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A A ÁLISE DAS RELAÇÕES I TERPESSOAIS DE CRIA ÇAS ATLETAS DA MODALIDADE DE GI ÁSTICA RÍTMICA ATRAVÉS DA TEORIA DE ORBERT ELIAS

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A AÁLISE DAS RELAÇÕES ITERPESSOAIS

DE CRIAÇAS ATLETAS DA MODALIDADE DE GIÁSTICA RÍTMICA ATRAVÉS DA TEORIA DE ORBERT ELIAS

Caçola, Priscila Martins** Mascarenhas, Luís** Nunes, Gabriel Ferreira** Marchi Jr., Wanderley * Mestrado em Educação Física - UFPR

ITRODUÇÃO

“A Ginástica Rítmica é uma modalidade desportiva essencialmente feminina que se fundamenta na expressividade artística. É conceituada como busca do belo, uma explosão de talento e criatividade, em que a expressão corporal e o virtuosismo técnico se desenvolvem juntos, formando um conjunto harmonioso de movimento e ritmo.” (Laffranchi, 2001, p. 3)

Sistematizada século passado por Rudolfo Bode, surgiu de diversas influências em diferentes ramos da cultura humana, como a dança, a ginástica, o circo e a música. Era a Educação Física destinada a desenvolver a beleza e a força das mulheres, criando um sentido rítmico através da música ligada ao movimento corporal. No Brasil podemos citar Érica Saur¹ como pioneira, seguida por Ilona Peuker².

Considerado um dos mais belos esportes da atualidade, juntamente com a Ginástica Artística, a Ginástica Rítmica se divide nas categorias individual (1 ginasta) e conjunto (5 ginastas). As provas de individual têm duração de 1’15” à 1’30” e o conjunto de 2’15” à 2’30”, sendo realizadas sob músicas instrumentais. A ginasta utiliza a maior variedade de exercícios neste tempo, com elevadas dificuldades corporais e riscos nos movimentos dos aparelhos, em sincronia com a música.

* Professor Doutor do Mestrado em Educação Física - UFPR *** Mestrandos em Educação Física – UFPR

¹ Autora do livro “Ginástica Rítmica Escolar”

² Autora do livro “Ginástica Rítmica com Aparelhos”. Os campeonatos brasileiros na categoria conjuntos até hoje levam seu nome.

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São 5 os aparelhos utilizados na GR: corda, arco, bola, maças e fita. Na iniciação e na categoria infantil (até 12 anos) é utilizado o exercício à “mãos livres”. Este último é o primeiro contato da criança com a ginástica, sendo que os aparelhos são desenvolvidos ao longo do treinamento de desenvolvimento da ginasta.

Em Curitiba existe um trabalho desenvolvido pela Aginarc – Associação Curitibana de Ginástica Rítmica - que visa o treinamento de ginastas para as competições de alto nível. A seleção das integrantes da equipe faz-se através de um campeonato interno entre os pólos que esta associação mantém em clubes e escolas curitibanas.

Nesta seleção são escolhidas doze crianças entre sete a dez anos que se destacam em cada pólo, sendo que a partir deste momento elas iniciam no treinamento, onde treinam e convivem três vezes por semana das 13:30 às 18:00 hs, sob a responsabilidade de uma técnica e duas auxiliares técnicas. Este grupo é chamado de Treinamento Nível 1 (Tn1).

A partir da sociologia das figurações de Norbert Elias, buscou-se analisar e questionar as relações entre dois conjuntos que fazem parte desta determinada equipe, chamada de Tn1, supostamente um com mais potencial competitivo que o outro. O foco de análise partiu dos conceitos de padrões mutáveis de interdependência, as relações de poder e trechos do livro “Estabelecidos e Outsiders”.

Depoimento da técnica do Tn1:

“ Este grupo de doze meninas foi dividido em dois conjuntos, um conjunto tem seis meninas, cinco titulares e uma reserva, então a gente dividiu, pra ficar melhor, eu tenho duas auxiliares, né, e pra ficar mais fácil o meu trabalho e o trabalho delas eu peguei um conjunto melhor, o conjunto que foi montado com as seis melhores meninas, pra ganhar, né, porque o meu objetivo é ganhar a competição, que chama campeonato paranaense ível II, que vai ser em novembro, no final do ano, e o outro conjunto, que é um pouquinho mais fraco, eu deixei com as duas auxiliares.”

“Eu peguei as seis melhores nas capacidades físicas que são necessárias para a

ginástica, e outras coisas que são fundamentais, como o biótipo: na ginástica rítmica se não for magra não tem vez, o visual na quadra do collant é muito importante. ão posso dizer que

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escolhi as seis que tem mais raça no treino, porque todas tem, as doze. Eu demorei dois meses pra selecionar, só observando os treinos, como elas evoluíam, e depois desse tempo eu cheguei a conclusão de quais eram as seis melhores para se formar um conjunto mais único, que fazem dificuldades corporais difíceis, conjunto que eu montei para brigar pela medalha de ouro.... Já que tem as outras seis meninas vamos montar outro conjunto, elas também tem garra, só que não tem o talento necessário, elas vão melhorar, vão chegar no melhor que elas podem, mas não vão chegar no máximo que a ginástica pede ... elas também tem direito de competir, elas vão fazer o melhor possível.”

Como se pode observar, estes dois conjuntos foram constituídos pela técnica, sendo que o “melhor” conjunto é chamado de “SURF”³ e o outro “complementar” é chamado de “CHICAGO”4.

PROCEDIMETOS METODOLÓGICOS

Cada atleta foi entrevistada individualmente, sendo vinte e uma perguntas que questionam as relações de um conjunto com o outro. Também a técnica e as duas auxiliares foram entrevistadas separadamente. As entrevistas foram filmadas no local dos treinos num ambiente isolado, no dia três e cinco de maio de 2004. As perguntas foram constituídas buscando saber o quê as integrantes de um conjunto pensavam sobre o outro e qual a posição da técnica e das auxiliares sobre os dois conjuntos.

AÁLISE

Em sua tese Cidade (2003) cita uma introdução à teoria elisiana:

“Sociologia figuracional é a teoria proposta por Elias em que os conceitos de configuração e

interdependência formam a base para o entendimento de sua tese. O conceito de configuração refere-se à

“teia de relações de indivíduos interdependentes que se encontram ligados entre si a vários níveis e de diversas maneiras” (ELIAS; DUNNING, 1992, p. 25). A noção de interdependência desenvolvida por ele está ligada à idéia de que nós fazemos parte uns dos outros. Fazer parte uns dos outros significa que não

³ O nome vem em referência a música que é realizado o conjunto, que lembra as ondas do mar.

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existe eu sem tu, sem nós, sem ele, que cada pessoa singular é um elo na cadeia de relações que ligam as pessoas umas às outras, uma verdadeira rede de relações ou um todo relacional. Viver juntos, em dependência mútua, é uma condição básica para todos os seres humanos” (Elias, 1994, apud Cidade, 2003).

A equipe em questão, o Tn1, é um exemplo de configuração pela qual verificamos as interdependências entre as atletas, entre os dois conjuntos e a relação das atletas com a técnica e as suas auxiliares. Nesta configuração, foi possível verificar conceitos como o padrão mutável de interdependência, através de uma atleta (B.) que estava no conjunto do CHICAGO e foi mudada para o SURF, pela escolha da técnica. Esta mudança não foi aleatória, mas sim decorrente desta atleta ser a melhor do conjunto Chicago. Assim confirma-se que configurações não são rígidas e sim alteradas. Já o conceito de poder, que é uma característica estrutural das relações humanas, não é pessoal e manifesta o desequilíbrio de potências buscando o equilíbrio é verificado quando é perguntado à cada criança se elas falam ou o que pensam do outro conjunto, e é unânime a resposta que um conjunto não fala do outro, além de não ter uma opinião formada sobre a situação em geral.

Sobre isso, temos os depoimentos:

O que vocês conversam sobre o outro conjunto?

Meninas do Chicago

(C., 8 anos): -Não, não pode.

(L., 8anos): -Que é bem bonito. Música legal.

(A., 8 anos): - Elas são boas. Bem falar mal não falamos, né. ão falamos delas.

Meninas do Surf

(B., 8 anos): - Que é legal que a gente gosta.

(E., 8 anos): -Ele também é legal. A música é muito legalzinha e que ficou muito bonito. Penso que quando for para o campeonato com certeza vai voltar com uma medalha. Gosto.

( G., 8 anos): -Que elas fazem bem. Só a C. que faz com o pé frouxo.

Numa conversa informal com a técnica percebemos que é estabelecido para as crianças que um conjunto não fale sobre o outro, além de não ser explícito que um conjunto é melhor que o outro, apenas a técnica e as auxiliares sabem disso. As meninas não sabem que um conjunto é melhor que o outro, pois o que é passado pela técnica é que os dois conjuntos fazem parte da

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mesma equipe, então os dois treinam juntos, sem competir entre si. Norbert Elias explicita bem a relação que as crianças tem com pressão e coação exercidas pelos adultos no processo civilizador. (Elias, 1994)

Depoimento das auxiliares técnicas:

“As meninas do surf estão num nível mais elevado, então elas conseguem fazer mais

exercícios e melhor, as meninas do Chicago, tem que trabalhar mais.”

Para Elias (1994, p. 134), no seu livro “O Processo Civilizador”:

“Uma vez que a pressão e coação exercida por adultos individuais é aliada da pressão e exemplo de todo o mundo em volta, a maioria das crianças, quando crescem, esquece ou reprime relativamente cedo o fato de quê seus sentimentos de vergonha e embaraço de prazer e desagrado são moldados e obrigados a se conformar a certo padrão de pressão e compulsão externas.”

Apesar de haver claramente a relação de poder da técnica sobre as atletas encontramos em alguns trechos indícios de uma relação explicada por Elias em seu livro “Os Estabelecidos e Outsiders”, “que se definem na relação que as nega e que as constitui como identidades sociais. Os indivíduos que fazem parte de ambas estão, ao mesmo tempo, separados e unidos por um laço tenso e desigual de interdependência.” Podemos relacionar o grupo estabelecido ao conjunto do “Surf”, por ter mais “potencial técnico”, e o grupo outsiders ao conjunto do “Chicago”, devido a ser mais “fraco”, as que não foram escolhidas para o melhor conjunto. Na p. 37 deste livro, temos que:

“Os grupos ligados entre si sob a forma de uma configuração de estabelecidos-outsiders são compostos de

seres humanos individuais. O problema é saber como e por que os indivíduos percebem uns aos outros como pertencentes ao mesmo grupo e se incluem mutuamente dentro das fronteiras grupais que estabelecem ao dizer“ nós, enquanto, ao mesmo tempo, excluem outros seres humanos a quem percebem como pertencentes a outro grupo e a quem se referem coletivamente como “eles”.”

Quando foi perguntado às meninas do Chicago se elas gostariam de mudar de conjunto todas responderam que não, mas na fala de A. – “Não. Porque lá no outro conjunto as meninas são melhores e acho que eu não conseguiria” consegue-se perceber o porquê, que é a condição de não estar no nível técnico do conjunto tido como “melhor”. Entretanto, no conjunto do SURF

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nenhuma das meninas gostaria de mudar de conjunto porque percebem, mesmo que não explicitamente, a diferença do CHICAGO em relação ao seu conjunto. Para comprovar temos o depoimento:

E., 8 anos, considerada a melhor do conjunto SURF pelas próprias colegas.

• Você gostaria de mudar de conjunto? Por quê? Não, porque eu gosto do jeito que ele está.

• E quem faz parte do Surf você acha que muda para o Chicago? Não, acho que não. • E quem está no Chicago consegue mudar para o Surf? Acho.

• Por que, o Surf é mais difícil ou mais fácil? É mais cheio de dificuldades. O Chicago é mais cheio de dança.

Temos ainda este outro depoimento de:

S., 8 anos- SURF

• Você gostaria de mudar de conjunto? Por quê? Não ... porque o meu é legal. • Você não falou que o outro também é legal? É, mais eu gosto mais do meu. • O que você precisa fazer para ficar neste conjunto? Ser melhor.

• Por que o outro conjunto não é melhor? Ah, ... não sei. • Quem está no outro conjunto não é melhor? Não. • E o que elas são? São mais ou menos.

COCLUSÃO

É importante apontar que Elias não tem uma visão estática dessas configurações e busca captá-las em contínuo processo de constituição e transformação. Nesse sentido, configurações não podem ser planejadas, programadas ou previstas porque são construídas e redimensionadas o tempo todo. A análise proposta procurou relacionar a teoria elisiana com uma equipe de ginástica rítmica, buscando a afirmação de alguns conceitos formulados por Norbert Elias. Foi avaliada a situação atual do grupo, mas deve-se ter em mente que, como Elias mesmo coloca em seu livro Estabelecidos e Outsiders (2000, p. 57): “Os modelos e os resultados das pesquisas de configurações fazem parte de um processo, de um campo crescente de investigação,`a luz de cujo

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desenvolvimento estão eles mesmos sujeitos a revisões, críticas e aperfeiçoamentos, fruto de novas investigações.”

Referências

CIDADE, Ruth Eugênia Amarante. Tese de Doutorado. Atletas Paraolímpicas: Figurações e Sociedade Contemporânea. Campinas, 2003.

ELIAS, Norbert. O processo civilizador Volume 1: Uma História dos Costumes. Jorge Zahar Ed., 1994, Rio de Janeiro.

ELIAS, Norbert. Os estabelecidos e os outsiders: sociologia das relações de poder a partir de uma pequena comunidade. Jorge Zahar Ed., 2000, Rio de Janeiro.

LAFFRANCHI, Barbara. Treinamento Desportivo aplicado à ginástica rítmica. Londrina: Unopar, 2001.

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PÁGIA DO AUTOR

Priscila Martins Caçola

Mestranda em Educação Física – Universidade Federal do Paraná Rua: Bispo Don José, 2231, apto 31, Bairro Batel – Curitiba – Paraná

CEP: 80440-080

Fones: (41) 3016-1187/ 9908-44437/ 333-6216

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