• Nenhum resultado encontrado

O Telejornalismo local entre a mudança e a permanência: Um estudo de caso do Jornal Anhanguera

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O Telejornalismo local entre a mudança e a permanência: Um estudo de caso do Jornal Anhanguera"

Copied!
16
0
0

Texto

(1)

SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 14º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo

Palhoça – Unisul – Novembro de 2016

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

1

O Telejornalismo local entre a mudança e a permanência:

Um estudo de caso do Jornal Anhanguera

Ana Carolina Rocha Pessoa Temer

Resumo: O jornalismo está vivenciando um período de mudanças estruturais, pressionado pela

necessidade de se adaptar as mudanças no perfil do público local e novas tensões relativas à audiência e o aumento da cobertura policial. Partindo destas múltiplas relações, propõe-se aqui uma análise das transformações realizadas no conteúdo do Jornal Anhanguera, veiculado pela emissora TV Anhanguera, afiliada da Rede Globo em Goiás. A análise faz uma reflexão sobre o telejornalismo local a partir das tensões internas do seu conteúdo, relacionando o conteúdo co-laborativo e as coberturas policiais, e outros aspectos relativos à vida urbana, como transporte público, prestação de serviços, entre outros. A análise inclui uma revisão bibliográfica sobre o telejornalismo local, além de questionamentos sobre a interferência da Rede Globo no conteúdo do telejornal.

Palavras-chave: Telejornalismo Local, Jornal Anhanguera, Goiânia, Análise de Conteú-do, Cobertura local.

1. Reflexões sobre o jornalismo e o telejornalismo

O fundamento epistemológico do jornalismo está na produção simbólica e perió-dica da informação, que, por princípio, deve ser atual (preferencialmente desconhecida) e de interesse público. Jornalismo é a atividade informativa, realizada periodicamente e difundida através dos veículos de comunicação de grande alcance ou grande potencial de reprodutibilidade técnica – a saber, os meios de impressão técnica (imprensa) rádio, televisão, além de meios digitais.

(2)

SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 14º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo

Palhoça – Unisul – Novembro de 2016

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

2 Neste sentido, o telejornalismo se define ou se constitui a partir da tarefa de colher tanto verbalmente quanto imageticamente a informação no meio social, hierarquizar e tratar esta informação, em princípio verdadeira – ou consolidada a partir de imagens reais de fatos e situações reais, organizá-las de forma a coerente e sedutora – ou facil-mente compreensível para o grande público, e apresentá-las para seus telespectado-res/publico potencial, dando visibilidade e conhecimento sobre aos elementos políticos, econômicos, históricos e sócio-geográficos, ou qualquer outro que seja de interesse da sociedade contemporânea a essa produção.

Desta forma, se a atividade jornalística em si envolve aspectos complexos – a questão da produção simbólica, a definição de atualidade e a definição de interesse pú-blico – o telejornalismo com seu apelo imagético e a conseqüente necessidade de um aporte técnico tecnológico complexifica ainda mais essa relação. Dessa forma, se jorna-lismo é vida (CHAPARRO, 1993), o telejornajorna-lismo é vida em alta velocidade, é trans-formação e movimento em processo acelerado.

Não é surpreendente, portanto, ao se falar nas importantes mudanças estruturais do telejornalismo como uma “travessia de uma zona turbulenta” Adghirni (2012) marcado por instabilidades tanto na produção quanto no conteúdo, o processo seja ainda mais complexo no telejornalismo, cujas mudanças envolvem a convivência com novas tecno-logias. Particularmente no telejornalismo brasileiro, a questão das mudanças nos hábitos de recepção das audiências, tem justificado mudanças, as vezes intempestivas, nos con-teúdos. E os telejornais locais/regionais, produzidos de forma distanciada dos grandes complexos jornalísticos que se hospedam nas emissoras que são cabeças de rede1. Neste sentido, é justo dizer que o telejornalismo local enfrenta um período de importantes transformações, em um movimento que vem acompanhado por números angustiantes da audiência e um discurso de crise.

Essas mudanças vêm fazendo com que o telejornalismo local seja questionado como o espaço privilegiado de fala na sociedade, já que a audiência tradicional tem bus-cado novas formas de se fazer ouvir pela sociedade – novas possibilidades para falar – em um processo que envolve uma série de transformações sociais, que refletem também

1 Jargão utilizado para designar as emissoras que comandam, tanto em termos de definição de

(3)

SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 14º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo

Palhoça – Unisul – Novembro de 2016

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

3 na própria percepção que o telejornalismo local tem do seu público, e que, portanto, tem reflexos no conteúdo deste telejornalismo.

Neste sentido o estudo faz uma análise do Jornal Anhanguera, que vai ao ar dia-riamente na TV Anhanguera - Goiânia/Goiás, em duas edições, correspondendo ao es-paço do Praça TV conforme inserido pela Rede Globo de Televisão para o conjunto de suas emissoras afiliadas. O objetivo desse estudo é investigar como está definido o con-teúdo destes telejornais no momento atual vivido pelo jornalismo, analisando particu-larmente o conjunto de conteúdos colaborativos e como eles se relacionam com a cober-tura local e a questão da violência urbana.

O desenvolvimento do trabalho tem como base uma metodologia para leitura crítica das narrativas jornalísticas audiovisuais, a partir dos conteúdos efetivamente veiculados nas duas primeiras semanas do mês de julho de 2016, mas também por meio observação continuada com períodos anteriores. Apoiada na Análise de Conteúdo e na Análise Televisual, a leitura crítica tem os méritos do rigor formal, mas igualmente busca desconstruir conteúdos e discursos, desvelando as ideologias que se escondem por traz de discursos de autojustificação ética e outros aspectos apregoados pelos seus produtores. Neste sentido, entende-se o telejornalismo como um espaço de interação social no qual a sociedade conversa com a sociedade (BRAGA, In COHN et alli: 2001, p.17); em um processo de ...enfrentamento tensionoal que, direta ou indiretamente,

possa resultar em crítica interpretativa (...) (BRAGA, 2006, p.46).

Desta forma, oestudo envolve as dinâmicas e associações entre o conjunto de elementos do texto audiovisual, que serão analisados a partir de três etapas: a de descrição do objeto de estudo/contextualização do objeto; a análise televisual, constituída pela análise quantitativa e uma análise qualitativa de um determinado

Corpus; e a interpretação dos resultados alcançados.

2. História do telejornalismo em Goiás

A televisão chega a Goiás, no começo dos anos de 1960, já em uma segunda fase da TV no Brasil. A primeira emissora é a TV Rádio Clube entra no ar em setembro de 1961, seguindo um modelo de narrativas radiofônicas, seguindo a matriz a estrutura

(4)

SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 14º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo

Palhoça – Unisul – Novembro de 2016

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

4 física da emissora de Rádio do mesmo nome, que pertencia à rede de rádios, jornais e emissoras dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand2.

A emissora começa suas operações sob o comando de Francisco Braga Sobrinho, usando equipamentos que sobraram da reforma da TV Tupi. A direção, diretamente no-meada por Chateaubriand, enfrentou a falta de profissionais especializados, em um pe-ríodo que se pelo improviso e carência de equipamentos. O telejornal, parte importante da programação, ia ao com uma única câmera Dumont, emprestada do Rio de Janeiro, além de um transmissor e antena, foram usados para gerar toda a programação inicial da emissora. (GODINHO, 2008). O modelo de apresentação era igualmente simplório:

Funcionava assim: o publicitário e radialista Cunha Júnior, egresso da rádio, tinha de apresentar um telejornal. Ficava atrás de uma mesa escura e simples, repleta de papéis, sentado numa cadeira dura, seus olhos se revezando entre ler as notícias em uma folha e a única câmera. Para o telespectador não dormir, a equipe colava algumas fotografias ou desenhos na parte de trás do cenário (também tosco) e a câmera ficava indo e voltando: Cunha-fotos, fotos-Cunha. (GODINHO, 2008, p. 18).

Seguindo o padrão a primeira fase da televisão brasileira, os principais progra-mas da emissora tinham seus nomes ligados aos patrocinadores, progra-mas logo surgiram mu-danças. A emissora é rebatizada e passa a ser chamada de TV Goiânia, e introduz o pri-meiro telejornal com notícias preferencialmente locais, o Folha de Goyaz na TV. “O programa era feito seguindo o modelo radiofônico de narração de fatos, porém com fil-mes em preto- e-branco.” (ANDRADE; TEMER, 2013, p. 34).

Nos anos de 1980, a emissora passa por novas mudanças, e torna-se a TV Goiá, retransmitindo a TVS, emissora mais tarde integrada ao SBT. Na mesma década, refle-tindo um processo de incertezas, a TV Goiá começa a retransmitir a Rede Record, em Goiás. A marca do seu telejornalismo é o noticiário Goiânia Urgente, criado em 1981, que investe no depoimento popular, diferentemente dos noticiários de outras emissoras locais já existentes na época. “Os jornalistas que produziam o programa na época pri-mavam não só por discutir os assuntos com a população, mas, também, dar voz a ela, utilizando uma linguagem coloquial e interativa.” (ANDRADE; TEMER, 2013, p. 38).

2 O grupo era também proprietário da própria Rádio Clube e do jornal Folha de Goyaz, segundo diário do

(5)

SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 14º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo

Palhoça – Unisul – Novembro de 2016

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

5 O telejornal ficou no ar até 2008, quando foi extinto e deu lugar ao atual programa

Ba-lanço Geral. Hoje, além desse, a emissora possui os seguintes noticiários regionais

goi-anos: Goiás no Ar, Cidade Alerta Goiás e o Goiás Record.

Em 23 de outubro de 1963, data de comemoração do aniversário de Goiânia, ca-pital de Goiás, a entrar no ar no Estado a TV Anhanguera. A emissora pertencente à Organização Jaime Câmara, tendo sido criada pelo empresário Jaime Câmara e pelos seus irmãos Joaquim Câmara Filho e Vicente Rebouças, e hoje é presidida por Jaime Câmara Júnior. O grupo é nitidamente familiar, e tem ligações políticas que remontam a época da fundação da cidade de Goiânia3. Na época da implantação da televisão, o gru-po já era proprietário da Rádio Anhanguera, se destacava pela força gru-política e pelo pio-neirismo na implantação jornalismo impresso diário da capital com o jornal O Popular.

A Anhangüera nasceu dando o que falar. Trouxe praticamente a equipe inteira da concorrente TV Goiânia, ex-TV Rádio Clube. Começou como afiliada da Record, passou pela TV Excelsior e só depois viraria Globo. [...]

A primeira atração televisiva da TV Anhanguera foi a Hora da Ave Maria ou

Hora do Ângelus, atração criada por uma exigência do dono da Organização Jaime

Câ-mara. (GODINHO 2008, p. 25), mas a emissora já entra no ar na era do videotape e além de ter sido a responsável pela primeira telenovela goiana, foi a primeira e exibir uma parte da programação gravada vinda de outros estados (GODINHO, 2008, p. 26-27).

A emissora adquire novos equipamentos mais modernos em 1967, quando um incêndio causa danos ao equipamento original. A mudança gera novas atrações, como: o programa infantil, exibido no domingo à tarde, O Mundo é das Crianças, que foi veicu-lado de 1966 a 1977; o programa voltado para o jovem goiano, A Juventude Comanda, e um dos sucessos de audiência da década de 1970, o programa República do Cerradão, do coronel Hipopota, “[...] considerado o Chacrinha de Goiás. (ANDRADE; TEMER, 2013, p. 36). Também faz parte da nova grade o programa Frutos da Terra, que foi lan-çado em 1983 e é exibido até hoje. No telejornalismo, os primeiros registros são do no-ticiário O Popular 2, com notícias e informações retiradas do jornal. Mas algumas

3 Goiânia é uma cidade planejada, mas sua implantação resulta tanto de aspectos práticos relativos à

loca-lização quanto de fatores políticos, que remetem a conflitos entre as oligarquias locais, entre eles grupos que irão se aliar aos proprietários dos meios de comunicação que surgem na nova capital.

(6)

SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 14º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo

Palhoça – Unisul – Novembro de 2016

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

6 dades já estavam presentes: Para incrementar o noticiário dependente do jornal O

Po-pular, fazia rádio-escuta: Ou seja, ouvia emissoras ‘pescando’ as melhores notícias nacionais e internacionais. (GODINHO, 2008, p. 41). Três anos mais tarde essa relação

se torna mais profissional, com um contrato com a agência internacional de notícias, UPI, que irá possibilitar a obtenção de notícias em tempo real.

Como afiliada da Rede Globo de Televisão e parte do Grupo Jaime Câmara, a

TV Anhanguera segue nas décadas seguinte em relativa hegemonia, e amplia seu

alcan-ce inaugurando retransmissoras em outras cidades de Goiás e Tocantins. Em 2008 tor-na-se a primeira emissora televisiva goiana a veicular sua programação em transmissão digital (HD-TV), e em 2014, já com 11 retransmissoras, passa a emitir sinal televisivo em alta definição. No telejornalismo, a TV Anhanguera possui atualmente os seguintes noticiários locais goianos exibidos em Goiânia: Bom Dia Goiás; Jornal Anhanguera

Primeira Edição- JA 1ª Edição; Jornal Anhanguera Segunda Edição - JA 2ª Edição,

bem como os programas jornalísticos, Globo Esporte – GO, veiculado, de segundo a sábado, no turno vespertino, após a primeira edição do telejornal JA – 1ª Edição; e mais o Jornal do Campo, exibido aos domingos de manhã.

Mas o novo século trouxe novos desafios de competitividade. A Televisão Brasil

Central - TBC, terceira emissora televisiva aberta em Goiás, inicia seus trabalhos como

retransmissora da TV Bandeirantes, nos anos de 1980, mas seguindo sua proposta inici-al de emissora ligada à administração pública, a atuinici-al, passa a retransmitir a TV

Cultu-ra1990, e, mais recentemente, em 2009, também se filia a TV Brasil, televisão pública

ligada à Empresa Brasil de Comunicação. (ANDRADE; TEMER, 2013, p. 37). Con-forme Godinho (2008, p. 54), é uma das emissoras goianas. Dentro de uma proposta de divulgação de produções regionais e das políticas e ações governamentais, a emissora coloca no ar noticiários regionais como o JBC 1ª Edição; TBC Notícias e programas jornalísticos, como o Roda de Entrevista e Sobre Todas as Coisas.

Outra concorrente surge no final dos anos de 1980: a TV Serra Dourada, criada em 14 de maio de 1989. Inicialmente pertencente ao grupo Alô Brasil, inicial sua pro-gramação como afiliada ao SBT em Goiás, e coloca no ar o Telejornal Goiás, primeira produção local da emissora. Pouco tempo depois, em 31 de setembro de 1991, entra no ar o Jornal do Meio Dia, atualmente o programa de maior audiência da emissora.

(7)

SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 14º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo

Palhoça – Unisul – Novembro de 2016

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

7 A concorrência cresce ainda mais no início do século XXI, com a implantação em 2002, a TV Goiânia, retransmissora da Band, que coloca no ar os programas jorna-lísticos Chumbo Grosso, o Fala Goiás e Band Cidade. Em 2005 entra no ar a Fonte TV, anteriormente batizada de Rede Cristã de Comunicação, ligada à Igreja Apostólica Fon-te da Vida, e em 2006, o jornal diário – Diário da Manhã – lança a primeira TV na in-ternet em Goiás, a DMTV, com telejornalismo de hora em hora e outros programas vari-ados. Posteriormente, são criadas duas emissoras educativas: em 2007, foi lançada a emissora da Pontifícia Universidade Católica de Goiás-PUC, a UCG TV, rebatizada de

PUC TV Goiás, com sede em Goiânia. E, em dezembro de 2009, foi fundada a TV UFG,

uma fundação situada no Campus II da Universidade Federal de Goiás-UFG, em Goiâ-nia, que além de produções e noticiário local, é repetidora dos programas da Rede das Instituições Federais de Ensino Superior.

3. TV Anhanguera: resistência e mudanças

Evidentemente, a chegada de novas emissoras afetou a TV Anhanguera, emisso-ra que atualmente responsável pelo Jornal Anhangueemisso-ra 1ª edição. Atuando como emis-sora afiliada à Rede Globo, emisemis-sora faz parte do Grupo Jaime Câmara (GJC), que é formado por 24 veículos de comunicação, sediados nos Estados de Goiás e Tocantins, além do Distrito Federal, e um parceiro atuante em uma relação que se fundamenta tan-to em interesses comerciais quantan-to políticos4, a emissora goiana sempre manteve bons

índices de audiência e liderou o ranking televisivo no Estado durante suas décadas inici-ais.

Segundo Moraes (2012), o governo do Estado é um dos principais anunciantes da emissora jornalística e por muito tempo promoveu (e ainda promove) filtros para a publicação de matérias relacionadas à esfera política estadual.

Apesar deste suporte, no entanto, o novo século deu início a sucessivas crises de audiência, as quais se seguiram propostas e projetos de reformulação que atingiu o tele-jornalismo local, tanto no que diz respeito ao seu conteúdo, como sua estrutura interna e

4De fato, parte da história da emissora se assemelha a da empresa a qual é afiliada: em semelhança a

pri-meira conseguiu implantar o padrão Globo a partir de recursos obtidos por meio do seguro pago em função de um incêndio que destruiu seus equipamentos.

(8)

SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 14º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo

Palhoça – Unisul – Novembro de 2016

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

8 seu posicionamento editorial. Segundo Moraes (2012) essas mudanças incluem uma intervenção direta da Rede Globo de Televisão que, incomodada pela queda de audiên-cia da emissora local, fez ingerênaudiên-cias na direção do telejornalismo. Mas fica claro tam-bém que parte destas mudanças envolve um novo relacionamento com o telespectador, uma vez que as mudanças nos hábitos de recepção de televisão, decorrentes da mudança no perfil do público e do acesso a novas tecnologias, também afetaram a relação da Re-de Globo Re-de Televisão tanto nacionalmente quanto nas emissoras locais/regionais.

Neste contexto,

As mudanças no jornalismo da emissora foram necessárias porque historica-mente tanto a Rede Globo como a Televisão Anhanguera ainda se mantinham afastadas desse público (classes C, D e E), pois havia uma linguagem e con-teúdo ainda voltados para classes mais altas. A queda de audiência percebida nos últimos anos forçou a emissora nacional, e as emissoras afiliadas, a pro-curarem novos modelos de telejornais que se identificassem e se aproximas-sem mais do telespectador que, por sua vez, começou a buscar informação em outras emissoras e na internet. (MORAES, 2012, p. 29)

O resultado desse processo afetou a linguagem e os conteúdos dos principais te-lejornais da emissora (Bom Dia Goiás, Jornal Anhanguera 1ª edição e Jornal

Anhan-guera 2ª edição); e incluiu a demissão e contratação de jornalistas, que em alguns casos

foram substituídos por colegas de outros Estados. A substituição mais impactante, no entanto, foi a do diretor de telejornalismo Jackson Abrão pelo jornalista Orlando Lou-reiro, ex- editor da TV Record de São Paulo, que trouxe para os telejornais locais da TV Anhanguera um viés mais popular; com a criação de quadros que destacavam a

partici-pação da audiência; além de outras mudanças na abordagem e narrativa dos fatos locais

(MORAES, 2012).

Atualmente, os telejornais da TV Anhanguera justificam seus conteúdos decla-rando que trabalham com assuntos voltados para uma versão que intitulo de Jornalismo comunitário, e cuja característica seria privilegiar os interesses da comunidade e os en-foques que se apoiam nas garantias de direitos do cidadão. Na prática, isso significa pautas voltadas para as mazelas urbanas, principalmente as deficiências do poder públi-co na prestação e/ou fiscalização dos serviços essenciais, e na questão da violência, que, aliás, se insere também como deficiência do setor público em garantir segurança à popu-lação goiana.

(9)

SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 14º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo

Palhoça – Unisul – Novembro de 2016

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

9

4. O perfil do telejornalismo da TV Anhanguera

Pressionados por pautas mais voltadas para os interesses imediatos da popula-ção, o telejornalismo da TV Anhanguera se insere em um novo modelo de telejornalis-mo local cuja proposta mais evidente é conquistar a audiência dando atenção aos pro-blemas do cotidiano: transporte urbano, na infraestrutura, saúde pública, educação - ou principalmente a deficiência nestes setores - são os elementos constantes da pauta. Mas deste conjunto se destaca, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos, a questão da segurança pública.

No conjunto de telejornais da emissora, o Jornal Anhanguera 1ª edição foi o te-lejornal que mais sofreu intervenções, tanto no conteúdo quanto nas rotinas produtivas (MORAES, 2012). Não por acaso, esse também tem sido o telejornal mais pressionado pela queda de audiência, uma vez que convive no mesmo horário com telejornais locais de caráter sensacionalista/grotesco que tem largo apelo popular.

Atualmente, o programa jornalístico tem 42 minutos de produção, é dividido em quatro blocos e contempla o maior número de pautas voltadas para a comunidade. A partir do ano de 2010, o Jornal Anhanguera 1ª edição foram inseridos no telejornal quadros e séries que, tendo como objetivo de fidelizar uma audiência de menor poder aquisitivo, buscavam em um modelo centrado em um discurso de interatividade e parti-cipação popular, apresentar denúncias e solucionar problemas importantes para os mo-radores dos bairros mais periféricos.

Dentro destas propostas, foram criados os quadros Quero Ver na TV (QVT), aplicativo no qual o telespectador é estimulado a participar da produção do telejornal, por meio de um smarthphone ou tecnologia similar sugerindo pautas e demandas do seu interesse ou da comunidade em que reside; JA Comunidade, que, a partir de sugestões da audiência, aborda problemas como limpeza urbana, falta de profissionais em escolas e CMEIs, ausência de policiamento e temáticas afins; e mais recentemente o Prato do Dia5, que aborda as especialidades dos restaurantes situados nos bairros menos centrais. Em ambos os casos, o objetivo nesse é mostrar o problema e cobrar uma solução junto

5 Em uma referência, os restaurantes visitados pelo telejornal recebem um Prato Decorativo que atesta a

(10)

SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 14º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo

Palhoça – Unisul – Novembro de 2016

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

10 ao poder público, acompanhando o desenvolvimento da denúncia até que a situação seja

resolvida. Em termos estruturais, o quadro envolve o deslocamento do repórter

nor-malmente até a comunidade, onde ele ouve a queixa do telespectador, tece comentários e cobranças, e apresenta (nem sempre em uma mesma edição) uma resposta do poder público. A dinâmica privilegia a transmissão ao vivo e a intervenção/presença dos mo-radores locais, que aparecem como pano de fundo das reportagens, fazendo coro de vaias ou aplausos, conforme o desenvolvimento da questão, mas também fornecendo os necessários e dramáticos comentários sobre o problema que está sendo enfocado.

Além dos novos quadros, nota-se também no telejornal Anhanguera 1º edição um aumento significativo de conteúdos colaborativos (COSTA, 2015), com o envio de áudios, fotos e vídeos por parte dos telespectadores à redação do telejornal. Embora muitos destes conteúdos sejam ilustrativos de situações de interesse público, como questões relativas ao trânsito e a segurança pública, mas também são comuns fotos so-bre paisagens, crianças e até animais de estimação, em situações diversas. Esse compor-tamento evidencia o interesse do telejornalismo local e se conectar com um telespecta-dor que já não se contenta em ser receptor, e cada vez mais deseja também oferecer in-formações.

Outra mudança no conteúdo do Jornal Anhanguera 1ª edição é a inserção de sé-ries/ reportagens seriadas, com produção especial e duração de cinco dias (de segunda a sexta-feira), que abordam grandes temas, em geral relacionados aos direitos do cidadão. O telejornal também ampliou o espaço para entrevistas ao vivo, ligadas a temas pré-agendados e ordinariamente não factuais (como o aumento dos preços, compras de fi-nais do ano, como comprar uma casa própria, etc.), no qual passa a se destacar a presen-ça de especialistas ou autoridades públicas de diferentes setores convidados para expli-car/justificar o problema abordado para o público.

Mais próximo ao chamado horário nobre, imprensado entre duas telenovelas, o

Jornal Anhanguera 2ª edição tem um tempo no ar mais reduzido, conserva um caráter

mais factual. Ainda assim, seguindo o padrão que a Rede Globo de Televisão dissemina entre as suas afiliadas, passou a contar com apresentadores que abandonaram a bancada e assumiram uma linguagem pretensamente menos elaborada, mas que ainda não conse-gue esconder que tudo que está sendo dito foi antes escrito.

(11)

SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 14º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo

Palhoça – Unisul – Novembro de 2016

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

11 As mudanças no estúdio/espaço de apresentação, no entanto, são bem menos significativas que as diferenças notáveis nas escolhas das pautas. Atualmente o telejor-nal tem seu conteúdo voltado principalmente para a questão da segurança pública, que se destaca em um conjunto de matérias denúncias sobre a ausência ou negligência do poder público, além de um conjunto mais disperso em defesa do cidadão,

Com o espaço/tempo do telejornal é reduzido, a participação do público é restri-ta, mas esse elemento é compensado por um diálogo simulado do apresentador com seus receptores, em geral recheadas de frases de efeito - eu faço questão que você nos

assista; você que está em casa está convidado para ver (...). Mas destaca-se também um

maior número de entrevistas com populares, em geral vítimas da ineficiência do poder público, os indivíduos envolvidos em questões de violência/segurança pública.

O tom das matérias é, em geral, de indignação, mas o conteúdo não é esclarece-dor, com a clara predominância dos aspectos emocionais sobre a informação. Como nos demais telejornais da emissora, a presença do conteúdo colaborativo ocupa parte das edições diárias do telejornal, mas as contribuições dos telespectadores estão mais liga-das a filmes (em geral feitos com aparelhos celulares e câmeras de vigilância) sobre assaltos, denúncias diversas contra a polícia ou o atendimento na área de saúde pública, e de forma menos regular, questões ligadas à educação. A policial, o policial, os engar-rafamentos e acidentes, as blitz de trânsito e apreensões de drogas são os assuntos mais constantes, mas os temas são sempre colocados de forma descontextualizados, em não raro ficam pendentes as repostas e informações do poder público sobre a questão. Mes-mo quando a resposta está presente, ela é superficial e imediatista, recheada de respostas padrão, de que providências já estão sendo tomadas.

No que diz respeito à linguagem, destacam-se as palavras propina e esquema, mas a elas se juntam expressões populares e chavões - a polícia está atrás de...; vamos

falar em goiânes... -, mas chama a atenção também uma curiosa inversão no discurso:

as informações vindas das pessoas comuns são afirmativas - foi assaltado, teve seu

atendimento negado - enquanto as justificativas ou afirmativas do poder público, e

par-ticularmente da polícia, são precedidos de um sujeito: a polícia disse, o hospital

afir-ma...; em uma relação que destaca o esforço do telejornal em se colocar como a voz do povo, ou fiscal dos interesses públicos.

(12)

SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 14º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo

Palhoça – Unisul – Novembro de 2016

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

12 Assim como na linguagem, o telejornal é preenchido como imagens-clichês: terminais de ônibus lotados, cenas da fachada dos postos de saúde, hospitais e delegaci-as, imagens de apreensão de drogas (convenientemente arrumadas em frente ao no-me/número do órgão ou delegacia responsável pela apreensão), cenas do trânsito nas principais vias da cidade, times treinando, e outras que se repetem a intervalos relativa-mente regulares.

O conjunto destas imagens é intercalado pelo uso de recursos de ilustração, prin-cipalmente aquele que destaca de um texto maior trechos específicos (e comprometedo-res) de documentos, ou representações de diálogos telefônicos interceptados com

auto-rização judicial, e representações de informações procedentes de redes sociais.

Também merece destaque as referências diretas ou veladas a outros veículos da Organização Jaime Câmera, com sutilezas que vão desde a presença de repórteres iden-tificados com a logomarca dos jornais nas entrevistas coletivas até referências diretas sobre denúncias feitas por outros veículos do mesmo grupo. É digno de nota verificar que essas referências encontram eco nos intervalos comerciais, nos quais os veículos da empresa oferecem prêmios para incentivar a fidelidade dos receptores. Por fim, soma-se a esse conjunto uma previsível cobertura esportiva, cujo grande destaque (igualmente previsível) e o desempenho dos times locais, que ganham uma maior atenção a cada vitória, principalmente quando essa ocorre sobre um time de maior reconhecimento na-cional.

No conjunto, nota-se que as duas versões diárias do Jornal Anhanguera ainda não se fixaram em um padrão. Essa relação se sobressai na necessidade da emissora em forjar concursos e abrir espaços para incentivar os receptores a manifestarem suas opi-niões sobre o conteúdo, além de outras suas estratégias para fidelizar um receptor cada vez mais infiel.

5. O telejornalismo local em tempos de mudanças: que me importam os males da China...

(13)

SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 14º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo

Palhoça – Unisul – Novembro de 2016

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

13 E previsível considerar que o telejornalismo esteja passado por um período de intensas transformações, uma vez que a sociedade como um todo também está se depa-rando como novos elementos de tensões. Nesta relação, a análise crítica-descritiva do

Jornal Anhanguera a partir de suas duas edições diárias, busca documentar o um

pro-cesso de reformulação de seu conteúdo que tendo se acelerado no início deste novo sé-culo, ainda esta em curso.

De muitas maneiras, essas mudanças refletem a própria necessidade de reposici-onamento do telejornalismo, que frente às novas possibilidades oferecidas pela internet, está procurando formas de consolidar conteúdos que sejam, ao mesmo tempo, diferenci-ados e atraentes para o receptor. Nesse sentido, é lógico supor que, em um momento de transformações, o telejornalismo local - e particularmente o telejornalismo das emisso-ras afiliadas à Rede Globo de Televisão - luta para conquistar/manter uma identidade, na qual estejam embutidas as qualidades essenciais para fidelizar o seu público.

No entanto, a análise também exige algumas reflexões: o telejornalismo local tem características próprias, ligadas ao cotidiano. Particularmente quando se trata de telejornalismo local, é necessário entender que, o cidadão busca os noticiários do tele-jornalismo para celebrar seus encontros com a cidade, o país e o mundo. (COUTINHO, 2014). Neste sentido, ainda que o telejornalismo tenha uma tendência a pulverizar ou despersonalizar as questões de interesse público, ele é também um instrumento por meio do qual o indivíduo instado a atuar sobre a comunidade na qual vive.

Mas as representações do telejornalismo não são neutras: elas interferem na vida social, construindo reflexos no próprio cotidiano que pretende retratar. Desta forma, ao retratar um cotidiano de violência e desalento, no qual o Poder Público é privado de confiança e credibilidade, o telejornalismo contribui para aumentar o sentimento popu-lar de desalento, aumentando com isso o sentimento de abandono dos receptores que, em princípio, diz pretender remediar.

No que diz respeito ao telejornalismo local/regional, é necessário considerar também que ele se insere em um espaço cuja marca é que crescem de forma desordenada, o que por sua vez geram profundos problemas de ordem infraestrutural e marcantes as contradições internas. Esses grandes conglomerados urbanos, resultantes de um modelo capitalista industrial (GUIDDENS, 1991, p.20), se consolidam a partir do

(14)

SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 14º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo

Palhoça – Unisul – Novembro de 2016

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

14 desenvolvimento de forças de produção/exploração de mão de obra nos quais o acesso aos bens e serviços públicos não é somente desigual, mas reflete as injunstiças sociais de uma industralização voltada para a exploração das necessidades humanas. Portanto, trata-se de um contexto marcado por relações de dominação, segregação e abismos sociais, que irão igualmente resultar em situações explicitas de luta e violência social. (TEMER, 2015, p. 87). No caso do telejornal local, essa relação ganha forma em uma miríade de denuncias e reivindicações por melhores condições de vida, elementos explorados por uma produ-ção telejornalística que busca conquistar a audiência oferecendo-se como porta voz dos desvalidos. Desta forma, ao mesmo tempo em que A informação sobre a realidade local

reforça a identificação com o telespectador e o vínculo social entre os cidadãos (...)

(MORAES, 2012, p. 23) ela torna-se também um elemento político, que mais do que servir aos interesses da população local, reforça a importância das grandes empresas de comunicação locais e, em geral (como é o caso da Organização Jaime Câmera) uma empresa familiar cujos interesses políticos permeiam toda a sua história e permanece como elemento definidor de sua atuação.

Atuando dentro de um modelo que se pretende cidadão, o telejornalismo local efetivamente veiculado pelas duas edições do Jornal Anhanguera é o retrato da cidada-nia incompleta ou subcidadacidada-nia6 (SOUZA, 2003), que aflige grande parte da população brasileira. Embora exerça um papel importante atuando como elemento de cobrança de ações do setor público e de denúncias associadas às empresas que prestam serviços também de interesse público, o telejornalismo local o faz de forma pontual e descontex-tualizada, reforçando as dificuldades e o longo caminho para a conquista da cidadania no Brasil.(CARVALHO, 2003). Neste processo, o telejornalismo não se furta de explo-rar a própria miséria humana que afirma denunciar, atuando para a sua banalização e para um conformismo estrutural que reforça a permanência conjuntural deste modelo.

Referências

6 Carvalho (2003) apresenta o conceito de subcidadania como sendo a formação de um

padrão periférico ou abaixo da cidadania elementar. A subcidadania é marcada por uma vida pré-configurada de subalternidade social e de pobreza econômica, na qual os indi-víduos estão em uma situação de desvantagem em um modelo capitalista competitivo.

(15)

SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 14º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo

Palhoça – Unisul – Novembro de 2016

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

15

ADGHIRNI, Z. L. Mudanças estruturais no jornalismo: travessia de uma zona de turbulência. In: PEREIRA, F. H; MOURA, D. O; ADGHIRNI, Z. L (org.). Jornalismo e Sociedade. Floria-nópolis: Insular, 2012.

ADGHIRNI, Z. L; PEREIRA, F. H. O jornalismo em tempos de mudanças estruturais. Intexto. Porto Alegre, v. 1, n. 24, p. 38-57, jan/jun. 2011.

ANDRADE, T. C. O; TEMER, A. C. R. P; A arte de ensinar e praticar jornalismo de TV em

Goiás. Goiânia: Mundial Gráfica, 2013.

BRAGA, José Luiz. A sociedade enfrenta sua mídia. Dispositivos sociais de crítica midiática. São Paulo: Paulus, 2006.

CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: O longo caminho. 4º. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

CHAPARRO, Manuel C. Pragmática do Jornalismo: buscas práticas para uma teoria da aç ão jornalística. São Paulo: Summus, 1993.

COHN, Gabriel (et alli). Campo da comunicação – caracterização, problematização e perspec-tivas. João Pessoa: UFPB, 2001.

COSTA, A. M. A. Telejornalismo e cidadania: O conteúdo colaborativo e a participação do

telespectador na dinâmica do Jornal Nacional e JA 2ª edição. 2015. 106 f. Dissertação

(Mes-trado em Comunicação). Faculdade de Informação e Comunicação, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2015.

COUTINHO, I. Telejornalismo e Público: sobre a natureza dos serviços e das parcerias. In

Te-lejornalismo em questão. VIZEU, A; MELLO, E; PORCELLO, F; COUTINHO, I. Coleção

Audiovisual. V3. Florianópolis: Insular, 2014.

GIDDENS, Anthony. As conseqüências da modernidade. São Paulo: UNESP, 1991.

GODINHO, Iúri Rincon. A história da TV em Goiás. Goiânia: Contato Comunicação: 2008.

MORAES, A. T. de. Participação popular e os valores notícia no telejornalismo: interação

e cidadania. 2012. 151 f. Dissertação (Mestrado em Comunicação). Faculdade de Informação e

Comunicação, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2012.

MOURA, D. O; PEREIRA, F. H; ADGHIRNI, Z. L (org.) RUELLAN, D; LE CAM, F. (cols.).

Mudanças e permanências no jornalismo. Florianópolis: Insular, 2015.

SOUZA, Jessé. A construção social da subcidadania: para uma sociologia política da modernidade periférica. Belo Horizonte: Editora UFMG; Rio de Janeiro: IUPERJ, 2003.

TEMER, A. C. R. P. Da cidade para o Asfalto: o telejornalismo como lugar de redefinições dos espaços urbanos. In SODRÉ, Muniz, TEMER, A. C. R. P., ELHAJJI, Mohammed (orgs.)

Diás-poras urbanas e subjetividades móveis: Migrantes, viajantes e transeuntes. Goiânia:

(16)

SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 14º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo

Palhoça – Unisul – Novembro de 2016

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

16

TEMER, A. C. R. P. Desconstruindo o telejornal: um método para ver além da melánge infor-mativa. In Telejornalismo em questão. VIZEU, A; MELLO, E; PORCELLO, F; COUTINHO, I. Coleção Audiovisual. V3. Florianópolis: Insular, 2014.

Referências

Documentos relacionados

O score de Framingham que estima o risco absoluto de um indivíduo desenvolver em dez anos DAC primária, clinicamente manifesta, utiliza variáveis clínicas e laboratoriais

São por demais conhecidas as dificuldades de se incorporar a Amazônia à dinâmica de desenvolvimento nacional, ora por culpa do modelo estabelecido, ora pela falta de tecnologia ou

Ao confrontarmos a afirmação de Suassuna - da influência que recebe do Romanceiro Popular do Nordeste - com as constatações de Henrique Oscar - que vê uma aproximação do Auto

O grupo Ω3+GW (que recebeu bloqueador específico para o GPR40) apresentou diminuição significativa dos níveis deste receptor, bem como os grupos tratados com DMSO e Ω3,

segunda guerra, que ficou marcada pela exigência de um posicionamento político e social diante de dois contextos: a permanência de regimes totalitários, no mundo, e o

5 “A Teoria Pura do Direito é uma teoria do Direito positivo – do Direito positivo em geral, não de uma ordem jurídica especial” (KELSEN, Teoria pura do direito, p..

de lôbo-guará (Chrysocyon brachyurus), a partir do cérebro e da glândula submaxilar em face das ino- culações em camundongos, cobaios e coelho e, também, pela presença

um dos casos em que se mantiveram determinados turnos que completam 24 (vinte e quatro) horas de trabalho por dia. Essa situação se explica, para nós, por sua