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COMISSÃO ESTADUAL DA VERDADE DO PARANÁ GRUPO DE TRABALHO DITADURA, SISTEMAS DE JUSTIÇA E REPRESSÃO

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COMISSÃO ESTADUAL DA VERDADE DO PARANÁ GRUPO DE TRABALHO

DITADURA, SISTEMAS DE JUSTIÇA E REPRESSÃO

GRUPO DE TRABALHO: Ditadura, Sistemas de Justiça e Repressão

COORDENADORES: Olympio de Sá Sotto Maior Neto e Luiz Edson Fachin. COLABORADORES: Maria Aparecida Blanco Lima

CASO: Aldo Fernandes

RELATORIA: Olympio de Sá Sotto Maior Neto

RELATÓRIO PRELIMINAR

DADOS DA VÍTIMA: Paulo Ovídio dos Santos Carrilho, Promotor de Justiça do Estado do Paraná, qualificado como vítima, nos termos do Formulário n.° 1 – Ficha de Testemunho, da Comissão Nacional da Verdade.

RESUMO DOS FATOS: Paulo Ovídio dos Santos Carrilho, Promotor de Justiça da Comarca ..., foi preso na Delegacia de Cornélio Procópio

....

era Juiz de Direito da Comarca de Londrina, quando no dia 27 de maio de 1964, dirigindo-se à cidade de Curitiba na companhia de Athos de Santa Tereza Abilhoa, Promotor de Justiça, também da Comarca de Londrina, foi detido na rua por policiais civis. Foi encapuzado e conduzido, inicialmente, à Delegacia de Ordem Política e Social de Curitiba, depois a um quartel da Polícia Militar (ainda não devidamente identificado), onde permaneceu

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preso até 10 de junho de 1964, sem que a família tivesse conhecimento do seu paradeiro.

Durante a prisão, foi submetido a um processo sumário de investigação e, por determinação do M.J.N.I..., seus direitos políticos foram suspensos por dez anos. Também, nesse período, foi proposta ao Governador sua aposentadoria compulsória, a qual levada foi levada a efeito pelo Decreto Estadual n.° 15.090/64.

Em 03 de outubro de 1975, na chamada Operação Marumbi, foi novamente preso, por ordem do Comando da 5ª Região Militar do Exército, tendo permanecido 38 dias privado de liberdade na Delegacia de Ordem Política e Social de Curitiba. A família relata que, nessa ocasião, ele sofreu tortura, mas que se recusava a falar sobre isso.

Em 1979 foi anistiado e, posteriormente, em 21 de maio de 1980, foi revertido ao serviço ativo, no cargo de Juiz de Direito da Comarca de Entrância Intermediária de Irati.

DOCUMENTOS: 1) Petição de Zuleika Maranhão Fernandes dirigida à Comissão Estadual da Verdade do Paraná; 2) Ficha n.° 109, da Secretaria de Estado da Segurança Pública – Departamento da Polícia Civil – Divisão de Segurança e Informações; 3) Registros Funcionais junto ao Tribunal de Justiça do Estado do Paraná e 4) Depoimento prestado ao jornalista Milton Ivan Heller e publicado parcialmente na obra Resistência Democrática – A Repressão no Paraná1.

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DEPOIMENTO(S): Zuleika Maranhão Fernandes, brasileira, portadora do RG 836.704-SSP/PR, CPF 00.038.609-87, viúva de Aldo Fernandes, prestou depoimento aos integrantes da equipe do Ministério Público do Estado do Paraná, Schirle Margareth dos Reis Branco e Mauro Domingues, em 14 de abril de 2013.

1. Origem

A Comissão Estadual da Verdade do Estado do Paraná recebeu, em 18 de abril de 2013, requerimento da Sra. Zuleika Maranhão Fernandes, viúva de Aldo Fernandes, Juiz de Direito do Estado do Paraná, no qual afirma que seu marido teria sofrido graves violações de direitos humanos durante o período da Ditadura Militar. Registra que Aldo Fernandes foi preso, em duas ocasiões, a primeira no ano de 1964 quando foi seqüestrado em via pública e ficou incomunicável por mais de trinta (30) dias e a segunda, no ano de 1975, quando foi preso na chamada Operação Marumbi.

Alega que em processo sumário, sem o mínimo direito de defesa, foram suspensos os direitos políticos dele por dez anos. Registra, também, que ele foi aposentado compulsoriamente por decisão do Governador do Estado. Sustenta que a vítima, até aquele momento, possuía uma carreira exemplar, sem máculas, tendo inclusive, recomendada a sua promoção ao Tribunal de Justiça do Paraná, três vezes seguidas, por merecimento.

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Pede, por fim, que a dignidade e o respeito à memória sejam resgatados e que a justiça seja feita.

2. Fontes Documentais

Os documentos, inicialmente acostados, foram apresentados pela família da vítima, na ocasião da entrevista com a Sra. Zuleika Fernandes, consistindo em documentos do Arquivo Público do Estado e do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná.

2.1 Documentos Arquivo Público do Paraná

Os documentos do Arquivo Público do Estado do Paraná estão reunidos na pasta da Secretaria de Estado da Segurança Pública/Departamento de Polícia Civil/Divisão de Segurança das Informações denominada Dr. Aldo Fernandes.

2.1.1 Monitoramento em 1957

Os documentos analisados evidenciam que Aldo Fernandes vinha sendo monitorado pelo Serviço Secreto das Delegacias de Ordem Política e Social de São Paulo e Curitiba, desde 13 de abril de 1957. Consta, em relatório, apresentado pelo Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo que:

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“Esse magistrado, já agora combatido pelos fazendeiros e pelo povo que não comunga de suas idéias e que compreenderam a situação delicada criada pela proteção do Juiz aos trabalhadores da lavoura e pela propaganda comunista ostensiva, para a qual os agentes vermelhos usam e abusam do nome do aludido magistrado, conforme boletins de propaganda e esclarecimento, distribuídos em todas as fazendas da região. Nesses boletins, o Sindicato de Londrina, chama a atenção dos trabalhadores e do povo em geral para o item 5°, que tem a seguinte redação: “ O Dr.

Juiz de Direito da Comarca de Cornélio Procópio, condena o proprietário da Fazenda Santa Maria, deste Município e Comarca, a pagar Cr$5.400,00 por mil pés de café tratados e mais as férias correspondentes aos anos em que os colonos trabalharam na fazenda”.

É apontado, também, o envolvimento de Aldo Fernandes no comício do movimento “Panela Vazia”, em Cornélio Procópio, bem como na tentativa de fundar, naquela localidade, um Sindicato de Trabalhadores Rurais:

“Esse grupo de elementos comunistas teimavam em realizar o Comício proibido pela polícia, só não o fazendo devido a interferência do Presidente do Tribunal de Justiça, que por telefonema ao fichado, procurou dissuadi-lo dessa intenção. O Comício foi suspenso, mas dias após, foi realizado em

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flagrante desrespeito às ordens superiores. Elementos vindos de Londrina, chefiados por um comunista coguenominado por tal TOSA, amigo do fichado, tentaram fundar em Cornélio Procópio um sindicato de Trabalhadores Rurais, um dos pontos altos do Partido Comunista, não logrando êxito por falta de quórum para a reunião. ”

Destaca-se, ainda, o seguinte trecho do relatório:

“Um acontecimento que veio trazer desprestígio ao Dr. Aldo Fernandes e aumentar ainda mais a sua fama de comunista, foi o verificado na fazenda de propriedade do Sr. Constantes Cera, onde os comunistas cortaram duas ruas de pés de café, em represália ao mesmo que não concordou em pagar férias que os trabalhadores diziam ter direito. O Dr. Aldo Fernandes impediu que o aludido fazendeiro apresentasse queixa à polícia, prometendo processá-los e tomar as demais providências, o que não o fez”.

O referido relatório faz menção, também, à seguinte notícia de jornal:

“Em nota publicada pelo jornal comunista “Hoje” de 31-3-55, sobre a fundação do Núcleo para reforma agrária de Cornélio Procópio, consta que para Presidência de Honra da Diretoria foi eleito o Dr. Aldo Fernandes, Juiz de Direito.

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Também, há transcrição de outro relatório de 13 de abril de 1957, que faz referências não só ao referido magistrado, como também à conjuntura do Norte do Paraná na época:

“Os fazendeiros do norte do Paraná estão alarmados com a propaganda comunista em torno da sabotagem e greve geral na colheita de café....”

Cabe destacar, nesse particular, conforme correspondência encontrada na pasta em questão que, no ano de 1957, era Delegado do DOPS em São Paulo Enzo Júlio Tripoly, Delegado Auxiliar da 5ª Divisão Policial do DOPS SP, bem como em Curitiba era Delegado de Ordem Política e Social de Curitiba Edward Rezende Pimenta.

2.1.2 Primeira privação de liberdade

Para além das anotações já referidas, a ficha de Aldo Fernandes apresenta as seguintes informações em relação a sua primeira privação de liberdade.

Em 10 de junho de 1964, há a anotação de que o “fichado”, esteve preso, desde 31 de maio último, até aquela data, quando foi posto em liberdade.

Posteriormente, consta uma anotação de 09 de junho de 1964 que por Decreto N.° 15.090, do Governo do Estado, o “fichado” foi aposentado compulsoriamente, de acordo com o Ato Institucional.

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E, depois, em registro de 08 de junho de 1964, por Decreto do M. J. N. I, o “fichado” teve seus direitos políticos suspensos pelo prazo de 10 anos, de acordo com o Ato Institucional.

Em 29 de outubro de 1966, há referência a uma carta denúncia, de 07 de abril de 1964, que apontaria o exercício de atividade subversiva por parte do magistrado (P/Londrina).

Cabe destacar, ainda, que uma cópia de ficha solta refere que o “fichado” foi juiz de direito na cidade de Londrina, tendo sido aposentado compulsoriamente, preso e indiciado pelo I.P.M – Zona Norte, o qual foi presidido pelo Capitão André Luiz dos Santos.

2.1.3 Segunda privação de liberdade

No que diz respeito a segunda privação de liberdade de Aldo Fernandes, durante a chamada “Operação Marumbi”, passo a transcrever os principais apontamentos.

Em 28 de novembro de 1975 consta que o “fichado” foi indiciado nos autos do Inquérito Policial n.° 06/75-DOPS/PR, instaurado conforme resolução da Diretoria da Polícia Civil n.° 1323/75 de 12/09/75, que apurou atividades do Partido Comunista Brasileiro no Paraná, tendo sido decretada a prisão preventiva do “fichado” pelo Exmo. Sr. Juiz Auditor da 5ª CJM.

Também, consta em 04 de agosto de 76, que conforme recorte de jornal do Estado do Paraná de 30 de junho de 1976, o “fichado” teve seus direitos políticos suspensos pela revolução de 1964, respondendo

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processo em liberdade, tendo sido qualificado e interrogado pelo Conselho Especial de Justiça para o Exército da Auditoria da 5ª CJM (v/P – PCB/PR).

Em 16 de março de 1977, conforme Ofício n.° 1421 – Auditoria da 5ª CJM, de 12 de dezembro de 1975, o MM Juiz Auditor 1º Substituto, houve por bem receber a denúncia contra o “fichado”, como incurso no artigo 432 do DL – n.° 898/693 (V/P-PCB/PR).

Consta, em 20 de outubro de 1977, que conforme Of. n.° 866- 5ª CJM, de 11 de outubro de 1977, o “fichado” foi absolvido por unanimidade de votos, pelo Conselho Especial de Justiça para o Exército em sessão realizada de 03 a 06 de outubro de 1977 (V/P-5ª CJM).

Depois, em 18 de outubro de 1979, há registro de que conforme Ofício n° 906/5ª CJM, de 17 de setembro de 1979, o “fichado” foi absolvido pelo egrégio Superior Tribunal Militar, em sessão de 30 de agosto último, por unanimidade de votos, que decretou extinta a punibilidade de todos os acusados mencionados no citado Ofício n.° 866, pela ocorrência da Anistia, ex-vi do artigo 123, inciso II, do COM? (v- P-Auditoria da 5ª CJM). O referido acórdão do STM, referente ao Proc. 745, transitou em julgado em 09 de novembro de 1979.

Ainda, de acordo com os documentos encontrados, Aldo Fernandes foi identificado datiloscopicamente pelo Ministério da Guerra,

2 “Art. 43. Reorganizar ou tentar reorganizar de fato ou de direito, ainda que sob falso nome ou forma simulada, partido político ou associação, dissolvidos por fôrça de disposição legal ou de decisão judicial, ou que exerça atividades prejudiciais ou perigosas à segurança nacional, ou fazê-lo funcionar, nas mesmas condições, quando legalmente suspenso:

Pena: reclusão, de 2 a 5 anos.”

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por meio do Serviço de Identificação do Exército, em 04 de outubro de 1975.

Nesse aspecto destaca-se que, conforme depoimento prestado, a esposa Zuleika e a sobrinha Márcia afirmam que, quando houve a segunda prisão, não sabiam o paradeiro de Aldo. Teriam, então, se deslocado até a sede do DOPS para tentar localizá-lo, tendo recebido a informação de que não havia qualquer noticia sobre seu paradeiro. No entanto, uma pessoa do DOPS as procurou, na saída da Delegacia, e informou que o Aldo estaria preso nas dependências daquela Delegacia. Mais tarde, consoante relato, por pressão política, o Comandante da 5ª Região, confirmou para família que ele estava preso no quartel da Polícia Militar.

Também, é importante registrar que em ficha de identificação constou: “Entrada no órgão por ordem de DOI/5ª RM/ 5ª DE/ em 03 de outubro de 1975. Acompanhado ou preso por equipe “B” – enviado à DOPS em 04 de outubro de 1975. Ofereceu resistência: não. Já foi preso anteriormente: não. Por qual órgão: não.”

Na denominada 1ª Declaração que presta Dr. Aldo Fernandes à equipe de interrogatório “B” das 14:00 às 15:00 horas do dia 03 de outubro de 1975, por estar envolvido com o PCB, extrai-se:

“Que por ocasião da visita de Francisco Julião e Cheguevara a Londrina não foi o interrogado que os hospedou e nem sabe quem foi.

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Que acha que foi o General Agostinho Ferreira Alves que os hospedou. Que o convite a Cuba foi feito por intermédio de Francisco Julião em 1961/62. Que Athos de Santa Tereza Abilhoa era na época o Promotor Substituto de Londrina (...) Francisco Luiz França não conhece (...) Que Dr. Milton Câmara encontrou no Rotary”.

Registro importante, da mesma forma, é de que houve, conforme documento do DOPS acareação de Aldo Fernandes, Jodat Nicolas Kury e Francisco Luiz de França (“Fagundes”).

No Resumo das Declarações prestadas por Aldo Fernandes consta que: “Partindo das informações chegadas à este órgão e das declarações de Francisco Luiz França (Fagundes) e de JODAT Nicolas Kury, que afirmam ser o epigrafado contribuinte do Partido, foi efetuada a sua prisão dia 03 de outubro de 1975”, bem como “afirma ter conhecido JODAT por intermédio de Jorge Karan”.

Por fim, conforme Ofício n.° 54, de 04 de outubro de 1975, do Comandante do DOI/5ª RM/DE, Major Zuiderzee Nascimento Lins, o preso Aldo Fernandes é encaminhado para o Delegado Titular da DOPS, a fim de responder Inquérito.

2.2 Documentos do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná

A ficha funcional do magistrado apresentada pela família demonstra que:

- Em 03 de julho de 1962, foi removido para a 3ª Vara Cível da Comarca de Londrina (Comarca de 4ª entrância);

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- Em 10 de outubro de 1962, esteve presidindo as apurações em Ribeirão do Pinhal, no período de 04 a 09 de outubro de 1962;

- Em 10 de abril de 1964, foram-lhe concedidos trinta (30) dias de licença para tratamento de saúde. A partir de 1- de abril, segundo a Portaria;

- Em 22 de junho de 1964, foi autorizado a afastar-se da comarca, por motivo de doença em pessoa de sua família;

- Em 31 de maio de 1964, comunica que reassumiu o exercício de seu cargo, da qual esteve afastado para tratamento de saúde;

- Em 8 de junho de 1964, foi mandado colocar a disposição deste Egrégio Tribunal de Justiça, até ulterior deliberação, o Dr. Aldo Fernandes, Juiz de Direito da Comarca de Londrina;

- Em 8 de maio de 1964, por ordem do Comando Revolucionário, e tendo em vista o artigo 10, parágrafo único, do Ato Institucional, o Excelentíssimo Presidente da República, cassou os Direitos Políticos do Dr. Aldo Fernandes por 10 anos;

- Em 9 de junho de 1964, foi aposentado compulsoriamente, no cargo de Juiz de Direito de 4ª entrância do Quadro da Justiça, da 3ª Vara da Comarca de Londrina, com os proventos anuais e proporcionais. De acordo com o artigo 7º, parágrafo 1º, do Ato Institucional n.° 1 e de acordo com o parecer 1º 5-64 da Comissão Especial, intuída pelo Dec. nº 14.634, de 10 de abril de 1964;

(...)

- Em 21 de maio de 1980, foi revertido ao serviço ativo, no cargo de Juiz de Direito da Comarca de Entrância Intermediária de Irati,

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de acordo com a Lei Federal nº 6.683, de 28 de agosto de 1979, e pelo Decreto Federal nº 84.143, de 31 de outubro de 1979, e tendo em vista o Acordo nº 19.375/80, do Órgão Especial do Tribunal de Justiça;

- Em 26 de maio de 1980, comunica que assumiu o exercício de suas funções, tendo em vista o Decreto Governamental nº 2.377, publicado no D.O, de 23 de maio de 1980 (Prot.9813/80).

3. Dos atos de cassação

O Ato Institucional, de 09 de abril de 1964, do Comando Supremo da Revolução, dentre outras disposições, estabelecia no seu artigo 7° o procedimento de investigação sumária:

Art. 7° - Ficam suspensas por seis meses as garantias constitucionais ou legais de vitaliciedade e de estabilidade. § 1° Mediante Investigação sumária no prazo fixado neste artigo, os titulares destas garantias poderão ser demitidos ou dispensados ou, ainda, com vencimentos e vantagens proporcionais ao tempo de serviço, postos em disponibilidade, aposentados, transferidos para a reserva ou reformados por decreto do presidente da República ou, ainda, em se tratando de servidores estaduais, por decreto do governador do estado, desde que tenham atentado contra a segurança do país, o regime democrático e a probidade da administração pública, sem prejuízo das sanções penais a que estejam sujeitos.

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§ 2° Ficam sujeitos às mesmas sanções os servidores municipais; neste caso a sanção prevista no § 1° lhes será aplicada por decreto do governo, mediante proposta do prefeito municipal.

§ 3° Ao ato que atingir servidor estadual ou municipal vitalício caberá recurso para o presidente da República.

§ 4 O controle jurisdicional destes atos limitar-se-a ao exame das formalidades extrínsecas vedada a apreciação dos fatos que os motivaram, bem como da sua conveniência ou oportunidade.

(...)

O artigo 10, por sua vez, estabelecia a possibilidade de suspensão dos direitos políticos:

Art. 10 – No interesse da paz e da honra nacionais, sem as limitações previstas na constituição, os comandantes-em-chefe que editam o presente ato poderão suspender os direitos políticos pelo prazo de dez anos e cassar mandatos legislativos federais, estaduais e municipais, excluída a apreciação judicial desses atos.

§ único – Empossado o presidente da República, este, por indicação do Congresso Nacional, dentro de sessenta dias poderá aplicar os atos previstos neste artigo.

Com isso, em 10 de abril de 1964, o Governador Ney Braga editou o Decreto n.° 14.634, que disciplinava o procedimento da

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investigação sumária, referida no artigo 7°, do Ato Institucional. O referido Decreto criou uma comissão composta pelo Secretário do Estado dos Negócios do Interior e Justiça General Gaspar Peixoto Costa, seu Presidente, do Procurador-Geral do Estado Desembargador Ruy Ferraz de Carvalho e do Consultor Geral do Estado Professor Alceu Ribeiro Macedo, servindo como Secretário Executivo Heraldo Vidal Correia.

Nos termos do referido Ato, a comissão deveria apreciar o processo e remetê-lo ao Governador do Estado, com parecer fundamentado, concluindo pela punição ou não e sugerindo, no primeiro caso, a penalidade a aplicar.

4. Providências sugeridas

Desta forma, no caso em tela, considerando os documentos até o agora reunidos, no primeiro momento, sugere-se que a Comissão Estadual da Verdade diligencie junto aos arquivos do Poder Executivo do Estado do Paraná, a fim de localizar os seguintes documentos:

- Parecer n.° 5-64, da Comissão Especial, instituída pelo Decreto Estadual 14.634, de 10 de abril de 1964;

- Ato Presidencial (Ordem do Comando Revolucionário), de 8 de maio de 1964, que cassou, por dez anos, os direitos políticos do Dr. Aldo Fernandes;

Da mesma forma, sugere-se diligenciar junto ao Tribunal de Justiça do Estado do Paraná com objetivo de localizar a Portaria 413, de

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junho de 1964, do Tribunal de Justiça, que coloca a disposição o Dr. Aldo Fernandes.

Por fim, face à afinidade dos temas sugere-se a oitiva dos seguintes agentes da repressão ..., bem como das seguintes vítimas ....

Após, conforme já deliberado por esta Comissão, entendo que deva ser oficiado ao Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, recomendando, com base nas razões que aposentaram compulsoriamente, em 09 de junho de 1964, o Juiz de Direito Aldo Fernandes, que promova, em ato solene pedido de desculpas à família do magistrado, em especial à viúva Zuleika Maranhão Fernandes.

Por fim, opina-se pela inclusão do presente relato no relatório final da Comissão Estadual do Paraná, para posterior remessa à Comissão Nacional da Verdade.

Curitiba, 11 de julho de 2013.

Olympio de Sá Sotto Maior Neto

Procurador de Justiça

Comissão Estadual da Verdade do Paraná GT Ditadura, Sistemas de Justiça e Repressão

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Maria Aparecida Blanco de Lima Desembargadora

Comissão Estadual da Verdade do Paraná GT Ditadura, Sistemas de Justiça e Repressão

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