• Nenhum resultado encontrado

11ª Promotoria de Justiça da Comarca de Anápolis 57ª Promotoria de Justiça da Comarca de Goiânia - DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO -

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "11ª Promotoria de Justiça da Comarca de Anápolis 57ª Promotoria de Justiça da Comarca de Goiânia - DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO -"

Copied!
25
0
0

Texto

(1)

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DA ____ VARA DA FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL DA COMARCA DE GOIÂNIA

URGENTE

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por in-termédio dos Promotores de Justiça que esta subscrevem, no uso de suas atribui-ções constitucionais e com fulcro no artigo 129, inciso III, artigo 37, caput, ambos da Constituição Federal, artigo 5º, inciso I, da Lei Federal nº 7.347/85, Lei Federal nº 8.625/93, no artigo 46, inciso VI, alínea “a”, da Lei Complementar Estadual nº 25/98, nos termos dos artigos 798 e seguintes do Código de Processo Civil, vem propor perante V. Exª,

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

com pedido de liminar

(2)

ESTADO DE GOIÁS, pessoa jurídica de direito público,

ins-crita no C.N.P.J. com n. 01.409.580/0001-38, representada pelo Procurador-Geral do Estado, Alexandre Eduardo Felipe Tocantins, com sede na Praça Dr. Pedro Ludovico Teixeira, n. 03, Setor Central, Goiânia-GO, C.E.P. 74003-010;

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS – UEG, autarquia

integrante da Administração Indireta do Estado de Goiás, criada pelo art. 2º, II, “a”, da Lei Estadual 13.456/99, com sede na BR-153, Km 99, Qd. Área, Bairro São João, CEP 75132-903, Anápolis/GO, representada por seu Reitor Dr. Haroldo Reimer, pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir delineados, pelos fundamentos fáticos e jurídicos a seguir expostos.

I – DOS FATOS

No ano de 2012, o Estado de Goiás, por intermédio da Secretaria Estadual de Gestão e Planejamento (SEGPLAN), determinou a abertura de concurso público para o preenchimento de cargos de Agente, Delegado, Escrivão da Polícia Civil, Cadete e Soldado da Polícia Militar do Estado de Goiás, firmando Termo de Cooperação com a Universidade Estadual de Goiás (UEG) para realização dos certames, mediante os Editais descritos no quadro abaixo:

Edital do dia 17.10.2012 Data da prova: 27.01.2013 Cargo: Soldado Polícia Militar Edital do dia 17.10.2012 Data da prova: 03.02.2013 Cargo: Cadete Polícia Militar Edital do dia 25.10.2012 Data da prova: 17.02.2013 Cargo: Escrivão Polícia Civil Edital do dia 25.10.2012 Data da prova: 24.02.2013 Cargo: Delegado Polícia Civil

(3)

Edital do dia 25.10. 2012 Data da prova: 03.03.2013 Cargo: Agente Polícia Civil

O Estado de Goiás celebrou o Termo de Cooperação nº 10/12 com a Universidade Estadual de Goiás (UEG) para promover parceria visando a realização do Concurso Público para o ingresso nos cargos de Oficial Combatente/Cadete PM, Oficial de Saúde/2º TEN, Soldado 3ª Classe e Soldado Músico da Polícia Militar do Estado de Goiás, no valor de R$ 2.037.620,00 (dois milhões, trinta e sete mil, seiscentos e vinte reais), dividido em 04 (quatro) parcelas, sendo a primeira no valor de R$ 407.524,00 (quatrocentos e sete mil, quinhentos e vinte e quatro reais) a ser paga em até quinze dias úteis após o término das inscrições e a segunda no valor de R$ 611.286,00 (seiscentos e onze mil, duzentos e oitenta e seis reais), a ser paga em até quinze dias úteis após a divulgação do resultado da prova objetiva e discursiva.

O Estado de Goiás celebrou, ainda, o Termo de Cooperação n.º 11/12 com a UEG para promover parceria visando a realização do Concurso Público para o ingresso nos cargos de Delegado Substituto, Agente de Polícia de 3ª Classe e Escrivão de Polícia de 3ª Classe da Polícia Civil do Estado de Goiás, no valor de R$ 3.148.836,64 (três milhões, cento e quarenta e oito mil, oitocentos e trinta e seis reais e cinquenta e quatro centavos), dividido em 04 (quatro) parcelas, sendo a primeira no valor de R$ 629.767,33 (seiscentos e vinte e nove mil, setecentos e sessenta e sete reais e trinta e três centavos) a ser paga em até quinze dias úteis após o término das inscrições e a segunda no valor de R$ 944.650,99 (novecentos e quarenta e quatro mil, seiscentos e cinquenta reais e noventa e nove centavos), a ser paga em até quinze dias úteis após a divulgação do resultado da prova objetiva e discursiva.

(4)

Goiás e UEG para realização dos concursos públicos para pesquisador do Instituto Mauro Borges e para cargos na Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia.

No dia 27 de janeiro de 2013 foram aplicadas as provas objetivas para o cargo de Soldado, com divulgação do gabarito no dia 14/02/2013.

Em 03 de fevereiro de 2013 foram aplicadas as provas objetivas para o cargo de Cadete/Oficial da Polícia Militar, sendo que a divulgação dos gabaritos se deu no dia seguinte, isto é, 04/02/2013.

No dia 17 de fevereiro de 2013, foram aplicadas as provas objetivas para o cargo de Escrivão, com divulgação do gabarito no dia seguinte dia 18, no site da UEG: www.nucleodeselecao.ueg.br.

Ocorre que em 24 de fevereiro de 2013, foram aplicadas as provas objetivas para o cargo de delegado e, de igual modo, o gabarito foi publicado no mesmo sítio eletrônico da UEG, mas com uma disparidade: a mesma sequência aplicada no gabarito da prova para o cargo de escrivão de polícia de 3ª classe, realizada no dia 17, fora repetida no gabarito da prova para o cargo de delegado de polícia, bem como a mesma sequencia repetida aplicada no gabarito da prova para o cargo de soldado e cadete. Senão Vejamos:

(5)
(6)
(7)
(8)

Denota-se, pois, que a prova A para Delegado de Polícia apresentava uma sequência de letras nas questões de 1 a 10 e outra na 11 a 20 e, depois, as mesmas sequências se repetiam, até completar as 100 (cem) questões objetivas, em um total de 5 (cinco) repetições cada.

O mais intrigante é que a sequência dos gabaritos das provas de delegado e escrivão é exatamente a mesma, com a diferença de que a prova A de escrivão equivale à prova B de delegado; a prova B de escrivão com a prova C de delegado; a prova C de escrivão com a prova D de delegado; a prova D de escrivão com a prova A de delegado.

Ao observar o gabarito supracitado da prova de soldado da polícia militar, verifica-se, igualmente, uma lógica na ordem das assertivas demonstrando que as letras vão se repetindo de forma inversa, por exemplo: ACBD e, em seguida, DBCA.

Percebe-se, pois, que existe uma sequência lógica também nas provas para o cargo de pesquisador do Instituto Mauro Borges, da mesma forma como ocorreu com os demais da Segurança Pública.

A referida ordem lógica, além de apresentar relevante indício de favorecimento a candidatos com repasse das sequências dos gabaritos, indicaria, também, vantagem àqueles candidatos que identificaram essa prática da organização do concurso.

Diante dessa situação, há fortes indícios de que possa ter havido fraude no concurso, haja vista que a forma como as letras foram colocadas nos gabaritos mencionados, em sequências repetidas, compromete a

(9)

lisura do certame, fugindo à prática preventiva de cercar-se de todos os cuidados a fim de se evitar a ocorrência de fatos deste jaez.

Em uma atitude louvável, a Secretaria Estadual de Gestão e Planejamento decidiu, no último dia 25 de fevereiro, cancelar as provas objetivas aplicadas “diante de indícios de irregularidades nos gabaritos das provas dos concursos da Polícia Civil e Militar, elaboradas pelo Núcleo de Seleção da UEG, conforme Nota publicada no seu sítio eletrônico:

Comunicado – Concursos das Polícias - 25/02/2013 18h54 - Atualizado em 25/02/2013 18h58

A Secretaria de Gestão e Planejamento (Segplan) informa que, diante de indícios de irregularidades nos gabaritos das provas dos concursos das Polícias Civil e Militar, elaborados pelo Núcleo de Seleção da UEG, determinou o cancelamento desta etapa (provas objetivas) dos certames já realizados. A Escola de Governo Henrique Santillo da Segplan agendará novas datas para realização das provas. Os candidatos devem aguardar por novas orientações. O Governo de Goiás não abre mão da transparência e da licitude nos processos seletivos em andamento. E será contundente na tomada de todas as medidas necessárias para apurar responsabilidades. Comunicação Setorial – Segplan

Em razão da gravidade da situação, instaurou-se, na 11ª Promotoria de Justiça de Anápolis, inquérito civil público visando apurar a eventual ocorrência de fraude no certame, conforme cópia da portaria que ora se junta. Importante frisar que a investigação do Ministério Público encontra-se em andamento, havendo o Reitor da UEG, Dr. Haroldo Reimer, solicitado prazo para remeter o restante das informações requisitadas pelo Ministério Público, conforme documento que ora se junta.

Em seguida, o Ministério Público expediu recomendação ao Procurador-Geral do Estado de Goiás para que providenciasse o afastamento da

(10)

entidade realizadora dos Concursos Públicos para provimento de cargos da Secretaria de Segurança Pública e Justiça do Estado de Goiás, no intuito de garantir a licitude e a validade regular dos concursos, bem como sua agilidade e eficiência, respeitada a legislação vigente.

No entanto, antes mesmo da completa apuração dos fatos, o Estado de Goiás anunciou, no dia 06/03/2013, desacolhendo a recomendação expedida pelo Ministério Público, que não retiraria, sponte propria, a UEG da organização dos certames. Ademais, remarcou a realização das novas provas para os dias 17/03 (Agente de PC), 24/03 (Escrivão de PC), 07/04 (Soldado da PM), 14/04 (Instituto Mauro Borges e Oficiais e Cadetes da PM), 21/04 (Delegado de PC) e 28/04 (SECTEC).

Ocorre que, diante dos sérios indícios de fraude na realização do concurso público para o provimento de cargos da Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás, com dois gabaritos contendo a mesma sequência em provas aplicadas em dois domingos sucessivos, não há como manter a realização das provas até que se apure completamente os fatos, em homenagem ao princípio da precaução.

Com efeito, a forma como os gabaritos das provas dos concursos para delegado e escrivão foram gerados, suscita sérias dúvidas quanto à idoneidade da realizadora do concurso – UEG – comprometendo a lisura do certame por, no mínimo, má execução dos trabalhos que, caso venha a ser confirmada a fraude eventualmente ocorrida, acarretará a nulidade dos atos já praticados, não sendo razoável que se aguarde a aplicação de outra prova que poderá ser anulada no futuro, causando prejuízos imensuráveis aos candidatos e à própria administração pública.

(11)

A concessão de privilégios ou dedução do gabarito, em qual-quer fase de concurso, gera desequilíbrio no processo seletivo e implica necessa-riamente na NULIDADE ABSOLUTA dele, em prejuízo de muitos candidatos que realmente estudaram.

A confiança no condutor do concurso é extremamente impor-tante em qualquer processo seletivo, pois não podem pairar dúvidas e quaisquer resquícios de parcialidade. Esta confiança, no presente caso, encontra-se vulne-rada, haja vista que a forma como foram gerados os gabaritos ocasionou a perda da credibilidade da instituição realizadora do certame.

Confiram-se relatos de candidatos que estão participando dos certames, conforme abaixo transcritos e constantes dos documentos anexos:

“De: "Nubia Castro" <nubiaccastro@hotmail.com>

Para: 11anapolis@mp.go.gov.br

Enviadas: Terça-feira, 26 de Fevereiro de 2013 10:54:42 Assunto: Concurso PM e PC

Excelentíssima Promotora,

Diante dos acontecimentos , peço a atuação do Mistério Público de Goiás no certame dos concursos públicos das policias civis e militares. Como Vossa Excelência bem sabe os desafios e percalços que nós concursando passamos, me sinto constrangida a refazer tais prova com a mesma banca, minha humilde opinião é que mantenha as provas já realizadas ou refaça as mesmas com outra banca organizadora e manter a prova de agente para domingo diante de tantos absurdos nos sugere uma aberração. Tantas pessoas de diversos lugares que vieram para as prova e tiveram gastos com locomoção, alimentação, desgaste físico e psicológico...me sinto envergonhada de participar de tal processo seletivo. E os meses de estudo,os finais de semana em abdicação, as festa de finais de ano sem comemoração, os aniversário passados em branco, o dinheiro investidos em cursos e livros? Cadê a transparência do setor do público? Prestamos concursos para a polícia- setor da administração pública que zela pela sociedade, pela lisura dos processo- me sinto mais uma vez frustrada com o meu estado de Goiás e suas instituições, me pergunto o porquê de tanto retrocesso? Será que vale a pena

(12)

tanto esforço? Atenciosamente,

Núbia Cristiana de Castro” (sic)

“Assunto: denuncia fraude concurso delegado pcgo Para: 11anapolis@mp.go.gov.br

Boa tarde,

Existe um grupo de policiais militares (soldados) que sao donos de um curso preparatorio em goiania que descobriram a “falha' nos gabaritos da ueg e divulgaram para todos os seus alunos. Esse curso teve 100% de aprovacao no concurso de soldado da pmgo.

Esses policiais militares sao: (...)

Tanto o xxxx quanto o yyyy obtiveram 100 pontos na prova de delegado, ou seja, fecharam a prova. Isso pode ser constatado oa conferir o cartao respostas deles.

O zzzz, tambem sabia da sequencia de gabaritos da prova da ueg, mas se equivocou ao resolver a prova e nao conseguiu obter uma boa nota, e agora esta divulgando que todos eles ja sabia dessa falha.

Na prova de oficial combatente da pmgo, houve uma falha da ueg, a questao de numero 23 deveria ter o mesmo gabarito da questao de numero 7, mas isso ocorreu. Com essa falha muitos que ja sabiam da sequencia de respostas tiraram 83 pontos e nao 85 pontos caso essa falha nao tivesse ocorrido.

Todas essas informaçoes podem ser constatadas se conferirem os cartoes resposta dos candidatos ao concurso.

Certo de que o Ministerio Publico do Estado de Goias tomara todas as providencias neccesarias para garantir a lisura desses certames, ja agradeço” (sic)

Com efeito, essa perda de credibilidade da UEG é reforçada, ainda, por outros fatores, devidamente abordados na recomendação expedida ao Procurador-Geral do Estado de Goiás, tais como sua lamentável posição no ranking das universidades brasileiras, recentes escândalos envolvendo seus ex-dirigentes, a ampla predominância, desde 1999, de temporários nos quadros de servidores e professores da universidade e a proximidade incômoda da diretora do Núcleo de Seleção da UEG com Carlos Augusto de Almeida Ramos, o notório “Carlinhos Cachoeira”.

(13)

De fato, de acordo com o “Ranking Universitário Folha” (acessível no sítio eletrônico http://ruf.folha.uol.com.br/rankings/rankingdeuniversi-dades/), com base nos dados divulgados pelo Ministério da Educação, a

Univer-sidade Estadual de Goiás (UEG) aparece na 135ª colocação entre 188 (cento e oitenta e oito) universidades avaliadas, ou seja, entre as últimas coloca-das.

Ressalte-se que o Ministério Público do Estado de Goiás ofereceu denúncia, no dia 31.01.2013, contra os ex-reitores da UEG José

Izeci-as de Oliveira e Luiz Antônio Arantes por desvio de recursos públicos da instituição de ensino, na operação nominada “boca do caixa”, nos crimes de

peculato, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, ocasião em que foi pedi-do o bloqueio de bens móveis e imóveis pedi-dos réus, conforme pedi-documentação inclu-sa.

O Ministério Público propôs, ainda, Ação Civil Pública, no dia 09.10.2012, em face da UEG em virtude de ausência de concurso público

para prover o seu quadro de servidores, desde sua criação, em 16 de abril de 1999. A liminar na ACP n.º 201203641464 foi deferida pelo Poder Judiciário,

conforme se vê na notícia veiculada no site do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (h ttp://www.tjgo.jus.br/bw/?p=75264).

O jornal “O Popular” veiculou, na sua edição de 5.12.12, no-tícia que a Diretora do Núcleo de Seleção da UEG, Eliana Machado Pereira

Nogueira, seria “mulher de Carlos Antônio Nogueira, o Botina, que aparece na Operação Monte Carlo como membro da quadrilha de Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira”, conforme documentação inclusa.

A referida notícia repercutiu, também, no Jornal “O Anápolis”, conforme destacou o próprio sítio eletrônico do Sindicato dos Policiais

(14)

Civis do Estado de Goiás, informando que o referido fato “não deixa de macular

o concurso das instituições de segurança pública de Goiás”, conforme

docu-mentação anexa.

Note-se que foi enviado e-mail ao Ministério Público do Esta-do de Goiás, em 06 de fevereiro deste ano, assinaEsta-do pelos “ConcursanEsta-dos da Po-lícia Civil do Estado de Goiás”, manifestando indignação quanto ao fato de “a dire-tora do Núcleo de Seleção da Universidade Estadual do Estado de Goiás, a qual realizará o concurso é, nada menos, do que a esposa do sócio do Carlinhos Ca-choeira, figura conhecida pela corrupção de agentes públicos”, conforme docu-mentação inclusa.

Importante lembrar que o concurso público anterior para o cargo de Delegado de Polícia Civil do Estado de Goiás, realizado à época, tam-bém, pela UEG, no ano de 2008, foi marcado, igualmente, por uma série de acon-tecimentos que comprometeram o trâmite regular do certame, demonstrando a falta de, no mínimo, organização para condução do concurso.

Na ocasião, mais de 200 (duzentos) candidatos foram barrados por portarem como documento a carteira de advogado, expedida pela OAB/GO. A UEG alegou que a carteira não continha impressão digital, contudo, a OAB/GO sustentou à época que “a nova carteira tem um chip,

onde está a impressão digital. Faltou à UEG consultar a ordem para saber disso. O problema é que a UEG aparentemente não tinha equipamento para ler o chip”.

De acordo com reportagem do jornal “O Popular”1, o

(15)

de “falha grotesca”, “afronta” e “vergonha”. Ele revelou que os candidatos

re-lataram que uma delegada de polícia, que é proprietária de um cursinho, teria conseguido colocar seus candidatos para fazer prova, usando de influência com colegas nos locais de prova.

Esses fatos corroboram a falta de credibilidade e eficiência da UEG, a ponto de haver a necessidade de afastá-la dos concursos públicos para provimento de cargos no Instituto Mauro Borges e na SECTEC, bem como os certames de Agente, Escrivão e Delegado de Polícia Civil, Soldado e Cadete/Oficial da Polícia Militar, uma vez que a universidade não contaria com in-questionável reputação ético-profissional e reiteradamente tem falhado na organi-zação desses concursos.

Assim, tendo em vista os sérios indícios de violação a princípios e a normas constitucionais e legais na condução do concurso público para provimento de cargos da Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás, Instituto Mauro Borges e SECTEC, ao Ministério Público alternativa não restou senão exercitar o seu poder de ação na defesa do patrimônio público, da coletividade e do cumprimento das leis.

II – DO DIREITO

A) DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA E DA PROTEÇÃO À CONFIANÇA

O princípio da moralidade administrativa acomoda em seu conteúdo o dever de a Administração Pública corresponder à confiança nela depositada pelo cidadão. Nada mais é, senão a boa-fé que a Administração Pública deve inspirar, em todos os seus atos; é a postura que corresponda à expectativa do cidadão.

(16)

Mello aponta a lealdade e a boa-fé como conteúdos da moralidade administrativa:

[...] compreendem em seu âmbito, como é evidente, os chamados princípios da lealdade e boa-fé [...] Segundo os cânones da lealdade e da boa-fé, a Administração haverá de proceder em

relação aos administrados com sinceridade e lhaneza, sendo-lhe interdito qualquer comportamento astucioso, eivado de malícia, produzido de maneira a confundir, dificultar ou minimizar o exercício dos direitos por parte dos cidadãos.

(MELLO, Celso Antônio Bandeira. Curso de direito administrativo, 26 ed. rev. ampl. atual. São Paulo: Malheiros, 2009)

Ao apontar que a boa-fé é imanente ao princípio da moralidade administrativa, Lúcia Valle Figueiredo ensina que:

Na verdade, a boa-fé é conatural, implícita ao princípio da moralidade administrativa. Não poderá a Administração agir de

má-fé e, ao mesmo tempo, estar a respeitar o princípio da moralidade. Deveras, não poderá a Administração desrespeitar a boa-fé do administrado, não lhe dar importância, ignorá-la. Mesmo no Direito Administrativo

colacionam-se exemplos ilustrativos do princípio, quer seja na impossibilidade de a Administração invalidar atos administrativos que geraram direitos, sobretudo quando seus beneficiários estiverem de boa-fé, quer seja na anulação de contratos administrativos, indenizando-se aqueles que de boa-fé trabalharam para a Administração, portanto, em pleno respeito também à vedação do enriquecimento sem causa, outro princípio geral latente a todo ordenamento jurídico. (FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de direito administrativo. 9.ed. rev. ampl. Atual. São Paulo: Malheiros, 2008)

Nesse sentido, o princípio da moralidade impõe à Administração Pública o dever de estar vigilante, a fim de manter a confiança nela depositada pelo cidadão.

(17)

Administração Pública decorre de um necessário e incondicional respeito à segurança jurídica como princípio do Estado de Direito. Tem-se, aqui, o princípio da segurança jurídica como princípio de proteção à confiança.

Ora, quando a Administração torna público um edital de concurso, convocando todos os cidadãos a participarem de seleção para o preenchimento de determinadas vagas no serviço público, ela impreterivelmente gera uma expectativa quanto ao seu comportamento segundo as regras previstas nesse edital.

Aqueles cidadãos que decidem se inscrever e participar do certame público depositam sua confiança no Estado administrador, que deve atuar de forma responsável quanto às normas do edital e observar o princípio da segurança jurídica como guia de comportamento. Isso quer dizer, em outros termos, que o comportamento da Administração Pública no decorrer do concurso público deve se pautar pela boa-fé, tanto no sentido objetivo quanto no aspecto subjetivo de respeito à confiança nela depositada por todos os cidadãos.2

A anulação das etapas já realizadas dos concursos públicos para soldado e oficial da Polícia Militar; escrivão, agente e delegado de Polícia Civil; pesquisador do Instituto Mauro Borges e cargos técnicos e administrativos da Secretaria de Ciência e Tecnologia (Sectec), pela própria Administração

Pública, isto é, sem qualquer provocação do Ministério Público ou determinação

do Poder Judiciário, foi assim explicada pelo Estado de Goiás:

“Nossa preocupação, a preocupação do Governador Marconi Perillo, é com a lisura dos concursos e com a segurança jurídica

2 Extraído de precedente paradigmático do Supremo Tribunal Federal: RE 598099/MS,

Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 10/08/2011, REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-189 DIVULG 30-09-2011 PUBLIC 03-10-2011 EMENT VOL-02599-03 PP-00314.

(18)

para todos. Não há fraudes, o que apuramos até agora são

indícios de irregularidades suficientes para macular a confiança e transparência dos concursos, daí a decisão de

realizar novas provas”, afirmou o secretário Giuseppe Vecci.3

Ora, se a confiança e a transparência dos concursos públicos realizados pela UEG estão comprometidas, não há razão para manter a universidade na condução dos certames, não bastando somente a anulação das provas.

Anular os concursos organizados pela UEG e mantê-la à frente dos certames é algo absolutamente incongruente, razão porque há, in casu, violação art. 50, III, § 1º, da Lei Estadual 13.800/2001:

Art. 50 – Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando:

(...)

III – decidam processos administrativos de concurso ou

seleção pública;

(...)

§ 1º – A motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo basear-se em pareceres anteriores, informações ou decisões, que, neste caso, serão parte integrante do ato, o que não elide a explicitação dos motivos que firmaram o convencimento pessoal da autoridade julgadora.

Nesse passo, clarividente a incidência do art. 2º, “d”,

parágrafo único, “d”, da Lei 4.717/65 para nulificar o ato de ratificação da

permanência da Universidade Estadual de Goiás como entidade responsável pela realização dos concursos. Eis o texto legal:

Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo anterior, nos casos de:

(...)

(19)

(...)

Parágrafo único. Para a conceituação dos casos de nulidade observar-se-ão as seguintes normas:

(...)

d) a inexistência dos motivos se verifica quando a matéria de fato ou de direito, em que se fundamenta o ato, é materialmente inexistente ou juridicamente inadequada ao resultado obtido;

Esse o quadro, é medida de rigor a exclusão da UEG da organização dos concursos públicos para soldado e oficial da Polícia Militar, escrivão, agente e delegado de Polícia Civil, pesquisador do Instituto Mauro Borges e cargos técnicos e administrativos da SECTEC, bem como a anulação do ato de ratificação da permanência da Universidade Estadual de Goiás como entidade responsável pela realização dos concursos em referência, forte na ausência de motivação válida e por violação aos princípios da moralidade e da proteção à confiança.

B) DA VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE

Prescreve o art. 92, caput, da Constituição do Estado de

Goiás:

“Art. 92. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes do Estado e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência,

razoabilidade, proporcionalidade e motivação e, também, ao

seguinte:”

A respeito do princípio da razoabilidade, discorre MELLO:

“Enuncia-se com este princípio que a Administração, ao atuar no exercício de discrição, terá de obedecer a critérios aceitáveis

do ponto de vista racional, em sintonia com o senso normal de pessoas equilibradas e respeitosas das finalidades que

(20)

pretende-se colocar em claro que não serão apenas

inconvenientes, mas também ilegítimas – e, portanto, jurisdicionalmente invalidáveis -, as condutas desarrazoadas, bizarras, incoerentes ou praticadas com desconsideração às

situações e circunstâncias que seriam atendidas por quem tivesse

atributos normais de prudência, sensatez e disposição de

acatamento às finalidades da lei atributiva da discrição manejada.” (MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito

Administrativo. 28ª ed., São Paulo: Malheiros, 2010, p. 108)

Portanto, ao anular as provas realizadas pela UEG e sem aguardar a completa apuração dos fatos, e ao mesmo tempo reconhecendo, segundo afirmou o Secretário Estadual de Gestão e Planejamento, que há

“indícios de irregularidades suficientes para macular a confiança e transparência dos concursos” (citação supra), ao determinar a realização de

novas provas pela mesma entidade, o Estado de Goiás age em

desconformidade com a razoabilidade e congruência exigíveis no caso.

C) DA MEDIDA LIMINAR

Os arts. 12 e 21 da Lei 7.347/85 c/c art. 84 da Lei 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor) permitem a concessão de liminar no caso vertente.

Para tanto, é preciso ter presente os requisitos do art. 84, § 3º, do CDC: “§ 3° Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo

justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citado o réu.”

Acredita-se ser relevante o fundamento da demanda (fumus boni iuris), calcada na violação aos princípios da moralidade

(21)

Constituição do Estado de Goiás) e do art. 50, III, § 1º, da Lei Estadual

13.800/2001 no recrutamento de pessoal pela Administração Pública, uma vez

que mesmo diante dos fatos lamentáveis protagonizados pela UEG, o Estado de Goiás insiste em mantê-la à frente da organização dos certames.

Com efeito, também se encontra presente o justificado

receio de ineficácia do provimento final, porquanto, acaso se aguarde o trânsito em julgado da sentença, a situação de perplexidade dos concursandos se arrastará durante anos. Ademais, mantendo-se a UEG na condução dos concursos, é muito provável que os certames sejam invalidados no futuro, o que provocará uma série de transtornos.

Encontra-se latente o periculum in mora no presente caso, tendo em vista que as novas provas dos concursos estão previstas para acontecer nos próximos dias: 17/03 (Agente de PC), 24/03 (Escrivão de PC),

07/04 (Soldado da PM), 14/04 (Instituto Mauro Borges e Oficiais e Cadetes da

PM), 21/04 (Delegado de PC) e 28/04 (SECTEC), todas a serem novamente elaboradas e aplicadas pela UEG.

Observe-se que razões de ordem prática também autorizam a concessão de liminar no caso em tela.

Conforme noticiado pelo jornal “O Popular” de 03/03/2013, os concursos públicos no Estado de Goiás, ultimamente, tem um desafio a mais: ter validade.

Como dito em linhas volvidas, o despreparo demonstrado pelo Núcleo de Seleção da UEG na organização dos concursos em andamento, não se olvidando dos fatos ocorridos no concurso para Delegado de Polícia Civil,

(22)

no ano de 2008, aponta para o seu necessário afastamento dos certames, a fim de assegurar a convalidação dos concursos.

Os candidatos estão inseguros. Concurseiros pensam em abandonar os certames realizados no Estado de Goiás.

Não é para menos. Os atuais concursos que estão sendo realizados pela UEG podem ter o mesmo desfecho de outros certames, como o da Defensoria Pública do Estado de Goiás, conforme relato abaixo.

Em 2010, o Estado de Goiás contratou o famigerado Instituto Cidades para organizar o 1º concurso público para provimento de cargos de Defensor Público do Estado de Goiás. O certame foi atingido por todos os lados. O Ministério Público recomendou sua suspensão. A 2ª Vara da Fazenda Pública Estadual suspendeu o concurso. Até o Tribunal de Contas do Estado de Goiás, por meio de medida cautelar, suspendeu o certame. Passados quase 3 (três) anos da publicação do edital, o concurso para Defensor Público não ultrapassou sequer a 3ª fase (prova oral).

A mesma sorte teve o 1º concurso público para provimento de cargos de Procurador do Município de Goiânia. Em agosto de 2012 o Ministério Público requereu e a 3ª Vara da Fazenda Pública Municipal da Comarca de Goiânia concedeu liminar para suspender o certame. Desde então o concurso público se encontra paralisado.

Desta feita o Parquet quer algo mais, algo também eficaz. O Ministério Público busca a realização dos concursos públicos por instituição idônea e para tanto requer comando judicial para tornar a medida eficiente.

(23)

Com efeito, não basta suspender os concursos públicos e aguardar a apuração das fraudes detectadas na realização das provas objetivas. Isso prolongará demasiadamente o sofrimento dos candidatos e impedirá o preenchimento célere dos cargos públicos, notadamente os afetos à Segurança Pública, que necessitam de provimento urgente em face dos índices alarmantes e crescentes da criminalidade no Estado de Goiás, aliado ao abalo causado nessas instituições (Polícia Civil e Polícia Militar) pelas revelações trazidas pela

Operação Monte Carlo.

Nesse aspecto, o Ministério Público receia que exista a tentativa de infiltração de agentes ligados ao crime organizado, através de concursos públicos com suspeita de fraude, o que poderá abalar o funcionamento das duas grandes pilastras da segurança da sociedade, que são a Polícia Militar e a Polícia Civil.

Esse o quadro, a liminar deve ser concedida para que:

a) seja a UEG afastada da organização dos concursos

públicos para soldado e oficial/cadete da Polícia Militar, escrivão, agente e delegado de Polícia Civil, pesquisador do Instituto Mauro Borges e cargos técnicos e administrativos da SECTEC, nos termos do art. 84, §§ 3º e 5º, do CDC (“impedimento de atividade nociva”), já para as provas designadas para 17/03 (Agente de PC), 24/03 (Escrivão de PC), 07/04 (Soldado da PM), 14/04 (Instituto Mauro Borges e Oficiais e Cadetes da PM), 21/04 (Delegado de PC) e 28/04 (SECTEC), todas a serem novamente elaboradas e aplicadas pela UEG;

b) seja o Estado de Goiás proibido de efetuar em favor da UEG a 2ª e demais parcelas remanescentes dos Termos de Cooperação n.º

(24)

c) com apoio no art. 84, § 4º, do CDC, seja imposta à UEG e

ao Estado de Goiás multa de R$ 100.000,00 (cem mil reais) por dia de descumprimento.

Desta forma, a medida liminar afigura-se imprescindível para evitar a desmoralização do Estado de Goiás na realização de concursos públicos, caso venham a ser estes invalidados, no futuro, além de prevenir o dispêndio de dinheiro público com prejuízo ao erário, o que poderá configurar, inclusive, ato de improbidade administrativa (arts. 10 e 11 da Lei Federal 8.429/92), sem contar o prejuízo aos candidatos e à toda coletividade (dano material e moral coletivo).

III – DOS PEDIDOS

Ante todo o exposto, o Ministério Público requer:

a) seja a liminar deferida, observada a formalidade disposta no art. 2º da Lei Federal 8.437/92;

b) sejam os réus citados para, querendo, oferecerem contestação, no prazo legal;

c) a intimação pessoal do Ministério Público com entrega dos autos com vista, nos termos do artigo 236, § 2º, do CPC c/c artigo 41, IV, da Lei 8.625/93;

d) a juntada dos documentos inclusos, bem como a produção de todas as provas admitidas em direito;

(25)

e) a procedência do pedido para:

e.1) declarar a nulidade do ato que ratificou a permanência da UEG na organização e realização dos concursos públicos para provimento de cargos de Agente, Escrivão e Delegado Substituto de Polícia Civil, Oficial Combatente/Cadete PM, Oficial de Saúde/2º TEN, Soldado 3ª Classe e Soldado Músico da Polícia Militar do Estado de Goiás, pesquisador do Instituto Mauro Borges e cargos técnicos e administrativos da Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia;

e.2) afastar definitivamente a UEG da organização e realização dos concursos públicos mencionados no item anterior, confirmando-se a liminar;

f) a condenação dos réus ao pagamento das custas e demais ônus sucumbenciais.

Valor da causa: R$ 1.000,00 (mil reais). Pede deferimento.

Goiânia, 08 de março de 2013.

Fernando Aurvalle Krebs Sandra Mara Garbelini

Promotor de Justiça Promotora de Justiça

Referências

Documentos relacionados

O objetivo do curso foi oportunizar aos participantes, um contato direto com as plantas nativas do Cerrado para identificação de espécies com potencial

No código abaixo, foi atribuída a string “power” à variável do tipo string my_probe, que será usada como sonda para busca na string atribuída à variável my_string.. O

Realizar a manipulação, o armazenamento e o processamento dessa massa enorme de dados utilizando os bancos de dados relacionais se mostrou ineficiente, pois o

Nesse contexto, o presente trabalho tem como objetivo realizar testes de tração mecânica e de trilhamento elétrico nos dois polímeros mais utilizados na impressão

libras ou pedagogia com especialização e proficiência em libras 40h 3 Imediato 0821FLET03 FLET Curso de Letras - Língua e Literatura Portuguesa. Estudos literários

Este trabalho tem como objetivo contribuir para o estudo de espécies de Myrtaceae, com dados de anatomia e desenvolvimento floral, para fins taxonômicos, filogenéticos e

A matriar- ca Maria do Carmo Ribeiro Lemes, 87 anos, conhecida como Dona Cotinha, niio s6 participa do almoqo natalino como oferece alimentaqiio para os moradores de

Crisóstomo (2001) apresenta elementos que devem ser considerados em relação a esta decisão. Ao adquirir soluções externas, usualmente, a equipe da empresa ainda tem um árduo