O PERFIL DO CONSUMO DE ENERGIA DOS ESTUDANTES DO
ENSINO MÉDIO DE CAMPINA GRANDE -PB
Ismênia Kelly Alves Martins¹, Adeilton Padre de Paz¹, Hellen Regina Guimarães da Silva¹, Andréa Melo da Silva¹, Janelene Freire Diniz¹
¹ Departamento de Química da UEPB RESUMO
As temáticas ambientais ganharam muita importância nos últimos anos, no entanto os currículos escolares não estão adaptados para formar cidadãos críticos em relação a estes tipos de questões. O presente trabalho apresenta uma discussão sobre a temática energética, mostrando um estudo sobre a abordagem do tema Energia dentro do ensino médio formal. O objetivo é colaborar com a construção de uma abordagem escolar que promova um consumo energético sustentável, e auxiliar na promoção da
interdisciplinaridade.
A partir dos resultados obtidos, realizou-se uma discussão a respeito do imediatismo presente nos educandos, que não consideram a preservação ambiental como uma de suas prioridades; e outra sobre a capacidade de integração presente no tratamento de temas interdisciplinares, como Energia, dentro do ensino médio. Os dados evidenciaram que para promover a
interdisciplinaridade é necessário que haja um envolvimento de diversos agentes educacionais, e não de apenas um professor.
Dentre os resultados, pode-se citar uma maior conscientização das escolas e das comunidades no seu entorno a respeito das questões ambientais e, mais especificamente, no contexto escolar, a implantação de uma nova estratégia de ensino que possibilitou a construção do conhecimento pelos alunos de forma interativa e significativa. Para o professor, a proposta significou também um aprendizado na medida em que esse passou a refletir sobre a sua prática de sala de aula e planejá-la de acordo com o contexto das situações-problema trabalhadas.
INTRODUÇÃO
No mundo atual é praticamente impossível imaginar um dia sem utilizar
energia. Ela está em tudo o que o ser humano faz: no transporte, nas relações sociais, além ser vital para a manutenção da vida existente em todo o planeta. A energia é vital para a sobrevivência do ser humano. Se for analisada pelo sentido biológico, ela é fundamental para a manutenção da vida, e essencial para a realização de todas as tarefas inerentes aos seres vivos (MARQUES e HADDAD, 2006). No sentido social, é necessária para o funcionamento dos aparelhos tecnológicos utilizados no dia-a-dia pela humanidade, sendo, portanto, importante para a realização de diversas tarefas presentes na sociedade atual.
A essencialidade da energia foi um dos motivadores para a produção desta pesquisa. Realizar um estudo nesta área contribui para obtenção do
desenvolvimento sustentável, que é fundamental para a continuidade da existência humana.
O consumo de energia precisa respeitar os limites ambientais, de forma a propiciar a sustentabilidade (FURRIELA, 2001). Altvater (1992) alerta em seu livro que o padrão de vida dos países mais desenvolvidos não é expansível a todos os povos, pois o planeta não possui recursos naturais para proporcionar tal coisa. A humanidade precisa usar a energia de forma racional, para que a Terra possa fornecê-la a gerações futuras.
A fonte de energia mais usada no Brasil é o petróleo, mas a energia renovável tem um importante papel, pois a maior parte da energia elétrica é oriunda de usinas hidrelétricas, e a biomassa corresponde a 29% da oferta interna de energia (BRASIL, 2006). O país possui um dos maiores potenciais hidrelétricos do mundo, com rios e ambientes favoráveis à exploração desta forma de
energia. De toda a eletricidade gerada no Brasil, mais de 75% são oriundas desta fonte (BRASIL, 2006).
Segundo Nogueira (2007), é possível reduzir de 15% a 30% o consumo de energia elétrica apenas por meio da alteração do comportamento dos
consumidores. É preciso destacar que modificar comportamento é uma tarefa difícil, pois para proporcionar a mudança é necessário mudar a cultura de uma sociedade.
A energia está presente na sociedade moderna como uma ferramenta
essencial para o seu desenvolvimento. Com o consumo de energia crescente e previsão de esgotamento de uma das fontes de combustíveis mais utilizadas (o petróleo), torna-se necessário procurar novos meios de garantir um
atendimento à demanda energética mundial, sem que tenhamos grandes prejuízos para o meio ambiente. Para a análise de tal questão, é necessário estabelecer uma ampla discussão a respeito de três itens: desenvolvimento, sustentabilidade e energia.
Por meio da educação é possível realizar a manutenção de valores sociais ou alterá-los, pois ela tem um caráter político. Devido a isso, ela é uma ferramenta na promoção do consumo sustentável, podendo interferir na cultura de uma sociedade.
O Sol, uma estrela com 1.392.000 metros de diâmetro, e uma temperatura de 5502 Celsius, é uma fonte de energia para a Terra. O planeta recebe uma potência de 1367 W por metro quadrado, energia equivalente à queima de 2x1020 galões de gasolina (FILHO, 2008).
A energia que o planeta Terra recebe do Sol é a grande responsável pela forma de vida que conhecemos, pois é fundamental para a manutenção da vida. Ela é essencial para uma série de processos biológicos que ocorrem a nossa volta, como a fotossíntese. As plantas clorofiladas absorvem a luz do Sol, e por meio dela transformam a água e os sais minerais retirados do solo
em glicose (para gerar energia para a planta), e ainda retiram da atmosfera o gás carbônico e lançam oxigênio (SILVA JR., 2005).
Há projetos que visam à utilização de energia solar como fonte alternativa. Uns focam o aquecimento de água, e outros a transformação da energia luminosa em eletricidade, por meio de fotocélulas. As cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo possuem lei para promover o uso da luz solar para a economia de energia elétrica (SHEIDT, 2008). O objetivo é que parte dos cidadãos passem a aquecer água para o banho por meio dela, e diminuam o uso do chuveiro
(principal responsável pelo consumo elétrico residencial). METODOLOGIA
Na primeira etapa foi analisado o conteúdo programático das três séries do ensino médio. Assistiu-se a algumas aulas no 1º semestre do ano de 2010, acompanhando-se o trabalho da professora de Química responsável pelo ensino médio. O intuito foi observar como o ensino acerca da energia estava incluso no ensino de Química.
Os critérios analisados foram:
- Propostas apresentadas pela ementa, principalmente no que diz respeito a interdisciplinaridade e ao conteúdo a ser abordado pela disciplina;
- Técnicas e forma das aulas ministradas durante o ano; - Participação dos alunos;
No início do ano letivo de 2010, foi realizada uma entrevista com 5 alunos (escolhidos ao acaso) e com o professor de Química, com o intuito de avaliar o conhecimento prévio sobre a temática energética, e também com o intuito de saber como é a relação de consumo de energia dentro do cotidiano dos entrevistados.
Os questionários continham perguntas que buscavam obter as seguintes informações:
- Consumo energético dos alunos;
- Formas de uso da energia dos alunos, com o intuito de perceber se há ou não uso racional de energia;
- Influência da mídia no ponto de vista dos educandos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para entender como a energia aparece no ensino de Química, foram utilizados como fontes de pesquisas os seguintes livros:
- Química, de Olímpio Salgado Nóbrega, editado pela editora Ática em 2001; editora FTD, de 2005;
- Química na abordagem do cotidiano, de T. M. Peruzzo e E. L. do Canto, da editora moderna, de 2006.
Segundo Sardella (2004), a Química estuda a natureza da matéria, suas propriedades, suas transformações, e a energia envolvida em todos esses processos. A palavra ‘química’ vem do latim, chimica, que deriva da palavra alchimia. Os alquímicos, filósofos herméticos da Idade Média (SARDELLA, 2004), deram início a diversos experimentos importantes para o
desenvolvimento desta ciência.
No ensino médio, o ensino de Química normalmente é dividido em 3 blocos, como pode ser visto no Quadro 1:
Ano do Ensino Médio Assunto abordado
1º Química básica
Trata dos princípios fundamentais como modelos atômicos e ligação
química.
2º Físico-Química
Trata de soluções, eletroquímica, termoquímica, e equilíbrio dinâmico. A
energia costuma ser abordada neste bloco.
3º Química orgânica
Segundo Peruzzo e Canto (2003), este é o ramo da química que estuda
os compostos que contém carbono. Quadro 1 – Química no Ensino Médio. Fonte: Sardella (2004).
A Química costuma abordar o tema ‘energia’ no segundo ano, fazendo-o de maneira bastante técnica, sem muita contextualização por meio da
problemática energética. É tratada a energia química, muito utilizada em pilhas, e também as reações nucleares, mas não há ênfase no uso destas no dia-a-dia. Uma exceção é o livro Universo da Química, de Bianchi, Albrecht e Maia (2005), o qual dá ênfase ao assunto no início do livro (capítulo 2), discorrendo sobre a energia presente em nosso cotidiano, além de voltar a focar energia quando trata de Físico-química.
Por causa dos impactos, o meio ambiente está cada vez mais presente no estudo da Química no nível médio, quando se abordam os problemas ambientais. Porém, a disciplina ainda está se desenvolvendo no tratamento sobre a temática energética.
O quadro abaixo nos mostra, pela visão dos alunos, quais disciplinas enfatizam o assunto energia no decorrer do ensino médio.
Disciplina Porcentagem dos alunos Física 94 Química 71,3 Geografia 56,4 História 14,8 Matemática 12,9 Inglês 3 Biologia 3 Quadro 2. Questão: Qual (is) disciplina (s) aborda (m) o assunto “energia” no
ensino médio?
A Física é a disciplina que mais trata do tema “energia”, com 94% das citações, seguida pela Química (71,3 %) e a Geografia (56,4%). O que chama a atenção é a Biologia (uma disciplina que faz parte das Ciências Naturais, e que
necessita do conceito de energia para explicar alguns fenômenos) ter sido pouco mencionada pelos alunos (3%).
Devido a toda a interdisciplinaridade existente na temática energética, é possível promover uma discussão interdisciplinar, de forma a criar um diálogo entre as diversas áreas do saber.
Neste artigo apresentam-se os dados obtidos durante a execução da pesquisa, referentes ao consumo de energia elétrica dos educandos. Inicialmente
mostram-se dados pessoais referentes ao grupo estudado, e posteriormente uma discussão sobre a eficiência da Química, no que tange à proposta da mudança de hábitos por meio da conscientização ambiental.
Abaixo são apresentadas tabelas que mostram a quantidade de alguns eletrodomésticos e de carros que a família dos alunos possui.
Quantidade de TVs Porcentagem 1 9,9 2 31,6 3 20,8 4 11,9 6 ou mais 2
Tem, mas não informaram quantas 21,8
Não informaram 2
Quadro 3 - Televisões nas residências
A maioria dos educandos (31,6 %) possui 2 televisões em sua casa. Embora 2 % não tenham informado quantas TV´s possuem, é possível concluir que praticamente todos os alunos possuem televisão em suas casas, e, portanto, acesso à informação fornecida por esta mídia.
Quantidade de microondas Porcentagem
0 8,9 1 63,4 2 1 Têm, mas não colocaram quantos 20,8
Não informaram 5,9
Apenas 8,9 % dos alunos não possuem microondas em casa. A maioria (85,2 %) possui o aparelho, e 5,9 % não informaram se têm ou não o microondas.
Quantidade de máquinas de lavar roupas
Porcentagem
0 2 1 66,3 2 7,9
Têm, mas não colocaram quantos 22,8
Não opinaram 1
Quadro 5 - Lavadoras de roupas nas residências.
A máquina de lavar roupa é mais comum nas casas dos alunos do que o microondas, pois apenas 2% dizem não possuir o aparelho.
Duas perguntas presentes nos questionários visavam a obter informações a respeito da economia de energia realizada pelos educandos antes e depois de cursarem a disciplina. Embora os alunos tenham respondido as questões de forma espontânea, é preciso ressaltar que a veracidade das respostas é duvidosa, pois eles podem ter mentido por diversos motivos, como para
parecerem “ecologicamente corretos”. Porém, mesmo com esta dubitabilidade, é possível fazer conclusões a partir dos dados obtidos.
No início do ano letivo, 31,6 % dos alunos declararam não economizar energia. Este é um dado preocupante, principalmente se for observado que quase 40% dos educandos (quadro 6) percebe uma divulgação e conscientização
ambiental por parte da mídia, e se dizem conscientes.
Intensidade com que a mídia
fala de energia
Porcentagem
Bastante 39,6
Pouco, deveria falar mais 25,7
Não fala 27,7
Raramente 1
Só os programas ambientais 1
Às vezes 1
Quadro 6 - Mídia e Energia.
A maioria dos alunos (39,6 %) percebeu que a mídia tem dado um enfoque maior à problemática energética. No quadro abaixo são mostradas as formas como os alunos, 68,4%, dizem economizar energia.
Como economiza? Porcentagem
Reduz tempo no banho 31,4
Menos tempo no banho, usa luz só quando necessário.
21,6 Usando luz artificial somente quando
é necessário.
13,7 Evita deixar aparelhos que não estão
sendo usados ligados.
13,7 Evita deixar a luz acesa quando ela é
desnecessária, e desliga aparelhos que não estão sendo utilizados.
7,8
eletrônicos, e reduzindo o tempo no banho.
Faz o possível para não deixar aparelhos em stand by, reduz tempo
no
banho, e usa lâmpadas econômicas.
2
Quadro 7 - Economia de Energia.
A maioria dos educandos (31,4 %) diz economizar apenas diminuindo o tempo no chuveiro, e ao somar as outras porcentagens de alunos que dizem também reduzir o tempo no banho, obtemos o valor de 60,9 %. Uma porcentagem de 49,1 % economiza por meio do modo de uso da luz artificial, e 27,4 % por meio da diminuição do uso de aparelhos elétricos. Apenas 6 % dos educandos afirmam economizar evitando deixar os aparelhos em “stand by”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para promover a interdisciplinaridade é necessário estabelecer um diálogo entre as diversas áreas do saber. Criar uma disciplina com temas
interdisciplinares e deixar a promoção da interdisciplinaridade a cargo de apenas um educador e seus alunos não é suficiente.
Não se deve buscar o professor polivalente para alcançar a
interdisciplinaridade, e sim a colaboração integrada de diferentes especialistas que trarão a sua contribuição para a análise de um determinado tema.
Portanto, para que haja interdisciplinaridade é preciso um envolvimento de todo o corpo docente e discente, numa busca pela interligação das diversas
disciplinas que compõem o currículo do ensino médio.
A escola de nível médio é um campo que interfere no comportamento do educando, este estudante passa por uma fase na qual há três preocupações centrais: o término do ensino médio, o ingresso no mercado de trabalho e a preparação para ingressar numa faculdade pública. Ao ter uma passagem por um programa de educação ambiental o aluno não sente a necessidade de promover uma mudança em seus hábitos, pois preservar o ambiente parece não auxiliá-lo a ingressar na faculdade.
Outro fator que também influencia negativamente não só o comportamento dos alunos em relação ao uso de energia, mas o de todo cidadão, é o consumismo presente na sociedade atual.
A educação deve dar ao educando a capacidade de criticar e modificar o mundo em que vive. A educação ambiental deve promover esta libertação, de forma que o aluno possa ser capaz de auxiliar na promoção de uma nova sociedade, preocupada com a preservação dos recursos naturais.
Para que a abordagem da energia, dentro de um programa de educação ambiental, seja eficiente, é necessária que ela seja tratada com toda a sua complexidade, com o intuito de dar aos educandos uma visão ampla sobre o
assunto. A educação ambiental precisa tratar os seus temas de forma mais ampla, com o intuito de discutir toda a complexidade envolvida nos mesmos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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FILHO, Kepler de Souza Oliveira; SARAIVA, Maria de Fátima Oliveira. O Sol –
a nossa estrela. Disponível em <http://astro.if.ufrgs.br/esol/esol.htm>.
Acessado em 15/09/2010.
FURRIELA, Rachel Biderman. Educação para o consumo sustentável. Ciclo de palestras sobre meio ambiente – programa conheça a educação do
Cibec/Inep – MEC/SEF/COEA, 2001
NOGUEIRA, Luiz Augusto Horta. Auditoria Energética. In: MARQUES, Milton; HADDAD, Jamil; MARTINS, André R. S. (coordenadores). Conservação de
energia: eficiência energética de equipamentos e instalações. Itajubá, MG:
FUPAI, 2006.
MARQUES, Milton; HADDAD, Jamil; MARTINS, André R. S. (coordenadores).
Conservação de energia: eficiência energética de equipamentos e instalações. Itajubá, MG: FUPAI, 2006.
SARDELA, Antonio. Química – volume único. São Paulo: editora Ática, 2004. SILVA JR., C.; SASSON, S.. Biologia: volume 1. São Paulo: editora Saraiva 2005.
SHEIDT, Paula. Aquecimento solar vira lei no Rio de Janeiro. Disponível em <http://www.rts.org.br/noticias/destaque-4/aquecimento-solar-vira-lei-no-rio-dejaneiro>. Acessado em 15/09/2010.