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ALUNOS NÃO-ORALIZADOS: AVALIAÇÃO DAS HABILIDADES SOCIAIS NO CONTEXTO ESCOLAR

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Academic year: 2021

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ALUNOS NÃO-ORALIZADOS:

AVALIAÇÃO DAS HABILIDADES SOCIAIS NO CONTEXTO ESCOLAR

Patricia Lorena Quiterio1 Leila Regina d’Oliveira de Paula Nunes2

Introdução

No contexto social, observa-se que indivíduos não oralizados, mas que possuem condições cognitivas de se comunicar, de manifestar o seu desejo e de realizar escolhas, freqüentemente encontram-se isolados socialmente. De fato, interlocutores que mantém um contato sistemático com a pessoa com deficiência na comunicação oral passam a “falar por ela”. Esta pessoa, embora não-oralizada, sabe o que quer dizer ou escolher e deseja que os outros se dirijam a ela para que possa ter a oportunidade de vivenciar o relacionamento interpessoal. Este relacionamento interpessoal tem como forma de expressão o diálogo entre os interlocutores, no qual além da comunicação oral são também utilizados os componentes não-verbais que tornam efetiva a interação social. Na atualidade, a Educação Especial tem revelado a cada momento um aspecto inovador para as pesquisas nas áreas de ciências sociais e humanas.

Referencial Teórico

O sujeito com alguma necessidade especial constitui-se num indivíduo com pensamentos, sentimentos e comportamentos como qualquer outra pessoa. De maneira geral, o ser humano utiliza a linguagem oral e escrita como forma de comunicação com o outro, conforme destaca Tomasello (2003). Nas últimas décadas, tem se estudado no campo da Psicologia Social, Escolar e Clínica, a importância das habilidades sociais para o desenvolvimento do sujeito. Assim, qualquer indivíduo, deficiente ou não, necessita desenvolver habilidades sociais e utilizá-las no contexto social de modo adequado à situação. Del Prette

1

Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

2 Professora Titular da Faculdade de Educação e do Programa de Pós Graduação em Educação da

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e Del Prette (2001) apontam que o termo habilidades sociais refere-se à

“existência de diferentes classes de comportamentos sociais no repertório do indivíduo para lidar de maneira adequada com as demandas das situações

interpessoais” (p. 31). Desta maneira, este conceito abrange os aspectos

verbais e os componentes não-verbais da comunicação, bem como descreve comportamentos abertos e encobertos nas interações sociais. As Habilidades Sociais apresentam subclasses (DEL PRETTE e DEL PRETTE, 2001 e 2005), dentre as quais se destacam: Básicas que envolvem comportamentos não verbais e verbais na comunicação; Reconhecimento Afetivo que denota nomear e identificar suas próprias emoções e dos interlocutores; Civilidade que constitui os comportamentos padronizados de “boas maneiras’; Empatia que evidencia entender e se colocar no lugar do outro; Fazer Amizades que revela a capacidade de escuta e de manter o vínculo afetivo; Autocontrole que expressa a capacidade de lidar com os próprios sentimentos; Assertividade que é a afirmação dos próprios direitos e expressão de pensamentos, sentimentos e comportamentos maneira adequada ao contexto social, respeitando o direito das outras pessoas; Solução de Problemas Interpessoais que é a habilidade de lidar com as situações buscando diferentes estratégias e, por fim, Habilidades Sociais Acadêmicas que favorece a aprendizagem do outro em diferentes contextos. O aluno que não desenvolveu habilidades de comunicação oral eficientes pode ser incapaz de expressar seus sentimentos e pensamentos, prejudicando seu desenvolvimento acadêmico e social, limitando sua participação plena em uma sociedade inclusiva.

Objetivos

O objetivo geral deste estudo foi descrever o repertório de habilidades sociais de alunos com paralisia cerebral, através de quatro instrumentos. Mais especificamente neste trabalho pretende-se descrever o repertório das diferentes subclasses que envolvem os oito grupos de habilidades sociais, com vistas a identificar os comportamentos assertivos e não-assertivos e avaliar os componentes verbais e não-verbais das habilidades sociais, através de quatro instrumentos: observação, entrevista, questionário e inventário.

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Desenvolvimento

Participantes – A pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética da UERJ

(processo nº. 017.3.2008). Participam da pesquisa 04 alunos que, de acordo com a nomenclatura utilizada pela Secretaria Municipal de Educação, estão na Classe Especial de Síndromes Diversas. Este grupo de alunos com paralisia cerebral e não-oralizados com idades entre 18 e 24 anos, constitui o grupo piloto. Todos os alunos freqüentam uma escola especial do município do Rio de Janeiro.

Metodologia

1) Observação. Os alunos foram filmados no contexto da sala de aula. Os trechos da interação dos alunos com os colegas e com a professora foram transcritos e analisados para observar aspectos específicos do comportamento social, utilizando como referência os componentes não-verbais (CABALLO, 2003), dentre os quais se destacam: olhar, postura corporal, sorriso, expressões faciais, acenos com a cabeça. A observação também serviu como base para a elaboração das situações descritas no inventário.

2) Questionário para pais ou responsáveis focalizado nas habilidades sociais. O uso deste instrumento surgiu da necessidade de verificar, contando com o auxílio de seus responsáveis, as habilidades presentes em seus filhos. Como não se tem, até o presente momento, nenhum instrumento avaliativo das habilidades sociais para pessoas não-oralizadas, optou-se por conhecer escalas presentes na literatura que atendessem a outros tipos de deficiência, que foram as seguintes: Escala Australiana para Syndrome de Asperger (GARNETT E ATTWOOD, 1997) e Lista de verificação do comportamento de pessoas autistas (KRUG, ARICK E ALMOND, 1978). A partir destas duas escalas, um grupo de pesquisa em Transtornos Invasivos do Desenvolvimento (CPAF)3 elaborou uma escala adaptada para a população brasileira. Nesta presente adaptação, o instrumento visava avaliar as seguintes habilidades: Básicas; Reconhecimento Afetivo; Civilidade; Fazer Amizades; Auto-Controle; Assertividade e Empatia.

3

Este grupo possui como núcleo de pesquisa o CPAF-RJ (Centro de Pesquisa e Aperfeiçoamento Profissional). A pesquisadora participa deste grupo desde o ano de 2006.

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3) Entrevista recorrente com a professora focalizada nas Habilidades Sociais dos alunos. Esta avaliação surgiu da necessidade de escutar a fala da professora, visto ser uma pessoa importante neste processo tanto de avaliação como de promoção das Habilidades Sociais. Esta entrevista propôs-se a avaliar as seguintes habilidades: Básicas; Reconhecimento Afetivo; Civilidade; Fazer Amizades; Autocontrole; Assertividade; Solução de Problemas Interpessoais e Habilidades Sociais Acadêmicas. O presente instrumento também dispôs de uma pergunta aberta (item 10) em relação a cada aluno e a descrição de sua personalidade. Sendo assim, foram feitas as primeiras entrevistas com a professora sobre cada aluno. Estas foram transcritas na íntegra. Em seguida, em outro encontro com a professora, esta podia acrescentar ou esclarecer comentários anteriores. Estes registros possibilitaram acompanhar a efetividade da técnica da entrevista recorrente.

4) Aplicação do Inventário de Habilidades Sociais para Pessoas Não Oralizadas (IHSPNO). De acordo com as pesquisas da Universidade Federal de São Carlos, centro de referencia de pesquisas sobre esse tema no Brasil, as dissertações e teses abordam projetos desenvolvidos junto a pessoas com deficiência mental, autismo, síndrome de Asperger, transtorno do déficit de atenção com hiperatividade e problemas de aprendizagem (AGUIAR, 2006; ANGÉLICO, 2004). Não foi encontrado, contudo, na literatura examinada, nenhum trabalho voltado para a população de pessoas não-oralizadas. Para cobrir essa lacuna, tendo como base o Sistema Multimídia de Avaliação de Habilidades Sociais (21 itens) elaborado por Del Prette e Del Prette (2004) e na Escala de Assertividade elaborada por Alves (2003) composta de 15 itens, foi elaborado o Inventário de Habilidades Sociais para Pessoas Não-Oralizadas (IHSPNO) contendo situações vivenciadas por alunos não falantes na escola. Estas situações foram elaboradas a partir de um período prévio de observação e com as devidas adaptações foram transformadas em itens do Inventário. O IHSPNO é composto por 20 itens de múltipla escolha que descrevem situações vivenciadas na escola por pessoas com deficiência. O inventário pretendeu avaliar os seguintes conjuntos de habilidades: autocontrole e expressividade emocional (4 itens); empatia e civilidade (4 itens); assertividade (4 itens); fazer

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amizades (3 itens); habilidades sociais acadêmicas (2 itens) e solução de problemas interpessoais (3 itens). O presente instrumento ganhou um novo formato para atender as dificuldades motoras dos alunos-alvo. Assim, para responder os itens, o aluno teve como opções: o apontar para a figura ou sinalizar a figura-resposta a partir da varredura efetuada junto com a pesquisadora. Sendo assim, as 20 cenas-alvo, bem como as cenas que expressavam as possíveis reações do sujeito, foram desenhadas por um especialista em imagens. As imagens foram colocadas em uma prancha que se dividia em três partes. Em cada item, na parte superior da prancha apareceu o título da cena. Na dobra à direita, ficou o relato da cena de modo facilitar a leitura para o examinador.

A prancha foi dividida em três partes que apresentavam em cada uma a cena correspondente com a respectiva imagem. As cenas representavam as possíveis reações do sujeito. Cada prancha teve a seguinte medida: 19 X 10 cm, de modo a proporcionar uma visão ampliada das imagens. O aluno apontava a opção que correspondia a sua reação diante da situação. As reações demonstravam as respostas: agressiva, passiva ou assertiva. As subclasses das Habilidades Sociais avaliadas pelo IHSPNO foram Fazer amizades, Autocontrole, Assertividade, Empatia e civilidade, Solução de Problemas Interpessoais e Habilidades Sociais Acadêmicas.

5) Aplicação do Inventário de Habilidades Sociais para Pessoas Não Oralizadas – visão do professor. Após a aplicação do Inventario nos alunos, o instrumento foi aplicado no professor para que ele também avaliasse as habilidades sociais de cada aluno. O objetivo de tal procedimento foi verificar o grau de concordância entre a auto-avaliação do aluno e a avaliação que o professor faz do aluno.

Resultados e Conclusão

1 – Questionário para pais ou responsáveis: há déficits parciais, isto é, de acordo com a medida nominal os indicadores com maior dificuldade estavam nas subclasses Empatia e Civilidade (68,5%), Autocontrole (67%), Habilidades Básicas (61%) e Fazer amizades (55%). Por este instrumento as subclasses

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com menor dificuldade foram Assertividade (70%) e Reconhecimento afetivo (75%).

2 – Entrevistas com a professora: constatou-se que os alunos de frente as Habilidades Básicas possuem o contato ocular, mas têm dificuldades em iniciar o contato. Na Expressão de suas emoções e no Reconhecimento afetivo observou-se que os alunos conseguiram manifestar suas emoções e duas conseguiram também identificar a emoção do outro. Os alunos demonstraram habilidade em cumprimentar o outro, mas houve dificuldades em comportamentos inclusos no grupo de Civilidade. Na subclasse Fazer Amizades percebeu-se que dois alunos procuraram estabelecer e manter amizades e as outras duas alunas possuíram comportamentos passivos, assim como no Autocontrole, no qual somente uma aluna apresentou comportamentos que oscilaram entre a passividade e a agressividade. Em relação à Assertividade houve dois alunos com comportamentos que tendiam para a assertividade e dois para a passividade. Quanto as Soluções de Problemas Interpessoais os alunos continuaram demonstrando passividade e outros estavam iniciando a busca pela interação. E, finalmente, nas Habilidades Sociais Acadêmicas vislumbraram-se três alunos passivos e uma aluna que busca a aprendizagem.

3 – Inventário de Habilidades Sociais para Pessoas Não-Oralizadas aplicado nos alunos: os alunos afirmaram como sendo suas habilidades com dificuldades parciais a Empatia e Civilidade, o Fazer amizades e a Solução de Problemas Interpessoais, bem como sinalizaram que suas dificuldades significativas encontraram-se em Autocontrole e nas Habilidades Sociais Acadêmicas, sendo que a Assertividade é a subclasse que apresentou-se com o maior déficit.

4 - Inventário de Habilidades Sociais para Pessoas Não-Oralizadas aplicado na professora (sobre cada aluno): o grupo piloto não apresentou dificuldades em Fazer amizades e nas Habilidades Sociais Acadêmicas. Em Solução de Problemas Interpessoais e Assertividade o grupo apresentou dificuldades parciais. O grupo apresentou déficits significativos em Empatia e Civilidade e, principalmente na subclasse Autocontrole.

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A avaliação das habilidades sociais possibilitou a identificação de déficits e excessos comportamentais que estavam contribuindo para a não emissão de comportamentos socialmente habilidosos. As fontes de informação puderam incluir o próprio indivíduo e outros significantes, como pais, professores e pares. Enfim, a pesquisa piloto aqui apresentada possibilitou a obtenção das primeiras informações sobre o repertório de habilidades sociais de jovens não oralizados, assim como a primeira experiência com o inventário aqui construído e com o qual os estudos estão sendo ampliados.

Referências

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