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AVALIAÇÃO DOS CAUDAIS DE VENTILAÇÃO DE EDIFÍCIOS DE HABITAÇÃO DA REGIÃO DO PORTO

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AVALIAÇÃO DOS CAUDAIS DE VENTILAÇÃO DE EDIFÍCIOS DE HABITAÇÃO DA

REGIÃO DO PORTO

R. M. S. F. ALMEIDA E. BARREIRA V. P. DE FREITAS

Prof. Eng.ª Civil Prof. Eng.ª Civil Prof. Eng.ª Civil

IPV FEUP FEUP

Viseu; Portugal Porto; Portugal Porto; Portugal

ralmeida@estv.ipv.pt barreira@fe.up.pt vpfreita@fe.up.pt

RESUMO

A qualidade do ar interior (QAI) nos edifícios de habitação tem implicações óbvias na saúde e bem-estar dos utilizadores. Por outro lado, os cada vez mais exigentes requisitos de eficiência energética dos edifícios têm conduzido a envolventes altamente estanques. Nesse sentido, desenvolveu-se uma campanha experimental de avaliação in situ das condições de ventilação de quatro edifícios de habitação coletiva situados na região do grande Porto. Os edifícios em análise foram construídos em quatro décadas distintas. Foram efetuadas medições através do Método do Gás Traçador e da Técnica do Declive. Foram avaliados vários compartimentos separadamente e analisadas diferentes condições de envolvente. No total foram realizados 44 ensaios.

1. INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas os níveis de ocupação dos edifícios, as práticas construtivas (redução da permeabilidade da envolvente e uso generalizado dos sistemas de aquecimento, ventilação e ar condicionado) e as expectativas dos utilizadores dos edifícios alteraram-se substancialmente, conduzindo a um aumento do interesse no tema da Qualidade do Ar Interior (QAI). A QAI nos edifícios tem implicações óbvias na saúde e bem-estar dos utilizadores, especialmente nos países mais desenvolvidos onde as pessoas passam a maior parte do seu tempo dentro dos edifícios [1].

Em Portugal, tradicionalmente, os edifícios de habitação são ventilados naturalmente, embora em construções mais recentes se verifique a tendência para incluir sistemas mecânicos de extração nas cozinhas e nas instalações sanitárias, umas vezes ativadas pelo utilizador, outras totalmente centralizadas. Não é habitual encontrarem-se dispositivos de admissão de ar nos compartimentos principais e, portanto, a admissão de ar está muito dependente das infiltrações através da envolvente exterior e da abertura das janelas. Assim, a eficiência dos sistemas de ventilação está completamente condicionada pela estanquidade da envolvente dos edifícios e pelo comportamento dos seus utilizadores, justificando-se assim a enorme variabilidade observada em estudos anteriores, onde foram medidas as condições de ventilação de edifícios de habitação portugueses [2, 3].

Em Portugal, o Regulamento de Desempenho Energético dos Edifícios de Habitação (REH) [4] refere que o valor de taxa de renovação horária de ar deve ser igual ao superior a 0.4 renovações por hora. Adicionalmente, a norma NP 1037-1 [5] estabelece os princípios e requisitos a cumprir em edifícios de habitação com ventilação natural. De acordo

(2)

com esta norma, o caudal-tipo a considerar no dimensionamento do sistema de ventilação deve ser o correspondente a uma taxa de renovação horária de ar nos compartimentos principais (caudal de admissão) de 1.0 h-1 e nos compartimentos de serviço de 4.0 h-1 (caudal de extração). De acordo com a norma NP 1037-1, estes limites resultam da imposição de critérios de QAI e, embora não devendo ser entendidos como caudais a assegurar fisicamente, uma vez que não há controlo absoluto sobre as ações que promovem a ventilação natural, podem ser utilizados enquanto valores de referência na avaliação de um sistema de ventilação em condições de serviço [5].

Este artigo apresenta os resultados de uma campanha de ensaios para avaliação das condições de ventilação, desenvolvida em 4 edifícios de habitação coletiva situados na região do Porto, construídos em diferentes períodos, e onde foram estudadas diferentes condições fronteira associadas à envolvente interior e aos sistemas mecânicos de extração. A metodologia adotada baseou-se em medição da taxa de renovação horária de ar com o Método do Gás Traçador e a Técnica do Declive. No total foram realizados 44 ensaios.

2. MÉTODO DO GÁS TRAÇADOR – TÉCNICA DO DECLIVE

A taxa de renovação horária do ar pode ser estimada através do Método do Gás Traçador e da Técnica do Declive. Esta metodologia assenta no princípio de que, em condições exteriores de temperatura e vento aproximadamente constantes, no interior de um espaço o balanço mássico relativo à concentração do gás traçador obedece à seguinte equação diferencial [6]:

 

 

t C Q ex C Q G dt t dC V      (1)

Em que V é o volume do espaço, C(t) é a concentração do gás no instante t, t é o tempo, G é a taxa de produção do gás, Q é o caudal de ventilação e Cex é a concentração exterior do gás.

A solução analítica desta equação é a seguinte:

 

V t Q e Q G ex C in C Q G ex C t C               (2)

Em que Cin é a concentração inicial do gás.

Uma vez que o gás traçador deve possuir concentrações baixas no ar exterior e interior (abaixo das utilizadas nos ensaios), pode ser considerada nula na equação (2) a parcela referente ao ar exterior. Como também não existe produção interna do gás traçador no espaço em estudo, a equação (2) pode ser simplificada para:

 

V t Q e in C t C     (3)

Rearranjando esta última equação, obtém-se:

 

t t C in C ln n V Q        (4)

Em que n é a taxa de renovação horária do ar.

Assim, para o cálculo das infiltrações ou caudais de ventilação em espaços que podem ser considerados como uma única zona, é suficiente introduzir um gás traçador até se atingir uma concentração inicial uniforme, Cin, registando-se de seguida a evolução da concentração desse gás com o tempo, que num gráfico ln(C) versus t, pela equação (4), é uma reta. O módulo do declive desta reta, Q/V, é a incógnita que permite o cálculo das renovações horárias, n.

(3)

Os procedimentos relativos a este ensaio encontram-se normalizados na ISO 12569 (2000) [7] e ASTM E741-00 (2001) [8]. O equipamento utilizado para registar a concentração do gás traçador foi um analisador de gás fotoacústico da Innova (refª. 1312) e o gás traçador foi o hexafluoreto de enxofre (SF6). A recolha foi efetuada aproximadamente no

centro dos compartimentos. Para minimizar o impacto das condições exteriores, os ensaios foram sempre realizados com vento calmo (<1.0 m/s) e temperatura moderada (entre 15 ºC and 25 ºC). A velocidade do vento foi medida no início e no final de cada ensaio, junto a fachada do edifício, registando-se sempre valores abaixo de 1.0 m/s.

3. METODOLOGIA E CASOS DE ESTUDO

Os 4 apartamentos avaliados no âmbito deste trabalho pertencem a edifícios de habitação coletiva localizados na região do grande Porto e foram selecionados tendo por base o seu período de construção, por forma a cobrir diferentes épocas, desde o início da década de 80 até ao ano de 2013.

O apartamento A é o mais antigo, foi construído em 1980, tem uma área útil de pavimento aproximada de 75 m2 e um pé-direito de 2.6 m. Todos os compartimentos têm janelas de correr, exceto uma janela basculante vertical na cozinha. Todos os vãos são em vidro simples com caixilharia em alumínio. Relativamente ao sistema de ventilação, na cozinha existe um sistema mecânico de extração com o funcionamento controlado pelo utilizador (ligado/desligado), na casa de banho existe uma grelha plástica corrente para extração natural, posicionada a uma altura aproximada de 2.1 m, ligada a um ventilador estático na cobertura. Não existem quaisquer dispositivos específicos para admissão de ar.

O apartamento B foi construído em 1991, tem uma área útil de pavimento aproximada de 110 m2 e um pé-direito de 2.4 m. Todos os compartimentos têm janelas de correr, com vidro duplo e caixilharia em alumínio. Relativamente ao sistema de ventilação, existem sistemas de extração mecânica com o funcionamento controlado pelo utilizador (ligado/desligado) quer na cozinha, quer na casa de banho. Num espaço adjacente à cozinha existe uma lavandaria onde está instalada uma grelha plástica corrente para ventilação. Não existem quaisquer outros dispositivos específicos para admissão de ar.

O apartamento C foi construído em 2002, tem uma área útil de pavimento aproximada de 135 m2 e um pé-direito 2.6 m. Todos os compartimentos têm janelas de correr, com vidro duplo e caixilharia em alumínio. Relativamente ao sistema de ventilação, existem sistemas centralizados de extração mecânica quer na cozinha, quer na casa de banho. Na cozinha o utilizador pode controlar a velocidade do sistema de extração. Num espaço adjacente à cozinha existe uma lavandaria com várias aberturas para o exterior (caixilharia de lâminas abertas). Não existem quaisquer outros dispositivos específicos para admissão de ar.

O apartamento D é o mais recente, foi construído em 2013, tem uma área útil de pavimento aproximada de 70 m2 e um pé-direito 2.4 m. Todos os compartimentos têm janelas com abertura oscilo-batente, com vidro duplo e caixilharia em alumínio com vedante no contorno. Relativamente ao sistema de ventilação, existe na cozinha um sistema centralizado de extração em que utilizador pode controlar a velocidade de funcionamento. Na casa de banho existe uma grelha plástica corrente para extração natural, posicionada a uma altura aproximada de 2.2 m, ligada a um ventilador estático na cobertura. Num espaço adjacente à cozinha (sem separação física) existe uma lavandaria onde está instalada uma grelha plástica corrente para ventilação. Não existem quaisquer outros dispositivos específicos para admissão de ar. A metodologia adotada incluiu ensaios com gás traçador nos seguintes compartimentos de cada apartamento: 1 quarto (2 no apartamento C, sendo um deles uma suite com instalação sanitária), 1 sala, 1 cozinha e 1 instalação sanitária. Em cada compartimento foram definidas pelo menos 2 condições de fronteira: porta aberta e porta fechada; nos compartimento que disponham de equipamentos mecânicos de extração foram ainda considerados os cenários de equipamento ligado e desligado ou de velocidade mínima e máxima. No total, foram realizados 44 ensaios.

4. RESULTADOS 4.1 Apartamento A

No apartamento A foram realizados 10 ensaios, sendo que na cozinha foram avaliados os cenários de extração mecânica ligada e desligada. A Tabela 1 sintetiza os resultados em termos de taxa de renovação horária do ar e do respetivo caudal de ventilação.

(4)

Tabela 1 – Síntese dos resultados obtidos no apartamento A

Apartamento A Quarto I.S. Cozinha

(V.M. off) Cozinha (V.M. on) Sala n [h-1] – (1) 1.31 0.47 0.81 1.06 0.64 n [h-1] – (2) 0.35 0.09 0.25 1.32 0.03 Q [m3/h] – (1) 34.9 6.4 28.5 37.2 40.0 Q [m3/h] – (2) 9.3 1.2 8.6 46.4 1.9

(1): porta aberta; (2): porta fechada; I.S.: instalação sanitária; V.M.: ventilação mecânica; on: ligada; off: desligada

Ao contrário do esperado, no cenário de extração mecânica ligada, a taxa de renovação horária do ar na cozinha foi mais elevada na situação de porta fechada do que com a porta aberta (situação que se repetiu nos ensaios realizados nos outros apartamentos). Destacam-se ainda os valores bastante baixos obtidos nos dois ensaios realizados na instalação sanitária, onde mesmo na situação de porta aberta o caudal de ventilação foi de apenas 6.4 m3/h (n = 0.47 h-1), e na sala onde a taxa de renovação horária do ar com a porta fechada foi de apenas 0.03 h-1. Por outro lado, foram medidos valores da taxa de renovação horária do ar superiores aos definidos na NP 1037-1 [5] no quarto com a porta aberta (n = 1.31 h-1). A taxa mais elevada foi medida na cozinha, com a porta fechada e no cenário de extração mecânica ligada (n = 1.32 h-1), e o valor mais baixo foi 0.03 h-1, na sala com a porta fechada.

4.2 Apartamento B

No apartamento B foram realizados 12 ensaios, sendo que na cozinha e na instalação sanitária foram avaliados os cenários de extração mecânica ligada e desligada. A Tabela 2 sintetiza os resultados em termos de taxa de renovação horária do ar e do respetivo caudal de ventilação.

Tabela 2 – Síntese dos resultados obtidos no apartamento B Apartamento B Quarto I.S.

(V.M. off) I.S. (V.M. on) Cozinha (V.M. off) Cozinha (V.M. on) Sala n [h-1] – (1) 1.40 1.77 2.67 1.25 2.53 0.71 n [h-1] – (2) 0.51 0.21 2.36 0.81 2.98 0.10 Q [m3/h] – (1) 36.6 13.3 20.0 46.2 93.8 45.1 Q [m3/h] – (2) 13.4 1.6 17.7 29.8 110.2 6.2

(1): porta aberta; (2): porta fechada; I.S.: instalação sanitária; V.M.: ventilação mecânica; on: ligada; off: desligada

Neste apartamento observou-se mais uma vez que o impacto da abertura da porta em compartimentos com extração mecânica ligada é diminuto, ao contrário do que sucede quando não existe extração mecânica, em que, nestas condições, a taxa de renovação horária do ar aumenta substancialmente. A taxa de renovação horária do ar sugerida na NP 1037-1 [5] apenas foi alcançada no quarto com a porta aberta (tal como havia sucedido no apartamento A). A taxa mais elevada foi medida na cozinha, com a porta fechada e no cenário de extração mecânica ligada (n = 2.98 h-1), e o valor mais baixo foi 0.10 h-1, na sala com a porta fechada.

4.3 Apartamento C

No apartamento C foram realizados 12 ensaios, sendo que na cozinha foram avaliados os cenários de extração mecânica com velocidade mínima e máxima. Neste apartamento foi ainda avaliada uma suite com instalação sanitária privada. A Tabela 3 sintetiza os resultados em termos de taxa de renovação horária do ar e do respetivo caudal de ventilação.

Tabela 3 – Síntese dos resultados obtidos no apartamento C

Apartamento C Quarto Suite I.S. Cozinha

(V.M. min) Cozinha (V.M. max) Sala n [h-1] – (1) 0.93 1.14 5.09 1.20 2.17 0.58 n [h-1] – (2) 0.18 0.56 2.66 1.05 2.84 0.18 Q [m3/h] – (1) 41.0 50.3 51.4 46.3 83.6 53.9 Q [m3/h] – (2) 8.0 24.5 26.9 40.6 109.5 17.2

(1): porta aberta; (2): porta fechada; I.S.: instalação sanitária; V.M.: ventilação mecânica; min: velocidade mínima; max: velocidade máxima

(5)

Neste apartamento destaca-se a eficiência do sistema centralizado de extração mecânica na instalação sanitária que conduziu a taxas de renovação horária do ar entre 2.66 h-1 (porta fechada) e 5.09 h-1 (porta aberta). Na cozinha observou-se mais uma vez uma taxa superior com a porta fechada, no cenário de extração mecânica com velocidade máxima. A taxa de renovação horária do ar sugerida na NP 1037-1 [5] apenas foi alcançada na instalação sanitária com a porta aberta e na suite também com a porta aberta (no quarto com a porta aberta o valor foi bastante próximo). A taxa mais elevada foi medida na instalação sanitária, com a porta aberta (n = 5.09 h-1), e o valor mais baixo foi 0.18 h-1, na sala e no quarto, ambos com a porta fechada.

4.4 Apartamento D

No apartamento D foram realizados 10 ensaios, sendo que na cozinha foram avaliados os cenários de extração mecânica com velocidade mínima e máxima. A Tabela 4 sintetiza os resultados em termos de taxa de renovação horária do ar e do respetivo caudal de ventilação.

Tabela 4 – Síntese dos resultados obtidos no apartamento D

Apartamento D Quarto I.S. Cozinha

(V.M. min) Cozinha (V.M. max) Sala n [h-1] – (1) 0.85 1.54 0.40 1.15 0.20 n [h-1] – (2) 0.14 0.09 0.13 1.47 0.06 Q [m3/h] – (1) 18.8 11.0 11.0 31.8 10.1 Q [m3/h] – (2) 3.1 0.6 3.5 40.6 2.8

(1): porta aberta; (2): porta fechada; I.S.: instalação sanitária; V.M.: ventilação mecânica; min: velocidade mínima; max: velocidade máxima

Globalmente, este apartamento apresentou as taxas de renovação horária do ar mais baixas, especialmente nos cenários de porta fechada. Esta situação já era expectável, considerando que se trata do edifício mais recente em que na fase de projeto terão existido preocupações relacionadas com a estanquidade da envolvente. A taxa de renovação horária do ar sugerida na NP 1037-1 [5] nunca foi alcançada. A taxa mais elevada foi medida na cozinha, com a porta fechada e o sistema de extração mecânica a funcionar com a velocidade máxima (n = 1.47 h-1), e o valor mais baixo foi 0.06 h-1, na sala com a porta fechada.

5. DISCUSSÃO

Apesar de terem sido construídos em períodos bastante distintos, todos os apartamentos que foram estudados têm um sistema de ventilação muito dependente da componente natural. Só pontualmente, em alguns compartimentos dos apartamentos C e D (os mais recentes), se encontraram sistemas mecânicos centralizados com funcionamento contínuo. Esta amostra, apesar de reduzida, reflete a realidade encontrada no parque habitacional Português onde, provavelmente por razões climáticas, mas também económicas, sociais e culturais, as pessoas tendem a preferir a ventilação natural com recurso à abertura das janelas. No entanto, as habitações não são projetadas com sistemas de ventilação natural. Não é comum encontrar dispositivos de admissão nos compartimentos principais, aberturas nas portas interiores, etc. e, portanto, a eficiência do sistema de ventilação fica dependente das ações dos utilizadores e da estanquidade da envolvente dos edifícios.

Analisando com mais detalhe os resultados obtidos para os compartimentos principais (salas e quartos) e considerando que durante a maior parte do tempo as janelas se encontram fechadas, verifica-se que a ventilação está totalmente condicionada pela estanquidade da envolvente, especialmente quando a porta está fechada. Nas Figura 1 e 2 apresentam-se as taxas de renovação horária do ar e os respetivos caudais de ventilação medidos, respetivamente, nos quartos e nas salas.

Os resultados obtidos estão em linha com estudos anteriores desenvolvidos em Portugal, onde foi avaliada experimentalmente a permeabilidade da envolvente de edifícios de habitação através do ensaio de porta ventiladora [3] tendo-se obtido um valor médio de n50 = 6.3 h-1. Este valor pode ser utilizado para estimar a taxa de renovação horária de ar pelo rácio n = n50/20, obtendo-se o valor de n = 0.32 h-1. Num trabalho anterior [9], também desenvolvido em Portugal, obtiveram-se resultados de n50 entre 2 e 8 h-1, a que corresponde uma variação de n entre 0.1 e 0.4 h-1.

(6)

34.9 36.6 41.0 18.8 9.3 13.4 8.0 3.1 0 10 20 30 40 50 60 A B C D Q [m 3/h ] Apartamento porta aberta porta fechada

1.31 1.40 0.93 0.85 0.35 0.51 0.18 0.14 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 A B C D n [ h -1] Apartamento porta aberta porta fechada

a) b)

Figura 1: Caracterização da ventilação nos quartos: a) taxa de renovação horária do ar; b) caudal de ventilação

0.64 0.71 0.58 0.20 0.03 0.10 0.18 0.06 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 A B C D n [ h -1] Apartamento porta aberta porta fechada

40.0 45.1 53.9 10.1 1.9 6.2 17.2 2.8 0 10 20 30 40 50 60 A B C D Q [m 3/h ] Apartamento porta aberta porta fechada

a) b)

Figura 2: Caracterização da ventilação nas salas: a) taxa de renovação horária do ar; b) caudal de ventilação Estudos anteriores [2, 3], em que foi analisada a contribuição para a permeabilidade ao ar dos diferentes elementos que constituem a envolvente exterior dos edifícios, com recurso a ensaios de pressurização e despressurização, mostraram que a caixilharia do vão envidraçado é o elemento mais relevante. Desta forma, seria expectável observar-se uma relação direta entre o rácio entre a área envidraçada (Aenv) e a área de pavimento (Apav) de cada compartimento e a respetiva taxa de renovação horária do ar com a porta fechada. Os resultados desta análise estão representados na Figura 3, separadamente para cada apartamento, excluindo-se as instalações sanitárias uma vez que algumas não dispõem de janela e considerando apenas os ensaios sem qualquer sistema de extração mecânica em funcionamento. A relação direta entre os parâmetros não se confirmou em todos os apartamentos, apesar de se observar alguma tendência. No apartamento A, o mais antigo, verifica-se que um aumento na área envidraçada corresponde a uma diminuição da estanquidade. Por outro lado, no apartamento D, o mais recente, a taxa de renovação horária de ar é sempre baixa, independentemente do rácio de área envidraçada, confirmando-se a elevada estanquidade destes vãos envidraçados.

(7)

0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 n [h -1] Aenv/ Apav A B C D 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 Q [m 3/h ] Aenv/ Apav A B C D a) b)

Figura 3: Relação entre a área envidraçada e a ventilação: a) taxa de renovação horária do ar; b) caudal de ventilação No apartamento C a tendência não é clara. Neste apartamento, o comportamento da cozinha destaca-se relativamente ao dos outros compartimentos. Esse comportamento pode ser explicado pela elevada permeabilidade da caixilharia de correr do vão envidraçado, que separa a cozinha da lavandaria (que tem abertura direta para o exterior), e tem uma área muito significativa, justificando assim a elevada taxa registada neste compartimento. Adicionalmente, o facto de o sistema de extração mecânica ter um funcionamento contínuo também ajuda a explicar o valor elevado.

No apartamento B os resultados são mais indefinidos. A cozinha apresenta um comportamento inesperado: taxa de renovação horária do ar mais elevada com um rácio de área envidraçada mais baixo. Uma explicação possível é a presença de um dispositivo de admissão de ar na lavandaria adjacente, no entanto, será necessária investigação adicional para confirmar esta possibilidade.

6. CONCLUSÕES

Avaliou-se a taxa de renovação horária do ar através do Método do Gás Traçador e a da Técnica do Declive em 4 apartamentos da região do Porto construídos em períodos distintos. Foram efetuados 44 ensaios e a análise dos resultados permitiu retirar as seguintes conclusões:

 Apesar dos apartamentos terem um sistema de ventilação fortemente dependente da componente natural em nenhum existe qualquer sistema de admissão nos compartimentos principais;

 Nos cenários em que o sistema mecânico de extração da cozinha estava ligado, ou em velocidade máxima, a taxa de renovação horário do ar foi mais elevava na situação de porta fechada do que com a porta aberta. Este resultado é surpreendente e será necessária mais investigação para avaliar completamente o fenómeno. No entanto, uma possível explicação prende-se com o facto de na situação de porta fechada o equipamento mecânico gerar um diferencial de pressão elevado, potenciando o fluxo de ar no dispositivo de admissão existente nas lavandarias;

 O valor de referência da norma NP 1037-1 [5] só foi atingido pontualmente e apenas em ensaios com a porta aberta;

 Observa-se uma tendência de relação entre o rácio entre a área envidraçada e a área de pavimento de cada compartimento e a respetiva taxa de renovação horária do ar com a porta. No edifício mais antigo esta relação foi clara.

7. AGRADECIMENTOS

Os autores gostariam de agradecer o apoio financeiro do FEDER através do Programa Operacional Factores de Competitividade – COMPETE e da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia no âmbito do projeto FCOMP-01-0124-FEDER-041748 e EXPL/ECM-COM/1999/2013.

(8)

8. REFERÊNCIAS

[1] Wargocki, P. - Ventilation, thermal comfort, health and productivity. in Mumovic D, Santamouris M (eds): A Handbook of Sustainable Building Design & Engineering – an integrated approach to energy, health and operational performance. Earthscan, 2009, London, U.K..

[2] Pereira. P.F. et al, “Testing for building components contribution to airtightness assessment”, Proceedings of the 35th AIVC - Ventilation and airtightness in transforming the building stock to high performance, Poznan, Poland, 2014, pp. 332-330.

[3] Pinto, M. et al, “Air permeability measurements of dwellings and building components in Portugal”, Building and Environment, 2011, 46, pp. 2480-2489.

[4] DL118/2013 de 20 de agosto - REH: Regulamento de Desempenho Energético dos Edifícios de Habitação. [5] NP 1037-1:2002 - CTA 17 - Ventilação e evacuação dos produtos de combustão dos locais com vista a instalação

dos aparelhos a gás.

[6] Awbi, H. - Ventilation of Buildings. 2nd Ed., E & FN Spon, 2003, New York, USA.

[7] ISO - International Organization for Standardization, 2000 - ISO 12569 - Thermal Performance of Buildings, Determination of Air Change in Buildings - Tracer Gas Dilution Method. ISO, Genève, Switzerland.

[8] ASTM - American Society for Testing Materials, 2000 - E 741-00 - Standard Test Method for Determining Air Change in a Single Zone by Means of a Tracer Gas Dilution. ASTM, West Conshohocken, USA.

[9] Pinto A., “Recommendations for air permeability limits of the envelope”, Proceedings of Seminar on the Application of Natural and Mixed Ventilation, Lisbon, Portugal, 2007.

Referências

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