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ESTADO PENAL: UM PARADOXO DO SISTEMA PRISIONAL 1 CRIMINAL STATE: A PARADOX OF THE PRISON SYSTEM

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Academic year: 2021

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ESTADO PENAL: UM PARADOXO DO SISTEMA PRISIONAL1

CRIMINAL STATE: A PARADOX OF THE PRISON SYSTEM

GUSTAVO HILÁRIO DOS SANTOS2

LUANA DOS SANTOS FREITAS3

MÁRCIA BARBOSA DE SOUSA4

RANIELLE MACHADO DA SILVA 5

RESUMO:

O presente artigo tem como objetivo analisar a forma como a qual o Estado exerce o poder e o controle social sobre corpos apenados reclusos no sistema prisional. Abordar alguns elementos sociais, econonômicos, políticos e culturais enquanto constituintes da vida cidadã dos trabalhadores. Inferir na questão do acirramento das relações sociais, consequência da concentração de renda, pela minoria da população, enquanto a maioria enfrenta a mazela do extermínio numa vertical, umas das características imediatas do chamado capitalismo/racismo da barbérie social posta. Buscar compreender como o ser social apenado condicionado à restrição de liberdade, acaba exposto à vunerabilidade social, violações de direitos, mesmo sob tutela do Estado. A pesquisa tenta aprofundar essa realidade sócio-histórica com gênese no período colonial patrimonialista, coronelista, oligarca, calcada na escravidão, barbárie que ainda reflete a sociedade brasileira periférica. É nesse contexto que a política pública de encarceramento punitivista deve ser estudada, revista e transformada em política social humanitária, estruturada nos princípios dos Direitos Humanos.

Palavras-chaves: direitos sociais; liberdade; sociedade; biopoder; encarceramento. ABSTRACT:

This article aims to analyze the way in which the State exercises power and social control over imprisoned bodies in prison in the prison system. It addresses some social, economic, political and cultural elements as constituents of workers' citizen life. It infers the question of the intensification of social relations, a consequence of the concentration of income, by the minority of the population, while the majority faces the malaise of extermination in a vertical, one of the immediate characteristics of the so-called capitalism / racism of the social barbarity. It seeks to understand how the sentenced social being conditioned to the restriction of freedom, ends up exposed to social vulnerability, violations of rights, even under the tutelage of the State. The researcher tries to deepen this socio-historical reality with its genesis in the colonial patrimonialist period, coronelista, oligarch, based on slavery, barbarism that still reflects the peripheral Brazilian society. It is in this context that the public policy of punitive punishment must be studied, revised and transformed into a humanitarian social policy, structured on the principles of Human Rights.

Keywords: Social rights; freedom, society, biopower; incarceration.

1Elaboração: acadêmicos(as) do 8º período do curso de graduação em Serviço Social da Faculdade Unida de

Campinas - FacUNICAMPS , sob orientação do Professor Bacharel e Mestre em Serviço Social e Doutor em Ciências da Religião Dr. Antônio Cesar Martins Lopes

2 Acadêmico do 8º período do Curso de Serviço Social – FacUnicamps. E-mail: gustavohilario1997@gmail.com 3 Acadêmica do 8º período do Curso de Serviço Social –FacUnicamps.E-mail: luanna.sfreitas@gmail.com 4 Acadêmica do 8º período do Curso de Serviço Social – FacUnicamps. E-mail: marcia.sousa.ss@hotmail.com 5 Acadêmica do 8º período do Curso de Serviço Social – FacUnicamps. E-mail: ranielle485@gmail.com

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INTRODUÇÃO

O presente artigo expõe a discussão conjuntural, com relação o Brasil ocupar a terceira colocação mundial no que tange à catástrofe humana à qual remota a maior população carcerária do mundo. A mazela/retrato social é publicada pelo Sistema de Infomações Estatísticas do Sistema Penitenciário Nacional Brasilerio (Infopen). Para a realização do trabalho foi necessário uma pesquisa bibliográfica através de um olhar decolonial e dialético para suscitar a cotextualização histórica do período colonial/contemporâneo ponto crucial na ligação do racismo e sistema carcerário, visto que:

Este ensaio pressupõe que a expressão máxima da soberania reside, em grande medida, no poder e na capacidade de ditar quem pode viver e quem deve morrer. Por isso, matar ou deixar de viver constituem os limites da soberania seus atributos fundamentais. Ser soberano é exercer controle sobre a moralidade e definir a vida com a implantação e a manifestação do poder (MBEMBE, 2018, p. 5).

No âmbito da arena do sistema prisional, a proposta da reconstrução do sujeito se transforma no reverso, pois esse mesmo sistema passa a ser adotado enquanto política pública do Estado, a saber que Estado retrata informação. O Estado que encarcera, exclui, marginaliza sujeitos sociais retratados na população carcerária de maioria negra alijada do convívio social e mercado de trabalho, fomenta o aumento da desigualdade social, da violações de direitos, ainda da degradação humana. Sendo que a função do Estado é garantir a lei maior, na garantia dos princípios fundamentais, do artigo 3° que constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, da Constituição Federal de 1988:

I - Construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - Garantir o desenvolvimento nacional;

III - Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir desigualdades sociais e regionais;

IV - Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras forma de discriminação.(BRASIL, CF/1988).

È neste sentido que o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) trata de entender/aprofundar a questão sociopolítica sobre a forma com a qual o Estado atua

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com relação à população, no caso desta empiria, aquela encarcerada, sob domínio do poder que estabelece a milhares de muitos, o controle social estruturado na desigualdade e injustiça social. Em artigo publicado para o portal Geledés, Leonardo Boff ilustra “democracia e capistalismo não convivem. E se ela se instaura dentro da ordem capitalista, assume formas distorcidas e até traços de farça. Onde ela entra, estabelece imediatamente relações de desigualdade que, no dialeto da ética, significa relações de exploração e de injustiças” (PORTAL GELEDÉS, 2014).

Para a melhor compreensão da escrita apresentamos a sociedade brasileira estruturada nos princípios constitucionais inviolavéis, garantidos pela Constituição Cidadã, promulgada em 1988. Dentre os direitos nela estabelecidos, enquanto garantia fundamental, a exemplo, o que proíbe as penas cruéis, posto e publicado na forma do art. 5º, XLVII, CF/88, o qual garante ao cidadão-preso o respeito à integridade física e moral, descrito no art, XLIX, CF/88 “é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral (BRASIL,1988).

XLVII - não haverá penas:

a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84; b) de caráter perpétuo;

c) de trabalhos forçados; d) de banimento;

e) cruéis; (BRASIL, CF/1988).

A pesquisa também decorre de leitura do Código de Ética do/a Asssitente

Social e seus Principíos Fundamentais, que norteam não somente a profissão, mas

o trabalho pesquisado para fundamentação da pesquisa, a qual busca compreender, pela ótica do Serviço Social brasileiro, as possibilidades de equidade social, fato elucidado a partir da importância do assistente social enquanto agente de transformação.

Um último interesse, o de conhecer as normas jurídicas brasileiras com ênfase na Lei de Execução Penal (LEP, 1984), que estabelece princípios a ressocialização do apenado.

A metodologia utilizada pela pesquisa é qualitativa, por meio de pesquisas bibliográficas, utilizando a literatura atual, artigos científicos, livros e autores ligados à questão prisional, e metodologia a qual mostrou-se um espaço de reflexão, fomentando a discussão crítica do tema proposto.

O trabalho está divido em cinco momentos para ilustrar o objeto de estudo pesquisado, sendo a primeira discussão “Necropolítica: o reflexo do sistema prisional”, sobre as nuances acadêmico-políticas que engendram o conceito da

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necropolítica, ou seja, a relação intrísica entre o poder e a morte. No segundo momento, “A Privatização: processo de desumanização do sistema prisional”, numa análise do ambiente propício para que as corporações globais que se utilizam das prisões como fonte para redimentos lucrativos. O terceiro tópico, “Lei de Execução Penal, Serviço Social e Sistema Carcerário”, observa o processo penal e a população encarcerada no País, tornando uma perspectiva relevante para o Serviço Social na instituição prisional. Por último será discutido O Projeto Ético-Político do Serviço Social: o processo de reflexão crítica sobre a atuação profissional nos espaços sócio-ocupacionais do sistema prisional, ações e contradições da profissão no processo de atendimento à população encarcerada.

A compreensão dessa pesquisa poderá contribuir na mudança da política estrutural, porquanto a realidade prisional remete ao processo de exclusão do povo negro de acesso às políticas públicas e direitos sociais, elemento histórico que se torna problema do Estado, também um problema social, provocado pela desigualdade social.

1.NECROPOLÍTICA: O REFLEXO DO SISTEMA PRISIONAL

Ao tratarmos sobre o sitema prisional, fruto de um passado escravocrata em território brasileiro, abordaremos em questão o conceito de necropolítica “Que é o poder de ditar quem pode viver e quem deve morrer. Com base no biopoder e em suas tecnologias de controlar populações, o ‘deixar morrer’ se torna aceitável. Mas não aceitável a todos os corpos. O corpo ‘matável’ é aquele que está em risco de morte, a todo instante, devido ao parâmentro definidor primordial de raça” (MBEMBE, 2018. p. 5).

A discussão das nuances acadêmico-políticas as quais engendram o conceito da necropolítica, ou seja, a relação intrísica entre poder e morte. De forma mais aprofundada, no que remota a escrita, trazendo ao centro da reflexão político-econômico e cultural a discussão sobre modos e formas pela a quais o poder, em suas mais diversas formas e artimanhas de articulação, apropria da morte como objeto de gestão.

O Estado é responsável pelas punições estabelecidas aos detentos, no entanto, o sistema imposto - dentro da prisão - é contraditório por ser ambiente de violência.

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Estampado nos jornais e noticiários cotidianos, como o presídio de Odenir Guimarães em Aparecida de Goiânia, na ala do semiaberto, em janeiro de 2018, teve o saldo de 240 presos fugitivos e nove mortos, resultado de ação expressa de violência como principal mecanismo de controle (Jornal O Popular, janeiro, 2018)

No que refere à afirmativa (MBEMBE, 2018, p. 6), esclarece que o poder não só apossa da vida e suas formas de ser, estar e poder, como também limita, a partir do ato legal de estabelecer nomas com a relação ao viver, agir, conduzir as mais variáveis dimensões políticas, culturais e econômicas relacionadas ao corpo do trabalhador.

Ao longo de séculos o sistema de dominação e punição do trabalhador pobre vem se reconfigurando, fazendo surgir novas tecnologias que fomentam o controle social por parte do Estado. Isso, com o fim de punir, de forma violenta, os corpos apenados ao encarceramento.

Não se deveria dizer que a alma é uma ilusão, ou um efeito ideológico, mas afirmar que ela existe, que tem uma realidade, que é produzida permanente, em torno, na superfície, no interior do corpo pelo funcionamento de um poder que exerce sobre os que são punidos, de uma maneira mais geral sobre os que são vigiados, treinados e corrigidos, sobre os loucos, as criaças, os escolares, os colonizados sobre os que são fixados a um aparelho de produção e controlados durante toda a existência” (FOUCAULT, 1987, p. 31)

Com relação ao processo histórico do País, depara a pesquisa sobre a privação da liberdade, no que retrata a grande maioria a revelar pessoas negras, advindas da base da pirâmede social, a qualabriga o exército industrial de reserva (MARX,1989) desde o imperialismo colonial.

O racismo estrutura as relações de desigualdes sociais no sistema penitenciário, a prisão caracteriza instituição punitiva a legetimar o Estado Penal. Para ilustrar o processo de manutenção das desigualdades étnicas, a pesquisa apresenta dados do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN):

Além da precariedade do sistema carcerário, as políticas de encarceramento e aumento de pena se voltam, via de regra, contra a população negra e pobre. Entre os presos, 61,7% são pretos ou pardos. Vale lembrar que 53,63% da população brasileira têm essa característica. Os brancos, inversamente, são 37,22% dos presos, enquanto são 45,48% na população em geral [...] 75% dos encarcerados têm até o Ensino Fundamental completo, um indicador de baixa renda (BRASIL, 2018, s/p).

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reconstrói a gênese efetiva da realidade vivida pode, de fato, ter poder de convencimento” (SOUZA, 2017, p. 13). Com base nos dados estatísticos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 61,7% da população carcerária, no Brasil, são autodeclarados pretos ou pardos. Esses dados evidenciam o sistema de justiça criminal em profunda ligação com o racismo, cujas engrenagens são perpassados pela estrutura de opressão.

Sendo assim, a população carcerária, em sua maioria, negra, está dividida/excluída da sociedade sobre um sistema de aparthaid social, passando pela vigilância e controle territorial no qual a população prisional está subjugada a condições de extremada vunerabilidade social.

Que a “raça” (ou, na verdade o “racismo”) tenha um lugar proeminente na racionalidade própria do biopoder é inteiramente justificável. Afinal de contas, mais do que o pensamento ( a ideologia que define a história como uma luta de econômica de classes), a raça foi a sombra sempre presente no pensamento e na práticas das políticas do Ocidente, especialmente quando se trata de imaginar a desumanidade de povos estrangeiros- ou a dominação a ser exercida sobre eles (MBEMBE, 2018, p. 18)

Ao remeter o tema de investigação ao passado colonial brasileiro, a historicidade da população negra revela realidade a qual, ainda nos dias atuais, retrata a negação de direitos sociais explicitados na negação de acesso à saúde, moradia, educação, lazer, maternidade e direito à vida, expostos na CF/1988 em seu “artigo 6º - Capítulo II – Dos Direitos Sociais “ (BRASIL, 1988).

O perfil social destes sujeitos em privação de liberdade evidencia o reflexo sociopolítico econômico do passado escravocrata. É óbvio o caráter político do sistema de justiça engendrado por uma série de constitutivos legais e regulações reforçadas no estigma social imposto aos reclusos enquanto determinação histórica. As prisões têm revelado aparato fundamental a manipular direitos de grupos sociais indesejados, arena reprodutora de desumanidade.

Além da privação de liberdade, ser encarcerado significa a negação de uma serie de direitos e uma situação de aprofundamento de vulnerabilidades. Tanto o cárcere quanto o pós-encarceramento significam a morte social desses indivíduos negros e negras que, dificilmente, por conta do estigma social, terão restituído o seu status, já maculado pela opressão racial em todos os campos da vida, de cidadania ou possibilidades de alcançá-la. (BORGES, 2020, p. 22).

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manutenção do encarceramento em massa, vemos como a lógica do capital de punição se estrutura como poder de Estado (gestão política).

Diante do processo de desigualdade social imposto pelo Estado burguês, que ultiliza do cárcere como mecanismo de punição e manutenção da ordem elitista a fomentar a lógica de exploração do capital sob a força de trabalho, maioria destinada à punição, os reflexos multifacetados em expressões sociais cotidianas a revelar a arena caótica da prisão brasileira. O sistema de justiça criminal, em cores, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), retrata o poder público enquanto poder de mando embranquecido:

-84,5% dos juízes, desembargadores e ministros do Judiciário são brancos, 15,4% são negros e 0,1% indígenas;

-69,1% dos servidores do Judiciário são brancos, 28,8% negros e 1,9% “amarelos”;

- 67% da população prisional é negra (CNJ, 2014).

Os dados revelados apontam a realidade na qual a Política Criminal estabelece a condição de punição da consequente violência do Estado. A política criminal traduz mecanismo de imposição do poder estatal a selecionar grupos a serem penalizados, ao que a ciência da pesquisa conceitua “criminalização”.

Segundo Zaffaroni na sua obra Em busca das penas perdidas: “Se desarma ao mais leve toque com a realidade, noutro eixo, a criminologia crítica construiu um discurso deslegitimante de prisão, a partir de suas funções reais e de sua eficácia invertida, que é notória na realidade prisional nacional, onde são verdadeiros depósitos de seres humanos” (ZAFFARONI, 2001, p. 12)

Sob a magnitude da política criminal revelam-se os fossos da sociedade através da organização punitiva, extremamente vertical, constituída e operada por agentes que pouco ou nada conhecem ou lidam com a realidade dos grupos que colidem com essa política, desta feita, na posição de julgadores.

De acordo com Ribeiro: “Apesar da associação da pobreza com a negritude, as diferenças profundas que separam e opõem os brasileiros em extratos flagrantemente contrastantes são de natureza social/racial” (RIBEIRO, 2006, p. 15).

Sobre o tema.

A prisão foi pensada e construída pela elite para pobres e não para ricos, uma vez que nossa cultura barroca, de fachada, com base na conquista, exclui índios, camponeses no campo e, na cidade, migrantes, favelados, encortiçados, sem teto, em uma fenomenologia bastante conhecida, a fenomenologia dos desfiliados (ANDRADE e FERREIRA, 2015, p. 117).

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O fato, histórico, significa relegar o colonizado a uma zona, entre o estatuto de sujeito e objeto, fenômeno social que para Frantz Fanon em sua obra Pele negra,

máscaras brancas, há uma maneira espantosa de promoção da espacialização da

ocupação colonial. A ocupação implica, acima de tudo, uma divisão de espaço e compartimentos a envolver a definição de limite das fronteiras internas, ou seja, a cadeia enquanto arena de segregação social.

Com está inlustração Davis aponta : “Essas prisões representam a aplicação de uma moderna e sofisticada tecnologia inteiramente dedicada à tarefa de controle social, que isolam, regulam e monitoram” (DAVIS, 2020, p. 54)

Neste mesmo cenário, a despeito da 6fake news de que pessoas negras cometem mais crimes, há trabalhos cíentíficos que questionam este alarde de senso comum racializado, propagados por setores da sociedade, o que explicita a estrutura de privilégios que se constitui na sociedade brasileira, na qual são formados vínculos, ainda na lógica colonial, a qual perpetua, de modo atualizado, o sistema de classificação e hierarquização racial por cor no País.

Para o professor e filosófo, Jessé Souza: “Essa leitura do processo de modernização brasileira como um processo inautêntico, tendo algo de epidérmico e pouco profundo, é certamente uma das bases do nosso culturalismo racista.” (SOUZA, 2017, p. 59).

Esta escrita anuncia a realidade da classe trabalhadora, 7precariat (BAUMAN, 2017) a qual aloja na base da pirâmide social, marcada por opressões vivenciadas pelo apenado, neste caso, apartado da sociedade na prisão, locus no qual destaca-se a cooptação do sujeito/trabalhador pela lógica capital x trabalho. Trazendo para o centro da reflexão a inquietude surge o questionamento: - Será que as prisões estão sendo e podem ser consideradas espaços de ressocialização? A arena panóptica é o único meio possível de alcance da “ressocialização”? O que significa ressocializar em meio à sociedade competitiva da Era Pós?

6 conceito de fake news de acordo com Allcott e Gentzkow 2017, p.213 (apud BRISOLA, 2018, p. 3323

), “é a de sinais distorcidos e desconectados da verdade, que dificultam a visão da verdade ou do estado verdadeiro do mundo. Artigos ou informações com características de notícias intencionalmente e verificadamente falsos, que possuem a intenção deliberada de enganar os leitores. São notícias fabricadas, com características jornalísticas, mas antecipadamente pensadas para a manipulação e descoladas da verdade”

7Podemos desvelar que o termo “precariat” se traduz como forma de referenciar a uma categoria de

classe social, na qual vivencia a precarização em suas relações de trabalho e vida social.

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A fomentar o tema pesquisado, no proximo tomo, a pesquisa aborda o sistema prisional na condição de controle social a cooptar o sujeito/trabalhador por meio da lógica capital x trabalho. Diante das privatizações do cárcere como sistema de punição e acumulação flexível do capital permeia as expressões da questão social enquanto mote inseparavél da logística de sociedade fomentada a partir do sistema de produção capitalista.

Para Angela Davis o nome de complexo industrial-prisional, apresentado e discutido em sua obra Estarão as prisões obsoletas?, remota a contribuições acerca do tema da prisão com relação ao qual a autora aponta a crescente proliferação, privatização, fomento na promessa do lucro, logística capitalista adotada a partir do sistema carcerário manipulado nos Estados Unidos da América do Norte (USA).

2.PRIVATIZAÇÃO: A DESUMANIZAÇÃO DO SISTEMA PRISIONAL

8No sentido de aprofundar a pesquisa a questão das engrenagens do capital as quais funcionam, a partir das privatizações do cárcere, a revelar o modelo de privatização o qual se organiza a partir da punição, dinâmica na qual a ativista social americana, Angela Davis entende como Complexo Industrial-Prisional, realidade posta, sobretudo, nos Estados Unidos.

A autora percebe em seus escritos a expansão dos complexos prisionais, tornando as indústrias privadas nas prisões verdadeiros negócios para o mercado, a propiciar um cenário de interesse, contradições e aprofundamento das desigualdades e injustiças sociais, com a exploração da força de trabalho dos sujeitos ali instalados em privação de liberdade:

O termo complexo industrial-prisional foi introduzido por ativistas e estudiosos para contestar a crença predominante de que o aumento dos níveis de criminalidade era a principal causa do crescimento das populações carcerárias. Na realidade, argumentaram a construção de prisões e a eventual necessidade de ocupar essas, novas estruturas com corpos humanos foram guiadas por ideologias racistas e pela busca desenfreada de lucro” ( Davis, 2020, p. 91-92).

Angela Davis em seu livro Estarão as prisões obsoletas?, dialoga sobre a perspectiva do exército do complexo industrial das prisões, ou seja, mão de obra não assimilida, em liberdade e em conforme com as relações produtivas engendradas na

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sociedade moderna, e que, agora, vão servir a empresas privadas que instalam na prisão a expropriar o trabalhador em troca da remissão de pena.

Aprofundando o mote da discussão proposta, o crescimento do encarceramento nos Estados Unidos abriu ambiente propício para que as corporações globais passassem a utilizar das prisões como fonte de redimentos lucrativos. Neste mesmo espaço de tempo, pesquisadores e ativistas passaram a tecer a critica com relação ao complexo industrial-prisional o qual é estritamente ligado à uma estrutura racista.

Segundo Relatório da ONU, de 2014, o “racismo institucional” retrata que 70% dos presos são negros, os quais enfrentam risco significamente maior de encarceramento em massa, abuso policial, tortura, maus-tratos, negligência médica, ainda a possibilidade real de serem mortos pela polícia, receber sentença mais extensas que os brancos - pelo mesmo crime - sofrer discriminação na prisão. “Constata-se, assim, que quanto mais cresce a população prisional no País, mais cresce o número de negros encarcerados (SINHORETO, 2014, p. 6).

Sendo assim, as estruturas políticas e econômicas estão interligadas de forma operacional na manutenção do superencarceramento, afim de que os apenados sejam explorados, usurpando da sua mão de obra prisional pelas corporações privadas, atividade capitalista, claro, em nome do lucro.

Ambos o sistema geram enormes lucros a partir de processos de destruição social. Precisamente aquilo que é vantajoso para as corporaçoes, autoridades eleitas e agentes do governo com interesses óbvios na expanção desses sistemas é o que gera sofrimento e devastação nas comunidades pobres e racialmente domindadas no Estados Unidos e em todo mundo. (DAVIS, 2020. p. 95)

Fato histórico, o inicio dos anos 1980, no qual se deu o desenvolvimento do projeto de construção de presídios, em maior escala, constituiu meios para criar mecanismos sobre a ampliação do capital em detrimento da criação do excedente humano. O encarceramento em massa nunca trouxe soluções para conter a violência, na verdade, a indústria lucra com as consequências sociais dessa mesma violência, a continuar pela reprodução da barbárie, organizada pelo Estado.

Durante o processo de expansão do complexo industrial-prisional, a mídia foi fundamental na disseminação do discurso oficial a alardear aumento da criminalidade, este ponto da pesquisa, centrada nos Estados Unidos, tomando de

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argumentos tais a fazer crer que essa era a única maneira de promover segurança à comunidade. Neste mesmo período pesquisas revelavam o contrário, evidenciando a diminuição de crimes, mas tais sobre evidências a midia dominante persistiu a omitir noticias.

A midia, especialmente a televisao (...), tem um grande interesse em perpetuar a noção de que a criminalidade esta fora de controle. Com a nova concorrencia de redes de televisao a cabo e canais de noticia 24 horas, noticiarios e programa sobre crimes (...) proliferaram loucamente. De acordo com o Centro de Midia e Negócios Públicos, a cobertura de crimes foi o tópico número um dos noticiários noturnos na última década. De 1990 a 1998, as taxas de homicídio caíram pela metade em todo país, mas as histórias de homícidios na três principais redes de televisão aumentaram quase quatro vezes (DAVIS, 2020, p. 99)

Como afirma Foucalt em sua obra Vigiar e Punir, de 1987, “ A prisão reside no próprio espetáculo”

Para Davis “a taxa de encarceramento de prisioneiros negros continua a aumentar, ficando evidente que os corpos negros são considerados dispensáveis no “mundo livre”, mas são encarados como uma importante fonte de lucro no sistema prisional” (2020, p. 102).

O mercado atua como ameaça coletiva para obter contratos junto ao Estado, construir, administrar as prisões nos Estados Unidos, reoganizando a punição, para provimento do lucro, a prisão privada, cada vez maior, se mostra pote de ouro para os negócios excusos do capital.

Com a proliferação das privatizações das prisões americamas, há um reflexo ao redor do mundo, a exercer influência sobre o desenvolvimento de um modelo de punição estatal (global) a ser expostado a outros paises. Esse modelo de privatização aprofunda ainda mais a desigualdades e violações de direitos, sendo estes espaços de privação e isolamento local de torturas e outras formas de violência.

O sistema de privatizações acontece de forma aprofundada nos Estados nidos. No Brasil, há projetos em curso, sobre este mesmo modelo, alguns Estados brasileiros já tercerizam serviços nas penitenciárias, como e o caso do Complexo de Pedrinhas, no Estado do Maranhão. A privatização total por intermédio de parcerias público-privadas, obedece lógica que favorece o fenômeno experimentado nos Estados Unidos.

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econômico a devastar áreas sociais importantes, induzindo as comunidades ao caos social:

Como a base econômica dessas comunidades é destruída, a educação e outros serviços sociais básicos são profudamente afetados. Este processo torna homens, mulheres e crianças que vivem nessas comunidades detruídas candidatos perfeitos ao encarceramento ( DAVIS, 2020, p. 17)

Denota-se que este sistema econômico caminha para a devastação e destruição dos direitos sociais, ademais, é evidenciado que a população carcerária brasileira, na grande maioria pessoas negras, pobres, sexo masculino sofre da ausência de acesso às políticas públicas que atendam essa parcela da população.

A lógica do Estado brasileiro se funda em um Estado burguês, que atende às necessidades e desejos da classe dominante, o dono do capital (Montano, 2011).

Abolida a escravidão no País, como prática legalizada de hierarquização racial e social, vemos outros mecanismos e aparatos constituindo-se reorganizando, ou até mesmo sendo fundados, caso que vemos da instituição criminal, como forma de garantir o controle social, tendo como foco os grupos subalternizados estruturalmente. (BORGES, 2020, p. 41)

Portanto a manutençao da ordem social advém do período escravocata organizado pelo Estado, desde a falsa 9Aboliçao da Escravatura a qual sentencia corpos ao cárcere, destinado pelo e ao controle social de sujeitos apartados da dignidade e direitos humanos. Para compreendermos a leitura jurídica do sistema carcerário brasileiro e a atuação do Serviço Social no sistema carcerário, a pesquisa aborda essa discussão no próximo item.

3.LEI DE EXECUÇÃO PENAL, SERVIÇO SOCIAL E SISTEMA CARCERÁRIO

A Lei de Execução Penal (LEP), n° 7.210, de 11 de julho de 1984, foi pensada com a intuição de jurisdicionalizar a execução penal no Brasil, estabelecendo normas e regras jurídicas na quais são fundamentais para o sistema penitenciário no País.

Esta lei está para-além da aplicação de pena aos sujeitos sociais em privação de liberdade, o que exige pensar a LEP como instrumento normativo da garantia de

9 O Brasil foi um dos ultimos paises da america latina a abolir a escravidão, a abolição da escravatura

não se deu por um processo simples e benevolente dado pelos colonizadores para a libertação dos escravizados na quais muitos acreditam ainda, a abolição não foi concedideda mais sim conquistada com muito suor e sangue, foi um resultado de muita luta e resitência do povo negro a época.

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direitos ao apenado (a). O profissional de Serviço Social que atua diretamente na arena panóptica da prisão precisa ter conhecimento da Lei de Execução penal na viabilização e concretização dos direitos sociais aos internos, tendo como norte uns de seus Princípios Fundamentais no Inciso II do Código de Ética do Assistente Social a defesa intrasigente dos direitos humanos e a recusa do autoritarismo;

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Nas relações humanas o autoritarismo pode se manifestar no âmbito público, no qual a autoridade administrativa age sob milhões de cidadãos; na vida cotidiana, na qual existe a dominação de uma pessoa sobre outra por meio do poder financeiro, econômico ou pelo terror e coação (BARROCO, CFESS, 2012, p.125).

E a autora continua: “O assistente social precisa se contrapor a essas condutas autoritárias e arbitrárias impostos por autoridades superiores que violam o Código de Ética, uma vez que negam os princípios que devem ser afirmados e reafirmados em toda a atuação profissional”(CEFFS, 2012, p. 125).

De acordo com Ferreira e Oliveira (2016), a presença do assistente social nas unidades prisionais do país é mecanismo que tem o intuito de promover e assegurar a defesa dos Direitos Humanos. Por sua vez, o artigo 23 da LEP incumbe ao serviço de Assistência Social:

I - Conhecer os resultados dos diagnósticos ou exames;

II - Relatar, por escrito, ao Diretor do estabelecimento, os problemas e as dificuldades enfrentadas pelo assistido;

III - Acompanhar o resultado das permissões de saídas e das saídas temporárias;

IV - Promover, no estabelecimento, pelos meios disponíveis, a recreação; V - Promover a orientação do assistido, na fase final do cumprimento da pena, e do liberando, de modo a facilitar o seu retorno à liberdade;

VI - Providenciar a obtenção de documentos, dos benefícios da Previdência Social e do seguro por acidente no trabalho;

Nessa perspectiva, Gonçalves (2017) chama a atenção para a necessidade de destacar que o trabalho do assistente social está para além das competências dispostas legalmente, pois o mesmo está comprometido e ciente do seu projeto ético-político profissional podendo desenvolver, justamente por sua capacidade criativa e propositiva, ações que possibilitem a inclusão social.

Como ressalta Borgianni (2012, p. 167), o assistente social que atua no campo sociojurídico tem como responsabilidade dar respostas às mais diversas necessidades de proteção, sobretudo à proteção jurídica dos direitos.

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Ferrazoli e Calobriz (2009) declaram que o assistente social tem como competência promover condições de garantia dos direitos que possibilitem condições do retorno à vida social, por meio de aproximação com a família, viabilizar ou promover a inclusão no processo educacional, trabalho, dentre outros, os quais podem contribuir no novo período na vida do apenado, quando se inicia a ressocialização e os resgates dos princípios básicos da cidadania.

A assistente social no sistema prisional assegura os direitos ao apenado tendo como posicionamento a equidade e justiça social, construindo práticas humanas ao tratamento dos presos, viabilizando a concretização da defesa dos Direitos Humanos. A presença do profissional de Serviço Social na prisão contribui no sentido de ressocializar o preso em seu convívio social, como também busca garantir e assegurar os direitos que ora são violados ou ocultos, dificultando assim a ressocialização dos indivíduos na sociedade (NETA & SANTOS, 2017 s/p).

Assim, cabe ao Departamento de Tratamento Penal conduzir o trabalho técnico em todo o conjunto, expondo diretrizes e estabelecendo frentes de trabalho e aparceiramentos que garantam direitos aos apenados, direitos esses previstos pela Lei de Execução Penal- LEP (VIEGAS, 2015).

Dentre outro ponto a ser discutido Almeida (2008), ao analisar o Art. 1º da LEP, destaca dois objetivos fundamentais: o efetivo cumprimento da pena e a busca da ressocialização do indivíduo visando prevenir qualquer ato que constitua infração às leis estabelecidas; e a oferta de meios essenciais na ressocialização e a inclusão na sociedade dos apenados.

Entretanto, no que refere ao segundo, a relações sociais dos/as apenado/as deve ser levada em consideração, pois os sujeitos que teve direitos negligenciados durante o contexto histórico, tem de ser observado a partir das suas particularidades/singularidades e o Estado deve discutir o conceito de equidade para obtenção da cidadania e garantia de direitos, impedindo assim o retorno do apenado/a ao cárcerce brasileiro.

De acordo com a LEP (1984) no seu Art. 10: A assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retono á convivência em sociedade. Parágrafo Único: A assistência estende-se ao egresso. Art.11. A assistência será: material; à saúde; jurídica; educacional; social; religiosa. De forma a assegurar os Direitos Humanos, possibilitando condições reais para o retorno social, com oportunidade e transformação social, tendo seus direitos garantidos por meio da assistência recebida no período de privação de liberdade.

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Sendo assim e fundamental que o Estado faça sua parte, haja visto que, os gestores, governantes, representantes eleitos pelo povo garanta a construção e o desenvovimento saudável sobre toda a população, previsto na Contituição Federal no seu artigo Art. 3º, que constitui os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I - Construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - Garantir o desenvolvimento nacional;

III - Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir desigualdades sociais e regionais;

IV - Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Na observância da Lei Magna fica eviendente que o Estado deve atentar a cumprir o que a Contituiçao Federal de 1988 assegura enquanto direitos invioláveis. Em breve relação da Lei de Excução Penal a relevância do Serviço Social no âmbito prisional, abordado no próximo item, o Projeto Ético-Poltico do Serviço Social e o Código de Ética da profissão, bases fundamentais para a atuação profissional rumo à construção da sociedade mais justa, menos desigual, alicerçada na garantia de direitos.

4.REFLEXÃO CRÍTICA DA ATUAÇÃO PROFISSIONAL

O Projeto Ético-Político do Serviço Social indica a direção que a sociedade ou categoria constrói na concretização daquilo que idealizou, ou, coloca em prática.

Contudo é importante enfatizar a diferença de projetos societários dos projetos profissionais. Segundo Netto (1999), os projetos societários apresentam uma imagem da sociedade a ser construída, que reclamam determinados valores para justificá-las e previlegiam certos meios (matériais e culturais), sendo assim, contituem portanto projetos de classe.

Já os projetos profissionais são descritos por Netto (1999), enquanto coletivos; apresentando uma auto-imagem da profissão; elegem os valores que a legitimam, priorizam seus objetivos e funções; formula os requesitos (teóricos, institucionais e práticos) para o exercicio; prescrevem normas para o cumprimento dos profissionais Sendo assim tanto o projeto societário quanto o profissional, mesmo com especificidades destintas, carecem de simbiose, no que tange ao processo crítico

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sobre a atuação do assistente social, sobretudo no espaço sociocupacional em que estão inseridos, no caso dessa pesquisa, o sistema prisional.

Embora haja contradições sobre o fazer profissional no significado do Serviço Social no processo e reprodução da relações sociais capitalistas, na qual o assistente social reproduz interesses contraditórios sobre a relação Capital e trabalho:

Dada esse inserçao contraditória, a profissão nao pode eliminar uma das dimensões de sua atuação; porém, por causa da sua opção política, o assistente social pode colocar-se a serviço de uma delas, optando por fortalecer a classe trabalhadora por meio de seus serviços. Nesse sentido projeto societário e projeto profissional deixam e se colocar como antínteses, oferecendo a possibilidade de elaboração e midiações estrategicas que possam contemplar atuaçoes iferenciadas: no campo estritamente institucional, no âmbito mais amplo das lutas a categoria e no espaço de participação política o profissional como cidadão e sujeito político em lutas que articulam a emacipação social e política com projetos de emacipação humana (BARROCO, 2012, p. 67)

Por tanto o assistente social deve estar atrelado tendo como princípio fundamental, expresso no Código de ética do/a assistente social principio VIII-

Opção por um projeto profissional vinculado ao processo de uma nova ordem societaria , sem dominação-exploração de classes, etnia e gênero;

Toda ação e profissional deve ser vinculada nessa perspectiva histórica, consubstancia nesse principio, pois é esse projeto social, ai implicado, que se conecta com o projeto profissional do “Serviço Social”, o que supõe a erradicação de todos os processos de exploração, opressão e alienação (CFESS, 1993)

Diante do exposto, há que entender a complexidade do sistema prisional como espaço de violações dos direitos humanos, no qual o Estado exerce o controle social sobre corpos inseridos neste sistema. Compete ao assistente social exercer o pensamento crítico-reflexivo vinculado ao Projeto Ético-Político sobre a atuação que garanta os direitos sociais, humanamente dignos a todos.

Neste contexto é fundamental a atuação do (a) assistente social para intervir de forma crítica interventiva na realidade do (a) apenado (a).

Gonçalves (2017) alerta para a necessidade de destacar que o trabalho do assistente social está para-além das competências dispostas legalmente, pois o mesmo está comprometido e ciente do seu Projeto Ético-Político profissional podendo desenvolver, justamente por sua capacidade criativa e propositiva, ações que possibilitem maior inclusão social.

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Nos espaços sociojurídicos a presença do assistente social é elemento de discussão na garantia de direitos. Conforme Fávero (2012, p. 135), a atuação do profissional possibilita a interpretação da demanda do ponto de vista social, político e econômico, pela leitura e análise da realidade - vivida pelos sujeitos individuais ou coletivas - ferramenta de acesso à justiça.

Com base na pesquisa exposta, há de salientar que deve existir o setor de Serviço Social, em todos os estabelecimentos penitenciários, de modo que aquele que cumpre o encargo socioeducativo tenha, na entrevista, a capacidade de obter informações sobre a situação econômica do egresso e seus familiares, devendo elaborar seu diagnóstico social (DUQUE, 2010, p. 88).

Contudo a atuação do assistente social transfigura-se no âmbito penitenciário, procurando apresentar técnicas que assegurem a garantia dos Direitos Humanos no tratamento aos egressos (NETA e SANTOS, 2017, s/p).

Basicamente no que se estabelece como núcleo do Projeto Ético-Político é o reconhecimento da liberdade como valor central dos sujeitos sociais, pois sua dimensão política esta na defesa de posicionar-se a favor da equidade e justiça social, sobre uma perspectiva de consolidação da cidadania.

5.CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa realizada acerca do Estado penal: uma paradoxo do sistema prisional, ampliou as lentes sobre a contextualização histórica em relação as desigualdades sociais no âmbito prisional, na qual o Estado e as estruturas de

pressões (poder), como o sistema carcerário, beneficiam com o

superencarceramento em massa. Sendo assim foi possível analisar perpassando pelo o olhar da criticidade de maneira científica, de como os reflexos do período escravocrata vêm se reconfigurando sobre maneiras de punição.

No decorrer da pesquisa de Trabalho de Conclusao de Curso (TCC) percebe-se as mídias sociais, jornais e noticiários alardeando “cripercebe-se” no sistema carcerário brasileiro, o que deve ser indagado se existe mesmo uma crise. Ou seria esta mais uma dinâmica de alienação coletiva a manter o poder enquanto determinação histórica a perpetuar na base da pirâmede social grupos minoritários/racializados, destinando-os ao encarceramento na prisão? E quando não se encarcera, assassina, na tentativa de exterminar “corpos matáveis” como discorrido no Item

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primeiro deste trabalho, conceituado por Achille Mbembe.

Neste sentido, contextualizar o processo histórico do Brasil, enquanto lugar racista, por conta da formação histórica e desigualdades mantidas no decorrer dos séculos, além da romanização do processo escravocrata e empenho da elite brasileira em apagar a história vivida por conta da discriminação racial, entende a pesquisa que a mazela está posta, reproduzida. Além disso os crimes e criminosos são retratados na sua grande maioria por pessoas negras, falácia de afirmação, sendo que a população negra vem sendo submetida à seletividade penal do sistema de justiça criminal embraquecido, estrururado pela elite que remete ao passado colonial.

Segundo Montano, o conceito de Estado burguês ilustra o processo de desigualdade: “O Estado moderno é parte integrante da ordem burguesa e não externa a ela. É uma instituição desenvolvida e comandada pela ordem fundada, portanto, [...] não sendo independente do sistema econômico e político que o criou (MONTANO, 2011, p.143).

Há ainda o seguinte questionamento: “O argumento de que o aprisionamento tem garantido a nossa segurança se mostra cada dia mais falho. Nossa comunidades cada vez mais militarizadas, cada dia mais sob vigilância e continuamos não nos sentido seguros” (BORGES, 2020, p.117).

Entretanto discutir o sistema prisional torna uma das formas de construir alternativas que possibilitem, ao não, o encarceramento em massa dos sujeitos sociais, reaver este modelo de sistema prisional falido, partido por uma discussão de desencarceramento considerando a revisão das leis de drogas, articulando maneiras de interromper o capitalismo transnacional que se expande em busca de territórios com mão de obra barata, fazendo com que os direitos trabalhistas sejam negados, mazela que ocasiona e fomenta a extremada vulnerabilidade das comunidades sobretudo as comunidades periféricas e negras.

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TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA PUBLICAÇÃO

Eu: Gustavo Hilário dos santos

RA: 34650

Declaro, com o aval de todos os componentes do grupo a: GUSTAVO HILÁRIO DOS SANTOS

LUANA DOS SANTOS FREITAS MÁRCIA BARBOSA DE SOUSA RANIELLE MACHADO DA SILVA

AUTORIZAÇÃO (X) NÃO AUTORIZAÇÃO ( )

da submissão e eventual publicação na íntegra e/ou em partes no Repositório Institucional da Faculdade Unida de Campinas – FacUNICAMPS e da Revista Científica da FacUNICAMPS, do artigo intitulado:

ESTADO PENAL: UM PARADOXO DO SISTEMA PRISIONAL

de autoria única e exclusivamente dos participantes do grupo constado em Ata com supervisão e orientação do Professor Doutor Antônio César Martins Lopes. Curso: Serviço Social. Modalidade afim______________________. O presente artigo apresenta dados válidos e exclui-se de plágio.

Gustavo Hilário dos Santos

___________________________________________________

Assinatura do representante do grupo: Gustavo Hilário dos Santos

____________________________________________________

Assinatura do Orientador: Antônio César Martins Lopes

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