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O território, hoje é povoado por objetos perfeitos, planejados para exercer uma função precisa e delimitada.

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Academic year: 2021

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SILVEIRA, Maria Laura. “Concretude territorial, regulação e densidade normativa.”. Em revista Experimental. São Paulo: Laboplan – Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, março de 1997, n. 02, PP. 35-45.

Página 35

O território é composto por objetos, ações e normas, que por sua vez são exatos e híbridos. A distribuição destes híbridos é diversa, e podemos reconhecer nos lugares densidades técnicas, informacionais e normativas. A esse retrato de modernidades distintas estamos chamando de concretude territorial.

O território, hoje é povoado por objetos perfeitos, planejados para exercer uma função precisa e delimitada.

Para G. Simondon (1958, 1989:50) essa especialização torna os objetos endurecidos porque incapazes de abrigar funções diferentes àquelas da sua concepção.

Outro aspecto da perfeição dos objetos técnicos atuais – Simondon (1958, 1989:23) – concretude dos objetos – uma convergência entre aquilo pensado como forma abstrata e a materialização desse projeto.

Esse processo de concretização do projeto – atingiria seu ápice, no período contemporâneo, no que B. Latour (1991) denomina híbridos ou quase-objetos – estes híbridos, a robótica, informática, cibernética, biogenética, etc – constituem elementos diferentes dos objetos e dos sujeitos*

*”Onde colocar esses híbridos? São eles humanos? Humanos porque são nossa obra. São eles naturais ? Naturais já que não são nosso fato. São eles locais ou globais? Os dois (Latour, B., 1991: 72).

Página 36

São os sistemas de objetos e os sistemas de ações um conjunto indissociável, que definem o espaço, Milton Santos (1991).

Num período de grandes transformações, os lugares acolhem novos objetos e novas formas organizacionais e contribuem, desse modo, para mudar o valor das normas vigentes.

Num processo dialético, algumas normas, pertencentes a atual ordem global, antecedem à modernização material e chamam a si objetos e ações contemporâneos.

Página 36

Os modos da regulação no período técnico-científico-informacional: Normas técnicas

Normas Organizacionais Normas Políticas

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Reconheceríamos em primeiro em primeiro lugar uma regulação feita por normas técnicas – hoje, mais do que antes, a técnica é normada e normatiza pois a precisão dos objetos impõe uma forma de operá-los e chama a novas solidariedades técnicas.

Daí as normas técnicas serem substituídas por outras tão aceleradamente quando os objetos técnicos se sucedem e se tornam obsoletos.

Página 37

Como técnicas de complexidade crescente, os objetos são solidários estrutural e funcionalmente, pois não trabalham isoladamente.

R. Debray (1994: 243) – as relações neste sistema técnico busca a homogeneização porque da mesma forma que os objetos técnicos tendem à perfeição – as cadeias de solidariedade técnica exigem condições idêntica como compatibilidade e estandardização – esse autor ainda adverte que essas condições não há difusão nem circulação – e que elas são responsáveis pela transformação do planeta em um todo interconectado ou intraconectado.

*Assim, o funcionamento dos objetos técnicos, hoje altamente especializados, é assegurado pela imposição, simultânea, de normas técnicas rígidas visando à fluidez do espaço. E daí o papel da norma técnica visando a homogeneização.

Trata-se da predominância de um sistema técnico nos lugares, antevisa M. Santos (1993:164) uma tendência à unicidade técnica que a base material da globalização – esse processo acompanha-se da unicidade do conjunto de normas técnicas que impõem uma rigidez crescente à tecnosfera.

Normas organizacionais – responsáveis pela regulação das formas de utilização dos novos objetos no processo de trabalho – fala-se em flexibilidade para nomear um conjunto de novas normas de organização que buscam criar um âmbito de fluidez nas relações entre as firmas, destas com os consumidores e com a força de trabalho, sempre mediados pelos objetos técnicos.

Página 38

Essa flexibilidade da ação, contida virtualmente nas normas, que é uma forma de fluidez, acaba impondo ações aos agentes não hegemônicos. Daí consideramos a rigidez como a cara oculta da flexibilidade.

São utilizados novos métodos organizacionais e novas formas contratuais que aparecem, hoje, como normas empresariais ex. just-in-time é um modo de regulação empresarial que permite assegurar o fornecimento das mercadorias em tempo real (por encomenda) graças aos avanços técnicos na produção, nos transportes e nas comunicações.

Uma maior fluidez, graças ao abandono das estruturas piramidais, que dá lugar a um planejamento integrado e descentralizado.

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Dentre as formas contratuais do período salientam-se as subcontratações no âmbito de uma rede de firmas especializadas “interfirm networks”.

Páginas 38/39

Segundo J. E. Faria (1995:11) a flexibilidade nas formas de contradição da força de trabalho admitiria três níveis – 1) aqueles trabalhadores polivalentes estáveis capazes de uma flexibilidade funcional; 2) a mão-de-obra periférica de baixa qualificação demissível segundo as necessidades da empresa; 3) os trabalhadores externos, contratados eventualmente por tarefa.

Página 39

A necessidade de fluidez e o discurso da competitividade, imperativos de nosso período, obrigam a aceitar normas de qualidade e o discurso da competitividade, imperativos de qualidade próprias de organizações globais e outras tornadas mundiais – é por essa razão que as empresas adotam, crescentemente, as normas ISSO, NIJ, as CEI.

Preceitos de uma nova organização, essas normas são, também, novos princípios de regulação técnica, constituindo-se em verdadeiras formas de hibridação normativa. De tal maneira, elas contribuem na produção de novos arranjos espaciais de alto conteúdo informacional e comunicacional.

Normas políticas – abrangem as relações de cooperação e disputa entre o Estado e o Mercado – defrontamo-nos com um novo sistema de regulação (B. Warf, 1989:258) que privilegiando os fluxos transnacionais de capital, torna os controles destinados a proteger as economias nacionais – é a chamada desregulação que abriga oportunidades mais fecundas para os agentes da globalização. Mas, apresentado como uma sorte de flexibilização das instâncias políticas nacionais, esses sistema de ações significa, certamente, uma neo-regulação que impõe uma rigidez alheia aos Estados- Nação – a rigidez é dada pela imposição de um olhar hegemônico do mundo (entre outras coisas). O Estado coopera, ativamente, nos desígnios da nova forma de organização, uma vez que, como explica B. Becker (1984:21) ele não é um mediador neutro, mas age em favor de grupos dominantes e permite à cooperação transnacional se expandir nos países periféricos.

As normas políticas do mundo contemporâneo, decorrentes da desregulação, chamam a si um acelerado processo de privatizações das empresas públicas, notadamente, do Terceiro Mundo. Os agentes hegemônicos globais comandam o processo – um sistema de ações de vocação homogeneizantes assegura, desse modo, a fluidez no planeta. Página 40

A desregulação surgiria como produto da contradição entre a necessidade de fluidez e a necessidade da norma. Todavia, é uma contradição aparente porque a desregulação é uma forma moderna da organização (Silveira, M. L. : 1994) expressada na “fluidez real (que) vem das ações humanas, que são cada vez mais ações informadas, ações normatizadas (Santos, M. 1994a: 161).

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Concretude técnica e concretude normativa: uma nova dialética do território?

As normas manifestariam sua concretude graças à coincidência entre sua concepção e sua função organizacional.

Página 40/41

Uma dialética do território – (Santos, M. 1994a: 17) de conteúdos renovados porque perfeitos e precisos, poderia ser reconhecida na oposição entre um sistema técnico rígido e um sistema organizacional flexível. Entretanto, ela não obra sem a participação de um sistema político de ações rígido e flexível nas interfaces de regulação endógena e exógena dos lugares.

Página 41

Nesse movimento dialético, salientam-se algumas forças que são indícios para a construção de um método: o Estado e o Mercado, o externo e o interno, o novo e o velho (Santos, M. 1985, 1988:75:80).

Do entrecruzamento dessas forças nos objetos e nas organizações, surgem infinitas combinações de concretudes técnicas e normativas e, em consequência, de modernidades nos lugares.

As concretudes não se constroem, hoje, sem informação. Contida nos objetos, nas ações e nas normas, a informação é distintamente disponível nos níveis local, nacional e global. Daí as acelerações diversas nos níveis dessa dialética.

Essa concretude edifica-se com normas que são, como os objetos, crescentemente híbridas porque sua natureza é técnica e política e, ao mesmo tempo, global, nacional e local – as normas são suscetíveis de ser interpretadas como um enredo de complexo significado que regula um sistema de objetos.

Uma complexa trama de objetos, ações e normas participa da nova dialética do território.

Página 42

Concretude territorial e novas densidades

Uma estrutura material e uma estrutura jurídico-organizacional podem ser identificadas nessa trama de formas e tempos.

Novas ações ininterrompidamente, vão operar sobre essas estruturas, incorporando objetos e respondendo às necessidades de regulação e fluidez de cada divisão do trabalho como essas necessidades diversificam-se ao longo do tempo, as modernizações do território são plurais e complexas.

Hoje, técnicas e normas globais tendem a dar uma resposta homogênea, nos lugares, às necessidades da totalidade. E, assim, o processo de totalização assume a forma de globalização.

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O lugar é singular graças a sua história de sucessivas funcionalizações, isto é, uma síntese, a cada momento, das carências da totalidade e das aptidões dos lugares.

O lugar como encontro de intencionalidades passadas e futuras, estraçalha no período da globalização. Daí a nossa possibilidade de reconhecer densidades distintas no território. Página 43

A atual divisão territorial do trabalho exige dos lugares uma alta densidade técnica e informacional, pois, como explica A. Fischer (1990: 8) devem oferecer às empresas a possibilidade de se beneficiar da presença de todas as infraestruturas, dos equipamentos e dos serviços para permitir a inovação tecnológica.

Por outra parte, a totalidade atual busca revogar a pluralidade de marcos regulatórios para afirmar uma única regulação. O resultado desse ato de império nos lugares será a densidade normativa.

As densidades participam do redesenho do mapa-múndi, cujos recordes regionais seriam dados pela coerência funcional das regiões (Santos, M. 1994c) e pelo que estamos chamando de concretude territorial.

Por isso, propomos denominar concretude territorial esse processo de construção de um meio perfeito, povoado de híbridos na forma de objetos, ações e normas, e que é simultâneo à produção de outras instâncias da sociedade. A concretude territorial resulta, ao mesmo tempo, da convergência entre as funções planejadas e as funções desenvolvidas nos lugares. Uma verdadeira cientificização da produção do espaço que revela a especificidade das regiões na divisão territorial.

Referências

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