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Cláudia Maria de Jesus Castro 1 Cláudia Valente Cavalcante 2 Milene de Oliveira Machado Ramos Jubé 3

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Academic year: 2021

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Tensões entre o campo da educação e o religioso: uma disputa de conservação do campo

Cláudia Maria de Jesus Castro1 Cláudia Valente Cavalcante2 Milene de Oliveira Machado Ramos Jubé3

Resumo

Muitas transformações vêm ocorrendo no campo das religiões com novas dinâmicas do fenômeno religioso e, sobretudo, estratégias de visibilidade das instituições diante do olhar público. Diante desse cenário, um desafio é lançado ao espaço dito laico, na escola que abriga em seu interior uma diversidade de culturas e crenças religiosas, pois ao falar sobre religião, muitas vezes ocorrem tensões, embates simbólicos entre seus atores gerando conflitos na. Assim, ela se transforma num campo de disputas para legitimar uma determinada cultura. Esta comunicação traz como tema central a tensão entre a escola e a religião e objetiva apresentar uma discussão acerca das forças antagônicas entre o campo educacional e religioso. Este estudo está baseado nos seguintes textos: a) A Teoria de Campo (BOURDIEU, 2015); b) A escola conservadora (1996a); c) Dissolução do religioso (BOURDIEU, 2004a) e d) O habitus em Pierre Bourdieu: uma leitura contemporânea (SETTON, 2002).

Palavras-chave: conflito; religioso; educação.

1. INTRODUÇÃO

“A religião que se professa hoje não é aquela na qual se nasce, mas a que se escolhe” (REGINALDO PRANDI)

A autonomia de escolha pessoal que os indivíduos passam a ter na sociedade contemporânea transcende e que ganha força maior no espaço da vida privada, em relação aos seus próprios pertencimentos religiosos, afirmou a epígrafe do sociólogo brasileiro. Nesse sentido, a religião da escolha pessoal suscita mudanças que afetam e fragiliza limites, desde a autoridade vinculante dos sistemas religiosos, ao grau de comprometimento com esta ou aquela instituição.

1 Mestranda na Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Orientadora: Dra. Cláudia Valente Cavalcante.

claudia-mjc@hotmail.com.

2 Doutora e docente na Pontifícia Universidade Católica de Goiás. cavalcante70@yahoo.com.br. 3 Mestranda na Pontifícia Universidade Católica de Goiás. milenejube@hotmail.com.

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Esta nova situação de mudança no desenho da tradição, ratifica os estudos de Bourdieu (2004a) em seu artigo intitulado “A dissolução do religioso”, afirma que, assiste-se então à dissolução do religioso em um campo de crescente mobilidade, verifica-se também uma expansão do fenômeno religioso, com um número significativo de pessoas migrando de uma religião a outra, ou melhor, participando de vários movimentos religiosos ao mesmo tempo. A qual se acompanha de uma perda do monopólio à tradição.

Diante dessa nova composição plural da experiência com o sagrado, muitas transformações vêm ocorrendo no campo das religiões, desde os anos de 1970, com novas dinâmicas do fenômeno religioso, práticas na lógica de evangelização e, sobretudo, estratégias de visibilidade e reconhecimento das instituições diante do olhar público. Sendo assim, para um intenso processo de disputas simbólicas, que envolve desde o processo de “ganho de fiéis”, tendo como fio condutor os trunfos por busca de legitimação no campo religioso, numa sociedade moderna, movida por um mercado de ampla competição.

No campo educacional, um desafio é lançado ao espaço dito laico que abriga em seu interior uma diversidade de culturas e crenças religiosas, pois ao falar sobre religião, muitas vezes ocorrem tensões, embates simbólicos entre os agentes gerando conflitos na escola. Assim, ela se transforma num campo de disputas para legitimar uma determinada cultura. Na definição de Bourdieu (1996a, p. 65), “A escola é encarregada da conservação e da transmissão da cultura legítima de exercer suas funções de conservação social”.

Este artigo é parte integrante dos estudos e das sistematizações teóricas feitas na disciplina Cultura e Educação, a qual está circunscrita na linha de pesquisa Educação, Cultura e Sociedade do Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Assim, esta comunicação em pauta traz como tema central a tensão entre escola e a religião e objetiva apresentar uma discussão teórica acerca das forças antagônicas entre os campos educacional e religioso, buscando realizar a partir dos conceitos de Pierre Bourdieu e autores(as) que debruçam sobre a temática e a teoria bourdieusiana.

Este estudo se organiza em duas partes: a primeira, denominada “Teoria Geral dos Campos”, traz um dos conceitos centrais da obra de Pierre Bourdieu, pois o campo constitui um espaço de forças opostas, concomitantemente, disputas entre os agentes sociais. Já a

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segunda, “O Campo Religioso e o Campo Educacional”, versa sobre as dinâmicas religiosas contemporâneas em um cenário plural, de concorrência por fiéis. Dentro dessa disputa de campo, diferentes movimentos religiosos elaboram distintos discursos e estratégias para garantir a dominação do campo. E aborda, também, os desafios que a escola enfrenta com a diversidade presente em seu “entre muros”, por sua vez, gerando conflitos, tensões nas aparências pacíficas de convivência entre professores e alunos.

Por fim, são tecidas algumas considerações finais acerca da problemática.

2. Teoria geral dos Campos

Muito tem sido a contribuição e fertilidade da teoria bourdieusiana ao pensamento sociológico, bem como a sua metodologia de pesquisa. Canesin (2002b, p. 86) faz a seguinte observação: “sua Sociologia foi construída com o propósito obstinado de desvendar de maneira fértil, os mecanismos de poder que permeiam as intrincadas redes de relações sociais construídas historicamente”.

Este propósito de descortinar as relações hierárquicas de dominação entre os agentes, Bourdieu elaborou um dos conceitos centrais: A Teoria dos Campos. Com o objetivo de compreender na estrutura de classes, a tendência à manutenção da ordem vigente, ele faz a seguinte observação:

A sociedade é um conjunto de campos sociais, mais ou menos autônomos, atravessados por lutas entre classes. Pois o mundo social é o lugar de um processo de diferenciação progressiva (2015, p. 08)

Conforme Bonnewitz,

Cada um desses espaços constitui um campo econômico, político, cultural, educacional, religioso, científico, jornalístico etc.[...], ou seja, um sistema estruturado de forças objetivas, uma configuração relacional que, à maneira de um campo magnético, é dotado de uma gravidade específica, capaz de impor sua lógica a todos os agentes que nele penetram. (2003, p. 67)

Nesse sentido, o campo é permeado por disputas, tensões e, sobretudo, movido pelas concorrências internas e externas entre agentes e também instituições em torno de interesses específicos. Como sublinha Bourdieu:

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Um campo é também um espaço de conflitos e de concorrência no qual os concorrentes lutam para estabelecer o monopólio sobre a espécie específica do capital pertinente ao campo (2015, p. 2)

Logo, dependendo da posição que os agentes ocupam no espaço social, todavia, no domínio do capital, estes usam mecanismos que podem ser de legitimidade para manutenção ou de subversão, pois estão em luta constante com as forças antagônicas de conservação, como afirmou Bonnewitz. Na verdade,

As estratégias dos agentes dependerão do volume do seu capital e também da estrutura deste, sendo o objetivo do jogo conservar e/ou acumular o máximo de capital, respeitando as regras do jogo. Os indivíduos em posições dominantes optarão por estratégias de conservação. (2003, p. 61)

Valendo-se de ferramentas “trunfos” na dinâmica do campo, os agentes, haja vista, incorporam também outras estratégias para migrar em outros campos, como também para adentrar no jogo em um campo. Pois a incorporação das disposições adquiridas socialmente sofrem influências e alterações com novas experiências, o habitus não é imutável. Para Bourdieu (2015) é gerador de ferramentas, que podem ser objetivamente usados pelos agentes na dinâmica do campo, o qual é atravessado por lutas entre classes para atingir interesses. Assim, para Setton (2002a) o habitus deve:

Ser visto como um conjunto de esquemas de percepção, apropriação e ação que é experimentado e posto em prática, tendo em vista que as conjunturas de um campo o estimulam. (2002a, p. 63)

Setton (2002a) afirma ainda que o conceito de habitus propõe identificar a mediação entre indivíduo e sociedade, bem como habitus e campo são definições entrelaçadas e, ao mesmo tempo, interdependentes.

Por fim, cabe ressaltar que, o campo, na perspectiva bourdieusiana, é um espaço de relações em movimento, ou seja, dinâmico. Pois os agentes estariam constantemente em disputa, buscando sua manutenção e também galgar novas posições nas hierarquias sociais. Nessa luta, eles desenvolveriam distintas estratégias em função de sua posição no campo, e os conhecimentos adquiridos ao longo do tempo nas interações sociais chamados de habitus que lhe permitiriam perceber e agir.

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3. O Campo Religioso e o Campo Educacional

As contribuições de Pierre Bourdieu ao estudo que sistematiza de forma ampla os procedimentos que envolvem o campo religioso oferece um novo olhar de interpretação. Pois o embasamento teórico de campo social do autor (2007a) oportunizou que os estudiosos pudessem reconhecer a pluralidade do fenômeno religioso sem que isso implicasse afirmar a produção de um universo religioso dividido, sem características comuns capazes de tornar cada uma de suas manifestações relacionadas entre si.

Deste modo, a categoria de campo surge para que o pesquisador visualize não apenas os habitus das tradições religiosas e das instituições em particular, mas, também o enfraquecimento do vínculo religioso. Como diz o próprio Bourdieu (2004a):

Assiste-se então a uma redefinição dos limites do campo religioso, à dissolução do religioso em um campo mais amplo, que se acompanha de uma perda do monopólio [...]. (2004a, p. 122)

Na esteira desse caminho teórico, Bourdieu busca compreender a dinâmica do campo religioso, neste ponto, sua teoria de poder e disputas simbólicas na busca de consagração e reconhecimento dentro deste cenário que apresenta várias ofertas de bens simbólicos. Para Bourdieu (2007a, p. 50):

Os especialistas que monopolizam a gestão dos bens de salvação representam as relações de concorrência que opõem os diferentes especialistas no interior do campo religioso, constituem o princípio da dinâmica do campo religioso e também das transformações da ideologia religiosa.

Nota-se, então, que os principais representantes destas disputas pelos bens de salvação, mas não de forma exclusiva, os líderes dos movimentos religiosos que se colocam em embate com as demais concorrentes. Segundo Bourdieu (2007a, p. 58):

Pelo fato de que a posição das instâncias religiosas, instituições ou indivíduos na estrutura da distribuição do capital religioso determina todas suas estratégias, a luta pelo monopólio do exercício legítimo do poder religioso sobre os leigos e da gestão dos bens de salvação organiza-se necessariamente em torno da oposição entre (1) a Igreja e o profeta e sua seita (II). Na medida em que consegue impor o reconhecimento de seu

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monopólio (extra ecclesiam nulla salus) e também porque pretende perpetuar-se, a Igreja tende a impedir de maneira mais ou menos rigorosa a entrada no mercado de novas empresas de salvação (como por exemplo as seitas, e todas as formas de comunidade religiosa independentes), bem como a busca individual de salvação [...].

Logo, a religiosidade se adapta às sociedades modernas, buscando inovações e alternativas religiosas como produtos, no sentido de melhor atender às expectativas e necessidades cotidianas de seus fiéis, numa sociedade movida pela mobilidade religiosa. Sendo assim, passa a descortinar o papel centralizador de uma religião acima das outras, como a Igreja Católica na Idade Média. Com isso, caracteriza-se dissolução de monopólios religiosos que compõem o mosaico de distintas experiências religiosas. Sobre isso, o sociólogo Bourdieu (2007a) fala que:

[...] surgir nos períodos de crise aberta envolvendo sociedades inteiras; ou então, apenas algumas classes, vale dizer, nos períodos em que as transformações econômicas ou morfológicas determinam, nesta ou naquela parte da sociedade, a dissolução, o enfraquecimento ou a obsolescência das tradições ou dos sistemas simbólicos que forneciam os princípios da visão do mundo e da orientação da vida fazem surgir forçosamente novas ideias e novas tradições [...] Não se deve confundir essas causas. (BOURDIEU, 2007 a, p.58)

Neste panorama de diversidade religiosa, revela uma mudança no pilar da distribuição de mercado do capital religioso, em que os sistemas religiosos têm de apropriarem-se de estratégias mercadológicas, bem como utilizarem-se dos trunfos necessários na conservação da posição que ocupa no campo. Nessa competição acirrada de espaço, passam a travar lutas para garantir a dominação do campo aos bens simbólicos que oferecem. Bourdieu (2007a, p. 90) aponta:

O tipo e legitimidade que uma instância religiosa pode invocar depende da posição que ocupa num determinado estado das relações de força religiosas, na medida em que esta posição determina a natureza e a força das armas materiais ou simbólicas que os diferentes agentes em competição pelo monopólio do exercício da violência religiosa podem utilizar nas relações de força religiosas.

Dentro dessa multiplicidade de credos, que as instituições religiosas veem diante de um grande desafio, fornecer significados às diferentes experiências da vida cotidiana das

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pessoas, na atual conjuntura marcada por distintas opções de crenças e, por sua vez, conquistar novos fiéis. Assim,

a concorrência pelo poder religioso deve sua especificidade ao fato de que seu alvo reside no monopólio do exercício legítimo do poder de modificar em bases duradouras e em profundidade a prática e a visão do mundo dos leigos, impondo-lhes e inculcando-lhes um

habitus religioso particular, isto é, uma disposição duradoura, generalizada e transferível

de agir e de pensar conforme os princípios de uma visão (quase) sistemática do mundo e da existência. (BOURDIEU, 2007a, p. 88)

No que tange à teoria bourdieusiana, enquanto representante da religião cunhada num processo de forças antagônicas que estruturam o espaço social, procura reproduzir as condições do campo em que seus bens de salvação são os únicos reconhecidos. Nesse caso, o profeta busca ofertar novos bens de salvação contestando os ofertados ou mesmo o sistema que os oferta com os distintos discursos de emponderamento. Assim, trata-se do homem para Bourdieu (2007a) das “situações extraordinárias” de carisma. Então,

E pela capacidade de realizar, através de sua pessoa e de seu discurso como palavras exemplares, o encontro de um significante e de um significado que lhe era preexistente mas somente em estado potencial e implícito, que o profeta reúne as condições para mobilizar os grupos e as classes que reconhecem sua linguagem porque nela se reconhecem. (BOURDIEU, 2007a, p. 75)

O movimento migratório do terceiro milênio vem deslocando indivíduos a abandonarem as próprias crenças, saberes culturais e, sobretudo, raízes de seu contexto em busca de melhores condições de vida, em virtude das perseguições, conflitos religiosos que marcam a paisagem da atualidade. Essa revelação de desajustamento semelhante a esta realidade também foi observada por Bourdieu em seus estudos sobre os povos argelianos em impressionante depoimento:

Assiste-se a situação de desamparo de indivíduos arrancados de um universo rural e submetidos a um ambiente urbano e capitalista sem os instrumentos e/ou categorias de percepção que os ajudassem nesta situação de desamparo. (BOURDIEU apud SETTON, 2002a, p. 62)

Contudo, carregam em sua bagagem, fé e crenças de suas culturas, formando o arsenal cultural simbólico destes povos. Não obstante, experimentam novos códigos que supõem entrar em contato com o universo multicultural, por sua vez, diferentes sistemas

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econômicos, sociais e políticos. Com efeito, tanto os que migram quanto os países que os recebem jamais serão os mesmos após esse contato com outro aparato cultural, o que se amplia também para as expressões religiosas.

Diante da situação retratada, um desafio é lançado ao campo educacional, pois abriga nesse campo dito laico uma diversidade de educandos que trazem consigo vivências, concepções de mundo, e também crenças religiosas adquiridas no meio familiar e nas instâncias religiosas, bem como o capital cultural onde estão inseridos.

Com isso, para Bourdieu (1996a) cada família transmite a seus filhos, mais por vias indiretas que diretas, um certo capital cultural e um certo ethos, sistema de representações cotidianas e valores implícitos e profundamente interiorizados, que contribui para definir, entre coisas, as atitudes face ao capital cultural e à escola.

Sem dúvida, as diferenças refletem no âmbito escolar pelo papel concebido como formadora e mantém em seu “entre muros” uma heterogeneidade de agentes que almejam apropriar dos conhecimentos na construção de saberes. Pois a diversidade existente no espaço escolar dificulta uma convivência pacífica entre alunos e professores, o qual se transforma num palco de tensões e conflitos, principalmente, quando o capital cultural que os aprendizes carregam choca com a cultura transmitida e consagrada pelo sistema educacional. Para Bourdieu (1996a, p. 65) “a instituição é encarregada da conservação e da transmissão da cultura legítima de exercer suas funções de conservação social”.

Diante disso, evidencia-se nesse campo de convivência de aparências pacíficas, os agentes envolvendo-se cotidianamente em disputas, em situações conflitantes que acontecem na escola, quando vem à tona questões polêmicas sobre religião, política, futebol etc. Nesse clima de tensões latentes, o docente utiliza-se estrategicamente, suas convicções legítimas em restabelecer a ordem, promovendo entre os pares, relações em contínuas trocas de conhecimentos, diálogos e também negociações em função da lógica de um sistema que tem legitimidade primordial de conservar os valores que fundamentam a ordem vigente. De fato, trata-se de um campo que não é neutro em relação às outras instituições, ao contrário, sob as aparências da “igualdade” consagra as desigualdades e privilegia uma determinada cultura.

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo buscou discutir algumas dinâmicas que compõem o cenário multifacetado das religiões contemporâneas, à luz nos pressupostos da dinâmica do campo religioso, por referencial teórico, contribuições do legado deixado por Pierre Bourdieu.

Para tanto, uma das categorias centrais na teoria bourdieusiana, sobretudo, é a de campo, que segundo o autor foi cunhada por ele para sanar o que ele chama de “erro de curto-circuito”. Portanto,

para compreender uma produção cultural (literatura, ciência etc) não basta referir-se ao conteúdo textual dessa produção, tampouco referir-se ao contexto social contentando-se em estabelecer uma relação direta entre texto e contexto”. (BOURDIEU, 2004a, p.20)

Dessa maneira, a categoria de campo aparece para que o pesquisador visualize a “autonomia relativa” que cada produção social e cultural apresentará autonomia. Para o autor, “quanto mais autônomo for um campo, maior será o poder de refração e mais as imposições externas serão transfiguradas”. (BOURDIEU, 2004a, p. 22)

Neste campo, o religioso entra numa situação de pluralismo e é absorvido pela lógica de mercado na produção e oferta dos bens simbólicos. Tal fato, leva as instituições religiosas a se colocarem no campo de embates, conflitos e tensões, sobretudo, ampla concorrência por adeptos, movidas por um mercado competitivo na busca de “fiéis-clientes”.

Dentro dessa disputa acirrada, diferentes movimentos religiosos, pois se exige, cada vez mais, distintos discursos e estratégias de legitimação, haja vista autoafirmação e visibilidade na sociedade, gerando uma religiosidade, sobretudo à marca do individualismo. Ressalta-se, pois, que o habitus demonstra o que leva os agentes sociais a agirem dentro dos diversos campos que constituem a esfera social.

No que se refere ao campo educacional, encontraremos seus protagonistas envolvidos em relações cotidianas, marcados por conflitos, tensões e negociações impostas de normas e estratégias para manter as regras de conservação do campo, numa aparente convivência pacífica. Assim, o espaço dito laico, transforma-se num campo de disputas para

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impor uma cultura legítima e, sobretudo, consagrar o verdadeiro capital cultural veiculado pelo ambiente escolar na sociedade de classes.

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