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Vista do Potencialidades e aplicações da fermentação semi-sólida em Biotecnologia

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POTENCIALIDADES E APLICAçõES

DA FERMENTAçãO SEMI-SóLIDA

EM BIOTECNOLOGIA

Diego Tresinari dos Santos Boutros Fouad Sarrouh Júlio César dos Santos Victor haber Pérez Silvio Silvério da Silva

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Palavras-Chave

resumo

A fermentação semi-sólida(FSS) se consolidou como uma tecnologia al-ternativa e atrativa para a substituição da fermentação submersa em diversas aplicações tecnológicas. Esta gama de aplicações tem apresentado um crescimento acentuado em países do ocidente, em virtude da viabilidade téc-nico-econômica desta tecnologia. Este artigo de revisão tem como objetivo demonstrar a potencialidade e aplica-bilidade da FSS por meio de uma visão geral sobre o seu desenvolvimento em larga escala, desde a escolha e prepara-ção do substrato e do biorreator, até a separação do bioproduto obtido. Fermentação semi-sólida, Biotecno-logia, potencialidades e aplicações

INTRODUçãO

A utilização integral de resíduos gerados de processos industriais é uma necessidade fundamental da sociedade contemporânea, já que evita-se impactos ao meio ambiente ao se colocar os resíduos e emissões como insumos para outros produtos de elevada importância econômica e social. O estabelecimento desta tecnologia envolve princípios e desafios que levam os cientistas a desenvolverem procedimentos tecnológicos sustentáveis. Este pensamento atende a proposta ZERI, “Zero Emissions Research Initiative”, que estabelece uma mudança de paradigmas no conjunto das atividades econômicas, particularmente dos processos de produção industrial.

As alternativas e tentativas para o aproveitamento de resíduos da agro-indústria datam de alguns anos. Inicialmente foi estudado o aprovei-tamento de dejetos pelo crescimento de microrganismos nesse material, seguido da recuperação da biomassa resultante, visando utilizá-la na ração animal como fonte de proteínas. Esse conceito se estendeu a pes-quisas sobre outros subprodutos (bagaços, resíduo do processamento de alimentos e de indústrias de papel e celulose) que serviriam de substratos

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para crescimento de outros microrganismos (DETROY; HESSELTINE, 1978). Os trabalhos que se iniciaram a partir de então visavam à utilização de uma variedade muito grande de substratos de acordo com a tecnologia e os materiais típicos de cada país (GONZALEZ-SISO; SISO, 1996).

Muitos microrganismos foram utilizados em todas as áreas da biotecnologia, tendo a maioria se concentrado em aplicações na agri-cultura, saúde, energia e meio ambiente (VERSTRAETE et al., 1996). As aplicações da biotransformação dos resíduos e subprodutos (sólidos e líquidos) trouxeram como conseqüências à melhoria do saneamento do ambiente, o estabelecimento de indústrias secundárias e melhoria de estrutura de preços.

A tecnologia das fermentações se favoreceu em muito dos avanços no aproveitamento de resíduos, especialmente pelos reatores desen-volvidos e pelos processos de recuperação. Porém ainda restam muitos obstáculos a serem ultrapassados para a sua máxima utilização (DASILVA; SASSON, 1995).

A fermentação semi-sólida (FSS) também chamada de fermentação sólida ou em estado sólido tem se destacado nos estudos e avanços obtidos no aproveitamento destes resíduos. De um modo geral a FSS é um processo microbiano que se desenvolve na superfície de materiais sólidos, que apresentam a propriedade de absorver ou de conter água, com ou sem nutrientes solúveis. Estes materiais sólidos podem ser bio-degradáveis ou não. Para a FSS, é necessário que os microrganismos cresçam com nutrientes difusíveis sob ou sobre a interface liquido-sólido (VINIEGRA-GONZALEZ, 1997).

Esta fermentação se caracteriza por 2 tipos: uma, em que as condi-ções para o estado sólido são propiciadas pelo próprio substrato. Na outra FSS, o desenvolvimento do processo se dá utilizando um suporte inerte (COUTO; SANROMÁN, 2005; MORAES; CAPALBO; ARRUDA, 2001).

A aplicação comercial da FSS pode ser dividida em dois tipos (MI-TCHELL; VON MEIEN; kRIEGER, 1992):

1ª) aplicações sócio-econômicas tais como a compostagem de resíduos, valorização de produtos lignocelulósicos e fibras alimentares;

2ª) aplicações economicamente lucrativas, tais como, a produção de enzimas, ácidos orgânicos e alimentos fermentados. De acordo com alguns grupos de pesquisadores antigos, preferiram a FSm, acreditando ser ela mais conveniente e mais produtiva. Nos últimos

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cinqüenta anos esses grupos cresceram mais e mais e a FSS foi ficando esquecida. Foi uma decisão mais ou menos arbitrária, pois não levou em conta o conhecimento científico dominado nos dois processos, nem se fez qualquer tipo de comparação efetiva. As razões foram provavelmente a maior facilidade para conduzir o processo de FSm, a monitoração e o controle (SMAIL; SALHI; kNAPP, 1995).

A FSS apresenta diversas vantagens devido a seus aspectos físico-químicos, especialmente sua reduzida atividade de água e a formação de gradientes de temperatura, nutrientes e produtos. A FSS difere bastante da FSm (Fermentação Submersa), relativamente à esporulação e pro-dução de enzimas, assim como de metabólitos secundários, bem como no modo de mistura e difusão. A heterogeneidade microscópica do substrato, outrora considerado o ponto fraco da FSS, é hoje considerado como sua principal força para o acréscimo de rendimento de produtos e por causar adequadas alterações na fisiologia microbiana. É um processo que se favorece do reduzido teor de água, gerando um processo indus-trial limpo, com baixos níveis de água residual, o que incorre também em economia energética, no processo de recuperação (“downstream”) (VINIEGRA-GONZALEZ, 1997).

1.1 VANTAGENS DA FSS

Segundo os autores Bramorski (1997) e Lu, Maddox e Brooks (1998) algumas vantagens da FSS sobre a FSm são listadas a seguir:

O meio é geralmente simples, consistindo de produtos agrícolas •

não refinados que podem conter todos os nutrientes necessá-rios para o crescimento do microrganismo. Isto significa que o pré–tratamento pode ser simplesmente, um cozimento com água para umidificar ou dilatar o substrato, ou a quebra do substrato na superfície para aumentar a acessibilidade aos nu-trientes internos ou a moagem de grandes blocos de substrato para partículas menores;

Tratamento de efluentes e disposição de resíduos é geralmente •

simples ou minimizado. Geralmente todo o produto é utilizado, principalmente, se é intencionado o uso como suplementação alimentar de animais;

O custo de esterilização é reduzido, pois se aquece menos •

água;

O espaço ocupado pelo equipamento de fermentação é peque-•

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no, considerando-se o rendimento do produto. Utiliza-se menor quantidade de água e o substrato é concentrado;

Como a maioria das bactérias requer altos níveis de mistura •

líquida, a FSS exclui, ou reduz, sensivelmente, o problema da contaminação bacteriana;

O meio é facilmente aerado, desde que haja espaço entre as •

partículas do substrato;

A solubilidade e difusão de oxigênio e outros gases, são maiores •

em FSS;

O resíduo remanescente possui um volume reduzido e este •

resíduo não apresenta condições para o desenvolvimento de patógenos;

Geralmente, o único componente necessário a ser adicionado ao •

meio é água, embora, ocasionalmente, outros nutrientes como fonte de nitrogênio ou minerais possam ser adicionados; Torna-se possível a obtenção de esporos que são impossíveis de •

se obter em cultura submersa; Menor custo dos equipamentos; •

Exige menor demanda de energia; •

1.2 DESVANTAGENS DA FSS

O mesmo autor aponta algumas desvantagens da FSS, a saber: Os tipos de microrganismos que podem ser usados são limita-•

dos, em função das condições do processo, tais como: baixa concentração de água livre. Os mais utilizados são fungos e algumas leveduras;

Em operações de grande escala, o calor gerado pelo metabo-•

lismo microbiano deve ser removido, o que se torna mais difícil na FSS que no processo submerso;

A transferência de oxigênio entre as partículas do meio pode •

se tornar um problema, quando se utiliza granulometria do substrato muito elevado;

Medidas de pH, O2, CO2 e cálculo de rendimento de produto •

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Controle de temperatura é crítico e, muitas vezes, é necessário •

controlar a composição da atmosfera no que diz respeito a O2, CO2 e outros metabólitos voláteis;

Contrariamente á simplicidade de operação da FSS, a hetero-•

geneidade da mistura dificulta o controle de crescimento mi-crobiano e de variáveis como agitação, aeração e concentração de nutrientes e produtos;

Relativamente à produção de biomassa, fazem-na menor em •

FSS.

2. MATÉRIAS PRIMAS – SUBSTRATOS VIáVEIS

Todos os processos de Fermentação Semi-sólida (FSS) compreendem, essencialmente as mesmas operações unitárias. Em todos os casos se requer uma seleção cuidadosa das matérias-primas a utilizar, um ou vários tratamentos prévios do substrato (ZADRAZIL; PUNIA, 1995), a preparação de um inóculo específico, a fermentação propriamente dita, o controle da mesma, a separação e, em alguns casos, a purificação exaustiva dos produtos que se deseja. A Figura 1 exemplifica claramente estas operações

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Seguindo este organograma, pode-se observar que todas e cada uma destas operações unitárias são etapas individuais e indispensáveis ao processo.

A natureza do substrato sólido empregado em uma fermentação semi-sólida é o fator mais importante no desenvolvimento deste bio-processo, sendo a sua seleção dependende de diversos fatores, princi-palmente do custo e da sua disponibilidade. Pesquisas voltadas para os resíduos agro-industriais de todo o mundo vem sendo feitas a fim de selecionar substratos adequados para a FFS. Dentre os principais resíduos podemos citar: bagaço de cana de açúcar, casca de soja, casca de café, palha de trigo dentre outras (ZADRAZIL; PUNIA, 1995).

2.1. RESíDUOS DE ORIGEM AGROINDUSTRIAL

Os materiais agrícolas, que por suas características naturais são suscetíveis de emprego como substrato para a FSS, são dois: celulósicos (polpa de café, bagaços, palhas, cascas, cascas de frutas processadas, etc) e amiláceos (batata, milho, mandioca, banana e seus resíduos, entre outros).

No caso de produtos celulósicos, o conteúdo de celulose não se encontra facilmente disponível para ser utilizado na fermentação e para isso se necessita de tratamentos prévios desse material. Isto geralmente causa um aumento no custo do processo. Os materiais amiláceos ne-cessitam também de pré-tratamentos menos drásticos, mas também complicados.

Os materiais agroindustriais apresentam as seguintes características comuns:

são recursos naturais renováveis; •

sua produção depende de outra atividade produtiva (geralmente •

são subprodutos de disponibilidade concentrada geografica-mente);

são produzidos em grande quantidade e constituem um pro-•

blema sanitário e ecológico em sua região;

necessitam de um prévio tratamento físico ou químico para a •

FSS, que lhes dêem novas características físicas que facilitem seu processamento e industrialização.

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2.2. COMPOSIçãO DOS RESíDUOS AGROINDUSTRIAIS

A lista de materiais que são considerados viáveis para sua biotrans-formação por FSS é muito grande. Aqui somente serão mencionados os resíduos de maior importância industrial.

A tabela 1 apresenta um resumo da composição de alguns dos resíduos. Ainda que a composição destes materiais varie muito com a variedade, idade, condições de cultivo, níveis de fertilização e proces-samento (extração, separação, alcalinização, etc) com que são obtidos, pode-se observar uma clara diferença de natureza de cada material. Tabela 1: Composição de diferentes resíduos de origem agroindustrial.

2.3. DISTRIBUIçãO DOS RESíDUOS E O MEIO AMBIENTE

Independente de sua origem, os resíduos de interesse se encontram localizados de maneira mais ou menos concentrada. Isto se deve a que sua produção depende de outras atividades produtivas. Esta situação facilita sua quantificação. Sua disponibilidade e custo depende da atividade a que estão associados e a utilização local dos mesmos.

No tabela 2, tem-se a apresentação de alguns fatores técnicos com os quais se poderia quantificar um certo resíduo, ainda que de nenhuma maneira a sua disponibilidade.

1: bagaço de cana, 2: polpa de café, 3: casca de arroz, 4: farinha de mandioca, 5: batatas de descarte, 6: palha de trigo. 7: milho

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Tabela 2: Fatores técnicos para a quantificação de resíduos de origem agroindustrial.

No que se refere a resíduos urbanos, estes podem ser quantificados estimando - se a quantidade produzida por um indivíduo. As cifras para uma cidade grande são de aproximadamente 300 g de resíduos (base úmida) diários / pessoa .

Com relação ao meio ambiente, e em particular no setor produtivo dos países em desenvolvimento, a prática tradicional tem sido esquecer-se por completo da origem e destino de todos os materiais processados (SOCCOL; VANDENBERGHE, 2003).

Convencionalmente os balanços de matéria se situam exclusivamente no coração da atividade e a economia dos mesmos não contempla o impacto social do dano ao meio ambiente que se degenera. A medida de impacto ambiental não é um problema simples, este depende da natureza dos meios receptores (ar, água ou solo), do tipo de contaminantes e da quantidade de contaminantes.

Nos países industrializados a legislação local tem imposto normas – limites com base nas avaliações do impacto ambiental. Estas normas se apresentam cada vez mais restritas e pouco a pouco também serão impostas aos países em desenvolvimento que na atualidade exportam seus produtos aos países desenvolvidos. Os países da Comunidade Eco-nômica Européia já possui uma legislação global e, as pesquisas para deter a deterioração ambiental provocada pela intensa atividade indus-trial é sensivelmente crescente em relação a década passada (SOCCOL; VANDENBERGHE, 2003).

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A tendência atual aponta o desenvolvimento de “tecnologias lim-pas”, em que o objetivo é se tomar em consideração todo o resíduo industrial e seu destino; para tanto tem-se levado em consideração quatro elementos fundamentais:

separação de linhas de resíduos, isto é, tratamento diferenciado •

segundo a natureza do resíduo; redução do consumo de água; •

otimização da recirculação e aproveitamento dos resíduos; •

auditorias ambientais contínuas. •

2.4 PRÉ-TRATAMENTOS FíSICOS E QUíMICOS

Este fator requer uma atenção especial já que o êxito da FSS de-pende, em grande, parte desta etapa do processo. Tendo como base que, em quase todos os casos se deseja reduzir o tamanho da partícula e facilitar com isso os tratamentos posteriores, consideremos que esse procedimento seja considerado como um pré-tratamento inicial da FSS (kNORR, 1995).

Como já foi mencionado, os materiais celulósicos requerem trata-mentos diferentes dos exigidos pelos amiláceos.

2.4.1 PRÉ-TRATAMENTOS DE MATERIAIS CELULóSICOS

Diferentemente dos materiais amiláceos, estes podem submeter-se a pré-tratamentos físicos e químicos mais drásticos sem deteriorar a estrutura final.

Em geral um tratamento térmico (por exemplo 100 ºC durante 45 min.) permite eliminar contaminações do bagaço de cana e inchar as fibras de celulose o suficiente para permitir que um fungo filamentoso como o Trichoderma harzianum se desenvolva satisfatoriamente, pro-duzindo celulases.

No que diz respeito a materiais lignocelulósicos, quando o substra-to a degradar é a celulose, os tratamensubstra-tos térmicos exclusivos podem resultar insuficientes, em cujo caso se recorre ao auxílio de tratamentos químicos, incluindo - se o hidróxido de sódio, amoníaco e ácidos fortes, entre outros. Estes tratamentos se usam isolados ou combinados e, em geral, o que se pretende é inchar as fibras de celulose, para assim aumentar a área de contato; isto ocorre frente a uma hidrólise ou

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disso-lução da lignina e de outros compostos estruturais que produzam algum impedimento estérico para o ataque microbiano.

2.4.2 PRÉ-TRATAMENTO DE MATERIAIS AMILáCEOS

O tratamento mais comum para esses materiais é o tratamento térmico. Um aquecimento suave e gradual na presença de água, tem por objetivo produzir uma expansão irreversível dos grãos de amido e alterar as propriedades físicas originais do material. Este fenômeno, conhecido como gelatinização, aumenta a superfície de contato e a disponibilida-de do substrato (amido, neste caso) para melhor disponibilida-desenvolvimento do microrganismo.

Alguns autores propõem um resfriamento posterior à gelatinização, que consiste em deixar à temperatura de 4 ºC por 8 horas para melhorar as propriedades físicas, no caso, da farinha de mandioca (RAIMBAULT ; VINIEGRA-GONZALEZ, 1990).

2.4.3 PRÉ-TRATAMENTO UTILIzANDO MICROONDAS

Alternativamente aos mencionados, o tratamento utilizando fornos de microondas doméstico aparece como um promissor pré-tratamento. Neste simples tratamento, bolsas plásticas de polipropileno são rechea-das com o substrato e água destilada, e tratarechea-das rapidamente (ARRUDA, 1999).

2.4.4. RELAçãO ENTRE TEXTURA E POROSIDADE

As trocas estruturais provocadas pelos pré-tratamentos, geralmente deveriam produzir o que aqui está mencionado como textura desejável para a FSS. A estrutura desejável está relacionada com:

porosidade e espaços livres disponíveis; •

capacidade de retenção de água e nutrientes solúveis; •

capacidade de duas ou mais partículas permanecerem juntas, •

neste caso, um fenômeno de aderência indesejável.

O pré-tratamento destes materiais conduzem sempre a uma decisão de compromisso de aumentar a área de contato – retendo água e nu-trientes solúveis – e não perder uma textura firme e manejável. Manejar uma textura apropriada incidirá fortemente no êxito e na produtividade

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da FSS, que, particularmente, se verá afetada pela densidade de inóculo e da umidade inicial de cultivo (BARRIOS-GONZALEZ; GONZALEZ; MEJIA, 1993). Quando se trata de fungos filamentosos estes parâmetros de trabalho tem uma incidência direta na velocidade de germinação dos esporos inoculados, e na taxa de crescimento específico, na síntese de enzimas extracelulares e metabólitos secundários, incluindo a fase final de esporulação. Assim mesmo, pode-se dizer que os fenômenos de transferência de calor e massa nos cultivos também se verão afetados pela textura do material.

3. FERMENTAçãO PROPRIAMENTE DITA

3.1 TIPOS DE BIORREATORES PARA FSS

A importância da agitação na fermentação semi-sólida:

se o microrganismo tolera agitação, é desejável agitar por-•

que:

agitação promove transferência de calor e massa entre a fase •

gasosa e a fase sólida;

agitação promove homogeneidade dentro do leito do subs-•

trato;

isso dá a melhor chance de controlar a temperatura do leito, a •

composição da fase gasosa e a umidade de água no sólido; mas, alguns microrganismos não toleram agitação (por exemplo •

agitação na produção de esporos de fungo (para uso como biopesticida) pode diminuir significativamente o rendimento de esporos);

em alguns casos, o microrganismo tolera um pouco de agita-•

ção, então pode agitar, porém intermitentemente – com longos períodos (horas) entre os eventos de agitação (então, durante uma maioria da fermentação, o leito é estático).

A importância de aeração na fermentação semi-sólida:

controle da temperatura do leito é um problema sério em bior-•

reatores grandes de FSS;

o ar forçado pode desempenhar um papel importante na remo-•

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ção de calor do leito pela convecção e evaporação (na verdade, se a vazão for calculada com base nas necessidades de remover calor, vai ser mais que suficiente para fornecer o oxigênio); Diante do exposto, vê-se que a melhor e mais didática forma de categorizar os biorreatores para FSS é com base na estratégia de aeração e na estratégia de agitação (DURAND, 2003).

Portanto, os biorreatores para FSS podem ser divididos de acordo com a Figura 2:

Figura 2: Tipos de biorreatores para FSS (Adaptado de MICHELL; MEIEN; kRIEGER, 2003)

4. DOWNSTREAM APLICADO AOS PRODUTOS OBTIDOS

POR FSS

O Processo de “Downstream” se resume na realização de operações unitárias para isolamento e purificação de um produto. O seu objetivo é preparar um produto com a pureza requerida em uma forma aceitável ao mercado a que se destina (CASTILHO; MEDRONHO; ALVES, 2000).

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Um processo ideal deveria:

Envolver um número mínimo de etapas, com perda mínima •

do produto;

Ser um processo simples e rápido; •

Requerer o mínimo de investimento em equipamentos e apre-•

sentar o menor custo de operação;

Produzir um produto altamente concentrado para evitar gastos •

com transporte;

Gerar o mínimo possível de efluentes e resíduos; •

Eliminar substâncias tóxicas e inibidores, sem danificar as pro-•

priedades do produto final;

Ser um processo seguro do ponto de vista de prevenção da •

contaminação microbiológica e por outras substâncias geradas durante o processo (poeiras, substâncias químicas);

Custar o menos possível. •

Em fermentação semi-sólida o “downstream” difere bastante do da fermentação submersa, já que a extração ocorre do material sólido e não do líquido como na última.

Existem produtos que não requerem a extração do material fer-mentado, sendo destinado à ração animal (enriquecimento de materiais lignocelulósicos destinados à ração animal) (UPDEGRAFF et al., 1973).

Porém, existem outros que necessitam ser extraídos do sólido quase que na sua totalidade. Dando ênfase ao último, dois métodos são os mais utilizados para se fazer esta extração, que podem ser utilizados isoladamente ou em conjunto: extração por prensagem direta e por “leaching” (THAkUR; kARANTH; NAND, 1993).

4.1 EXTRAçãO POR PRENSAGEM DIRETA

No trabalho de ROUSSOS e colaboradores (1992), obedecendo-se à razão solvente/sólido de 1,2, foi aplicada uma pressão de 200 bar por 1 min, a seguir adicionou-se água (volume idêntico ao extraído) e repetiu-se a operação. Como conseqüência houve uma recuperação de 85-95 % da enzima.

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4.2 “LEAChING”

O processo de “Leaching” se baseia na extração do material fermen-tado pela adição de uma solução de “leaching”. Este processo pode ser realizado no sólido fermentado com ou sem secagem.

O solvente ideal de “leaching” deve ser capaz de retirar o produto seletivamente, preferivelmente à temperatura ambiente e com o menor tempo de contacto. A solução a ser utilizada depende da solubilidade do produto: etanol para extração de pigmento; etanol e etilacetato para extração de penicilina; água para extração de oxitetraciclina, cefamicina C e ácidos cítrico e láurico (ROUSSOS et al., 1992).

A principal vantagem do “downstream” em fermentação semi-sólida é o seu custo, que possivelmente é menor que na FSm. Devido à possibilidade de se conseguir maiores concentrações de produtos que na submersa e a um menor volume de efluentes gerados, possivelmente o custo é menor (THAkUR; kARANTH; NAND, 1993).

Porém, muito pouco tem sido feito ainda neste aspecto, a maioria dos trabalhos mostram que é possível produzir determinado produto por FSS, mas não a sua recuperação do meio de fermentação.

5. APLICABILIDADE DA FSS

Até agora, retratamos somente o processo em si, a escolha do substrato, a pré-fermentação (tratamento do substrato), a fermentação propriamente dita e a pós-fermentação (downstream). Agora daremos exemplos da aplicabilidade da FSS, quer dizer, quais produtos de alto valor agregado podemos obter ao utilizá-la:

• Etanol (HÖLKER; HÖFER; LENZ, 2004); • Proteínas; (PANDEY; SOCCOL; MITCHELL, 2000); • Cogumelos (PANDEY et al., 1994); • Enzimas (FRANCIS et al., 2003); • Ácidos Orgânicos (GROSS; KALRA, 2002) • Amino Ácidos (PANDEY, SOCCOL, MITCHELL, 2000); • Aromas (JOHNS; STUART, 1991); • Corantes (FERRON; BONNARAME; DURAND, 1996); • Gomas (STREDANSKY; CONTI, 1999); • Dentre outras.

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CONCLUSõES

A análise da literatura mostrou a potencialidade e aplicabilidade da Fermentação semi-sólida, demonstrando assim que é viável e promissor o estudo deste bioprocesso e que ainda se tem muito por fazer, principal-mente nas áreas de separação (“downstream”) e análise econômica.

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Advances in solid-state fermentation. Dordecht: kluwer Academic

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ABSTRACT

The semisolid fermentation (FSS) was consolidated as an alternative and attractive technology for the substitution of the submerged fermentation in various technological applications. This applications is presenting a growth increased in western countries, due its Technical-economical viability. This review article has as objective demonstrate the potentiality and applicability of the FSS through a general vision on its development on a large scale, since the choice and preparation of the substrate and the biorreator, until the separation of bioproduct gotten.

ZADRAZIL, F.; PUNIA, A. k. Studies on the effect of particle size on solid state fermentation of sugarcane bagasse into animal feed using white-rot fungi. Bioresource Technology, v. 54, p. 85-87, 1995.

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Diego Tresinari dos Santos

Graduação em Engenharia Química - Universidade de São Paulo (USP) (2007). Mestrando em Engenharia de Alimentos - Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

Boutros Fouad Sarrouh

Graduação em Química - Beirut Arab University (1999). Mestrado em Engenharia Química - Universidad Central de Las Villas (2004), Santa Clara, Cuba. Doutorando em Biotecnologia Industrial - Escola de Enge-nharia de Lorena-USP

Júlio César dos Santos

Graduação em Engenharia Industrial Química - Faculdade de Engenharia Química de Lorena (1999). Doutorado em Biotecnologia Industrial - Fa-culdade de Engenharia Química de Lorena

Victor haber Pérez

Graduação em Engenharia Química, na especialidade de Tecnologia das Produções Químicas - Universidad de Oriente/Cuba (1992). Mestrado em Engenharia Agrícola, na área de Pré-Processamento de Produtos Agro-pecuários - Universidade Estadual de Campinas (1998). Doutorado em Engenharia Química, na área de Desenvolvimento de Processos Biotecno-lógicos - Universidade Estadual de Campinas (2002). Pós-Doutorado em Engenharia de Alimentos - Universidade Estadual de Campinas (2004). Professor do Laboratório de Tecnologia de Alimentos do Centro de Ci-ências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF).

Silvio Silvério da Silva

Doutorado em Tecnologia Bioquímico-farmacêutica - Universidade de São Paulo e Gesellchaft Fuer Biotechnologishe Forshung GBF - Alemanha (1994). Professor/ pesquisador da Escola de Engenharia de Lorena (EEL) - campus USP, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e profes-sor titular e coordenador de Pós-graduacao das Faculdades Integradas Teresa D’Avila.

Referências

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