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Academic year: 2021

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Projeto Editorial Praxis

José Marangoni Camargo Francisco Luiz Corsi

“Os rumOs da pOlítica e

da ecOnOmia brasileiras

nO anO das eleições”

SeSSão de ComuniCaçõeS

XiV Fórum de análiSe de Conjuntura

Autores:

Maria Angélica Chagas Paraizo Júlio Fernandes do Prado Leutwiler Sandra Flores Gutiérrez Thaylizze Goes Nunes Pereira Marcela A. S. Pereira Francisco Luiz Corsi José Marangoni Camargo Luís Antônio Paulino Agnaldo dos Santos

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1ª edição 2015 Bauru, SP

Projeto Editorial Praxis

“Os rumOs da pOlítica e

da ecOnOmia brasileiras

nO anO das eleições”

SeSSão de ComuniCaçõeS

XiV Fórum de análiSe de Conjuntura

Organizadores:

Agnaldo dos Santos José Marangoni Camargo Francisco Luiz Corsi

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Copyright© Canal 6, 2015 Santos, Agnaldo dos

“Os rumos da política e da economia brasileiras no ano das eleições” – Sessão de Comunicações XIV Fórum de Análise de Conjuntura / Agnaldo dos Santos, José Marangoni Camargo e Franciso Luiz Corsi (Orgs.). -- Bauru, SP: Canal 6, 2015.

198 p. ; 21 cm. (Projeto Editorial Praxis) ISBN 978-85-7917-288-5

1. Economia. 2. Conjuntura econômica. 3. Política. 4. Sociedade. I. Santos, Agnaldo dos. II. Camargo, José Marangoni III. Corsi, Franciso Luiz. IV. Título.

CDD: 330 S2373o

Conselho Editorial

Prof. Dr. Antonio Thomaz Júnior – UNESP Prof. Dr. Ariovaldo de Oliveira Santos – UEL

Prof. Dr. Francisco Luis Corsi – UNESP Prof. Dr. Jorge Luis Cammarano Gonzáles – UNISO

Prof. Dr. Jorge Machado – USP Prof. Dr. José Meneleu Neto – UECE

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Apresentação ... 7

Capítulo 1

O ideal de justiça social petista e as relações de classe na sociedade brasileira

– Maria Angélica Chagas Paraizo ... 10

Capítulo 2

Reprimarização da pauta de exportação e a atual inserção

internacional brasileira na contramão dos países em desenvolvimento com diversificação econômica

– Júlio Fernandes do Prado Leutwiler ... 32

Capítulo 3

Convergencias y divergencias de México y Brasil en sus relaciones económico-comerciales con China a partir de la década de los noventa

– Sandra Flores Gutiérrez ... 65

Capítulo 4

As disputas eleitorais do Partido dos Trabalhadores nos anos de 1989, 1994, 1998 e 2002: discursos e propostas para a reforma agrária no Brasil

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Os “rolezinhos” e o desenvolvimento econômico e social do Brasil

– Marcela A. S. Pereira ...117

Capítulo 6

A política econômica no governo Dilma

– Francisco Luiz Corsi ... 140

Capítulo 7

Evolução recente do emprego e distribuição da renda no Brasil

– José Marangoni Camargo ... 157

Capítulo 8

Desafios para o desenvolvimento do Brasil

– Luís Antônio Paulino ... 173

Capítulo 9

Algumas notas sobre a abordagem da sociologia acerca do fenômeno econômico e a experiência latino-americana

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O presente livro trata dos trabalhos apresentados na Ses-são de Comunicações do XIV Fórum de Análise de Conjun-tura “Os rumos da política e da economia brasileiras no ano

de eleições”. O Fórum de Conjuntura tem como objetivo

dis-cutir temas relevantes da conjuntura política, social e eco-nômica nacional e internacional. O tema do evento consistiu na discussão da conjuntura eleitoral. As comunicações abor-daram vários aspectos da realidade brasileira e da América Latina no contexto de crise do capitalismo global.

As eleições de 2014 ocorreram em um contexto de acir-ramento das lutas sociais e de crescentes problemas na área econômica, derivados, em parte, da continuidade da crise do capitalismo global, que se arrasta desde 2008. Ainda que tenha experimentado no período algumas perdas, o capital financeiro tem logrado impor seus interesses e conseguido conduzir as respostas à crise, sem, contudo, calar a resistên-cia às políticas recessivas. Essa tendênresistên-cia evidenresistên-cia-se tanto na incapacidade de os Estados nacionais conseguirem impor uma regulação mais efetiva sobre os fluxos globais de capital quanto no predomínio de políticas ortodoxas, pautadas pela austeridade, que só fazem agravar a crise e jogar o ônus dos ajustes recessivos sobretudo nas costas da classe

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trabalhado-ra, como vem acontecendo na zona do euro. Este quadro tem condicionado as políticas econômicas no mundo todo.

Não por acaso dois projetos se defrontaram no último processo eleitoral. De um lado, as forças articuladas sobretu-do em torno sobretu-dos interesses sobretu-do capital financeiro, com amplo apoio da grande impressa, mas que também articulavam ou-tras frações da classe dominante e amplos setores da classe média. Este bloco, cuja principal expressão foi a candidatura de Aécio Neves, propunha como saída para o Brasil o rígido cumprimento das metas inflacionárias, a independência do banco central, o enrijecimento das metas de superávit pri-mário, reformas visando a redução de direitos trabalhistas e sociais, o câmbio valorizado e o aprofundamento da aber-tura da economia nacional. De outro, a candidaaber-tura Dil-ma, com forte apoio popular e com um discurso à esquerda (principalmente no segundo turno das eleições), advogava uma proposta que buscava de forma contraditória contem-porizar, ao mesmo tempo, as políticas macroeconômicas neoliberais com a continuidade das políticas voltadas para o crescimento do mercado interno e para o enfrentamento dos fulcrais problemas da desigualdade social e da miséria. Li-nha que viLi-nha sendo perseguida com algum sucesso desde o governo Lula, mas que já mostrava em 2014 sinais de esgota-mento no baixo cresciesgota-mento e no fato dos preços situarem--se no limite superior da meta de inflação.

O embate eleitoral também foi balizado pelos movimen-tos sociais que eclodiram em 2013, cujos ecos ainda se fa-ziam ouvir com força. Movimentos muito heterogêneos na sua composição e nas suas reivindicações, que iam do fim da corrupção disseminada no setor público às melhorias nos

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transportes urbanos, na educação e na saúde. Seja como for, estes movimentos evidenciaram os limites das políticas so-ciais focalizadas e de caráter compensatório do governo e defendidas pelas instituições multilaterais e pelos neolibe-rais. Eles indicam a necessidade premente de políticas so-ciais universais.

O presente livro pretende ser uma contribuição a discus-são dessas questões. O seu tema central consiste no debate acerca dos rumos do Brasil no complexo contexto nacional e internacional em que vivemos, tendo em vista os resultados das eleições. Boa leitura!

Agnaldo dos Santos José Marangoni Camargo Francisco Luiz Corsi

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O ideal de justiça social petista e

as relações de classe na sociedade

brasileira

Maria Angélica Chagas Paraizo1

Introdução

Antes de explanarmos mais detidamente sobre o deli-neamento dos governos Lula e Dilma e levantarmos consi-derações sobre os desafios impostos à governança dos mes-mos, se faz necessário remontarmos à origem do PT e suas sucessivas modificações programáticas. O Partido dos Tra-balhadores iniciou sua atuação como partido de massas no seio do movimento operário, na conjuntura histórica que fi-cou conhecida como as grandes greves do ABC paulista, no final da década de 70 e início dos anos 80. Em sua formação nunca buscou uma política homogênea ao agregar diversos setores como a esquerda católica, sindicalistas, intelectuais, pequenos proprietários e organizações operárias.

1 Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da FFC/ UNESP – Marília. Realiza pesquisa sobre política brasileira, Estado e Governo. Email: angelica.paraizo@yahoo.com.br

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No contexto de seu surgimento, o PT poderia ser consi-derado como uma alternativa à esquerda, com nuanças so-cialistas. Todavia, de acordo com Secco (2011), o socialismo petista era figurado em um “horizonte distante”, ao passo que o partido defendia um programa democrático-popular.

Na década de 80 o PT deu início a sua institucionali-zação ao eleger membros para o legislativo municipal, esta-dual, vindo também a ganhar prefeituras e posteriormente, em 1989, alçando-se à corrida eleitoral pela presidência da República. Deste modo, a institucionalização do partido apresentava a contradição entre manter seu conteúdo clas-sista e ampliar sua base eleitoral (SILVA, 2010).

Em seu programa de governo “As Bases do Plano de Go -verno Alternativo”, referente ao ano de 1989, o PT lança um

apelo às classes populares, buscando na luta da classe tra-balhadora o apoio necessário para efetuar mudanças rumo ao estabelecimento de uma democracia de caráter popular. Entretanto, o partido mostrava-se claro ao dizer que, mes-mo ganhando o poder sobre a “máquina administrativa do Estado”, ainda haveria estruturas2 que permaneceriam “nas

mãos da classe dominante”.

Após três sucessivas derrotas nos pleitos eleitorais para a presidência da República, no ano 2002 o PT ascende ao Executivo Federal, tendo Lula como presidente. Para tal, o partido passou por mudanças políticas e ideológicas, que

2 Como expresso no programa: “Mas o poder econômico, o poder militar e uma parcela decisiva do poder dos meios de comunicação permanece-rão ainda nas mãos da classe dominante. Lembrando ainda da Consti-tuição conservadora e do congresso atual que permanecerá com a atual correlação de forças até o inicio de 91.”

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segundo Emir Sader (2004), não foram repentinas. Desde 1994 o PT teria entrado em um processo de transformação, alterando sua composição e sua relação com os movimentos sociais, bem como com a institucionalidade e com temas an-tes centrais ao partido.

No programa de 2002 é possível notar uma postura li-beral em suas estratégias políticas. O PT agora visava o de-senvolvimento econômico tendo como eixo estruturante a questão social. Todavia, a pretensão do partido nesta con-juntura seria de “ouvir, propor e negociar permanentemente com todos os segmentos da sociedade brasileira (...)3”.

A campanha eleitoral de 2002 esforçou-se para apresen-tar Lula como um candidato que não agiria com intransi-gência frente aos compromissos com a burguesia e com o capital financeiro. Neste contexto, fora lançada a Carta ao

Povo Brasileiro, que ressaltava elementos como a valorização

do agronegócio, redução da taxa de juros de forma sustenta-da, manutenção do equilíbrio fiscal e do superávit primário, o que, de acordo com Lincoln Secco (2011), implicaria no controle dos gastos públicos.

O PT entrara em uma nova etapa. Anteriormente retra-tado como um partido de oposição, agora encontrava-se na situação. Assim, o Partido dos Trabalhadores, ao ascender ao Executivo Federal, distanciou-se tanto de um possível projeto de socialismo real, quanto da socialdemocracia eu-ropeia – viés político cujo PT apresentava algumas

caracte-3 Programa de Governo 2002/Coligação Lula Presidente: Um Brasil Para Todos, 2002. pp. 38-9. Grifos nossos.

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rísticas comuns devido às suas reivindicações e bandeiras passadas (IASI, 2006).

A postura liberal assumida pelo PT diante da presidên-cia é algo irrefutável. Na concepção governista, o liberalismo petista aproxima-se dos princípios de justiça social associa-dos ao desenvolvimento econômico em torno do ideal da equidade social. Todavia, ao realizarmos uma análise de es-querda das políticas desenvolvidas pelo Partido dos Traba-lhadores, a postura liberal assumida ganha outro significa-do, sobretudo quando centramos nossa análise nas relações de classe que foram delineadas durante os mandatos petista. Relações estas que assumem grande complexidade quando analisadas dentro da concretude histórica da formação da sociedade brasileira.

As políticas dos governos Lula e do governo Dilma

No início do primeiro governo Lula, houve mais cautela ao lidar com a política econômica em vigência no país e com o capital monopolista, denominada pelo partido de “heran-ça maldita do governo anterior” (FILGUEIRAS; GONÇAL-VES, 2007). Entretanto, no decorrer dos governos Lula e, so-bretudo, durante o seu segundo mandato, a postura política adotada visava conciliar os interesses de frações de classe da burguesia brasileira (BOITO JR., 2012).

A respeito da questão social, foram implementadas polí-ticas sociais, como o Programa Fome Zero, constituído por um conjunto de trinta programas que buscariam solucio-nar as causas imediatas da insegurança alimentar. Dentro

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desta gama de programas, o Bolsa Família assumiu o papel mais importante, tornando-se a mais expressiva política so-cial deste período. Segundo Filgueiras e Gonçalves (2007), estas políticas sociais adquiriram o caráter de focalização, contemplando as diretrizes de organizações mundiais como o FMI e o Banco Mundial, vinculando-se aos interesses do capital financeiro.

Diante do fato expresso acima, o Bolsa Família desempe-nhara importante papel ideológico ao amortecer as tensões de classe no seio do projeto liberal, além de sua significativa função político-eleitoral, como principal respaldo da reelei-ção de Lula ao cargo da presidência no ano de 20064.

De acordo com Fortes e French (2012), para ascender à presidência, Lula teve que convencer seu eleitorado de que iria se dedicar à estabilidade da economia brasileira antes de se voltar para sua proposta de redução das desigualdades sociais. Tal combinação fora positiva para o governo do PT, de modo que no pleito de 2010, Dilma Rousseff fora eleita, respaldada pelo recorde de aprovação de seu antecessor.

Os dois primeiros anos do mandato do primeiro gover-no de Rousseff foram estáveis. Mesmo sem a popularidade de Lula, a então presidenta deu continuidade ao programa petista, que, como dito anteriormente, foi se enquadrando cada vez mais nos moldes do liberalismo, porém, buscando se diferenciar do liberalismo ortodoxo ao apregoar o discur-so democrático da justiça discur-social.

As políticas sociais iniciadas e concretizadas pelos go-vernos Lula foram ampliadas pelo primeiro governo Dilma.

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Houve ainda a criação do programa habitacional – ligado às obras do PAC – destinado à população de baixa renda, intitu-lado “Minha casa, minha vida”. Este programa busca a redu-ção do déficit habitacional brasileiro, tendo como meta cons-truir dois milhões de unidades habitacionais. Vale destacar que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) – ini-ciado no segundo governo Lula com o PAC 1, e aprofundado pelo governo Dilma com o PAC 2 – destina-se às questões infraestruturais do país, fomentando de maneira expressiva o setor industrial ligado à construção civil. De acordo com Plínio de Arruda Sampaio Jr. (2007), tal programa seria uma forma de incentivo à iniciativa privada para sair da especula-ção financeira e direcionar investimentos produtivos.

Todavia, no plano macroeconômico o governo Dilma en-frentou dificuldades, uma vez que a conjuntura econômica internacional não se apresentava positiva, como no contexto do primeiro governo Lula. De acordo com Bresser-Pereira (2013), o êxito do governo Lula não se deu devido ao aumen-to das taxas de crescimenaumen-to e diminuição da desigualdade, tampouco pela política macroeconômica que adotou. Tal su-cesso foi resultado do aumento do preço das commodities exportadas pelo Brasil, à política do salário mínimo e à polí-tica internacional independente e criativa.

Ademais, o autor acima referenciado destaca que não hou-ve criatividade por parte do gohou-verno Lula em termos macroe-conômicos, pois este manteve a política herdada dos governos anteriores. O crescimento registrado em 2006 foi passageiro, fundamentado na boa onda da conjuntura internacional, bem como pelo aumento real do salário e ampliação do crédito ao consumidor, medidas que aqueceram o mercado interno.

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O governo Dilma iniciou-se com a proposta de conti-nuidade de seu antecessor, contudo, o crescimento do país apresentava uma taxa inferior para que seu desenvolvimen-to fosse de fadesenvolvimen-to alavancado, uma vez que o tripé macroeco-nômico fora mantido por Lula. No início de seu governo, Dilma declarou que para o real desenvolvimento do país se fazia necessário a reversão das políticas superavitárias, do câmbio flutuante e da meta de inflação5. Entretanto, a

indústria brasileira não saiu de seu permanente estado de desindustrialização, sobretudo devido à falta de apoio por parte da sociedade civil brasileira, influenciada pelo peso de uma direita liberal e conservadora:

O que se conseguiu, depois de dez anos de crítica, foi o apoio da sociedade para a redução das absurdas taxas de juros defendidas pela ortodoxia econômi-ca. Já em relação à taxa de câmbio, o que se logrou foi colocar o problema na agenda nacional. Mas não foi possível persuadir a sociedade quanto à neces-sidade e possibilidade de se adotar uma política de taxa de câmbio que faça com que o real flutue não mais em torno do equilíbrio corrente mas do equilí-brio industrial, porque os cidadãos têm dificuldade em compreender o papel da taxa de câmbio no de-senvolvimento econômico, e porque a hegemonia da ortodoxia liberal é ainda muito grande, apesar da desmoralização causada pela crise financeira global de 2008. (BRESSER-PEREIRA, 2013, p. 10)

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A falta de apoio por parte da sociedade civil citada por Bresser-Pereira é um dos pontos principais para entender os problemas concernentes ao desenvolvimento do Brasil. Também se torna um elemento de grande relevância na ten-tativa de elucidar o engodo político em torno da complexi-dade das relações de classe vivenciado pela governança do PT. Entretanto, este fato não é um problema a ser enfrentado unicamente pelos governos petistas, uma vez que tais gover-nos tornam-se partes constitutivas desta lógica complexa quando realizamos uma análise com base na concretude histórica brasileira.

A complexidade das relações de classe na

sociedade brasileira

Desde o seu surgimento enquanto colônia portugue-sa, o Brasil vincula-se de maneira dependente à economia internacional. Assim, o sentido de sua evolução é o senti-do de uma colônia destinada a fornecer gêneros tropicais e/ou minerais ao comércio europeu. A economia brasileira constitui-se de maneira totalmente subordinada a este fim, sendo estruturada unicamente para a produção de gêneros primários. Diante destes pressupostos, sua organização e seu funcionamento se pautaram de acordo com estes prin-cípios. Isto resultou em uma grave consequência, referente à evolução econômica da colônia, que caracteriza-se por uma evolução cíclica, constituída por fases de prosperidades lo-calizadas seguidas de um aniquilamento total. A economia brasileira se assenta em bases precaríssimas, de modo que

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parte de sua população não é senão o elemento propulsor para a manutenção de interesses estranhos, subordinando--se a objetivos alheios6.

A explanação acima consiste na análise caiopradiana a respeito de como se configurou o plano socioeconômico brasileiro diante de seu passado colonial. Mesmo datada de meados do século XX, tal apreciação se faz atual, trazendo imbricações na configuração do Estado e das classes sociais brasileiras hodiernas.

A modernização do Estado brasileiro se deu sob um ca-ráter conservador, tendo como objetivo a manutenção das bases coloniais, resultando na constituição de uma burgue-sia ligada à estrutura agrário-mercantil caracterizada por sua forma “rudimentar autocrática e, de certa forma, estag-nizante.” (MAZZEO, 1989, p. 89).

Como aponta Schwarz (2000), os valores liberais bur-gueses foram incorporados no Brasil na instância econômi-ca devido à lógieconômi-ca do lucro de sua produção agroexportado-ra. No âmbito ideológico, tais valores se chocariam com a escravidão e seus defensores. Em termos políticos, os princí-pios liberais e a noção de sociedade civil burguesa tornam-se restritos apenas à classe dominante. Na estrutura social pau-tada no escravagismo, o universalismo burguês não abarca-va as classes populares7.

Na teoria apregoava-se os valores liberais burgueses, en-quanto na prática prevaleciam os valores pautados no privi-légio, no clientelismo e no favor,

6 Prado Jr, C. A Formação do Brasil Contemporâneo, 1961, pp. 113-123. 7 Cf. Mazzeo, 1989, p. 120.

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[...] a “ideologia do favor” aparece como um instru-mento de dominação, só que num patamar mais ele-vado, isto é, o da diluição social, junto aos elementos livres e “semilivres” que a própria estrutura escravista ia criando. É para esses homens “livres” que o “favor” funcionava com o que poderíamos chamar de simu-lacro, uma relação que se estabelecia como caricatura do universalismo burguês, entre eles e os pertencentes à “classe dominante”. (MAZZEO, p. 122, 1989)

A formação social brasileira absorveu um liberalismo deformado, alheio à sua forma clássica. A burguesia, sem cumprir seu papel revolucionário, não autonomizou-se, aceitando ser economicamente dependente para manter seu lugar político8.

Com a consolidação do Estado nacional brasileiro e com a expansão da economia cafeeira há a necessidade da conformação de um corpo burocrático civil e militar, bem como da criação de um setor urbano de serviços agregado à economia agroexportadora. Neste contexto há o surgimento das camadas médias urbanas, com parte da população rural rumando para as cidades com a finalidade de preencher os novos postos econômicos que surgiam9.

De acordo com Saes (1985), a origem social daqueles que passaram a integrar as novas camadas médias urbanas é um elemento central para o entendimento de suas orienta-ções políticas. O potencial ideológico e político no contexto

8 Ibid. 1989, p. 128. 9 Cf. Saes, D. 1985, p. 45.

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urbano em delineamento no país não teve liberdade para expressar-se devido ao peso do tradicionalismo da classe dominante agrária. As “relações de lealdade”, ou seja, o apa-drinhamento, foram mantidos mesmo na conformação ur-bana. A “aristocracia empobrecida” rumou para as cidades buscando meios de neutralizar a crise pela qual passavam.

Em função de suas afinidades familiares, sociais e éticas com as camadas “despossuídas”, as oligar-quias lhes asseguravam um leque de cargos no po-der judiciário e na administração pública, posições de direção na administração privada, cátedras nas faculdades, oportunidades de serviço. Estas rela-ções de “lealdade” criavam as condirela-ções psicosso-ciais necessárias à submissão ideológica e política das camadas “despossuídas”, tanto mais que seu passado “aristocrático” era recente. Pode-se dizer, então, que as trocas sociais de tipo tradicional cons-tituíram, em grande parte, a garantia da absorção ideológica e política das camadas “despossuídas” pelas oligarquias rurais. (SAES, 1985, p. 44)

Às massas rurais que rumaram para os centros urbanos restou o trabalho operário ou atividades inferiores de ativi-dades não manuais. Estas baixas camadas urbanas não foram agregadas à lógica oligárquica, possuindo assim certa auto-nomia diante da ideologia e política oriundas da oligarquia10.

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Partindo destes pressupostos, pode-se observar que a complexidade da conformação da sociedade de classes bra-sileira advém de suas contradições estruturais que remon-tam de sua origem colonial. A burguesia aqui constituída abriu mão de sua potencialidade revolucionária para se aliar a interesses estranhos, em sua gênese, dependente da metró-pole portuguesa, posteriormente, mantendo sua situação de dependência diante do imperialismo.

O conservadorismo e tradicionalismo da burguesia bra-sileira refletiu nas demais classes sociais, tanto no plano político, quanto no ideológico. As classes subalternas foram mantidas alijadas dos processos políticos que aqui se desen-volviam, suprimidas do deformado ideário burguês que vi-gorava no país, enquanto as camadas médias urbanas foram moldadas com base nos valores do privilégio e paternalismo, oriundos dos valores oligárquicos.

Embora tal contextualização possa soar como uma aná-lise referente a uma época remota por retratar as relações de classe no período colonial e na conformação do Estado nacio-nal brasileiro, tais relações aqui expressas arraigaram-se nas práticas políticas e ideológicas de nossa formação societária.

Deste modo, a falta de apoio por parte da sociedade civil enfrentada pelos governos petistas, a qual se refere Bresser--Pereira (2013), é resultante desta herança conservadora. Contudo, na interpretação que aqui propomos, se faz ne-cessário esmiuçar esta problemática para evitar confusões que denotem tal afirmação como uma forma de justificativa para as debilidades dos referidos governos.

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As contradições de classe nos governos do

Partido dos Trabalhadores

Ao olharmos para a postura política assumida pelo PT através dos olhos da concepção governista, é possível obser-var que os princípios de justiça social associados ao desen-volvimento econômico podem ser fundamentados na teoria da justiça de John Rawls (2006). O fato do PT promover os interesses do bloco no poder, associando-os aos benefícios concedidos à camada mais pauperizada da população bra-sileira através das políticas sociais focalizadas, constituiria um exemplo clássico de justiça social para Rawls: o povo – em seu sentido amplo – foi beneficiado em seus interesses; houve o encaixe dos planos dos indivíduos e a execução des-tes planos conduziram a fins sociais de maneira eficiente e coerente com os princípios da justiça social.

Desta forma, a atuação dos governos do PT é justificável pela óptica da democracia liberal de Rawls: uma sociedade coesa é uma sociedade na qual exista cooperação social, pro-movendo o bem de todos os seus membros. Frente a isto, as instituições sociais têm o dever de promover a justiça social, garantindo a inviolabilidade dos direito naturais.

Mas esta ambição de estabelecer uma democracia libe-ral com base na justiça social seria possível em uma socie-dade que carrega em si um ideário burguês anômalo? Os problemas enfrentados pela governança petista expressam a incongruência deste projeto, incongruência esta que torna--se reflexo das contradições e complexidades existentes na superestrutura brasileira.

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Mesmo que o ideal democrático expresso pela atuação pe-tista no governo federal esteja de acordo com o pensamento liberal, há a não aceitação deste governo por setores sociais, nos quais merece destaque a “classe média”, cuja gênese esta-ria nas camadas médias urbanas anteriormente referenciadas. A classe média encontra-se fora do núcleo econômico definidor do capitalismo e também fora do poder político por não deter o poder do Estado e nem o poder social de organização da classe trabalhadora. Sendo assim, esta fração de classe é ideologicamente contraditória e tende a ser frag-mentada. Deste modo, a classe média não possui um refe-rencial social e econômico claro, cujo imaginário é povoado por um sonho e um pesadelo: “(...) seu sonho é tornar-se par-te da classe dominanpar-te; seu pesadelo é tornar-se proletária. Para que o sonho se realize e o pesadelo não se concretize, é preciso ordem e segurança.” (CHAUí, 2013, p. 131). Isso faz com que a classe média se caracterize como conservadora e reacionária, tendo como papel ideológico e político assegu-rar a “hegemonia ideológica da classe dominante”11.

Assim, a herança da sociedade colonial brasileira, pauta-da nas relações de mando-obediência, nas quais as desigual-dades são naturalizadas e a relação social entre as classes é sobredeterminada pela carência – expressa pelas classes po-pulares – e o privilégio das classes dominantes12,

perpetuou--se e manteveperpetuou--se cravada no âmbito político e ideológico da sociedade brasileira até os dias atuais.

11 Ibid., 2013, p. 131. 12 Ibid., op. cit.

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Ora, é possível notar na vociferação da classe média contra as políticas sociais do governo petista exatamente o fato acima mencionado. Exemplo enfático são as críticas ao programa Bolsa Família, que “dá o peixe ao invés de ensi-nar a pescar” aos menos favorecidos, proferidas pela parcela privilegiada da população brasileira que, diante da falta de clareza política de seu discurso, ignora ou desconhece, o fato de que os programas sociais focalizados estão na agenda de organizações mundiais vinculadas ao capital financeiro.

Este imbróglio ideológico é o principal obstáculo enfren-tado pelos governos petistas, mesmo depois destes terem dei-xado os “contornos socialistas” há três décadas e se firmado nos prumos do liberalismo, buscando atuar no âmbito da conciliação de classes durante suas governanças. O último pleito eleitoral ilustra esta questão: embora tenha ganho as eleições presidenciais de 2014, Dilma Rousseff contou com um menor número de votos válidos, num total inferior ao que atingiu em sua primeira candidatura em 2010, bem como de seu antecessor, Luís Inácio Lula da Silva, durante o pleito de 2006, de acordo com a comparação dos dados expressos por veículos de pesquisa como Ibope, Vox Populi e Datafolha.

Entretanto, não devemos reiterar tal problemática deri-vada da complexidade das relações de classe da sociedade brasileira como único motivo para a não conformação de uma democracia de caráter liberal com a pretensão de pro-mover o desenvolvimento com base na questão social13. Em

uma análise crítica, é possível afirmar que este ideal

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brado pelos governos petistas encontra entraves na própria lógica de governança assumida.

A política desenvolvimentista almejada pelos referidos governos configurou-se como um desenvolvimento dentro dos limites do capitalismo neoliberal, que impôs aos países periféricos a aceitação de uma especialização regressiva, voltada para os setores de produtos agrícolas, pecuários e recursos naturais; e no caso industrial em produtos de baixa tecnologia (BOITO JR., 2012).

O desenvolvimento econômico do Brasil neste período es-teve diretamente ligado ao chamado “boom das commodities”, que no caso brasileiro se restringe aos produtos de baixo valor agregado, diretamente ligados à tradição agrária e de mine-ração, cujo mercado internacional encontrava-se favorável no período destacado. Deste modo, a economia brasileira ainda se apresenta pautada na manutenção do modelo agrário-ex-portador, permanecendo vulnerável às intempéries do merca-do externo, como expresso por Caio Pramerca-do Jr. (1966).

No que concerne à relação estabelecida pelos governos do Partido dos Trabalhadores com as classes populares, as po-líticas sociais foram o marco mais importante. Como exem-plo, podemos citar o Bolsa Família, programa de distribuição de renda que foi responsável por retirar milhares de famílias da situação de extrema pobreza. Entretanto, o caráter fun-cional desta política, bem como seu vínculo com as diretri-zes das organizações multilaterais a torna problemática, não se configurando como uma política de Estado, mas sim um programa governamental (MARQUES e MENDES, 2007).

Segundo Francisco de Oliveira (2007), com o advento das políticas sociais destinadas às camadas mais pobres da

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população brasileira por parte dos governos Lula, houve a impressão de que o preconceito de classe e a desigualdade social teriam chegado ao seu fim e que as classes domina-das tomaram a direção “moral” da sociedade, enquanto a dominação burguesa se fez mais descarada. A questão da desigualdade e da pobreza fora assim despolitizada, trans-formando-se como mero problema administrativo.

Ademais, com a ascensão do PT ao Executivo Federal, antigas direções sindicais de outrora passaram a assumir as estruturas de poder, contendo e dificultando a luta dos movimentos sociais e a dos trabalhadores, em nome de um governo cujos objetivos encontravam-se de acordo com as recomendações do FMI e do Banco Mundial (MARQUES e MENDES, 2006).

Apoiando-nos em Poulantzas (1980; 2007), podemos afirmar que tanto os governos de Lula, quanto os de Dil-ma, cumprem com a função geral do Estado, organizando o bloco no poder – frações da burguesia brasileira e do ca-pital monopolista – e desorganizando as classes populares – como reflexo dos programas sociais focalizados, direções sindicais assumindo a estrutura do poder do país e desmo-bilização de movimentos sociais.

Considerações finais

Devido à sua origem no seio do movimento operário e o seu passado enquanto um partido com uma postura crítica às desigualdades candentes e aos limites impostos ao desen-volvimento do país dada a sua condição periférica, houve a

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esperança depositada na ascensão do Partido dos Trabalha-dores ao Executivo Federal, sob a crença de que mediante isto ocorreria a ruptura com o capital imperialismo e, consequen-temente, com seus organismos de atuação. Entretanto, tal crença tornou-se infundada com atuação de seus governos.

Para além das políticas desenvolvidas por estes governos, é importante destacar a transformação pelo qual passou o PT, referente à sua adaptação progressiva aos interesses das classes dominantes. Desta forma, as políticas desenvolvidas pelos go-vernos Lula e Dilma já encontravam-se anunciadas no curso da história do partido em questão. Gradativamente o partido foi deixando de lado sua postura crítica de outrora, adaptan-do-se aos limites institucionais nacionais e internacionais em obediência à lógica neoliberal. No plano discursivo expressa-va-se o anseio em superar os seculares problemas socioeconô-micos enfrentados pelo Brasil e no plano concreto as políticas implementadas mostraram-se superficiais e contraditórias.

Deste modo, o ensejo por parte dos governos do Partido dos Trabalhadores em promover o desenvolvimento do país com base nos princípios de justiça social mostrou-se implau-sível devido aos contornos que os próprios governos assumi-ram em suas gestões, ao passo que estes não ousaassumi-ram rom-per com a lógica de dominância em vigor no Brasil desde sua gênese. Ao darem alento a frações da burguesia brasileira, sobretudo as ligadas aos setores primários de produção, não promoveram a superação da desindustrialização vigente no país. Ademais, a subordinação ao capital imperialista fora mantida, tanto no plano econômico, quanto no plano social.

O projeto de desenvolvimento fora caracterizado por Gonçalves (2012) como uma versão do liberalismo

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enrai-zado, por sua compatibilidade com as políticas destinadas à estabilização macroeconômica. Assim, as políticas sociais foram compatíveis com esta postura liberal, sendo incapa-zes de romper com as estruturas de dominância vigentes no país. De acordo com Chauí (2013) medidas de inclusão social não são suficientes para enfrentar o sentimento de privilégio existentes na sociedade brasileira. Para superar esta questão ideológica, o Estado deveria implementar uma reforma tri-butária que atue sobre a concentração de renda existente no país, de modo que políticas de transferência de renda tornem--se políticas de distribuição de renda de maneira efetiva, uma reforma política, uma reforma social que consolide o Estado de bem-estar como uma política de Estado e não somente como um programa de governo e uma política de cidadania cultural visando desmontar o imaginário autoritário incrus-tado nas classes dominantes, refletido na classe média.

Diante destes fatos, as políticas de desenvolvimento pau-tadas na questão social apregoadas pelos governos petistas estiveram aquém até mesmo dos princípios socialdemocra-tas, encontrando-se, assim, apenas no plano das ideias.

Os governos Lula e Dilma mantiveram a lógica da do-minação autocrática burguesa no Brasil e a política de conciliação de classes vislumbrada pelos governos petistas mostrou-se ineficiente em uma sociedade que tem a desi-gualdade social arraigada em sua origem. Os governos do PT reproduzem o jogo de subordinação entre classes, através das políticas focalizadas, que abarcaram a parcela mais pau-perizada da população brasileira; bem como as medidas de-senvolvidas para assegurar os interesses da burguesia nacio-nal e do capital financeiro internacionacio-nal. Ademais, a própria

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tentativa de conciliar classes antagônicas se torna uma con-tradição em termos, uma vez que, como nos aponta Lênin (2010), o Estado é em si um órgão de dominação de classes.

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Reprimarização da pauta de

exportação e a atual inserção

internacional brasileira na contramão

dos países em desenvolvimento com

diversificação econômica

Júlio Fernandes do Prado Leutwiler1

Introdução

A produção de recursos naturais apresenta especificida-des e ambiguidaespecificida-des que a distingue das atividaespecificida-des econômi-cas estritamente privadas. A primeira delas é sua indisso-ciabilidade do território nacional2 e a segunda é seu caráter

estratégico3 (FURTADO E URIAS, 2013).

1 Mestrando de Ciências Sociais com ênfase em Relações Internacionais e Desenvolvimento pela Universidade Estadual Paulista – UNESP –, câm-pus de Marília.

2 Mesmo quando operadas por empresas privadas em regimes de conces-são, reservas de gás, petróleo, água e outros minerais, constituem um patrimônio público, uma riqueza nacional.

3 O acesso a alimentos, energia e minérios é uma condição vital para a sobrevivência humana e o desenvolvimento capitalista de uma nação, sendo tratada com frequência como uma questão de soberania.

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Segundo Furtado e Urias (2013) a especialização primá-rio-exportadora, produto histórico da industrialização dos países europeus e da formação de colônias, estava funda-mentada na teoria da divisão internacional do trabalho, ba-seada nas vantagens comparativas ricardianas, oriundas da dotação relativa de fatores4. Tal teoria assume que os ganhos

de produtividade advindos do progresso técnico seriam re-partidos de modo equânime entre seus geradores e usuários, por meio da evolução dos preços e dos sistemas de trocas. Assim, as economias nacionais não precisariam modificar sua especialização, decorrente da sua constelação de fatores produtivos naturais, nem promover a industrialização.

Porém, segundo a tese de deterioração dos termos de troca, a lentidão no progresso técnico da produção de pro-dutos primários tem efeitos nos níveis de produtividade, que

4 Os fundamentos dessa teoria têm origem nas contribuições do econo-mista inglês David Ricardo, expostas no livro Os princípios da política

econômica e da taxação, de 1817. Segundo tal teoria, cada país deve se

especializar nos setores nos quais possui maior produtividade em com-paração ao país com o qual possui relações comerciais. O que importa aqui não é o custo absoluto de produção, mas a razão de produtividade que cada país possui. O conceito de vantagens comparativas constitui o alicerce das teorias modernas do comércio internacional, que, por sua vez, possuem como base as contribuições teóricas dos economistas sue-cos Eli Heckscher e Bertil Ohlin. O modelo Heckscher-Ohlin, formulado na primeira metade do século XX, tem como hipótese que o padrão de comércio de uma economia reflete a diferença na distribuição da dota-ção de fatores entre o exportador e o importador, e que as economias deveriam se especializar na exportação de bens relacionados aos fatores nos quais seriam mais bem dotados.

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crescia de modo mais acelerado nos produtos industriais5.

Embora a literatura econômica tradicional preconizasse que os ganhos de produtividade seriam transferidos aos consu-midores como reduções proporcionais nos preços, não era isso que a realidade mostrava. Assim, Furtado e Urias (2013, p. 266) apontam que:

Entre os fatores que contribuem para a desigualdade estrutural estão o progresso técnico, que é mais ace-lerado no centro do que na periferia, e os argumen-tos da produtividade do trabalho, que são captados de modo mais intenso nos países industrializados do que nos primários-exportadores. Esses fatores intensificam a tendência à deterioração dos termos de troca, à medida que o poder de compra dos bens primários de exportação é reduzido em relação ao dos bens industriais.

5 A distinção entre o modo de funcionamento das economias dos países industrializados e das nações especializadas em bens primários foi um dos temas mais investigados pela Comissão Económica para América Latina e Caribe (CEPAL). Em O desenvolvimento econômico da América

Latina, publicado em 1949, Prebisch esmiúça essas diferenças e

conce-be o sistema centro-periferia e a tese da tendência à deterioração dos termos de troca. Antes de esse trabalho ser publicado, o economista ale-mão (naturalizado britânico) Hans Singer já argumentava a existência de uma tendência à deterioração dos termos de troca no longo prazo, que desfavorecia os países menos desenvolvidos. No entanto, o trabalho de Singer só foi publicado no inicio de 1950, pouco após a versão em espanhol do artigo semanal de Prebisch. A tese ficou conhecida na lite-ratura econômica como tese Prebisch-Singer, fazendo jus à contribuição independente e coetânea de ambos os autores.

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Os setores produtores de commodities6 geram altas

ren-das periódicas (lucros extraordinários), associados aos ciclos de preços típicos desses produtos7. Assim, a natureza de sua

produção e seus ciclos de preços tem sérias implicações so-bre os países produtores8 na forma de valorização da moeda

local, acarretando o desestímulo às outras atividades, prin-cipalmente as manufatureiras, e ocasionando um processo de especialização, configurando assim a denominada doen -ça holandesa9 (CARNEIRO, 2012). Esse fenômeno se daria

6 De acordo com Sinott (2010), commodities são produtos que se caracteri-zam por ser indiferenciados, com elevado conteúdo de recursos naturais e com baixo processamento industrial.

7 A exploração de recursos naturais produz efeitos econômicos, am-bientais e sociais fundamentais. Um boom ou um bust internacional nos preços de commodities tem impacto direto nas taxas de câmbio, no balanço de pagamentos, no nível de renda e do emprego em países primário-exportadores. Não é à toa que alguns países exportadores de recursos naturais depositam os recursos advindos do comércio externo em um fundo soberano no exterior, para minimizar ou neutralizar os efeitos de uma grande variação nos preços ou nos volumes de produção (FURTADO E URIAS, 2013).

8 Carneiro (2012), em seu texto tem como referência os países em desen-volvimento, em especial os da América Latina.

9 O termo doença holandesa é empregado para expressar situações nas quais o aumento das receitas de exportações de produtos ligados à base de recursos naturais de um país provoca a desindustrialização da sua estrutura produtiva, em virtude da valorização cambial decorrente. O termo foi utilizado pela primeira vez nos anos 1960, para identificar os efeitos que a elevação dos preços do gás natural e das receitas cambiais associadas a esse recurso produziu nos Países Baixos: valorização cam-bial e quedas significativas na fabricação de produtos manufaturados.

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a partir de um boom nas exportações de recursos naturais, induzindo uma valorização excessiva da taxa de câmbio, pela entrada massiva de moeda estrangeira, reduzindo o ní-vel de competitividade de outras atividades econômicas do país. A estrutura produtiva, por consequência, perde em di-versificação, e países com uma já elevada concentração das exportações em setores baseados em recursos naturais se tornariam ainda mais especializados.

Esse fenômeno, quando observado na América Latina, costuma receber o nome de reprimarização da pauta expor -tadora10 (FURTADO E URIAS, 2013)

Tendo como referência a ótica da natureza da produção de commodities atualmente na visão de Carneiro (2012), observam-se características no comércio internacional que para o autor, tem levado muitos economistas a rever suas concepções a respeito das possibilidades de desenvolvimen-to das economias especializadas. A elevação dos preços das

commodities, segundo intensidade, em termos de patamar,

10 “En efecto, los países beneficiados por el auge de los productos básicos son muy sensibles a una reversión de la tendencia de los términos de intercambio. Sin embargo, aunque persistieran estas condiciones fa-vorables en el contexto externo, hay motivos para preocuparse por las tendencias en la estructura productiva, en particular la reprimarización de la especialización exportadora. La experiencia histórica indica que la especialización tanto en ensamblaje de bajo valor agregado como en productos primarios está asociada a trayectorias poco dinámicas de la productividad, el empleo y el crecimiento económico de largo plazo. Es necesario evaluar los beneficios de corto plazo de este tipo de especiali-zación productiva frente al costo que conlleva en el largo plazo” (CEPAL, 2012, p. 25 e 26).

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a abrangência, quanto ao número de produtos, e a duração, em números de anos, sugere que se está diante de fatos his-tóricos particulares11. Entretanto, Carneiro (2012) apresenta

que a elevação dos preços das commodities que se inicia nos anos 2000, apesar de ter trazido benefícios para os países produtores desses bens12, não alterou a lógica de crescimento

restringido e com profundas implicações para o desenvolvi-mento em longo prazo que a especialização nessas mercado-rias provoca. Isso pode ser verificado em:

Durante a etapa da globalização, países subde-senvolvidos que optaram por uma estratégia de diversificação econômica lograram um cresci-mento mais rápido e um processo de cathing up mais expressivo do que aqueles que permanece-ram especializados. Essa constatação se manteve mesmo para os períodos mais recentes marcados pelo choque positivo dos preços de commodities. (CARNEIRO, 2012, p. 43).

Assim, o autor aponta que, dado o nível de renda per capital dos países em desenvolvimento, a diversificação e, mais propriamente, a industrialização, continuam sendo os principais objetivos a perseguir.

11 Sobre a elevação dos preços das commodities após os anos 2000, será discutido aprofundadamente no tópico “1.4 O comércio internacional e participação dos países em desenvolvimento”.

12 O autor dá ênfase aos países em desenvolvimento, produtores tradicio-nais de commodities.

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Conjuntura da economia brasileira, desde os

anos 2000

A economia brasileira experimentou, entre 2003 e 2010, uma nova fase em sua trajetória de crescimento, sobretudo, quando comparada a década de 1980 e mesmo em relação ao último decênio do século passado. Além de ter quase du-plicado sua taxa de crescimento em relação ao período com-preendido entre 1995 e 2002, passando de 2,3% para 4,03% a.a.13 (BRASIL, 2012).

Nesse período, as exportações brasileiras apresentaram acentuado crescimento. O país saltou de aproximadamen-te 60 bilhões de dólares exportados em 2002, para mais de 256 bilhões de dólares em 2011, tendo um crescimento de mais de 420% em suas vendas externas (BRASIL, 2012). A partir de 2003, o crescimento das exportações brasileiras esteve acima do desenvolvimento mundial, apresentou-se menor apenas em 2009 por conta da crise14, porém com altas

de mais de 15 pontos percentuais em média entre 2004 e 2010 (BRASIL, 2012). Em 2001 a relevância das exportações brasileiras apresentava 0,97% no total mundial chegando a 1,36% em 2010, obtendo um incremento de 40,2% (BRASIL, 2012). Este processo foi acompanhado com grandes saldos

13 O referido período foi palco, simultaneamente, de um dos mais notáveis episódios de redução da pobreza e da desigualdade de renda da história recente. Tais fatos parecem ter ocorrido sob a forma de uma combinação de elementos de continuação e mudança, vis-à-vis governos anteriores, na condução das políticas públicas, em geral, e da política macroeconô-mica, em particular.

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comerciais em nossa balança comercial, algo que contribuiu para o aumento das reservas em dólares para o Brasil e de certa forma, valorizou de forma expressiva o real no período analisado (MENDONÇA DE BARROS, 2008). Estes supe-rávits apresentam como ápice de entrada de dólares os anos anteriores à crise, tendo sido muito elevados nos anos de 2005, 2006 e 2007, exibindo saldos positivos de mais de 40 bilhões de dólares de divisas (BRASIL, 2012).

Outro aspecto bastante importante, que acompanhou este processo, como pode ser verificado no gráfico 1, foi o comportamento de nossas exportações por fator agregado, que as separam em produtos básicos, semimanufaturados, manufaturados e operações especiais de 2002 a 2011. É notó-rio que até 2006, ela apresenta característica bastante estável, exibindo uma maior concentração na exportação de produ-tos manufaturados, chegando a 55,1% em 2005, participação relevante de produtos básicos e em menor escala de semima-nufaturados. A partir de 2007, pode-se observar claramente uma tendência de diminuição da participação dos manufa-turados em relação a um aumento dos básicos, não diferin-do de forma relevante os semimanufaturadiferin-dos. Esse processo fez com que em 2011 os produtos primários representassem quase 50% de nossa pauta de exportação, contra 36,1% dos manufaturados, fazendo com estes sofressem uma queda de quase 20% de 2007 a 2011.

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Gráfico 1. Participação % por fator agregado nas exportações brasileiras, 2002-2011.

Fonte: BRASIL, 2012.

Segundo Leutwiler (2012), a principal razão para este processo foi o efeito da crise econômica que teve como ca-racterística a diminuição da participação dos países desen-volvidos no comércio mundial15, em contraponto com uma

maior relevância dos países em desenvolvimento. A contí-nua demanda por commodities e a alta dos preços, fez com que tal projeção fosse possível em nosso país, dado que te-mos grande competitividade no setor destas mercadorias.

15 Estados Unidos e Europa são tradicionais mercados de produtos manu-faturados brasileiros. Entre 2002-2012, por exemplo, os EUA registra-ram uma perda de 35% para 15% na participação nas exportações de produtos manufaturados brasileiros (PEREIRA, 2014).

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Outro reflexo deste movimento foi que os principais parcei-ros comerciais brasileiparcei-ros diferenciaram-se no decorrer do período analisado, tendo mais relevância o crescimento do comércio com países em desenvolvimento16.

De acordo com Pereira (2014) a ascensão chinesa no período analisado, como mercado destino das exporta-ções brasileiras, acompanhado com queda da participação dos Estados Unidos foi a maior mudança na estrutura das exportações. Enquanto a participação da China passou de 4,2% para 17% entre 2002 e 2012, a dos EUA caiu 25,4% para 11%, no mesmo período.

Reprimarização das exportações de produtos

agroindustriais e da pauta de exportação

brasileira

No quadro 1, foram selecionados os principais produtos das cadeias agroindustriais17 e são apresentados de forma

agrega-16 O exemplo mais notório foi que em 2009 a China passa a ser o destino mais importante de nossas exportações.

17 O produto interno bruto (PIB) do setor agroindustrial cresceu 3,9% ao ano (a.a.) contra 3,6% da economia no período 2000-2011. No que se refere à oferta em termos físicos, a produção de grãos, oleaginosas, ce-reais e fibras surpreendeu, saltando de 83 milhões para 163 milhões de toneladas nos últimos doze anos. A presença agropecuária na geração de divisas também é expressiva, sendo que o saldo comercial propor-cionado pelo agronegócio atingiu US$ 77,4 bilhões em 2012. Sobre este último, vale mencionar que desde 2007 o agronegócio tem sido o

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princi-da (baixo, médio e alto valor), em conjunto com o crescimento percentual de cada divisão em relação ao ano indicado18.

pal responsável pelo saldo positivo na balança comercial com uma par-ticipação expressiva de mais de 40% nas exportações (BELIK, 2014). 18 Os dados apresentados são oriundos do trabalho de Leutwiler (2012),

que propôs uma avaliação da evolução das cadeias agroindustriais brasileiras, a partir dos anos 2000, levando-se em conta o contexto do comércio mundial e as mudanças estruturais da economia no início deste novo século. Especificadamente o estudo realizou uma pesquisa sobre o setor agroindustrial a partir da perspectiva do seu desenvolvi-mento no comércio internacional e no interior da economia brasileira, atentando para as exportações brasileiras de produtos agroindustriais como o principal foco da análise. Dessa forma, pode-se estruturar pos-síveis cenários para o setor analisado e sua influência no arcabouço de nossa economia, que repercute sobre a inserção internacional brasilei-ra atualmente. Na pesquisa fobrasilei-ram selecionados dentro do setor agroin-dustrial 17 produtos de baixo valor agregado, 14 semimanufaturados e 18 de alto valor agregado.

Inicialmente os dados foram dimensionados para os anos 2000, 2005 e 2010, podendo ser observada uma atualização para o ano de 2013 no presente trabalho. Porém, por conta da recessão que ainda vigora nos países centrais, em decorrência da crise de 2008 e seus efeitos sobre a economia mundial, e as incertezas do cenário atual, as análises conti-nuam focados no período inicial da pesquisa entre 2000 e 2010.

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Qu ad ro 1 . E xp or ta çã o a gr oi nd us tr ia l b ra sil ei ra p or f at or a gr eg ad o, e m m ilh õe s d e d ól ar es e v ar ia çã o % c om o a no i nd ic ad o. Fo nt e: E la bo ra da p elo a ut or , ba se ad a n os d ad os d a U N c om tr ad e 19. 19 Di sp on ív el e m : < h ttp :// co m tra de .u n. or g/ db /> .

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Os produtos de baixo valor agregado e semimanufatu-rados ganharam representatividade no período analisado crescendo respectivamente 648% e 515%, respondendo por quase 95% da soma dos produtos selecionados nas três di-visões em 2013, sendo 62% de baixo valor agregado neste ano. Em contrapartida, observou-se uma diminuição da participação dos produtos de alto valor agregado, que res-pondiam por 17% do total em 2000, chegando a apenas 6% em 2013. Além disso, apresentou-se tendência de concentra-ção na pauta de exportações do Brasil por parte de alguns produtos específicos como a soja, açúcar e carnes em geral20.

Observou-se um movimento de reprimarização crescente nas mercadorias do setor, algo que fortaleceu a tendência de

reprimarização no total de exportação dos produtos

brasi-leiros, que é especificamente forte a partir de 2007, e que se aprofundou com o início da crise econômica internacional em 2008 (LEUTWILER, 2012).

Muitos estudos identificam que a reprimarização é uma tendência desde a alta dos preços das commodities no merca-do internacional. Bresser Pereira, citamerca-do por Paulino (2011) e Almeida (2008) apontam que a balança está pendente para o lado negativo com grande risco de uma possível

desin-20 Nota-se um crescimento marcante entre desin-2010 e desin-2013 das exportações de produtos de baixo valor agregado. Isso reflete o que foi descrito ante-riormente sobre os efeitos da crise internacional e corresponde majori-tariamente ao crescimento das exportações de soja para a China.

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dustrialização21 e dependência do consumo chinês22. Além

disso, os autores entendem que o grande afluxo de capitais advindos das divisas das cadeias agroindustriais nos últimos 10 anos, valorizou muito nossa moeda23 fazendo com que

21 Uma das questões mais importantes no debate econômico brasileiro atual é a discussão sobre a existência ou não, de um processo de redu-ção da participaredu-ção relativa da indústria na economia. De acordo com Wilson Cano (2012), as características presentes na economia brasileira desde a década de oitenta, de ausência de políticas industriais e de de-senvolvimento, da conjugação de juros elevados, falta de investimentos, câmbio sobrevalorizado e exagerada abertura comercial, provocou a de-terioração da industrialização atingida em períodos anteriores. Assim, é praticamente inegável que este processo está presente em nossa econo-mia, como pode ser observado em “[...] a participação do Brasil na pro-dução da indústria de transformação mundial, que era de 2,8% em 1980, vai caindo para 2% em 1990 e atinge 1,7% em 2010” (CANO, 2012, p. 7). 22 As relações com a China, novo polo dinâmico da economia mundial, se

comportam de forma dialética. Por um lado, existe uma grande deman-da para nossos produtos principalmente as commodities, que represen-tam 80% do total das vendas para este país, tendo o complexo de soja e os minérios seus produtos majoritários. Por outro, a grande competiti-vidade das manufaturas chinesas no comércio mundial, representam uma grande concorrência para nossos produtos que apresentam menor competitividade. No período 2002-2011, o crescimento médio anual das importações totais da América do Sul foi de 21%, sendo que as impor-tações oriundas da China aumentaram 38% e as do Brasil em 20%. O resultado foi um aumento de 5,4% para 15,7% da participação da China nas importações sul-americanas e para o Brasil a porcentagem se man-teve estável em 13% (PEREIRA, 2014).

23 A questão cambial, tendo como referência a sobretaxa de câmbio, esteve em foco no Brasil no período que compreende a presente pesquisa

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(2000-os setores industriais de média e alta tecnologia perdessem competitividade24.

Este quadro só pode ser compreendido em perspectiva histórica, pois as políticas econômicas adotadas pelos go-vernos Lula e Dilma se, de um lado, romperam em vários aspectos com o projeto neoliberal implantado nos anos de

2014). Segundo Munhoz e Veríssim (2014) os efeitos mais robustos sobre a taxa de câmbio advêm dos choques dos preços das commodities, das entradas de investimentos em carteira e do risco-país. Isso significa que a dinâmica da taxa de câmbio brasileira está fortemente sujeita às especulações subjacentes tanto ao comércio internacional de

commodities como às transações financeiras internacionais.

24 Isso pode ser comprovado se analisarmos o aumento do déficit comer-cial do setor de média e alta tecnologia, que apesar de apresentar déficits historicamente, no ano de 2010 foi de cerca de US$65 bilhões enquanto que em 2009 foi de US$45 bilhões aproximadamente, um aumento de US$20 bilhões em apenas um ano (INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL, 2011). Além do crescente déficit da indústria de média e alta tecnologia, outro dado que aponta a perda de competitividade do setor dinâmico de nossa economia, é a participa-ção deste no comércio mundial, que era de 0,52% em 2000 e represen-tou 0,49% em 2009 (DE NEGRI E ALVARENGA, 2011). Por outro lado a indústria de baixa tecnologia aumentou em muito seus saldos comer-ciais a partir dos anos 2000, sendo que as atividades ligadas às cadeias agroindustriais foram as que mais se destacaram, impulsionadas pelo aumento dos preços externos. Em 2010 as indústrias de alimentos, be-bidas e fumo apresentaram um saldo de US$32,2 bilhões, e o saldo total das indústrias de baixa tecnologia foi de US$38,9 bilhões. Entretanto, no setor a concorrência com a China trouxe o primeiro déficit comercial desde 1989, para alguns ramos, como a indústria de vestuário, couro e calçados, de US$215 milhões no ano de 2010 (INSTITUTO DE ESTU-DOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL, 2011).

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1990, de outro lado, guardam também importantes pontos de continuidade.

Revertendo prioridades dos anos 1990, quando o governo abandonou a política de obtenção de superávits comerciais, o governo FHC, sem muitas alternativas para estimular as exportações, adotou uma série de medidas para favorecer o agronegócio, embora àquela altura não fosse previsível o boom de commodities que se desencadearia a partir de 2003. No caso do agronegócio, cabe destacar, sobretudo a amplia-ção de crédito subsidiado, as políticas de desenvolvimento tecnológico, o incremento dos investimentos em infraestru-tura e a desvalorização da moeda. Medidas que visavam do-tar o setor de maior competitividade no mercado mundial.

O governo Lula aprofundaria esse caminho, apesar de ter flexibilizado a política de seu antecessor em muitos aspectos. Lula manteve os pilares centrais da política ma-croeconômica de FHC, também deu continuidade à política de estimulo as exportações de commodities, somado a isso, criou programas de investimento em infraestrutura e medi-das voltamedi-das ao enfrentamento da miséria e da desigualdade social. O governo Dilma manteve no fundamental a política econômica de Lula, ou seja, a política macroeconômica neo-liberal, os incentivos as exportações de bens primários e as políticas sociais e de investimento em infraestrutura.

Resultado importante da política adotada no período foi a tendência a apreciação cambial, que teve forte influência negativa sobre o setor industrial e sobre as contas externas. Os superávits comerciais elevados e a atração de grande volu-me de capital, graças a manutenção de altas taxas de juros em um contexto de relativa abundância de liquidez no mercado

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mundial, levou à continua valorização do real. O agronegócio pode absorver a tendência a valorização da moeda a partir de 2003 graças ao grande incremento dos preços internacionais das commodities, o que não aconteceria com a indústria.

A maior competitividade na exportação de commodities no período que corresponde a presente pesquisa (2000-2014) fortaleceu o desenvolvimento das relações comerciais para os países em desenvolvimento, por conta da maior demanda desses países por produtos primários. Esse cenário pode ter sido corroborado pelos governos Lula e Dilma25, em direção

à política de cooperação Sul-Sul26 iniciada por Lula e

segui-da à risca pela presidente Dilma.

Outro problema apontado por Almeida (2008) é a gran-de instabilidagran-de histórica dos preços gran-de commodities no mercado internacional, e a alta possibilidade de a situação favorável dos preços nos últimos anos se inverter em um curto período, como vem ocorrendo desde 2013, trazendo complicações imediatas para nossas contas externas, dada nossa dependência dos saldos comerciais da área. Se este cenário for comprovado, o autor acredita em um alto risco derivado da doença holandesa.

De Negri e Alvarenga (2011) dizem que as grandes reservas advindas das divisas da cadeia agroindustrial, reforçaram nossa

25 Não foram identificados no período grandes esforços por parte dos dois governos Lula e do primeiro governo Dilma, para que a realidade de taxa de câmbio valorizada fosse alterada, algo que está intimamente li-gado com a política de cooperação Sul-Sul desenvolvida pelos governos. 26 Processo de articulação política e de intercâmbio econômico, científico, tecnológico, cultural e em outras áreas entre países em desenvolvi-mento, para fins de promover o desenvolvimento.

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economia para possíveis instabilidades internacionais, e creem que os ciclos de alta dos preços internacionais de commodities vão perdurar por um longo período. Furtado (2008) acrescenta que a diversidade de nossa economia e a grande integração das cadeias agroindustriais com os outros setores produtivos, cria uma resistência ao risco de uma possível doença holandesa.

Mendonça de Barros (2008) apresenta visão muito pare-cida e aponta que o conjunto de reformas implementadas a partir de 1994 e o aparecimento da China como novo polo dinâmico, incorporando a economia de mercado e a sua gigantesca população, provocou uma mudança nos preços relativos mais favoráveis às commodities e que tende a per-durar por um longo período de tempo. Para o autor, o for-talecimentos das contas externas, apesar do risco de doença

holandesa, criou condições tanto para a estabilização

mone-tária como para fomentar um crescimento sustentável, via expansão do consumo, crédito e do investimento.

O comércio internacional e a participação dos

países em desenvolvimento

A primeira década deste século foi marcada por algumas características peculiares importantíssimas, que de certa forma, estão alterando a conjuntura do sistema capitalista mundial, e que podem trazer grandes transformações para a economia internacional em longo prazo e para o sistema internacional27.

27 Um sistema internacional se forma quando dois ou mais estados têm suficiente contato entre si, com suficiente impacto recíproco nas suas

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Dentro deste âmbito, vale ressaltar a crescente impor-tância dos países em desenvolvimento no comércio. Fator intrínseco a este processo foi uma alta de preços das mer-cadorias de baixo valor agregado, as consideradas

commodi-ties, que é acentuado a partir do ano de 2004. Esse processo

de alta dos ciclos de preços internacionais no mercado de

commodities pode ser verificado no gráfico 2.

Gráfico 2. índice dos preços das commodities.

Fonte: ALEM, et al., 2014.

decisões, de tal forma que se conduzam como partes de um todo. Quan-do os estaQuan-dos mantêm contato regular entre si, e quanQuan-do, além disso, a sua interação é suficiente para fazer com que o comportamento de cada um deles seja um fator necessário nos cálculos dos outros, pode-mos dizer que eles formam um sistema. A interação dos estados pode ser direta ou indireta. E a natureza dessa interação, que define o sistema internacional, pode ter a forma de cooperação, competição ou mesmo de neutralidade (BULL, 2002).

Referências

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