• Nenhum resultado encontrado

INTRODUÇÃO. Ramos do protestantismo

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "INTRODUÇÃO. Ramos do protestantismo"

Copied!
10
0
0

Texto

(1)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 2

1 O QUE CARACTERIZA UMA FÉ REFORMADA? ... 3

1.1 A GRANDEZA DE DEUS E DE SUA GLÓRIA ... 3

1.2 A AUTORIDADE DAS ESCRITURAS ... 4

1.3 A PEQUENEZ E A DEPRAVAÇÃO DO HOMEM ... 4

1.4 A GRAÇA DA OBRA REDENTORA DE CRISTO ... 5

1.5 UMA VISÃO OTIMISTA DO FUTURO ... 5

2 REFORMADORES E AVIVALISTAS ... 6 2.1 JOHN WYCLIFFE (1329-1384) ... 6 2.2 JOHN HUS (1370-1415) ... 7 2.3 MARTINHO LUTERO (1483-1546) ... 9 2.4 WILLIAM TYNDALE (1494-1536) ... 11 2.5 JOÃO CALVINO (1509–1564) ... 13 2.6 JONATHAN EDWARDS (1703–1758) ... 15 2.7 JOHN WESLEY (1703–1791) ... 17

2.8 CHARLES HADDON SPURGEON (1834–1892) ... 20

2.9 DWIGHT LYMAN MOODY (1837-1899) ... 23

3 TEOLOGIA DOGMÁTICA... 24

3.1 CALVINISMO ... 24

3.1.1 Os Cinco Pontos do Calvinismo... 25

3.2 ARMINIANISMO ... 27

3.2.1 Diferentes correntes... 27

3.2.2 Os cinco pontos do Arminianismo ... 27

3.3 ARMINIANISMO X CALVINISMO ... 29

(2)

INTRODUÇÃO

Em toda Idade Média, o grau de intervenção da Igreja era de grande abrangência. O grande número de terras em posse da Igreja concedia uma forte influência sobre as questões políticas e econômicas das monarquias e reinos da época. Além disso, as novas atividades vinculadas à burguesia, principalmente no que se refere à prática da usura (cobrança de juros sobre empréstimo), eram consideradas de natureza pecaminosa.

Sob outro aspecto, a grande prosperidade material da Igreja veio acompanhada de uma verdadeira crise de valores e princípios. O comércio de relíquias sagradas, a venda de títulos eclesiásticos e indulgências eram algumas das negociatas praticadas pelos representantes do clero. Além disso, várias denúncias sobre a quebra do celibato e a existência de prostíbulos para clérigos questionavam a hegemonia da Igreja.

No Renascimento, as críticas à Igreja se manifestavam em diversos meios. As obras de Erasmo de Roterdã, John Wycliffe, John Huss, Jerônimo Savonarola, conhecidos como pré- reformistas, continham severas críticas aos problemas apresentados pela igreja.

Na data de 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero, diante da venda das indulgências por João Tetzel, afixou à porta da Igreja do Castelo em Wittenberg, as suas 95 teses, o teor das quais é que Cristo requer o arrependimento e a tristeza pelo pecado e não a penitência. Esta data ficou marcada como a oficial do movimento reformista.

Através de Lutero e vários outros, a Reforma tomou grandes proporções, inspirando pensadores e movimentos, como o Grande Avivamento, avivamento religioso americano.

(3)

1 O QUE CARACTERIZA UMA FÉ REFORMADA?

Por "fé," referimo-nos ao corpo da verdade que emerge da própria Escritura. Falamos da fé "reformada", não como se fosse uma espécie de substituto para a fé escritural. Há afinal, somente um objetivo conjunto de verdades que é apresentado na Escritura. Por "reformada‖, a diferenciação daqueles, que duma ou outra forma se desviam da "fé" estabelecida na Palavra de Deus. Esta ficou assim definida, pois em certo momento da igreja a fé genuína havia sido distorcida, e uma gama de teólogos, os reformadores, recorrendo às Escrituras recuperaram seu verdadeiro sentido e a defenderam plenamente durante o período que ficou conhecido como Reforma.

Podemos caracterizar a Fé Reformada através de suas ideias fundamentais, todas trazidas pelo retorno às escrituras, creditada como fonte de autoridade.

1.1 A GRANDEZA DE DEUS E DE SUA GLÓRIA

O Deus da Igreja Reformada é, de fato, um Deus Grande. Se fosse para alguém isolar uma característica distintiva da Fé Reformada, todo mundo haveria de concordar que esta seria a grandeza soberana de Deus.

O que se encontra no pensamento reformado é o desejo e a vontade de deixar que Deus seja Deus. Entre os reformados se encontra uma disposição de deixar que Deus fale por Ele mesmo na Sua Palavra e crer no que Ele diz, não importa quão difícil seja de entender, ou, quando entendido, quão desconfortável faz com que eles se sintam. ―Considerai, pois, a bondade e a severidade de Deus,‖ diz o apóstolo (Romanos 11:22). ―Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?‖ (Romanos 9:20). Este é o Deus que fez todas as coisas, que planeja todas as coisas, até ―o que quer que venha a acontecer‖, como ensina a nossa Confissão de Fé, quem governa, sustenta e preserva todas as coisas.

Este é o princípio fundamental da Fé Reformada. Ele dá vida a tudo que fazemos. Nós nos reunimos para adorar não para agradar a nós mesmos, ou como é muito frequente, para nos entreter ou para ―tirarmos algum proveito da coisa‖, como frequentemente ouvimos dizer; mas, sim, para glorificar e exultar no Senhor nosso Deus. A vida é um render-se contínuo de nós mesmos como sacrifícios vivos, para o louvor do grande e glorioso Deus a quem servimos (Rm 12: 1,2).

(4)

1.2 A AUTORIDADE DAS ESCRITURAS

A fé reformada é centrada na autoridade das Escrituras. A convição de que Deus tem se revelado nas Escrituras e que tal revelação é a autoridade máxima para a igreja em matéria de doutrina, governo e vida é geralmente conhecida como o ―princípio formal‖ da Reforma Protestante, pois, segundo o mesmo, as Escrituras determinam o conteúdo de todas as

doutrinas.Elas são a fonte última do conhecimento sobre Deus e sobre a sua criação. Embora defendido por todos os protestantes, esse preceito é especialmente enfatizado pelos

reformados.

A fé reformada é especialmente comprometida com as Escrituras, enfatizando a sua inspiração, autoridade e suficiência. Uma vez que a Bíblia é a Palavra de Deus, ela possui a própria autoridade divina. Esta convicção sobre a autoridade das Escrituras não depende da argumentação humana, mas da operação interna do Espírito Santo que testifica sobre a veracidade da Palavra no coração do crente.

A autoridade das Escrituras implica na suficiência da mesma. Logo, o povo de Deus não precisa de revelação complementar nem circunstancial, pois a Palavra de Deus é sempre relevante e apta para instruir e habilitar o crente para toda boa obra (2Tm 3.15). Além do mais, a tradição reformada defende a doutrina da clareza das Escrituras, ou seja, que ainda que na Escritura não sejam todas as coisas igualmente claras em si, nem do mesmo modo evidentes a todos, contudo, as coisas que precisam ser obedecidas, cridas e observadas para a salvação, em uma ou outra passagem da Escritura, são tão claramente expostas e aplicadas que não só os doutos, mas ainda os indoutos, no devido uso dos meios ordinários, podem alcançar uma suficiente compreensão delas.

1.3 A PEQUENEZ E A DEPRAVAÇÃO DO HOMEM

A quê nos leva esta visão da grandeza e da glória de Deus? Leva-nos a um entendimento profundo da pequenez do homem. ―Que é o homem, que dele te lembres?‖, pergunta o salmista no Salmo 8. Quando alguém vê a Deus em Sua glória, ele fica consciente da sua própria insignificância — apenas ―somos pó‖ (Sl 103:14).

Apercebemo-nos de que não somos o centro do universo, mas Deus o é; e, em relação a Ele, somos apenas grãos de pó na balança (Is 40:15).

(5)

A Fé Reformada coloca as pretensões humanas no seu devido lugar. Mas, além disso, a Fé Reformada, como nenhuma outra, entende a pecaminosidade do homem. Como foi que o pecado nos afetou? Quando outros falam do pecado como uma influência,nós falamos dele como escravidão. Quando outros dizem que o pecado distorce a perspectiva do homem, nós dizemos que ele cega-lhe os olhos e fecha-lhe os ouvidos. O homem não está simplesmente doente: ele está morto em delitos e pecados (Efésios 2:1). A Fé Reformada diz que o homem é, ―totalmente vil em todas as suas faculdades e em todas as partes da alma e do corpo... e totalmente indisposto, sem condições, e oposto a todo bem, e inclina-se totalmente ao mal‖ (Confissão de Fé de Westminster, VI. 2,4)?

1.4 A GRAÇA DA OBRA REDENTORA DE CRISTO

Enquanto alguns atribuem uma parte ao homem e uma parte a Deus, para conquistar a salvação, a Fé Reformada se posiciona sozinha e afirma, junto com Jonas, as totais implicações da palavra: ―a salvação pertence ao Senhor‖. Nenhuma outra visão exalta tanto a obra de Cristo na cruz. O que foi que Ele fez para assegurar a nossa salvação? Tudo. Ele morreu pelos nossos pecados. “Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não

vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie.‖ (Efésios 2:8-9). Por meio dessa fé somos justificados, adotados, santificados, preservados e seremos glorificados. Se somos salvos, não podemos ter mérito em nada.

1.5 UMA VISÃO OTIMISTA DO FUTURO

Em Cristo o homem é restaurado ao seu exaltado papel original na criação. Em Cristo somos refeitos (Hebreus 2.7,8; cf Salmo 8). Feitos à imagem de Deus e restaurados a Deus em Cristo, temos dignidade e possibilidades que jamais seriam alcançáveis sob a tirania do pecado. Jesus Cristo derrotou o diabo, e triunfou sobre os principados e potestades (Col. 2.15). Ele está assentado no Seu trono nos céus como possuidor ―de todos os poderes nos céus e na terra‖, e Ele nos envia como ―mais que vencedores‖, e por isso ―nosso trabalho no Senhor não é vão‖ (I Co. 15.58).

(6)

2 REFORMADORES E AVIVALISTAS

2.1 JOHN WYCLIFFE (1329-1384)

Um século e meio antes que a Europa entrasse na Reforma Protestante, um estudioso de Oxford estava plantando as sementes. Ele liderou a primeira tradução da bíblia do latim para o inglês. Nascido em Yorkshire, Wycliffe estudou na Universidade de Oxford aonde recebeu um doutorado em teologia em 1372. Ele logo se tornou o teólogo mais eminente de seu tempo e usou isso para criticar o que ele via como excessos na igreja.

Wycliffe tem sido chamado de "Estrela da Manhã do Reformismo" porque ele audaciosamente questionou a autoridade papal, criticando a venda de indulgências (que supostamente livrava a pessoa do castigo no purgatório), renegava a existência da doutrina aonde se diz que o pão e o vinho se transformam no corpo e sangue de Jesus em si durante a comunhão e falava contra as hierarquias dentro da igreja. O papa reprovou Wycliffe pelos seus ensinamentos, considerados pelo papa, heréticos e pediu que a Universidade de Oxford o demitisse. No entanto, tanto a universidade quanto muitos líderes do governo ficaram do lado de Wycliffe, e assim, ele conseguiu sobreviver aos ataques do papa. Wycliffe acreditava que o único jeito de sua luta prevalecer à autoridade abusiva da igreja seria disponibilizar bíblias ao povo em seus idiomas. Assim, eles poderiam ler por eles mesmos como cada um poderia ter um relacionamento pessoal com Deus através de Jesus Cristo - à parte da autoridade eclesiástica. Wycliffe e seus colegas terminaram o Novo Testamento por volta de 1380 e o Velho Testamento em 1382. Ele concentrou seus esforços no Novo testamento enquanto Nicholas de Hereford, um colega, fez grande parte do Velho Testamento. Wycliffe e seus funcionários, não tendo familiaridade com o grego, traduziram o texto do latim para o inglês.

Wycliffe defendia a pobreza dos padres e os organizou em grupos para divulgar os ensinos de Cristo. Estes padres (mais tarde chamados de "lollardos") não faziam votos nem recebiam consagração formal, mas dedicavam sua vida a ensinar o Evangelho ao povo. Estes pregadores itinerantes espalharam os ensinos de Wycliffe pelo interior da Inglaterra, agrupados dois a dois, de pés descalços, usando longas túnicas e carregando cajados nas mãos.

Em meados de 1381 uma insurreição social amedrontou os grandes proprietários ingleses e o rei Ricardo II foi levado a crer que os lollardos haviam contribuído com ela. Ele ordenou à Universidade de Oxford (que havia sido reduto de líderes insurretos) que

(7)

expulsasse Wycliffe e seus seguidores, apesar destes não haverem apoiado qualquer movimento rebelde. O rei proibiu a citação dos ensinos de Wycliffe em sermões e mesmo em discussões acadêmicas, sob pena de prisão para os infratores. Wycliffe era amado e odiado ao mesmo tempo. Seus inimigos eclesiásticos não esqueceram sua oposição ao poder deles e seu esforço bem sucedido de tornar as escrituras disponíveis a todos. Várias décadas depois de sua morte, eles o condenaram de heresia, desenterraram seus restos mortais, queimaram e jogaram suas cinzas no Rio Swift. Um dos colegas mais íntimos de Wycliffe, John Purvey (1353-1428), continuou o seu trabalho produzindo uma revisão de sua tradução em 1388. Purvey era um excelente aluno e seu trabalho foi muito bem recebido tanto pela sua geração como pelas que vieram depois. Dentro de menos de um século, a revisão de Purvey havia substituído a Bíblia Wycliffe original.

2.2 JOHN HUS (1370-1415)

John Hus nasceu por volta do ano 1370, de uma família camponesa que vivia na pequena aldeia de Hussinek,na Boêmia,e ingressou na universidade de Praga quando tinha uns dezessete anos. Em 1400, foi ordenado sacerdote e, desde o início de seu ministério, quando assumiu o púlpito da Capela de Belém, em Praga, tornou-se um estorvo, um incômodo para alguns de seus colegas. Pregava insistentemente contra os privilégios do clero, e defendia a necessidade urgente de uma reforma religiosa. A eloquência de suas pregações fez com que, rapidamente, boa parte da população o seguisse.

Embora a terra de Wycliffe ficasse longe da Boêmia, sua influência se espalhou depois que o rei Ricardo II da Inglaterra casou-se com Ana, irmã do rei da Boêmia. Ana abriu caminho para que os habitantes da Boêmia fossem estudar na Inglaterra. Assim, os escritos reformistas de Wycliffe começaram, lentamente, a se espalhar pela Boêmia.

Nas paredes da Capela de Belém, as pinturas contrastavam o comportamento dos papas e de Cristo. O papa caminhava montado em um cavalo, mas Cristo andava a pé; Jesus lavava os pés dos discípulos, e o papa permitia que as pessoas beijassem seus pés. O mundanismo do clero ofendia Hus, que pregava e ensinava contra isso, ao enfatizar a piedade pessoal e a pureza de vida. Quando enfatizou o papel da Bíblia na autoridade da igreja, ele elevou a pregação bíblica a um importante lugar no culto.

(8)

Os ensinamentos de Hus se tornaram populares entre as massas e algumas pessoas da aristocracia, incluindo-se a rainha. Conforme sua influência na universidade crescia de forma notável, a popularidade dos textos de Wycliffe também aumentava.

O arcebispo de Praga se opunha aos ensinamentos de Hus. Ele instruiu Hus a parar de pregar e pediu que a universidade queimasse os textos de Wycliffe. Quando Hus se recusou a cooperar, o arcebispo o condenou. O papa João XXIII (um dos três papas do Grande Cisma, também conhecido por "antipapa") colocou Praga sobre interdito — ato que efetivamente excomungava toda a cidade, porque ninguém ali poderia receber os sacramentos da igreja. Hus concordou em sair de Praga para ajudar a cidade, mas continuou a atrair multidões enquanto pregava nas igrejas e organizava reuniões ao ar livre.

Hus suscitou a oposição do clero não apenas por denunciar o estilo de vida imoral e extravagante do clero — incluindo o papa —, mas ao afirmar que somente Cristo é o cabeça da igreja. Em seu livro Sobre a igreja, defende a autoridade do clero, mas afirma que somente Deus pode perdoar os pecados. Hus disse também que nenhum papa ou bispo poderia estabelecer doutrinas contrárias à Bíblia, assim como nenhum cristão verdadeiro poderia obedecer às ordens de um clérigo se elas estivessem claramente equivocadas.

Em 1414, Hus foi convocado ao Concilio de Constança para defender seus ensinamentos. Sigismundo, imperador do Sacro Império Romano, prometeu-lhe salvo-conduto. O concilio já tinha uma opinião formada sobre Huss. Ele foi preso imediatamente após sua chegada. O concilio condenou tanto os ensinamentos de Wycliffe quanto os de Huss, que defendia as ideias de Wycliffe.

Sob ataque, Hus se recusou a negar que afirmara que quando um papa ou um bispo estivesse em pecado mortal, ele deixava de ser papa ou bispo. Em sua defesa oral, complementou suas declarações dizendo que o rei também deveria fazer parte dessa lista. Sigismundo convocara o concilio para corrigir o Grande Cisma o que foi realmente alcançado. Contudo, é natural que nenhum concílio que restaurasse a autoridade do papa recebesse de bom grado um rebelde, que questionava seu direito de fazer isso.

Abatido por sua longa prisão, pela doença e pela falta de sono, Hus ainda alegou inocência e se recusou a renunciar a seus "erros". Ele fez a seguinte declaração ao concilio: "Eu não renunciaria à verdade nem mesmo por uma capela repleta de ouro".

Por fim, no dia 6 de julho, ele foi levado para a catedral de Constança. Ali, depois de um sermão sobre a teimosia dos hereges, ele foi vestido de sacerdote e recebeu o cálice, somente para logo em seguida lhe arrebatarem ambos, em sinal de que estava perdendo suas ordens sacerdotais. Depois lhe cortaram o cabelo para estragar a tonsura, fazendo-lhe uma

(9)

cruz na cabeça. Por último lhe colocaram na cabeça uma coroa de papel decorada com diabinhos, e o enviaram para a fogueira. A caminho do suplício, ele teve de passar por uma pira onde ardiam seus livros.

Mais uma vez lhe pediram que se retratasse, e mais uma vez ele negou com firmeza. Por fim orou, dizendo: "Senhor Jesus, por Ti sofro com paciência esta morte cruel. Rogo-Te que tenhas misericórdia dos meus inimigos".

Antes de ser queimado, Hus disse as seguintes palavras ao carrasco: "Vocês hoje estão queimando um ganso (Hus significa "ganso" na língua boêmia), mas dentro de um século, encontrar-se-ão com um cisne. E este cisne vocês não poderão queimar." Costuma-se identificar Martinho Lutero com esta profecia (que 102 anos depois pregou suas 95 teses em Wittenberg), e costumeiramente se costuma identificá-lo com um cisne.

2.3 MARTINHO LUTERO (1483-1546)

Martinho Lutero nasceu em 10 de novembro de 1483, em Eisleben, filho de um minerador de prata de classe média.

Ele entrou para um mosteiro agostiniano em 1505, tornando-se sacerdote em 1507. Reconhecendo suas habilidades acadêmicas, seus superiores o enviaram para a Universidade de Wittenberg a fim de que obtivesse o diploma em Teologia. A inquietação espiritual que atormentava outros grandes cristãos, ao longo de todas as eras, também influenciou Lutero. Ele estava profundamente consciente do próprio pecado, da santidade de Deus e de sua total incapacidade de obter o favor divino. Em 1510, Lutero viajou para Roma e ficou desiludido com o tipo de fé mecânica que encontrou ali.

Poucos anos depois, voltou para Wittenberg como doutor em Teologia, para ensinar disciplinas relacionadas à Bíblia. Em 1515, começou a lecionar sobre a epístola de Paulo aos Romanos. As palavras de Paulo consumiram a alma de Lutero. "Minha situação era que, apesar de ser um monge impecável, eu me punha diante de Deus como um pecador perturbado por minha consciência e não tinha confiança de que meus méritos poderiam satisfazê-lo", escreveu Lutero. "Noite e dia eu ponderava, até que vi a conexão entre a justiça de Deus e a afirmação de que Ό justo viverá pela fé'. Então, entendi que a justiça de Deus é a retidão pela qual a graça e a absoluta misericórdia de Deus nos justificam pela fé. Em razão dessa descoberta, senti que renascera e entrara pelas portas abertas do paraíso. Toda a

(10)

Escritura passou a ter um novo significado [...] esta passagem de Paulo tornou-se, para mim, o portão para o céu".

A corrupção reinava na igreja. Os cargos eclesiásticos eram comprados por nobres ricos e usados para alcançar mais riqueza e mais poder. Um desses nobres foi Alberto de Brandemburgo, que pedira dinheiro emprestado para se tornar arcebispo de Mainz e que precisava encontrar um modo de pagar seu empréstimo. O papa autorizou a venda de indulgencias na região de Alberto, contanto que metade do dinheiro coletado fosse usada para a construção da Basílica de São Pedro em Roma. O restante do valor levantado iria para Alberto. Todos estavam felizes, a não ser certo número de alemães devotos, dentre os quais estava Martinho Lutero.

Tetzel, monge dominicano e pregador bastante popular, tornou-se o comissário das indulgências. Ele viajava de cidade em cidade, proclamando seus benefícios: "Ouça a voz de seus entes queridos e amigos que já morreram, suplicando-lhes e dizendo: 'Tenha pena de nós, tenha pena de nós. Estamos passando por tormentos horríveis dos quais você pode nos redimir, contribuindo com uma pequena esmola'. Vocês não desejam fazer isso?".

Lutero, sacerdote e professor de Wittenberg, opunha-se totalmente à venda das indulgências. Quando Tetzel chegou àquela localidade, Lutero redigiu, em 31 de outubro de 1517, uma lista de 95 queixas e a afixou na porta da igreja, que também servia como quadro de avisos da comunidade. O perdão divino certamente não poderia ser comprado e vendido, dizia Lutero, uma vez que Deus o oferece gratuitamente.

As indulgências, porém, eram apenas a ponta do iceberg. Lutero se rebelava contra toda a corrupção da igreja e pressionava para que uma nova compreensão da autoridade do papa e das Escrituras fosse adotada.

Lutero queria um debate, e ele realmente conseguiu um debate, primeiramente com Tetzel e, mais tarde, com o renomado estudioso João Eck, que acusou Lutero de heresia. No primeiro momento, parecia que Lutero esperava que o papa concordasse com ele sobre o abuso na questão das indulgências. Conforme a controvérsia continuou, Lutero, porém, solidificou sua oposição ao papado. Em 1520, o papa emitiu uma bula (decreto) condenando as ideias do monge alemão, e Lutero a queimou. Em 1521, a Dieta (concilio) de Worms ordenou que Lutero se retratasse. Ali, segundo a lenda, Lutero afirmou: "Não posso fazer outra coisa. Aqui estou. Deus me ajude. Amém". Depois disso, Lutero foi excomungado, e seus escritos foram banidos. Para sua proteção, foi levado à força por seu patrono Frederico, o Sábio, e ficou escondido no castelo de Wartburg. Ali, ele trabalhou em outros escritos teológicos e na tradução do Novo Testamento para o alemão popular.

Referências

Documentos relacionados

4 Este processo foi discutido de maneira mais detalhada no subtópico 4.2.2... o desvio estequiométrico de lítio provoca mudanças na intensidade, assim como, um pequeno deslocamento

FIGURE 4 - Miami Special method. 1) The sample is gently placed on the chuck. 2) The chuck is placed into the chuck holder of the Miami Special clamp. 3) The sandwiched tissue

Em suma, a quantificação do volume utilizado em lavouras orizícolas, por meio do sistema de automonitoramento com métodos simplificados de medição de vazão propostos, nos

Apresentamos nesta dissertação, como resultado das pesquisas empreendidas durante o curso de Mestrado realizado junto à Área de Estudos Comparados de Literaturas de Língua

Nursing students experience the feeling of stress; and women, students with partners, and those in the last year of study are more likely to present with this condition..

A democratização do acesso às tecnologias digitais permitiu uma significativa expansão na educação no Brasil, acontecimento decisivo no percurso de uma nação em

A ideia da pesquisa, de início, era montar um site para a 54ª região da Raça Rubro Negra (Paraíba), mas em conversa com o professor de Projeto de Pesquisa,

Pedro Antonio dc Miranda, Religiofo da Ordem de noíla Senhora do Monte do Carmo da Proviiicia dc Portugal, para defpcdir-fc do dito Doutor, com quem no tempo