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As festas juninas em capítulos noticiosos: popular em séries de reportagens. Iluska Coutinho Gilze Bara

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populAr em séries de reportAgens

do jornAl nAcionAl

iluska coutinho

gilze Bara

* Artigo apresentado no GT 2 “Folkcomunicação Midiática” da XIV Conferência Brasileira de Folkcomunicação -Juiz de Fora (MG), de 4 a 7 de maio de 2011.

** Mestre em Comunicação e Cultura (UnB) e Doutora em Comunicação Social (Umesp), com estágio doutoral na Columbia University (Cunyc). Professora do Departamento de Jornalismo e do Mestrado da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora. E-mail: iluskac@uol.com.br

*** Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora e Professora de TV e Rádio do curso de Comunicação Social do Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora. E-mail: gilze.bara@gmail.com

resumo

Esse trabalho apresenta uma reflexão sobre a forma de apropriação dos ele-mentos da cultura popular em duas séries de reportagens veiculadas pelo Jornal Nacional (Rede Globo), programa jornalístico de maior audiência e peso político no Brasil. A opção por tomar como recorte empírico esse recurso ou formato, utilizado com cada vez mais frequência pelos telejornais brasileiros, justifica-se na medida em que uma das intenções da análise é relacionar a incorporação das festas populares, a partir dos modos de fazer e contar característicos das narrati-vas televisinarrati-vas, e ainda relacionar essas coberturas de caráter especial aos modelos ou padrões noticiosos adotados na TV, à dramaturgia do telejornalismo.

Palavras-chave: Telejornalismo. Cultura popular. Narrativas. Identidades.

Séries de reportagens.

Na contemporaneidade, alguns estudos apontam para o surgimento e predominância como vetor importante nos processos de socialização, espe-cialmente no Brasil, do que se convencionou chamar de “cultura da mídia”. Articulada no cotidiano com os contextos sócio-históricos nos quais se insere, essa forma cultural teria especial potencialidade para legitimar ou contestar ideologias e valores, mais ou menos arraigados ou presentes no imaginário popular. Nessa perspectiva, a compreensão seria de que “os textos

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midiáti-cos contribuem para a construção do senso de pertença a uma comunidade nacional, bem como são estratégicos na legitimação ou transformação da memória coletiva que integra a identidade de uma nação” (GUIMARÃES; COUTINHO, 2008, p. 2). Como pensar então nas relações entre a cultura da mídia e a apropriação dos elementos e traços da cultura popular nos discursos e práticas da mídia? Em uma reflexão que busca contribuir para compreen-der essa dinâmica, cultural e midiática, propõe-se neste artigo refletir sobre a veiculação de conteúdos relacionados às festas juninas, como narrativas seriadas veiculadas no Jornal Nacional, da Rede Globo de Televisão.

Produto jornalístico cada vez mais presente, em diferentes horários e emissoras, as séries de reportagens veiculadas em telejornais representam uma cobertura de caráter diferenciado, que implica o envolvimento de maior tempo de produção e mesmo de veiculação, o que em geral resulta em produtos de qualidade superior, reconhecimento partilhado entre produtores dos telejornais e telespectadores. O recorte estabelecido corresponde a séries de reportagens sobre as festas juninas, veiculadas no Jornal Nacional em 2004 e 2008. Apesar do necessário estabelecimento de um recorte que viabilize a pesquisa empírica, ao contrário da fragmentação que seria uma das marcas dos telejornais, a refle-xão acadêmica sobre o tema precisa levar em conta as características da notícia na TV e mesmo as particularidades da televisão como meio de comunicação. Meio de comunicação de grande relevância em todos os países, classes sociais e culturais, a televisão tem sido objeto de uma série de pesquisas científicas, livros e, por outro lado, também tema das conversas cotidianas, como seu consumo, o que dá origem aos chavões e assertivas absolutas. Uma delas, do domínio do senso comum, estabelece uma espécie de “condenação última”, ao definir que a televisão é um meio de comunicação destinado, exclusivamente, ao entretenimento. Outro juízo de valor muito frequente em relação à TV se tornou refrão de música gravada pelo conjunto de rock Titãs: “a televisão me deixou burro, muito burro... burro demais”.

Uma suposta relação direta entre o empobrecimento cultural da po-pulação, notadamente a brasileira, e o aumento do acesso ao aparelho de televisão e das horas de exposição ao veículo já foi ressaltada em ensaios e artigos. Há, inclusive, estudos que se dedicaram à quantificação do número de palavras (reduzido) que seria utilizado ao longo da programação de TV; vínculo estabelecido prontamente com a redução do vocabulário médio do cidadão-telespectador. Mas, para além das críticas, também recebidas com frequência por este tipo de programa televisivo, é inegável admitir a impor-tância que os telejornais assumem numa sociedade como a brasileira, em que para uma significativa parcela da população eles se constituem na única forma de acesso diário às notícias.

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Ao analisar a televisão e os telejornais, simultaneamente como um pro-duto e um bem social, Morán (1986) destaca fatores estruturais, conjunturais e industriais que interferem na escolha das notícias. Entre os critérios utilizados na seleção e organização de informações na TV são destacados: 1) interesse e anormalidade; 2) imprevisibilidade e atualidade; 3) proximidade física ou afetiva; 4) quantidade e poder multiplicador; e 5) critérios retóricos. Para Mo-rán (1986), os acontecimentos que interessam à televisão e que teriam maior probabilidade, portanto, de se converter em notícia, seriam aqueles que se afastam da norma e/ou que se situam para além dela. Os fatos inesperados, especialmente aqueles que ocorrem no “tempo presente”, também teriam os atributos de uma notícia televisiva. A questão da proximidade, geográfica ou emocional, de um tema e ainda o número de pessoas e de outros meios de comunicação interessados no assunto, seriam valores-notícia, também para a televisão, embora não exclusivos. A duração da notícia, o tempo de emissão, o grau de ilustração e o uso de efeitos, trilhas musicais ou gráficos também denotariam a importância de um fato exibido nos telejornais. Finalmente, na categoria de fatores conjunturais, o autor destaca a relação da notícia com o poder, ou com seus ocupantes no momento de sua exibição. “Informação é expressão de poder […]. Se não houvesse interesse de alguma das facções do poder na divulgação dos fatos, teriam sido devidamente silenciados ou relegados a um plano secundário” (MORÁN, 1986, p. 30), analisa ele a pro-pósito das matérias relacionadas ao atentado do Riocentro em 1979.

Na tentativa de definir o que seria uma notícia televisiva, Calabrese e Volli (2001) recorrem à combinação relevo, relevância e narração. Eles criti-cam a visão ingênua que busca traduzir a notícia em TV como um “espelho da realidade” na medida em que a informação na televisão, mais que um regis-tro ou ilustração de um fato, seria sua representação na linguagem televisiva. Fruto de uma forte seleção, a dimensão da notícia televisiva é limitada por exigência de tempo, espaço a ser ocupado no fluxo audiovisual. Assim, cada notícia em TV deveria ser oferecida em pacotes informativos com cerca de 90 segundos (um minuto e meio), sendo possível a ampliação desses limites em casos excepcionais ou de excepcional interesse e atração da audiência.

Para Calabrese e Volli (2001), a informação jornalística na televisão é constituída por fragmentos da realidade, cuja lógica de montagem seria definida pela organização de um texto com características que remetem à oralidade. Para se constituir em um desses fragmentos, um fato deveria ser marcado por uma forte unicidade, ou ser componente de uma grande narrativa, ter impacto passional muito forte ou ainda ser apresentado de forma muito espetacular, parâmetros que definiriam os quatro critérios de noticiabilidade em televisão.

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[...] a notícia televisiva é um elemento bastante variável. Não se trata de uma variabilidade apenas formal: do tipo do discurso onde se insere, da sua co-locação numa escala, do tom e do ritmo como é pronunciada, do suporte da imagem, o mesmo fato que determina sua unidade também assume valores e características diferentes. Dizemos tudo, para depois negar uma interpretação muito desviante da informação: de que se entende a notícia como um espelho objetivo da realidade [...] interpretar a notícia como simples reflexo do mundo real significa idealizar o concreto, tratá-lo de modo abstrato, senão mitificá-lo completamente. (CALABRESE; VOLLI, 2001, p. 189).

É na década de 1970 que a forma de encadeamento das notícias na te-levisão passa a contar com a figura de um apresentador do telejornal, espécie de mestre de cerimônias que conduziria os telespectadores às informações oferecidas no programa. E se os apresentadores dos noticiários passam a ocupar um papel de destaque na caracterização da notícia televisiva, o mesmo ocorre com os repórteres de TV:

O jornalista de televisão não só confirma no vídeo que está no local em que ocorrem os fatos, como também toma parte da ação que se desenrola e de uma certa maneira convida o telespectador a acompanhá-lo e ser, como ele, uma espécie de testemunha, a participar de forma plena do acontecimento noticiado. Em função disso, em primeiro lugar, também é muito importante a imagem que o jornalista de televisão transmite de si mesmo para o público. (ROGLÁN; EQUIZA, 1996, p. 61).

Segundo os autores, a expectativa dos telespectadores, de quem tem contato com as informações jornalísticas por meio da TV, é exatamente essa: ao se expor ao fluxo televisivo, desejariam, deveriam e poderiam se sentir testemunhas diretas do fato noticiado.

Ao jornalista de televisão caberia o papel de mediador, enquanto a câmera se converteria nos olhos do telespectador, o “olho eletrônico” de McLuhan.

A existência de uma dramaturgia do telejornalismo tal como conceituada por Iluska Coutinho (2003) seria favorecida por uma tendência intrínseca ao veículo, à sua forma de ordenamento das informações: a serialidade. Para Cádima (1995, p. 131), “[...] uma aproximação analítica, histórico-cultural, da informação televisiva levar-nos-á a considerá-la essencialmente na sua dimensão predominante, [...] na retórica política, hierarquizada e serial que daí emerge”. De acordo com o autor, na TV, a informação seria tratada não pela pertinência ou pela singularidade do assunto, mas pelo efeito de série,

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que contagiou de fato o medium. Organizado segundo a lógica da televisão, o

telejornalismo tenderia a uma estrutura que enfatiza o caráter espetacular da realidade, que cada vez com mais frequência é apresentada em capítulos.

O formato série de reportagem, para utilizar o termo com que os apre-sentadores dos telejornais da Rede Globo anunciam este tipo de material jornalístico, se aproximaria de uma espécie de novela informativa, em que cada capítulo possibilitaria o aprofundamento de um tema ou aspecto da realidade retratado na TV. Esse é o caso do conjunto de reportagens exibidas no Jornal Nacional sobre as festas realizadas em homenagem aos três santos católicos do mês de junho – Santo Antônio, São João e São Pedro – que analisamos a seguir.

quAtro nArrAtivAs soBre A IDENTIDADE BRASIL vei-culAdAs em horário noBre: As festAs juninAs edi-tAdAs em 2004 no jornAl nAcionAl

Quatro matérias, narrativas audiovisuais, constituem o conjunto de reportagens veiculadas pelo Jornal Nacional de 21 a 25 de junho de 2004. Apresentadas ao longo de uma semana, as reportagens tratam das festas realizadas durante o mês de junho, especialmente no Nordeste, ou como anunciou o editor-chefe e apresentador do programa, William Bonner, “A partir de hoje, por toda essa semana, você vai acompanhar aqui no Jornal Nacional as festas juninas mais animadas do Brasil. Cada uma do seu jeito... da mais simples à mais sofisticada”.

A primeira reportagem da série teve como repórter o experiente Francisco José e mostrou a devoção dos brasileiros aos santos, o que teria motivado “o surgimento desta cultura tão popular”, ainda de acordo com Bonner. Antes do início da reportagem propriamente dita, os telespectadores do Jornal Nacional assistiram à veiculação de uma vinheta na qual, durante aproximadamente seis segundos, no ritmo de uma trilha sonora instrumental, fragmentos de imagens de brasileiros compunham uma espécie de mosaico, seguido pela assinatura identidade Brasil.

É importante considerar aqui que a própria existência de uma vinheta já denota a importância atribuída ao tema, pela emissora, na edição do telejornal. Isso porque a criação de uma vinheta envolve outros setores da emissora, como o departamento de arte, que é acionado pelos editores do telejornal que utilizará a marca, desenvolvida a partir de uma descrição do caráter da cobertura e da emoção que se pretende destacar. Na verdade, no caso em estudo, é importante destacar que a vinheta identidade Brasil já tinha sido

uti-lizada em uma outra série de reportagens, veiculada pelo Jornal Nacional no mês de fevereiro de 2004. Neste caso, além de atrair a atenção do

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telespecta-dor, o uso desta vinheta também pode ser compreendido como um discurso estratégico do programa, aspecto que ressaltaremos posteriormente.

Após a exibição de vinheta, a reportagem de Francisco José começou apresentando os santos homenageados nas festas juninas: Antônio, João, Pedro. “Nomes de santos que são adotados no interior do Nordeste, em homenagem aos padroeiros”, acrescentou o repórter. Na sequência editada, duas mulheres, nordestinas, confirmaram a informação, contando que têm filhos com os nomes dos santos do mês de junho.

“Nas orações, o agradecimento a São João pelo resultado nas lavouras. O bom inverno garantiu a safra para os nordestinos do campo”. A reportagem percorreu a religiosidade popular e os estados nordestinos... Pernambuco, Bahia, Paraíba, Alagoas. Houve ainda espaço para as emoções na narrativa; a emoção das moças que pedem um casamento a Santo Antônio e dos amigos que celebram a amizade pulando fogueiras de mãos dadas... É a esperança da identidade Brasil.

No dia seguinte, uma interrupção na “novela informativa” e, na quarta-feira, Fátima Bernardes retomou a narrativa: “Essa semana, o Jornal Nacional apresenta uma série de reportagens especiais sobre um patrimônio da cultura nacional: as festas juninas. Hoje a repórter Beatriz Castro mostra como os ne-gros africanos e as cortes europeias influenciaram essas danças e ritmos”.

É interessante destacar que, como na segunda-feira, primeiro dia de exibição da série de reportagens, houve uma animação em estúdio, por meio do recurso do chroma-key: por trás dos apresentadores foi inserida uma

espé-cie de varal de bandeirolas, imagens típicas da decoração das festas juninas. Destaca-se, portanto, que o setor responsável pela programação visual do programa também desenvolveu uma marca para a série.

Nessa reportagem, o passeio foi pelos ritmos do Nordeste, cadências que foram recitadas pela repórter. Baião, xote, xaxado, bumba-meu-boi, samba de coco, “herança do tempo das senzalas que se transforma em uma celebração com o mês de junho”. Na quadrilha matuta, definição que surge com a narrativa televisiva, a dança criada na Europa ganhou um gostinho brasileiro, “tempero nordestino”.

Os sons das festas juninas que embalam os nordestinos também po-dem se converter em oportunidade de trabalho, já que, como acrescentou a repórter, “sanfoneiro bom não fica desempregado”. A narrativa apresentou ao telespectador um trio de forró formado por um pedreiro, um mecânico e um motorista, gente comum que ganhou voz e imagem na série de re-portagens. Aliás é nesta matéria em que ocorreu a única exceção, quando uma “celebridade”, a cantora Elba Ramalho, personagem já (re)conhecida, foi entrevistada.

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A terceira reportagem da série teve um caráter mais factual; afinal, foi exibida no dia de São João, 24 de junho, “feriado em muitas cidades brasilei-ras”, como contou William Bonner. Ainda segundo o apresentador, em alguns locais, a festa é comemorada na véspera, junto a fogueiras que simbolizam o nascimento do santo.

Com um texto bem humorado, Marcelo Canellas identificou nas costas de um sanfoneiro, acompanhado pelas imagens globais, o indício da festa. E o “suspeito” confirmou: “Ah, hoje vai ser de pegar fogo até meia-noite, uma hora... sem parar”.

Também fomos apresentados aos sabores da festa junina: a buchada, a cocada esparramada na pia e a pamonha em panela de barro. O repórter também flagrou uma espécie de feriado, quando a vizinhança só saiu do milharal quando foi afugentada pela chuva. “Aqui em Campina Grande, o pessoal costuma dizer que, todo ano, chove por causa da inveja que São Pedro sente da festa de São João, a maior e a mais bonita do Nordeste. O fato é que, quando anoitece, todos os santos acabam se reunindo em volta da fogueira”, nos confidenciou o repórter. Anoiteceu na reportagem e um forrozeiro até então anônimo contou que há festa em todo sítio, e as imagens mostraram o forró como uma festa em família, quando o repórter apostou: “É como se o molejo do baião fosse hereditário”. A narrativa foi encerrada com uma espécie de clipe, com sucessão de imagens da população dançando no embalo das festas juninas.

A série foi finalizada com uma reportagem que mostrou os itens neces-sários para a preparação de uma legítima festa junina e também os “amadores e profissionais” que garantem os festejos. Como anunciou a apresentadora do Jornal Nacional, José Raimundo “mostra o dinheiro que a cultura popular faz girar nesta época do ano”.

E no embalo da cantiga popular – “eu tava na peneira, eu tava penei-rando...” – fomos apresentados aos anônimos que fazem a festa. Assim, conhecemos Dona Cenice, que sustenta a família com a comida junina, a pamonha que prepara e vende; um agricultor; uma comerciante; um marce-neiro... “É uma festa só, da Bahia ao Maranhão. Nesta época, a economia dos estados nordestinos ganha um reforço e tanto. O São João gera mais de 60 mil empregos temporários. No comércio, o movimento cresce 50%”.

A narrativa continuou, na maior reportagem da série, com quatro mi-nutos e 53 segundos. Surgiu um fabricante de tecidos do interior de Minas Gerais, que produz nove milhões de metros de chita para abastecer as cidades do Nordeste, turistas de São Paulo e Seu Sebastião dono de uma bodega, que veio do mato para ganhar dinheiro na festa e que garante: “Fiado só vendo para quem tem mais de 100 anos”. Mas foi a voz do repórter, a voz da

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emis-sora, que concluiu a série de reportagens: “Sempre animadas, as quadrilhas juninas viraram um negócio rentável. Funcionam como blocos de carnaval. Os associados pagam pela fantasia e pelo prazer de dançar o forró”.

Na série de reportagens exibida pelo Jornal Nacional, a identidade Brasil é

popular, anônima e com sotaque, nordestino como o de milhares de migrantes que um dia partiram em busca do sucesso no Sudeste e que hoje constituem um público a conquistar entre os telespectadores de São Paulo. E se as festas juninas do Nordeste mereceram quase vinte e um minutos de edição do Jor-nal NacioJor-nal ao longo da semana, no telejorJor-nal veiculado na maior cidade da América Latina, a TV Globo São Paulo conta com um repórter-personagem, Márcio Canuto, um nordestino que não abre mão de seu sotaque.

Vale destacar também o caráter positivo do conjunto de reportagens em que, com diferentes ritmos e sotaques, há uma mensagem de esperança, concretizada no caso do aumento no número de empregos. São exemplos de um Brasil Bonito, nome de outra série de reportagens do Jornal Nacional,

depois convertida em uma espécie de quadro eventual do programa, veiculado sempre que há uma matéria jornalística que mostre exemplos “de um Brasil que dá certo”, como anunciam sorridentes os apresentadores.

Desta forma, a re-utilização da vinheta identidade Brasil, exibida pela

primeira vez em fevereiro de 2004, e depois como marca de início da série de reportagens sobre as festas juninas, indica uma estratégia de estabeleci-mento de um novo quadro, também de boas notícias. Aliás, entre as séries de reportagens disponíveis para visualização no site da emissora, em geral o

chamado caráter nacional se destaca como temática preferencial, com aborda-gens capazes de gerar aprofundamento de temáticas consideradas relevantes pelos emissores do telejornal, com séries em que a mensagem exibida em capítulos tem enfoque positivo.

festAs juninAs como temA em 2008: novA nArrAtivA em cApítulos

A série de reportagens “Festas Juninas” foi exibida no Jornal Nacional, da TV Globo, na semana de 23 a 28 de junho de 2008. A série foi composta por doze VTs, sendo veiculados dois por dia. Os apresentadores do JN, ao lerem as cabeças das reportagens, tinham, ao fundo, uma arte animada de bandeirinhas coloridas e fogueira com as chamas tremulando. Após as cabeças dos apresentadores, o repórter Francisco José fez participação ao vivo, de diferentes cidades nordestinas, chamando as duas reportagens diárias e de-volvendo a palavra para os apresentadores após a exibição do segundo VT. No dia 23 de junho, Fátima Bernardes informou sobre o início da série: “Neste 23 de junho, véspera de São João, o Jornal Nacional abre uma nova

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série especial de reportagens. Nós vamos apresentar uma das manifestações culturais mais queridas dos brasileiros. Quem nos guia pelas festas juninas é Francisco José, que fala de Campina Grande, na Paraíba.” Em seguida, Francisco José chamou uma reportagem feita pelo repórter Hildebrando Neto sobre as comemorações da véspera do Dia de São João na cidade de Campina Grande. O VT mostrou que a cidade recebe mais de um milhão de visitantes para a festa, o que aquece os negócios locais não só para os comerciantes, mas também para os chamados “forrozeiros” e para quem trabalha nas roças de milho. E terminou com casais dançando forró.

O segundo VT do dia inaugural da série foi em Minas Gerais e teve como tema os tecidos coloridos que enfeitam as festas juninas. A repórter Narriman Sible mostrou os tecidos de algodão produzidos em fábricas das cidades mi-neiras de Pirapora e Alvinópolis. Estampas coloridas, xadrezes e florais que aumentam a produção – e o faturamento – em cerca de 40%. Só no ano de 2008, para o período de festas juninas, foram produzidos 5.200 quilômetros de panos. A maioria foi parar nas mãos de costureiras nordestinas.

Na terça-feira, 24 de junho de 2008, noite de São João, a série foi aberta com reportagem de Mônica Silveira feita em Caruaru, Pernambuco, sobre os músicos que alegram as festas juninas. A música foi tratada como elemento de união entre as pessoas nas festas juninas nas cidades do Nordeste, com destaque para os trios de forró com sanfona, triângulo e zabumba. A repor-tagem acompanhou a maratona de dois músicos que se apresentaram em diversas cidades nordestinas no período junino. Um deles percorreu 13.800 quilômetros e, o outro, 7.100 quilômetros fazendo shows.

No segundo VT do dia 24 de junho, também feito de Caruaru, os fes-tejos juninos foram abordados pelo repórter Amorim Neto como momentos de reencontro entre familiares e amigos. “No Nordeste, São João é tempo de reencontro, como o Natal, mesmo que os filhos da terra estejam espalhados pelos quatro cantos do Brasil.” Nordestinos que moram no Rio de Janeiro, em Brasília, em Salvador e outras cidades da região voltam às origens na hora de festejar São João.

Quarta-feira, 25 de junho de 2008. Fortaleza, Ceará. A capital das qua-drilhas juninas. A maioria dos setecentos grupos de quadrilha nordestinos é cearense. Mas além da paixão pela festa, pela música e pela dança, os integran-tes das quadrilhas devem ter responsabilidade e compromisso. Festa junina é coisa séria. O primeiro VT da edição do JN mostrou quadrilhas simples e sofisticadas, destacando roupas e sapatos dos componentes.

A segunda reportagem do dia 25, feita por Daniela Assayg, abordou a Festa do Boi em Parintins, Amazonas. A brincadeira, que tem significantes indígenas, religiosos e folclóricos, é embalada pela disputa entre os grupos

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rivais Caprichoso (azul) e Garantido (vermelho). E mesmo sendo no Ama-zonas, a tradição foi levada por imigrantes nordestinos.

Na quinta-feira, 26 de junho, Francisco José participou ao vivo no JN do centro histórico da cidade de Aracaju, Sergipe, em pleno Forró Caju, maior festa junina do estado. Já o primeiro VT do dia, com a repórter Carla Suzanne, teve como tema o espetáculo pirotécnico realizado na sergipana Estância, que tem um espaço dedicado exclusivamente ao show de fogos, para garantir a segurança da população. O fogo foi tratado como louvor a São João. Além de espadas de fogo, busca-pés e chuvas de fogos, a invenção de um filho da terra mereceu atenção: o barco de fogo, que desliza pelo fio de um arame e explode em cores e luzes. Antes e após o VT, Francisco José alertou sobre os perigos dos fogos.

A segunda reportagem do dia foi feita por Michelle Rincon em Mossoró, Rio Grande do Norte, e mostrou a encenação da vitória da população local sobre o bando de Lampião. Em junho de 1927, o cangaceiro invadiu a cidade, mas os moradores resistiram e expulsaram o bando. E, sempre no mês de junho, a vitória é encenada no local onde o embate aconteceu, juntamente com as homenagens aos santos juninos, na maior festa popular do estado.

Na sexta-feira, as duas reportagens da série do JN foram ancoradas por Francisco José, de São Luís, Maranhão, onde a festa de São João é louvada com Bumba-meu-boi. A primeira matéria, feita na mesma São Luís pelo pró-prio Francisco José, mostrou que a tradição do boi-bumbá é passada pelas famílias de geração a geração. A festa é popular, com muitas cores e ritmos, e também religiosa, com várias demonstrações de fé.

O segundo VT do dia 27 de junho foi produzido em Alagoas, na capi-tal Maceió e em outras cidades próximas, pelo repórter Mauro Anchieta. O assunto foi saboroso: os quitutes juninos feitos com milho, como canjica, pamonha, munguzá e bolo de milho, que se juntam a outros, como cocada, bolo de macaxeira e tapioca molhada. Tudo para repor as energias gastas em tantas danças e louvores e mostrar a fartura de São João.

Sábado, 28 de junho. A última edição do JN com a série de reportagens sobre festas juninas no ano de 2008. Francisco José no Pelourinho, centro histórico de Salvador, Bahia.

O primeiro VT teve como tema a devoção a São Pedro, celebrado no dia seguinte, 29 de junho. A matéria de José Raimundo mostrou a fé dos pescadores que têm o santo como seu protetor. Eles afirmaram que só en-frentam o mar e seus mistérios porque têm fé em São Pedro.

E o segundo VT da noite, feito por Beatriz Castro, teve como cenário o sertão de Pernambuco. Foram abordados os compassos das festas juninas, com destaque para os mais comuns: o xote, o xaxado e o baião. Depois da

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reportagem, Francisco José encerrou a série exibida pelo JN: “Agora o mês de junho está acabando e com ele terminam também as festas juninas. Hora de guardar o chapéu de palha e apagar as fogueiras Brasil afora”.

soBre A ApropriAção dA culturA populAr no jor-nAl nAciojor-nAl

Em geral, os produtores e editores do Jornal Nacional parecem certos de que uma desatenção em suas rotinas de trabalho poderia gerar reflexos em toda a sociedade brasileira, como salienta Bonner: “Um erro no Jornal Nacional pode ser catastrófico para a vida de uma pessoa, para a estrutura de uma empresa, para a estabilidade de um governo, para o bem-estar da sociedade”. E o que dizer dos processos de (auto)reconhecimento de um povo, especialmente no que se refere à sua identificação cultural? Quais os eventuais impactos ou releituras que seriam possíveis a partir da narração, em capítulos audiovisuais, de uma das expressões/manifestações da cultura popular, as festas juninas, pelo Jornal Nacional?

Nesse aspecto é importante ressaltar que na construção desse noticiário para os brasileiros, parcela preferencial de acesso à informação cotidiana para grande parcela de nossa sociedade, a praça São Paulo tem destaque e é vista de forma diferenciada por ser o ponto de medição do Ibope, segundo o editor executivo do programa em 2001 Renato Ribeiro. A tensão no re-lacionamento entre os editores da Rede Globo que trabalham no Rio e em São Paulo é marcada pela subordinação ao fator audiência que, embora seja um critério de seleção explicitamente descartado em entrevistas realizadas com os editores do programa, define o ritmo das reuniões de pauta, ainda que de forma implícita. Nesse sentido, a inclusão de conteúdos de outras regiões – e sotaques – já marcaria uma relação de diferença, alteridade, entre a cobertura das festas juninas e aquelas que constituem o dia a dia do JN. E, portanto, a que se assumisse o risco de uma abordagem de tom folclorizado para tratar do tema, constituído em outro no que se refere ao padrão do JN.

A relação do tempo para cada matéria, normalmente muito curto segun-do críticas já tradicionais ao programa, e que pertencem ao segun-domínio segun-do senso comum, seria uma espécie de exigência do telespectador, segundo insinuava Renato Ribeiro. Assim, a série de reportagens poderia ser entendida como uma estratégia dos jornalistas da emissora para garantir o aprofundamento necessário em alguns temas, sem correr o risco de perder audiência, de cansar os telespectadores mais “acelerados”. Nesse sentido, a opção pelo tratamento de aspectos de cultura popular como série de reportagem deno-taria um reconhecimento da relevância do tema para a audiência presumida

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do JN, partilhado pelos editores, que buscariam por meio desse recurso um aprofundamento capaz de tornar essa narrativa menos superficial.

A preocupação com a forma, com a veiculação de temas leves, é hoje uma coisa terciária no programa, segundo o discurso dos seus editores. Ainda assim, segundo Bonner, seria da natureza da televisão surpreender o telespectador com uma imagem, “mas eu preciso que haja tempo”. Para além do interesse do público por histórias humanas, o uso dos personagens para contar uma notícia, recurso que podemos perceber com muita clareza especialmente nas séries de reportagens, e que constitui o que Bonner define como humanização de temas, seria uma forma de traduzir assuntos de abordagem difícil não apenas em ter-mos técnicos, mas em situações vividas por seres humanos, como o telespec-tador. “Isso é um fenômeno típico dos assuntos da economia, e sobretudo da macroeconomia que realmente é uma abstração da ciência humana e o cidadão comum tem dificuldades em compreender [...] E essa busca por tradução no Jornal Nacional é constante, histórica, isso não faz parte da minha gestão; isso é histórico”. No caso das duas séries de reportagens, diferente dessa busca por oferecer um tom didático, a utilização de diferentes personagens a cada capítulo da trama parece marcar a adesão à dramaturgia do telejornalismo e a uma busca por identificação com os telespectadores. Afinal, em maior ou menor grau, as tramas e os dramas dos festejos juninos fazem parte do repertório cultural do brasileiro, o que potencializa a cobertura midiática do tema.

Mais do que apenas cumprir a função que se espera de um telejornal, Bonner cita, em entrevista concedida em 2001, exemplos de séries de re-portagens que receberam prêmios, elogios públicos e, especialmente, que desencadearam fatos posteriormente cobertos por outras emissoras e ór-gãos de imprensa. Um desses exemplos é o de uma série sobre a fome, e que ainda foi “premiadíssima no exterior”, como salienta ele. Essa série de reportagens foi incluída no DVD comemorativo dos 35 anos do telejornal, lançado em 2004.

Assim, se o tempo para o acesso a conteúdo jornalístico que contribua para a formação do cidadão parece ser muito extenso para o padrão global, em horário nobre, a saída talvez possa ser a utilização de série de reportagens, a veiculação de novelas informativas em horário nobre. Nesse aspecto, vale ressaltar que, no âmbito da cultura midiática, esse gênero ficcional já poderia ser considerado característico da cultura brasileira, com produtores e recep-tores com conhecimento diferenciado acerca desse formato narrativo.

No caso das duas séries de reportagens colocadas em foco nesse artigo, ambas abordaram as festas juninas positivamente, como “festas juninas mais animadas do Brasil”, no caso de 2004, e “uma das manifestações culturais mais queridas dos brasileiros”, em 2008. Alguns aspectos das festas juninas

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foram retratados nas duas séries: a religiosidade, o ritmo das músicas e danças, o sabor, os tecidos de Minas que vão compor os figurinos nordestinos, as oportunidades de trabalho abertas pelos festejos, o aquecimento da econo-mia nordestina. Também a emoção teve espaço nas duas séries, não só na exposição da fé nos santos juninos, mas na volta às raízes, no reencontro de parentes e amigos na terra natal.

Em ambas as séries, os apresentadores do JN apareceram, na cena de apresentação do telejornal, com arte em animação ao fundo, garantindo o cuidado com o tratamento do tema e com a edição. Em 2004, uma vinheta foi produzida especialmente para a série, valorizando a mesma. Em 2008, um fator de valorização do material foi a participação ao vivo, todos os dias, do repórter Francisco José, ancorando os VTs de seis cidades distintas – e distantes: Campina Grande/Paraíba, Caruaru/Pernambuco, Fortaleza/Ceará, Aracaju/Sergipe, São Luís/Maranhão e Salvador/Bahia.

Também pudemos perceber que três dos quatro repórteres responsáveis pelos VTs de 2004 fecharam matérias para a série de 2008: Francisco José, Be-atriz Castro e José Raimundo – três nordestinos com sotaques, assim como os vários personagens “anônimos” que compuseram as narrativas seriadas sobre as festas juninas. Ainda assim, a voz da emissora, por meio dos repórteres, é que finalizou ambas as narrativas seriadas sobre a cultura popular nordestina que ganharam a tela – e o precioso tempo – do Jornal Nacional.

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Referências

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