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Candomblé - Curso de Cantigas Yorubá 2-1

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O Yorùbà e o Candomblé

O Candomblé, em sua essência Yorùbá foi deturpando-se no geral com o passar dos séculos, desde a chegada dos primeiros negros oriundos da África, particularmente da Nigéria e do Dahomé (atual República Popular de Benin), sendo que os de origem Yorùbá foram dos últimos a chegarem ao Brasil, já próximo ao término da escravidão.

Por sua diferença de maneiras (embora se diga que não) foram aproveitados em grande número como escravos domésticos, pois eram considerados mais refinados. Mas, com a sua adaptabilidade do tão conhecido jeitinho brasileiro, moldou-se segundo a nossa personalidade, adaptando-se e forjando-nos como afro-brasileiros para nos classificarmos, se assim se pode dizer.

A nossa religião é uma das mais belas e originais manifestações de espiritualidade, com um vasto e riquíssimo naipe de nuanças, com personalidade, feição e expressão próprias, traduzidas em linguagem também própria e particularizadas, apesar de variada.

A linguagem oral: através da qual se expressam os orins (cânticos), àdúràs (rezas), ofós (encantamentos) e oríkìs (louvações). É através dela que se conversa com os Òrìsà.

Nossa religião é eminentemente de transmissão oral, e a despeito disso, preservaram grande parte dos seus rituais, cânticos e liturgia com sua língua litúrgica falada quase que fluentemente em seu bojo, pelas pessoas mais proeminentes, mas, infelizmente, em número bem restrito.

A língua oficial nos cultos Kétu, Ègbá, Ifón e Ìjèsà é o Yorùbá, que apesar disso é também muito utilizada nos cultos de origem Angola e Jeje, que são oriundos de países e culturas diferentes.

Apesar de pouco conhecido pela grande maioria dos adeptos da religião, o Yorùbá é amplamente falado de maneira empírica apenas mecânica e meramente mimética, repetindo-se o que foi dito e decorado anteriormente.

Diz algumas pessoas, que o Yorúbá é uma língua morta e está para o culto aos Òrìsà assim como o Latim está para o Catolicismo. Mas isso é um engano, o Yorùbá é uma língua viva e dinâmica e é falado ainda nos dias atuais por cerca de 20 a 25% da população da Nigéria e possui elevado número de dialetos, cuja língua oficial é o Inglês, introduzido ali pelos colonizadores.

No Benin, são mais ou menos 20 a 25% também de sua população, dentre outros tantos dialetos, que falam o Yorùbá como sua primeira língua ou segunda, dependendo do aculturamento.

O Yorùbá é a primeira língua de aproximadamente 30 milhões de africanos ocidentais, e é falada pelas populações no Sudoeste da Nigéria, Togo, Benin, Camarões e Serra Leoa.

A língua também sobreviveu em Cuba (onde é chamada de Lukumi) e no Brasil (onde é chamada Nagô), termo que inicialmente era usado pejorativamente, querendo significar "gentinha, gentalha, ralé".

À parte de vários dialetos, existe o Yorùbá padrão, que é usado para propósitos educacionais (ex. em jornais, revistas, no rádio, TV e em escolas). Esta forma padrão é compreendida por oradores dos vários dialetos que atuam como tradutores do Yorùbá oficial para o dialetal e vice-versa.

No Brasil o interesse pelo Yorùbá dá-se principalmente entre as pessoas adeptas da Religião dos Òrìsà, que recebe o nome genérico e popular de Candomblé, não importando a origem, se Yorùbá, Fon (Jeje) ou Bantu (Angola).

O Candomblé nasceu da necessidade dos negros escravos em realizarem seus rituais religiosos que no princípio eram proibidos pelos senhores de escravos. E para burlar essa proibição, os negros faziam seus assentamentos e os escondiam, preferencialmente fazendo um buraco no chão, cobrindo-os e por cima colocavam uma imagem de um santo católico. Então eles cantavam e dançavam para seus Òrìsà, dizendo que estavam cantando e dançando em homenagem àquele santo católico; daí nasceu o sincretismo religioso, que foi abandonado mais tarde pela maioria dos adeptos do Candomblé tradicional, com o "término" da escravidão e mais concretamente quando o Candomblé foi aceito como religião com a liberdade de culto garantida pela Constituição Brasileira.

À primeira vista para os leigos, o Candomblé é uma coisa só. Mas, não é bem assim. Existem vários grupos, onde o mais expressivo, sem dúvida, é o grupo Yorùbá (na atualidade). Na época do tráfico de escravos, vieram muitos negros oriundos de Angola e Moçambique: os Bantos, Cassanges, Kicongos, Kiocos, Umbundos, Kimbudos, de onde se originou o “Candomblé Angola”, facilmente reconhecido por quem é da religião, pela maneira diferente de falar, cantar, dançar e percutir os tambores, o que é feito com as mãos diretamente sobre o couro com ritmos e cadências próprios, alegres e ligeiros.

É o Candomblé de onde se originou o Samba, que tomou emprestado o próprio nome, que em Kimbundo significa "oração". É também origem do "Samba de roda", que era feito como recreação, principalmente pelas mulheres, após os afazeres rituais, dançando e cantando dizeres em sua maioria jocosos e galhofeiros. Mais tarde assimilado pelo Samba de Caboclos, aí já em sua versão mais “abrasileirada” como um culto ameríndio que era feito pelos Caboclos, neste momento incorporados em seus "cavalos" e já em idioma aportuguesado com versos chamados de "sotaque". Isto, porque quase sempre eram parábolas ou charadas que poucos entendiam, muito em voga ainda hoje.

Acha-se que este Samba de Caboclos foi o embrião da Umbanda, onde nasceu o culto aos Òrìsà cantado e falado em português, fazendo assim a nacionalização dos Òrìsà africanos, que algumas pessoas faziam objeção por ter uma língua estrangeira não bem aceita pelos já nascidos

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brasileiros e que foram perdendo os conhecimentos da língua ancestral, principalmente por causa do analfabetismo.

A Umbanda é a mistura do culto aos Òrìsà, do Catolicismo e do Kardecismo, resultando numa religião Brasileira, que hoje em dia é até exportada para os países vizinhos, principalmente os do cone Sul, como Argentina, Paraguai e Uruguai, onde existem até confederações de Umbanda e onde o Brasil está para eles, assim como a África está para nós.

A origem da força cultural Yorùbá foi demonstrada em uma das guerras havidas entre o Dahomé e a Nigéria, mais ou menos do meado para o final do século dezesseis, em que o Estado de Kétu teve praticamente metade do seu território anexado ao Dahomé como espólio de guerra, após sua população, juntamente com a de Meko, ter sido saqueada e parte dela capturada como escravos perdurando essa anexação militar até os dias atuais.

Como resultado dessa guerra, muitos foram capturados de ambos os lados, e foram vendidos aos portugueses como escravos. Foi quando, já ao final do século, começaram a chegar tantos os escravos de origem Ewe-Fon, conhecidos popularmente por Jejes, oriundos do Benin, antigo Dahomé, que foram capturados pelos Yorùbá, como recíproca dos Yorùbá capturados pelos Ewe-Fon, também vendidos como escravos. Os Yorùbá em sua maioria, eram oriundos de Kétu, o território anexado. Mas, também vieram negros trazidos de outras áreas Yorùbás como Òyó, Ègbá, Ilesá, Ifón, Abeokutá, Irê, Ìfé, etc.

Estes dois grupos (Jeje e Yorùbá) quando chegaram ao Brasil, continuaram inimigos ferrenhos e não havia hipótese de um aceitar o outro. Mas, eram indivíduos de tradições sociais religiosas tribais e não podiam sobreviver sozinhos. Então procuraram unirem-se em virtude da condição cativa de ambos. Essa união era difícil tanto pela barreira do idioma, pois eram vários e diferentes em dialetos, quanto pelo ódio que alguns nutriam contra os outros. Do que os senhores de escravos e feitores se aproveitavam em tirar proveito para fomentar mais ainda a animosidade entre eles. Pois, os senhores de Engenho, principalmente, temiam a união do grande número de escravos, o que certamente poderia colocar em risco a segurança dos brancos. Então, quando eles permitiam que os negros se reunissem no terreiro para cantar e dançar, estimulava-lhes a que fizessem "rodas" separadas, somente com seus compatriotas, onde os Kétu não misturavam-se aos Jejes nem Bantu e assim também os outros faziam o mesmo eles próprios com relação aos outros. Mas, com o tempo essa tática foi deixando de dar certo, porque os negros entenderam que sua maior fraqueza era a sua própria desunião, e resolveram se unir para facilitar um pouco à sobrevivência, unindo-se contra o inimigo comum, isto é, o branco. Isso é mais evidenciado com a instituição dos quilombos, que eram focos de resistência dos negros fujões, e que não se curvavam à escravidão.

Na nossa religião nós cantamos, oramos e, até dialogamos em Yorùbá com pequenas frases e termos usuais do dia-a-dia nas casas de culto com a assimilação de um até vasto vocabulário, se levarmos em consideração as condições em que se deu a preservação disto.

É de suma importância às linguagens da nossa religião, sobretudo, a oral porque a entendendo, entenderemos os rituais e poderemos nos comunicar com os nossos Òrìsà e Ancestrais, através da palavra.

Se não souber falar Yorùbá a pessoa falará aos emane em português mesmo, os Òrìsà ouvirão e atenderão da mesma maneira. O que é mais importante é a fé e a sinceridade com que nos dirigimos a eles. Contudo, se nos comunicamos em Yorùbá é muito mais gratificante a emoção que sentimos ao saber que o fazemos da mesma maneira que os nossos Ancestrais faziam há vários séculos atrás em nossa língua mãe religiosa.

Então, nós louvamos, elogiamos, exaltamos, enaltecemos os imalè no culto aos Òrìsà, no Candomblé, de acordo com a herança a nós legada pelos nossos antepassados, negros oriundos de vários lugares d'África, atravessando os séculos e chegando até nossos dias. As cantigas são um modo de enaltecer e glorificar fatos e feitos relacionados com determinado Òrìsà, reportando-se à mitologia daquele Òrìsà.

Louvar é: elogiar, dirigir louvores, exaltar, enaltecer, etc. Isto nós o fazemos diuturnamente no culto aos Òrìsà, de acordo com a herança a nós legada pelos nossos ancestrais negros que nos ensinaram como fazê-lo através dos séculos desde então, da mesma maneira como eles o faziam. Essas maneiras são variadas e diversas, embora, aos olhos do leigo, possa parecer tudo a mesma coisa.

Dessas maneiras, a mais popular é o ORIN (a cantiga-música). Com ela nós louvamos qualquer orixá ou imalè (espíritos). As cantigas são modos de enaltecer e glorificar os fatos e feitos relacionados a determinado Òrìsà ou imalè, reportando um acontecimento ligado à mitologia daquele Òrìsà.

Portanto, aprender a cantar corretamente e rezar para louvar os Orisá faz-se necessário, inclusive para um maior conhecimento e entendimento das suas lendas.

Texto de Altair T’Ogun

Adaptado por Babalorixá Fábio Ti Sangó (Obagodô)

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Exú

Esú é o primeiro orixá a ser louvado no candomblé, porque representa o princípio do movimento. Uma vez acionado é preciso controla-lo, com respeito a qualquer movimento. A fome é um dos motivos que leva o homem a se mover em direção a um objetivo. Esú come demais. E, por comerem as plantações, é que se diz que as formigas são de Esú. Assim como a terra e os formigueiros. Os pés de qualquer animal também são de Esú.

Esú mora nos caminhos mais diversos e é controvertido. Tem um gênio travesso e faz o que lhe pedem. Não tem noção de bem e de mal e se movimenta apontando o pênis para o lugar onde quer ir. Não existe lugar no passado, presente ou futuro a que Esú não possa ir. Também é associado à sexualidade – a segunda fome humana.

Filho primogênito de Iemonjá com Orunmila, o deus da adivinhação e irmão de Ogun, Xangô e Oxossi, era voraz e insaciável. Conseguiu comer todos os animais da aldeia em que vivia. Depois disso, passou a comer as árvores, os pastos, tudo o que via até chegar ao mar. Orunmila previu então que Eu não pararia e acabaria comendo os homens, e tudo o que visse pela frente, chegando mesmo a comer o céu. Ordenou então a Ogun que contivesse o irmão Esú a qualquer custo. Para conseguir isso, Ogun foi obrigado a matar Esú, a fim de preservar a terra criada e os seres humanos. Mesmo assim, depois da morte de Esú, a natureza, os pastos, as árvores e os rios, tudo permaneceu ressecado e sem vida, doente e morrendo. Um babalaô (representante de Orunmila na terra) alertou Orunmila de que o espírito de Esú sentia fome e desejava ser saciado, ameaçando provocar a discórdia entre os povos como vingança pelo que Orunmila e Ogun haviam feito. Orunmila determinou então que em toda e qualquer oferenda que fosse feita pelos homens a um orixá, houvesse uma parte em homenagem a Esú, e que essa parte seria anterior a qualquer outra, para que se mantivesse sempre satisfeito e assim possibilitasse a concórdia.

Ogun

O orixá Ogun é um dos mais amados na cultura Yorubá. Além de ter sido o primeiro ferreiro, foi ele quem descobriu a fundição e inventou todas as ferramentas que existem. É o patrono da tecnologia e da própria cultura, pois sem as ferramentas nada mais poderia ser inventado. Até mesmo plantar, em grandes extensões, seria extremamente difícil. Tendo inventado as ferramentas, com a foice ele abriu os primeiros caminhos para o resto do mundo, o que dá a ele o poder de abri-los ou fecha-los. Com a faca ele fez o primeiro sacrifício ritual, por isso sempre se louva Ogun durante estes sacrifícios. Com o ancinho ele arou terras e plantou. Com a tesoura cortou peles e inventou os abrigos. Com o machado cortou árvores para construir abrigos. Com o martelo pode unir os troncos com pregos, que ele inventou.

Com a cunha pode levantar grandes pesos e assim aconteceu de Ogun, com a espada que forjou, poder guerrear e conquistar territórios para seu povo.

No entanto, não quis ser rei, pois preferia os desafios ao poder. Continuou lutando e inventando para sempre.

A guerra é de Ogun, cujo nome significa exatamente guerra. Ogun nunca se cansa de lutar, costuma-se chamar por sua ajuda em situações que é extremamente difícil continuar lutando ou quando o inimigo é extremamente forte. Não se deve invocar Ogun à toa, pois seu gênio e extremamente violento. É um solteirão convicto. Teve muitas mulheres, mas não vive com nenhuma. Criou um filho adotivo, abandonado nas mãos dele por Iansan, a deusa dos ventos e raios, que por sua vez o havia adotado de Osun, a deusa do amor e da riqueza. Um dos mitos sobre ele diz que Ogun é filho de Iemonjá com Oduduwa. Desde criança sempre foi destemido, impetuoso, arrojado e viril, tendo se tornado sempre mais e mais um brilhante guerreiro e conquistado muitos reinos para seu pai. Não houve um só caminho que Ogun não tenha percorrido.

Um irmão dedicado, Ogun tinha por Oxossi uma afeição muito especial, defendendo-o várias vezes de seus inimigos e passando mesmo a morar fora de casa com Oxossi, quando este foi expulso de casa por Iemonjá. Foi Ogun quem ensinou Oxossi a defender-se, a caçar e a abrir seus próprios caminhos nas matas onde reina. Ogun teve muitas mulheres, a principal delas Oyá, guerreira como ele, tendo sido roubada por Xangô, que é seu irmão por parte de mãe. Ogun passou a viver sozinho, para a guerra e para a metalurgia.

(4)

Cantigas de Exu

Èsú yè, Laróyè ! (Viva Èsú! Ou Salve Èsú!)

1

A jí kí Barabo ago mojúbà, àwa kò sé

A jí kí Barabo ago mojúbà, e omodé ko èkò èkó

Barabo e mojúbà Elégbára Èsú l’óònòn.

A ji qui Barabô ago mojubá auá cô xê

A jí qui Barabô ago mojubá ê omódê có é có

Barabô môjubá Élébára Exú lonã.

Nós acordamos e cumprimentamos Barabo,

A vós eu apresento meus respeitos,

Que vós não façais mal.

Nós acordamos e cumprimentamos Barabo

A vós eu apresento meus respeitos.

A criança aprende na escola (é educada, ensinada)

Que a Barabo eu apresentei meu respeito, ele é

Senhor da Força, o Exú dos caminhos.

2

Bará ó bebe Tirirí l’ònòn

Èsú Tirirí, Bará o bebe Tirirí l’ònòn, Èsú Tirirí.

Bará ô bébé tirirí lónã Exú tirirí

Bará ô bébé tirirí lónã Exú tirirí, Exú Tirirí

Exú, ele realiza proezas maravilhosas,

Tirirí é o Senhor dos Caminhos, Exú Tirirí.

3

Xo Xoroque Odára, Odára bàbá ebo

Xo Xoroque Odára, Odára bàbá ebo

Xo Xoroque ôdara ôdara babá ebó

Xo Xoroque ôdara ôdara babá ebó

Odara sobe, sobe (ascenção), Odara é o pai dos

ebós

Odara sobe no fogo que ele próprio acendeu

4

Èsú wa jú wo mòn mòn ki wo Odára

Laróyé Èsú wa jú wo mòn mòn ki wo Odára

Èsú awo.

Exu a ju uô mã mã qui uô ódara

Larôiê Exu a ju uô mã mã qui uô ódara

Exu auô.

Exu nos olha no culto e reconhece, sabendo que o

culto é bom,

Larôie Exu nos olha no culto e reconhece sabendo

que o culto

É bonito, vamos cultuar Exu.

5

Odára ló sòro, Esu Odára ló sòro lóònòn

Odára ló sòro, Esu Odára ló sòro lóònòn

Ôdára lô xorô Exu Ôdára lô xorô lónã

Ôdára lô xorô Exu Ôdára lô xorô lónã

Odara pode tornar o caminho difícil,

Ele é o Senhor dos caminhos.

6

Odára sá wê pê Exu Odára sá wê pê lóònòn

Odára sá wê pê Exu Odára sá wê pê lóònòn

Odára xá uê pê Exu Odára xá uê pê lónã

Odára xá uê pê Exu Odára xá uê pê lónã

Odara corta e se banha demoradamente,

Exu Odara corta e se banha demoradamente no

caminho

7

Elégbára Èsú ó sá kéré kéré

Akesan Bará Èsú ó sá kéré kéré.

Elébára Exu ô xá querê quere

Akésã bará Exu ô xá quere quere.

Exu, o Senhor da Força (do poder)

Faz cortes profundos e pequenos,

Akésan Exu do corpo, faz cortes profundos

E pequenos (gbéré).

8

A jí ki ire ni Èsú, Èsú ka bí ka bí.

A jí ki ire ni Èsú, Èsú ka bí ka bí.

A ji qui irê ni Exú, Exú cá bi ca bi

A ji qui ire ni Exu, Exu cá bi cá bi.

Nós acordamos e cumprimentamos felizes a Exu,

E Exu conta como nascemos, Exu conta como

nascemos.

9

E Elégbára Elégbára Èsú Aláyé

E Elégbára Elégbára Èsú Aláyé

Ê élébára élébára Exu alaiê

Ê élébára élébára Exu alaiê

Senhor da Força, Senhor do Poder

Senhor da Força, Senhor do Poder

Cumprimentamos o Chefe (dono do mundo)

(5)

Cantigas de Ogun

Ògún yè, pàtàkì orí Òrìsà!

(Salve Ògún, Òrìsà importante da cabeça! ou, O Cabeça dos Òrìsà importantes!)

1

Ògún àjò e mònriwò, alákòró àjò e mònriwò

Ògún pa lè pa lóònòn Ògún àjò e mònriwò

Elé ki fí èjè wè.

Ogum ajô é manriuô alácôrô ajô é manriuô

Ogun pa lê pa lónã ogun ajô é manriuô

Élé qui fi éjé ué.

Ogun o Senhor que viaja coberto de folhas novas de

palmeira,

Ogun o Senhor que viaja coberto de folhas novas de

palmeira,

Ogun mata e pode matar no caminho, Ogun viaja

coberto por

Folhas novas de palmeira, é o Senhor que toma banho

de sangue.

2

Àwa nsiré Ògún ó, èrù jojo

Àwa nsiré Ògún ó, èrù jojo

Èrù njéjé

Auá xirê ogum ô éru jójó

Auá xirê ogum ô éru jójó

Érum jéjé

Nós estamos brincando para Ogun com medo extremo

Segredamos nosso medo, nos comportamos

calmamente, Mas com medo.

3

Ògún nítà ewé rè, Ògún nítà ewé rè

Ba Òsóòsí l’oko ri náà lóòde

Ògún nítà ewé rè

Ogum nitá euê ré, ogum nitá euê ré

Ba Oxossi Okô ri naa lôdê, ogum nitá euê ré

Ogun tem que vender as suas ervas,

Ogun tem que vender as suas ervas,

Encontra-se com Oxossi nos arredores da fazenda

Ogun tem que vender suas ervas.

4

Alákòró elénun alákòró elénun ó

Ae ae ae alákòró elénun ó

Alácorô élénun alácorô élénun ô

Aê aê aê alácorô élénun ô

O Senhor do akorô vangloria-se (de suas lutas)

O Senhor do akorô é aquele que conta bravatas.

5

A l’Ògún méje Iré, aláàda méji, méji

A lôgum mejê ire aláda mêji mêji

Nós temos sete Ogun em Irê

É o Senhor das duas espadas.

6

Sa Sa sa ogun o, Ògún ajo iku igbale

Xa xa xa Ogun o, Ògún ajo eku bale

Ogun cortou, cortou, cortou.

E foi bem recebido na terra

7

Ògún Onirê onirê Ògún

Alakorô onirê, Obá de órun

Ògún Onire onire ogun

Alakoro onire, Oba de orun

Ogun senhor de Ire, o senhor de ire e ogun

Proprietário do akoro e senhor de ire

Rei que chega do céu

8

Ògún ni alagbe odé

mònriwò odé

Odé mònriwò

Ogun ni alabedé

Manriuô odé

Odé manriuô

Ogun e o senhor da forja e caçador

Que se veste de folhas novas de palmeira

De folhas novas de palmeira ele se veste

9

Ògún dê arê rê

Irê Irê Ògún já

Ákòró awá adê arê rê

Irê Irê Ògún já

Ogún dê arê rê

Irê Irê Ogún já

Akorô wá dê arê rê

Irê ilê ogun já ô

Ogun de lutas que chegue a nós

em feliz de Irê

Ogun que luta de elmo que nos protege

(Chegue a nós) faça a nossa casa feliz Ogun

(6)

Òsóòsí

Oxossi é filho de Iemonjá com Orunmila. É a divinização da floresta, reinando sobre o verde,

sobre os animais selvagens, dos quais é considerado o dono e dos quais tem todas as virtudes. Oxossi é

sagaz como o leopardo, forte como o leão, leve como o pássaro, silencioso como o tigre, observador

como a coruja. Sabe se esconder como um tatu, é vaidoso como um pavão, corre como os coelhos, sobe

em árvores como macacos, conhece os animais profundamente e com eles partilha o conhecimento da

natureza.

Dizem os mitos que aprendeu a caçar com seu irmão Ogun, quando este lhe deu as pontas de

flechas e, mais tarde, a espingarda. A essência de Oxossi é “atingir um objetivo”. Fixar o alvo e atingi-lo.

Alimentar a família. Oxossi sempre foi o responsável por alimentar a família. É considerado o orixá que

dá de comer às pessoas, pois sob seus domínios estão os animais e os vegetais. Assim, invoca-se a

energia de Oxossi quando se quer encontrar algo ou atingir algum objetivo e para prover sustento

(moral ou físico) durante as jornadas.

Invoca-se Oxossi, o patrono da natureza, quando se quer encontrar remédios para certos males,

embora seja necessário pedir para Ossain que o remédio faça efeito. Ogum assim o fez, mas como

Oxossi relutasse em voltar ao lar, e ao voltar desfeiteasse sua mãe, esta o proibiu de viver dentro da

casa, deixando-o ao relento. Como havia prometido ao irmão ser sempre seu companheiro, Ogum foi

viver também do lado de fora da casa.

Oxossi tornou-se o melhor dos caçadores e diz o mito que foi ele quem livrou Araketu, sua

cidade, de um grande feitiço das perigosíssimas ajés (feiticeiras africanas) Iyami Osorongá, que se

transformam em pássaros e atacam as pessoas e cidades com doença e miséria.

Tendo uma das feiticeiras pousado sobre o palácio do rei do Ketu e os demais caçadores do reino

perdido todas as suas flechas tentando mata-la, Oxossi, com apenas uma, deu cabo do perigoso

pássaro, tendo sido conclamado o rei do Ketu. Pede-se a Oxossi, portanto que destrua feitiços ou

energias maléficas.

Um dia, enquanto caçava elefantes para retirar-lhe as presas, Oxossi encontrou e apaixonou-se

por Osun, a deusa das águas doces e do ouro que repousa em seus leitos, e com ela teve um filho,

Logun-Edé. Filho da floresta com as águas dos rios, Logun-Edé é considerado o orixá da riqueza e da

fartura, que ambos os domínios apresentam e dos quais compartilha.

Òsónyìn

Ossain é a energia mágico/curativa das folhas e por isso divinizada na forma do senhor das folhas

e dos remédios. Seu interesse pela ciência tornou-o um solitário desde que desceu o Orun (o céu

Yoruba). Embrenhou-se pelas florestas e vive para descobrir e se apoderar dos segredos mágicos das

folhas, o elemento mais importante, sem dúvida, no candomblé. Alguns mitos dizem que Ossain

aprendeu os segredos das folhas com Aroni, uma espécie de gnomo africano, que tem uma perna só, e

com os pássaros, alguns deles a forma tomada pelas temíveis feiticeiras africanas (ajé) Iyami Osorongá,

cujo nome não deve ser pronunciado para não atraí-las.

Sentindo-se sozinho, enfeitiçou Oxossi, a quem sempre encontrava nas matas, e o levou para os

fundos destas onde lhe ensinou muitos segredos e pretendia mantê-lo, (alguns mitos dizem que como

amigo, outros dizem que como amante) o que Yemonjá e Ogum não permitiram, voltando Ossain a sua

solidão.

Segundo o mito, Xangô, o deus do trovão, desejando obter os fundamentais poderes de Ossain,

pediu à sua mulher, Iansan, a deusa dos ventos e das tempestades, que ventasse muito no lugar onde

morava Ossain, para que as folhas sagradas que guardava em sua cabaça de segredos fossem

espalhadas e ela pudesse apanha-las. Por seu amor a Xangô, Iansan assim fez. No entanto, quando o

vento espalhou as folhas todos os orixás correram para apanha-las, sabendo de seus poderes.

Ossain, ao ver o que acontecia, pronunciou palavras mágicas que solicitavam que as folhas

voltassem às matas, sua casa e seu domínio. Todas as folhas voltaram, mas cada orixá ficou

conhecendo o poder daquelas que conseguiu apanhar. Só que elas não tinham o mesmo Asé (poder e

energia) do que quando estavam sob o domínio de Ossain. Para evitar novos episódios de roubo e

inveja, Ossain permitiu, então, que cada orixá se tornasse dono de algumas folhas cujo poder mágico de

conhecimento e de cura ele liberaria quando lhe pedissem ao retira-las de suas plantas. Em troca exigiu

que jamais cortassem ou permitissem o corte de uma planta curativa ou mágica.

Toda a medicina Yoruba se baseia, portanto, nos poderes de Ossain, sobre as folhas-remédio e

Obaluaiê, o deus que rege as doenças graves. Ambos os orixás são muito temidos e respeitados, porque

também entre os Iorubas, o mesmo princípio que cura, mata. Remédio e veneno são questão de grau.

(7)

Cantigas de Òsóòsí

Ode òkè aro!

Salve o caçador!(Aquele de alta graduação honorífica)

1

Ofá yéyé f’igbô

Odé f’igbô

Ofá yéyé f’igbô

Omorodé

Ofará iéié fibô

Odé fibô

Ofará iéié coxé

Omorodé

Seu arco e flecha são adequados para a floresta

Para caçar na floresta

Seu arco e flecha são adequados e apropriados

Para formar novos caçadores

2

Araiê Ode arê rê okê

Awá nìsó odé l’okê

Omo ofá ó kú eron

Araiê odé arerê okê

Auanisó odé loquê

Omo ofá aquerã

Senhor da Humanidade nosso bom caçador

Nós o chamamos para aprendermos a caçar

Filho do arco e flecha que mata a caça

3

Araiê Ode arê rê okê

E omorodé seke Irokô

Araiê odé arê rê okê

Oni ewá l’igbô

Araiê odé arerê oquê

E omorodé xeque iroco

Onieuálô ibô

Senhor da Humanidade nosso bom caçador

O filho do caçador origina-se das folhas de iroko

Senhor belo e poderoso da floresta

4

Omorodé l’ ìjeníiyà ô

Olúwaiyé

Omorodé l’ ìjeníiyà ô

omorodé lo igeniuaô

Oluaiê

Omorodé lo igeniuaô

Odé coque

O filho do caçador é aquele que pode punir

Senhor da terra

O filho do caçador é aquele que pode punir

É o caçador que está no topo (acima de tudo)

5

Omorodé kossi ilê arole ago mi Ifá

Omorodé kossi ilê arole ago mi Ifá

Kòiá kòia Olúwaiyé

Ode kossi ilê arole ago mi Ifá

omorodé cossilê arole ago mi fá

omorodé cossilê arole ago mi fá

coiá coiá oluaiê

odé arole ago mi fá

O filho do caçador não caça em casa;

Ele pede licença arco e flecha.

Não nos castigue, não nos castigue Senhor da terra

O caçador pede licença para a casa.

6

Omorodé lai lai

Omorodé ki awá jò

Agbà awá bo owo l’Oko igbò

Omorodé lai lai

Omorodé qui ua jô

Abauabo loco co ibo

Omorodé oluaiê

Filho do caçador para sempre

Filho do caçador para quem nós dançamos

Nossa comunidade de agricultores o cultua na fazenda

e não no bosque

O filho do caçador é o senhor da terra.

7

Omorodé L’Oní

Omorodé Olúwaiyé

omorodé loni

omorodé oluaiê

O filho do caçador é o senhor

O filho do caçador é o senhor da terra

8

Oní ewò oní ewò

Bèru Bèru Bèru

Oniuô niuô

Berú berú berú

(8)

Que nos amedronta (que mete medo)

9

Ò Ìdarò

Ò Ìdarò Irunmalè

Ò Ìdarò lè Béèni uô

Ò Ìdarò Irunmalè

Ô Idarô

Ô Idarô irunmalé

Ô Idarô lê bé miô

Ô Idarô irunmalé

Ele é independente

Ele é o irunmalé independente

Ele é independente e pode tornar-me também

Ele é irunmalé independente

10

Awá tafá tafá Ode

Awá tafá tafá Awo

Awá Aráiê

Awá tafá tafá Ode

auá tafá tafá rodé

auá tafá tafá auô

auá araiê

auá tafá tafá rodé

Nosso arqueiro caçador

Nosso arqueiro de cor (negro)

Da nossa humanidade

Nosso arqueiro caçador

11

Ode Ba nì là

Asè Omì orò

Odé bainlá

Axé omirô

O caçador tem

O poder do segredo da água

12

Lae lae oní T’ofà Ode

Ode nì T’ofà

Lae lae oni tofá dodé

Odé ni tofá

O senhor caçador dono do arco e flecha

O caçador tem o arco e flecha

13

Ofà Ode obá tafà

Ma un ma un

Ofá odé obá tafá

Maun maun

O caçador do arco e flecha, o Rei arqueiro

Não exagera, Não exagera

Cantigas de Òsónyìn

Ewé, ewé !

(Oh folhas, Oh folhas!)

Kosi ewé, kosi orisá!

(Sem folhas, sem orixás)

1

Pèrègùn olowè titùn ô

Pèrègùn olowè titùn

Gbogbo pèrègùn olowé lèsé

Pèrègùn olowè titùn ô

Peregun alauê titun ô

Peregun alauê titun

Bobo peregun alaue lessé

Peregun alauê titun ô

Peregun é o dono das folhas novas e frescas

Peregun é o dono das folhas novas e frescas

Todos os pereguns cultuam as folhas novas e frescas

Peregun é o dono das folhas novas e frescas

2

Awá sorò ki Inón

Odò rodùn

Pèrègùn olowè titùn

awá xoro xi mã

odorodun

peregun alauê titun

Nós não cultuamos o fogo

Nos caminhos do rio

Peregun é dono das folhas novas e frescas

3

Abebe nbo, Abebe nbo

Ewé Abebe

Abebe nbo, Abebe nbo

Ewé Abebe

Abebe umbó, abebe umbó

eue abebe

(9)

Abebe umbó, abebe umbó

eue abebe

O abebe cultuamos, o abebe cultuamos

As folhas do abebe,

O abebe cultuamos, o abebe cultuamos

As folhas do abebe

4

Mò jewé Pè mò sorò ô

Mò jewé Pè mò sorò

Ò bè l’òwò mi, Ò bè l’òwò mi

Mò jewé Pè mò sorò

Mó jéuê pê mó soró ô

Mó jéuê pê mó soró

Ô bê lóuó mi, ó be lóuó mi

Mó jéuê pê mó soró

Ela é a folha a quem demoradamente eu falo

Ela é a folha a quem demoradamente eu falo

Ela me dá suporte e me ajuda

Ela é a folha a quem demoradamente eu falo

5

Erò Irokò izò

Erò Irokò esín ilè

eró iroko izô

eró iroko sin ilê

A calma é de iroko que quebra o vento

A calma é de iroko que cultuamos em nossa casa

6

Ata kò rojù ewé ò

Aféfé kò rojù igbò óògun

Ata kò rojù ewé ò

Aféfé kò rojù igbò óògun

ata co roju eué ô

a lelé co roju ibogun

ata co roju eué ô

a lelé co roju ibogun

Pimenta não é mais forte que a folha

Vento não é mais forte que a floresta de remédios

Pimenta não é mais forte que as folhas

Vento não é mais forte que a floresta de remédios

7

Igba nbò mi agué nì Orô

Ae ae

Igba nbò mi agué nì Orô

Ae agué

Ibabo xé mi agué ni orô

Ae ae

Ibabo xé mi agué ni orô

Ae agué

Cabaça faça-me crer em Orô

Ae ae

Cabaça faça-me crer em Orô

Ae Agué

8

Itòrórò agué, agué itòrórò

Sa gbin

itororô agué, agué itororô

xa gin

é ungida a cabaça, a cabaça é ungida

somente um pouco

9

Agué ma Inón o pa idà

Agué ma Inón o pa ida ò

Agué ma ina opa ada

Agué ma ina opa ada ô

Ágüe não quer fogo nem facão que o mata

Ágüe não quer fogo nem facão que o mata

10

Ewé, ewé, ewé

Agué ifo to idà Ifá

ewé, ewé, ewé

agué isso to adáfa

Folha, folha, folha

(10)

Obalúwàiyé

Obaluaiê ou Omolu é a energia que rege as pestes como a varíola, sarampo, catapora e outras doenças de pele. Ele representa o ponto de contato do homem (físico) com o mundo (a terra). A interface pele/ar. A aparência das coisas estranhas e a relação com elas. Ele também rege as doenças transmissíveis em geral. No aspecto positivo, ele rege e cura, através da morte e do renascimento.

Diz o mito que Obaluaiê é filho de Nanã (a lama primordial de que foram feitas as cabeças – oris – humanas) e Oxalá, tendo nascido cheio de feridas e de marcas pelo corpo como sinal do erro cometido por ambos, já que Nanã seduziu Oxalá, mesmo sabendo que ele era interditado por ser o marido de Yemonjá.

Ao ver o filho feio e malformado, coberto de varíola, Nanã o abandonou à beira do mar, para que a maré cheia o levasse. Yemonjá o encontrou quase morto e muito mordido pelos peixes, e tendo ficado com muita pena, cuidou dele até que ficasse curado. No entanto Obaluaiê ficou marcado por cicatrizes em todo o corpo, e eram tão feias que o obrigavam a cobrir-se inteiramente com palhas. Não se via de Obaluaiê senão suas pernas e braços, onde não fora tão atingido. Aprendeu com Yemonjá e Oxalá como curar estas graves doenças. Assim cresceu Obaluaiê, sempre coberto por palhas, escondendo-se das pessoas, taciturno e compenetrado, sempre sério e até mal-humorado.

Um dia, caminhando pelo mundo, sentiu fome e pediu às pessoas de uma aldeia por onde passava que lhe dessem comida e água. Mas as pessoas assustadas com o homem coberto desde a cabeça com palhas expulsaram-no da aldeia e não lhe deram nada. Obaluaiê, triste e angustiado, saiu do povoado e continuou pelos arredores, observando as pessoas. Durante este tempo os dias esquentaram, o sol queimou as plantações, as mulheres ficaram estéreis, as crianças cheias de varíola e os homens doentes. Acreditando que o desconhecido coberto de palha amaldiçoara o lugar, imploraram seu perdão e pediram que ele novamente pisasse na terra seca.

Ainda com fome e sede, Obaluaiê atendeu ao pedido dos moradores do lugar e novamente entrou na aldeia, fazendo com que todo o mal acabasse. Então homens os alimentaram e lhe deram de beber, rendendo-lhe muitas

homenagens. Foi quando Obaluaiê disse que jamais negassem alimento e água a quem quer que fosse, tivesse a aparência que tivesse. E seguiu seu caminho.

Chegando à sua terra, encontrou uma imensa festa dos orixás. Como não se sentia bem entrando numa festa coberto de palhas, ficou observando pelas frestas da casa. Neste momento Iansã, a deusa dos ventos, o viu nesta situação e, com seus ventos levantou as palhas, deixando que todos vissem um belo homem, já sem nenhuma marca, forte, cheio de energia e virilidade. E dançou com ele pela noite adentro. A partir deste dia, Obaluaiê e Iansã se uniram contra o poder da morte, das doenças e dos espíritos dos mortos, evitando que desgraças aconteçam entre os homens.

Os Yorubá acreditam que este mito nos mostra que o mal existe, que ele pode ser curado, mas principalmente que é preciso ter consciência do momento em que ele terminou, sabendo recomeçar após um violento sofrimento.

Obaluaiê rege também a força da terra (herdado de sua filiação a Nanã), a umidade dela (por sua adoção por Yemonjá) e as doenças das plantações.

Òsùmàrè

Oxumarê é a energia das cores, da luz, do sol após as chuvas, do arco-íris, e por isso mesmo é associado às serpentes, que são muito coloridas e poderosas.

Conta o mito que apesar de tudo que houvera com Obaluaiê, Nanã e Oxalá tiveram outro filho. Este era Oxumarê. Contudo, como novamente eles haviam desobedecido aos preceitos de Orunmila, Oxumarê nasceu sem braços e sem pernas, com a forma de serpente, rastejando pela terra, e ao mesmo tempo com a forma de homem. Mais uma vez decepcionada Nanã abandonou Oxumarê.

Oxumarê entretanto possuía grande capacidade adaptativa e, mesmo sem membros para locomover-se, possuía imensa astúcia e inteligência, aprendeu a subir em árvores, a caçar para comer, a colher as batatas doces de que tanto gostava, e a nadar.

Orunmila, o deus da adivinhação do futuro, admirando-se e apiedando-se dele, tornou-o um orixá belo, de sete cores de luz, encarregando-o de levar e trazer as águas do céu para o palácio de Xangô. È Oxumarê, portanto quem traz as águas da chuva e é a ele que se pede que chova.

Como seu percurso era longo, Oxalá, seu pai, fez com que ele tomasse a forma do arco-íris quando tivesse essa missão a realizar. Com as águas da chuva, Oxumarê traz as riquezas aos homens ou a pobreza. Oxumarê vive com sua irmã Ewá no fim do arco-íris.

Nàná

Nanã é a lama primordial, o barro, a argila da qual são feitos os homens. Dela saem seres perfeitos e imperfeitos, modelados por Oxalá e cuja cabeça é preparada pelo sensível Ajalá.

Dizem os mitos que antes de criar o homem, do barro, Oxalá tentou cria-lo de ar e de fogo, de água, pedra e madeira, mas em todos os casos havia dificuldades. O homem de ar esvaecia; não adquiria forma. O de fogo consumia-se, o de pedra era inflexível e assim por diante. Foi então que Nanã se ofereceu a Oxalá, para que com ela criasse os homens, impondo, contudo, a condição de que quando estes morressem fossem devolvidos a ela.

(11)

Sendo o barro, Nanã está sempre no princípio de tudo, relacionada ao aspecto da formação das questões humanas, de um indivíduo e sua essência. Ela é relacionada também, freqüentemente, aos abismos, tomando então o caráter do inconsciente, dos atavismos humanos. Nanã tanto pode trazer riquezas como miséria. Está relacionada, ainda, ao uso das cerâmicas, momento em que o homem começa a desenvolver cultura. Seja como for, Nanã é o princípio do ser humano físico. E assim é considerada a mais velha das Iabás (orixás femininos).

Dizem os mitos que nunca foi bonita. Sempre ranzinza, instável, sua aparência afastava os homens, que dela tinham medo. Como já vimos nos mitos de Obaluaiê o Oxumarê , ela os gerou defeituosos, por ter quebrado uma interdição e mantido relações sexuais com Oxalá, marido de Iemanjá. Abandonou a ambos, que foram criados por outros orixás, e acabou sozinha quando Ewá, para fugir de um casamento que sua mãe lhe impingia, foi morar no horizonte entre o céu e o mar.

Cantigas de Obalúwàiyé

Atótóo! Omolú Olúké a jí béèù sapada!

(Silêncio! O filho do Senhor é o Senhor que grita, nós acordamos com medo e corremos de volta!)

1

Onílè wà àwa lésè òrìsá

Opé ire onílè wá a lésè òrìsá Opé ire

E kòlòbó e kòlòbó sín sín sín sín Kòlòbó

E kòlòbó e kòlòbó sín sín sín sín Kòlòbó

Ôníléuá auá léssé orixá

Ópué irê Ôníléuá auá a léssé orixá Ópué irê

É Côlôbô É Côlôbô sim sim sim sim côlôbô (2 x)

O Senhor da terra está entre nós que cultuamos orixá.

Agradecemos felizes pelo Senhor da terra estar entre

nós que cultuamos orixá.Agradecemos felizes.

Em sua pequena cabaça traz remédios

para livrar-nos das doenças.

2

Ó àfomó ó fá ojú rè mò fá, aráayé njó jó

Aráayé a njó onílè, aráayé njó jô

Afômó ôfá ojúré mófá aráaiê unjôjô

Aráaiê a unjôônilê aráaiê unjôjô

Ele é contagioso, ele faz a limpeza.

Seu olhar tira o contágio das doenças.

A humanidade dança, dança a humanidade

Nós dançamos para o senhor da casa

A humanidade dança

3

Omolú pê a júbà a èko, oníyê

Omolú pê a júbà a èko, oníyê

Ómólú puê a júbá a écó ôniiê (2 x)

Omolú, vos pedimos que nos abençoe

E nos ensine, senhor da boa memória

4

Olórí ìjeníìyà a pàdé, Olórí pa

Olórí ìjeníìyà a pàdé, Olórí pa

Olôri ijéninha a padé, Olorípa (2 x)

O Senhor que mata, o Senhor que castiga

vem ao nosso encontro.

5

Jó a lé ijó, é jó a lé ijó, é jô a lé ijó,

Àfaradà a lé njó ó ngbèlé

Jôalê ijô ê jôalê ijô ê jôalê ijô

Afaradá alê ijô umbêlê

Dance em nossa casa, dance. (3 x)

Dando força e energia à nossa casa.

Dançando ele dá proteção à casa.

6

Aráayé a je nbo, Olúbàje a je nbo

Aráayé a je nbo, Olúbàje a je nbo

Aráaiê ajé umbó, olúbajé ajé umbó (2 x)

Povo da terra, vamos comer e adorá-lo, o senhor

aceitou comer.

7

Ó ní a ló ìjeníìyà Ajàgun tó ló ìjeníìyà olúwàiyé

Táálá bé okùnrin

O táálá bé okùnrin wa ki lo kun táálá bé okùnrin

Abénilórí ìbé ó ní je olúwàiyé táálá bé okùnrin

Ôní a lô ijéninha ajagun tôlô ijéninha ôlúuaiê

Táalabé ócunrin

Ô táalabé ócunrin uá quilocun táalabé ócunrin

Abénilôrí ibéri ônijé ôlúuaiê táalabé ócunrin

Ele pode fazer secar a cabeça do homem,

levá-lo embora e esculpir a cabeça do homem.

Ele pode fazer definhar, matar a cabeça do homem. É

o executor, o que decapta sua cabeça.

Ele é o Senhor da terra, que definha e decapta o

homem, ele pode nos castigar. O guerreiro que pode

castigar. Senhor da terra, que definha e decapta.

8

A jí dàgòlóònòn kí wa sawo orò, dàgò ilé ilé,

Dàgòlóònòn kí wa sawo orò, dàgò ilé ilê.

A ji dagôlônã qui uá xaôrô dagô ilêilê

Dagôlônã qui uá xaôrô dagô ilêilê

Ao acordar pedimos licença ao senhor do caminho

Aquele a quem fazemos o culto tradicional, dê licença

À nossa casa, que pede licença no caminho a quem

nós fazemos o culto tradicional.

9

Omolú pè olóre a àwure e kú àbò

Omolú pè olóre a àwure e kú àbò

Omolú puê olôre auúrê écuabó (2 x)

(12)

Omolú te pedimos Senhor da sorte, que use o teu

Feitiço para nos trazer boa sorte e sejas bem-vindo.

10

Ó ìjeníìyà bàbá a sin e gbogbo wa lé

Ó ìjeníìyà bàbá a sin e gbogbo wa lé ó

Ô ijéninha babá a sim é bôbô uálê (2 x)

Ele é o pai que castiga, nós vos cultuamos, senhor, e

toda nossa casa.

11

Kóró nló awo, kóró nló awo, sé ó gbèje

Kóró nló awo, kóró nló awo, sé ó gbèje

Côrô unló auô, kôrô unló auô, xê ô bêjé (2 x)

Ele se dirige para ir embora do culto, ele vai embora

do culto, ele aceitou comer.

Cantigas de Òsùmàrè

Àróbò bo yi!

Vamos cultuar o intermediário que é elático(que se estica)!

01

Kéke rá lé mi rá lé wa, kéke rá lé mi rá lé wa

Ra lé mi rá lé wa, rá lé mi rá lé wa.

Quéqué ralêmi ralêuá quéqué ralêmi ralêuá

Ralêmi ralêauá ralêmi ralêuá

Em silêncio, ele rasteja sobre mim,

Rasteja sobre nós, rasteja sobre mim,

Rasteja sobre nós.

02

Òsùmàrè ó dé wa lé Òsùmàrè

Ó dé wa lé o ràbàtà, ó dé wa lé Òsùmàrè

Ôxumarê ôdeualê ôxumarê

Ôdêualê rabatá ôdeualê ôxumarê

O Deus do arco-íris (Òsùmàrè) chegou à nossa

casa,

Deus do arco-íris. Ele chegou à nossa casa e é

imenso

(gigantesco). Ele chegou à nossa casa, O Deus do

arco-íris.

03

Òsùmàrè ó ta kéré, ta kéré, o ta kéré

Òsùmàrè ó ta kéré, ta kéré, o ta kéré

Ôxumarê ô ta quere ta quere ô ta quere

Ôxumarê ô ta quere ta quere ô ta quere

O Deus do arco-íris movimenta-se rapidamente

Para adiante, adiante, adiante

04

Lé’lé mo ri ò ràbàtà, lé’lé mo ri Òsùmàrè ó,

Òsùmàrè wàlé’lé mo ri Òsùmàrè.

Lêlê morí ô rabatá lêlê morí ôxumarê ô

Ôxumarê uálêlê morí ôxumarê

Ele está sobre a casa, eu vi, ele é imenso

(gigantesco).

Ele está sobre a casa, eu vi, Oxumarê.

Oxumarê está sobre a casa, eu vi Oxumarê

05

Aláàkòró lé èmi ò aláàkòró lé ìwo

Aláàkòró lé èmi ò aláàkòró lé ìwo

Alácôrô lêêmi ô alácorô lêiuó

Alácôrô lêêmi ô alácorô lêiuó

O Senhor do ákòró está sobre mim

O Senhor do ákòró está sobre você.

06

Tímòn, tímòn-tímòn Òsùmàrè a imòn,

Tímòn, tímòn-tímòn Òsùmàrè a imòn

Timán timán-tíman ôxumarê a iman

Timán timán-tíman ôxumarê a iman

Intimamente, nós conhecemos Oxumarê

Intimamente. Intimamente, nós conhecemos

Oxumarê intimamente.

07

Àmòntòn yìí, àmòntòn òjòó é é é

Àmòntòn òjòó, ó fí ó fí ofe

Àmòntòn yìí, àmòntòn òjòó ràbàtà l’òrun ó

Wulè, àmòntòn yìí, àmòntòn òjòó ó fí ó fí ofe

Amantánhii amantán ôjôô ê ê ê

Amantánhii amantán ôjôô ôfi ôfi ófé

Amantánhii amantán ôjôô ê ê ê rabatá lórun ô

Uulé amantánhii amantán ôjôô ôfi ôfi ófé

(13)

Ele conhece esta chuva ê ê ê, ele conhece esta

chuva,

Ele usa feitiço que o faz saltar muito alto, ele

conhece

Esta chuva, ele é gigantesco no céu e fura a terra

(adentra), ele

Conhece esta chuva, ele usa feitiço

Que o faz saltar muito alto.

Cantigas de Nàná

Sálù ba Nàná Burúkú!

Nos refugiaremos com Nàná da morte ruim!

01

E Nàná olúwàiyé e pa e pa

E Nàná olúwàiyé e pa e pa

Ê nanã oluuaiê é pa é pa

Ê nanã oluuaiê é pa é pa

Nanã, a Senhora da terra, senhora da terra que

mata

Nanã, a Senhora da terra, senhora da terra que

mata

02

E ti mòn sòn fún omoode, e ti mòn jé ó,

E ti mòn sòn fún omoode, e ti mòn jé ó.

É tíman sanfum ómóódé é ti man jéô

É tíman sanfum ómóódé é ti man jéô

Senhora que sabe ser boa para os filhos dos

caçadores, ela sabe ser boa (protege).

03

Òdì Nàná ewà, lewà lewà e

Òdì Nàná ewà, lewà lewà e

Ôdi nanã ni euá legua legua ê

Ôdi nanã ni euá legua legua ê

A outa face (outro lado) de Nanã é bonita,

A outra face de Nanã é bonita.

04

E taláàyà àjò olúwodò ki wa àjò

E taláàyà àjò olúwodò ki wa àjò

É taláiajô oluuôdo quiuajô

É taláiajô oluuôdo quiuajô

Senhora que pode exasperar-nos numa viagem

Senhora do rio (das margens) quando estamos

viajando

05

Awá ló bímon ayò Olóko, Nàná ayò,

Awá ló bímon ayò Olóko, Nàná ayò.

Auá lóbiman aió ólócó nanã aió

Auá lóbiman aió ólócó nanã aió.

Nós podemos tomar outra direção para termos

alegria

Do nascimento de filhos. Nanã Ólócó (aquela que

tem poderes

para chamar um parente morto para aparecer como

Egúngún),

Faça-nos felizes; nós podemos tomar outra direção

para termos a

Alegria do nascimento de filhos.

Nanã Ólócó faça-nos felizes.

06

(14)

Ó ni ayalóòde.

Ô íáua óré ôni aialôôdê ô íáua óré

Ôni aialôôdê.

Ela é a nossa mãe e amiga, ela é Senhora da alta

sociedade

Òsún

Oxum é a força dos rios, que correm sempre adiante, levando e distribuindo pelo mundo sua água que mata a sede, seus peixes que matam a fome, e o ouro que eterniza as idéias dos homens nele materializada. Como as águas dos rios, a força de Oxum vai a todos os cantos da terra. Ela dá de beber as folhas de Ossain, aos animais de Oxossi, esfria o aço forjado por Ogum, lava as feridas de Obaluaiê, compõe a luz do arco-íris de Oxumarê.

Oxum é por isso associada à maternidade, da mesma maneira que Yemonjá. Por sua doçura e feminilidade, por sua extrema voluptuosidade advinda da água, Oxum é considerada a deusa do amor. A Vênus africana.

Como acontece com as águas, nunca se pode prever o estado em que encontraremos Oxum, e também não podemos segura-la em nossas mãos. Assim, Oxum é o ardil feminino. A sedução. A deusa que seduziu a todos os orixás masculinos.

Diz o mito que Oxum era a mais bela e amada filha de Oxalá. Dona de beleza e meiguice sem iguais, a todos seduzia pela graça e inteligência. Oxum era também extremamente curiosa e apaixonada por um dos orixás, quis aprender com Orunmilá, o melhor amigo do seu pai, a ver o futuro. Como o cargo de Oluô (dono do segredo) não podia ser ocupado por uma mulher, Orunmilá, já velho, recusou-se a ensinar o que sabia a Oxum. Oxum então seduziu Exú, que não pode resistir ao encanto de sua beleza e pediu-lhe que roubasse o jogo de ikin (cascas de coco de dendezeiro) de Orunmilá. Para assegurar seu empreendimento Oxum partiu para a floresta em busca das Iyami Oxorongá, as perigosas feiticeiras africanas, a fim de pedir também a elas que a ensinassem a ver o futuro. Como as Iyami desejavam provocar Exú há tempos, não ensinaram Oxum a ver o futuro, pois sabiam que Exú já havia roubado os segredos de Orunmilá, mas a fazer inúmeros feitiços em troca de que cada um deles recebessem sua parte.

Tendo Esú conseguido roubar os segredos de Orunmilá, o deus da adivinhação se viu obrigado a partilhar com Oxum os segredos do oráculo e lhe entregou os dezesseis búzios com que até hoje jogam. Oxum representa, assim a sabedoria e o poder feminino. Em agradecimento a Exú, Oxum deu-lhe a honra de ser o primeiro orixá a ser louvado no jogo de búzios, e entrega a eles suas palavras para que as traga aos sacerdotes. Assim, Oxum é também a força da vidência feminina. Mais tarde Oxum encontrou Oxossi na mata e apaixonou-se por ele. A água dos rios e as florestas tiveram então um filho chamado Logun-Edé, a criança mais linda, inteligente e rica que já existiu.

Apesar do seu amor por Oxossi, numa das longas ausências deste, Oxum foi seduzida pela beleza, os presentes (Oxum adora presentes) e o poder de Xangô, irmão de Oxossi, rompendo sua união com o deus da floresta e da caça. Como Xangô não aceitou Logun-Edé em seu palácio, Oxum abandonou seu filho, usando como pretexto a curiosidade do menino, que um dia foi vê-la banhar-se no rio. Oxum pretendia abandoná-lo sozinho na floresta, mas o menino se esconde sob a saia de Iansã, a deusa dos raios, que estava por perto. Oxum deu então seu filho a Iansã e partiu com Xangô tornando-se, a partir de então, umas de suas esposas prediletas e companheira cotidiana.

Oyá

Iansã é a forças dos ventos, dos furacões, das brisas que acalmam, das coisas que passam como o vento, dos amores efêmeros, sensuais, das tempestades, que assolam a existência, mas não duram para sempre. Iansã ajudava Ogum na forja dos metais, soprando o fogo com o fole para aviva-lo mais e mais, e assim fabricarem mais ferramentas para trabalhar o mundo e armas para as guerras de que ambos tanto gostavam. Por seu temperamento livre e guerreiro, Iansã era uma companheira perfeita para Ogum. Diz o mito que Iansã não podia ter filhos, por isso adotou Logun-Edé, filho abandonado por Oxum, e o criou durante algum tempo.

Diz o mito, também, que Iansã era tão linda que, para fugir ao assédio masculino vestia-se com uma pele de búfalo, e saía para a guerra. Que era amiga tão leal que foi ela a primeira a realizar uma cerimônia de encaminhamento da alma de um amigo caçador ao orum (céu). Iansã não parava jamais. Um dia em que Xangô foi visitar seu irmão Ogum e encomendar-lhe armas para a guerra, Iansã (também conhecida como Oyá) apaixonou-se por Xangô, e partiu para viver com ele, deixando Logun-Edé com Ogum, que terminaria de cria-lo. A partir de então, tornou-se uma das três esposas de Xangô e com ele reina e luta, enviando seus ventos para limpar o mundo e anunciando a chegada dos raios e trovões de seu amado.

Lògún-Ode

Logun-Edé, chamado geralmente apenas de Logun, é o ponto de encontro entre os rios e as florestas, as barrancas, beiras de rios, e também o vapor fino sobre as lagoas, que se espalha nos dias quentes pelas florestas. Logun representa o encontro de natureza distintas sem que ambas percam suas características. É filho de Oxossi com Oxum, dos quais herdou as características. Assim, tornou-se o amado, doce e respeitado príncipe das matas e dos rios, e tudo que

(15)

alimenta os homens, como as plantas, peixes e outros animais, sendo considerado então o dono da riqueza e da beleza masculina. Tem a astúcia dos caçadores e a paciência dos pescadores como principais virtudes.

Dizem os mitos que sendo Oxossi e Oxum extremamente vaidosos, não puderam viver juntos, pois competiam pelo prestígio e admiração das pessoas e terminaram separando-se. Ficou combinado entre eles que Logun-Edé viveria seis meses nas águas dos rios com Oxum e seis meses nas matas, com seu pai Oxossi. Ambos ensinariam a Logun a natureza dos seus domínios. Ele seria poderoso e rico, além de belo. No entanto, o hábito da espreita aprendido com seu pai, fez com que, um dia, curioso a respeito da beleza do corpo de sua mãe, de que tanto se falava nos reinos das águas, Logun-Edé vestindo-se de mulher fosse espiá-la no banho. Como Oxum estivesse vivendo seu romance com Xangô, tio de Logun, e Xangô tivesse exigido como condição do casamento que ela se livrasse de Logun, Oxum aproveitou a oportunidade para punir Logun abandonando-o na beira do rio. Iansã o encontra, e fascinada pela beleza da criança leva Logun para casa onde, juntamente com Ogum, passa a cria-lo e educa-lo.

Com Ogum, Logun-Edé aprendeu a arte da guerra e da forja, e com Iansã, o amor a liberdade. Diz o mito que Logun tinha tudo, menos o amor das mulheres, pois mesmo Iansã, quando roubada de Ogum por Xangô, abandona Logun com seu tio, criando assim um profundo antagonismo entre Xangô e Logun, já que por duas vezes Xangô lhe tira a mãe.

Em outro episódio Logun vai brincar nas águas revoltas (a deusa Obá, também esposa de Xangô) e esta tenta mata-lo como vingança contra Oxum que lhe fizera uma enorme falsidade. Oxum, vendo em seu jogo de búzios o que estava sucedendo com seu filho abandonado, pede a Orunmilá que o salve e este, que sempre atendia às preces da filha de Oxalá, faz uma oferenda a Obá que permite então que os pescadores salvem Logun-Edé, encarregando-o de proteger, a partir daquele dia,os pescadores, as navegações pelos rios e todos os que vivessem à beira das águas doces.

Cantigas de Ọșùn

Rọra Yèyé ó fí dé ri ọmọn!

(Mãe cuidadosa, aquela que usa coroa e olha seus filhos – Rainha e Mãe)

01

Yèyé, yèyé, yèyé o

Ìya orò omi wa onì a

ș

è tò rì efạn

E ọba kó só ayaba ó

Ìya orò omi wa onì a

ș

è tò rì efạn

Iêiê iêiê iêiê ô

Iá orô omiuá oní axé torí efon

E obá kossô aiaba ô

Iá orô omiuá oní axé torí efon

Mamãe, mamãe, mamãe, nossa mãe dos segredos das

águas. Senhora do axé de Efon, Rainha do reino

sagrado. Nossa mãe dos segredos das águas,

Senhora do axé de Efon.

02

Kẹẹ-Kẹẹ Ọ

ș

ùn omi

ș

orò odò, A yìn mọ a yìn mọ

Quéqué óxum omixorôdô, Anhimã anhimã

Aos poucos Oxum torna as águas dos rios sagradas.

Aos poucos vos conhecemos

03

Ìya omi ní ibú odòomi rò Òri

ș

a ó lé lé

Iá ominibú ôdoômirô oríxá ô lêlê

Mãe das águas profundas que correm nos rios

Orixá que paira sobre a nossa casa.

04

Yèyé e yèyé

ș

orò odò (2x)

Olóomi ayé mọ

ș

orò ọmọn fẹẹfẹ

ș

orò odò

Iêiê ê iêiê xorôdô (2x)

Olôomi aiê mãxorômã Féefé xorôdô

Mãe que faz o rio ser sagrado

Senhora das águas da Terra que dão vida

aos filhos e torna o rio sagrado.

05

Olóomi máà, olóomi máà iyọ

Olóomi máà iyọ ẹnyin ayaba odò. Ó yéyé ó

Aláadé Ọ

ș

ùn, Ọ

ș

ùn mi yèyé ó

Olôomimáa olôomi máaió

Olôomi máaió énhinaba odô Ô iêiê ô.

Aladê Oxum, Oxum mi iêiê ô

Senhoras das águas doces (sem sal)

Sois a velha mãe do rio. Ó mamãe.

Oxum dona da coroa, Oxum é minha mãe

07

Olówo ọbẹ un Oparạ

Olówo ọbẹ un iyalóòde

Réwé réwé réwé Olówo ọbẹ un iyalóòde

Olôbé um Opará

Olôbé um iálôdê

Reuê reuê reuê Olôbé um iálôdê

A Senhora da espada é Opará

Senhora da espada e primeira dama da sociedade

Que conta bravatas, senhora da espada e primeira dama

da sociedade

08

A ri bẹ dé ó omi ro, A ará wa omi ro

L’atì ajé

ș

ẹ ọmọ l’ọ

ș

ùn omi ro, A ará wa omi ro

Aribé deô omirô a aráuá omirô

Lati jéxé omoloxum omiro a aráuá omirô

Nós vimos o brilho de sua coroa, a água sagrada

pingou em nossos corpos para nos alimentar e nos

preencher, filhos de Oxum, a água sagrada pingou

em nós.

09

Omi nìwẹ ọmọ l’ọ

ș

ùn omi nìwẹ (2x)

ș

ẹkẹ -

ș

ẹkẹ náà dò ojú ẹ máà ojú omi nìwẹ olówó

Ominiuê omoloxun ominiuê (2x)

Xeque-xeque naadojú ê maaoju ominuê olouô

Banhem-se nas águas do rio filhos de Oxun,

É preso aquele que vai ao rio olha-la

Nós não espiamos, o banho da rica senhora.

(16)

Igbá ìyàwó igbá si Ọ

ș

ùn ó rẹwà (2x)

Àwa sìn ẹ ẹwà ìyabà

Igbá ìyàwó igbá si Ọ

ș

ùn ó rẹwà

Ibáiáuô ibá si oxum ô reuá

Auá sim é eua iabá

Ibáiáuô ibá si oxum ô reuá

A cabaça da noiva é para a bela Oxum

Nós damos para a bela Iabá

11

Ará wa omi wa (2x)

Ó yèyé Ọ

ș

ùn omi olówo

Ará wa omi wa

Aráuá omiuá(2x)

O iêiê Oxum omi olouô

Aráuá omiuá

Nosso corpo nossa água

Mãe Oxum, a venerável senhora das águas

12

ș

ùn ẹ lọọlá imọnlẹ lóomi, Ọ

ș

ùn ẹ lọọlá

Ayaba imọnlẹ lóomi

Oxum é lolá imanlé lôômí, Oxum é lolá

Aiaba imanlé lôômí.

Oxum que é tratada com todas as honras,

Senhora dos espíritos das águas,

Oxum que é tratada com todas as honras.

Rainha dos espíritos das águas

13

Yèyé yé olóomi ó, yèyé yé olóomi ó.

Ayaba awá iyá Ọ

ș

ùn (2x)

Iêiêiê olômiô iêiêiê olômiô

Aiabá uáiá Oxum (2x)

Mãe compreensível, dona das águas

Oxum nossa rainha e mãe

Cantigas de Ọya

Epa Hey! Oyá Mesan Ọrun!

(Salve Oyá a mãe dos nove céus)

01

Ọya kooro nílé ó geere-geere

Ọya kooro nlá ó gẹ àrá gẹ àrá

Obírin șápa kooro nílé geere-geere

Ọya kíì mọ rẹ lọ

Oiá côoro nilê ô guerê-guerê

Oiá côoro unlá ô gará gará

Ôbirin xapá côoro nilê o guerê-guerê

Oiá qui a móréló

Oiá tiniu na casa incandescendo brilhantemente

Oiá tiniu com grande barulho afastando os raios

Mulher arrasadora que ressoou na casa

sensualmente e inteligentemente

A Oiá cumprimentamos para conhece-la mais.

02

Ọya tó ko tó mu yà yà

Tó mu yan yan

Oiá to ko to mu iá iá

To mu ian ian

Oiá que cria, cria o rodamoinho

Cria o rodamoinho

03

Ta ni a padá lodo Ọya ó, odò mu yà-yà

Ta ni a padá lodo Ọya, odò mu yà-yà

Tani a padá lodo oiá ô, odo mu iá iá

Tani a padá lodo oiá, odo mu iá ia

O redemoinho do rio quem pode cessar é Oiá.

Para que possamos voltar.

04

Ọya tètè Ọya gbálẹ,Ọya tè-n-tè ayaba

Ọya tètè, Ọya tè-n-tè Ọya.

Oiá têtê oiá balé oiá têuntê aiabá

Oiá têtê, Oiá têuntê Oiá.

Oiá rapidamente varre a terra,

Oiá está no topo, é a rainha.

05

Kooro níléàti mo tu-m-bá lẹ Ọya Ọya

Côoro nilê atí motumbalé oiá oiá

Oiá ressoou na casa e eu a reverenciei

humildemente.

06

Ó í kíì gbalé ẹ láárí ó, Ó íkíì gbalé (2x)

Ada máà dé fi arà gẹ ngbélé

Ó íkíì gbalé ẹ láárí ó

Ô iquíi balé e lariô, ô iquíi balé (2x)

Adamadê fará gambêlê

O iquíi balé lariô

Nós a cumprimentamos tocando a terra que possui

alto valor

Nós a cumprimentamos tocando a terra

Que a sua espada não chegue até nós, nem use

raios para cortar a casa onde vivemos.

07

Ọya kooro ó kooro ó, Ọya kooro ó kooro ó

Oiá côoro ôcoorô, Oiá côoro ôcoorô

Oiá tiniu, tiniu. Oiá timiu, timiu

08

Referências

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