DESCREVENDO E ANALISANDO METÁFORAS COM VERBOS
INCEPTIVOS E PONTUAIS DO PB E DO INGLÊS
Nome dos autores Leane da Silva Ferreira, Dieysa Kanyela Fossile.
Aluna: Leane da Silva Ferreira1 Orientadora: Dieysa Kanyela Fossile2
RESUMO
O presente estudo discute teorias sobre a metáfora: (i) a função decorativa levantada por Aristóteles (1996), (ii) a visão interacionista de Black (1993) e a (iii) força cognitiva defendida por Lakoff e Johnson (2002). Além disso, descreve e analisa metáforas com verbos de acontecimentos com os seguintes significados aspectuais: inceptivo e pontual. Dessa maneira, retiramos da web metáforas reais do PB com os verbos pontuais matar e demolir e com os verbos inceptivos nascer e amadurecer. Também retiramos da web metáforas em Inglês com os verbos inceptivos to grow up e to ripen e com os verbos pontuais to demolish e to exterminate. Os resultados alcançados apontam que (i) as regularidades interpretativas acontecem semelhantemente em ambas as línguas; (ii) as paráfrases das metáforas com verbos de ação aspectual inceptiva e pontual são influenciadas pelos sentidos literais dos verbos em questão; e, (iii) a interpretação metafórica de ambas as línguas são influenciadas pelo valor aspectual, que está inerente ao radical dos verbos.
Palavras-chave: metáfora; aspecto verbal; regularidade.
INTRODUÇÃO
A metáfora vem sendo objeto de muitas pesquisas. O presente estudo centra-se nas teorias de grandes estudiosos como Aristóteles (1996), Max Black (1993), Lakoff e Johnson (2002) que levantaram/levantam teorias e investigações sobre o assunto em questão: metáfora. Neste estudo investigamos metáforas verbais. Desse modo, quando tratamos do estudo de verbo, verificamos que a categoria do Aspecto é frequentemente deixada de lado, sabemos que delimitar aspecto não é uma tarefa fácil. Fossile (2011, p.77), afirma que “Tempo e Aspecto parecem ser fenômenos estritamente correlacionados e associados, pois ambos remetem à ideia de tempo”. O presente estudo tem como objetivo descrever e analisar metáforas com verbos de acontecimento com os significados aspectuais:
1
Graduanda do curso de Letras. (UFT/Campus de Araguaína). Contato: leaneferreira@outlook.com
inceptivos e pontuais, a partir da metodologia elaborada por Moura (2007) e Fossile (2008a, 2008b, 2008c, 2011).
MATERIAL E MÉTODOS
Método: A pesquisa segue os seguintes passos: 1º Passo: Definir uma categoria (nominal ou verbal) que ocorra na posição de veículo das metáforas a serem investigadas. 2º Passo: Definir uma lista de itens lexicais pertencentes à categoria escolhida (construção da relação paradigmática). 3º Passo: Pesquisar na web ocorrências de metáforas com os itens lexicais (selecionados no 2º Passo) na posição de veículo. 4º Passo: Identificar, na análise de dados, classes de interpretação (conjuntos de paráfrases) que possam ser inferidas a partir dos dados, para cada item lexical analisado. 5º Passo: Identificar possíveis correlações entre classes de interpretação e relações sintagmáticas (construção das relações sintagmáticas). 6º Passo: Comparar as relações sintagmáticas dos diferentes itens lexicais obtidas no 5° passo e identificar padrões de interpretação válidos para os diferentes itens. 7º Passo: Comparar o tipo combinatório (6º passo) e os resultados alcançados através da análise e da descrição das metáforas do Português Brasileiro ao tipo combinatório (6º passo) e aos resultados localizados por meio da análise e da descrição das metáforas da Língua Inglesa.
Material: Utilizamos exemplos metafóricos reais coletados na web com verbos inceptivos e pontuais, especificamente: (i) exemplos metafóricos com os verbos inceptivos (a) nascer e (b) amadurecer (Língua Portuguesa) e exemplos metafóricos com os verbos inceptivos (a) to grow up e (b) to ripen (Língua Inglesa); (ii) exemplos metafóricos com os verbos pontuais (a) demolir e (b) matar (Língua Portuguesa) e exemplos metafóricos com verbos (a) to demolish e (b) to exterminate (Língua Inglesa).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Conforme mencionado precedentemente, este estudo tem como objetivo descrever e analisar metáforas com verbos de acontecimento com os seguintes significados aspectuais: (i) Inceptivo: aspecto caracterizado por expressar uma situação que se apresenta em seu ponto de início ou em seus primeiros momentos (TRAVAGLIA, 1994; FOSSILE, 2011). (ii) Pontual: caracterizado por expressar uma situação que não apresenta uma duração expressiva (TRAVAGLIA, 1994; FOSSILE, 2011).
Apresentamos abaixo, a análise de dois exemplos metafóricos verbais com o significado aspectual inceptivo amadurecer3. Para os primeiros três passos, conforme metodologia apresentada acima, definimos (1º passo) a classe dos verbos; (2º passo) o verbo inceptivo: amadurecer; (3º passo) retiramos da web exemplos metafóricos reais com o verbo selecionado no 2º passo.
De acordo com o 4° passo, foram identificadas paráfrases para as sentenças metafóricas com o verbo amadurecer.
1. Eu não mudei, eu amadureci. Eu não desapareci, você que me esqueceu. Eu te dei as chances, você desperdiçou!!
Bernardi. Disponível em: <http://pensador.uol.com.br/poema_amadurecimento/>. Acesso em: 16 de abril de 2013.
Este exemplo retirado do blog o pensador, que é repleto de citações de frases, músicas, poemas de pessoas e artistas.
Paráfrases:
• Eu não mudei, eu melhorei...
• Eu não mudei, eu cresci...
• Eu continuo a mesma, mas, me aperfeiçoei...
2. “Eu não preciso de fotos pra provar nada, tenho certeza que o meu sentimento amadureceu com relação a Maitee, o que não quer dizer que ele diminuiu, nunca. Disponível em: <http://www.fotolog.com/maiperroni_rbd/53394998/>. Acesso em: 16 de abril de 2013.
Este é um blog com temas variados esta postagem tem alguns comentários.
Paráfrases:
• Eu não preciso de fotos pra provar nada, tenho certeza que o meu sentimento melhorou em relação a Maite...
• Eu não preciso provar nada, sei que meu sentimento cresceu com relação a Maite....
Quadro 1: Paráfrases para os exemplos metafóricos com o verbo amadurecer.
No quinto passo, conforme apresentado no quadro abaixo, foram encontrados os tópicos de cada ocorrência metafórica e as relações sintagmáticas.
Paráfrase: crescimento, aprimorar, melhorar
Tópicos: eu; sentimento.
Classe semântica (hiperonímia): Pessoas, sensações.
Relação sintagmática: (a) Tópico (pessoas), veículo (amadurecer). (b) Tópico (sensações), veículo (amadurecer).
Quadro 2: Tópicos e relações sintagmáticas.
3
A análise também ocorre com metáforas com os verbos (i) inceptivos: nascer, to grow up, to ripen; e, com metáforas com os verbos pontuais: demolir e to demolish, matar e to exterminate. Porém, devido ao espaço limitado, neste resumo não apresentaremos/discutiremos as análises desses verbos.
No sexto passo foram identificadas e comparadas as relações sintagmáticas localizadas:
VEÍCULO TÓPICO PARÁFRASE
AMADURECER Pessoas melhorar/aprimorar/crescer
AMADURECER Sensações melhorar/aprimorar/crescer
Quadro 5: comparação de relações sintagmáticas.
No sétimo passo foi verificada a possibilidade de existir regularidade interpretativa nas metáforas verbais tanto da Língua Portuguesa quanto da Língua Inglesa. A partir da análise desenvolvida obtivemos os seguintes resultados:
(i) Existe regularidade interpretativa, a qual pode ser localizada nas metáforas com verbos de valor aspectual inceptivo e pontual do Português Brasileiro e do Inglês.
(ii) Em ambas as línguas a metáfora não é interpretada de forma aleatória.
(ii) O aspecto verbal influencia na interpretação da metáfora.
LITERATURA CITADA
Em relação à metáfora temos Aristóteles como pioneiro. Sardinha diz que “a noção mais antiga de metáfora no Ocidente vem de Aristóteles que diz que a metáfora seria a transposição de um nome de uma coisa para outra, ou seja, é o uso do nome de uma coisa para designar outra” (SARDINHA, 2007). Segundo Fossile (2007), para Aristóteles a metáfora está vinculada à retórica e serve apenas para adornar/enfeitar a língua. Além disso, a visão de Aristóteles de considerar a metáfora como o mais importante adorno literário pode ser um engano.
Outra teoria importante sobre a metáfora é a visão interacionista de Max Black. Nessa teoria “a metáfora possui um sentido novo que advém da interação entre tópico e veículo (SARDINHA, 2007 p. 28). Black situa a metáfora no interior da linguagem, mas defende que a metáfora possui um conteúdo cognitivo per si. (FOSSILE, 2008) Segundo Black, a metáfora não pode ser completamente parafraseada. Quando tratamos do estudo de verbo, a categoria do Aspecto é frequentemente deixada de lado. Delimitar aspecto não é uma tarefa fácil! Fossile (2011) afirma que “Tempo e Aspecto parecem ser fenômenos estritamente correlacionados e associados, pois ambos remetem à ideia de tempo". Fossile também apresenta com base em estudos de autores como Bechara, 2005; Castilho,
2010; e Travaglia, 1994; algumas diferenças entre tempo e aspecto. Dessa maneira, a autora discute que tempo é uma categoria dêitica (aponta e/ou faz referência a um acontecimento no mundo, é unidirecional (move-se em uma só direção), expressa o tempo externo ao fato (identifica a situação em relação ao momento da fala). Já Aspecto é uma categoria não-dêitica (o aspecto não faz referência a uma ocorrência no mundo e determina a duração de uma situação, assinalando também as fases de uma situação, tais como: a sua fase inicial, medial, final; a sua duração acabada ou não acabada). Expressa a natureza interna de uma situação.
REFERÊNCIAS UTILIZADAS
ARISTÓTELES. Poética. Tradução: SOUZA, E. de. Porto Alegre: Editora Globo, 1996.
BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. 38. ed. Rio de Janeiro: Editora Lucerna, 2005, p. 209-250.
BLACK, M. More about metaphor. In: ORTONY, A. (Ed.). Metaphor and thought. Cambridge: Cambridge University Press, 1993.
CASTILHO, A. T. Nova Gramática do português brasileiro. São Paulo: Contexto, 2010, p. 414-441. FOSSILE, D. K. Interpretação de metáforas com verbos de mudança de estado. Revista Ciências e Cognição. Rio de Janeiro, v. 13, n. 3, p. 187- 198, 2008a.
______. Regularidade Interpretativa nas metáforas com verbos de mudança de estado. Revista Línguas e Letras. Cascavel, v. 9, n. 16, p. 37 – 66, 2008b.
______. Metáforas com verbos de mudança de estado. 2008. 90 f. Dissertação (Mestrado em Letras/Linguística) – Curso de Pós- Graduação em Letras/Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2008c.
______. Um passeio pelos estudos da metáfora. Revista de Letras. Curitiba. 2011.
LAKOFF, G.; JOHNSON, M. Metáforas da vida cotidiana. Tradução de M. S. Zanotto e V. Maluf. São Paulo: Educ, 2002.
MOURA, H. M. M. Relações paradigmáticas e sintagmáticas na interpretação de metáforas. Linguagem e (dis)curso. Tubarão, v. 7, n. 3, p. 417-452, 2007.
TRAVAGLIA, L. C. O aspecto verbal do português: a categoria e sua expressão. 3. ed. Uberlândia: Ed. Universidade Federal de Uberlândia, 1994.
AGRADECIMENTOS