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A PRODUÇÃO DE MEL EM PLANTIOS DE Acacia mangium Willd.

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Capítulo 8

A PRODUÇÃO DE MEL EM PLANTIOS DE

Acacia mangium Willd.

SÍLVIO JOSÉ REIS DA SILVA

Introdução

A criação de abelhas melíferas (Figura 1) é uma atividade milenar. Os egíp-cios já utilizavam produtos das colmeias, como o mel e a própolis, no processo de mumificação. A criação de abelhas melíferas, entre os povos da Europa, também é uma atividade tradicional (Crane, 1985).

De todas as espécies de abelhas melíferas, a Apis mellifera L. é a mais conhecida e a mais utilizada para a produção de mel. Elas são chamadas vulgarmente de abelhas “italianas”, “europa”, “oropa”, “africanas” ou

Figura 1. Apiário situado no plantio de Acacia mangium de Pedra Preta, Cantá, Roraima.

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“africanizadas”, conforme sua origem,. É uma espécie generalista, pois se utiliza de uma grande variedade de fontes de alimentos, a grande maioria encontradas nas flores.

Nenhuma das raças de abelha A. mellifera é endêmica das Américas. Elas foram trazidas pelos primeiros colonizadores que chegaram ao Brasil. A data e o local da introdução de abelhas A. mellifera, vindas da Europa, são muito duvi-dosos, existindo duas versões. Uma alega que a introdução dessas abelhas ocor-reu nas missões jesuítas, no Sul do Brasil, por volta de 1839. Uma outra versão é que foi o Rev. Antônio Carneiro quem primeiro as trouxe da Europa. Posteri-ormente, com o incentivo à migração, ocorreram outras introduções e, suspeita-se, que os colonos alemães tenham trazido abelhas pretas, A. m. mellifera, e amarelas, A. m. ligustica para o Rio Grande do Sul (Nogueira Neto, 1972).

Em 1956, a apicultura brasileira enfrentou uma revolução com a introdução de algumas rainhas de A. mellifera adansonii trazidas da África, hoje chamadas de A. mellifera scutellata Ruttner (Moritz; Southwick, 1992), que deveriam ser cruzadas com as raças locais para produzirem híbridos de alta produtividade. Infelizmente, vários enxames fugiram e passaram a dispersar-se pelo Brasil na forma pura. De lá para cá, todos os anos, são registrados vários acidentes com essas abelhas (Stort; Gonçalves, 1978). Diferente das abelhas européias, introduzidas anteriormente, as africanas são muito mais agressivas, mais enxameadoras e abandonam as colméias nas épocas de falta de flores ou, até mesmo, com a menor perturbação. Como conseqüência, os apicultores brasileiros tiveram que de adaptar-se; utilizando macacões mais seguros; luvas de proteção; aumentando o tamanho dos fumegadores para uma produção mais intensa de fumaça; afastando os apiários de locais habitados, entre outras adaptações.

A apicultura em Roraima

A criação de abelhas melíferas em Roraima é uma atividade muito recente. Entre os pioneiros da apicultura em Roraima, podemos destacar o Sr. Waldemar Sartor e o Sr. Ilário Petry. Na década de 80, o Sr. Petry e demais companheiros fundaram, em São Luiz do Anauá, a primeira associação de apicultores de Roraima, a APISAL (Associação de Apicultores de São Luiz do Anauá). Petry foi seu presidente por vários anos, divulgando a apicultura entre os agricultores daquela região. Em 1991 foi criada a segunda associação apícola

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do estado de Roraima, a ASA (Associação Setentrional de Apicultores de Roraima), com sede em Boa Vista (Silva, 2006).

A s abelhas A. mellifera não eram conhecidas da população local. Para

iniciar a atividade apícola no sul do estado, na cidade de São João da Baliza, região de floresta, foi necessário levar abelhas da capital, Boa Vista pois lá elas

não eram com uns (W aldem ar Sartor2). Segundo o relato de indígenas da aldeia

do Contão, Município de Pacaraima, as abelhas africanas chegaram à região norte do Estado, na década de 70. Em 1976 já haviam relatos de ocorrência dessas abelhas na fronteira Brasil-Venezuela, cidade de Santa Elena del Uairen, situada a 15 km da sede do município roraimense de Pacaraima (Taylor e Levin, 1978).

De forma semelhante ao que ocorreu em outras regiões do Brasil, as abelhas africanizadas espalharam-se por todos os recantos de Roraima. Na capital, Boa Vista, é grande a incidência de famílias de abelhas alojadas na zona urbana. Muitas são as ocorrências de enxames de abelhas registradas anualmente pelo Corpo de Bombeiros de Boa Vista. Os apicultores locais aproveitam os enxames alojados em locais indesejáveis, transferindo-os para colméias racionais e transportando-as para locais seguros. A grande ocorrência de colônias dessas abelhas e a alta produção de mel, por parte delas, fizeram com que agricultores, órgãos do governo e até empresas privadas, concentrassem parte de suas atividades à criação comercial desses insetos.

Dos produtos fornecidos pelas abelhas, o mel é o mais abundante e o mais explorado, seguido pela cera e o pólen. O mel encontra mercado garantido, tanto em âmbito local, quanto regional, nacional quanto internacional. Mas é no mercado local e regional que se conseguem os melhores preços. Em Boa Vista, os preços correntes ao consumidor, para o litro de mel, são mais altos do que os praticados em outras regiões do País. Os demais produtos (geléia real, própolis e apitoxina) são explorados por apicultores mais experientes, apresentam um mercado mais restrito, sendo a produção estadual quase desprezível (Silva, 2006). Hoje, vislumbra-se uma nova perspectiva para a apicultura em Roraima, com os plantios de Acacia mangium Willd. para produção de madeira e celulose.

A. mangium possui um nectário extrafloral na base das folhas, mais precisamente

em filódios transformados (Figura 2- A). Esses nectários são uma fonte enorme de néctar que é aproveitado por uma expressiva gama de insetos.

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Os plantios de Acacia mangium e as abelhas africanas (Apis mellifera

scutellata)

Nos plantios de A. mangium, as abelhas africanas encontram uma grande oferta de alimento. Rapidamente as abelhas operárias aprendem a recolher o néctar, oferecido em abundância nos nectários extra-florais.

A produção de mel em plantios de A. mangium, quando as colônias encontram condições favoráveis, é bem maior do que a de colônias situadas em locais de vegetação natural. Algumas colônias chegam a armazenar mais de 100 kg.

Nas proximidades do Igarapé Jacitara, na BR 174 no Município de Boa Vista, há relatos, de moradores próximos aos plantios, de coleta de 50 litros de mel retirados de uma única colônia, localizada próximo a um plantio de acácias. Na mesma região, foi encontrada uma colônia, alojada em um tronco oco de buriti, com favos de mel com mais de 80 cm de comprimento (Figura 2-B). Em muitos plantios, por falta de ambientes apropriados para nidificação, as colônias se estabelecem aderidas aos próprios gallhos de A. mangium (Figura 3).

Segundo Silva (2005), em pouco tempo as colônias ficam repletas de mel e, não havendo mais espaço para desenvolvimento, ocorre a enxameação, que é a reprodução coletiva das abelhas. Essa nova colônia também se desenvolverá rapidamente e enxameará novamente, e assim sucessivamente. Nesse processo, é provável que uma única colônia venha a dar origem a mais de uma dezena de enxames, anualmente.

A proliferação de colônias de A. mellifera, nos plantios de A. mangium

Figura 2. Nectário extra-floral de A. mangium com grande quantidade de material exsudado

(A). Curtiço com favos de mel com mais de 80 cm de comprimento (B). Fazenda Jacitara, Boa Vista, Roraima.

Fotos: Silvio J.R Silva.

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e arredores, está sendo tão intensa que tem contribuído para o aumento acentuado da densidade de ninhos, conforme constatado pelos funcionários da empresa responsável pelas plantações nas proximidades do Igarapé Jacitara. Nas proximidades de casa de um dos vigias existiam 22 colônias, antes que um incêndio acidental as queimasse. É provável, considerando toda a área queimada, que tenham se perdidos mais de 2 mil kg de mel.

A multiplicação das colônias de abelhas também já vem sendo percebida pela população adjacente aos plantios de A. mangium. Em visita à aldeia de Malacacheta, Município do Cantá, moradores informam que antigamente as abelhas só davam mel em alguns meses do ano e, sendo que agora, produzem mel durante o ano inteiro. Alguns indígenas afirmaram que é mais lucrativo vender o mel coletado das famílias nativas de abelhas do que trabalhar com agricultura. Na aldeia indígena de Serra da Moça, Município de Boa Vista, que faz limite com uma das fazendas do empreendimento florestal, alguns indígenas também fazem a coleta de mel das famílias silvestres de abelhas. Conforme relatos, antigamente era difícil encontrar uma colônia de abelhas e, quando as achavam, não havia tanto mel quanto hoje. Nesses relatos, alguns indígenas disseram que agora é possível encontrar mel em qualquer época do ano e associam esse fato à presença dos plantios de A. mangium. Muitos apicultores também já descobriram o potencial de produção de mel de A. mangium e estão colocando colméias nos plantios e nas propriedades vizinhas obtendo, assim, uma produção bem maior de mel (Silva, 2005).

Figura 3. Colônia de abelhas africanizadas

alojada em galhos de A. mangium. Fazenda Pianta, Boa Vista. Foto: Silvio J.R Silva.

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Segundo Silva (2005), um impacto negativo que a presença de tão alta concentração de abelhas africanizadas oferece é o risco de acidentes. As abelhas africanas possuem elevado comportamento defensivo, atacando qualquer coisa que perturbe a colônia. Casos fatais ainda não foram notificados, mas o perigo existe e exige medidas mitigadoras. As pessoas que mais correm riscos são os próprios trabalhadores da empresa florestadora e os catadores de palhas e de frutos de buritis (Mauritia flexuosa), uma vez que as abelhas utilizam estas palmeiras para nidificarem. Comunidades próximas aos plantios também devem manter cuidado com a maior freqüência das colônias de abelhas africanas. A produção de mel em plantios de A. mangium.

A exploração da atividade apícola nas áreas de savana sofre grande influência das variações climáticas, o que gera grande vairação da produção anual. Uma alternativa para se aumentar e estabilizar a produção de mel em Roraima é o enriquecimento do pasto apícola com espécies vegetais fornecedoras de néctar como a A. mangium..

Hoje, com os plantios de A. mangium, é possível tornar a produção de mel mais homogênea durante o ano. Essa possibilidade incentivou os responsáveis pelos plantios para a criação de uma empresa, a Acácia Mel da Amazônia (AMELZÔNIA) em 2002, especificamente para a produção de mel de A. mangium. Em 2004, foram produzidas mais de 200 toneladas deste tipo de mel. A produção foi toda direcionada para outros estados e para o mercado exterior.

A produtividade de mel por colméia é bastante alta, podendo chegar a mais de 100 kg .colmeia.ano-1. A produção ocorre durante quase todos os meses

do ano, com exceção dos meses mais chuvosos, como junho e julho, quando a produção é praticamente nula (Figuras 4-A e 4-B). Já os meses de produção mais intensa são justamente aqueles de menor precipitação (novembro e dezembro). De fevereiro a abril, há uma nítida tendência de queda na produção. Ao comparar os totais de precipitação mensal com a produção de mel, percebe-se uma relação inversa evidente, entre a precipitação e a produção de mel.

O processo vegetativo está diretamente relacionado as variáveis ambientais: luminosidade, temperatura, umidade do ar e do solo, fertilidade do solo, entre outras. A fertilidade e a umidade do solo, considerando um ambiente natural, são as variáveis ambientais que mais influenciam nos fenômenos

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fisiológicos dos vegetais. Mas a umidade do solo é o fator limitante para a produção dos nectários extra-florais de A. mangium, pois observa-se que, mesmo em solos pobres, mas com boa manutenção de umidade durante o ano, há uma exuberante produção de néctar. Sendo assim, a umidade que permanece no solo, decorrente do período chuvoso que vai de abril a agosto, parece ser a variável diretamente responsável pela produção do mel, nos meses mais secos do ano (outubro a dezembro).

Por outro lado, o processo fotossintético é totalmente dependente da luminosidade. Estando o solo úmido e o lençol freático próximo à superfície, logo após o período chuvoso, condições que ocorrem de setembro em diante, o processo fotossintético estará limitado apenas às condições intrínsecas às próprias plantas, como a área foliar disponível e o sistema radicular.

A produção do néctar e conseqüentemente a do mel, estão supostamente relacionadas com essas variáveis citadas. Essa conclusão não leva em conta as condições bióticas de cada colônia de abelhas, como a quantidade de operárias, sanidade, rainhas de boa qualidade e condições nutricionais são algumas das mais relevantes.

Outro importante fator limitante para a produção de mel nos plantios de

A mangium é a necessidade de pólen, que é o alimento proteico utilizado pelas

abelhas. O pólen é encontrado nas anteras das flores, em quantidade e qualidade extremamente variáveis (Roubik, 1989).

A floração das acácias ocorre na época mais chuvosa que vai de maio a setembro. Nos meses de maior produção de mel (novembro a março), os

Figura 4. Temperatura média, precipitação e umidade relativa do ar para Roraima. (Média

de dez anos) (A). Produção mensal de mel de Acacia mangium durante o ano, dados reordenados (B).

Fontes: EMBRAPA (1983) (A), Silvio J. R. Silva.(B)

0 50 100 150 200 250 300 350 ja n fev m a r a b r m a i ju n jul a g o se t o u t n o v d e z MÊS P R E C IP IT A Ç Ã O ( m m ) 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 T E M P E R A T U R A E U M ID A D E R E L A T IV A PRECIPITAÇÃO (mm) TEMPERATURA oC UMIDADE (%) 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 ja n fe v m a r a b r m a i ju n jul a g o se t o u t n o v d e z Mês P ro d u ç ã o d e m e l (k g ) A B

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indivíduos de A. mangium já não estão mais em floração. As abelhas operárias buscam, então, pólen em outros vegetais, que muitas vezes encontram-se distante dos plantios. Em certas épocas do ano a carência é tanta que muitas colônias de abelhas definham. A população dessas colônias diminui grandemente a ponto de prejudicar a produção ou até mesmo cessar completamente. Nos casos mais extremos, as abelhas abandonam as colméias em busca de locais mais favoráveis. A produção de mel nos plantios de Acacia mangium poderia ser bem maior, se não houvessem épocas com grande carência de alimento proteico. A deficiência em alguns anos é extrema, havendo a necessidade de retirar as colméias para locais mais favoráveis ou então fornecer um substituto para o pólen. Na Figura 5, vemos abelhas operárias coletando ração à base de farinha de soja, colocada sobre uma telha de fibro-cimento.

A utilização de substitutos para o pólen em apiários instalados em plantios

de A. mangium.

Figura 5. Primeiros testes com

complemento alimentar a base de soja, milho e arroz. Fazenda Pianta. Boa Vista. Roraima. Foto: Silvio J.R .Silva

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A carência proteica para as abelhas Apis vem sendo suprida por diversos alimentos, suplementos ou complementos alimentares. Existem marcas comerciais, disponíveis no mercado nacional, com formulações secas e úmidas. Em Roraima, ainda não se tem um fornecedor efetivo de complemento proteico para abelhas, embora alguns ensaios tenham sido realizados por apicultores independentes e pela Empresa Amelzonia, nos anos de 2002 e 2003.

Várias são as fórmulas propostas para suplemento protéico para abelhas: farinha de soja, farinha de milho, farinha de arroz, leite, levedo de cerveja e trigo são os mais comuns. A grande maioria dos complementos apresenta a farinha de soja como ingrediente principal, tendo em vista a alta concentração de proteína, que pode chegar a quase 50% na soja desidratada.

O teor ideal de proteína para as abelhas Apis fica em torno de 25%. Uma mistura em partes iguais de farinha de soja, milho e arroz finamente moída, possui um teor de proteínas próximo deste valor. Essa mistura foi utilizada pela empresa Amelzônia para manutenção das colônias de abelhas situadas na fazenda Santa Cecília, Município do Cantá. A forma de oferecimento da ração seca foi através de cochos coletivos, onde as operárias de todas as colméias tinham acesso.

O uso de alimentadores coletivos apresenta dois grandes inconvenientes. O primeiro é causado pelas próprias operárias que, muitas vezes, perdem as pequenas pelotas que elas acumulam nas corbículas das patas traseiras. Essas pelotas ficam em cima da ração formando uma camada superior que impede as demais operárias de coletarem a ração finamente dividida que está em baixo. Para minimizar esse problema, sugeriu-se o uso de um coletor em forma de cascata, com várias sessões e uma gaveta ao fundo. Assim os restos de ração (as pelotas que caem das corbículas) serão rconduzidos até esta gaveta e poderão ser reaproveitados ou até recolocados na sessão superior, onde as abelhas operárias farão a coleta novamente. Veja a foto e o esquema desse alimentador na Figura 6.

O outro inconveniente no uso de cochos coletivos é o fato de que as abelhas operárias de cortiços instalados na natureza, também terão acesso à ração, o que pode aumentar consideravelmente os gastos . Uma forma de resolver esse problema é capturar o maior número possível de colônias de abelhas alojadas na natureza e que estejam próximas do apiário. Outra possibilidade é o uso de alimentadores internos adaptados, tipo Doolittle.

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Embora os complementos proteicos permitam a manutenção das colméias em tempos de penúria de flores, ainda não se encontrou um substituto ideal para o pólen.

A postura das rainhas está intimamente relacionada à oferta de proteína de qualidade. Nas épocas de falta de pólen, as rainhas diminuem a postura e, em casos extremos, as próprias operárias comem os ovos postos pelas rainhas. A colônia fica extremamente debilitada e vulnerável a várias doenças. Dentre elas, a podridão das crias e a cria ensacada são as mais comuns e são registradas pela primeira vez no estado de Roraima. Veja nas figuras 7-A e 7-B.

A qualidade do mel de A. mangium.

As duas perguntas mais freqüentes, em relação ao mel de A. mangium são: “o mel de acácia é mel mesmo?” e “o mel de acácia é inferior ao mel silvestre?”.

Quanto à primeira pergunta, pode-se garantir que o mel de acácia é um tipo especial de mel, que não tem origem floral. Deveria ser chamado de melato ou mel de melato, segundo a legislação brasileira (BRASIL, 2000). Não se deve confundir mel de melato com melaço de cana que é o concentrado da garapa.

Figura 6. Alimentador coletivo de ração para abelhas em ação (A), Desenho esquemático

(B), Boa Vista, Roraima.

Foto e esquema: Silvio J.R Silva.

B A

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Os méis de melato, incluindo o de Acacia mangium, apresentam características próprias que os diferem dos méis florais. A porcentagem de açúcares redutores é menor e o teor de HMF (hidroximetilfurfural) frequentemente é alto, principalmente quando sua umidade também é alta. Já o índice enzimático está dentre de valores aceitáveis.

Em análises de amostras de mel de A. mangium, produzidos em Roraima, constatou-se que a acidez estava acima do valor máximo permitido (50 milequivalentes por kg) e, em todas as amostras, o percentual de sacarose e de açucares redutores estava fora da faixa permitida para méis de melato (sacarose, máxima 15%; açúcares redutores, mínimo de 60%, BRASIL, 2000). Embora resultados como estes sejam esperados para méis de melato, valores muito distantes dos índices oficiais podem prejudicar a venda desse tipo de mel, principalmente quando o destino for para exportação como “mel de mesa”.

O mel de A. mangium não possui cheiro nem sabor forte, apresentando um gosto mais azedo, quando sua umidade é alta. Provavelmente deve ser mais pobre em vitaminas, uma vez que sua origem não é floral, e por ser de uma única fonte vegetal. O mel silvestre apresenta características organolépticas próprias e uma grande variedade de substâncias adicionais, que estão relacionadas com a origem floral. Algumas floradas produzem méis de sabores característicos, como no caso do mel de casca-grossa (Vochysia guianensis, Vochysiaceae) produzido em Roraima, que é extremamente amargo (Silva, 2005).

Uma ótima utilidade para o mel de melato é na fabricação de compostos. O mel de A. mangium tem sabor agradável e é de fácil mistura com outros tipos de méis. Infelizmente, o Ministério da Saúde apresenta normas bastante restritivas

Figura 7. Larvas com cria ensacada em conseqüência de carência protéica (A). Larvas de

abelhas operárias com cria pútrida (B). Fotos: Silvio J.R Silva

B A

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para a produção de méis compostos. O nível de exigências só pode ser atendido por grandes produtores e indústrias processadoras de alimentos e fabricantes de remédios.

O custo de produção de mel de A. mangium.

O custo de produção de mel de A. mangium é praticamente o mesmo do que o da produção de mel silvestre, porém um custo adicional deve ser inserido na planilha de cálculo: o custo da ração protéica.

Ajustando a planilha de investimentos necessários para a implantação de um empreendimento apícola em plantios de A. mangium, verificou-se que o custo de produção é variável, dependendo da quantidade de colméias exploradas. Observando a Figura 8, percebe-se que os melhores cenários são para empreendimentos com mais de 500 colméias produtivas.

O empreendimento apícola, independente de seu tamanho, só começa a ter um custo estabilizado de produção por quilograma, com uma produti-vidade acima de 60 kg/colméia ao ano (Figura 8). Como a produção de mel de

A. mangium atinge facilmente os índices de 100 kg/colméia ao ano, percebe-se

que a produção desse tipo de mel é altamente lucrativa, se considerarmos que o preço de venda do produto diretamente ao consumidor está em torno de R$ 10,00 o Kg. em Roraima (valor em 2008). Por outro lado, pensando-se em uma margem de lucro de 100%, para uma empresa com 1000 colméias que venda mel só no atacado, teremos um valor final de entrega do produto em torno de R$ 2,00 o Kg.

Deve-se ressaltar que os valores aqui expressos são teóricos e os custos fixos não foram computados, nem os custos de embalagens e rotulagens que dependem do tipo de venda: se atacado, varejo ou mista. Mas, também, deve ser considerado que muitos custos, incluídos em nossa planilha, podem ser minimizados através da maximização do uso de equipamentos e da terceirização de etapas de produção e de processamento.

Considerações finais

A produção de mel de A. mangium é uma alternativa viável e lucrativa para o apicultor roraimense. As técnicas e os procedimentos de manejo ainda podem ser melhorados grandemente, o que acarretará níveis de produtividade ainda mais altos.

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Embora o mel de A. mangium não seja floral, apresenta maior qualidade quando comparado com o açúcar comum, e seu teor de enzimas, principal índi-ce de qualificação do mel, é satisfatório.

O volume de mel produzido anualmente está muito longe do possível, já que existem plantios de A. mangium que ainda não são exploradas para a pro-dução de mel.

Referências

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CRANE, E. O livro do mel. 2. ed. São Paulo: Nobel. 1985. 226p.

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Produtividade em kg/col/ano C u s to d e p ro d u ç ã o p o r q u il o e m R $ . 50 100 500 1000 Colmeias

Figura 8. Custo de produção por kg de mel para apiários com 50, 100, 500 e 1000 colméias

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EMBRAPA. Relatório Técnico Anual da Unidade de Execução de Pesquisa de Âmbito Territorial – UEPAT de Boa Vista -1982. Boa Vista: Embrapa UEPAT de Boa Vista, 1983, 211p.

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