LEI N.º 32/2014, DE 30 DE MAIO: APROVA O PROCEDIMENTO EXTRAJUDICIAL PRÉ-EXECUTIVO
Natália Garcia Alves, Sócia e Ricardo Monteiro, Advogado, Abreu Advogados
A Lei n.º 32/2014, de 30 de Maio, aprovou o procedimento extrajudicial pré-executivo (PEPEX), que visa a identificação de bens penhoráveis antes de ser instaurada acção executiva, através da disponibilização de consultas às bases de dados previstas no Código de Processo Civil. Pretende-se um procedimento célere e simples que, com rePretende-serva da intimidade da vida privada, permita reduzir o número das acções executivas pendentes e, nomeadamente, daquelas que terminam sem qualquer recuperação para o credor, as quais, muitas vezes, têm como único fim obter cer-tidão de incobrabilidade.
1. Requisitos
Este procedimento, que é facultativo, depende da existência de um título executivo que permita a utilização da forma de processo sumário, ou seja:
injunções;
cheques, letras e livranças até € 10.000,00;
documentos autênticos ou autenticados garantidos por hipoteca ou penhor; sentenças estrangeiras e injunções europeias;
actas de condomínio ou comunicações no âmbito do Novo Regime do Arrendamento Urbano até ao montante de € 10.000,00.
É também necessário que se trate de dívida certa, líquida e exigível, bem como a identificação dos números de contribuinte dos intervenientes. O requerente deve ainda discriminar o capital, juros, impostos devidos (por exemplo, imposto de selo), taxas de justiça pagas (por exemplo, pelo procedimento de injunção) e outras quantias, bem como expor os factos que fundamentam o pedido, quando não constem do título executivo.
Na eventualidade de se pretender a identificação de bens comuns do casal, deve ser indicado o número de contribuinte do cônjuge e o regime de bens (bastando fotocópia não certificada do registo de casamento).
É permitida a cumulação de pedidos, desde que as partes sejam as mesmas e todos se destinem ao pagamento de quantias certas.
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Junho
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2014
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Contencioso
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NSTITUTO DOC
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2. Prazos
O prazo de pagamento da quantia devida pelo início do procedimento é de cinco dias úteis após a recepção pelo requerente do “identificador único de pagamento”, sob pena de ficar automaticamente sem efeito. Após a distribuição automática do pedido a um agente de execução, este tem cinco dias úteis para realizar as consultas e elaborar relatório, ou para recusar o procedimento. O requerente pode substituir o agente de execução quinze dias após o termo daquele prazo, sendo nomeado outro. O agente de execução pode recusar o requerimento quando falte algum requisito. Nos casos em que é possível a sanação (tais como a insuficiência de elementos ou a ausência de cópia do título executivo), o requerente tem cinco dias para suprir a falta. Havendo recusa do requerimento, o credor pode ainda assim requerer a convolação do pro-cedimento em processo executivo, no prazo de trinta dias.
Não existe suspensão dos prazos durante as férias judiciais, aplicando-se em tudo o que não esteja espe-cialmente previsto as regras do Código de Processo Civil.
3. Pesquisas
O agente de execução consulta as seguintes bases de dados: Autoridade Tributária e Aduaneira;
Segurança Social; Registo Civil;
Registo Nacional de Pessoas Colectivas; Registo Predial;
Registo Comercial;
registos de bens móveis (automóveis, navios, aeronaves); Lista Pública de Execuções;
Sistema Informático de Suporte à Actividade dos Agentes de Execução (SISAAE): apenas para obten-ção de informaobten-ção sobre processos executivos pendentes em que o devedor seja exequente.
Refira-se que o Banco de Portugal disponibiliza informação acerca das instituições em que o requerido detém contas ao agente de execução, nos mesmos termos previstos para a penhora de saldos bancários. É assegurada a confidencialidade de todos os dados obtidos.
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4. Relatório
Após as pesquisas, é elaborado relatório resumindo as mesmas e indicando uma das seguintes menções: «Sem quaisquer bens identificados»;
«Com bens aparentemente onerados ou com encargos»; «Com bens aparentemente livres de ónus ou encargos».
Do relatório constam ainda outras informações essenciais para o credor, tais como o facto de o requerido constar já da lista pública de devedores, ter sido declarado insolvente, ter falecido ou sido dissolvido, bem como ser parte em processos executivos pen-dentes.
5. Notificação do Devedor
Após receber o relatório, o credor pode requerer a conversão do procedimento extraju-dicial em acção executiva.
Na eventualidade de não terem sido encontrados bens ou direitos penhoráveis, o credor pode requerer a notificação do devedor para, no prazo de trinta dias, e sob pena de ser incluído na lista pública de deve-dores:
pagar a dívida, acrescida dos juros vencidos, impostos eventualmente devi-dos e honorários do agente de execução;
celebrar acordo de pagamento com o credor;
indicar bens penhoráveis: neste caso, o credor tem trinta dias para requerer a convolação em processo executivo;
opor-se ao procedimento.
A notificação do devedor é feita por contacto pessoal do agente de execução.
No caso das pessoas singulares, a notificação é feita na residência ou no local de trabalho; na impossibili-dade de se apurar a morada mais actualizada, a notificação é feita na morada fiscal.
A notificação das pessoas colectivas ou equiparadas é realizada por contacto pessoal do agente de execução na sede, presumindo-se que é a que consta no Registo Nacional de Pessoas Colectivas; se a sede estiver encerrada, e não havendo quem aceite receber a notificação ou caso haja recusa em assinar, o agente de execução afixa a notificação no local.
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É possível que a notificação seja feita em terceira pessoa ou por nota de depósito (no caso das ilhas das regiões autónomas em que não exista agente de execução, a notificação pode ser efectuada por carta registada com aviso de recepção).
Se o requerido estiver ausente, não há lugar a notificação edital.
Refira-se ainda que as diligências realizadas pelo agente de execução são registadas no SISAAE – designa-damente a data, hora e coordenadas geográficas – utilizando-se dis-positivo electrónico aprovado. 6. Oposição do Devedor
O devedor pode apresentar oposição ao procedimento, com base nos fundamentos pre-vistos no Código de Processo Civil, de acordo com o título executivo em causa. É aplicável o regime da oposição à execução, sendo criada uma nova espécie de processo especial de oposição ao procedimento extrajudicial pré-execu-tivo. É devida taxa de justiça de 1,5 UCs (uma UC corresponde actualmente a € 102,00) nos procedimentos de valor até à alçada da Relação e de 3 UCs nos procedimentos de valor superior (estes valores são metade dos aplicáveis à oposição à execução), sem prejuízo de aplicação das regras do apoio judiciário. O credor pode apresentar contestação, sendo devida taxa de igual montante.
A pendência de processo de oposição ou a sua procedência obstam à instauração de acção executiva com base no mesmo título.
7. Acordo de Pagamento
As partes podem celebrar acordo escrito para pagamento em prestações mensais do valor em dívida, juros, eventuais impostos e honorários do agente de execução. O devedor tem neste caso a possibilidade de pedir apoio às entidades que prestam apoio a situações de sobre-endividamento.
Com a junção do acordo o procedimento é extinto, indicando-se expressamente este fundamento. A falta de pagamento atempado de qualquer prestação implica – nos ter-mos gerais – o vencimento das demais. Nestes casos, o credor tem trinta dias para re-querer ao agente de execução a conversão do procedimento em acção executiva, sob pena de extinção.
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8. Acção Executiva
Têm de estar cumpridos dois requisitos para que o procedimento extrajudicial pré-executivo seja conver-tido em execução:
apresentação de requerimento executivo (ou de requerimento de execução de decisão judicial conde-natória, que agora corre nos próprios autos);
junção do relatório de bens.
Nestes casos, o exequente fica dispensado do pagamento inicial dos honorários e despe-sas do agente de execução, bem como do valor devido a título de consultas das bases de dados, quando este seja exigido no âmbito do processo executivo.
Uma vez que este tipo de execuções é precedido do procedimento agora criado, não se repetem as con-sultas às bases de dados.
9. Novas Consultas
Nos procedimentos que tenham terminado sem a identificação de quaisquer bens penho-ráveis e que não tenham sido convertidos em acção executiva, o credor pode, no prazo de três anos, solicitar a realização de novas consultas, mediante pagamento ao agente de execução, o qual elabora novo relatório.
Nestes casos, não há lugar à notificação do requerido quando já esteja inserido na lista pública de deve-dores.
10. Custos
O procedimento extrajudicial pré-executivo implica o pagamento dos seguintes valores: 0,50 UCs para honorários do agente de execução;
0,25 UCs para remuneração das entidades envolvidas nas consultas (quando esta é devida no âmbito do processo executivo);
0,25 UCs pela notificação de cada devedor;
0,25 UCs pela emissão de certidão de incobrabilidade; 0,15 UCs pela renovação das pesquisas;
0,25 UCs pela exclusão do requerido da lista pública de devedores, a pagar por este.
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O agente de execução tem ainda direito a uma remuneração adicional, calculada nos termos dos pagamen-tos em prestações no processo executivo.
Os valores pagos pelo credor, excepto os relativos à remuneração devida pelas consultas, podem ser rec-lamados na acção executiva subsequente.
Se não houver conversão do procedimento em acção executiva, não há lugar à restituição dos valores pagos.
11. Acesso ao Processo
Para além do acesso por advogados e agentes de execução será também possível aceder ao processo, através de plataforma informática criada para o efeito, mediante o certifi-cado digital integrado no Cartão do Cidadão, bem como através da plataforma de autenticação da administração fiscal.
Refira-se que o processo só fica disponível para consulta pelo requerido após a primeira notificação, ou após a citação no âmbito da acção executiva subsequente.
12. Certidão de Incobrabilidade
Após a inclusão do requerido na lista pública de devedores, o credor pode solicitar certidão de incobrabili-dade, para efeitos de recuperação de IVA e IRC, a qual é emitida pelo agente de execução e comunicada também à Administração Fiscal.
Todavia, se após a emissão da referida certidão o requerido for excluído da lista pública de devedores por ter havido pagamento integral, o agente de execução está obrigado a notificar a administração fiscal deste facto.
13. Fiscalização
As partes têm trinta dias para reclamar da actuação do agente de execução junto da respectiva entidade fiscalizadora, ou para os tribunais competentes se estiver em causa a legalidade dos actos.
14. Entrada em Vigor
A Lei n.º 32/2014, de 30 de Maio, entra em vigor no dia 1 de Setembro de 2014.
Este Fórum Jurídico contém informação e opiniões de carácter geral, não substituindo o recurso a aconselhamento jurídico para a resolução de casos concretos. Para mais informações, por favor contacte-nos através do email apc@abreuadvogados.com
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