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ESTRATÉGIAS DE REPRODUÇÃO SOCIAL EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO QUILOMBOLAS NO MUNICÍPIO DE CAMETÁ, ESTADO DO PARÁ

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Academic year: 2021

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ESTRATÉGIAS DE REPRODUÇÃO SOCIAL EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO QUILOMBOLAS NO MUNICÍPIO DE CAMETÁ, ESTADO DO PARÁ

Autor(es): Edfranklin Moreira da Silva, Maria Madalena Freire Corbin, Silvaneide Santos de Queiroz Côrte Brilho, Gisele do Socorro dos Santos Pompeu

Filiação: Professores na Universidade Federal do Pará, Campus Universitário de Cametá E-mail: edfranklin@ufpa.br

Grupo de Pesquisa 1: Perspectivas dos diversos sistemas agroalimentares

Resumo

Neste trabalho analisamos as estratégias de reprodução social desenvolvida em sistemas de produção quilombolas na comunidade de Tomásia, no Município de Cametá, Estado do Pará. A metodologia utilizada baseou-se nas orientações de Dufumier (2010) sobre a análise-diagnóstico de sistemas de produção com aplicação de questionários junto a 19 famílias. O cultivo da mandioca é a principal estratégia de produção que contribui para a reprodução das famílias quilombolas. Na comunidade é bastante significativo às redes de parentesco como estratégia de reprodução social, a exemplo da utilização da casa de farinha. A produção da farinha é coletiva e depois distribuída entre aqueles que trabalharam na fabricação. A realidade particular de Tomásia aponta para a necessidade de ações por parte do Estado que garanta a efetiva participação das mulheres quilombolas nas políticas públicas voltadas para a Agricultura Familiar.

Palavras-chave: Campesinato, reprodutibilidade, diversificação, quilombo, Amazônia Paraense.

Abstract

In this article we analyze the social reproduction strategies developed in quilombola production systems in the community of Tomásia, in the municipality of Cametá, in the state of Pará. The methodology used was based on the guidelines of Dufumier (2010) of family production with questionnaires applied to 19 families. The cultivation of cassava is the main production strategy that contributes to the reproduction of quilombola families. In the community it is quite significant to kinship networks as a strategy of social reproduction, such as the use of the flour house. The flour production is collective and then distributed among those who worked in manufacturing. The reality of Tomásia points to the need for action by the State that guarantees the effective participation of quilombola women in the public policies directed to family agriculture.

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1. Introdução

Os quilombolas têm desenvolvido, ao longo da história, na Amazônia paraense, sistemas de produção diversificados com a combinação de cultivos (anuais e perenes), criações (pequenos e grandes animais), extrativismo (produtos da sociobiodiversidade), pesca artesanal (para os que têm acesso ao rio) e criação de peixes em tanques. Esses sistemas de produtivos, também, são marcados por processos políticos, culturais e sociais que condicionam uma ampla diversidade de formas de produção e de relação de homens e mulheres com a natureza.

Aqui entendemos por sistema de produção a combinação das atividades produtivas e dos fatores de produção (compreendendo, inclusive, o trabalho familiar), organizado pela família (BROSSIER, 1987). Essa compreensão permite identificar e analisar caminhos possíveis para a consolidação desses sistemas produtivos e da reprodução social dos quilombolas.

A produção é central para a reprodução social dos camponesas, tanto no sentido material quanto simbólico. Para se ter a produção, os camponeses fazem uma projeção de como se utilizar a natureza, a partir de um conjunto de saberes acumulados ao longo de suas histórias, de forma a atingir um dado rendimento a partir da observação do solo, da espécie vegetal a ser cultivada, da quantidade de chuvas, entre outros fatores (WOORTMANN; WOORTMANN, 1997). Assim, objetivamos neste trabalho identificar e analisar as estratégias de reprodução social desenvolvidas por famílias quilombolas em seus sistemas de produção, no Município de Cametá, Pará.

2. Procedimentos metodológicos

A pesquisa foi realizada na comunidade quilombola de Tomásia, que fica no distrito de Juaba, Município de Cametá, Estado do Pará. Para o levantamento dos dados sobre as produções foi utilizado o método de Análise-Diagnóstico de Sistema de Produção como proposto por Dufumier (2010). Para a realização do diagnóstico aplicou-se um questionário com 19 famílias da comunidade. Foram levantados dados sobre as práticas agrícolas, uso da terra e mão de obra, a fim de caracterizar os sistemas produtivos e analisar as lógicas de reprodução social dos quilombolas. Os dados foram

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inseridos em um banco de dados no programa Microsoft Excel para sistematização. Foi utilizada estatística descritiva, como frequência, média, maior e mínimo para tratar os dados.

3. Grupos doméstico, trabalho e reprodução do saber-fazer

Os 19 grupos domésticos estudados têm, em média, 5 membros, nem sempre pertencentes ao grupo nuclear. Destes, 26% têm de 3 a 4 membros, 26% têm de 5 a 6 e 16% têm de 7 a 8. Grupos domésticos com um pequeno número de pessoas (1 e 2) conformam 16% do universo considerado e os com maior número (de 9 a 13) totalizam 16%. A quantidade de membros da família e o ciclo de reprodução, em geral, incidem na disponibilidade da força de trabalho. Nesse sentido, as unidades em estudo apresentam, relativamente, boa proporção de mão de obra.

A maioria das unidades quilombolas em Tomásia é chefiada (autodesignação no momento da pesquisa) por mulheres (74%) que se dividem entre o trabalho produtivo e reprodutivo. Dados do IBGE/PNAD (2006) e IBGE/CENSO (2010) apontam que nas áreas rurais a chefia familiar feminina passou de 14,6% para 17,7% entre 2006 e 2010. Para Hora e Butto (2014) apesar de se traduzir em maior autonomia das mulheres, por outro lado, pode representar também maior sobrecarga de trabalho, o que necessitaria ser acompanhada do apoio a socialização do trabalho doméstico e de cuidados por parte do Estado (HORA e BUTTO, 2014, p.18).

As crianças a partir dos 10 anos de idade também começam a “ajudar” no trabalho da roça, é quando começam a aprender sobre as técnicas de cultivo, as diferenças de produção por variedades cultivadas, os tipos de solo, o “ponto de roça” entre outros saberes. Garcia Jr. (1983) explica que o saber trabalhar é o que marca a passagem de pequeno para grande. Ainda nessa perspectiva, Woortmann e Woortmann (1997) argumentam que para se tornar adulto é preciso ser reconhecido pela coletividade como força plena. Isso se dá, quando se domina o saber-fazer, ou seja, saber como e porque fazer. Assim “[...] não é a idade que faz o homem pleno ou a força plena, mas é o saber pleno que faz a idade enquanto construto social” (WOORTMANN; WOORTMANN, 1997, p.12).

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A agricultura é principal ocupação das famílias, 56% das pessoas da comunidade se ocupam exclusivamente desta atividade. Os demais desenvolvem simultaneamente, a agricultura e outra atividade (doméstica, professor, comerciante e estudante). Nesse sentido, a agricultura é a principal estratégica de reprodução social das unidades familiares chefiadas por mulheres no quilombo. Identificamos 14 tipos de cultivos desenvolvida pelas famílias quilombolas: mandioca, arroz, milho, melancia, maxixe, café, abacate, manga, abóbora, jerimum, gergelim, caju, goiaba e quiabo.

A mandioca (Manihot esculenta Crantz.) é a principal atividade que compõe a renda das famílias na comunidade. Das famílias entrevistadas 95% cultivam essa cultura, no entanto, os sistemas de produção são bem diversificados. A maior parte das espécies cultivadas serve exclusivamente para o autoconsumo das famílias quilombolas. A diversidade de culturas alimentares produzida é uma estratégia para garantir a manutenção das famílias. Nesse sentido, Ellis (2000) explica que a diversificação amplia os meios de vida ou estratégia de vivência, aumentando a segurança, por construir um portfólio com várias atividades e recursos para manutenção das famílias.

As áreas de cultivos variam de 0,5 hectares (menor área de roça) a 2 hectares (maior área de roça). A média das parcelas cultivadas por unidade familiar é de 1 hectare, esse tamanho é comum para a região, visto que a forma de cultivo é tradicional, baseada no sistema de corte e queima, o que demanda maior emprego de mão de obra. Para usar áreas maiores para o tipo de culturas cultivadas seriam necessárias aplicação de tecnologias ou força de trabalho mais intensiva.

Em se tratando da criação de animais foi identificado que 68% das famílias criam aves (galinhas caipira e patos), sendo toda a produção (corte e ovos) destina ao próprio consumo do grupo. Apenas, uma família cria suínos destinando a produção tanto para o consumo familiar, quanto para a comercialização. Nas entrevistas os quilombolas esclareceram que há um acordo na comunidade para não criar suínos, isso porque os animais são criados de forma extensiva e acabam invadindo as áreas de roça e causando prejuízos. Nesse sentindo, fica clara a falta de orientações técnicas e de recursos financeiros para construir estruturas adequadas para a criação mais intensiva desses animais.

Para além das criações que servem ao autoconsumo, uma outra fonte importante de proteínas animal na comunidade é a atividade de caça. Dos entrevistados 21% praticam a caça de animais

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alternativa à compra de carne no mercado, e contribui para a autonomia das famílias. Também, serve para fortalecer as redes de reciprocidade, uma vez que os animais abatidos são divididos entre as famílias.

5. Considerações finais

Em Tomásia é bastante significativo às redes de parentesco como estratégia de reprodução social, a exemplo da utilização da casa de farinha. Na comunidade a produção da farinha é coletiva e depois distribuída entre aqueles que trabalharam na fabricação. Assim, também, o espaço da casa de farinha é coletivo, um exemplo de uso comunitário e, ao mesmo tempo, de fortalecimento da organização de grupos tradicionais. A realidade particular, de Tomásia, aponta também para a necessidade de ações por parte do Estado que garanta a efetiva participação das mulheres quilombolas nas políticas públicas voltadas para a Agricultura Familiar e para sua autonomia como chefes de família.

Referências

DUFUMIER, Marc. Projetos de desenvolvimento agrícola: manual para especialistas. Tradução Vitor de Athayde Couto. 2 ed. Salvador: EDUFBA, 2010.

ELLIS, Frank. Rural livelihoods and diversity in developing countries. Oxford: Oxford University Press, 2000.

GARCIA JR., Afrânio. Terra de trabalho: trabalho familiar de pequenos produtores. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.

GAZOLLA, Márcio; SCHNEIDER, Sérgio. A produção da autonomia: os “papéis” do autoconsumo na reprodução social dos agricultores familiares. Estudos Sociedade e Agricultura, v. 15, n. 1, p. 89-122, 2007.

HORA, Karla. BUTO, Andréa. Políticas públicas para mulheres rurais no contexto dos Territórios da Cidadania. 2014. Andréa Butto, Nalu Faria, Karla Hora, Conceição Dantas, Miriam Nobre, orgs. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Agrário, 2014. 132 p.

WOORTMANN, Ellen; WOORTMANN, Klaas. O trabalho da terra: a lógica e a simbólica da lavoura camponesa. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1997.

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