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Estudos Lingüísticos XXXIII, p , [ 226 / 231 ]

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Academic year: 2021

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FONOLOGIA DA LÍNGUA LÉMBÁÁMÁ ( PHONOLOGY OF LÉMBÁÁMÁ LANGUAGE) Bruno OKOUDOWA (Universidade de São Paulo)

ABSTRACT: Lembaama is a bantu language, B.62(Guthrie:1953), Benue-Congo group, Niger-Congo phylum. The study of the lémbáámá syllabic struture shows that it is a CV language. The autosegmental analysis reveals among other things that the nasality process is an assimilation of the consonant nasal features by the associated vowels.

KEYW ORDS: Bantu; Lémbáámá; autosegmental phonology; syllable; nasality. 0. Introdução

Lémbáámá é uma língua do subgrupo banto, B.62 (Guthrie,1953), do grupo Benuê-Congo, phylum Níger-Congo. Esta língua é falada no Gabão (África central).

O objetivo deste trabalho é definir seu padrão silábico e estudar o processo de nasalização pela teoria auto-segmental. Este trabalho baseia-se numa lista de 934 itens lexicais elaborada por Greenberg na década de sessenta para o estudo das língua africanas. Essa lista foi traduzida e transcrita conforme o alfabeto fonético internacional de 1993. Esta língua possui dois tons: um tom alto representado pelo diacrítico do acento grave [´] e um tom baixo representado pelo diacrítico do acento agudo [`]. O tom é uma propriedade da sílaba e se manifesta em seu núcleo, a vogal, na maioria das línguas tonais.

1. Padrão silábico:

Para determinar o padrão silábico desta língua adotamos a representação proposta por Pike (Pike & Pike, apud Bisol 1996: 96). Segundo essa proposta, uma sílaba é formada por um ataque (A) e em uma rima (R) ; a rima por sua vez é formada por um núcleo (Nu) e em uma coda (Co). O núcleo é a única parte que não pode ser vazia.

1.1 Tipos de sílabas da língua lémbáámá:

a) tipo: V. Forma de superfície: “ bananas ” b) tipo : CV. Forma de superfície : “ jogar ”

c) tipo: CCV. Forma de superfície: “ seguir ” d) tipo: CVV. Forma de superficie: “ dente”

e) tipo : NCV. Forma de superfície: “ dar ”

(2)

σ ty A R g Nu g N C V | | f) tipo: NCCV. Forma de superfície: “ letra ”

σ ty A R g Nu g NC C V g g g

g) tipo: NCVV. Forma de superfície: “ menstruação” σ ty A R g Nu ty NC V V g g g

Observando as sílabas descritas acima, notamos que a estrutura silábica que mais aparece é a CV. Podemos afirmar, portanto, que o padrão silábico da língua lémbáámá é (N) CV.

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2. Processo de nasalização na língua lémbáámá:

Para analisarmos os diferentes processos de nasalização, usamos a representação postulada pela fonologia auto-segmental ou “ Geometria de traços”. Essa teoria surge como uma proposta teórica de interpretação da sílaba que se iniciou com o estudo de aspectos supra-segmentais como tons e acentos. Contrariamente à fonologia estruturalista tradicional que tem por unidade mínima o fonema, a geometria de traços tem como unidade mínima, os traços. Ela tenta explicar geometricamente a organização das unidades discretas que compõem os sons da linguagem humana.

a) a nasalidade progressiva:

É aquela que se espraia da esquerda para a direita. Se tomarmos as palavras:

“ dureza / duro(a)” e “ ver”. Veremos que o traço [ nasal] da consoante n se propaga

da esquerda para a direita, atingindo assim a vogal o localizada à sua direita:

[ nasal ] [ nasal ] [ nasal ] [ nasal ]

b) a nasalidade regressiva:

É aquela que se propaga da direita para a esquerda. Se tomarmos as palavras : “ peixes ” e “ água ”. Veremos que o traço nasal da consoante n se espraia da direita para a esquerda, atingindo assim a vogal a:

[ nasal ] [ nasal ]

Porém há vogais que, mesmo adjacentes a consoantes nasais não se nasalizam . Ex:

“ idioma dos ámbáámá ”,

“ primeiro (a)”. Assim podemos afirmar que a nasalidade não é previsível nessa língua.

A nasalização na palavra pode ser descrita da seguinte maneira na fonologia auto-segmental ou fonologia de geometria de traços segundo o esquema de N. Clements:

(4)

g g

R R R (Raiz)

[ nasal ] CO CO (Cavidade oral) ty LC [ contínuo] LC ( Lugar da Consoante) | VC VC (Vocálico) ty LV [± aberta] LV (Lugar da Vogal)

Em todos os exemplos descritos acima, verificamos que há um processo de assimilação do traço [ nasal ] da consoante nasal de um segmento pelo segmento vizinho. Processo interpretado por Clements e Hume (1996, apud Santos 2002) como a associação de um traço terminal ou constituinte de um segmento pelo outro. Segundo esses autores, a nasalização é um bom exemplo de processo de assimilação envolvendo a associação do traço [nasal].

c) as consoantes pré-nasalizadas:

Nas palavras : “ peixes ” , “ água ”, “ prato típico feito com dendê ”, o processo que se observa com esses sons indica que o que ocorre na verdade é uma pós-oralização de consoantes pré-nasalizadas: em todas essas palavras,

a parte oral do segmento nasal bloqueia a nasalidade, de forma que ela não chega até o núcleo da sílaba. O bloqueio demonstra a preocupação do falante em não nasalizar a vogal da sílaba. O que geraria palavras estranhas aos falantes, tais como:

* u * *

A geometria de traços interpreta segmentos pré ou pós-nasalizados como segmentos de contorno, definindo-os como segmentos contendo valências diferentes para o mesmo traço em uma mesma camada. Portanto as pós-oralizadas da língua lémbáámá devem ter uma parte nasal e outra não nasal:

i . m ii . m b

(5)

[ +nasal ] [ - nasal ] [ +nasal ] [ - nasal ]

Estes segmentos vão ser interpretados adiante como segmentos com duas raízes idênticas, mas associados a um único componente C da mesma camada esqueletal. Esta interpretação evita a violação do princípio que proíbe a ramificação sob qualquer constituinte cujos traços estão na mesma camada:

C C (componente) ty R R R (Raiz) g g m b ty ty CO (Cavidade Oral)

[nasal] CO [+voz] CO +Voz (Vozeado) ty ty

LC [± cont] LV [±cont] LC (Lugar da Consoante ) | | LV (Lugar da Vogal) [labial] [labial] Cont. ( contínuo)

Nessa representação, um dos segmentos da raiz é especificado com o traço nasal e o outro não é. Ambas as partes da raiz têm o traço [+voz] mas ele foi marcado apenas no segmento à direita; porque, para segmentos subjacentes da língua, este traço é sub-especificado de forma que todo segmento com raiz [-soante] também é [-voz]. Embora o modelo não concorde em ter um traço nasal binário, a representação proposta em (ii) acima , ainda parece ser a mais adequada à fonologia da língua lémbáámá, porque inclui a necessidade de interpretar os segmentos “ pós-oralizados” como segmentos de contorno com duas raízes.

3.Conclusão

Como observamos pela descrição, o padrão silábico da língua lémbáámá é do tipo CV. A análise auto-segmental demonstra que o processo de nasalização é uma assimilação do traço nasal da consoante pela vogal vizinha que pode estar à direita ou à esquerda. A nasalização é também um processo não previsível nesta língua, já que nem todas as vogais nasalizam-se sistematicamente no contato com uma consoante nasal ou pré-nasalizada.

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RESUMO: Lémbáámá é uma língua banta, B.62 (Guthrie, 1963), do grupo Benuê-Congo e do phylum Níger-Congo. O estudo da estrutura silábica desta língua demonstra que ela é do tipo CV. Uma análise auto-segmental do processo de nasalização das vogais revela entre outras coisas que a nasalização das vogais é uma assimilação do traço [nasal] da consoante nasal pela vogal vizinha.

PALAVRAS-CHAVES: banto, lémbáámá, fonologia auto-segmental, sílaba, nasalidade. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS:

ADAM, Jean-J. Dictionnaire ndumu-mbédé-français et français-ndumu-mbédé.Petite flore de la région de franceville(Gabon). Grammaire ndumu-mbédé. Bar-Le-Duc (Meuse): Imprimerie Saint-Paul, 1969.

BISOL, Leda (org.). Introdução a estudos de fonologia do português brasileiro. Porto Alegre. EDIPUCRS, 1996.

CAGLIARI, Luíz. Análise fonológica. Campinas: Edição do Autor, 1997.

GOLDSMITH, John A. Autosegmental & metrical phonology. Oxford: Blackwell, 1995. GREENBERG, Joseph H. The languages of Africa. Bloomington: Indiana University,

1963

GUTHRIE, Malcolm.The bantu languages of western Equatorial Africa.London; New York: Published for the International African Institute by Oxford University Press, 1953.

SANTOS, Lílian A. Dos. Aspectos da fonologia waiãpi. Dissertação de mestrado. São Paulo: USP, 2002.

SILVA, Thaís C. Fonética e fonologia do português. São Paulo: Editora contexto, 2000.

Referências

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