UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE ODONTOLOGIA
EFICIÊNCIA DO INSTRUMENTO RECIPROC BLUE R25 EM ALCANÇAR O COMPRIMENTO DE TRABALHO SEM GLIDE PATH
Niterói 2018
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE ODONTOLOGIA
EFICIÊNCIA DO INSTRUMENTO RECIPROC BLUE R25 EM ALCANÇAR O COMPRIMENTO DE TRABALHO SEM GLIDE PATH
MILLA LESSA CARDOSO
Dissertação apresentada à Faculdade de Odontologia da Universidade Federal Fluminense, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre, pelo
Programa de Pós-Graduação em
Odontologia.
Área de Concentração: Clínica
Odontológica
Orientador: Prof. Dr. Gustavo André de Deus Carneiro Vianna
Niterói 2018
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Gustavo André de Deus Carneiro Vianna
Instituição: Faculdade de Odontologia da Universidade Federal Fluminense
Decisão: _________________________ Assinatura: _______________________
Prof. Dr. Henrique Eduardo Oliveira
Instituição: Faculdade de Odontologia da Universidade Federal Fluminense
Decisão: _________________________ Assinatura: _______________________
Prof. Dr. Emmanuel João Nogueira Leal da Silva
Instituição: Faculdade de Odontologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro Decisão: _________________________ Assinatura: _______________________
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus avós maternos Wilingda Pereira Selomith Lessa e Luiz Carlos Lessa, que, desde a infância, foram grandes exemplos de humildade e dedicação. O papel que exerceram em minha vida foi fundamental para que este sonho fosse possível. Palavras nunca serão suficientes para expressar toda minha gratidão.
AGRADECIMENTOS
A gratidão torna tudo o que temos em suficiente. Áqueles que direta ou indiretamente contribuíram para a elaboração deste trabalho deixo meus sinceros agradecimentos.
A Deus, por estar sempre ao meu lado, me guiando e protegendo.
Aos meus pais Marcello Gil e Ludmila Lessa, por me ensinarem o que é o verdadeiro amor, por todo incentivo e por se dedicarem incansavelmente a me oferecer a melhor educação possível.
Aos meus irmãos Michelle e Marcello pelo companheirismo e cumplicidade em toda vida.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Gustavo André de Deus Carneiro Vianna, por toda paciência e ensinamentos. Sem dúvidas uma grande fonte de inspiração e forte exemplo de profissionalismo e dedicação.
Aos amigos adquiridos no grupo de pesquisa, por toda ajuda despendida para a finalização deste trabalho, pela companhia e pelos momentos de descontração.
Aos membros da Banca Examinadora pelo tempo investido em avaliar criteriosamente este trabalho, pelas críticas construtivas e por gentilmente compartilhar seus conhecimentos.
A todos os professores e funcionários da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal Fluminense, foi um privilégio continuar meu aprendizado na instituição que inicialmente me formou e pela qual nutro profundo carinho.
Tão importante quanto ter o que agradecer, é ter a quem agradecer. Seria injusto não dar crédito a todos aqueles que tornaram este momento possível. Muito obrigada!
RESUMO
Cardoso, Milla Lessa. Eficiência do instrumento Reciproc Blue R25 em alcançar
o comprimento de trabalho sem glide path. 2018. 28f. Dissertação (Mestrado em
odontologia - Clínica Odontológica) - Faculdade de Odontologia, Universidade Federal Fluminense, Niterói.
Recentemente foi lançado no mercado a segunda geração do instrumento Reciproc. A nova lima Reciproc Blue recebe um tratamento térmico que resulta em um instrumento mais flexível e com memória de forma controlada. Até o momento, o desempenho do instrumento Reciproc Blue ainda é desconhecido quanto à necessidade ou não de glide path previamente a sua utilização. Portanto, o presente estudo foi desenhado para avaliar a frequência de casos em que o instrumento
Reciproc Blue R25 é capaz de atingir o comprimento de trabalho sem glide path.
Para isso, foram selecionados 150 molares inferiores com um total de 302 canais de molares inferiores com raízes retas ou moderadamente curvas. Ambos canais mesiais e distais foram instrumentados até 2/3 do CT, em seguida uma lima manual K #10 foi inserida passivamente para conferir a odontometria e a instrumentação com R25 Blue foi continuada até alcançar o CT. Nos canais onde o instrumento não alcançou o CT, o dente foi microtomografado com o intuito de investigar onde o instrumento foi incapaz de avançar e por qual motivo. Os resultados demonstraram que a Reciproc Blue R25 foi capaz de alcançar o CT em 300 canais radiculares instrumentados, e em apenas 2 canais o instrumento não conseguiu chegar ao CT. Nenhum instrumento foi fraturado e em apenas um ocorreu deformação na parte ativa do instrumento. Nos dois canais onde o instrumento não alcançou o CT as imagens analisadas sugeriram que a anatomia foraminal possuía saída lateral abrupta, impedindo que o instrumento pudesse avançar em direção ao CT. Com base nos resultados, pode-se concluir que o instrumento Reciproc Blue R25 foi altamente eficiente quanto à capacidade de instrumentar canais retos e com curvatura moderada, até o comprimento de trabalho correto, sem necessidade de
glide path.
Palavras-chave: Glide path. Movimento reciprocante. Reciproc Blue. Preparo do
ABSTRACT
Cardoso, Milla Lessa. The efficiency of the Reciproc Blue R25 instrument on
reaching the working length without a glide path. 2018. 28f. Dissertação
(Mestrado em Odontologia - Clínica Odontológica) - Faculdade de Odontologia, Universidade Federal Fluminense, Niterói.
Recently the second generation of the Reciproc instrument was launched on the market. The new Reciproc Blue receives an innovative thermal treatment that results in a more flexible instrument with controlled-memory. However, the requirement of a glidepath previous his use is still unknown. Therefore, the present study was designed to evaluate the frequency of cases where the Reciproc Blue R25 instrument is able to reach full working length without glide path. 302 mesial and distal root canals of lower molars with straight or moderately curved roots were instrumented until 2/3 of working length (WL) be reached, then a K # 10 manual file was passively introduced to confirm WL and instrumentation with R25 Blue was continued until reaching full WL. The results showed that Reciproc R25 Blue was able to reach the WL in 300 root canals, the instrument could not reach the WL at only 2 root canals. No instrument was fractured and only one deformation occurred on the surface of the instrument. Micro-computed tomographic (micro-CT) analysis was used at the two root canals where the instrument did not reach the CT. The analyzed images suggested that apical foramen was located laterally to the radicular surface, creating a very abrupt curvature and preventing the scounting ability of the instrument to WL. Based on the results, Reciproc Blue R25 was highly efficient to prepare straight or moderately curved root canals to full working length, without glide path.
Keywords: Glide path. Reciprocating motion. Root canal preparation. Working
LISTA DE ILUSTRAÇÕES E TABELAS Figura 1. Tabela 1. Tabela 2. Figura 2. Figura 3. Figura 4.
Exemplo dos molares incluídos no estudo.
Descrição dos dados obtidos no experimento... Tabela correlacionando a capacidade da R25 Blue em alcançar o CT com ou sem a utilização da lima K #10... Imagens microtomográficas da raiz mesial onde Reciproc R25 Blue não alcançou o CT... Imagens microtomográficas da raiz mesial onde Reciproc R25 Blue não alcançou o CT e o instrumento provocou um desvio... Imagem do instrumento com a parte ativa deformada após
instrumentação... 14 18 18 19 19 20
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS
CT Comprimento de trabalho
ISO International Organization for Standardization
K Micro – CT ml NaOCl Kerr Microtomografia Computadorizada Mililitro Hipoclorito de Sódio NiTi Níquel-titânio % Percentual
SUMÁRIO 1. 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 2. 3. INTRODUÇÃO... METODOLOGIA... Cálculo do tamanho amostral... Seleção da amostra... Preparo químico mecânico... Apresentação dos dados... Microtomografia Computadorizada... Análise estatística... RESULTADOS... DISCUSSÃO... CONCLUSÃO... REFERÊNCIAS... 11 13 13 13 15 16 16 16 18 21 24 25
11 INTRODUÇÃO
Num contexto onde os mais variados sistemas rotatórios de níquel-titânio (NiTi) se multiplicavam, Ghassan Yared, em 2008, (1) propôs a utilização de um único instrumento de NiTi para o preparo mecânico completo dos canais radiculares. Normalmente, o preparo com limas rotatórias de NiTi demanda a utilização de múltiplos instrumento, no entanto, uma das limitações dos sistemas rotatórios é a necessidade uma pré-instrumentação (glide path). O glide path consiste na remoção de interferências e ampliação do canal principal até um diâmetro mínimo #15 ou #20
taper 02 objetivando proporcionar ao instrumento rotatório um trajeto contínuo e
suave por toda extensão do conduto radicular. Esta manobra tem o objetivo de prevenir erros e aumentar a vida útil dos instrumentos, e é consolidada tanto pela literatura quanto pela prática clínica (2,3).
Num claro rompimento com os parâmetros de instrumentação endodôntica até então utilizados, no trabalho de Yared, o instrumento era acionado em movimento de rotação alternada assimétrica.Essa cinemática ficou conhecida como movimento reciprocante e desde então, os conhecimentos acumulados em relação à essa técnica, somados a evolução das ligas de níquel-titânio, representam uma das aplicações tecnológicas mais sólidas da Endodontia. Em 20XX,o desenvolvimento do sistema Reciproc (VDW, Munique, Alemanha) trouxe novas perspectivas para o preparo mecânico dos canais. Um aglomerado de estudos clínicos e in vitro mostram a influência positiva dos sistemas reciprocantes na qualidade do preparo mecânico dos canais e na previsibilidade do tratamento endodôntico como um todo (4-7). Em contraponto ao que tradicionalmente é recomendado na instrumentação rotatória, mais de 90% dos canais radiculares de rotina podem ser preparados com instrumentos reciprocantes, de maneira segura, sem a necessidade de realização da manobra do glide path (7-11) Esta particularidade do sistema é creditada principalmente à cinemática do movimento e o design no instrumento, que favorecem o avanço do instrumento pela trajetória original do canal minimizando a sobrecarga sofrida por ele no interior do conduto (12).
Os instrumentos Reciproc, são confeccionados em liga M-Wire. Esta liga é resultante da aplicação de novas tecnologias de processamento e fabricação
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termomecânicas aplicados nas ligas de NiTi convencionais. Esses processos metalúrgicos, combinados a um design mais sofisticado e eficiente dos instrumentos, resultaram em melhoras significativas das propriedades mecânicas e permitiram que o preparo de canais com anatomia mais desafiadora seja realizado com maior margem de segurança (13). Quando comparados aos tradicionais instrumentos rotatórios de Ni-Ti convencional, os instrumentos confeccionados em liga M-Wire apresentam maior resistência à fadiga cíclica, e menor incidência de fraturas e deformações de instrumentos (4,7, 13,14)
Seguindo a tendência das inovações na metalurgia dos instrumentos endodônticos, foi lançada no mercado no final de 2016, a segunda geração do instrumento Reciproc: Reciproc Blue (VDW, Munique, Alemanha). Com as mesmas características geométricas, diâmetros e conicidades do sistema convencional, a diferença principal se faz presente no tratamento térmico da liga de NiTi. Uma série de processos de resfriamento e aquecimento regulam a temperatura da transição de fase da estrutura molecular da liga de NiTi e, ao final do processo, formam uma camada de óxido de titânio que confere coloração azul a superfície do instrumento. Este tratamento resulta em um instrumento mais flexível e com memória de forma controlada (15,16).
Até o momento, o desempenho do instrumento Reciproc Blue R25 ainda é desconhecido quanto à necessidade ou não de glide path para casos rotineiros. Dessa forma, o presente estudo foi elaborado objetivando avaliar a frequência de casos em que o instrumento Reciproc Blue R25 é capaz de atingir o comprimento total de trabalho sem realização prévia da manobra do glide path. A hipótese testada foi a de que o instrumento Reciproc Blue R25 em movimento reciprocante é capaz de atingir o comprimento apical (CT=0), com alta frequência, em molares inferiores com anatomia padrão.
13 1. METODOLOGIA
1.1 Cálculo para o tamanho amostral
O modelo de goodness-of-fit model from the v2 test family (G*Power 3.1 para Mac) foi adotado como cálculo para determinar o tamanho da amostra ideal para o estudo. Os seguintes valores de entrada foram utilizados: tamanho do efeito w = 0,296 (valor baseado em um trabalho similar, por De-Deus et al. 2013) (9), alpha-error = 0,05 e beta-power = 0,95. Os resultados indicaram um tamanho de amostra mínima de 145 canais radiculares e um v crítico 2 de 3,84 como limite para aceitar H0.
1.2 Seleção da amostra
Para selecionar os dentes utilizados neste estudo partimos de uma amostra geral com 264 molares inferiores. Todos eles foram radiografados com o intuito de verificar as condições da anatomia interna (figura 1). Após a aplicação dos critérios de inclusão, 98 molares inferiores foram considerados adequados para a realização do experimento. Necessariamente, esses dentes deveriam obedecer aos seguintes critérios: raízes retas ou com curvatura moderada, considerados Classe I e II, segundo classificação de Schneider, 1971 (17); Ápices completamente formados; Canais completamente visíveis radiograficamente; Inexistência de fraturas ou reabsorções radiculares; Inexistência de dilacerações radiculares; e inexistência de tratamento endodôntico prévio. Ambos canais mesiais e distais foram incluídos, chegando a um total de 302 canais radiculares instrumentados.
14 Figura 1: Exemplo dos molares incluídos no estudo. Fonte: o autor, 2017.
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1.3 Preparo químico-mecânico
Dois motores diferentes foram utilizados para o preparo mecânico: VDW Silver com software 1.1 (VDW, Munique, Alemanha) na função “RECIPROC ALL” e Connect Drive (VDW, Munique, Alemanha) na função pré-programada de movimento reciprocante. Cada motor compôs um grupo experimental onde 151 canais foram instrumentados.
A sequência de instrumentação utilizada foi a mesma para ambos os grupos. Após abertura da cavidade de acesso, o preparo dos condutos foi realizado com o instrumento Reciproc Blue R25 seguindo orientações do fabricante. Cada instrumento foi utilizado uma única vez para preparar todos os canais de cada dente e imediatamente descartado em seguida.
De maneira similar a metodologia utilizada em estudos prévios da mesma natureza, o preparo dos canais obedeceu às seguintes etapas: Irrigação inicial; Instrumentação com Reciproc Blue R25 até atingir 2/3 do comprimento aparente do conduto, utilizando como referência a radiografia inicial; Irrigação; Confirmação da odontometria com lima manual tipo K ISO #10 (Dentsply Maillefer, Baillagueis, Suiça) até o comprimento de trabalho; Irrigação; Instrumentação final com R25 Blue até alcançar o comprimento de trabalho; Irrigação final (9).
O acionamento da Reciproc R25 Blue foi realizado com movimentos suaves de bicada e amplitude máxima de 3 mm em direção apical. Após cada remoção do instrumento do interior do conduto, a haste foi limpa com gaze embebida em álcool. Para cada etapa de irrigação foi utilizado 1ml de NaOCl a 2,5% utilizando seringa descartável e agulha Endo-Eze 20G (Ultradent Products; South Jordan, UT, EUA) durante 01 minuto. A lima manual K #10 foi inserida passivamente no canal apenas para confirmação da odontometria. Para certificar que a lima alcançou o comprimento de trabalho (CT) era necessário que a ponta do instrumento pudesse ser visualizada no forame apical;
Nos casos em que a lima manual não chegou ao CT, o Reciproc Blue R25 foi inserido no canal e novamente acionado com o intuito de verificar se o instrumento seria capaz de avançar pela trajetória original do canal. Quando identificado que o canal oferecia resistência ao avanço do instrumento, o procedimento era imediatamente interrompido até onde a resistência foi percebida.
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Antes e após a instrumentação de cada canal individualmente, o instrumento utilizado foi inspecionado para verificar a existência de defeitos, deformações ou fraturas em sua parte ativa.
Todos os procedimentos foram realizados por um único profissional, especialista em endodontia, com 2 anos de experiência.
1.4 Apresentação dos dados
Uma tabela no Excel foi construída para cada grupo experimental. Os dentes foram numerados e as informações relativas a instrumentação de cada canal individualmente foram registradas. Para cada canal foram registrados: presença ou ausência de patência com o instrumento manual; alcance ou não da instrumentação com Reciproc Blue R25 ao CT; e ocorrência de deformações ou fratura de instrumentos. Ao final do experimento, uma nova tabela foi montada com o resumo dos resultados para a realização da análise estatística.
1.5 Microtomografia computadorizada (Micro-CT)
Nos canais onde o instrumento não foi capaz de alcançar o CT, foi realizado Micro-CT do elemento dentário para tentar identificar o motivo e a região de ocorrência de tais falhas.
1.6 Análise estatística
Como a frequência de vezes onde a Reciproc R25 Blue alcançou e onde não alcançou o CT foi exatamente a mesma para os motores Silver e Connect, a hipótese de que o desempenho dos instrumentos pudesse ser influenciado pelos motores não foi testada estatisticamente e os resultados foram considerados juntos, independentemente do motor utilizado. O número de vezes onde a Reciproc R25 alcançou o CT e o número de vezes na qual o CT não foi alcançado foi registrado, assim como o número de fraturas ou deformações dos instrumentos. Para análise estatística foram consideradas as frequências de alcance e não alcance dos instrumentos ao CT. O teste qui-quadrado(SPSS 17.0) (SPSS 17.0) foi utilizado para verificar se as frequências observadas de alcance e de não alcance estavam de
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acordo com as esperadas. Além disso, o mesmo teste foi usado para estudar a significância da frequência de vezes em que a R25 Blue foi capaz de alcançar o CT mesmo quando a lima K #10 foi incapaz de fazer o mesmo. Um nível de significância de 5% foi considerado para as hipóteses estatísticas
18 2. RESULTADOS
Uma descrição completa dos dados obtidos pode ser observada na tabela 1. Do total de 302 canais radiculares instrumentados, a Reciproc R25 Blue foi capaz de alcançar o CT em 300, e em apenas 2 canais o instrumento não conseguiu chegar ao CT (figuras 2 e 3). Nenhum instrumento foi fraturado e em apenas um ocorreu deformação na parte ativa do instrumento (Figura 4). O Chi-square test revelou que as frequências observadas de alcance e não alcance do CT eram significativamente diferentes das frequências esperadas (X2 = 292,208, P = 0,000). Dos 302 canais instrumentados, em 49 deles, a lima K #10 foi incapaz de atingir passivamente o comprimento de trabalho. Deste conjunto de 49 casos, o R25 blue foi capaz de avançar até o CT em 47 casos (Tabela 2), e o teste qui-quadrado certificou a significância para esta observação (X2 = 38,720, P = 0,000).
VDW Silver software 1.1 VDW Connect
Dentes instrumentados 49 49
Total de canais instrumentados 151 151
Canais onde atingiu o CT 150 150
Canais onde não atingiu o CT 1 1
Fraturas 0 0
Deformações na parte ativa 1 0
% Sucesso em atingir o CT 99.33 99.33
Tabela 1. Descrição dos dados obtidos no experimento
#10 K chegou ao CT #10 K não chegou ao CT Total
R25 blue atingiu o CT 253 47 300
R25 blue não atingiu o CT 0 2 2
Total 253 49 302
Tabela 2. Tabela indicando a capacidade de alcançar o CT pela R25 Blue com ou sem a utilização passiva de uma lima K ISO10 anteriormente a instrumentação. O qui-quadrado observou significância na freqüência dos casos em que a R25 obteve sucesso em avançar até o CT mesmo quando a lima K # 10 foi incapaz de fazer o mesmo anteriormente. (X2 = 41.327, P = 0.000).
19 Figura 2. Respectivamente, vista vestibular, mesial e apical de uma raiz mesial de um molar onde Reciproc R25 Blue não alcançou o CT em um dos canais. Representado em verde canal adequadamente instrumentado até o CT, em azul o instrumento Reciproc R25 Blue e em vermelho a região do canal onde o instrumento não tocou. Nota-se a saída do forame lateralmente a superfície radicular causando uma curvatura abrupta na região apical, impedindo o avanço do instrumento até o CT correto. Fonte: o autor, 2018
Figura 3. Respectivamente, vista mesial e vista apical de uma raiz mesial de molar onde Reciproc R25 Blue não alcançou o CT em um dos canais. Representado em verde canal adequadamente instrumentado até o CT, em azul o instrumento Reciproc R25 Blue e em vermelho a região do canal onde o instrumento não tocou. Novamente observa-se a saída do forame lateralmente a superfície
20 radicular, formando curvatura abrupta na região e possibilitando o desvio do instrumento.Fonte: o autor, 2018.
Figura 4. Na parte superior, instrumento Reciproc R25 Blue deformado após instrumentação dos canais. A região onde ocorreu a deformação está circulada em vermelho. Para observar a diferença apresentada na parte ativa do instrumento, logo abaixo instrumento Reciproc R25 hígido.
21 3. DISCUSSÃO
Em 2012, Berutti et al., afirmaram que a criação do glide path antes do uso de qualquer instrumento mecanizado, rotatório ou reciprocante, representa uma manobra fundamental para uma maior segurança na modelagem dos canais (18). Muito embora o glide path seja uma manobra demorada e tecnicamente difícil de ser realizada, esta continua sendo indispensável quando se utilizam instrumentos rotatórios (2,3). O mesmo não se aplica mais a instrumentação reciprocante. Atualmente, com as evoluções na metalurgia e no design dos instrumentos, a literatura aponta que na maioria dos casos, a instrumentação com os sistemas Reciproc dispensa a realização do glide path (9,10).
Os resultados deste estudo demonstraram que os instrumentos Reciproc Blue foram capazes de atingir o CT sem glide path em 99,3% dos canais de molares inferiores. Portanto, a hipótese testada foi confirmada e aceita. Em apenas 2 de um total de 302 canais, a instrumentação não foi completada até o CT ideal. Estes resultados encontram semelhança com estudos recentes in vitro e in vivo, nos quais os instrumentos Reciproc R25 convencionais (liga M-Wire) foram capazes de alcançar o CT sem Glide path em uma alta frequência de casos (8-10). De-Deus et
al., 2013, foram os primeiros a verificar in vitro a capacidade dos instrumentos
Reciproc em alcançar o CT dos canais de molares inferiores. O sucesso em atingir o CT obteve resultados da grandeza de 96,4% em canais retos, e 90,7% em canais moderadamente curvos (9). Após este experimento, diversos estudos clínicos confirmaram a capacidade dos instrumentos Reciproc em alcançar o CT sem a necessidade do Glide path prévio. Em uma série de casos clínicos, Zuolo et al. ,2015, instrumentaram 85,63% dos canais MV2 de molares superiores no CT ideal utilizando Reciproc R25 convencional (8). Rodrigues et al. ,2016, demonstraram que os instrumentos Reciproc atingiram o CT em 96,28% de um conjunto de 673 canais radiculares (10). Neste mesmo estudo, consideradas as dimensões dos canais separadamente, a porcentagem de sucesso em atingir o CT, foi da ordem de: 95,3% em canais atrésicos, usando R25; 98,5% de canais considerados médios, usando R40; e 97,6% em canais amplos, usando instrumentos R50 (9). Mais recentemente, Bartols et al.,2017, demonstraram clinicamente que os instrumentos Reciproc conseguiram alcançar o CT em 96,3% dos canais em tratamentos endodônticos
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primários e, pela primeira vez, avaliaram a capacidade deste instrumento em alcançar o CT em casos de retratamento, obtendo sucesso em 93,8 % desses casos (20).
Na instrumentação dos canais incluídos neste estudo, nenhum instrumento foi fraturado e apenas um apresentou deformação em sua parte ativa após as manobras para alcançar o CT. A ausência de fraturas aqui descrita é um dado importante, embora não seja surpreendente. O movimento reciprocante previne o aprisionamento do instrumento nas paredes do canal, evitando fraturas por torção, e diminui as forças de flexão do instrumento, evitando as fraturas por fadiga flexural. Como resultado, a vida útil dos instrumentos usados com este movimento é mais longa (12-15,21). Plotino et al., 2015, apontaram um total de apenas 8 instrumentos R25 fraturados durante o tratamento de 1696 casos e 3780 canais radiculares, que representam respectivamente, 0,47% do total de instrumentos utilizados e 0,31% dos canais radiculares tratados (21). Do mesmo modo, Rodrigues et al., 2016, fraturaram apenas 3 instrumentos ao realizar o tratamento endodôntico de 673 canais em 277 dentes (10). Em ambos trabalhos clínicos as instruções do fabricante foram rigorosamente seguidas para o uso das limas Reciproc.
Considerando o grau de constrição dos canais, os resultados deste estudo demonstraram ainda que em todas as vezes onde a lima K #10 alcançou o CT, o Reciproc R25 Blue também foi capaz de chegar. Ainda que uma lima manual tipo K #10 tenha sido utilizada neste estudo, não se pode considerar que ela tenha criado
glide path para o instrumento. Sua inserção foi realizada apenas uma vez e de
maneira passiva, sem que nenhum movimento de limagem em sentido de corte do instrumento fosse realizado no interior do conduto. Nos casos onde a lima K #10, não foi capaz de atingir o CT (47 casos), os instrumentos Reciproc R25 não conseguiram avançar em apenas 2 canais. Este resultado é expressivo e demonstra a grande capacidade do instrumento Reciproc Blue de negociação dos canais, na maioria dos casos, sem necessidade de glide path, mesmo quando nem uma lima K #10 é capaz de atingir o CT. Isso faz com que a ampliação do canal radicular com Reciproc seja um procedimento menos sensível ao operador quando comparado ao procedimento tecnicamente exigente necessário para realização do glide path com instrumentos manuais. Os dois dentes nos quais o Reciproc R25 Blue não alcançou o CT foram analisados através de micro- CT com o instrumento no interior do canal. Esta análise foi realizada com o intuito de investigar os motivos que impediram o
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avanço do instrumento (figura 2 e 3). Em ambos, esta incapacidade em alcançar o CT pôde ser explicada pelas características anatômicas na região apical dos canais. Nestes canais, a lima K #10 não alcançou CT e o forame apical apresentava curvatura abrupta com saídas que se localizavam lateralmente ao ápice radicular. Em um deles (figura 3) pode ser observado um pequeno desvio. O ocorrido, apesar de indesejado, não resultou na deformação do instrumento ou na perfuração completa do canal. Portanto, estatisticamente pode ser considerado um erro dentro do desvio padrão considerado para o experimento.
O presente estudo descreve a primeira tentativa de avaliar os novos instrumentos Reciproc Blue para preparar canais radiculares sem glide path. Estabelecendo uma comparação entre os resultados aqui descritos ao que inicialmente foi apresentado em 2013 com os instrumentos Reciproc convencional, o sucesso em alcançar o CT aumentou de 96,4% com Reciproc convencional para 99,3% com Reciproc Blue. Considerando que os dois estudos obedeceram aos mesmos critérios de seleção dos canais inclusos no experimento e seguiram rigorosamente as recomendações do fabricante, é possível sugerir que o tratamento térmico aplicado aos instrumentos Reciproc Blue proporcionou alguma melhoria na propriedade de negociação dos canais. Além disso, por conferir memória de forma a liga, este tratamento também parece permitir que o instrumento apresente deformações na sua parte ativa após trabalhar em regiões mais atrésicas. Esta propriedade oferece maior segurança de trabalho ao operador, e é especialmente importante, pois permite que o descarte do instrumento seja feito antes que o mesmo venha a fraturar.
24 CONCLUSÕES
Dentro da proposta metodológica do presente estudo foi possível concluir que o instrumento Reciproc Blue R25 é altamente eficiente quanto à capacidade de instrumentar canais retos e com curvatura moderada, até o comprimento de trabalho correto, sem que seja necessária realização da manobra do glide path. Além disso, nenhum instrumento foi fraturado durante a realização deste estudo.
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