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O tema “Economia Verde no Contexto do Desenvolvimento Sustentável e Erradicação da Pobreza”, programado para ser um dos assuntos mais importante da pauta de debates da Conferência Rio+20, e a sua inclusão na 5ª Sessão da Mesa-Redonda da Sociedade Civil Brasil-UE, me leva a trazer para avaliação dos senhores o diversificado espectro de oportunidades de colaboração econômica que se abre entre o Brasil e a União Europeia nessa área.

Esse potencial de colaboração é amplo e inclui iniciativas em comércio, investimentos, governança, assistência técnica, criação e regulação de mercados, bem como a adoção, ou substituição de práticas e políticas públicas que tenham efeitos sobre as relações entre as atividades econômicas e o ambiente.

No nosso ponto de vista, é preciso que fique bem claro, que o conceito de Economia Verde aprofunda o tratamento dado a um dos tripés, o econômico, do conceito de sustentabilidade. Custou-nos muito chegar a um acordo mundial pela sustentabilidade na RIO 92. Economia Verde em si não esgota, não supera e nem tampouco é sinônimo de sustentabilidade.

O Brasil defenderá na Rio+20 o conceito de “economia verde inclusiva”. Segundo a proposta do Brasil, a economia verde deve ser um instrumento da mobilização pelo desenvolvimento sustentável e esse vínculo pode ser feito por meio do entendimento de “economia verde” como um programa para o

desenvolvimento sustentável, ou seja: um conjunto de iniciativas, políticas e projetos concretos que contribuam para a transformação

das economias, a fim de integrar desenvolvimento

econômico,desenvolvimento social e proteção ambiental.

As oportunidades de colaboração entre a UE e o Brasil vão da agricultura à energia, passando por ecoturismo, biotecnologia, resíduos sólidos, saneamento e até finanças verdes. Estes pontos já estão há tempos nas nossas rodadas de negociação, mas a ótica

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da economia de baixo carbono eleva as oportunidades a um novo patamar. Sob essa ótica, estou absolutamente seguro de que a complementariedade de nossas economias, tanto do ponto de vista brasileiro com europeu, são inigualáveis.

As vantagens comparativas naturais do Brasil no que tange a padrões econômicos de baixo carbono são inquestionáveis. Pais tropical, continental, com grande extensão de solos agricultáveis, com índices de insolação entre os maiores do mundo, abundância de recursos hídricos, tecnologia e mão de obra, são características que tornarão o Brasil em futuro muito próximo um dos maiores, se não o maior, celeiro do mundo. Também o maior produtor de bioenergia e um dos maiores produtores de produtos florestais. Chamo atenção dos senhores para a Declaração Conjunta da V Cúpula Brasil-União Europeia, realizada em Bruxelas em 4 de outubro de 2011. A Declaração enfatiza a importância do emprego e da dimensão social da globalização, e destaca as oportunidades para o crescimento que podem ser criadas pelo desenvolvimento progressivo da economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza, a ser discutidas na Conferência Rio+20 das Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável.

Faço aqui uma breve tentativa de relacionar o que foi pactuado no item 3 do documento de Bruxelas, a um conjunto de possibilidades de cooperação, atendendo aos diferentes segmentos da Economia Verde, conforme descrito no documento do Pnuma “Rumo a um Economia Verde Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável e a Erradicação da Pobreza” quais sejam: agricultura, energia, pesca, silvicultura e floresta, ecoturismo, resíduos sólidos e saneamento. As relações econômicas entre o Brasil e a União Europeia no setor agrícola são caracterizadas pelo impacto das políticas de subsídios agrícolas europeias. Vários países do mundo, em sua maioria pobres ou muito pobres, têm o seu potencial agrícola subaproveitado por causa dessas práticas, que até dificultam o diálogo sobre questões de interesse comum entre o Brasil e a União Europeia, como a segurança alimentar.

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A despeito da dificuldade na construção de uma agenda de trabalho positiva, queremos mostrar que é extremamente atraente investir no setor agrícola brasileiro. São consideráveis as oportunidades de colaboração entre entidades fomentadoras do desenvolvimento agrícola dos países, tanto no que diz respeito à agricultura e ao extrativismo de espécies nativas brasileiras como à assistência técnica internacional, especialmente no continente africano, onde há grande potencial para colaboração entre o conhecimento técnico brasileiro em agricultura tropical e os conhecimentos locais adquiridos pelas agências de desenvolvimento dos países europeus.

O potencial do setor florestal brasileiro é gigantesco. Em poucas décadas, o Brasil será uma potência florestal no mesmo patamar dos atuais líderes mundiais, levando-se em conta somente a capacidade de utilização de áreas que hoje são exploradas com baixa intensidade, e sem necessidade de desmatar a floresta amazônica.

A exploração sustentável abre grandes oportunidades de ampliação da indústria brasileira de transformação da madeira, como a de papel e polpa, a de geração de energia, o setor de construção, além da indústria moveleira. O Brasil tem interesse em absorver tecnologias e investimentos europeus nesses setores.

Há também amplas oportunidades de pesquisa, desenvolvimento e comercialização nos setores de madeiras nativas, especialmente se acompanhadas de um sistema internacional de certificação de origem, que reprima a atividade do corte ilegal.

Finalmente, o uso manejado das florestas nativas, com o encadeamento de atividades extrativistas não madeireiras aos mercados internacionais, oferece uma importante possibilidade de desenvolvimento econômico sustentável para as comunidades extrativistas, especialmente na região do bioma amazônico. Os setores público, privado e não governamental no Brasil e na Europa podem trabalhar juntos para fomentar atividades empresariais que tragam os lucros do comércio de produtos nativos para as comunidades que o sustentam.

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O Brasil oferece enormes oportunidades de investimento no setor de geração de energia com base em fontes renováveis, bem como no setor de produção de equipamentos. O potencial de energia eólica brasileiro é grande, as jazidas eólicas, principalmente as do Nordeste brasileiro, são estáveis, tanto em direção como em intensidade, o que permite preços que já tornam os parques eólicos do País altamente competitivos nos leilões de energia realizados pelas autoridades reguladoras. Nós dizemos no Brasil que a natureza subsidia os nossos ventos. Com condições de financiamento favoráveis, o Brasil tem atraído também a indústria de bens de capital do setor, no qual empresas europeias têm papel importante, tanto em inovação tecnológica quanto em participação de mercado.

Com a queda continuada dos custos da energia solar, espera-se que a geração fotovoltaica passe, nos próximos anos, por uma trajetória paralela à da energia eólica. No momento, há uma discussão intensa entre o governo, o legislativo brasileiro e demais interessados, sobre os mecanismos mais eficientes de estímulo ao setor. Considerando que os países europeus foram pioneiros no fomento à geração solar, o Brasil tem interesse em aprender com a experiência europeia. O parque de geração solar em Coremas, na Paraíba, está em construção, com capacidade inicial de 10Mw. O fato é que o Brasil dispõe de uma diversidade considerável na geração de energia. Um quarto da energia brasileira, por exemplo, é gerada a partir de biomassa, dos quais cerca de 20% se originam da cana-de-açúcar que, além de dar origem ao etanol combustível, também é usada como insumo para geração de energia termoelétrica.

A geração de bioenergia a partir da cana-de-açúcar é uma indústria estabelecida e competitiva no Brasil que, além de complementar o consumo de combustíveis fósseis no mercado interno, também abastece outros países, com os preços mais competitivos entre os biocombustíveis.

Do ponto de vista europeu, a criação de um mercado internacional de etanol apresenta vantagens significativas sobre a atual política

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de subsídios agrícolas e protecionismo comercial, no que tange à economia de recursos orçamentários, à diversificação geográfica dos fornecedores de combustível e à redução das emissões líquidas de CO2 associadas ao setor de transporte. Por outro lado, o

setor sucroalcooleiro brasileiro oferece oportunidades de

investimento atraentes.

O Brasil é o país com o maior patrimônio de biodiversidade no mundo. Detém 13% da biodiversidade do planeta e 20% dos recursos hídricos. E o nosso desafio é criar mecanismos institucionais e empresariais que deem suporte à exploração sustentável e justa dessa biodiversidade. O ideal, por exemplo, é que a maior parte dos lucros gerados pela indústria da biodiversidade seja revertida para as populações que descobriram e exploram o seu potencial de maneira harmônica com a natureza que as cerca. Nesse sentido, o sistema de denominações de origem que atende tão bem aos produtores regionais europeus poderia servir, pelo menos, de inspiração para um mecanismo que proteja e valorize os usos e conhecimentos das comunidades indígenas e tradicionais.

O mesmo princípio de respeito à propriedade cultural deve ser aplicado a outras formas de utilização da biodiversidade e do patrimônio genético, como no caso da utilização de plantas medicinais tradicionais na pesquisa de novas drogas no setor farmacêutico, ou no uso de cultivares tradicionais como insumo para a biotecnologia no setor agrícola. Estabelecidos esses mecanismos de proteção, abre-se uma série de parcerias potenciais entre Brasil e Europa na exploração da biodiversidade brasileira, em particular no que diz respeito à transferência de tecnologia e ao estabelecimento de centros de pesquisa em território brasileiro, com a correspondente capacitação do capital humano local.

O uso sustentável dos recursos hídricos brasileiros oferece grandes oportunidades para empreendedores e investidores. Apesar de o País ser dono das maiores reservas de água doce do mundo, o potencial hidroviário brasileiro continua pouco explorado.

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Um segmento importante e antigo da economia verde é o tratamento de resíduos sólidos, e o saneamento. O Brasil está preparando o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, que permitirá o planejamento do setor para os próximos 20 anos, com metas para a redução e reaproveitamento de resíduos. Como resultado, espera-se que o espera-setor de processamento de resíduos pasespera-se por grandes mudanças, com a abertura de oportunidades econômicas importantes em coleta, reciclagem e processamento de resíduos urbanos e industriais, bem como do aproveitamento de resíduos agrícolas na geração de bioenergia e fabricação de adubo.

A União Europeia tem alguns dos sistemas mais avançados de processamento de resíduos sólidos, de maneira que se abrirão oportunidades importantes de transferência de tecnologia, construção de parcerias, venda de equipamento e investimento direto no Brasil.

Gostaria de encerrar a discussão com dois tópicos que desempenham papel crucial nas iniciativas da Economia Verde: Finanças e Tecnologia. A discussão financeira é relevante porque se associa intimamente à criação de novos modelos econômicos e de negócios que valorem bens e serviços ambientais de maneira apropriada. Sobre o segundo assunto que nos preocupa, lembramos que as várias iniciativas para o uso mais eficiente de recursos naturais que estão se tornando escassos exigem tecnologias avançadas, as quais, em sua maior parte, estão em poder do mesmo grupo de países responsáveis pelos desequilíbrios ambientais, o que gera uma situação de iniquidade no que diz respeito a responsabilidades e benefícios.

Nos últimos anos, têm sido feitas várias propostas de modelos de negócio de bens e serviços ambientais, bem como de possíveis modalidades de financiamento. Do ponto de vista da captação de recursos, a criação de fundos destinados a iniciativas sustentáveis tem ganhado sustentação, seja através da criação de fundos governamentais de fomento, ou de decisões descentralizadas de investidores, como no caso dos fundos de capital de risco que investem em tecnologias limpas. Com a criação do Fundo Amazônia e do Fundo de Brasileiro de Mudanças Climáticas, o

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Brasil tomou iniciativas importantes na direção de captar recursos para investimentos verdes.

O setor privado, contudo, ainda se mostra tímido na criação e na oferta de produtos financeiros nos quais a sustentabilidade fornece um atrativo adicional ao retorno financeiro. Com relação à utilização dos recursos, o conceito de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) tem sido apresentado como uma maneira de se compensar diretamente as pessoas físicas e jurídicas que têm contato direto com recursos naturais de interesse coletivo, como florestas, regiões de alta biodiversidade, nascentes de rios, e outros. Além disso, parece significativo o potencial de iniciativas de empreendedorismo socioambiental, nas quais empreendedores recebem capital de risco (venture capital) para implementar novas empresas e modelos de negócios cuja finalidade é a utilização sustentável de recursos naturais, tais como florestas biodiversas ou agricultura sustentável. É muito provável que o Brasil tenha a aprender sobre essas duas dimensões com a experiência da Europa, cuja população demonstra alto grau de conscientização sobre questões ambientais. Muito tem sido dito a respeito da “transição para uma economia verde”. Essa transição potencialmente gerará ganhos para alguns, e perdas para outros. É fundamentalmente importante que os custos e benefícios da transição sejam distribuídos de maneira equitativa, levando-se em conta ainda as responsabilidades existentes pela situação que se quer remediar. Para que os países em desenvolvimento não tenham que pagar por tecnologias destinadas a remediar problemas que eles não causaram, faz-se necessária uma iniciativa abrangente de disseminação tecnológica, tanto no que diz respeito à capacitação de recursos humanos quanto ao licenciamento de propriedade intelectual de maneira flexível. A experiência brasileira oferece precedentes para os dois casos. No caso de capacitação de recursos humanos, países europeus como a Alemanha e a França possuem uma tradição de assistência técnica ao desenvolvimento. A parceria energética entre o Brasil e a Alemanha, coordenada no lado alemão pelo Ministério de Cooperação Econômica daquele país, é um exemplo importante a ser seguido.

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Esse cenário que apresentei aos senhores é de um país que vem se empenhando na busca de mecanismos para garantir o seu

desenvolvimento sustentável, com respeito a sua rica

biodiversidade .

Minha proposta conclusiva aqui é que este assunto torne-se objeto de debate permanente no âmbito de nossa Mesa-Redonda, que representa a contribuição da sociedade civil, e que os resultados de nosso debate sejam encaminhados para os nossos negociadores comerciais.

Para realizarmos a 6ª Mesa-Redonda no Rio de Janeiro no dia 1o de junho de 2012, poderíamos contar com a colaboração de um “Painel de Especialistas” que elaboraria um documento-base (Economia Verde: uma proposta de colaboração Brasil-EU)

A qualidade das representações aqui presentes, reconhecida até no documento conjunto da V Cúpula Brasil União Europeia, e a disposição sempre demonstrada para o diálogo e o entendimento dos senhores, nos dão a certeza de que a reunião que hoje se inicia

vai gerar contribuições fundamentais ao processo de

desenvolvimento sustentável que vimos perseguindo ao longo das duas últimas décadas e que e nos ajudará a chegar à Rio+20 com a confiança de que estamos no caminho certo.

Referências

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