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HISTÓRIA, CULTURA E MEMÓRIA DE UMA COMUNIDADE NEGRA RURAL Júlio Cesar Lopes de Oliveira 1, Antônio Roberto Xavier 2

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Academic year: 2021

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HISTÓRIA, CULTURA E MEMÓRIA DE UMA COMUNIDADE NEGRA RURAL Júlio Cesar Lopes de Oliveira1, Antônio Roberto Xavier2

Resumo: O Brasil é uma nação pluricultural em seus mais variados aspectos de raça, religião, etnia e muitos outros que, por vezes, não são reconhecidos ou aglutinados em um setor ou outro. Esta assertiva é consenso comum. Mas, apesar desse consenso e o de que o Brasil tenha sido construído pelas mãos de africanos escravizados e/ ou negros libertos, paira uma problemática significativa a ser refletida: por que este reconhecimento quase não permeia nossa educação nos livros didáticos ou resiste em não vir à tona diante de uma tentativa de implantação da cultura eurocêntrica na nação? O objetivo principal neste trabalho é trazer à tona ou dar visibilidade aos sujeitos moradores da comunidade de Garrote por meio de suas práticas e saber-fazer do cotidiano da comunidade. Para tanto, busca-se compreender as principais expressões culturais Afro-brasileiras através da etnohistória e da memória coletiva em geral e, especificamente, a partir de um estudo etnográfico na comunidade de Garrote situada na zona rural do município de Itapiúna, Macrorregião do Maciço de Baturité, Ceará. Deste modo justifica-se esta pesquisa com base no interesse pessoal em razão da formação acadêmica de Bacharelado em Humanidades na UNILAB e a consciência fortalecida em razão de uma realidade aprendida e constatada: a sociedade brasileira tem em sua essência cultural o legado africano que somado com as tradições nativas e europeias, o Brasil se torna um celeiro multi e pluricultural e étnico.

Palavras-chave: Africano, Expressões culturais, Memória coletiva.

1 Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, Instituto de Humanidades e

Letras, e-mail: juliolopes1110@gmail.com.

2 Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, Instituto de Ciências Sociais

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INTRODUÇÃO

É de racional afirmar que apesar de o Brasil ter sido construído pelas mãos de africanos escravizados e/ ou negros libertos, este reconhecimento quase não existe ou resiste em não vir à tona diante de uma tentativa de implantação da cultura eurocêntrica na nação. Sabe-se, porém, que a história sobre os estudos culturais afro-brasileiros concebe ontologicamente de que o Brasil é inegavelmente um país multiétnico e pluricultural, sendo a cultura Afro- brasileira prevalecente.

Apesar de a África ser o continente mais próximo do Brasil, de existirem imensas semelhanças humanas e naturais entre ambos, de ter havido uma forte interação ao longo da história e de os afrodescendentes constituírem cerca de um terço de nossa população [...], existe um desconhecimento profundo de sua história e de nossas relações com ela. (VISENTINI; RIBEIRO; PEREIRA, 2013, p. 12).

Etnicamente, a comunidade Garrote contém fortes traços afrodescendentes demonstrados vividamente nas expressões culturais materiais e imateriais caracterizadoras dos moradores da comunidade Garrote.

E que apesar dessa comunidade ter tido uma mistura com a presença de muitos moradores de outras localidades, as manifestações afros podem ser facilmente identificadas nas expressões culturais e práticas cotidianas, tais como: tradições, artesanatos, comidas, ritos, mitos, utensílios domésticos etc. Todavia, se não há uma demanda do poder público em reconhecer essa comunidade com traços quilombolas visível, os moradores também não têm a consciência ou ainda não despertaram para tal fato, ignorando muitas vezes, suas raízes e tradições. Devido a isso algumas manifestações culturais essencialmente Afro-brasileiras, estão se deslocando para outras localidades em razão da falta de consciência da pertença aos habitantes dessa comunidade.

A comunidade pesquisada fica situada na zona rural de Itapiúna, acerca de 15 km da sede do município do município, (a 112 km de Fortaleza), na Macrorregião do Maciço de Baturité-Ce. Em um local de difícil acesso tanto para os visitantes quanto para os próprios moradores locais.

Portanto, objetivou-se nesse trabalho compreender as principais expressões culturais Afro-brasileiras através da etnohistória e da memória coletiva visando à identificação étnico-racial e a ancestralidade dos moradores da comunidade Garrote no município de Itapiúna-CE.

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METODOLOGIA

A pesquisa teve como metodologia prevalecente a etnohistória combinado com uso do método etnográfico, partindo de dados escritos somados à observação e/ou pesquisa participante com estudo de campo geograficamente definido visando uma “descrição densa” (GEERTZ, 1973) e interpretativa etno-cultural Afro-brasileira. Esse tipo de pesquisa “caracteriza-se pela descrição ou reconstrução de mundos culturais originais de pequenos grupos [...], a fim de recriar as crenças, descrever práticas e artefatos, revelar comportamentos, interpretar os significados [...] entre os membros do grupo em estudo” (CHIZZOTTI, 2011, p. 71).

A partir do objetivo geral de compreender as principais expressões culturais Afro- brasileiras através da etnohistória e da memória coletiva, visando a identificação étnico- racial e a ancestralidade, o pesquisador mergulha, nos mais profundos escaninhos dessa memória para compreender as representações e simbologias presentes nas narrativas colhidas através das técnicas de entrevistas abertas. Para tanto, se faz necessário uma análise minuciosa de o conteúdo colhido com o recurso da oralidade, o que sem dúvida, exige alguns parâmetros de análise.

Foram usadas técnicas de coletas de dados, e as entrevistas partiram de caráter aberto e aplicadas espontaneamente no sentido da captar respostas com espontaneidade. Os recursos materiais utilizados foram; gravadores, máquina fotográfica, lápis, caderno, canetas e outros de acordo com a necessidade dos afazeres da pesquisa. Durante a pesquisa foi feito um levantamento bibliográfico, e diagnóstico dos docentes e discentes do grupo de pesquisa, seguindo para a observação in loco.

Usando o recurso metodológico da história oral que é de suma importância, pois permite ouvir e registrar através das narrativas, sobretudo com os mais idosos (as), pois essas conhecem a história e a cultura e têm prazer de repassá-las reconhecendo e se orgulhando de seu pertencimento étnico-racial.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Tudo começou com a vinda da Família do paraibano João Gavião em dezembro de 1941 do Distrito de Canto que fica localizado na cidade de Sousa-PB para a localidade de Garrote, Itapiúna.

A vinda da família ao Garrote se deu segundo em um dos relatos durante as entrevistas de campo, devido a uma rixa que um dos filhos do patriarca João Gavião teve por onde

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moravam, se tratando de motivos amorosos. E por conta disso tiveram desentendimento com alguns moradores dessa região, levando então que toda a família do Patriarca João Pereira da Silva, conhecido por todos como “João Gavião” a ter receio de que pudesse acontecer algo de mais grave com a família e de evitar problemas.

A parti desse motivo relatado foi então que o Patriarca João Gavião, junto com sua mulher Felismina e de todos os seus filhos, genros e netos, somando ao todo oito famílias partiram do distrito de Canto para povoar a localidade de Garrote. Trazendo seus costumes, tradições, crenças, mitos, seus modos de viver, além de suas culturas, principalmente no conhecimento com o barro na produção de utensílios como potes, taxas e torrar café, panelas, telhas, tijolos e outros tipos que se podem fazer com o barro.

FIGURA 1 – Entrevistas

FONTE: Acervo Pessoal

Atualmente a comunidade é composta de cerca 83 famílias, e que possui na base de 500 a 600 pessoas morando na comunidade, sendo que a maioria dessa população pertencente a uma mesma família, do paraibano João Gavião. Ou seja, a união da maioria das famílias é composta principalmente por primos, e que têm como predominância da cor negra.

A comunidade anos atrás se destacava pelas praticas que faziam com o barro, que eram muito conhecidos na região, além de já terem tidos compradores estrangeiros, e durante anos essa era a melhor forma de renda, de ajudar a família. Eram feitos panelas, taxas de torrar café, potes, canecas, entre outras produções. Eram feitas por sua maioria mulheres, que se reunião, nos riachos, e nos terrenos para “arrancar” o barro na “veia” certa, até chegar aos fornos que nem todas as casas possuíam para queimar o barro, onde tudo tinha que ser no coletivo.

O jumento era o principal meio de transporte que tinham para carregar seus materiais feitos, e irem à venda nas localidades próximas, como o centro de Itapiúna, Caio Prado, Cajuais,

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Palmatoria. Vendiam também na feira de Baturité, tendo como principal e popular local de venda em frente à igreja de Santa Luzia.

Atualmente esses conhecimentos e produção com o barro que antes eram passados de geração a geração desde os tempos dos mais velhos que vieram da Paraíba, estão se acabando aos poucos. Tendo poucos moradores que ainda levam esse conhecimento, que ainda valorizam, e que sabem que esse conhecimento foi fundamental para se manter desde a chegada em 1941, até os diais atuais. Mas que mesmo assim não são valorizados por essa cultura diante dos governantes, que falta incentivo, apoio e um reconhecimento merecido a essa cultura, que é rica em conhecimento, e símbolo de uma comunidade negra rural no interior do Estado do Ceara.

CONCLUSÃO

Diante das entrevistas e das coletas de dados, foi possível perceber no quanto essa comunidade precisa de um incentivo maior, de políticas publicas que possam dar apoio e vez e voz a essa comunidade, que tem moradores tão guerreiros e sofridos ao longo de todos esses anos, além de possuírem uma grande riqueza, através dos seus conhecimentos, suas praticas e culturas que não podem ser deixadas de lado. E que merece uma atenção a mais por parte dos órgãos responsáveis por garantir os direitos das pessoas menos favorecidas, principalmente da população negra.

AGRADECIMENTOS

Ao CNPq pela bolsa de iniciação cientifica, a UNILAB pelo apoio para a realização da pesquisa, e ao orientador Prof. Dr. Antônio Roberto Xavier por todo o conhecimento compartilhado e atenção prestada durante toda a pesquisa.

REFERÊNCIAS

CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa qualitativa em ciências humanas e sociais. 4. ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.

GEERTZ, Cliford. A interpretação das culturas. Tradução Fanny Wrobel. Rio de Janeiro: Zahar editores, 1973.

VISENTINI, Paulo Fagundes; RIBEIRO, Luiz Dario Teixeira; PEREIRA, Analúcia Danilevicz. História da África e dos Africanos. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.

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