teaching) concentra-se em aspectos lingUisticos, cognitivos, educacionais, etc. Pouca aten~iio (para niio dizer nenhuma) tern sido dada aos aspectos ideol6gicos e ao papel do ingl@s no mundo. Precisamos repensar a dicotomia desenvolvido X subdesenvolvido: ao dividir assim 0 mundo, tende-se a prescrever uma serie de procedimentos de melhoria baseados na no~iio de palses competindo igualmente em uma economia global e na no~iio de que, para alcan~ar tal desenvolvimento, as popula~oes precis am mudar sua tradi~iio e sua lingua.Em suma, pretendemos levantar tres problematiz~oes:
1- no que se refere
a
falta de questionamento quantoa
escolha, pois, parece que os indivlduos e n~oes siio livres em escolher 0ingl@s;2- de que ha uma visao estruturalista e positivista de lingua que sugere que todas as linguas possam ser livres de influ@ncias culturais e politicas e que 0 ingl@s pelo seu
"status" de lingua internacional e mais neutro que outras Hnguas e
3- quanto ao fato de as rela~oes internacionais sugerirem que as pessoas e as na~oes sejam livres para lidar umas com as outras em grau de igualdade e, por ser 0 ingl@s0
veiculo dessa comunica~iio mundial, ele traz, portanto, beneficios.
Opondo-se ao ponto de vista que considera a difusiio do ingl@s como natural, neutra e benefica, pretendemos buscar suas implica~oes sociais, econ6micas e de rela~oes de poder. Urn dos pontos a desconstruir e a concep~iio do ILl como uma no~iio onto16gica a-priori, entendendo-o, outrossim, como urn constructo te6rico, urn sistema de rela~oes de poder-saber que produzem significados muito particulares da lingua inglesa e do ensino do ingl@scomo L.E.
Finalizamos com uma cita~iio da obra de Daniel Defoe (1719/1975: 213), na qual, Robinson Crusoe, ap6s conhecer Sexta-Feira, diz0seguinte:
Eu fiquei imensamente contente com ele (meu novo companheiro) e tomei como meu encargo ensinar-Ihe tudo que era necessdrio para tornd-Io util, eficiente e prestativo, especialmente faze-Io falar, e me entender ..•(tradu~ao nossa, tirado de The life and adventures of Robinson Crusoe)
RESUMO: 0 objetivo deste artigo
e
discutir 0papel ideoLOgico do Ingles como LfnguaInternacional (IU). Pretendemos demonstrar que a difusiio do ingLes faz parte de um processo mundial no qual na~{jes e pa(ses estiio sendo polftica e culturalmente dommadasporou"a~
PALAVRAS-CHAVE: ideologia, Ingles como Lfngua Internacional (ILl), neutralidade, naturalidade e benef(cio.
CHAUf, M. (1980) 0 que
e
ideologia. Sao Paulo: Ed. Brasiliense Cole~iio Primeiros Passos. 9a ed.DEFOE, D. (1719/1975) The life and adventures of Daniel Defoe. Great Britain: Pinguin Books.
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