Acordo de Cooperação inter‐autarquias
Os titulares das entidades subscritoras deste acordo de princípio, preocupados com o crescente decréscimo populacional e consequente desertificação das localidades sob jurisdição das autarquias que dirigem, entendem ser chegado o momento de desenvolverem um conjunto de ações visando contrariar aquela tendência, tendo como base o que abaixo se descreve:
1 – Considerandos
‐ As localidadesa que presidem, estãosituadas na periferia das sedes concelhias e, para cúmulo, encontram‐se mais deslocalizadas para o interior das sub‐regiões a que pertencem, elas próprias prejudicadas pela sua interioridade;
–Situando‐se no “interior do interior”, sofrem acrescidamente os malefícios dessa localização periférica, ou seja, maior isolamento social, cultural e infraestrutural, acarretando com isso o tendencial decréscimo populacional e, consequentemente, o desaparecimento a prazo das localidades em causa;
‐ Sendo um problema que afeta muito diretamente as Autarquias a que presidem, consideram os subscritores ser forçoso agir desde já, de modo a prevenir e acautelar o porvir das gerações vindouras, desenvolvendo ações conjuntas, no âmbito dos respetivos Concelhos e estimulando,no mesmo sentido, a cooperação entre os mesmos;
‐ Mais consideram ser essa uma responsabilidade individual, histórica, social e de solidariedade cívica, que não enjeitam, entendendo não poder desperdiçar esta soberana oportunidade para combater em definitivo a desertificação dos seus territórios e os desequilíbrios inter‐regionais, que tanto os prejudicam;
‐ Acima de todas as medidas que se impõe tomar, no âmbito de uma estratégia, de desenvolvimento local, sobressai a necessidade premente da criação de acessos viários diretos,que permitam estabelecer uma maior proximidade e comunicabilidade populacional entre as localidades inter‐regionais vizinhas, não só entre si, como para poderem aceder a centros urbanos mais desenvolvidos, adquirindo concomitantemente elas próprias maior visibilidade externa e decorrente maior atratividade.
2–O problema
O vasto território que abrange os Concelhos de Nisa e de Castelo de Vide, no nordeste alentejano e de Castelo Branco e de Vila Velha de Ródão, no sudeste da Beira Baixa, à semelhança, aliás, de outros congéneres em toda a faixa longitudinal do interior de Portugal, sofre há décadas os efeitos nefastos da desertificação populacional, muito especialmente as freguesias situadas na periferia das sedes concelhias.
Situação idêntica é sentida a nível da vizinha Província de Cáceres, na Extremadura espanhola, considerando‐se da maior importância o estabelecimento de uma maior e mais regular cooperação transfronteiriça,incluindo a criação de vias de comunicação que concorram para o estabelecimento de maior proximidade, de que beneficiem todos os territórios mencionados.
O recente “Movimento pelo Interior” apresentou um conjunto de propostas que, levadas à prática,excluem liminarmenteessas freguesias mais recônditas, em especial, obrigando osseus autarcasa procurarem,por si próprios, as soluções que realisticamente se lhes apliquem, valendo‐se dos respetivos recursos endógenos ‐natureza, históricos,culturais e económicos‐ de
A localização geográfica extrema daqueles territórios, nomeadamente as que se encontram confinadas às áreas próximas do rio Tejo Internacional e dos seus afluentes Sever e Ponsul ‐ como é, mais gritantemente, o caso deMontalvão, Salavessa e S. Simão, mas também de Póvoa e Meadas, na região alentejana, bem como de Perais, Monte Fidalgo e Malpica do Tejo, na extrema interior da Beira Baixa ‐ configura justamente a necessidade premente de criar acessos viários diretos entre as mesmas, já que os rios que outrora estabeleciam a comunicação e a união entre elas, tornaram‐se linhas de descontinuidade territorial e de separação, a partir do momento em que a designada Barragem hidroelétrica de Cedilho foi construída.
Trata‐se, no entanto, de uma descontinuidade tecnicamente solucionável e que poderá não acarretar investimentos incomportáveis, não só porque existem diferentes alternativas, com custos distintos, como na relação custo‐benefício ter de se considerar o facto de se destinar a múltiplas gerações futuras.
Tudo o que antecede, sendo fundamental para aquelas duas regiões do território português, é válido para as vizinhas povoações espanholas de Cedilho Herrera de Alcantara, Santiago de Alcantara e Carbajo, na Provincia de Cáceres, na Extremadura espanhola, dado também elassofrerem de idênticas consequências da sua interioridade, face a outros territórios de Espanha e, por conseguinte, também de decréscimo populacional e de desertificação territorial, sendo questões que muito preocupam também as entidades locais.
A precária e condicionada ligação viária que atualmente existe entre Cedilho e Montalvão e vice‐versa, utilizandoobrigatoriamente uma pequena parcela (metade)do muro da Barragem de Cedilho,só não é totalmente insatisfatória, porque permite, apesar de tudo, a circulação aos fins de semana.
Por outro lado, essa precária circulação apenas permite ligar a região alentejana àquela pequena parte da Extremadura espanhola, excluindo, por conseguinte, a tão necessária comunicabilidade,de per si e entre ambas, com a região beirã e reciprocamente. Acessibilidade essa tão fundamental para o futuro de Montalvão, Perais e mesmo para Cedilho, bem como para todas as localidades suscetíveis de serem acedidas em todas as direções a partir delas.Trata‐se de criar uma comunidade interterritorial (intermunicipal e interfreguesias) e transfronteiriça mais abrangente, mais interativa e mais cooperante, independentemente das divisões administrativas atuais.
Nunca perdendo de vista o combate à desertificação das três regiões em causa, no mínimo no lado português, por ser essa a responsabilidade primordial das autoridades autárquicas nacionais, a única solução que importa considerar é a que permita estabelecer,primordialmente, a ligação entre as duas partes portuguesas, já que, resolvida esta, ficaria automaticamente possibilitado o acesso a Espanha, através do acesso já existente, ainda que limitado aos fins de semana, como já dito, e que urge também resolver.
É, pois, forçoso resolver a acessibilidade viária entre as três regiões em causa e, para isso,deverão ponderar‐se apenas duas alternativas técnicas suscetíveis de serem realizadas, como se explicitará no ponto seguinte. 3‐ As soluções possíveis – alternativas a considerar: vantagens e inconvenientes 3.1 – Ponte de ligação Cedilho – Montalvão
Porém, antes de desenvolvermos tais alternativas, importa esclarecer porque não incluímos nelas a tão falada construção da ponte ligando Cedilho a Montalvão.
Recorde‐se primeiramente que essa hipótese foi pensada há muitos anos atrás pelas entidades espanholas, sendo do conhecimento público ter sido concedida às mesmas uma avultada verba (4 milhões €), oriunda de fundos comunitários(Programa Operativo de Cooperación Transfronteriza España Portugal ‐ POCTEC), para a pretendida construção. Contudo, por razões que não vêm ao caso, tal verba não só não foi aplicada, gorando‐se aquela oportunidade, como tal facto impede agora novo recurso a fundos europeus, no âmbito do“Programa INTERREG V‐A ESPANHA–PORTUGAL (POCTEP) 2014–2020 (a 1ª Convocatória deste Programa tê‐lo‐á excluído), é a própria Presidente da Diputación de Cáceres que o reconhece, obrigando, por conseguinte, a recorrer ao autofinanciamento pela Diputación, eventualmente, complementado pela Câmara de Nisa.
Para além das evidentes dificuldades em se obter o autofinanciamento, sem ser através do recurso a capitais alheios, mediante empréstimo, há a ter em conta os custos e os sacrifícios financeiros que tal acarretaria para ambas as entidades, deixando antever grande improbabilidade de concretização.
Mas ignorando tudo isso, a solução em si mesma, é, por um lado, redundante, na medida em que tal ligação já existe através do muro da barragem, embora com todas as limitações e inconvenientes já referidos e que urge resolver, naturalmente, mediante conversações com a concessionária IBERDROLA1,tornando‐a uma via de ligação diária e permanente e, por outro, não resolveria a principal lacuna atualmente existente: a falta de ligação viária de Montalvão e Cedilho à Beira Baixa, muito mais determinante para o futuro de Montalvão e, mesmo, de Cedilho, como é para todos mais do que evidente.
Não é, portanto, uma solução que importe considerar prioritariamente e, sobretudo, deva mobilizar tão avultadas verbas, face a outras alternativas globalmente mais defensáveis e úteis.Tratar‐se‐ia de um desmesurado investimento, sem as contrapartidas sociais que se impõem.
3.2 – As soluções a considerar 3.2.1 A solução menos dispendiosa e mais expedita – circulação sobre o muro da barragem
Muito embora a exploração da Barragem hidroelétrica de Cedilho tenha sido atribuída a Espanha ‐ por convénio intergovernamental certamente, tal como a do Guadiana coube a Portugal ‐, a verdade é que toda ela está construída e é suportada em território exclusivamente português: um dos extremos do muro no nordeste alentejano, da Freguesia de Montalvão e o oposto em terrenos da Beira Baixa, da Freguesia de Perais.
Não obstante essa relevante circunstância, a verdade é que nunca aquelas Freguesias beneficiaram minimamente ou obtiveram qualquer medida compensatória pelos efeitos nefastos que a referida construção lhes provocou: i) desaparecimento de um património histórico, cultural e até produtivo, como eram os múltiplos moinhos de maré distribuídos ao longo da margem esquerda do Sever(lado português, portanto), a montante da represa; ii) destruição da atividade piscatória, artesanal e desportiva; iii) atividade lúdica e convivial
1…”Cordero*ha manifestado que no cierran la puerta "a vías alternativas, pero las posibilidades a este respecto no son todo lo buenas que nos gustarían".
Corderoyamostrósudisposición a "reforzar" el puente de la presa que une ambos lados de la Raya, con cargo a la Diputación.”... (Fonte:eldiario.es Extremadura)* Presidenta da Diputación de Cáceres,
RosarioCordero.
propiciadas pelas condições existentes anteriormente à barragem, com possibilidades de atravessamento do rio a “pé enxuto”.
A existirem ainda tais condições, atendendo à cultura cada mais difundida de caminhadas temáticas, seria uma mais valia económica e social para os territórios agora em vias de desertificação, como os mencionados.
Sendo isso um passado irrecuperável, o mínimo que se pode esperar agora é que os Governos de Portugal e de Espanha e em sua representação as autarquias mais diretamente afetadas (na jurisdição de Nisa, Castelo de Vide; Castelo Branco; Vila Velha de Ródão, em primeiríssima mão, mas também as do lado espanhol, sob o domínio da Diputación de Cáceres), acordem com a IBERDROLA a abertura da circulação viária durante todos os dias e horas do ano, sem outras restrições que não sejam as impostas pela segurança rodoviária ‐ com as particularidades que essa específica via determine ‐ e outras decorrentes da salvaguarda dos equipamentos com eventual maior exposição, o que aliás são condições que já hoje certamente se aplicam para a circulação permitida aos fins de semana.
Através da referida barragem, como ilustramos com as fotos anexas, facilmente se obteria uma solução com interesse para o nordeste alentejano, para a Beira Baixa e para Espanha, fazendo, portanto, o pleno e com o mínimo dispêndio, em termos de valor e prazo de construção, o que não é despiciendo para dois países onde não abundam os recursos financeiros.
Com esta solução, para além da eventual melhoria do pavimento para atravessamento da barragem, face ao que atualmente já acontece, apenas seria necessária a criação e melhoria de alguns acessos já existentes, aliás, e, por consequência, sempre menos dispendiosos do que, por exemplo, o equivalente em duas pontes e respetivos acessos, como seria necessário construir de raiz, para garantir uma solução idêntica.
Em suma, é imperioso por isso que as entidades responsáveis, nomeadamente as espanholas, sensibilizem e renegoceiem com a IBERDROLA a possibilidade e as condições de segurança para circular sem limitações de dias e horas sobre o muro da barragem, salvaguardadas que fiquem também as condições de segurança da própria barragem, naturalmente, como referido acima.
Sem prejuízo de se considerar esta alternativa como a mais económica e de mais rápida e fácil execução e, por conseguinte, aquela que deverá mobilizar todas as energias e recursos, é suposto, no entanto, que a sua viabilização esteja dependente de conversações com o concessionário IBERDROLA, só podendo conhecer‐se o seu resultado se forem, de facto, realizadas, cabendo tal iniciativa às entidades espanholas. Sendo, no entanto, a parte portuguesa a mais interessada e a que maior benefício colherá, terá de partir das respetivas autoridades o pedido expresso para que as mesmas prementemente se concretizem.
3.2.2Ponte exclusivamente em território nacional, ligando o Nordeste alentejano à Beira Baixa
Tal premência não pode, no entanto, ficar refém da existência ou não de tais conversações ou do sucesso ou insucesso das mesmas, porque se isso não se verificar em tempo breve, terá de procurar‐se uma solução que dependa exclusivamente da parte portuguesa, como é a alternativa da ponte ligando o Alentejo à Beira Baixa, aqui apresentada.
Analogamente à alternativa da barragem antes desenvolvida, a ponte entre Montalvão e Perais é a que mais benefícios traz aos dois territórios nacionais e à própria Espanha, por encurtar significativamente as distâncias aos grandes centros urbanos mais próximos e às vias rápidas para aceder a outros mais longínquos.
Esta hipótese já terá sido considerada nos anos setenta, estando já em funcionamento a barragem e tem em relação à hipotética ponte de Cedilho‐Montalvão várias vantagens:
‐ Desde logo, por permitir estabelecer a ligação entre três regiões, em vez de duas, sendo que, neste caso, esta última ligação já existe atualmente através da do muro da barragem, não obstante o óbice de apenas ser possível ao fim de semana; ‐ Por outro lado, o facto relevantíssimo de não estar proscrita pelos decisores comunitários, o que não acontece com a outra e, por conseguinte, ser suscetível de ser financiada com fundos comunitários do já referido Programa INTERREG; ‐ E por não exigir acessos de ligação com o mesmo grau de dificuldade construtiva e recursos financeiros. 4 – Ações a desenvolver 4.1 – Imediatas ‐ Formalização deste Acordo entre o maior número possível de Freguesias transfronteiriças;
‐ Comunicar e interceder junto dos respetivos Municípios para que integrem e apoiem este “Movimento em defesa destes territórios transfronteiriços”, no âmbito da Portaria 208/2017 de 13 de junho e do Programa INTERREG V‐A Espanha‐Portugal (POCTEP) 2014‐2020
‐ Manifestar através dos órgãos de comunicação social escritos e televisivos a existência e propósitos do Movimento;
‐ Do mesmo modo, com o pedido expresso para estudo e concretização da solução mais conveniente, apresentar às seguintes entidades, conjugadamente,por intermédio dos Municípios envolvidos: ‐ Presidente da República; ‐ Primeiro‐Ministro; ‐ Ministérios tutelares: Finanças; Administração Interna; Planeamento e Infraestruturas; ‐ Unidade de Missão para a Valorização do Interior;
‐ Comissões Parlamentares Permanentes: Comissão de Economia, Inovação e Obras Públicas eComissão de Ambiente, Ordenamento do Território, Descentralização, Poder Local e Habitação;
‐ Associação Nacional de Municípios Portugueses e Associação Nacional de Freguesias.
4.2 –Mediatas
Criação local doAgrupamento Europeu de Cooperação Territorial cf. DL 376 / 2007 de 8 de novembro.
Anexos:
1 – Petição subscrita por cerca de 3300 pessoas (até ao momento), tendo em vista obter a permissão da Iberdrola para circulação diária e sem limitação de horário, entre Cedilho e Montalvão e vice‐versa, por sobre o muro da barragem de Cedilho; 2 – Fotos da barragem, ilustrando as possibilidades de circulação sobre o muro da barragem; 3 – Textos demonstrativos de experiências positivas resultantes da cooperação transfronteiriça e da formação de Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial.
Entidades subscritoras
ANAFRE‐AssªºNac. Freguesias‐Delegªº Distrital Portalegre Coordenadora Distrital Concelho de Nisa: Câmara Municipal de Nisa ‐ Presidente Junta de Freguesia de Montalvão ‐ Presidente Junta de Freguesia de Alpalhão ‐ Presidente União das Freguesias de Arez e Amieira do Tejo ‐ Presidente União das Freguesias do Esp. Santo, NSGraça, S.Simão ‐ Presid. Junta de Freguesia de Santana‐Presidente Junta de Freguesia de Tolosa‐ Presidente Junta de Freguesia de São Matias ‐ Presidente Concelho de Castelo de Vide: Câmara Municipal de Castelo de Vide ‐ Presidente Freguesia de N.Sra da Graça de Póvoa e Meadas ‐ Presidente Freguesia de Santa Maria da Devesa ‐ Presidente Freguesia de São Tiago Maior ‐ Presidente Freguesia de São João Batista ‐ Presidente Concelho de Vila Velha de Ródão: Câmara Municipal de V. V. Ródão ‐ Presidente Junta de Freguesia de V.V.Ródão‐Presidente Junta de Freguesia de Sarnadas de Ródão‐Presidente Junta de Freguesia de Perais‐Presidente Junta de Freguesia de Fratel‐Presidente Concelho de Castelo Branco: Câmara Municipal de Castelo Branco ‐ Presidente Junta de Freguesia de Malpica do Tejo‐Presidente Junta de Freguesia de Cebolais de Cima e Retaxo‐Presidente Diputación de Cáceres: Diputación de Cáceres ‐ Presidente Ayuntamiento de Cedillo‐Alcalde
Ayuntamiento de Herrera de Alcantara‐Alcalde Ayuntamiento de Santiago de Alcantara‐Alcalde Ayuntamiento de Carbajo‐Alcalde