ISSN 2176-1396
OLHAR PARA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES
UNIVERSITÁRIOS NO SÉCULO XXI
Tatiane Skeika1 - UEPG Ana Lúcia Pereira2 - UEPG
Fábio Antonio Gabriel3 -UEPG Leila Inês Follmann Freire4 - UEPG
Eixo – Formação de Professores Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
O programa PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência) e a interação entre os bolsistas participantes, consequentes da configuração do programa, podem resultar em reflexões sobre própria ação na carreira docente. Essa característica formativa, resulta do processo transitório entre as atividades desenvolvidas na universidade, na escola ocorridas no PIBID. Essa possibilidade mobilizou a presente investigação que tem como objetivo analisar as contribuições do Programa PIBID do Ministério da Educação Brasileiro no que se refere à formação continuada dos professores coordenadores de áreas de subprojetos de ciências e matemática da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). A escolha dos coordenadores como sujeitos de pesquisa, baseia-se na ausência de pesquisas considerando o professor universitário nos trabalhos publicados sobre o PIBID. Para alcançar o objetivo nosso embasamento teórico partiu das contribuições de Perrenoud, que defende que a formação de professores, de modo concreto, recorre ao referencial de competências, adotado em Genebra, em 1996, para a formação contínua de professores. Dessa forma, é possível identificar as competências propostas por Perrenoud na formação continuada dos professores universitários das áreas de ensino de ciências e matemática participantes do programa pela UEPG? A investigação, de cunho qualitativo, utilizou-se aplicação de questionário como técnica de coleta de dados e da metodologia de análise do conteúdo de Laurence Bardin tanto para a organização quanto para a análise dos dados. Como resultado, infere-se a relevância do PIBID e suas significativas contribuições na formação de professores de ciências, também do ensino
1 Doutoranda e mestre em educação pela UEPG- Universidade Estadual de Ponta Grossa. Professora de Química
do Quadro Próprio de Magistério da SEED PR. Bolsista Capes. E-mail: tati.skeika@gmail.com
2 Doutora em Ensino de Ciências e Educação Matemática pela Universidade Estadual de Londrina. Professora
adjunta do Departamento de Matemática e Estatística e no Programa de Mestrado e Doutorado em Educação na UEPG. Bolsista da CAPES - Brasil. Email: ana.baccon@hotmail.com
3 Doutorando e mestre em educação pela UEPG- Universidade Estadual de Ponta Grossa. Professor de Filosofia
do Quadro Próprio de Magistério da SEED PR. Bolsista Capes. E-mail: fabioantoniogabriel@gmail.com
4 Doutora em Ensino de Ciências pela Universidade de São Paulo. Professora do Departamento de Química na
superior, indo além da proposta base do programa, voltado principalmente para a formação inicial.
Palavras-chave: Programa de iniciação à docência. Formação continuada. Professores
formadores. Ensino de ciências.
Introdução
Um dos marcos do século XXI está na valorização do professor como centro das preocupações relacionadas à educação (Nóvoa, 2009). A melhoria da formação profissional inicial e continuada pode ocorrer por meio da busca de conhecimentos necessários para ensinar, sendo uma das estratégias a implantação de projetos que visam o aumento qualidade de ensino (Freitas, 2002). No Brasil, o Ministério da Educação (MEC) e a CAPES, vêm aprimorando medidas para essas melhorias no que tange aos processos de formação, sendo um desses projetos, o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID, voltado principalmente para a formação inicial, mas envolvendo também a formação de professores em serviço. Graduandos de curso de licenciatura, professores da educação básica e professores dos cursos de licenciatura participantes do programa são organizados em subprojetos, filiados ao projeto institucional de cada universidade. No subprojeto o professor universitário é o coordenador do projeto, os professores da educação básica são os supervisores das atividades de aprendizagem da docência realizadas nas escolas parceiras pelos estudantes de licenciatura. Dentro desse contexto de formação podemos destacar que o formador de professores necessita mobilizar um conjunto de recursos cognitivos para enfrentar uma série de situações. A formação continuada deve romper o caráter técnico simplista, ou seja, como meio para suprir falhas no processo de formação inicial ou especializar-se em uma determinada área. Esse rompimento pode ser fundamentado na ênfase da formação contínua baseada na reflexão sobre a prática e na interação com os sujeitos envolvidos no campo de trabalho (Perrenoud, 2000).
As situações no campo de trabalho que influenciam a formação são apresentadas por Perrenoud (2000), o qual defende que o processo de formação de professores de modo concreto usando o referencial de competências adotado em Genebra em 1996 com origens na administração pública (Perrenoud, 2000).
Perrenoud defende que o profissional competente é aquele que “julga, avalia e pondera; acha solução e decide, depois de examinar e discutir determinada situação, de forma conveniente e adequada” (2000, p.15). Segundo o mesmo autor pode-se considerar dez
domínios de competências reconhecidas como prioritárias na formação continuada de professores, apresentados na Tabela 1:
Tabela 1 – Caracterização dos sujeitos de pesquisa, organizada sequencialmente conforme a área de atuação
Domínios de competências reconhecidas como prioritárias na formação continuada de professores
1. Organizar e animar as situações de aprendizagem 2. Gerir o progresso das aprendizagens
3. Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação 4. Envolver os alunos nas suas aprendizagens e no seu trabalho 5. Trabalhar em equipe
6. Participar da gestão da escola 7. Informar e envolver os país 8. Servir-se de novas tecnologias
9. Enfrentar os deveres e dilemas éticos da profissão 10. Gerir sua própria formação continuada
Fonte: Os autores, adaptado de Perrenoud 2000, p.15.
Pensar na formação analisando as competências propostas por Perrenoud, resultaria não só no suprimento de lacunas na formação, mas possibilitaria aos professores buscarem situações que possam proporcionar a manifestação de suas crenças e convicções, o que permitiria o seu desenvolvimento intelectual e consequente aperfeiçoamento profissional (Perrenoud, 2000).
As competências propostas por Perrenoud, a reflexão sobre a prática e a consequente aquisição de saberes docentes podem estar interligadas, formando a base para a formação contínua dos professores. Nessa perspectiva, o objetivo desse trabalho está em desvelar as relações entre competências de Perrenoud e os aspectos formativos resultantes da contribuição do programa PIBID na formação dos professores coordenadores das áreas de ciências e matemática da Universidade Estadual de Ponta Grossa.
Metodologia
Utilizando a abordagem qualitativa de pesquisa, o trabalho foi realizado mediante a coleta de dados com professores universitários chamados de coordenadores de área, bolsistas do programa PIBID pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, que ingressaram no programa pelo edital CAPES/DEB N. 061/2013. As informações foram coletadas via questionário com 27 perguntas dissertativas e de múltipla escolha relacionadas ao processo formativo proporcionado pelo PIBID, o qual foi aplicado com o auxílio do formulário
pertencentes a área de Ensino de Ciências, coordenadores dos subprojetos de Matemática, Química, Física e Biologia.
Os dados foram tratados com base na metodologia de análise de conteúdo (BARDIN, 2011), a qual possibilita a descrição e interpretação do conteúdo de documentos e textos, realizando a categorização numa perspectiva emergente.
Tabela 2 – Caracterização dos sujeitos de pesquisa, organizada sequencialmente conforme a área de atuação
Sujeito Área de atuação Tempo de participação no projeto PIBID?
Curso de pós-graduação
C1 Biologia 13 a 24 meses Doutorado em Ensino de Ciências C2 Biologia 13 a 24 meses Doutorado em Ciências Biológicas C3 Física Mais de 24 meses Doutorado em Física
C4 Matemática Mais de 24 meses Mestrado em Matemática Aplicada C5 Matemática Mais de 24 meses Mestrado em Educação
C6 Química 6 a 12 meses Doutorado em Química Orgânica C7 Química Mais de 24 meses Doutorado em Físico-Química Fonte: Os autores.
Resultado
Buscaremos apresentar algumas relações entre os domínios de competências reconhecidas como prioritárias na formação continuada de professores, com base em Perrenoud, e as contribuições do programa PIBID na formação dos professores coordenadores. De acordo com essa proposta, foi possível analisar os dados de 3 das 27 questões de pesquisa relacionando-as com 3 dos 10 domínios conforme os dados a seguir.
A análise da competência “Organizar e animar as situações de aprendizagem” foi relacionada com os dados obtidos na questão: “Você se considera formador dos bolsistas sob sua coordenação? No caso de resposta positiva, especifique o seu papel na formação desses sujeitos”. Os dados resultaram na emersão das categorias apresentadas na tabela 3. As menções são referentes à quantidade de vezes que cada fala apareceu nos discursos dos sujeitos da pesquisa, no entanto, apresentamos apenas uma fala de um dos sujeitos, que foi utilizada para representar a categoria. No entanto, todas as falas dos outros sujeitos que aqui não aparecem explicitamente, são similares às falas apresentadas.
Tabela 3. Caracterização dos dados relacionados à característica de formador do coordenador de área do PIBID.
Categorias emergentes Orientador na formulação de estratégias de ensino Orientador nas atividades no campo de trabalho Aprendizagem mútua Menções 1 2 4 Recortes de exemplos de respostas (C3) “A orientação da necessidade, e como realizar, um (C1) “Conduzir os licenciandos da melhor forma possível para que
(C6) “Quando se fala em formação deve-se pensar na capacidade destes bolsistas
Fonte: Os autore s. N a categ oria com menor número de menções, nota-se uma relação direta entre a orientação na formulação de estratégias de ensino e o domínio relacionado ao auxílio na organização e animação das situações de aprendizagem por parte do professor formador de docentes. A categoria seguinte é complementada pela anterior, sendo a condução do coordenador de área para a inserção ao campo de trabalho fundamental para as relações de ensino e aprendizagem, tanto para o acadêmico quanto ao professor universitário. Aspectos relacionados à aprendizagem mútua, além de possibilitar a melhoria nas situações de aprendizagem, ainda se relaciona à competência de trabalhar em equipe, a qual está presente na maioria dos aspectos formativos do PIBID pelo fato do programa ter o envolvimento de várias categorias de bolsistas envolvidos nas atividades.
A competência “envolver os alunos nas suas aprendizagens e no seu trabalho”, foi identificada nas respostas para a seguinte questão: Para compor a sua carga horária de dedicação ao PIBID, que atividades você desenvolve?
Como resultado emergiram duas categorias principais, conforme mostrado na Tabela 4.
Tabela 4. Caracterização das respostas relacionadas às atividades desenvolvidas pelos coordenadores no PIBID.
Categorias emergentes
Articulação entre atividades da universidade com a escola
Elaboração de materiais e atividades Menções 3 4 Recortes de exemplos de respostas para as categorias
(C5)”Visitas e reuniões nas escolas envolvidas.Reuniões com o grupo PIBID/Mat./E.F. na UEPG. Reuniões com a coordenação geral PIBID.
Participação em eventos.
Orientações individuais de projetos
(C3) “Atividades desenvolvidas com os alunos bolsistas e supervisores na uepg: Orientação, preparação de experimentos, reunião de estudos, acompanhamento do trabalho nas escolas”. para as categorias planejamento das atividades didáticas e pedagógicas são contribuições. A importância de elaborar estratégias de aprendizagem e de construção da formação pedagógica é uma forma de conscientização. Procuro mostrar que as críticas que elaboram em relação aos alunos das escolas devem usadas para balizar a postura deles, bolsistas, em sala de aula na Universidade". conheçam o cotidiano escolar e problematizem as questões vivenciadas”. em adquirir confiança no que fazem, trabalhar em grupo, adquirir
conhecimento para desenvolvimento das mais diversas atividades desenvolvidas pelo programa, entre outras competências. A oportunidade que estes alunos têm de aprendizado ao participar do PIBID envolve a relação destes com os outros bolsistas, os supervisores e coordenadores”.
de ações pedagógicas a serem desenvolvidos nas escolas envolvidas no projeto.
Leituras. Articulações de palestras”. Fonte: Os autores.
A ação de conduzir os licenciandos e os supervisores para a participação em atividades no campo de trabalho dos futuros docentes, contempla o “envolver os alunos nas suas aprendizagens e no seu trabalho”, já que possibilita aos licenciandos a vinculação do conteúdo aprendido no ambiente universitário com as ações realizadas nas atividades do programa e, consequentemente, o professor coordenador atingirá e amplificará sua função de formador. A categoria relacionada à elaboração de materiais e atividades possibilita ao professor coordenador refletir sobre a necessidade do desenvolvimento de atividades que auxiliem no ensino de ciências dentro do contexto PIBID que promove a inserção desses materiais no ambiente escolar, possibilitando a identificação dos pontos positivos e dos negativos complementando o envolvimento dos alunos licenciandos nas atividades propostas.
A ideia defendida por Perrenoud relacionada ao domínio “Gerir sua própria formação continuada” foi investigada nesse estudo considerando a questão: Quais os impactos do PIBID na sua formação continuada?
Tabela 5. Caracterização das respostas relacionadas à formação continuada dos coordenadores no PIBID.
Categorias emergentes
Troca de Experiência Atualização Reflexão
Menções 1 3 3 Recortes de exemplos de respostas para as categorias (C2) “Excelente oportunidade para troca de experiências entre gerações”. (C3) “Estudos de novos artigos e trabalhos relacionados a estratégias de ensino e aprendizagem, de discussão de problemas e novas metodologias de ensino”.
(C6) “O PIBID vem proporcionando uma maior reflexão sobre minha prática em sala de aula e a necessidade de estudo contínuo de temas relacionados a ensino-aprendizagem”. Fonte: Os autores.
Os dados da tabela 5 indicam que as três categorias relacionadas à formação continuada dos professores coordenadores na área de ensino de ciências e matemática estudados, participam da construção do domínio “gerir sua própria formação continuada. Os processos envolvendo a constante troca de experiência entre os integrantes do programa PIBID, possibilitam a atualização dos professores em serviço, bem como a reflexão sobre a
própria prática. Tal resultado caminha para a melhoria do ensino de ciências no ensino superior, o qual tende a ser refletido na educação básica na escola.
Como apenas um dos 7 coordenadores tem formação na área de ensino de ciências, os demais provavelmente não teriam outra oportunidade de envolver-se no processo formativo dos acadêmicos, nem refletido sobre as práticas relacionadas ao ensino, situações pelas quais aconteceram devido a participação dos mesmos nas atividades do PIBID.
Conclusão
As análises à luz do referencial de Perrenoud nos possibilita a reflexão sobre os processos de formação de professores em exercício. O programa PIBID abre caminho para o aprimoramento da formação continuada dos professores universitários. Entre as contribuições do programa relacionadas aos domínios de competências necessárias para a formação continuada um dos destaques foi para a elaboração de atividades e materiais para utilização na melhoria da qualidade do ensino de ciências, envolvendo os acadêmicos sob responsabilidade dos coordenadores em ações que resultam na melhoria do trabalho profissional. O processo de organização e animação de situações relacionados ao ensino de ciências podem emergir dos processos de formação mútua entre os bolsistas acadêmicos, supervisores e os coordenadores. Já a análise da formação continuada pelos próprios coordenadores, indicaram que as competências listadas por Perrenoud são fortalecidas pelo processo de atualização, reflexão e troca de experiência. Nesse contexto de formação mútua proporcionado pelo PIBID, é provável que os bolsistas participantes contemplem estes aspectos formativos não só nas atividades do programa, mas utilizem-nos em todas as suas atitudes profissionais.
REFERÊNCIAS
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.
BRASIL. Ministério da Educação. Portaria Normativa nº 38, de 12 de dezembro de 2007. Dispõe sobre o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID. Diário
Oficial da União, seção 1, p. 39. 2007.
FREITAS, Helena Costa Lopes de. Formação de professores no Brasil: 10 anos de embate entre projetos de formação. Educação e Sociedade. Campinas: v. 23, n. 80, p. 136-167, 2002.
Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência. Edital. n. 061/2013. Brasília. Acesso em: 28/03/17.
_______. Pibid - Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência, Publicado: 03 Setembro 2008, Última atualização: 02 Março 2015. Brasília: CAPES, 2015. Disponível em: < http://www.capes.gov.br/educacao-basica/capespibid> Acesso em: 28/03/17.
NÓVOA, António. Professores: imagens do futuro presente. Lisboa: Educa, 2009. PERRENOUD, P. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: ArtMed, 2000.
