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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

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Academic year: 2021

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

1.0710.17.000433-1/001

Número do Númeração

0004331-Des.(a) Jair Varão Relator:

Des.(a) Jair Varão Relator do Acordão:

23/04/2020 Data do Julgamento:

23/06/2020 Data da Publicação:

EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO - RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO ATROPELAMENTO RESPONSABILIDADE OBJETIVA -DANOS MORAIS - -DANOS MATERIAIS - CULPA CONCORRENTE DA VÍTIMA - REDUÇÃO PROPORCIONAL DA INDENIZAÇÃO - JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA - ALTERAÇÃO DE OFÍCIO.

1 - A responsabilidade civil objetiva do Estado, decorrente de obra pública, configura-se com os seguintes requisitos, em contemplação à teoria do risco administrativo e à repartição dos encargos sociais: a) dano; b) ação e; c) o nexo de causalidade.

2 - A culpa concorrente da vítima enseja a redução proporcional do valor da indenização de qualquer natureza.

3 - Nas indenizações por dano moral em desfavor do ente público, os juros de mora são devidos desde a data do evento danoso (S. 54, STJ), nos termos do art. 1°-F da Lei 9494/97, com redação dada pela Lei 11.960/2009, e a correção monetária, da data do arbitramento (S. 362, STJ), pelo IPCA. Já sobre os danos materiais, os juros de mora serão incidentes desde a data do evento danoso (S. 54, STJ), nos termos do art. 1º-F, da Lei 9494/97, e a correção monetária, desde a data do efetivo prejuízo (S. 43, STJ).

4 - Os juros de mora e a correção monetária constituem matéria de ordem pública, podendo ser alterados de ofício.

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0710.17.0004331/001 COMARCA DE VAZANTE -1º APELANTE: MONALIZA MARTINS SANTOS - 2º APELANTE: MUNICÍPIO DE GUARDA MÓR - APELADO(A)(S): MUNICÍPIO

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DE GUARDA MÓR, VALDEMAR CAJUEIRO DA SILVA, MONALIZA MARTINS SANTOS

A C Ó R D Ã O

Vistos etc., acorda, em Turma, a 3ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em NEGAR PROVIMENTO AOS RECURSOS E, DE OFÍCIO, ALTERAR OS ENCARGOS ACESSÓRIOS.

DES. JAIR VARÃO RELATOR.

DES. JAIR VARÃO (RELATOR)

V O T O

Trata-se de dois recursos de apelação interpostos contra a sentença de fls. 301/306v, da lavra do MM. Juiz da Vara Única da Comarca de Vazante que, nos autos da ação de indenização por danos materiais, morais e estéticos c/c pedido de pensão vitalícia proposta por Monaliza Martins Santos em face do Município de Guarda-Mor e de Valdemar Cajueiro da Silva, julgou parcialmente procedente o pedido inicial, para condenar o requerido ao pagamento de danos morais no importe de R$10.000,00, danos materiais no importe de R$ 2.512,50 e danos estéticos no valor de R$ 10.000,00, todos corrigidos com juros de mora segundo o índice de remuneração da caderneta de poupança e correção monetária com base no IPCA-E, observada a Lei

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9494/97. Condenou o Município ao pagamento de 25% das custas e honorários advocatícios, fixados em 10% sobre o valor da condenação, nos termos do art. 86 do CPC/15. Condenou, ainda, a parte autora ao pagamento de 75% das custas e honorários advocatícios, suspensa a exigibilidade em razão da assistência gratuita a ela concedida.

Em suas razões recursais de fls. 308/320, a primeira apelante alega a ausência de culpa da vítima na ocorrência do acidente dada sua vulnerabilidade, tendo em conta sua pouca idade à época. Além disso, sustenta que o resultado do laudo médico que atestou a capacidade para exercício de atividades laborais e físicas com independência não justifica o indeferimento do pedido para pagamento de pensão vitalícia, tendo em conta a necessidade de readequação das próteses em razão do crescimento ósseo da vítima e da falta de condições financeiras para arcar com os custos decorrentes dela. Pugna pelo afastamento da culpa concorrente e condenação dos réus no objeto do pedido exordial. Pede o provimento do recurso.

O Município de Guarda-Mor, por sua vez, recorre às fls. 321/325, alegando, em apertada síntese, a ausência de responsabilidade pela iluminação e sinalização do local onde ocorreu o acidente e que este somente ocorreu por culpa exclusiva da vítima, o que afasta o dever de indenizar. Alegou ainda a ausência de nexo causal entre a omissão e o dano sofrido. Pede o provimento do recurso para julgar improcedentes os pedidos iniciais.

Contrarrazões às fls. 327/331, pelo primeiro réu, às fls. 332/337, pela autora, e às fls. 338/345, pelo segundo réu, em óbvias infirmações.

I - JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE

Presentes os requisitos de admissibilidade, conheço dos recursos. II - JUÍZO DE MÉRITO

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pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

Trata-se, com efeito, da aplicação da teoria do risco administrativo que impõe a responsabilidade objetiva aos atos comissivos perpetrados pela Administração Pública, bem ainda pelos particulares igualmente prestadores de serviço público.

Notadamente, a responsabilidade civil objetiva do Estado configura-se com os seguintes requisitos: a) dano; b) ação administrativa e; c) o nexo de causalidade entre o dano e a ação administrativa.

Sobre o tema, vale o escólio jurisprudencial do Pretório Excelso, verbis: A responsabilidade civil do Estado, responsabilidade objetiva, com base no risco administrativo, que admite pesquisa em torno da culpa do particular, para o fim de abrandar ou mesmo excluir a responsabilidade estatal, ocorre, em síntese, diante dos seguintes requisitos: a) do dano; b) da ação administrativa; c) e desde que haja nexo causal entre o dano e a ação administrativa. A consideração no sentido da licitude da ação administrativa é irrelevante, pois o que interessa, é isto: sofrendo o particular um prejuízo, em razão da atuação estatal, regular ou irregular, no interesse da coletividade, é devida a indenização, que se assenta no princípio da igualdade dos ônus e encargos sociais. (RE 113.587, Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento em 18-2 -1992, Segunda Turma, DJ de 3-3-1992.)

No mesmo sentido, o colendo Superior Tribunal de Justiça, veja-se: No ordenamento jurídico brasileiro a responsabilidade do Poder

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Público é objetiva, adotando-se a teoria do risco administrativo, fundada na idéia de solidariedade social, na justa repartição dos ônus decorrentes da prestação dos serviços públicos, exigindo-se a presença dos seguintes requisitos: dano, conduta administrativa, e nexo causal. (REsp 866.450/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 24/04/2007, DJe 07/03/2008).

No caso dos autos, os supostos danos decorreriam de acidente provocado por veículo automotor, que teria atropelado a vítima por falta de visibilidade lateral ocasionada pela falta de iluminação e sinalização adequada da via pública, o que ensejaria responsabilidade objetiva. Não se dispensam, todavia, os demais requisitos.

Na inicial, a autora narrou que conduzia sua bicicleta quando foi atingida por um caminhão que trafegava pela via, tendo, todavia, havido a prestação de socorro.

A existência do acidente é incontroversa, inclusive pela extensão dos danos sofridos pela parte autora, que foi removida do local do acidente para um hospital.

Ressalte-se que restou claro que, no momento do acidente, as condições do local eram favoráveis à ocorrência do evento danoso, haja vista o horário e as condições da via, constatadas por meio de laudo pericial acostado nos autos às fls. 113/118, mas que a causa determinante para a ocorrência do fato teria sido a inobservância das condições de segurança de trânsito por parte da autora.

Pelo contexto, analisando a temática do acidente e as provas dos autos, verifica-se que a autora trafegava em local com pouca luminosidade e que não se atentou a tal condição, bem como à presença do veículo, apesar do tamanho e dos ruídos por ele emitidos.

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iluminação e pelas proporções do veículo, não tinha visibilidade suficiente para evitar a colisão.

O Município de Guarda-Mor, por sua vez, sustenta a ausência de responsabilidade pela iluminação e sinalização do local, fundamentando que, com base em acordo judicial, tal dever cabia à empreendedora Atalaia Empreendimentos e Construções LTDA. Contudo, em que pese a existência de tal acordo, é de responsabilidade do ente público a fiscalização do cumprimento do acordo, como pontuou a decisão do juízo a quo.

Conclui-se, pois, que a imprudência do pedestre, aliada à conduta omissiva do ente público ao não fiscalizar as condições da via pública sustentam a culpa concorrente, mas não exclusiva da vítima.

Desta forma, o reconhecimento de culpa concorrente da vítima impõe a indenização de acordo com o grau de culpabilidade.

Registre-se, por oportuno, a lição de José dos Santos Carvalho Filho: ''Se, ao contrário, o lesado, juntamente com a conduta estatal, participou do resultado danoso, não seria justo que o Poder Público arcasse sozinho com a reparação dos prejuízos. Nesse caso, a indenização devida pelo Estado deverá sofrer redução proporcional à extensão da conduta do lesado que também contribuiu para o resultado danoso.''(Manual de Direito Administrativo. 25ª Edição. Editora Atlas S.A. São Paulo. 2012. p. 556).

Nesse sentido:

"EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. ACIDENTE COM MENOR NO INTERIOR DE ESTABELECIMENTO COMERCIAL. RELAÇÃO DE CONSUMO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. CULPA CONCORRENTE DOS PAIS. DANOS MORAIS E MATERIAIS

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COMPROVADOS. VALOR. 1. O fornecedor de produtos/serviços responde objetivamente pelos danos causados ao consumidor que sofre acidente no interior de seu estabelecimento comercial, em virtude de falha na prestação do serviço, representada pela falta de monitor responsável pela preservação da integridade das crianças que usufruem de área de recreação, colocada à disposição dos clientes. 2. Contudo, não se pode desconsiderar que aos pais compete, primordialmente, a promoção da segurança, da integridade e do bem estar dos filhos menores, nos termos do art. 22 do Estatuto da Criança e do Adolescente. 3. Configurada a culpa concorrente entre a empresa ré e os genitores do menor, vítima do acidente, no interior do estabelecimento comercial da requerida, reparte-se a indenização de acordo com o grau de culpabilidade de cada um. 4. Deve ser mantida a condenação da parte ré ao pagamento de indenização por danos morais e materiais, quando eles se encontram devidamente comprovados nos autos. 5. O valor da indenização por danos morais deve atender ao chamado 'binômio do equilíbrio', não podendo causar enriquecimento ou empobrecimento das partes envolvidas, devendo ao mesmo tempo desestimular a conduta do ofensor e consolar a vítima." (Apelação Cível 1.0194.11.011093-0/001, Relator(a): Des.(a) Wagner Wilson , 16ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 23/01/2014, publicação da súmula em 03/02/2014)

Diante das circunstâncias narradas, entendo que o percentual arbitrado equitativamente pelo d. magistrado a quo mostra-se razoável ao caso em tela.

Os danos materiais restaram evidentes, tendo em vista o atropelamento e a compatibilidade dos ferimentos do autor, conforme as notas e recibos da prótese prescrita em substituição do membro amputado e da bicicleta perdida em razão do acidente.

Quanto aos danos morais, entendo ser razoável o quantum fixado na r. sentença, tendo em vista as circunstâncias e consequências do acidente, bem como a existência de parcial responsabilidade da vítima

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em causar o evento danoso.

Decerto, cabe ao julgador, prudentemente, ao fixar o valor do ressarcimento por dano moral, por meio de ponderação, considerar as condições do ofensor, do ofendido e do bem jurídico lesado, a fim de que o montante encontrado não se revele ínfimo ou exagerado.

Logo, tendo em vista a ocorrência de amputação de membro, a necessidade de adaptação ao uso de prótese, a necessidade de reabilitação e o dano psicológico suportado pelo autor em consequência do evento traumático, o valor arbitrado revela-se adequado.

Passando à atualização monetária sobre os danos morais, entendo, in casu, que a correção monetária deve se dar pelo IPCA, da data do arbitramento (S. 362, STJ), e juros de mora nos termos do art. 1°-F, da Lei 9494/97, desde a data do evento danoso (S. 54, STJ).

No caso dos danos materiais, os juros de mora serão incidentes desde a data do evento danoso (S. 54, STJ), nos termos do art. 1º-F, da Lei 9494/97, e a correção monetária, pelo IPCA, desde a data do efetivo prejuízo (S. 43, STJ).

Por se tratar de matéria de ordem pública, sua alteração, de ofício, se impõe.

Por fim, também não assiste razão à parte autora quanto à afirmação de que faz jus à pensão vitalícia que deve ser arcada pela parte contrária, uma vez que não comprovada a sua diminuição da capacidade laboral, requisito este essencial para o deferimento deste pleito. Tal interpretação pode ser extraída do art. 950 do CC:

Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou

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da depreciação que ele sofreu.

Parágrafo único. O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização seja arbitrada e paga de uma só vez.

Logo, também afasto tal tese. III - DISPOSITIVO

Com essas considerações, nego provimento aos recursos e, de ofício, determino que sobre os danos morais incidam os juros de mora desde a data do evento danoso (S. 54, STJ), nos termos do art. 1°-F da Lei 9494/97, com redação dada pela Lei 11.960/2009 e a correção monetária, da data do arbitramento (S. 362, STJ), pelo IPCA, e sobre os danos materiais, os juros de mora serão incidentes desde a data do evento danoso (S. 54, STJ), nos termos do art. 1º-F, da Lei 9494/97, e a correção monetária, desde a data do efetivo prejuízo (S. 43, STJ), também pelo IPCA.

DES. MAURÍCIO SOARES - De acordo com o(a) Relator(a).

JD. CONVOCADA LUZIA PEIXÔTO - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "NEGARAM PROVIMENTO AOS RECURSOS E, DE OFÍCIO, ALTERARAM OS ENCARGOS ACESSÓRIOS"

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