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FICHA INFORMATIVA DE PORTUGUÊS COERÊNCIA 1. COERÊNCIA LÓGICO-CONCETUAL

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Academic year: 2021

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FICHA INFORMATIVA DE PORTUGUÊS

1. COERÊNCIA LÓGICO-CONCETUAL

Nós, enquanto falantes e ao produzirmos um determinado enunciado, veiculamos o nosso conhecimento de factos, acontecimentos, objetos, enfim do mundo tal como o apreendemos. Esta apreensão do mundo está na base da produção de enunciados (frases, textos), bem como na sua receção, pois os nossos interlocutores colocam o seu conhecimento do mundo ao serviço da interpretação dos nossos enunciados. Assim, para que a comunicação se processe é necessário um saber

compartilhado pelos falantes.

Está frio, porque estão trinta graus.

➥ Esta frase é incoerente, pois o “mundo” representado não está de acordo com o “nosso mundo”: de acordo com o nosso entendimento do “mundo”, trinta graus são indício de calor e não de frio.

Contudo, poderemos, através de processos linguísticos, reparar estas anomalias e criar uma frase coerente.

Apesar de estarem trinta graus, sinto frio: devo estar com febre!

2. COERÊNCIA TEXTUAL

Contudo, a noção de coerência não se esgota nestas relações semânticas dentro da frase; ela permite-nos estabelecer a diferença entre uma acumulação de

frases e um texto que parte de um tópico para criar uma progressão consistente e

organizada.

A textualidade de um enunciado depende de três princípios fundamentais:

PRINCÍPIO DA NÃO TAUTOLOGIA

Este princípio determina que um texto não deve ser nulamente informativo.

Ex. Aquilo que eu sei que tu sabes é muito importante para aquilo que nós sabemos.

➥ Esta frase é incoerente, pois é nula do ponto de vista informativo, ou seja, vazia de conteúdo; o desconhecimento do referente do pronome aquilo impede a compreensão do enunciado.

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PRINCÍPIO DA NÃO CONTRADIÇÃO

Este princípio determina que um texto não deve apresentar factos incompatíveis entre si.

Ex. Aquele carro nunca tinha tido outro dono, estava impecável. Os seus novos proprietários sempre se queixaram dos problemas com o motor.

➥ Esta frase é incoerente, porque, num primeiro momento, afirma-se que o carro estava impecável, para, logo a seguir, se aludir a problemas relacionados com o motor – o enunciado contempla a existência de factos contraditórios.

PRINCÍPIO DA RELEVÂNCIA

Este princípio determina que entre os elementos de um enunciado se estabeleçam relações diversas que têm a ver com a ordem temporal e linear que reconstrói os

factos do “nosso mundo”

Ex. Primeiro revejo o texto, depois faço um esboço e, por fim planifico as minhas ideias.

➥ Esta frase é incoerente, pois de acordo com a ordem natural dos factos, primeiro devemos planificar as ideias, depois fazer um esboço do texto e só, por fim, proceder à sua correção / revisão.

Ex. Gosto imenso das obras de José Saramago: Os Maias, Os Lusíadas, A

Mensagem...

➥ Esta frase é incoerente, porque era expectável, tendo em conta a relação de hiperonímia – hiponímia, que o uso dos (:) desse lugar à enumeração de obras de José Saramago; ora as obras indicadas são de Eça, de Camões e de F. Pessoa, respetivamente.

Ex. Os textos são constituídos por pétalas, folhas, flores...

➥ Esta frase é incoerente, porque era expectável, tendo em conta a relação de holonímia - meronímia, que fossem indicadas, como constituintes do texto, as frases, as palavras, as letras, os sinais de pontuação....

A diferença entre um texto e um não-texto manifesta-se ainda ao nível da

progressão e continuidade – um texto centra-se num determinado tópico que deve

ser retomado e em relação ao qual devem ir acrescentando novas informações. Estes princípios asseguram a coerência e a coesão do texto:

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PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE

Este princípio determina que um texto deve ser dotado de unidade.

Um carvoeiro, que andava com um burro carregado de carvão, passou, um dia, por Coimbra. Ia a atravessar a ponte sobre o Mondego e viu, sentados nas guardas da ponte, muitos estudantes que comiam bolos, rebuçados e amêndoas. O carvoeiro seguiu o caminho, atrás do burro que levava a carga, mas não deixou de comentar para si (...)

➥ O mesmo tópico é sucessivamente retomado: Um carvoeiro ⇒ que ⇒

Ia ⇒ viu ⇒ O carvoeiro seguiu ⇒ não deixou

O tópico / tema é ativado por meio da construção artigo indefinido + nome.

Depois, é retomado por um pronome relativo, por uma estratégia de sujeito nulo

subentendido e, por fim, novamente explicitado por uma construção artigo definido + nome.

PRINCÍPIO DA PROGRESSÃO

Este princípio determina que um texto deve ser informativo, sendo isto possível graças à apresentação de informações novas.

Um carvoeiro, que andava com um burro carregado de carvão, passou, um dia, por Coimbra. Ia a atravessar a ponte sobre o Mondego e viu, sentados nas guardas da ponte, muitos estudantes que comiam bolos, rebuçados e amêndoas. O carvoeiro seguiu o caminho, atrás do burro que levava a carga, mas não deixou de comentar para si (...)

➥ O mesmo tópico é sucessivamente retomado, mas sobre ele são apresentadas novas informações: passou por Coimbra ⇒ andava com um burro

carregado de carvão ⇒ atravessar a ponte sobre o Mondego ⇒ sentados nas guardas da ponte, muitos estudantes que comiam bolos, rebuçados e amêndoas

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COESÃO

Damos o nome de coesão a todos aqueles processos que permitem, no texto, retomar explicitamente a informação anterior e articulá-la com a que se segue.

Temos vários mecanismos de coesão:

1. Coesão gramatical

1.1. Coesão frásica:

envolve os mecanismos que unem os diversos constituintes de uma frase simples, de modo torná-la coesa:

- ordenação das palavras e das funções sintáticas na frase; - concordância em género e número das palavras;

- observância das regências de nomes, verbos, …

- presença dos complementos exigidos pelo verbo ou pelo nome.

Ex.

A adoção de políticas educativas conducentes ao sucesso dos alunos é a principal preocupação da Escola.

(Note-se a correta ordenação das palavras na frase, tendo em conta as funções que elas desempenham; o respeito pelas regras de concordância em número entre o sujeito e o verbo e em género e número entre nomes e adjetivos/ determinantes; o respeito pela regência do nome adoção (preposição de), do adjetivo conducente (preposição a)).

Coesão gramatical

Coesão lexical

Coesão

interfrásica

Coesão

temporo-aspetual

Coesão referencial:

cadeia de referência

Coesão

frásica

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1.2. Coesão interfrásica:

designa os mecanismos de sequencialização que marcam diversos tipos de interdependência semântica entre as frases que ocorrem num texto. Basicamente, a conexão interfrásica é assegurada pelos conectores ou pela pontuação.

Exemplo:

a) Madalena estava pensativa, quer dizer, meditava profundamente sobre os

versos de Camões. (quer dizer – articulador explicativo)

b) Resumidamente, a coesão é fundamental à construção do texto.

(resumidamente – articulador ou conector de confirmação/ resumo)

c) O João leu um livro, a Maria uma revista.

(a coesão é assegurada pela justaposição das orações, através do uso da vírgula – coordenação assindética)

1.3. Coesão temporo-aspectual:

designa os processos que asseguram compatibilidade semântica ao nível da localização temporal e da ordenação temporal relativa das situações textualmente representadas:

 A utilização correlativa dos tempos verbais é um dos mecanismos que garante a coesão temporal: se se pretende representar uma situação passada que se sobrepõe temporalmente a uma outra, também ela pertencente à esfera do passado, é necessário recorrer a uma forma de Imperfeito do Indicativo e a uma forma de Pretérito Perfeito Simples.

a) Quando o João nasceu, a Ana tinha cinco anos.

a’)*Quando o João nasceu, a Ana teve cinco anos. (inaceitável)

 Os advérbios / expressões adverbiais com valor de tempo devem igualmente ser compatíveis com os tempos verbais selecionados.

a) Amanhã, vou ao cinema.

a’) *Amanhã, fui ao cinema. (inaceitável)

 Para que a coesão temporal seja assegurada, é ainda necessário

compatibilizar os valores aspetuais das expressões predicativas com o valor semântico dos conectores de valor temporal utilizados.

a) Enquanto o João arrumava a cozinha, a irmã atendeu cinco telefonemas. a’) *Enquanto o João atingiu a meta, a irmã desmaiou. (inaceitável)

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6  A utilização de grupos nominais e preposicionais com valor de tempo.

a) Durante as aulas, estive atenta à gramática. No momento do teste, estava

preparada.

 Saliente-se, por fim, que a ordenação textual linear dos eventos representados deve corresponder à ordem pela qual ocorreram no mundo, ou seja, a descrição de eventos anteriores deve preceder a descrição de eventos posteriores:

a) Entrou na livraria e comprou o último Saramago.

a’)* Comprou o último Saramago e entrou na livraria. (inaceitável)

1.4. Coesão referencial: cadeia de referência:

quando num texto há um ou mais fragmentos textuais sem referência autónoma, cuja interpretação depende do valor referencial de uma expressão presente no discurso anterior (anáfora) ou subsequente (catáfora) estamos perante uma cadeia de referência.

Exemplo:

a) O Pedro lidera a turma. Os colegas apoiam-no incondicionalmente e

estão do lado dele em todas as situações.

(Aqui, a expressão nominal O Pedro e os pronomes pessoais o e ele formam uma cadeia de referência, dado que o referente das formas pronominais é estabelecido pela expressão nominal, presente no contexto verbal. As três estruturas sublinhadas reenviam para o mesmo referente, ou seja, para a mesma entidade do mundo, logo, são correferentes.)

b) O marido da Ana é professor; ele dá aulas em Viseu.

(“O marido da Ana” = expressão referencial; “ele” = anáfora)

c) Tu deves falar com a tua filha sobre os malefícios do tabaco.

(“Tu” = expressão referencial; “tua” = anáfora)

d) Os alunos afirmaram que iam estudar para o teste. Esta atitude é

sensata.

(“que iam estudar para o teste” = expressão referencial; “esta atitude” = anáfora)

➥ Coesão com recurso à anáfora

Fala-se de anáfora quando a interpretação de uma expressão (habitualmente designada por termo anafórico) depende da interpretação de uma outra expressão

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7 presente no contexto verbal (o antecedente) - mais concretamente, o termo anafórico retoma, total ou parcialmente, o valor referencial do antecedente.

Ex.

“O jornalismo ensina, professa, ilumina sobretudo; é ele o grande construidor

do futuro; não é só o facto de hoje que o prende…”

Podemos considerar diversos

tipos de anáforas correferenciais:

A - Anáfora por substituição – permite a retoma anafórica, evitando a

repetição de palavras:

A1 – anáfora pronominal: O Luís chegou atrasado. Ele foi ao médico. A2 – anáfora nominal (ver coesão lexical): pode processar-se por: - relação de equivalência

EX. A miúda esteve cá. É uma menina muito querida. - relação de hierarquia

EX. O Pedro adora chocolates. Os doces sempre o acalmaram. - relação de todo/ parte

EX. A escola era agradável, mas as salas estavam desalinhadas.

B - Anáfora por repetição (ver coesão lexical) – permite a retoma anafórica,

através da mesma palavra / grupo de palavras:

EX. Encontrei uma casa na floresta. A casa era misteriosa.

C - Anáfora por elipse – processo anafórico que opera com base no

apagamento de um termo, cuja referência se recupera anaforicamente. EX. Maria chegou junto da mãe e [ ]deu-lhe um beijo.

(Verifica-se, aqui, a elipse do sujeito da segunda oração, mas esse sujeito continua a ser interpretado anaforicamente, por retoma do valor referencial do antecedente Maria.)

➥ Coesão com recurso à catáfora

Processo semelhante à anáfora, mas em que os termos correferentes aparecem antes do elemento linguístico que indica o referente do discurso.

Ex.

“É por isso que ele contradiz muitas vezes a opinião recebida… é necessário

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1.5. Correferência não anafórica:

quando duas expressões remetem para a mesma referência, sem que uma fique dependente da outra do ponto de vista referencial.

Ex.

O 10º J é algo indisciplinado. A turma tem 27 alunos.

A morte de Raul Vilar foi muito lamentada. Todos os jornais consagraram longos artigos ao grande escultor.

2. Coesão lexical

Mecanismo de coesão textual que envolve a repetição da mesma unidade lexical ao longo do texto (repetição/ reiteração) (a) ou a sua substituição por outras unidades lexicais que com ela mantêm relações semânticas de hierarquia (hiponímia, hiperonímia) (b), de inclusão (meronímia, holonímia) (c), de equivalência (sinonímia)

(d) ou de oposição (antonímia) (e). Exemplos:

a) O jornalismo ensina, o jornalismo professa, o jornalismo alumia sobretudo. b) Os jornais diários são importantes meios de comunicação de massas; por

exemplo, o Público é um jornal cuja linha editorial aprecio particularmente.

c) Hoje li uma notícia intrigante. Desde o título à imagem, tudo me seduziu

para a sua leitura.

d) Ainda que o cansaço do dia-a-dia nos abata, não devemos deixar que a fadiga nos afaste da leitura de um bom livro.

e) Os jornais vivem do profissionalismo dos seus responsáveis; na redação de

Referências

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