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Legalização do aborto: argumentos a favor e contra

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA THAIZE BENTO BONFANTI

LEGALIZAÇÃO DO ABORTO: ARGUMENTOS A FAVOR E CONTRA

Araranguá 2019

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THAIZE BENTO BONFANTI

LEGALIZAÇÃO DO ABORTO: ARGUMENTOS A FAVOR E CONTRA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título deBacharel em Direito.

Orientadora: Profª Fátima Hassan Caldeira, Drª

Araranguá 2019

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AGRADECIMENTOS

A Deus por ter me dado força e sabedoria.

A todos os professores que fizeram parte da minha formação, em especial a minhaorientadora que me ajudou e me guiou pelos caminhos do conhecimento.

À minha família que sempre me incentivou me dando suporte e apoio para que eu pudesse concluir a graduação.

A todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para a realização da minha pesquisa.

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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo expor os argumentos a favor e contra a legalização do aborto, partindo da premissa de quando inicia a vida, pois esse fundamento é muito discutido por aqueles que defendem a legalização do aborto, bem como por aqueles que são contra. Assim, abordaram-se as teorias do início da vida, demonstrando quais as correntes que são defendidas pelos que são “pró-vida” e pelos que são “pró-escolha”. O trabalho apresenta os argumentos utilizados pela Igreja, que se coloca como a maior defensora do direito à vida e, portanto, contrária à legalização do aborto, e os argumentos feministas que defendem o direito de a mulher decidir acerca do próprio corpo. O trabalho trouxe, ainda, as visões social, médica e jurídica a respeito do assunto, analisando os posicionamentos em relação a essa questão que têm gerado polêmica em nossa sociedade. Como metodologia, foi utilizada a pesquisa bibliográfica e documental.

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ABSTRACT

This paper aims to expose the arguments for and against the legalization of abortion, starting from the premise of when life begins, for this ground is much discussed by those who are against. Thus, the theories of the beginning of life were approached, showing which currents are defended by those that are "pro-life" or "pro-choice". The paper presents the arguments used by the church, which stands as the greatest defender of the right to life and, therefore, contrary to the legalization of abortion, and the arguments used by the church, which stands as the greatest defender of the right of women to decide about the body itself. The work also brought the social, medical and legal views on the subject, analyzing the positions regarding this issue that has generated controversy in our society. As methodology, the bibliographic and documentary research was used.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 9

2 DO ABORTO E DO COMEÇO DA VIDA ... 10

2.1 DO ABORTO ... 10

2.1.1 Conceito ... 11

2.1.2 Histórico do aborto... 12

2.2 QUANDO COMEÇA A VIDA ... 14

2.2.1 Teoria concepcionista ... 15

2.2.2 Teoria da nidação ... 17

2.2.3 Teoria da gastrulação... 18

2.2.4 Teoria da formação dos rudimentos do sistema nervoso central... 19

2.2.5 Teoria natalista ... 20

2.2.6 Teoria da personalidade formal ou condicional ... 21

3 LEGISLAÇÃO E LEGALIZAÇÃO DO ABORTO ... 23

3.1 DO PROJETO DE LEI N° 882/2015... 26

3.2 ANÁLISE DOS ARGUMENTOS A FAVOR E CONTRA A LIBERAÇÃO DO ABORTO ... 29 3.2.1 Visão religiosa ... 34 3.2.2 Visão ideológica ... 37 3.2.3 Visão médica ... 39 3.2.4 Visão social ... 41 3.2.5 Visão jurídica ... 44

3.3 DIREITO DA MULHER SOBRE O PRÓPRIO CORPO ... 46

4 CONCLUSÃO ... 49

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1 INTRODUÇÃO

A questão do aborto tem merecido destaque em nossa sociedade, sendo que a problemática a ser analisada no presente trabalho tem posicionamentos a favor e contra a legalização do aborto.

De um lado temos aqueles que são contra a legalização do aborto, dentre os quais, a com maior representatividade é a Igreja Católica que defende o direito à vida sob qualquer circunstância, posicionando-se contra ao aborto, mesmo em casos de estupro e na hipótese de fetos anencéfalos, situações que, atualmente, são autorizadas em nossa legislação. De outro lado temos aqueles favoráveis à legalização do aborto e que são representados, principalmente, por movimentos feministas que têm, como principal fundamento, que as mulheres têm direito de decidir acerca de seu próprio corpo.

Inicialmente, no primeiro capítulo, foi feita uma explanação a respeito da conceituação e histórico do aborto, dando ênfase principalmente às teorias acerca do início da vida, pois essas são muito debatidas quando o tema se trata da legalização do aborto, tendo-se em vista que essas correntes defendem em qual momento a vida humana inicia. No segundo capítulo, trata da legislação e da legalização do aborto. Já no terceiro capítulo, são apresentados os argumentos favoráveis e contrários à legalização do aborto, sendo que esses argumentos foram abordados com foco nas seguintes visões: da Igreja, jurídica, social, ideológica e médica. Além disso, o terceiro capítulo também aborda o direito da mulher de decidir sobre o próprio corpo, pois, segundo Pereira (2017, p.1), a questão central está em quem tem mais direitos, o feto ou a gestante?

A metodologia que será empregada no presente estudo é a de pesquisa bibliográfica e documental.

Com esse desenvolvimento não se pretende apresentar soluções ou conclusões definitivas sobre o tema, mas demonstrar os posicionamentos e as visões dos que se consideram a favor ou contra a legalização do aborto.

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2 DO ABORTO E DO COMEÇO DA VIDA

Este capítulo foi dividido em duas seções. A primeira trata do aborto, trazendo sua conceituação e seu histórico. O segundo analisa as teorias que tratam de quando começa a vida.

2.1 DO ABORTO

O aborto vem sendo uma questão muito debatida em nosso país na atualidade. Existe um projeto de lei para a descriminalização de tal ato, que, até o presente momento, é considerado um atentado contra a vida humana. Existem pessoas que se posicionam a favor e outras contra o assunto que envolve uma série de implicações de ordem moral, social e religiosa.

Quando falamos em aborto, necessário faz-se distinguir os tipos de aborto. Dentre os principais e mais discutidos, estão o aborto espontâneo e o aborto provocado.

O aborto espontâneo acontece de forma natural ou acidental, sem que esteja presente a vontade da mãe, podendo ocorrer por uma gama de fatores, dentre os quais, destacam-se o excesso de esforço físico, má formações no feto ou, até mesmo, por um elevado nível de estresse (MERELES, 2016, p. 1).

Diniz acrescenta que

[...] o aborto espontâneo ou natural é geralmente causado por doenças no curso da gravidez por péssimas ou precárias condições de saúde da gestante preexistentes a fecundação, alguns exemplos são: sífilis, anemia profunda, cardiopatia, diabetes, nefrite crônica entre outras. Ou por defeitos estruturais no ovo, embrião ou feto (2009, p. 30).

No que diz respeito ao aborto provocado, Martins (2016, p. 1) que afirma que

O aborto provocado é a interrupção intencional da gravidez, resultando na morte do nascente. É uma prática clandestina por excelência e carrega a marca da reprovação. Às vezes, pretende-se justificar o aborto como a única saída para situações angustiantes que uma gravidez não desejada pode trazer. No entanto, a pior angústia vem depois do aborto.

O aborto provocado é aquele que acontece com o consentimento da mulher. Ele é subdividido em aborto induzido seguro e aborto induzido não seguro. A primeira espécie é aquela realizada por médicos experientes, através de remédios abortivos, de curetagem, de aspiração, dentre outros recursos, métodos e meios considerados formas seguras de abortar (MERELES, 2016, p. 1).

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Machado (2007, p. 3) define o aborto provocado como aquele que ocorre com “[...] o emprego ativo de meios para interromper uma gestação. Os meios comumente usados são: esvaziamento instrumental transvaginal da cavidade uterina, indução química e cirurgia uterina”.

O aborto induzido não seguro, por sua vez, é aquele realizado pela própria mulher, que, em um momento de desespero, acaba executando a prática abortiva, de forma consumada ou tentada, utilizando remédios ou por diversos materiais, tais como: com agulhas de tricô, com cabides, com ferros ou outros materiais que ela julga necessários à prática abortiva (MERELES, 2016, p. 1).

Para Faúndes e Barzelato,

O aborto, de forma geral, é definido interrupção de gravidez e pode ser espontâneo ou provocado. Aborto espontâneo é quando ocorre a interrupção da gravidez sem nenhuma intervenção externa, em geral pode ser por causas naturais, doenças da mãe ou defeitos genéticos do embrião. É resultado de problema de saúde física, pode também ter implicações sociais e psicológicas para a mulher e sua família. O aborto provocado refere-se à interrupção da gravidez causada por uma intervenção externa e intencional. É um problema pessoal e social, com implicações médicas, culturais, religiosas, éticas, políticas e psicológicas (2004, p. 42-43).

Lenza (2012, p. 1) alerta que nem sempre o aborto é um ato criminoso, tendo-se em vista que, se esse for ocasionado por causa naturais, o fato será considerado atípico. Da mesma forma, o autor destaca que também não é considerado crime se tiver ocorrido de forma acidental, como por exemplo, em uma queda, em um atropelamento ou até mesmo um acidente envolvendo veículos. O autor ressalta ainda que, “em verdade, para a existência de crime de aborto, é necessário que a interrupção da gravidez tenha sido provocada — pela própria gestante ou por terceiro — e que não se mostre presente quaisquer das hipóteses que excluem a ilicitude do fato (aborto legal)” (LENZA, 2012, p. 1)

Embora existam exceções, atualmente, o aborto é considerado um crime. Esse delito está em nosso ordenamento jurídico no artigo 124 e seguintes do Código Penal.

2.1.1 Conceito

Para conceituar aborto, é necessário verificar a origem da palavra. Segundo Morais (2017, p. 1), “Aborto vem do latim abortus, que, por sua vez, deriva do termo aboriri, ou

aborior, onde ab (“distanciamento”) eoriri (“nascer, surgir, aparecer”). Este conceito é usado

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Segundo Capez (2012 p. 129), “considera-se aborto a interrupção da gravidez, com a consequente [sic] destruição do produto da concepção. Consiste na eliminação da vida intrauterina”.

Bitencourt (2015, p. 1) acrescenta que “[...] o aborto acontece, durante o período compreendido entre a concepção e o início do parto, que é o marco final da vida intrauterina”.

Segundo o entendimento de Mirabete (2011, p. 57),

Aborto e a interrupção da gravidez, com a interrupção do produto da concepção, e a morte do ovo (até 3 semanas de gestação), embrião (de 3 semanas a 3 meses) o feto(após 3 meses), não implicando necessariamente sua expulsão. O produto da concepção pode ser dissolvido, reabsorvido, pelo organismo da mulher, ou até mumificado, ou pode a gestante morrer antes da expulsão não deixará de haver, no caso, o aborto.

De acordo com Lenza (2012 p. 136), a gestação passa por diversas etapas Segundo o autor, de acordo com o desenvolvimento embrionário humano, o fruto da gestação é denominado de zigoto nos dois primeiros meses, no terceiro e quarto mês, passa a ser chamado de embrião e, no restante da gestação, ou seja, do quinto mês em diante, passa a chamar-se feto. Para o autor em comento, o aborto dá-se com a interrupção do desenvolvimento do feto durante a gravidez (LENZA, 2012, p. 136).

2.1.2 Histórico do aborto

A realização da prática de aborto nem sempre foi apontada como crime. Era muito natural acontecer entre os povos hebreu e grego. A legislação pertencente à cidade de Roma não fazia menção ao aborto, pois esse povo entendia que o feto fazia parte do corpo da gestante e não o viam como um ser independente, assim, eles entendiam que a mulher que cometia o aborto estava apenas desfrutando do direito sobre seu próprio corpo (CAPEZ, 2012, p. 129).

Segundo Romano (2015, p. 1), houve um tempo que o crime de aborto provocado pela própria mulher também não pertencia à legislação brasileira. Segundo o autor, o ordenamento jurídico da época seguia o exemplo do Código Francês de 1791. Porém, Viana (2012, p. 25) aponta que o aborto foi colocado no Código Penal de 1830 ao perceber-se que abortar era um crime contra a segurança das pessoas e contra a vida, sendo assim, foi adicionada à legislação da época os artigos 199 e 200, que, em sua redação, puniam o aborto consentido e o aborto sofrido, não fazendo menção ao aborto provocado que é aquele em que a própria mulher consente a prática do ato.

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A legislação de 1830 trazia a seguinte redação:

Art. 199. Occasionar aborto por qualquer meio empregado interior, ou exteriormente com consentimento da mulher pejada.

Penas - de prisão com trabalho por um a cinco annos.

Se este crime fôrcommettido sem consentimento da mulher pejada. Penas - dobradas.

Art. 200. Fornecer com conhecimento de causa drogas, ou quaesquer meios para produzir o aborto, ainda que este se não verifique.

Penas - de prisão com trabalho por dous a seis annos.

Se este crime fôr commettido por medico, boticario, cirurgião, ou praticante de taes artes.

Penas – dobradas [sic] (BRASIL, Código Criminal do Império, 1830).

Como destaca Capez, com o passar do tempo, o aborto passou a ser considerado uma ofensa ao direito do marido com relação ao filho, assim, sua prática passou a ser punida. Porém, foi com a influência do cristianismo que a prática abortiva passou a ser de fato rejeitada no meio social. Foram os imperadores Adriano, Constantino e Teodósio que alteraram o direito, passando a comparar o aborto criminoso ao homicídio (CAPEZ, 2012 p. 129).

Em um breve histórico sobre o aborto, Kottow (2005, p. 20) alega que foi em 1869 em que foi decretada pelo Papa IX a proibição total de abortar, não importando qual fosse o estado de desenvolvimento do feto. Segundo o autor, naquela época, qualquer atitude que fosse para evitar a concepção seria previamente abortiva, por não se saber se a fecundação teria ou não ocorrido, por esse motivo foi criada uma proteção sobre qualquer possível gravidez, proibindo-se até mesmo a anticoncepção artificial, fazendo com que toda relação sexual fosse “unitiva e procriadora” (KOTTOW, 2005, p. 20).

Nesse sentido, Kattow (2005, p. 21) acrescenta que, com o passar do tempo, a severidade dessa doutrina não permaneceu, pois, houve certa liberação e avanço nos costumes e nas leis.

Capez (2012, p. 130) acrescenta que

Na Idade Média o teólogo Santo Agostinho, com base na doutrina de Aristóteles, considerava que o aborto seria crime apenas quando o feto tivesse recebido alma, o que se julgava ocorrer quarenta ou oitenta dias após a concepção, segundo se tratasse de varão ou mulher. São Basílio, no entanto, não admitia qualquer distinção considerando o aborto sempre criminoso. É certo que, em se tratando de aborto, a Igreja sempre influenciou com os seus ensinamentos na criminalização do mesmo, fato este que perdura até os dias atuais.

Mas foi somente com o Código Penal de 1940 que o crime de aborto provocado foi então tipificado, permanecendo até hoje em nosso ordenamento jurídico. Ele está previsto no

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artigo 124 do Código Penal vigente e prevê que a gestante assume a responsabilidade pelo abortamento por ela praticado (CAPEZ, 2012, p. 129).

O Código Penal de 1940 trata do aborto no Título I (Dos Crimes contra a Pessoa), Capítulo I (Dos crimes contra a vida), criminalizando a prática em todas as hipóteses com penas de até três anos de reclusão, mas extinguindo a punição se o ato for praticado por médico, para salvar a vida da gestante ou quando a gravidez resulta de estupro. Daí serem consideradas como hipóteses de Aborto Legal (FREITAS, 2011, p. 9).

Morais (2017, p. 1) complementa, afirmando que, “atualmente, o aborto recebe tratamento de um crime contra a vida pelo Código Penal de 1940 em seus artigos 124 ao 127 com a exceção do artigo 128que permite a prática nos casos de estupro e se não existir outra forma de salvar a vida da gestante”.

2.2 QUANDO COMEÇA A VIDA

O início da vida humana é um dos temas mais debatidos quando o assunto está ligado à descriminalização do aborto. Para Spiandorello (2012, p. 426), não existe um único momento a partir do qual o homem reconhece a existência da vida humana. Para o autor, na cultura ocidental, considera-se que o começo da vida, está contido no período gestacional, sendo que esse período inicia-se com a fecundação do óvulo pelo espermatozoide e se estende até o nascimento, com vida, durando cerca de nove meses.

Kattow (2005, p. 21), acerca do começo da vida, afirma que

Não obstante, o início da vida continua a ser um dos temas mais controvertidos da Bioética. A razão disso é que os processos de fecundação e reprodução artificializaram-se a tal ponto que é possível iniciar a vida humana em laboratório, modificar sua composição genética, selecionar o produto obtido e dar início a seu desenvolvimento, para depois entregar sua evolução e maturação a um útero humano, geneticamente relacionado ou não com o embrião.

Segundo Spiandorello (2012, p. 426), o reconhecimento de cada indivíduo, do momento em que surge o início da vida, vai depender das crenças e dos costumes de diferentes povos, pessoas e locais, de acordo com suas fundamentações em princípios de ciência, de filosofia e de religião.

Essa discussão possui diversas divisões, sendo muito ponderada na esfera jurídica e no âmbito científico. Foi nesse sentido que foram criadas diversas teorias tuteladas por

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cientistas, sobre quando começa a vida, tendo-se em vista que o ser o humano se pergunta sobre o início da vida desde o surgimento da sua existência.

Para Oliveira,

O marco para o início da vida parecia óbvio quando o legislador constituinte defendeu a vida em todos os seus estágios conferindo direitos ao nascituro. Ocorre que o legislador não precisou em qual momento exato esta vida se inicia e nem mesmo quando deve ser considerado o seu fim. Silenciaram-se e esta é uma questão que foi residualmente resolvida pelo Conselho Federal de Medicina. O momento exato do início da vida é uma questão que não está pacificada entre os juristas e também gera posicionamentos divergentes entre os religiosos, cientistas e filósofos. Frente a esse embate foi surgindo diversas teorias na tentativa de se estabelecer esse marco inicial e, assim, o ordenamento jurídico se posicionar frente a uma das teorias existentes trazendo segurança jurídica. Dentre essas correntes três tiveram destaque: a teoria da nidação, a teoria concepcionista e a teoria do desenvolvimento do sistema nervoso central (2019, p. 6).

Segundo Rios (2012, p. 1), as teorias que serão apresentadas nas seções a seguir são biológicas e não jurídicas, mas podem ser utilizadas no Direito para formar uma elucidação legal sobre quando inicia a vida humana.

2.2.1 Teoria concepcionista

No entendimento de Castro (2011, p. 1), “a Teoria Concepcionista defende que a vida começa a partir da concepção, isto é, quando o espermatozoide penetra o ovócito e ambos se fundem, formando a primeira célula com toda a programação genética do indivíduo até a fase adulta”.

Souza (2019, p. 4) enfatiza que a teoria concepcionista é a que foi adotada pela Igreja Católica e por nosso ordenamento jurídico. O autor lembra a redação do artigo 2º do Código Civil que dispõe que “a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida, mas a lei põe a salvo, desde a concepção os direitos do nascituro” (BRASIL, CC, 2019). Essa é a teoria é a que atribui direitos mais amplos ao nascituro.

Para Diniz,

A fetologia e as modernas técnicas de medicina comprovam que a vida inicia-se no ato da concepção, ou seja, da fecundação do óvulo pelo espermatozoide, dentro ou fora do útero. A partir daí tudo é transformação morfológico-temporal, que passará pelo nascimento e alcançará a morte, sem que haja qualquer alteração do código genético, que é singular, tornando a vida humana irrepetível e, com isso, cada ser humano único (2011, p. 50).

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Segundo Castro, os princípios dessa teoria são os mais distintos possíveis, sendo o de caráter religioso o mais persuasivo deles. Para o autor, a igreja católica alega que quando o embrião recebe a alma é quando passa a existir vida, ou seja, ela acredita que o princípio de tudo é determinado pelo recebimento da alma, reprimindo o aborto em qualquer momento da gestação, já que entendem que a alma passa a pertencer ao novo ser exatamente no instante de encontro do óvulo com o espermatozoide (CASTRO, 2014, p. 1).

Nessa mesma linha de raciocínio, corrobora Rocha (2018, p. 262), afirmando que

A teoria concepcionista, considerando a primeira etapa do desenvolvimento embrionário humano, entende que o embrião possui um estatuto moral semelhante ao de um ser humano adulto, o que equivale a afirmar que a vida humana inicia-se, para os concepcionistas, com a fertilização do ovócito secundário pelo espermatozoide. A partir desse evento, o embrião já possui a condição plena de pessoa, compreendendo, essa condição a complexidade de valores inerentes ao ente em desenvolvimento.

Diante do exposto e observando o entendimento biológico, segundo registra Sanches (2019, p. 5), é verídico que a vida se inicia com a fecundação do óvulo pelo espermatozoide, pois, o feto representa um ser especificado, com uma genética pessoal e particular que não se confunde nem com a da mãe nem com a do pai. O entendimento jurídico, a partir da teoria concepcionista, é que os direitos absolutos da personalidade, como o direito à vida, à integridade física e à saúde não dependem do nascimento do feto com vida, mas devem ser protegidos desde o momento da gestação que é considerado o início da vida humana (SANCHES, 2019, p. 5).

Os protetores dessa teoria buscam amparo jurídico na atual Constituição Federal, no Código Civil vigente e, ainda, em tratados internacionais, como por exemplo, o Pacto de São José da Costa Rica, conforme analisamos em sequência.

O atual Código Civil traz, em sua redação, no artigo 2°, que “a personalidade civil do homem começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo desde a concepção os direitos do nascituro”. Sendo assim, Costa e Giolo Júnior entendem que a parte final do artigo acima mencionado, é uma comprovação de que o Código Civil adotou a teoria concepcionista, uma vez que não teria como falar em direitos do nascituro sem concordar que o próprio nascituro é um sujeito de direito (2015, p. 301).

Segundo Ribas (2008, p. 1), “a teoria da fecundação permaneceu por longos anos, sendo defendida veementemente até os dias de hoje por algumas facções sociais e religiosas,

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entretanto, demonstrar-se-á que este entendimento não mais corresponde ao contexto social atual”.

Para finalizar, necessário faz-se enfatizar que essa teoria determina que a personalidade civil da pessoa natural já existe antes mesmo do nascimento, não sendo requisito fundamental que o feto venha ao mundo com vida. Sendo assim essa teoria sustenta que a personalidade jurídica da pessoa natural é obtida desde a fecundação (CAMARGO, 2016, p. 1).

2.2.2 Teoria da nidação

Para compreender a teoria da nidação, é fundamental que se entenda o processo da procriação humana. Segundo Costa e GioloJúnior (2015, p. 305),

É notório que a união do gameta masculino com o gameta feminino, ou seja, a fecundação ocorre na chamada trompa de falópio. A trompa de falópio é uma cavidade, um tubo, que une os ovários da mulher ao útero. Uma vez ocorrida a fecundação, esse óvulo não pode permanecer ali, pois além de ser muito provável que ele “morra”, é altamente arriscado para a mãe. Nesses casos, ocorre a chamada gravidez ectópica, em especial, a gravidez tubária. Esse ovo deve se implantar no útero materno, pois somente no útero é que o embrião irá encontrar as condições necessárias para o seu desenvolvimento. O fenômeno conhecido como nidação é a fixação do produto da concepção no útero materno, a partir do qual, se iniciará o processo para a formação de todos os anexos necessários para o seu desenvolvimento.

Essa teoria discorda da Teoria da Concepção, sustentando que a existência da vida começa no momento em que o zigoto se instala no útero, sendo exclusivamente o único espaço em que ele pode se desenvolver, “é quando o óvulo é acolhido pelo útero. Este processo ocorre cerca de 5 a 6 dias após a fecundação, denominando-se nidação” (CASTRO, 2014, p. 1).

Posto isso, faz-se necessário destacar o que defende a Teoria da Nidação. Segundo Souza (2019, p. 5), o zigoto ou embrião passaria a atingir a vida com a sua fixação no útero da mulher, sendo que, antes disso, apenas iria haver um acúmulo de células que iria estabelecer em outro momento os alicerces do embrião, ou seja, para o autor, somente com a fixação é que as células podem ser vistas aptas a gerar um indivíduo diferente.

No mesmo sentido é o entendimento de Vasconcelos (2006 apud COSTA; GIOLO JÚNIOR, 2015, p.305) quando afirma que

Esta teoria apregoa que somente a partir da nidação (fixação) do ovo no útero materno é que começa, de fato, a vida. Tendo em vista que esta fase começa em torno do sexto dia – quando começam a ocorrer as primeiras trocas materno-fetais – e termina entre o sétimo e o décimo segundo dia após a fecundação, pela doutrina da nidação do ovo, enquanto este estágio evolutivo não for atingido, existe tão somente um amontoado de células, que constituiriam o alicerce do embrião.

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Resumindo, Ribas (2008, p. 1) alega que a “Teoria da nidação: defende que o início da vida começa com a implantação do embrião no útero”.

Um assunto enfatizado por Ribas (2008, p. 1), quando se fala em relação às teorias do início da vida, refere-se em à proibição no país da comercialização das pílulas do dia seguinte, pílulas anticoncepcionais e inclusive o uso do DIU que também é um método que protege a mulher da gravidez, tendo-se em vista que essa prevenção impede a fixação do embrião no útero, e isso não deixaria de ser considerada uma prática abortiva, sendo assim para fins penais é obrigatório que se aceite que a que vida começa somente com a implementação do ovo no útero da mulher, ou seja, com a nidação (RIBAS, 2008, p. 1).

Em outras palavras, porém na mesma linha de raciocínio, Josilco (2000, p. 143) sustenta, em relação à teoria da nidação, “o óvulo já fecundado, penetra lentamente no endomítrio até estar totalmente circundado por tecido materno, ou seja, é quando o óvulo é acolhido pelo útero, no qual este o envolve. Este processo ocorre cerca de 5 a 6 dias após a fecundação, denominando-se nidação” (JOSILCO, 2000, p.143).

2.2.3 Teoria da gastrulação

No que se refere às teorias sobre o início da vida, encontramos ainda, a teoria da gastrulação que é, segundo Sousa, o método de desenvolvimento embrionário de um ser que acontece “desde o processo da sua fecundação e formação do zigoto (célula-ovo), até a constituição dos seus órgãos, ossos, tecidos e as outras partes do corpo, durante uma gestação” (2019, p.1).

Para entender um pouco melhor sobre essa, faz-se necessário destacar o que é a gastrulação. Segundo Santos (2019, p. 1), durante o processo de desenvolvimento do zigoto, ocorrem muitas mudanças, desde a formação do ovo até a constituição absoluta de um novo ser, sendo que, posteriormente, à segmentação, que nada mais é do que a próxima fase de desenvolvimento do feto, inicia-se a fase da gastrulação, que ocorre no decorrer da terceira semana da gravidez. A gastrulação é uma fase considerada fundamental para o desenvolvimento do feto, pois é nessa fase que acontece a evolução e a diferenciação das células para formação dos três folhetos germinativos (ectoderma, mesoderma e endoderma).

Teodoro (2007, p. 29) dá-nos uma direção acercados folhetos germinativos, afirmando que

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Segundo essa teoria, será denominado como embrião o organismo formado ao final dessa fase, na qual ocorre o desenvolvimento da gástrula que compreende a conversão das células do embrioblasto para a formação do ectoderme, mesoderme e endoderme – que são as três camadas germinais primitivas. Ao se fixarem na parede uterina, estas camadas vão se transformar em condutores de nutrientes da mãe para o feto. É nesta fase que se forma a placa neural, a qual se invaginará, dando origem ao tubo neural e por intermédio deste se desenvolve o sistema nervoso central. Salienta-se que este estágio é concluído somente após o 18º dia de gestação.

Henrique (2019, p. 1), em relação a essa teoria, sustenta que

[...] quando ocorre o desenvolvimento da gástrula que compreende a conversão das células do embrioblasto para a formação do ectoderme, mesoderme e endoderme. É nesta fase que se forma a placa neural, a qual dará origem ao tubo neural e por intermédio deste se desenvolve o sistema nervoso central. Este estágio é concluído somente após o 18º dia de gestação.

Nesse sentido, entende-se que, para esta teoria, não existe vida para o feto antes do 18° dia da gestação.

2.2.4 Teoria da formação dos rudimentos do sistema nervoso central

Segundo Castro (2014, p. 1), com o modernismo, passou a existir uma nova teoria, sendo que essa sustenta que a vida somente passará a existir quando o zigoto tornar-se emotivo ou sensível, ou seja, quando o seu tecido nervoso estiver construído, sendo que é só a partir desse momento que o feto vai passar a sentir sensações de dor e de prazer. Para o autor em comento, essa teoria sustenta que o marco do início da vida só iria ocorrer com a formação do sistema nervoso central. O autor destaca, ainda, que a não formação do córtex central que é o responsável pelas sensações, gera o aborto espontâneo (CASTRO, 2014, p. 1).

No entendimento de Martinez (1998, p. 87-88),

O conceito de morte cerebral, ao contrário, serve para avalizar a teoria da formação dos rudimentos do sistema nervoso central, já que, se aceitamos que um ser humano dotado de uma estrutura corporal na plenitude de seu desenvolvimento mas possuidor de um cérebro que não revela a existência de impulsos elétricos é um cadáver cujos órgãos podem ser extraídos e implantados em outra pessoa, não podemos, simultaneamente, proclamar a qualidade de pessoa, no sentido jurídico-penal do termo, de uma criatura vivente muito menos evoluída, que não possui ainda nem sequer os princípios do órgão suscetível de emitir tais impulsos.

Pode-se buscar o entendimento e definição da vida pelo seu inverso, ou seja, a partir da morte. Para a medicina, a morte era caracterizada quando o coração do ser humano parasse de bater. Atualmente, a medicina tem uma nova definição, entendendo que a morte pode ser definida quando o cérebro para de operar, apesar de o coração ainda continuar batendo,

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consequentemente, é possível retirar os órgãos para fazer um fazer transplante. Posto isso, se não existe mais vida quando o cérebro para, seria possível supor que a vida só se inicia quando o cérebro se forma, sendo esse o entendimento sobre os defensores da teoria mencionada (SOUZA, 2019, p. 6).

De acordo com Rocha (2008, p. 81),

O principal defensor dessa teoria é o renomado biólogo Jaques Monod, que entende que, por ser o homem um ser fundamentalmente consciente, não é possível admiti-lo como tal antes do quarto mês de gestação, momento em que se verifica eletroencefalograficamente a atividade do sistema nervoso central diretamente relacionado à possibilidade de possuir consciência.

Castro (2014, p.1) conclui que “portanto, para esta teoria considera-se que a vida só surgiria após o quarto mês de gestação, pois, conclui que somente depois deste período é que o feto possui consciência, assim devendo ser protegido contra a prática de aborto”.

2.2.5 Teoria natalista

Conforme declara Rocha (2008, p. 90), a teoria tipicamente adotada pelo nosso ordenamento jurídico seria a teoria natalista, pois essa tem o objetivo de resguardar os direitos da pessoa humana. Para essa teoria o começo da consideração da personalidade jurídica da pessoa está vinculado ao nascimento com vida.

De acordo com Silva (2010, p.35),

Também chamada de teoria do décimo quarto dia ou do embrião precário, a teoria do pré-embrião defende que, depois de passado o período de quatorze dias após a fecundação, tem início a vida humana, pois é nesse momento que começa a individualização do ser humano, que até então era um amontoado biológico de material orgânico.

Conforme Souza, “para os natalistas, o nascituro não é considerado pessoa, e apenas tem, desde sua concepção, uma expectativa de direitos, tudo depende do seu nascimento com vida” (2019, p. 8).

Para entendermos melhor, segundo sustenta Balbinot (2003, p.16), com o desenvolvimento da medicina, entende-se que

O momento em que a alma habitava no corpo deixou de marcar o início da vida, o qual passou, então, a ser identificado com o nascimento. Essa é a teoria natalista, que protege a vida existente antes do nascimento, mas somente considera os direitos decorrentes desta, após o parto.

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Silva (2010, p. 35) alega que, para essa teoria, o fundamento mais preciso, está no fato de que é após o décimo quarto dia de fecundação que as células do embrião passam a não ter mais potencialidade, pois é nesse instante que as células passam a se distinguir para construir então os diferentes tecidos e órgãos do futuro feto, construindo e formando assim o seu organismo.

Souza (2019, p. 8) constata, em relação a essa teoria, que o embrião ou feto só irá ter capacidade de direito ou personalidade jurídica, sendo tutelado pela lei, se, eventualmente, vier a nascer com vida, direito os quais estão previstos expressamente pelo nosso Código Civil.

Asfor afirma que os que adotam essa teoria fundamentam-na pela compreensão simples do texto de lei, que determina “que a personalidade jurídica começa com o nascimento com vida”, o que nos dá então o entendimento de que aquele que vai nascer não é considerado pessoa. (2013, p. 1).

2.2.6 Teoria da personalidade formal ou condicional

Pacheco (2018, p. 1) traz seu entendimento a respeito dessa teoria. Para o autor, a teoria da personalidade formal ou condicional, tem início com a concepção, tendo como requisito que exista nascimento com vida, sendo essa uma condição suspensiva, uma vez que existem direitos que já estão garantidos desde a concepção, como principal exemplo, o direito de nascer. Para o autor, “a teoria da personalidade condicional mescla as duas principais correntes, a concepcionista que defende a personalidade do nascituro desde sua concepção e a natalista, que tão somente há personalidade quando o feto nascer com vida” (PACHECO, 2018, p. 1).

Para Asfor,

A teoria da personalidade condicional traz em tela uma visão de reconhecimento do início da personalidade jurídica da pessoa humana no momento da concepção, entretanto, sendo esta de maneira condicional. Segundo tal pensamento, a personalidade civil começa com o nascimento com vida, mas os direitos do nascituro estão sujeitos a uma condição suspensiva, ou seja, são direitos eventuais (2013, p. 1).

Nessa mesma linha de raciocínio, para um melhor entendimento, temos o que sustenta Moura (2011 apud GONÇALVES, 2017, p.1) que

Discute-se se o nascituro é pessoa virtual, cidadão em germe, homem in spem. Seja qual for a conceituação, há para o feto uma expectativa de vida humana, uma pessoa em formação. A lei não pode ignorá-lo e por isso lhe salvaguarda os eventuais direitos.

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Mas, para que estes se adquiram, preciso é que ocorra o nascimento com vida. Por assim dizer, o nascituro é pessoa condicional; a aquisição de personalidade acha-se sob a dependência de condição suspensiva, o nascimento com vida. A esta situação toda especial chama Planiolde antecipação da personalidade.

Tepedino e Rodrigues (2003, p. 134) acrescem que

A teoria da personalidade condicional consiste na afirmação da personalidade desde a concepção, sob condição de nascer com vida. Desta forma a aquisição de direitos pelo nascituro operaria sob a forma de condição resolutiva, portanto, na hipótese de não se verificar o nascimento com vida não haveria personalidade.

Moura (2011, p. 16) alega que, por essa teoria, entende-se que o nascituro pode ser visto como uma pessoa condicional, uma vez que existem duas possibilidades: se o feto vier ao mundo com vida é-lhe assegurada sua existência e o mesmo passa a ter os deveres e direitos que antes estavam interrompidos; mas, se nascer sem vida, desconsidera-se a sua existência como pessoa em potencial e, então, nesse momento, passa a se tornar coisa. Sendo assim, para essa teoria o nascituro é considerado um ser independente, sendo que, em torno da sua vida, existem normas jurídicas que aguardam seu nascimento.

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3 LEGISLAÇÃO E LEGALIZAÇÃO DO ABORTO

Inicialmente, insta frisar que, no Brasil, o acesso ao aborto é proibido por nossa legislação, sendo autorizado somente nos casos de estupro, se a gestante estiver com até 22 semanas de gravidez, em caso de a gestação ser de risco de morte para mãe ou para o bebê e, ainda, em caso de diagnóstico de fetos com anencefalia (MOREIRA, 2019, p. 1).

Nesse mesmo sentido, temos o entendimento de Torres (2012, p.1) que afirma que

O Brasil mantém a criminalização do aborto, com apenas três exceções, duas previstas na lei penal (Código Penal, artigo 128: quando não há outra forma para salvar a vida da gestante e a gravidez resultante de crimes contra a dignidade sexual) e a terceira, admitida em decisões judiciais (malformação fetal incompatível com a vida extra-uterina).

Vale ressaltar o que o atual Código Penal disciplina o aborto do art.124 a 128. O art. 124 trata do aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento. In

verbis:

Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lhe provoque: Pena - detenção, de um a três anos (BRASIL, CP, 2019).

Da mesma forma, pune o aborto provocado por terceiro sem o consentimento da gestante. In verbis:

Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de três a dez anos (BRASIL, CP, 2019).

Já o art. 126 e seu parágrafo único trazem a previsão do aborto provocado com o consentimento da gestante, afirmando que

Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de um a quatro anos.

Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência (BRASIL, CP, 2019).

O art. 127, por sua vez, apresenta as formas qualificadas que se aplicam em caso de superveniência de lesões graves ou de morte da gestante. Afirma o dispositivo legal que

Forma qualificada

Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em conseqüência [sic] do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte (BRASIL, CP, 2019).

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Por fim, como afirma Marcão (2001, p. 1), o art.128 expressa as situações de não punição de aborto praticado por médico. In verbis eis o dispositivo legal:

Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: Aborto necessário

I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; Aborto no caso de gravidez resultante de estupro

II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal (BRASIL, CP, 2019).

Como podemos observar, nos artigos acima mencionados, compreende-se o aborto como a interrupção da gravidez que traz, como consequência, a morte do feto.

Existem diversos tipos de métodos que são utilizados para interromper a gestação, dentre os mais utilizados e comuns temos a ingestão de comprimidos e de medicamentos que são próprios para cometer a prática abortiva, há quem ainda se valha da introdução de objetos que atinjam o feto, da raspagem, da curetagem ou da sucção. É importante ressaltar que, se no momento do aborto constatar-se que o feto já não tinha mais vida, não será caracterizada como crime a prática realizada, uma vez que, será considerado crime impossível (ALVES, 2018, p. 1).

Em relação à Constituição Federal, no que diz respeito ao aborto, Sarmento (2005, p. 59) esclarece que

A Constituição de 88 não tratou expressamente do aborto voluntário, seja para autorizá-lo, seja para proibi-lo. Isto não significa, por óbvio, que o tema da interrupção voluntária da gravidez seja um "indiferente" constitucional". Muito pelo contrário, a matéria está fortemente impregnada de conteúdo constitucional, na medida em que envolve o manejo de princípios e valores de máxima importância consagrados na nossa Carta Magna.

É importante ressaltarmos o artigo 2º do Código Civil, o qual afirma que “a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro” (BRASIL, CC, 2019).

Mendonça (2016, p. 1) define nascituro, dizendo que “[...] é aquele que irá nascer que foi gerado, porém não nasceu ainda. Em outras palavras, nascituro é o ser já concebido e que está pronto para nascer, mas que ainda está no ventre materno”. Sendo assim, para o autor, mesmo estando no ventre materno, o nascituro já possui direitos, inclusive assegurados pela Constituição Federal, uma vez que, segundo Mendonça (2016, p.1), “o nascituro é também detentor do direito à vida, de forma que cabe ao Estado a sua proteção, sem tirar, é claro, a

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responsabilidade da genitora de protegê-lo, de forma que, não atente contra a vida do feto, interrompendo a vida que se desenvolve em seu útero”.

No que se refere à proteção da vida do nascituro em nossa Carta Magna, Cavalcante e Xavier (2006, p. 145) sustentam que

Não há como discutir a questão da legalização do aborto sem debater o problema da proteção jurídica da vida humana intra-uterina [sic]. De fato, se a interrupção voluntária da gravidez implica eliminação dessa vida, é preciso verificar-se, e até que ponto, ela recebe proteção da ordem constitucional brasileira.

Para Carvalho (2015, p. 1),

A proteção constitucional do nascituro e o direito à reparação de danos são decorrentes da necessidade de tutelar os direitos do ser ainda não nascido, essa proteção pode ser visualizado [sic] na Carta Magna, no código civil e até mesmo em decisões, o que se ver [sic] hoje é que o direito deve abarcar todas as situações capazes de gerar dano ao ser humano, pois inconcebível diante de tantas evoluções no âmbito do direito constitucionalizado que defende o direito das gentes não considerar o nascituro como ser capaz de sofrer violação.

A tese sustentada por Cavalcante e Xavier (2006, p. 145) é no sentido de que a vida do embrião é, sim, de fato amparada pela Constituição Federal, mas esse amparo não tem a mesma força e intensidade do que a tutela conferida a alguém que já tenha nascido. Sustentam, ainda, que a proteção dada ao nascituro não é igual em todo o período gestacional, uma vez que, segundo as autoras, a proteção vai crescendo gradativamente na proporção em que o nascituro vai se desenvolvendo, sendo assim “o tempo de gestação é, portanto, um fator de extrema relevância na mensuração do nível de proteção constitucional atribuído à vida pré-natal” (CAVALCANTE; XAVIER 2006, p. 146).

Vale mencionar, ainda, que o direito à vida, que está estabelecido no artigo 5º da Constituição da República, não é absoluto. Podemos observar que o nosso ordenamento jurídico estabelece exceções, tais como já mencionadas no artigo 128 do Código Penal (RODRIGUES; TOLEDANO, 2018, p.1).

Sendo assim, fica evidente que o direito à vida do nascituro, está garantido pela nossa legislação e sua proteção pode ser vislumbrada no Código Penal, no Código Civil e na Constituição Federal.

No entanto, mesmo com o respaldo jurídico acima mencionado, temos inúmero argumentos que defendem o direito ao aborto, bem como, pessoas que lutam para que esse direito venha a ser colocado dentro do nosso ordenamento jurídico, com a total descriminalização de sua prática.

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A luta por esse direito, no Brasil, é principalmente contra a disciplinação moral e religiosa, mas o amparo ao direito ao aborto tem, como fundamento, também, a questão da proteção à saúde da mulher, tendo-se em vista a realidade da situação financeira, social e cultural feminina, com que convivem as mulheres que cometem a prática abortiva vivem atualmente. Quem defende esse direito, visa fazer com que, através do ordenamento jurídico, as sequelas do aborto clandestino não existam mais e que a proteção à saúde da mulher tenha um valor maior do que a proteção da vida do nascituro (BARSTED, 2019, p.1).

Rodrigues e Toledano (2018, p.1) argumentam que “a clandestinidade abortiva é uma difícil realidade praticada em todo país. É de conhecimento geral que a mortalidade de mulheres que praticam o aborto é muito alta nos países onde ele é proibido, o que as condena à morte pelas complicações infecciosas e hemorrágicas”.

Muitos são os fundamentos utilizados a favor da prática do aborto. Segundo Wurth ([s.d.] apud Passarinho, 2018, p.1), "a criminalização do aborto coloca em risco direitos fundamentas estabelecido [sic] em tratados de direitos humanos firmados pelo Brasil, como o direito à privacidade, igualdade e à informação".

Posto isso, veremos a seguir o Projeto de Lei que visa à descriminalização do aborto.

3.1 DO PROJETO DE LEI N° 882/2015

O Projeto de Lei nº 882/2015 é de iniciativa de Jean Wyllys e tem como objetivo garantir às mulheres o direito de interromperem a gestação de até 12 semanas, prevendo que o aborto deva ser realizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) (JEAN..., 2019, p.1).

Tassi e Mayer (2017, p. 2) relatam que

Logo na apresentação do projeto, nas disposições gerais, tem-se o art. 1º, onde está previsto que o objetivo da lei é garantir os direitos fundamentais no âmbito da saúde sexual e dos direitos reprodutivos, regulando as condições da interrupção voluntária da gravidez, assim estabelecendo obrigações aos poderes públicos.

No art. 2º, o projeto de lei defende a ideia de que todas as mulheres, no exercício de sua liberdade, intimidade e autonomia, têm o direito de decidir livremente sobre sua vida sexual, conforme direitos estabelecidos pela constituição, de forma que ninguém será descriminado ao precisar ter acesso aos instrumentos e mecanismos previstos nesta lei por motivos raciais, religiosos, éticos ou apenas por opiniões diversas.

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"Não criei a lei para enfrentar conservadores, eles já me atacam. Mas para além de uma discussão moral ou religiosa, é uma discussão de saúde pública. Precisamos ir além da hipocrisia. Aprove-se ou não a lei, e as mulheres continuarão abortando, só não podem continuar indo a açougues. Defendo o direito da mulher, ela decide sobre o corpo dela” (JEAN..., 2019, p.1).

No que tange ao direito à saúde da gestante, temos o entendimento de Cavalcante e Xavier (2006, p. 150) que afirmam que a criminalização do aborto, presente em nosso atual Código Penal, lesiona os direitos da mulher e gestante e interfere prejudicialmente na saúde da mulher, “[...] quando essas são obrigadas a levar a termo gestações que representam risco ou impliquem efetiva lesão à sua saúde física ou psíquica. Isso porque o risco à saúde não constitui hipótese de aborto autorizada pela legislação nacional” (CAVALCANTE; XAVIER, 2006, p. 150).

Vê-se, portanto que um dos principais objetivos do projeto de lei está relacionado à saúde da mulher, ou seja, o projeto de lei teve como objetivo garantir os direitos fundamentais tanto no âmbito da saúde sexual quanto dos direitos reprodutivos, priorizando, assim, a saúde da mulher.

Art. 1º [...]

§ 1º - Compreende-se como saúde sexual: o estado de bem estar físico, psicológico e social relacionado com a sexualidade, que requer um ambiente livre de discriminação, de coerção e de violência.

§ 2º - Compreende-se como saúde reprodutiva: o estado de bem estar físico, psicológico e social nos aspectos relativos a capacidade reprodutiva da pessoa, que implica na garantia de uma vida sexual segura, a liberdade de ter filhos e de decidir quando e como tê-los (BRASIL, Câmara dos Deputados, Projeto de Lei nº 882, 2015).

Franco (2018, p.1) sustenta que o aborto, como forma de interromper a gravidez, é realizado por diversas mulheres, contudo são apenas as mulheres que não possuem condições financeiras que sofrem as consequências, pois realizam a interrupção da gravidez em um lugar sem a infraestrutura necessária. Por esse motivo o Brasil aparece como um dos países em que mais se morre pela realização por aborto clandestino.

Tassi e Mayer (2017, p. 3) corroboram que “o art. 9º, no que tange a [sic] saúde da mulher, prevê que o poder público fortaleceria a área técnica de Saúde da Mulher do Ministério da Saúde, aumentando e garantindo a efetividade dos serviços de interrupção voluntária da gravidez [...]”.

O título III do capítulo I do projeto de lei trata da interrupção voluntária da gravidez. Diz o art. 10º, em sua redação, que “Toda a mulher tem o direito a realizar a interrupção voluntária da gravidez, realizada por médico e condicionada ao consentimento livre e

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esclarecido da gestante, nos serviços do SUS e na rede privada nas condições que determina a presente Lei” (BRASIL, Câmara dos Deputados, Projeto de Lei nº 882, 2015).

Faz-se necessário, ainda, mencionar a redação dos artigos 11 e 12 do projeto, que afirmam

Art. 11 - Toda mulher tem o direito a decidir livremente pela interrupção voluntária de sua gravidez durante as primeiras doze semanas do processo gestacional.

Art. 12 – Ultrapassado o prazo estabelecido no artigo 11 da presente Lei, a interrupção voluntária da gravidez somente poderá ser realizada:

I – Até a vigésima segunda semana, desde que o feto pese menos de quinhentos gramas, nos casos de gravidez resultante de estupro, violência sexual ou ato atentatório à liberdade sexual, sem a necessidade de apresentação de boletim de ocorrência policial ou laudo médico-legal.

II – A qualquer tempo, nos casos de risco de vida para a gestante, comprovado clinicamente.

III – A qualquer tempo, nos casos de risco à saúde da gestante, comprovado clinicamente.

III – A qualquer tempo, nos casos de incompatibilidade e/ou inviabilidade do feto com a vida extrauterina, comprovado clinicamente (BRASIL, Câmara dos Deputados, Projeto de Lei nº 882, 2015).

Sendo assim, no que se refere ao tempo em que a interrupção voluntária da gestação poderia ocorrer, o projeto prevê que tal só poderia acontecer se a gestante estivesse com até 5 (cinco) meses e 2 (duas) semanas, o que corresponderia a 22 semanas de gestação. Haveria, ainda, como requisito essencial, nessa hipótese, que o feto pesasse menos de quinhentos gramas. Ou o aborto poderia ser autorizado a qualquer tempo nos casos em que a gestante estivesse correndo risco de vida ou à sua saúde (BRASIL, Câmara dos Deputados, Projeto de Lei nº 882, 2015).

Tassi e Mayer (2017, p. 4) alegam que

Wyllys (2015) afirma em seu projeto que as clinicas[sic]de saúde que tenham realizado a interrupção voluntária, deverão obrigatoriamente cancelar de ofício, todos os dados de identificação das pacientes uma vez que decorra o prazo de cinco anos a partir do último registro da intervenção, apenas a documentação clínica podendo ser conservada para fins estatísticos, desde que nulos todos os dados de identificação.

Tassi e Mayer (2017, p. 5) afirmam, com base no projeto, que “é direito do médico a recusa à realização do procedimento, mesmo permitidos [sic] por lei, se contrários [sic] aos seus princípios formadores”. Contudo existem restrições em relação à objeção de consciência. São elas:

Art. 18 [...]

§ 1º - É direito do/a médico/a recusar a realização de atos médicos que, embora permitidos por lei, sejam contrários aos ditames de sua consciência.

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§ 2º - Nos casos de interrupção voluntária da gestação, não cabe objeção de consciência:

I - Em caso de necessidade de abortamento por risco de vida para a mulher; II - Em qualquer situação de abortamento juridicamente permitido, na ausência de Outro(a) médico(a) que o faça e quando a mulher puder sofrer danos ou agravos à saúde em razão da omissão do(a) médico(a);

III - No atendimento de complicações derivadas de abortamento inseguro, por se tratarem de casos de urgência (BRASIL, Câmara dos Deputados, Projeto de Lei nº 882, 2015).

Nas disposições finais do projeto em comento, o artigo 19 estabelece o seguinte:

Art. 19 – Ficam revogados os artigos 124, 126 e 128 do Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940.

Art. 20 – O artigo 127 do Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 127. A pena cominada no artigo 125 deste Código será aumentada de 1/3 (um terço) se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofrer lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevier a morte”. (BRASIL, Câmara dos Deputados, Projeto de Lei nº 882, 2015).

Jean Wyllys justifica seu projeto, alegando que a falta de motivos é o motivo para esse projeto de lei, pois, segundo ele, não existe nenhuma razão para que o aborto não seja descriminalizado, tendo-se em vista que a prática já acontece, e, por isso, não vê motivos, mesmo para aqueles que assistem à prática, sejam considerados criminosos ou criminosas. Sustenta, ainda, que todas as justificativas que foram dadas ao longo do tempo para não alterar a atual legislação “não passam de um conjunto mal articulado de mentiras, omissões e hipocrisias cujo efeito se mede, anualmente, em vidas humanas” (BRASIL, Câmara dos Deputados, Projeto de Lei nº 882, 2015, p. 8).

Justifica, ainda, dizendo que são vidas de mulheres já nascidas em jogo e que isso sequer deveria ser discutido. Acredita, que o único fundamento para que esse projeto não tenha sido aprovado ainda é devido à “vontade de uma parcela do sistema político e das instituições religiosas de impor pela força suas crenças e preceitos morais ao conjunto da população, ferindo a laicidade do Estado” (BRASIL, Câmara dos Deputados, Projeto de Lei nº 882, 2015).

3.2 ANÁLISE DOS ARGUMENTOS A FAVOR E CONTRA A LIBERAÇÃO DO ABORTO

Conforme Rocha (2019, p. 1), as opiniões sobre a liberação ou não do aborto são divididas, tendo, de um lado, grupos que apoiam à liberação, baseando-se no apoio às mulheres,

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pois acreditam que estas devem escolher o que desejam fazer com seu próprio corpo e, esse grupo, geralmente, é representado por movimentos feministas; de outro lado, temos também aqueles que são contra à prática do aborto, defendendo a vida dos nascituros e, geralmente, são representados por grupos religiosos.

Duarte (2018, p.1) sustenta que aqueles que são favoráveis a legalização do aborto, argumentam que os artigos 124 e 126 do Código Penal, ferem os direitos fundamentais da pessoa humana, tendo-se em vista que os artigos não estão em conformidade com os princípios da dignidade, da liberdade e da igualdade. Outro argumento utilizado por quem defende a descriminalização é que o fato de descriminalizar o aborto não necessariamente é um incentivo para que a prática seja realizada, pois, nos países em que o aborto foi descriminalizado, esta ação não é celebrada. O objetivo da descriminalização é que o aborto não seja mais considerado um crime e que essa questão seja tratada com a ajuda de especialistas da área de saúde pública. Um dos argumentos utilizados por aqueles que defendem a legalização é de que, com a descriminalização do aborto, as clínicas clandestinas não iriam mais existir e a saúde da mulher seria preservada, por sua vez, quem não é a favor da prática sustenta que “todas as estatísticas em relação às clínicas clandestinas e aborto ilegal são seguramente falsas. Se ela é clandestina e ilegal, quem está fiscalizando?” (MARIANO, 2018, p. 1).

Para Navarro, “sabemos que a criminalização do aborto não impede que abortos aconteçam e sigam acontecendo. A questão é garantir que mulheres parem de morrer por realizar um processo que seja seguro e torná-lo acessível a todas as mulheres” (2017, p. 1).

São muitos os argumentos utilizados por aqueles que defendem a descriminalização e a legalização do aborto, pois, segundo os defensores dessa prática, nos países em que o aborto foi descriminalizado, o número de abortos e de mortalidade materna foram diminuídos (DUARTE, 2018, p. 1).

Duarte (2018, p. 1) apresenta diversos argumentos que são costumeiramente utilizados pelos defensores da legalização do aborto, dentre esses argumentos estão:

“O que existe é uma massa de células dentro do corpo da mulher, não um bebê”. “Quando não se tem ainda o sistema nervoso central formado, ainda não é um ser humano”.

“Só é pessoa humana depois que o embrião se implanta na parede uterina”. “A mulher tem o direito absoluto de decidir se quer ou não ser mãe”. “A mulher tem direito sobre o próprio corpo”.

“Há um elevado número de mortes de mulheres que fazem o aborto em clínicas clandestinas, especialmente mulheres negras, pobres, e sem ou com baixa escolaridade”.

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“Os Direitos Sexuais Reprodutivos permitem às mulheres fazer o aborto, pois elas são livres nessa decisão sobre a própria gestação” (DUARTE, 2018, p. 1).

Já segundo Diniz e Almeida (2019, p. 1),

O argumento principal dos defensores da legalização ou descriminalização do aborto é o do respeito à autonomia reprodutiva da mulher e/ou do casal, baseado no princípio da liberdade individual, herdeiro da tradição filosófica anglo-saxã cujo pai foi Stuart Mill. Na Bioética, o aborto não é tema exclusivo de mulheres ou de militantes de movimentos sociais; a idéia [sic] de autonomia do indivíduo possui uma penetração imensa na Bioética laica, especialmente para os autores simpatizantes da linha norte-americana. É em torno do princípio do respeito à autonomia reprodutiva que os proponentes da questão do aborto agregam-se.

Por sua vez, conforme Barbosa (2016, p.1), aqueles que são contra a legalização do aborto costumam ter seus argumentos conhecidos como “pró-vida”, pois acreditam que a vida começa desde o momento da concepção, enquanto aqueles que aprovam o aborto acreditam em prazos mais extensos. Ambos fundamentos possuem bases científicas, ainda assim, não existe ainda um consenso em relação ao momento em que se inicia a vida humana. Posto isso, o autor afirma que a única opção que garante que o aborto não seja considerado um crime é se ele ocorrer antes da concepção do feto, pois, se ocorrer após a concepção, pode ser considerado assassinato, ou seja, para ele, ninguém conseguiu até o momento provar que seja diferente(BARBOSA, 2016, p. 1).

Para Duarte, “o início da vida humana não deve ser apresentado como uma questão predominantemente religiosa, pois é, sobretudo, um tema científico, biológico e genético” (2018, p. 1). Por isso, Diniz e Almeida afirmam que

Já os oponentes do aborto têm como nó a heteronomia, isto é, a idéia [sic]de que a vida humana é sagrada por princípio. Na Bioética, os oponentes do aborto não são apenas aqueles vinculados a crenças religiosas, sendo, ao contrário, esta uma idéia [sic]bastante difundida até mesmo entre os bioeticistas laicos (esta aceitação da idéia [sic] da intocabilidade da vida humana entre os bioeticistas laicos fez com que Singer falasse em "especismo" do Homo sapiens, ou seja, um discurso religioso baseado nos pressupostos científicos da evolução da espécie e na superioridade humana) (2019, p.1).

Além disso, Duarte (2018, p. 1) sustenta que o fato de não possuir personalidade jurídica não quer dizer necessariamente que o nascituro não seja considerado pessoa humana, uma vez que ele já possui personalidade e direitos civis, ou seja, mesmo que ainda não tenha nascido, seus direitos são reconhecidos, sendo, portanto, considerados sujeitos de bens jurídicos indiscutíveis. Esses direitos estão amparados pelo artigo 2º do Código Civil brasileiro,

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tendo-se em vista que estendo-se garante que “a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida, mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”.

Por isso, Barbosa sustenta que

Deste modo, é absurdo requisitar que se permita, legalmente, o aborto. Se a vida humana é inegociável e tirá-la é inaceitável, o aborto em QUALQUER MOMENTO após a concepção não pode ser autorizado por se tratar de um assassinato em potencial. Autorizar o aborto após a concepção seria o Estado, sem qualquer evidência conclusiva, aceitar que se cometa algo que, a se verificar com o avanço científico, pode ser um verdadeiro genocídio. Não há base lógica alguma nisso (2016, p. 1, grifo do autor).

Ainda outro fundamento jurídico, utilizado por aqueles que são considerado pró-vida, está no art. 5º da nossa Carta Magna: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida”.

Barbosa (2016, p.1) afirma que o aborto realmente é caso de saúde pública, tendo-se em vista o mal que causa fisicamente, psicologicamente e emocionalmente à mulher. Nas palavras do autor: “Ainda que todos os itens anteriores fossem negados, e a mulher tivesse direito ao aborto, caso não desejasse a gravidez; mesmo assim elas teriam de lidar, após o ato, com todas as consequências [sic] nefastas que o aborto traz à saúde feminina” (BARBOSA, 2016, p.1).

Para Serra, “o fato é que nem a criminalização nem a culpa impedem a mulher que quer abortar. Dados do Ministério da Saúde, no entanto, mostram que, a cada dois dias, uma brasileira pobre morre vítima do aborto inseguro. É ele a quinta causa de morte materna no país” (2018, p. 1).

No tocante aos argumentos contra o aborto, temos o que sustentam Miguel, Biroli e Mariano (2017, p. 19), afirmando que o principal argumento utilizado é o de que a vida é um direito inviolável e tem primazia absoluta sobre todos os outros direitos. Porém esse argumento não pode ser o único. É necessário que seja provado que vida é essa e onde está a comprovação que essa deve ser entendida como absoluta e inviolável, desse modo, aqueles que são pró-vida alegam que esse direito está nos ensinamentos religiosos e morais, sustentando, que a maioria da população é contra a liberação do aborto, e, tratando-se de provas na esfera jurídica, fundamentam que a vida tem início na concepção e que existe proteção jurídica e constitucional do direito à vida aos nascituros, sendo esses considerados como pessoas desde o momento da

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fecundação do ovulo, sendo assim, consideram que esse direito seja inviolável e absoluto com base nesses fundamentos.

Para Cavalcante e Xavier,

Neste ponto, cumpre esclarecer que falar em vida humana e em pessoa humana não é a mesma coisa. Indiscutivelmente, o embrião pertence à espécie homo sapiens, sendo, portanto, humano. Por outro lado, embora habite o corpo da mãe, ele, obviamente, não se confunde com as vísceras maternas, ao contrário do que afirmavam os antigos romanos. Possui o embrião identidade própria, caracterizada pelo fato de que constitui um novo sistema em relação à mãe e é dotado de um código genético único – ressalvado o caso dos gêmeos homozigóticos -, que já contém as instruções para o seu desenvolvimento biológico. Trata-se, portanto, de autêntica vida humana (2006, p. 147).

Nesse sentido, Miguel, Biroli e Mariano, vislumbram que a simples afirmação de que a vida tem início desde a concepção e o argumento de que todos têm direito à vida, não seriam suficientes para acabar com o assunto. Assim, os antiabortistas, foram em busca de aprovar uma lei que desse segurança jurídica aos nascituros, do mesmo modo que a lei dá segurança aos já nascidos. Foi então, que eles propuseram o Estatuto do Nascituro, tendo como objetivo principal colocar na lei o instante em que se iniciaria a validade dos direitos individuais, concedendo esses direitos desde o momento da concepção. Sendo assim, seria impossível qualquer possibilidade de legalização do aborto, pois, nesse caso, a prática seria igualada ao assassinato. Porém, para os autores, isso seria um retrocesso em nossa legislação, tendo-se em vista que os casos em que o aborto já está autorizado por lei seriam bloqueados caso o estatuto fosse aceito (MIGUEL; BIROLI; MARIANO, 2017, p. 22).

Interessante ressaltar que um dos argumentos utilizados contra a liberação do aborto é que existem métodos contraceptivos e que esse devem ser usados. Desse modo, a gravidez pode ser evitada e só não é evitada quando não existe responsabilidade, então, nada mais justo do que, nesse caso, a mulher/mãe assumir as consequências de suas ações, assumindo o compromisso de ter o bebê mesmo que esse não tenha sido desejado. Porém, deve-se considerar que, mesmo com diversos tipos de contraceptivos disponíveis, esses podem falhar. E, ainda que tal possibilidade seja pequena, a Organização Mundial da Saúde apresentou uma pesquisa onde foi estimado o número de gravidezes, dentro de um ano, que são resultado da falha de um método contraceptivo, apurando que não importa o método, todos, sem exceção, apresentaram falhas (TORRES et al., 2019, p. 13).

Assentadas essa premissas, é necessário dar atenção às visões do aborto sob a perspectiva da igreja, tendo-se em vista que a partir dos dogmas da mesma, é muito comum

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afirmar-se “[...] que a vida é criação de Deus e só pode ser retirada por Deus, que é o eixo do argumento religioso” (MIGUEL; BIROLI; MARIANO, 2017 p. 251).

3.2.1 Visão religiosa

Inicialmente, insta frisar que, para aqueles que defendem a criminalização, existiu a obrigação de desvincularem-se dos argumentos puramente religiosos, utilizados na questão do aborto, tendo-se em vista que o Estado é laico e, portanto, não deve apoiar nenhuma religião (BARSTED, 2019, p.1).

Assim, para Kalsing (2002, p. 302), “o Estado deve ser laico, não permitindo que valores morais e religiosos particulares se sobreponham como regras de conduta dentro de uma sociedade”.

É importante fazer uma retrospectiva acerca do porquê de a religião ser tão forte em embates políticos. Serra (2018, p. 1) explica que, antigamente, não existia separação entre os poderes do Estado e da Igreja Católica. Era a Igreja que ditava as regras e o papa era como se fosse um governador, sendo que as leis fundamentavam-se nos princípios do catolicismo e, mesmo com o passar dos anos, ela ficou conhecida fortemente como uma espécie de protetora da moral.

Sobretudo, a Igreja Católica é a mais religião mais seguida e sustenta uma perspectiva de mundo que é fortemente reconhecida, mostrando sua potência, principalmente, em conflitos políticos (KALSING, 2002, p. 288).

Cavalcante e Xavier (2006, p. 142) sustentam que nem se faz necessário recordar o posicionamento drástico que a Igreja Católica assume acercado aborto, condenando o ato em qualquer possibilidade, até mesmo nas circunstâncias que já foram admitidas pela nossa legislação. Os autores recordam, ainda, que o catolicismo é a religião predominante no Brasil.

A Igreja Católica e a maioria das religiões defendem que o aborto é um crime e está tipificado em nossa Carta Magna, mais precisamente no artigo 5°, que garante a imutabilidade desse direito fundamental. Para os cristãos, o aborto é o crime mais grave que pode existir, pois é cometido contra um ser que não pode se defender, sendo totalmente dependente do corpo da mãe. A Igreja, assim, funda-se em princípios que defendem o valor da vida (KALSING, 2002, p. 290).

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