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contrarrazões ao agravo regimental

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Academic year: 2021

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA N.º 405/2019- SFPOSTF/PGR

INQUÉRITO 4479/SP

AUTOR: Ministério Público Federal

INVESTIGADO: Arlindo Chignalia Junior RELATOR: Ministro Luiz Fux

Excelentíssimo Senhor Ministro Luiz Fux,

A Procuradora-Geral da República, no exercício de suas atribuições constituci-onais e legais, vem oferecer

contrarrazões ao agravo regimental

interposto pelo investigado Arlindo Chignalia Junior, pelos fundamentos adiante expostos.

I

Trata-se de inquérito instaurado originalmente para apurar eventual prática de cri-mes de falsidade ideológica eleitoral e de lavagem de dinheiro, em razão de movimentações

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bancárias atípicas da empresa Cátia Cristina Gonçalves Esteves de Oliveira – ME (RIF 15.851), cujos indícios, no decorrer das apurações, apontaram para suposta participação do Deputado Fe-deral Arlindo Chignalia nos fatos relatados.

À luz do julgamento proferido na Questão de Ordem da Ação Penal 937, pelo Plená-rio do STF, cujos contornos em relação aos crimes eleitorais foram esclarecidos postePlená-riormente, no sentido da incompetência superveniente da Suprema Corte para processar e julgar os fatos a eles relacionados, requeri, em 20 de maio de 2019, o declínio dos autos ao Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, a quem competirá a distribuição a uma das zonas eleitorais competentes.

Acolhendo o pedido, o Ministro Relator declinou da competência do feito ao Tribu-nal RegioTribu-nal Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) para livre distribuição a uma das respectivas zo-nas eleitorais (fls. 946/953).

Inconformada, a defesa interpôs este recurso alegando que o lapso temporal de quase quatro anos, desde a instauração das investigações, não foi capaz de demonstrar indícios de auto-ria e de mateauto-rialidade atribuídos ao congressista.

Afirma que o nome de Arlindo Chignalia Júnior surgiu com maior destaque a partir da oitiva de Francisco Satiro de Souza, que informou ter realizado suposta doação eleitoral não oficial para a campanha de 2014, do congressista, no valor de R$ 1.000.000,00, operacionalizada a partir da emissão de 20 cheques, no montante de R$ 50.000,00 cada.

Acrescenta que o depoimento de Francisco Satiro de Souza restou isolado nos autos, alegando que: i) inexistiu doação à campanha do congressista, mas sim ao Partido dos Trabalha-dores; ii) o Sr. Vilson de Oliveira, que recebeu o valor acima mencionado de Francisco Satiro de Souza, não era o coordenador da campanha do parlamentar na campanha de 2014, pois coorde-nava a campanha de Eduardo Suplicy; iii) o parlamentar não sofrera acidente automobilístico em 2014, mas sim em 2006; e iv) as informações fornecidas pelo Banco Bradesco sobre os 20 che-ques emitidos não demonstram mínima ligação ao nome de Arlindo Chignalia Junior.

Aduz que o apontamento do perito criminal na Informação Técnica Nº 044/2019-INC/DITEC/PF (fls. 926/933) identificou apenas uma ligação entre os beneficiários dos cheques e os prestadores de serviços formalmente declarados da campanha do parlamentar, sem que o montante identificado diga respeito “aos imaginários cinquenta mil repassados por Francisco Satiro”.

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Por fim, requer o arquivamento dos autos por entender que a remessa ao Tribunal Re-gional Eleitoral “apenas tardaria ainda mais o inevitável fim deste procedimento, qual seja, o encerramento das investigações e seu definitivo arquivamento”, diante da ausência de indícios de crime que recaiam para o investigado.

Os autos vieram ao Ministério Público Federal.

II

A hipótese é de não provimento do agravo regimental interposto.

Consoante restou explicitado na decisão recorrida, que acolheu a manifestação desta Procuradoria-Geral da Repúblca, datada de 20/5/2019, o STF entendeu que os fatos investigados nos presentes autos, relacionados ao crime de falsidade ideológica eleitoral (art. 350 do Código

Eleitoral), não se comunicam com as funções desempenhadas por Arlindo Chignalia1, mesmo

que supostamente praticados no exercício do cargo de deputado federal.

Dessa forma, a decisão de declínio impugnada encontra-se em consonância com o entendimento firmado pela Suprema Corte, a partir do julgamento da Questão de Ordem na AP 937-RJ, que condicionou a competência da Suprema Corte para processar e julgar parlamentares federais a dois requisitos interligados: crime praticado durante o exercício do cargo e relacionado às funções desempenhadas.

Nos termos da Informação Técnica Nº 044/2019-INC/DITEC/PF (fls. 926/933), ainda há diligências necessárias à elucidação dos fatos em análise, que indicam possíveis víncu-los com o congressista. No entanto, a competência para supervisionar a presente investigação não é mais do Supremo Tribunal Federal.

Nesse sentido, destaco o seguinte excerto do relatório da autoridade policial apon-tando as diligências já efetivadas no presente caderno apuratório com indicação de outras que re-puta necessárias para a elucidação dos fatos apurados:

1 O congressista está investido no cargo de deputado federal desde a 52ª Legislatura (1995-1999)

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(…) 2. Após a leitura dos documentos que compõem o Registro Especial nº 138/2017, tem-se que as informações coletadas conduzem à conclusão de que o objeto do Inquérito 4479/2017 (Supremo Tribunal Federal) busca caracterizar não apenas as transações comerci-ais, se existentes, que justificaram a compensação/recebimento dos valores consignados nos cheques emitidos pela pessoa física Francisco Satiro de Souza, mas sobretudo identificar os reais beneficiários desses recursos. (...)

5. Considerando o universo de 20 (vinte) cheques emitidos pela pessoa física

Francisco Satiro de Souza, 50% (cinquenta por cento) das ordens de pagamento tiveram por destino o mesmo grupo econômico, no caso, a pessoa jurídica Cátia

Cristina Gonçalez Esteves – ME2 (CNPJ Nº 05.130.400/0001-35 – Agência Planeta

Comunicação), cuja conta corrente recebeu R$ 300.000,00 e a pessoa física Ricardo

Alves de Oliveira3 (CPF Nº 256.386.458-18), cuja conta corrente recebeu R$ 200.000,00. 6. Quanto às demais ordens de pagamento, foram identificados 10 (dez) beneficiários distintos, dos quais 02 (dois) são pessoas jurídicas e 08 (oito) pessoas físicas. A pessoa jurídica Empreiteira de Dedetizadora Santorini atua no ramo de construção civil e a Lenilton Luiz Alves Paiva – ME, com a locação de equipamentos de construção. (…)

7. Para as pessoas físicas, foram realizadas pesquisas a fim de identificar a ocorrência de participação em quadros societários de empresas habilitadas a prestar serviços tipicamente demandados por candidatos a cargos eletivos (locação de estruturas para apresentações/comícios, serviços de publicidade e propaganda etc) ou se integravam o quadro funcional de empresas que exploravam atividades congêneres.

8. Em um segundo momento, os CPFs e CNPJs das pessoas físicas/jurídicas beneficiárias das ordens de pagamento, bem como das empresas nas quais as pessoas físicas possuíam participação, foram confrontados com os dados qualitativos dos fornecedores formalmente declarados como prestadores de serviços ao candidato Arlindo Chignalia (prestação de contas do Tribunal Superior Eleitoral4 – Eleições 2014).

9. A comparação entre argumentos de pesquisa resultou na identificação da pessoa jurídica Vanilson Pulzi Mateus Comunicação – ME (CNPJ Nº 07.068.782/0001-40), cujo proprietário é a pessoa física Vanilson Pulzi Mateus (CPF Nº 149.468.778-00). Para referida entidade, consta na prestação de contas a declaração de execução de serviços de publicidade por placas, estandartes e faixas, no valor único de R$ 3.010,00, mas nada há em relação à importância de R$ 50.000,00, recebida.

10. As pessoas físicas Marco Rodrigo Ferraz, Felipe de Lemos Sampaio, Ronaldo Justiniano, Fabio Simonetti e Lenilton Luiz Alves Paiva, possuem participação nas empresas discriminadas na tabela a seguir: (…)

11. A dinâmica sugere que o foco dos exames deva recair sobre o caminho

percorrido pelos recursos levantados a partir dos cheques compensados, para tanto, será necessário identificar quais transações foram registradas nas contas dos beneficiários das ordens de pagamentos, ou seja, validar se após o crédito de cada cheque de R$ 50.000,00, houve pagamentos, transferências, saques, etc. A Figura 02 ilustra a linha de ação que orientará os exames.

12. Para recursos regularmente captados e aplicados por candidato a mandato

eletivo, espera-se que todos os desembolsos efetuados estejam restritos àqueles 2 Trata-se de Microempresa de propriedade da pessoa física Cátia Cristina Gonçalez Esteves (CPF Nº

254.964.898-65).

3 Identificado nos autos como cônjuge de Cátia Cristina Gonçalez Esteves.

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fornecedores enumerados na prestação de contas, contudo, quando há suspeita de ocorrência de aplicação de recursos não declarados em campanha, as contratações de profissionais (pessoas físicas e/ou jurídicas) e respectivos pagamentos serão viabilizados a partir do uso de práticas voltadas a omitir os vínculos entre a estrutura partidária do candidato e os contratados.

13. Aludidos vínculos poderão vir a ser revelados com o afastamento do sigilo

bancário dos beneficiários das ordens de pagamento emitidas pela pessoas física Francisco Satiro de Souza, bem como daquelas pessoas físicas/jurídicas relacionadas no Relatório de Inteligência (RIF) do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), acostado às fls. 07/08, do Volume I.

14. O exame do sigilo fiscal (Dossiê Integrado no seu formato completo) também se

revela medida necessária, pois somente com a análise das informações inseridas nas declarações de imposto sobre a renda da pessoa física, será oportunizada a formulação de juízo técnico quanto à origem dos valores, ou seja, ao menos poder-se-á afirmar se tais recursos foram declarados pelos titulares das contas sensibilizadas com os créditos provenientes da compensação dos 20 (vinte) cheques.

15. Assim, o signatário solicita que sejam apresentados os dados de sigilos fiscal e bancário para as pessoas físicas e jurídicas inseridas na Tabela abaixo. (…)

16. O início do período de afastamento dos sigilos fiscal e bancário coincide com o relatório de inteligência do COAF, o término, por sua vez, é sugerido em razão de dívidas de campanha exigirem um prazo maior de apuração/liquidação. As operações financeiras realizadas entre as diversas pessoas físicas e jurídicas indicadas naquele relatório merecem destacada atenção, pois o grupo econômico vinculado à empresa Agência Planeta Comunicação concentrou a captação e talvez a distribuição de 50% dos valores provenientes da pessoa física Francisco Satiro de Souza.

17. Adicionalmente, o signatário solicitada que seja requisitado ao Tribunal

Superior Eleitoral o processo de prestação de contas final do candidato Arlindo Chignalia (Eleições 2014), em formato digital (comprovantes digitalizados da execução da despesa) e a identificação de todos os fornecedores/doadores em formato compatível com planilha eletrônica. (…) Grifos acrescentados

O cerne da investigação, repiso, é a apuração de eventual prática de crime de falsi-dade ideológica eleitoral pelo Deputado Federal Arlindo Chignalia Junior, consistente no direcio-namento de créditos originários da doação não oficial de Francisco Satiro de Souza para a campanha política do congressista, no pleito de 2014, cujos valores teriam sido utilizados por Vilson Augusto de Oliveira para pagar a empresa Cátia Cristina Gonçalves Esteves de Oliveira – ME, de maneira escamoteada, em razão de serviços prestados à referida campanha política do congressista.

As diligências policiais apuraram que a empresa Cátia Cristina Gonçalves Esteves de Oliveira – ME forneceu material, ou prestou algum tipo de serviço, possivelmente sem a emissão

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de notas fiscais, a políticos do Partido de Trabalhadores (PT), notadamente ao Deputado Federal Arlindo Chignalia.

A apuração partiu das informações prestadas por Francisco Satiro de Souza (fls. 548/550), que declarou ter feito doação de 1.000.000,00, por meio de 20 cheques no valor indivi-dual de R$ 50.000,00, ao Deputado Federal Arlindo Chignalia, em razão de vínculo de amizade com o parlamentar. Tal vínculo de amizade foi reforçado pelas declarações de Francisco Satiro de Souza, ao mencionar que, em 2006, cedeu imóvel de sua propriedade para ser utilizado na campanha eleitoral de Arlindo Chignalia, tendo esta informação sido confirmada por Vilson Au-gusto de Oliveira (fls. 759/762).

Os referidos cheques foram entregues a Vilson Augusto de Oliveira, que, à época dos fatos, trabalhava na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo como Assessor Especial e estava designado para atuar junto a Liderança do Partido dos Trabalhadores (PT).

No entanto, ao ser ouvido perante a autoridade policial, Vilson Augusto de Oliveira trouxe informações contraditórias e no mínimo suspeitas. Em que pese tenha mencionado que nenhum dos cheques recebidos diretamente de Francisco Satiro de Souza foi utilizado para fins de pagamentos de serviços/contratos da campanha eleitoral de Arlindo Chignalia“, em 2014, ou mesmo de outro candidato do Partido dos Trabalhadores, disse que repassou-os para Cátia Cris-tina Gonçalves Esteves de Oliveira - ME como forma de retribuição pelos serviços prestados em razão do fornecimento “de estrutura e matérias de propaganda político-partidárias e de movi-mentos sociais para o declarante” por muitos anos e em várias ocasiões.

Ocorre que a perícia constatou que Cátia Cristina Gonçalves Esteves de Oliveira -ME recebeu seis cheques de R$ 50.000,00, totalizando R$ 300.000,00, oriundos de Francisco Sa-tiro de Souza.

Cátia Cristina Gonçalves Esteves de Oliveira declarou que o referido valor lhe foi re-passado diretamente por Vilson Augusto de Oliveira, em retribuição aos serviços efetivamente prestados pela pessoa jurídica, a campanhas político-partidárias do PT por ele coordenadas (fl. 750).

Como visto, a instrução do inquérito não está finalizada e não é possível, nesse está-gio, afastar os indícios de participação do congressista nos fatos.

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Outrossim, as alegações defensivas não têm força para desconstituir os indícios de envolvimento de Arlindo Chignalia Junior no suposto crime.

Ao contrário, a própria defesa reconheceu nas razões recursais que a polícia federal (Informação Técnica Nº 044/2019-INC/DITEC/PF) identificou uma ligação entre os beneficiá-rios dos cheques subscritos por Francisco Satiro de Souza e os prestadores de serviços formal-mente declarados da campanha do parlamentar, o que, a meu ver, já são fortes indícios de materialidade do crime ora investigado e que ligam à possível participação do congressista nos fatos narrados no presente feito.

Destarte, a continuidade das investigações para averiguar a prática de eventual crime de doação eleitoral não contabilizada na campanha do Deputado Federal Arlindo Chignalia Ju-nior, em 2014, deverá ser conduzida pelo ministério público eleitoral e supervisionada pelo res-pectivo juízo eleitoral.

No mais, tenho por acertada a devolução dos autos à Justiça Eleitoral de São Paulo, juízo competente para supervisionar a presente investigação, pois o Supremo Tribunal Federal não é mais o órgão competente para analisar eventual ação penal resultante das investigações re-alizadas nestes autos.

III

Pelo exposto, requeiro o não provimento do agravo regimental interposto, com a ma-nutenção da decisão recorrida.

Brasília, 19 de junho de 2019.

Raquel Elias Ferreira Dodge

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