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CICLOS DE FORMAÇÃO OU APROVAÇÃO AUTOMÁTICA? UMA ANÁLISE SOBRE RELATOS DE PROFESSORES RAPHAELA DEXHEIMER MOKODSI

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Academic year: 2021

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CICLOS DE FORMAÇÃO OU APROVAÇÃO AUTOMÁTICA? UMA ANÁLISE SOBRE RELATOS DE PROFESSORES

RAPHAELA DEXHEIMER MOKODSI RESUMO:

O sistema de ciclos de formação apresenta- se como uma al-ternativa ao sistema seriado, predominante, até o momento, nas esco-las brasileiras. A proposta dos ciclos de formação, já vem sendo uti-lizada em diversos países e em 2007 foi implementada no município do Rio de Janeiro para todo o ensino fundamental.

Essa proposta é definida como uma expectativa renovadora com a função de humanizar o processo educativo, visando a levar em conta, entre outros aspectos, o tempo de existência do indivíduo. No entanto, discursos midiático e políticos apresentam essa proposta como um meio de aprovação automática dos alunos com a finalidade de “melhorar” os índices educacionais.

Pretendemos, nesta comunicação, refletir sobre a implementa-ção do sistema de ciclos de formaimplementa-ção, através da análise de relatos de professores. Para tal, fizemos uma pesquisa com docentes da rede municipal de ensino do Rio de Janeiro com o intuito de melhor com-preender a opinião dos mesmos no que se refere a esse tema.

A nossa base teórica insere-se na teoria de gêneros discursivos no que tange às questões sobre a teoria da enunciação segundo M. Bakhtin (1992), já no que se refere à proposta dos ciclos de forma-ção, faremos referência aos estudos de A. Krug (2001) e de E. S. Lima (2000).

Introdução

Nesta comunicação, temos como objetivo, refletir sobre a im-plementação do sistema de ciclos de formação no município do Rio de Janeiro. Para tal, pretendemos analisar o histórico de

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implementa-ção dos ciclos de formaimplementa-ção no Brasil, assim como relatos de profes-sores da rede.

O que apresentaremos, faz parte de um projeto maior, intitulado: O ensino de língua estrangeira (LE): uma proposta de acordo com o sistema de ciclos de formação Trata-se de nossa pesquisa que está sendo desenvolvida no Mestrado em Lingüística da UERJ e que, portanto, não apresenta até o momento, conclusões finalizadas.

Quando se trata do tema Educação, no Brasil, as discussões sobre formas de melhorar o ensino são inúmeras e freqüentes. Ten-tamos de diversas maneiras justificar a questão do fracasso escolar nas escolas públicas, fato este amplamente constatado em pesquisas que comprovam a dificuldade em se atingir metas educacionais esti-puladas por órgãos governamentais. É comum observarmos comen-tários do tipo: “os aluno chegam ao ensino médio com problemas de alfabetização”, “há muitos alunos por turma”, “não existem recursos didáticos (livros, materiais pedagógicos, recursos tecnológicos) ne-cessários para o ensino”, “as crianças não têm nenhum apoio das famílias”, “os professores não têm tempo para fazer cursos de atuali-zação, são mal remunerados, não têm tempo para preparar suas aulas devido às longas jornadas de trabalho” e vários outros comentários que refletem a precariedade do ensino em nosso país.

Em virtude de todos esses problemas presentes na educação brasileira surgem diversas discussões a respeito do tema educação e diferentes alternativas são propostas para solucionar estas questões. Uma delas é a proposta baseada nos ciclos de formação, proposta

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esta que tem como objetivo principal reorganizar o tempo escolar de forma que o tempo de aprendizagem acompanhe o desenvolvimento biológico e cultural dos alunos. Trata-se de uma alternativa ao siste-ma predominante no ensino fundamental (sistesiste-ma seriado) cujo intui-to é o de superar as deficiências que cercam o sistema de ensino pú-blico brasileiro.

Implementação do sistema de ciclos de formação no Brasil A discussão sobre a implementação do sistema de ciclos de formação, no Brasil, está amplamente relacionada aos índices de repetência e evasão escolar. Tendo em vista que o sistema de ciclos de formação tem como um de seus objetivos a não retenção do aluno, alguns municípios adotam este sistema visando melhorar seus índi-ces educacionais, em contrapartida, há aqueles que consideram a proposta como um projeto de democratização da educação. Nestes, ocorrem reformas em toda a estrutura de ensino com o objetivo de implementar o novo sistema. Como exemplos, podemos citar as mu-danças na distribuição da carga horária dos professores, a diminuição de alunos por turma, a modificação na gestão escolar, entre outros.

No Brasil, a possibilidade de opções ao sistema seriado foi ex-pressa inicialmente na publicação da Lei de Diretrizes e Bases n.o 4.024, de 1961, sendo mais amplamente explicada na LDB n.o 9.394, de 1996, quando em seu artigo 23, expressa a opção de que a educa-ção básica poderá ser organizada através, entre outras opções, dos

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ciclos de formação. Neste momento a opção por ciclos surge como uma forma de diminuir os índices de repetência e de evasão escolar, conforme explicitado anteriormente.

Mais tarde, a opção pelos ciclos de formação ganha força com a aprovação do Plano Nacional de Educação, Lei Federal 10.172 de 2001, que, entre seus objetivos, propõe a elevação geral do nível de escolaridade da população e a redução das desigualdades sociais e regionais no que se refere ao acesso e à permanência nas escolas. Também, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) reiteram essa proposta, pois organizam em ciclos o ensino fundamental de-fendendo uma distribuição mais adequada dos conteúdos em relação ao processo de ensino- aprendizagem.

Visando a futura implementação do sistema de ciclos de for-mação, alguns estados brasileiros, optaram por iniciar tal processo adotando o sistema de aprovação automática, ainda no regime seria-do, como foi o caso dos estados de São Paulo, Pernambuco, Santa Catarina e Rio de Janeiro.

De acordo com os dados do INEP (Instituto Nacional de Estu-dos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) referentes ao censo escolar de 2005, a porcentagem de escolas que se organizam exclusi-vamente pelo sistema de ciclos é de 11,1% , enquanto o número de escolas que combinam o sistema ciclado (adotado na maioria dos casos durante os três primeiros anos do ensino fundamental) e seria-do (aseria-dotaseria-do para os demais anos seria-do ensino fundamental) é de 7,6% . Considerando a soma destes dois percentuais temos o total de 18,7%

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de escolas que adotavam os ciclos por formação no Brasil no ano de 2005.

De qualquer maneira, não é possível disponibilizar informa-ções precisas sobre a quantidade de alunos no regime de ciclos, ten-do em vista que o número de matrículas é coletaten-do, independente-mente do tipo de organização da escola. Além disso, determinada escola pode adotar simultaneamente os sistemas ciclado e seriado, sendo freqüente o sistema de ciclos nos anos iniciais e o regime seri-ado nos anos seqüenciais. Como exemplo, podemos citar o ensino fundamental do município do Rio de Janeiro que até a quarta série (hoje denominada 5.º ano) adotava o sistema ciclado e nas séries seguintes adotava a sistema seriado.

Assim sendo, os dados disponíveis nos permitem, apenas, ter uma idéia aproximada da quantidade de alunos que participam desse sistema. O que podemos afirmar é que o nível de adesão para o sis-tema ciclado tem aumentado conforme é possível constatar através de dados apresentados pelo censo escolar dos últimos anos1.

Analisando a implementação dos ciclos nas regiões brasileiras, é possível verificar que a região Sudeste é a que possui, proporcio-nalmente, maior número de estados que adotam o sistema de ciclos e também a que possui a maior quantidade de alunos que atualmente estudando nesse sistema. Atualmente, os estados que adotam o

1 Disponível em: http://www.inep.gov.br/basica/censo/Escolar/sinopse/sino

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rido sistema no Brasil são: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Pará, Pernambuco São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Aspectos necessários para a implementação dos ciclos de forma-ção

A opção pelo sistema de ciclos de formação, implica uma série de mudanças na estrutura das escolas brasileiras. Lima (2002) desta-ca seis itens que devem ser reestruturados antes de ser implementado esse sistema.

O primeiro deles se refere à gestão escolar. A autora destaca este item como fundamental, pois o tempo e o espaço na escola são definidos pelo modelo gerencial, portanto a mudança do sistema educacional para ciclos de formação é de natureza administrativa e pedagógica. O segundo item que ela menciona é o currículo que deve estar inserido em um projeto-político-educacional mais amplo e deve ser elaborado de acordo com a concepção de ser humano em desen-volvimento.

Relacionado ao currículo, temos a avaliação. Considerando-se que na perspectiva dos ciclos, a aprendizagem é vista como um pro-cesso que se realiza de acordo com o tempo de cada indivíduo., a avaliação contribui, portanto, para a definição do encaminhamento do currículo e faz parte, indiretamente, do planejamento pedagógico das formas de atividade pelas quais se pretende desenvolver o currí-culo.

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Na seqüência, a autora destaca a questão da continuidade edu-cativa, tendo em vista que o desenvolvimento do aluno ocorre por meios de ações que buscam a integração no processo educativo, não podendo este, ser retido ao final de um ano letivo. Ela coloca tam-bém a questão do trabalho em equipe, que fica mais evidente a partir deste sistema, pois os professores irão compartilhar os mesmos alu-nos durante o ciclo, diferente do que ocorre no ensino tradicional, onde o aluno não terá sempre o mesmo professor durante todas as séries.

Por último a autora se refere à questão da formação do educa-dor afirmando ser necessário que os profissionais estejam preparados para abraçar esta proposta, pois:

não podemos esquecer, aqui, que a redefinição da atividade do professor é um processo e que, portanto, não ocorre da noite para o dia. De fato, temos visto que, nos momentos iniciais da implan-tação de ciclos, as práticas pedagógicas mantêm-se, em geral, as mesmas ou muito semelhantes às práticas anteriores, principal-mente a avaliação. (LIMA, 1998, p. 28)

É importante ressaltar que não se pode, em hipótese alguma, descartar a formação pedagógica do educador, mas devemos levar em consideração que o mesmo deve ter uma postura diferente daque-la que praticava anteriormente para que se obtenha o resultado espe-rado que é o desenvolvimento e a aprendizagem do aluno. Tratare-mos, a seguir, do papel do professor no sistema de ciclos.

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Considerações Finais

O objetivo desta pesquisa é desenvolver sua investigação em torno do foco “linguagem e trabalho” cujos estudos têm demonstrado sua relevância a partir de diferentes práticas de análise. A linha de pesquisa a ser seguida: práticas de linguagem e discursividade, nos permitirá analisar as práticas discursivas nas situações de trabalho que serão abordadas ao longo dos estudos propostos.

É importante aclararmos a noção de discurso que utilizaremos nesta pesquisa. É comum observarmos a utilização do termo “discur-so” como o uso que fazemos da língua de uma maneira geral. Aqui trataremos o termo segundo os conceitos de Maingueneau (2001, p. 53-6) para o qual o discurso deve ser uma organização situada para além da frase, orientado, uma forma de ação, interativo, contextuali-zado, assumido por um sujeito, regido por normas e considerado no bojo de um discurso.

Esta pesquisa se propõe a responder as seguintes perguntas: Como estão sendo construídos os discursos que defendem e criticam o sistema de ciclos de formação no Brasil? Qual é o papel do profes-sor neste sistema? Desse modo, a través da investigação destes ques-tionamentos, temos como principio básico apresentar reflexões sobre o tema escolhido para estudo.

Nosso objetivo, portanto, é fazer uma análise crítica dos dis-cursos proferidos pelos docentes que participam da experiência da proposta de ciclos de formação e conseqüentemente refletir sobre o

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papel do educador nesse sistema. Para esta comunicação, porém, vamos nos ater a contextualizar os ciclos de formação, assim como trazer algumas vozes de docentes no que tange a opiniões referentes a esse sistema.

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Referências Bibliográficas

BRASIL. Lei n.º 9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.

BRASIL/SEF-Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental. Língua estrangeira. Brasil. MEC/SEF, 1998.

INEP.gov.br. [homepage na Internet].Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Disponível em:

www.inep.gov.br. (Acesso em 20 de julho de 2008)

KRUG, Andréa. Ciclos de Formação: uma proposta

transformado-ra. Porto Alegre: Mediação, 2001.

LIMA, Elvira Souza. Ciclos de Formação: uma reorganização do

tempo escolar. São Paulo: GEDH, 2000.

MAINGUENEAU, Dominique. Novas tendências em análise de

discurso. Campinas: Pontes, 2002.

______. Análise de textos de comunicação. São Paulo: Cortez, 2001. WALLON, Henri et alii. Plano de Reforma Langevin-Wallon. In: MERANI, Alberto L. Psicologia e Pedagogia - as idéias

Referências

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