• Nenhum resultado encontrado

A construção editorial de um intelectual comprometido: a importância de Charles Wright Mills para a sociologia no Brasil e na Argentina

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A construção editorial de um intelectual comprometido: a importância de Charles Wright Mills para a sociologia no Brasil e na Argentina"

Copied!
20
0
0

Texto

(1)

A construção editorial de um intelectual comprometido: a

importância de Charles Wright Mills para a sociologia no Brasil e

na Argentina

Leonardo Nóbrega (CEBRAP/IFPE, Brasil)

Ezequiel Grisendi (Universidad Nacional de Córdoba, Argentina)

Introdução

Ao longo dos anos 1950, a notável popularidade internacional de Charles Wright Mills se consolidou por meio da profunda crítica que, a partir da esquerda acadêmica norte-americana, se formulava à “grande teoria” de Talcott Parsons, em consonância com o processo de libertação nacional de ex-colônias asiáticas, os processos revolucionários – como em Cuba - e os crescentes movimentos estudantis. A tradução e publicação dos textos de Wright Mills no Brasil e na Argentina deram centralidade ao autor nesses países tanto como máximo representante da “nova sociologia” ou “radical sociology” como também em virtude da sua figura de intelectual irreverente e comprometido com causas políticas e sociais do que, naquela momento, se etiquetava como “terceiro mundo”. Este trabalho oferece algumas chaves analíticas para a compreensão do ciclo de recepção da obra de Wright Mills no Brasil e na Argentina, com destaque para a história de suas edições e os autores que ajudaram a propagar suas ideias.

A “nova cultura intelectual” que regulou a prática das ciências sociais na America Latina desde meados do século XX, expandiu padrões de profissionalização, parâmetros de cientificidade e modos efetivos de reprodução das disciplinas, vinculados a renovadas fontes de legitimidade. A cátedra universitária como a única origem da autoridade científica é questionada a partir da proliferação de institutos de pesquisa especializados, de fundações filantrópicas internacionais e de uma profusa circulação transnacional de agentes acadêmicos. A dinâmica do intercâmbio de ideias no âmbito das ciências sociais encontra na materialidade da imprensa uma chave heurística central à medida que o suporte do livro foi um veículo privilegiado para o contato entre diversas geografias culturais.

(2)

O exercício de recuperar os marcos interpretativos e materiais da circulação de Wright Mills no Brasil e na Argentina em uma perspectiva comparada busca identificar os fatores comuns e dissidentes na dinâmica do mundo impresso em ciências sociais e humanas em ambos os países e os contornos do universo das publicações político-intelectuais por onde fluíram e foram apropriados os seus textos. Sem perder de vista a centralidade da indústria editorial mexicana na difusão das ideias de Wright Mills na América Latina, nossa comparação dedicará atenção especial à importância da tradução e publicação das obras do autor nessas duas culturas acadêmicas e políticas de fronteiras desigualmente forjadas, Brasil e Argentina.

Embora a inserção do autor no México já tenha sido alvo de análise, falta ainda uma investigação que dê conta de compreender a recepção de Wright Mills no Brasil e na Argentina. É com esse universo que a presente comunicação pretende contribuir, munindo-se, sobretudo, de uma análise da recepção editorial do autor em ambos os países como forma de explorar as diversas configurações assumidas pelo espaço político-cultural e as tradições intelectuais em cada caso (Blanco e Jackson, 2015).

A recepção editorial de Charles Wright Mills no Brasil

A Zahar Editores foi uma das mais importantes editoras brasileiras da segunda metade do súculo XX. Criada pelos irmãos Zahar em dezembro de 1956, depois de uma longa experiência trabalhando como livreiros. Embora tivessem acumulado experiência com a venda de livros de ciências sociais e humanas e no trato com o público universitário, os momentos iniciais da editora – que era, de fato, um projeto de Jorge Zahar – foram erráticos. A política editorial, no início ainda bastante indefinida, levou um tempo para ser estabelecida. A partir de uma tentativa frustrada de construir uma coleção de livros voltados para o curso de economia, que deveriam ser escritos por professores brasileiros, a Zahar Editores investiu seus recursos e esforços na tradução de obras estrangeiras de ciências sociais e humanas. A estratégia, que serviu para compensar a falta de vínculos fortes com a elite intelectual que passava a se estabelecer com a consolidação das Faculdades de Filosofia no Rio de Janeiro e em São Paulo, contribuiu para construir o prestígio editorial e o capital social que viriam a ser fundamentais na consolidação da editora como referência na publicação de ciências sociais e humanas no Brasil (Silva, 2019).

(3)

No mesmo ano do lançamento do livro de C. Wright Mills sobre a Revolução Cubana,

A verdade sobre Cuba (1961), a Zahar lançou também do mesmo autor o livro As causas da próxima guerra mundial (1961), obra que se alinhava às emergentes campanhas pacifistas que

se intensificavam por todo o mundo. A atenção que C. Wright Mills passou a dar ao imperialismo norte-americano estava intimamente relacionada a visita que fez a países do considerado “terceiro mundo”. Até 1954 Mills, que era, desde 1946, professor no departamento de ciências sociais da Universidade de Columbia, não havia ainda deixado os Estado Unidos. Quando visitou o Brasil, a convite do Centro Latino-Americano de Pesquisas em Ciências Sociais (CLAPCS), em 1959, para participar do seminário Resistências à Mudança, ocorrido no Rio de Janeiro, deparou-se com uma série de debates que veio a incorporar posteriormente às suas reflexões.

Até o verão de 1960, nunca estivera em Cuba, nem me preocupara muito a seu respeito. Na realidade, no outono anterior, quando estive no Brasil, e na primavera de 1960, ao passar alguns dias no México, fiquei embaraçado por não ter, ainda, uma posição firmada sobre a revolução cubana. Isto porque, tanto no Rio de Janeiro como na Cidade do México, Cuba constituía, sem dúvida, o principal assunto de discussão. Mas eu não sabia o que estava ocorrendo lá, muito menos o que pensar a respeito e andava muito preocupado com outros estudos.1

O tema da Revolução Cubana e do imperialismo norte-americano passou a fazer parte dos esforços reflexivos de Mills. A sua participação no seminário Resistências à Mudança, orginizado pelo Centro Latino-americano de Ciências Sociais (Clacs), coordenado então por Costa Pinto, e os contatos que estabeleceu com intelectuais latino-americanos foram fundamentais para o desdobramento do seu pensamento (FERNANDES, 1985). No seminário Resistências à Mudança, Mills fez parte da sessão intitulada “Atitudes e motivações desfavoráveis ao desenvolvimento”, que teve, entre os principais expositores, além do próprio Wright Mills, Florestan Fernandes e Gino Germani2. Logo na abertura da sua fala no seminário, cuja apresentação foi intitulada Remarks on the problem of industrial development, Mills pediu desculpas por ter que falar em inglês, afirmando ter em comum, “com a maior parte dos norte-americanos, [o fato de ser] um idiota linguístico”. Não só a língua, continuou

1 MILLS, C. W. A verdade sobre Cuba. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1961, p. 9.

2 Os principais expositores tiveram suas intervenções publicadas no livro Resistências à Mudança, lançado em

1960 pelo CLAPCS, mas outros seis intelectuais fizeram intervenções na mesma sessão de debates. Foram eles: João Mendonça, Michel Debrum, Acacio Ferreira, Octavio Ianni, Juarez Brandão Lopes e Fernando Henrique Cardoso.

(4)

Mills na sua introdução, seria uma barreira, mas o fato de “somente muito recentemente ter começado realmente a pensar nessa gama de questões [tratadas no seminário]. (...). Talvez isso se dê porque eu venho do que deve ser chamado de uma ´sociedade superdesenvolvida´ [overdeveloped society]”3.

Numa carta escrita quando estava no Rio de Janeiro, Mills elaborou uma série de reflexões acerca do trabalho intelectual e do papel político que os intelectuais deveriam exercer ao elaborar análises e julgamentos dos acontecimentos sociais. Um dos elementos de destaque do trabalho intelectual seria um compromisso que transcenderia as fronteiras dos estados: “A vida intelectual, e por isso a vida produtiva de qualquer intelectual, não é confinada a nenhuma nação. As mentes dos intelectuais devem ser formadas por um processo essencialmente internacional, e seus trabalhos, essencialmente um trânsito internacional” (MILLS; MILLS, 2000, cap. 279 tradução minha) 4.

Charles Wright Mills nasceu em Waco, no estado do Texas, numa família de classe média de origem irlandesa e inglesa. Formou-se em 1939 em sociologia e filosofia pela Universidade do Texas e aos 23 anos foi para a Universidade de Wisconsin, onde, em 1942, obteve seu doutorado com tese intitulada Sociological account of pragmatism: an essay on

the sociology of knowledge (MILLS; MILLS, 2000, p. 47). Em Wisconsin, Mills travou

contato com Hans Heinrich Gerth, sociólogo alemão que havia se formado pela Universidade de Frankfurt e migrado para os Estados Unidos em 1938. Posteriormente passou a dar aulas no departamento de sociologia da Universidade de Meryland, onde se manteve até 1945, mas não perdeu o contato com Gerth, com que organizou, dentre outras obras, o livro From Max

Weber: essays in sociology (1946), publicado pela Zahar Editores com o título Ensaios de sociologia (1967), com a revisão técnica assinada por Fernando Henrique Cardoso.

Em 1945 Mills foi para a Universidade de Columbia, onde viria a lecionar até seu falecimento em 1962. Trabalhou no Bureau of Applied Social Research, coordenado por Paul Lazarsfeld, e chegou a dirigir a Divisão de Pesquisas sobre Trabalho, onde obteve parte do

3 MILLS, C. Wright. “Remarks on the Problem of Industrial Development”. In: Resistências à Mudança. Rio de

Janeiro: CLAPCS, 1960, p. 281. Na apresentação, Mills faz comparações entre o que chama de sociedades superdesenvolvidas e as sociedades subdesenvolvidas. Analisa os distintos modos de industrialização – o capitalista e o comunista – e faz ponderações sobre a relação não necessariamente simbiótica entre democracia e desenvolvimento, apontando a necessidade de que os latino-americanos encontrassem um caminho próprio – que não passasse nem pela experiência norte-americana nem soviética – para superar a condição de país

subdesenvolvido. Sua fala gerou um intenso debate, recebendo várias críticas e pedidos de esclarecimento.

4 Este trecho faz parte de uma carta de Mills endereçada a Tovarich - palavra russa que significa camarada.

Durante alguns anos Mills escreveu uma série de “cartas” a este fictício amigo russo, com quem compartilhava suas reflexões sobre o trabalho intelectual, as diretrizes políticas das principais potências mundiais, dentre outros temas.

(5)

material que viria a embasar seus livros sobre a sociedade norte-americana: New men of

power (1948)5, White collar (1951) e The power elite (1956), os dois últimos publicados pela Zahar Editores com os títulos traduzidos, respectivamente, como A nova classe média (1969) e A elite do poder (1962). As constantes viagens que passou a realizar para a Europa em meados da década de 1950 e a preocupação com o acirramento da Guerra Fria renderam o lançamento de The causes of World War Three (1957) – no Brasil, As causas da próxima

guerra mundial (1961) -, livro que reunia artigos de intervenção política e se tornaria um

grande sucesso de público, fazendo de Mills um intelectual reconhecido pelos leitores não-especializados, embora tenha lhe rendido, assim como ocorreu com Erich Fromm, uma série de críticas dos seus colegas universitários e membros das revistas de esquerda com as quais constantemente contribuía6. Os livros que vieram em seguida, como o já citado Listen yakee e

The sociological imagination (1959) – publicado no Brasil pela Zahar Editores com o título

de A imaginação sociológica (1965) 7 - tiveram, todos, ampla repercussão e mantiveram Mills no foco dos debates públicos, sempre requisitado pelos meios de comunicação para dar entrevistas e declarações8. Na sequência, publicados de forma póstuma, vieram The marxists

(1962), manuscrito que Mills já havia concluído antes de falecer, e Power, politics and people (1965), compilação de textos organizada por Irving Louis Horowitz9, traduzidos pela Zahar, respectivamente como Os marxistas (1968) e Poder e política (1965).

5 Este é o único livro individual de Wright Mills que não foi publicado pela Zahar. Segundo a lista de obras

publicadas por Mills que conta no livro organizado por suas filhas Kathryn e Pamela Mills (2000, p. 349), este livro não contou com tradução para nenhuma língua estrangeira. Na Argentina, revistas como Pasado y Presente, Fichas, Los Libros, Antropología del Tercer Mundo e editoras como a EUDEBA, CEAL, Tiempo

Contemporáneo e Siglo XXI foram responsáveis por divulgar o pensamento crítico norte-americano, incluindo as obras de C. Wright Mills (GRISENDI, 2017).

6 Para uma discussão sobre o papel de C. Wright Mills como intelectual público e as ciências sociais

norte-americanas na segunda metade do século XX, ver Howard Brick (2011), Kevin Mattson (2002) e Daniel Geary (2008). Ainda no período em que estava em Maryland, Mills contribuiu de forma sistemática com a revista New Leader, dirigida por Daniel Bell, e depois veio a contribuir com a Politics, criada por Dwight Macdonald. Sobre as críticas que sofreu em decorrência do lançamento de The Causes of World War Three, ver, por exemplo, a crítica de Irving Howe, diretor da revista Dissent, que afirmou que o senso de urgência “levou o panfleto de Mills a uma análise descuidada e a um desequilíbrio moral. Muitas de suas propostas específicas são boas, muitas de suas observações específicas são válidas; mas o modo ou estilo de pensamento para o qual ele se inclinou recentemente me parece inaceitável para a esquerda democrática” (Howe, Irving (1959) apud MILLS; MILLS, 2000, p. 270, tradução minha).

7 A tradução da Zahar, segundo relata Gilberto Velho (2010), que foi professor no curso de ciências sociais da

UFRJ entre 1969 e 1974, era adotada por diversos cursos de antropologia, sociologia e ciência política.

8 Em carta a Hans Gerth, pouco antes de ter seu primeiro ataque cardíaco, confessou ao amigo que estava

vivendo sob constante pressão, tanto dos governos dos Estados Unidos quanto de Cuba, além de cumprir uma maratona de entrevistas para a imprensa (MILLS; MILLS, 2000, p. 320–321).

9. Com a morte de Mills, Horowitz passou a ser responsável pela disseminação de suas ideias, organizando livros

e negociando os direitos de tradução para línguas estrangeiras. Sobre isso, é interessante acompanhar as

negociações que se estabeleceram entre Horowitz e Jorge Zahar para a publicação de Power, Politcs and People. Em carta datada de 29 de junho de 1965, Horowitz fez uma série de queixas: o título em português – Poder e Política - foi alterado sem autorização; Horowitz não foi creditado como organizador do livro, mas

(6)

Todas as obras de C. Wright Mills publicadas pela Zahar podem ser conferidas na tabela 1.

Tabela 1 - Livros e capítulos de C. Wright Mills publicados pela Zahar Editores

Título Ano da 1ª edição Total de

edições

A verdade sobre Cuba 1961 2

As causas da próxima Guerra Mundial 1962 1

A elite do poder 1962 4

Poder e política 1965 1

A imaginação sociológica 1965 6

Weber, Max. Ensaios de Sociologia. Organização de C. Wright Mills e Hans H. Gerth

1967 5

“Consequências metodológicas da sociologia do conhecimento”, capítulo do livro

Sociologia do conhecimento

1967 2

Os marxistas 1968 1

A nova classe média (white collar) 1969 3

Fonte: O autor, 2019.

Em 1960 C. Wright Mills publicou na revista britânica New Left Review – um dos principais berços do que ficou conhecido como a Nova Esquerda - um artigo intitulado Carta

para a Nova Esquerda10. Trata-se de uma crítica à ideia corrente de “fim da ideologia” e uma avaliação dos movimentos de esquerda que começavam a crescer por todo o mundo, liderados, na maioria das vezes, por estudantes e jovens intelectuais. Questiona, no texto, o papel dado pelo marxismo tradicional – que ironicamente chama de Marxismo Vitoriano

simplesmente como autor da introdução; a data da publicação americana nos créditos estava errada; a obra original, que contava com cerca de 600 páginas, foi reduzida a 200, sem que Horowitz aprovasse a versão final (embora ele tenha concordado com uma versão reduzida); a introdução que havia sido escrita para a versão americana foi substituída pela introdução à edição brasileira, quando na verdade as duas deveriam ter saído juntas (Carta de Howoritz a Jorge Zahar no dia 26 de janeiro de 1967. Disponível em:

https://digital.libraries.psu.edu/digital/collection/transaction/id/26518/rec/1. Último acesso no dia 3 de janeiro de 2019). No desdobramento do caso, que pode ser acompanhado nas diversas cartas de Horowitz disponíveis na Digital Collections da Pennsylvania State University Libraries, chegou-se a um entendimento: a Zahar Editores recolheu as edições postas à venda e fez uma nova edição do livro com as alterações sugeridas pelo organizador – embora o título, em comum acordo, tenha se mantido o mesmo.

10 Trata-se do artigo “Letter to the New Left”. New Left Review. No. 5 (setembro-outubro, 1960), pp. 18-23. O

(7)

(Victorian Marxism) -, à agência revolucionária da classe trabalhadora, apontando os novos atores que vinham surgindo em países como a Turquia, Coreia do Sul, Cuba, Taiwan, Reino Unido, Japão etc., como capazes de promover mudanças realmente significativas, legitimando a ideia de que os estudantes poderiam se conformar como agentes fundamentais da transformação social (GEARY, 2009)11.

O vínculo de Mills com o pragmatismo norte-americano e sua crítica ao que considerava apatia e conservadorismo de grande parte dos intelectuais o levou à defesa de uma democracia radical, apontando como um dos problemas fundamentais o contexto de Guerra Fria, cuja perseguição ao comunismo nos Estados Unidos impedia a realização do necessário debate sobre política doméstica.

(...) começou a se verificar um renascimento da autoconfiança e do pensamento crítico no decênio de 1950, desta vez não entre os filósofos ou historiadores, mas entre os cientistas sociais e, particularmente, entre os sociólogos. A principal figura desse movimento foi C. Wright Mills. (...). Seu principal objetivo, como ele frequentemente dizia, era fazer reviver uma tradição clássica, predominantemente europeia, de pensamento sociológico, que tinha sido fundada, basicamente, por Marx e Max Weber, e que estudava grandes problemas sociais e históricos (BOTTOMORE, 1970, p. 51). Uma das primeiras causas em relação à qual Mills tomou parte foi nos protestos contra o Comitê de Atividades Antiamericanas da Câmara dos Deputados (House Un-American

Activities Committee – HUAC), criado em 1938 para investigar supostas atividades

subversivas, órgão parecido ao criado por Joseph MaCarthy no senado. Outro movimento do qual foi um entusiasta foi o Comitê Nacional para uma Política Nuclear Sensata (National

Committee for a Sane Nuclear Policy - SANE), que se desenvolveu no seio dos movimentos

pacifistas no final dos anos 1950. Esse movimento tinha o potencial – era o que Mills acreditava - de introduzir o país num socialismo democrático e de levar os Estados Unidos a reavaliar sua política externa em relação aos países do então chamado Terceiro Mundo (MATTSON, 2002).

11 Logo em seguida o texto foi republicado pela revista Studies on the Left e como panfleto por organizações

como a Estudantes por uma Sociedade Democrática (Students for a Democratic Society – SDS). Como argumenta Daniel Geary (2009), “a origem do termo Nova Esquerda revela as interconexões internacionais do movimento. Marxistas britânicos associados à New Left Review tomaram emprestado o termo de um grupo de intelectuais franceses não comunistas na chamada nouvelle gauche [nova esquerda, em francês], um grupo identificado com a busca por alternativas socialistas que estivessem além do comunismo soviético e do capitalismo americano. O uso de Mills da expressão em sua Carta teve um papel crucial na sua adoção nos Estados Unidos” (2009, p. 181–182, tradução minha).

(8)

O contato de Mills com a Nova Esquerda britânica - que se deu partir da interlocução com alguns intelectuais importantes tais como Ralph Miliband, E. P. Thompson, Stuart Hall, T. B. Bottomore, Norman Birnbaum, dentre outros -, teve grande influência no que ele projetava para os movimentos que passavam a crescer nos Estados Unidos. Vários dos autores britânicos com os quais Mills teve interlocução foram também publicados pela Zahar Editores. Dentre eles tiveram destaque O estado na sociedade capitalista (1972) e Marxismo

e política (1979), ambos de Ralph Miliband; A miséria da teoria (1981), de E. P. Thompson;

e vários livros de T. B. Bottomore: Introdução à sociologia (1965) – que teve nove edições no total -, As classes na sociedade moderna (1968), Críticos da sociedade (1970), A sociologia

como crítica social (1976), Sociologia política (1981), além do volume organizado por ele

intitulado Karl Marx (1981), com artigos de Joseph Schumpeter; Stanislaw Ossowski; Gyorgy Lukacs, Ralf Miliband, dentre outros.

Um ataque cardíaco fatal em 1962, entretanto, impossibilitou Mills de acompanhar os desdobramentos do movimento do qual era grande entusiasta. O ano de 1968 viria a ficar marcado por uma série de protestos em todo o mundo. O pensamento de C. Wright Mills teve grande influência entre os jovens estudantes engajados nas manifestações. É de se notar, dessa forma, a centralidade do pensamento crítico norte-americano. Os Estados Unidos, nesse momento, serviram de referência no estabelecimento de uma política editorial de traduções para a Zahar Editores, diferenciando a editora de outras casas editoriais como a Companhia Editora Nacional e a editora Pioneira que, embora bastante atuante na publicação de ciências sociais, tiveram seus focos em autores mais canônicos, sendo Talcott Parsons um dos principais autores publicados (Silva, 2019).

Entre la academia y la política: Charles Wright Mills em el mundo editorial argentino12

La presencia de la sociologia de Charles Wright Mills en hispanoamérica resulta uma tarea ambiciosa y aún por realizar (Montecinos, 2016; Sirven, 2020). Sin embargo, em este texto hemos privilegiado su análisis mediante las variaciones de su recepción em dos culturas nacionales diferentes, apelando a la carrografía editorial.. La traducción de las obras de Wright Mills al español se caracterizó por su relativa sincronía respecto de su aparición en idioma inglés. Este dato refuerza la idea de una atención privilegiada a los resultados de las pesquisas de Wright Mills por parte de los académicos iberoamericanos pero también el

(9)

especial interés demostrado por empresas editoriales atentas a los éxitos de venta de esas obras en Estados Unidos. Esta fluida comunicación entre el espacio de producción y los espacios de recepción hispanohablantes puede seguirse a partir de un breve estudio de las ediciones en español de los libros de Wright Mills, corroborando que las traducciones de sus principales títulos como White Collar (1951), The Power Elite (1956), The Sociological

Imagination (1959) o Power, Politics and People (1961) al español no demoraron más de 2

años desde su publicación en inglés.

A tan sólo 1 año de su edición norteamericana, “The Power Elite”, era publicado en Mëxico bajo la traducción conjunta de Florentino M. Torner y Ernestina de Champourcin. Hasta la apertura del sello editorial “Siglo XXI Editores”, Fondo de Cultura se transformó en la empresa cultural decisiva en la divulgación de la producción de Wright Mills en América Latina. Detrás de esta apuesta editorial y política se descubre rápidamente la figura del director del Fondo de Cultura Económica, el argentino Arnaldo Orfila Reynal (Sorá, 2008). En el contexto de la guerra fría cultural (Saunders 2001), la apuesta de renovación intelectual liderada a escala regional por el Fondo de Cultura, había apostado a incluir en su prestigiosa “Sección Obras de Sociología”, los dos títulos de mayor atractivo para la “nueva sociología” de Wright Mills en plena expansión en el continente: “La Elite del Poder” y “La imaginación Sociológica”. El primero, publicado en 1957, fue un notable éxito editorial como para agotar 3 ediciones en apenas 2 años (Garone, 2020; Sorá, 2017). Sin embargo, tras el éxito de “La elite del poder”, la casa española Aguilar consiguió publicar una temprana edición de “White-Collar” en su colección “Biblioteca de Ciencias Sociales”.

A diferencia del caso de Orfila y el Fondo de Cultura Económica, cuyo proyecto de renovación intelectual americanista, acompañaba la consolidación de las ciencias sociales en la región, el aislado caso de la edición madrileña de “Las clases medias en Norteamérica (“White-Collar”)” respondía más bien a un modelo de sociología como saber subordinado a las humanidades y el derecho. En tal sentido, la mencionada edición española estuvo a cargo de Fernando Murillo Rubiera, un abogado y profesor de la Universidad Complutense, interesado en los estudios hispanoamericanos y un activo publicista de las actividades del Instituto de Cultura Hispánica. De este modo, uno de las primeras obras producidas profesionalmente por Wright Mills encontró lugar en una estación hispanoamericana vinculada con el formato de sociología especulativa y subsidiaria del conocimiento jurídico, antes que a las modernas técnicas de investigación social. Apuntamos, apenas, que este rasgo de la edición de “White-Collar” al español no impidió, especialmente a lo largo de los años

(10)

sesenta, que el libro se transformara en una lectura central en la formación universitaria en las carreras de sociología.

Como veremos más adelante, tanto el libro sobre las elites norteamericanas como la aguda reflexión de Wright Mills sobre la disciplina sociológica, fueron intensamente leídos, comentados, celebrados y criticados en los diferentes medios académicos latinoamericanos. Pero si la incorporación de Wright Mills al catálogo del Fondo de Cultura Económica significó la ampliación de su lectura en el continente, la publicación de “Listen, Yankee!” en 1961, supuso un escándalo de tal magnitud que apartó a Orfila de la dirección de la empresa editorial mexicana. Si bien el derrumbe del proyecto de Orfila se concretó en 1965 con la obra del antropólogo Oscar Lewis (“Los hijos de Sánchez”), la presión de los altos funcionarios mexicanos sobre Orfila habría comenzado con la inclusión del primer “libro político” de Wright Mills, donde a partir de un ensayo breve pero fuertemente polémico, explicaba al medio norteamericano las vicisitudes de la revolución cubana iniciada en 1959. El evento, que propulsó la renuncia de Orfila al Fondo de Cultura Económica y la creación de un nuevo sello editorial, Siglo XXI editores en 1966, mostró de manera sucinta, los variados modos en que la obra de Wright Mills fue leída en el continente (Sorá, 2008).

Sin pretender una clasificación antagónica, la recepción académica y la recepción político-militante de Wright Mills articuló distintas figuras del medio intelectual latinoamericano en torno a la disputa por la apropiación, supuestamente “correcta”, de la obra sociológica del norteamericano.

Año Título Autor Editorial Ciudad

Edición 1956 El élite del poder Mills, Charles

Wright

Fondo de Cultura

Económica México

1957 Las clases medias en Norteamérica

Mills, Charles

Wright Aguilar Madrid

1960 Las causas de la tercera guerra mundial Mills, Charles Wright Palestra Buenos Aires 1961 La imaginación sociológica Mills, Charles Wright Fondo de Cultura Económica México 1961 Escucha, yanqui: la revolución cubana Mills, Charles Wright Fondo de Cultura Económica México; Buenos Aires

(11)

1963 Carácter y estructura social Gerth, Hans; Mills, Charles Wright Paidos Buenos Aires

1964 Poder, política, pueblo Mills, Charles Wright Fondo de Cultura Económica México 1965 El poder de los sindicatos Mills, Charles

Wright Siglo Veinte

Buenos Aires 1967 Sociología de la producción y el consumo Johnson, H. M; Gerth, Hans; Germani, Gino; Sprott, Walter John; Mills, Charles Wright Paidos Buenos Aires 1968 Sociología y pragmatismo Mills, Charles

Wright Siglo Veinte

Buenos Aires 1969 La nueva sociología: ensayos en honor de C. Wright Mills Horowitz, Irving

Louis (comp.) Amorrortu

Buenos Aires 1969 De hombres sociales y movimientos políticos Mills, Charles Wright Siglo XXI Editores México

Tabla 2: Títulos traducidos al español de Charles Wright Mills (1955-1970)

La recepción académica de Wright Mills em Argentina: Germani lector de Wright Mills El proceso de actualización de la sociología argentina y latinoamericana llevado adelante por Gino Germani está fuertemente vinculado a diversas tradiciones intelectuales. En esta oportunidad, tomaremos su lectura de Wright Mills en conexión con la viabilidad de este tipo de investigación social para la región.

Los egresados de las carreras de Sociología de la Universidad de Buenos Aires habían frecuentado la lectura de la tradición académica norteamericana a través del recorte ofrecido por Gino Germani, tanto en su vertiente culturalista asociada a la antropología (Bronislaw Malinowski y Margaret Mead), como aquella línea vinculada al pragmatismo de la Escuela de Chicago o en relación a los estudios relacionados con la New School for Social Research. Germani, en vistas de su construcción como interlocutor privilegiado de la sociología empírica y “moderna” en su conjugación anglosajona buscó competir con la expansión de la

(12)

sociología de base alemana que representaba, entre otras figuras en el continente, Francisco Ayala (Blanco, 2006: 116). Esta opción de Germani, además de mostrarse especialmente exitosa en su confrontación con otros actores del campo sociológico argentino, evidenció su notable capacidad para insertarse como la figura mediadora en una red regional de contactos en el mapa latinoamericano de la institucionalización de la sociología.

El frente editorial liderado por Germani, iniciado en los años cuarenta en la experiencia de Abril y consolidado en la “Biblioteca de Psicología Social y Sociología” que dirigió junto a Enrique Butelman en Paidós, ofrecieron un importante caudal de lecturas en traducción. A diferencia de otras colecciones editoriales abiertas en los primeros años cuarenta (como la de Losada, dirigida por el mencionado Ayala), la serie editorial de Germani y Butelman no sólo se consolidó como una de las más longevas y prestigiosas colecciones de libros en ciencias sociales en Argentina sino que integró un variado conjunto de lecturas de renovación para numerosas disciplinas sociales. Entre los nuevos aportes al abanico disponible de insumos teóricos, la colección de Germani no sólo se nutrió de las referencias del estructural-funcionalismo dominante en la inmediata postguerra sino que incluyó variantes intelectuales cercanas la teoría crítica frankfurtiana y al psicoanálisis. Pese a la imagen consolidada de Germani en tanto defensor de la “Gran Teoría” parsoniana, sus apuestas intelectuales y editoriales, muestran una mayor diversificación de intereses y una recepción compleja de las propuestas del sociólogo norteamericano en la obra germaniana (Blanco, 2003).

Entre la vasta complejidad de los emprendimientos editoriales de Germani se cuenta su profundo conocimiento de la producción sociológica norteamericana, en sus más diversas variantes. En efecto, además del declarado interés en las pesquisas de Parsons, Lazarsfeld o Lipset, Germani demostró un especial interés por lo que a fines de los años cincuenta era reconocida como la “american radical sociology”. Lejos de un rechazo sin más de lo que esa etiqueta venía a mostrar, Germani estableció un intenso diálogo con algunos sociólogos estrechamente vinculados a esa línea de investigación. Esta caracterización de los intereses intelectuales heterogéneos de Germani parece reforzarse a través de su fundamental papel de “intermediario” entre culturas académicas, antes que constituirse en un guardián de una ortodoxia, sin más. En este sentido, la convocatoria a prologar una de las obras traducidas de Wright Mills al español se presentar como un indicador del prestigio internacional de Germani cuanto de sus objetivos.

(13)

En 1961, el Fondo de Cultura Económica publicó la traducción al español de “The sociological imagination”, aparecido un par de años antes en Estados Unidos. Con traducción del intelectual asturiano exiliado en México, Florentino Martínez Torner, la casa editorial mexicana hacía disponible al público hispanohablante, la obra de Wright Mills que acusaba notables efectos en el medio académico norteamericano y que, más pronto que tarde, también lo hizo en el ámbito latinoamericano. El “mediador” elegido por Fondo de Cultura Económica para prologar “La imaginación sociológica” fue Gino Germani. Como afirmaba el propio Germani, la obra de Wright Mills no sólo requería de una adaptación lingüística sino de un ejercicio de traducción entre contextos de producción y recepción diferenciales, lectores disímiles y horizontes de expectativas distintos. En tanto “intermediario” entre ambos universos, Germani modeló un tipo de lectura (posible) del proyecto intelectual de Wright Mills, recuperando las dimensiones sensibles a la empresa académica que lideraba el propio Germani en América Latina.

Así, la obra de Wright Mills fue presentada por Germani al público latinoamericano en tanto manifiesta demostración de que la sociología triunfante a nivel planetario había logrado su estatuto científico por sobre el modo de producción sociológica tradicionalmente asociado a la especulación libresca. Para Germani, Wright Mills era la prueba fehaciente que la sociología científica, esa síntesis de teoría y comprobación empírica, había conseguido las credenciales necesarias para imponerse sobre las configuraciones más “filosóficas”. El saber de esta ciencia social debía fundarse así, menos en fuentes secundarias preexistentes y más en los datos construídos a partir de las modernas técnicas de investigación social. Para Germani, las derivaciones esperables de semejantes transformaciones cognitivas se plasmaron en la reorganización institucional de la pesquisa social (“de las bibliotecas a los institutos de investigación”), ingresando en una fase “industrial” de la producción académica. Fue, en efecto, en aquél horizonte de construcción de parámetros de cientificidad para el saber sociológico que Germani pareció reconocer el mayor provecho de la divulgación de Wright Mills en América Latina, esto es, la “sociología crítica” no sólo suponía un ataque a la centralidad parsoniana sino que ofrecía una caja de herramientas teóricas fundamentales para pensar los problemas de las “sociedades en transición hacia el desarrollo”. Fue en esa clave que Germani recupera a Wright Mills como lector agudo de las contradicciones propias de una sociedad (la norteamericana) que pueden brindar claves interpretativas para el “desarrollo económico latinoamericano”. En este sentido, la modernización regional anhelada podría comprenderse mejor a la luz del ejemplo estadounidense. Los “males norteamericanos”,

(14)

destacaba Germani, poseen un virtuosismo pedagógico para la sociología latinoamericana en plena etapa de consolidación.

Finalmente, Germani dedica unas líneas a rescatar una dimensión que, desde los detractores del sociólogo italo-argentino, tendrá una valencia diferente. La autonomía relativa de la sociología respecto de la “ideología”. Es que para Germani, Wright Mills aporta un punto de quiebre insoslayable sobre la necesaria libertad del ejercicio de las ciencias sociales. En la tradición anti-fascista y bajo el prisma de las lecturas contrarias al autoritarismo vía la Escuela de Frankfurt, Germani acordará que es en el divorcio entre teórica y práctica propias de las filosofías sociales de raigambre alemana, aún en la antropología social británica, donde se dieron lugar a las ciencias sociales “ideologizadas”, donde el quehacer científico secundaba a la imposición política. En este sentido, la sociología moderna del desarrollo económico latinoamericano podría abastecerse de las enseñanzas de Parsons y de Wright Mills: pese a su oposición casi fundamental, Germani conseguía aunar tras ambos, las expectativas de una metodología de la investigación social acorde a los tiempos.

Wright Mills y su lectura desde la “nueva izquierda intelectual” argentina

El vínculo entre dinâmica cultural y escenarios políticos em la Argentina del post-peronismo há assumido diversa atención, especialmente em cuanto a las explicaciones, como los casos de Clauda Gilman o Silvia Sigal, donde la interrogación sobre la “autonomia” de la producción es resumida a su extrema dependência respecto de la agenda política. Esa “politización”, a priori, habría derrumbado la especificidade de la cultura em la medida em que las fracturas ideológicas se agudizaban, especialmente desde los años sessenta. Lejos de essas conclusiones, em su estúdio sobre Jorge Abelardo Ramos y su grupo intelectual, Martín Ribadero (2017) mostro como uma agrupación política asumió um proyecto intelectual fuerte, sin perder de vista su intención de intervención em la arena de discusión ideológica. Em esse universo, la “apuesta editorial”, no supuso uma actividad secundaria sino, por el contrario, el modo concreto a partir del cual se expresaron distintos sectores de la política argentina. Los clivajes de confrontación político-intelectual que atravesaron desde el inicio la carrera de sociología de la UBA han ofrecido interpretaciones polarizadas respecto de un sector favorable a lo llamado “sociología de la modernización” contra los partidarios de una “sociología nacional-popular” y sus variantes. En efecto, las disputas en torno a la orientación teórica y política de profesores, materias e investigaciones, desbordaron rápidamente las aulas y discusiones de pasillo para ganar los espacios de sociabilidad político-culturales y los

(15)

medios de difusión de ideas como las revistas. Si bien no agotamos aquí las derivas de Wright Mills en el mundo de las izquierdas en Argentina, ofrecemos uma aproximación al caso del análisis de la sociología del norteamericano Wright Mills ensayada por Milcíades Peña y su revista “Fichas”.

La revista fundada y editada por Milcíades Peña tuvo una especial sensibilidad por la sociología crítica norteamericana. En buena medida, a través de la crítica contra el proyecto de la sociología de la modernización que Germani y el Instituto de Sociología de la UBA encarnaban, Peña buscó formular unas ciencias sociales “comprometidas” con la realidad política argentina. Como alternativa a los proyectos intelectuales y editoriales del grupo liderado por Germani, Peña buscó generar un espacio de reflexión e investigación cuyo horizonte sociológico, lejos de las referencias a las teorías del desarrollismo en boga a comienzos de los años sesenta, fuera compatible con su particular adscripción al marxismo. La actualización de las lecturas de Peña respecto de las discusiones en el marxismo occidental incluyó singularmente un amplio espectro de referencias, desde Maurice Dobb y Paul Sweezy a Georg Lukács, pasando por Henri Lefebvre. Desde las vertientes inglesa o continental, Peña imaginaba una práctica intelectual con fuerte base en los standards de las ciencias sociales sin por ello subordinar sus intereses políticos paulatinamente coincidentes con el espacio de la izquierda nacional. La investigación social fomentada por Peña tuvo su más importante colocación en la línea impulsada por las revistas norteamericanas. Así, su proyecto editorial, la revista “Fichas de Investigación Económica y Social” se presentaba con un formato equivalente a los ”journals” especializados de la academia norteamericana al mismo tiempo que entre sus páginas de adivinaban rápidamente los temas de la agenda de discusión marxista y sus estudios sobre la burguesía nacional (Tarcus, 1996: 374-379). Sin embargo, la publicación se circunscribió a las exploraciones teóricas de Peña, con escaso reconocimiento explícito en revistas de la nueva izquierda contemporáneas como “Pasado y Presente”. En buena medida, su voluntad de diálogo sin encontrar el eco buscado, también se observa en la frecuente práctica de publicación de textos sin la expresa autorización de sus autores.

Fundada en 1964, “Fichas” no sólo sirvió de medio de divulgación de las pesquisas orientadas por Peña desde mediados de los años cincuenta respecto de las transformaciones materiales de la producción argentina y al rol que en ese proceso le cupo a la clase dominante, sino que se transformó en una referencia de la renovación intelectual de las izquierdas. En parte abierta a las discusiones disciplinares de la sociología pero fuertemente refractaría a la lógica académica, “Fichas” impugnada desde sus páginas la asepsia política que caracterizaba a la “sociología científica” germaniana. A lo largo de casi dos años de edición regular, “Fichas”,

(16)

supo posicionarse como medio de reflexión teórica y política en el medio cultural porteño. Como revista-faro, “Fichas” colocó a “Monthly Review”, la publicación socialista newyorkina que dirigió Sweezy y que incluyó las firmas de Sartre, DuBois, Guevara y otros intelectuales asociados al universo de las izquierdas. Entre los colaboradores frecuentes de “Monthly Review” se contaba Charles Wright Mills, a quien Peña dedicó intenso estudio de su obra desde fines de los años cincuenta.

La propuesta política e intelectual de Wright Mills se presentó como la amalgama precisa de acuerdo a los horizontes imaginados por Peña. Sociología y marxismo podían articularse sin reducirse la primera a una ciencia social inerte ni el segundo a su versión ortodoxa stalinista. Peña plasmó, así, sus intereses por Wright Mills a lo largo de sus artículos en “Fichas”, algunos firmados bajo seudónimos. En el número 2 de “Fichas”, Peña confrontaría la versión germaniana de Wright Mills, en una disputa que visibilizaba no sólo las tensiones propias del espacio sociológico nacional sino que amplificaba las distensiones transnacionales presentes en la primera mitad de los años sesenta entre sociología académica vs. Sociología comprometida.

Anunciado desde el primer número de “Fichas”, Peña dedicó un número especial de la revista a Wright Mills, donde incluyó tres capítulos del libro “The Marxists”, dos artículos de revisión de la obra del sociólogo norteamericano firmados por Irving Horowitz y Hans Gerth, estrechos colegas de Wright Mills, y un texto de balance crítico a cargo del propio Peña. Las traducciones de los textos incluídas por Peña sugieren el movimiento de religar a Wright Mills con la tradición marxista, a contrapelo del discurso germaniano. Esa aspiración buscaba ser refrendada por un concurso de artículos al que invitaba “Fichas” cuyo tema era el poder de las críticas de Wright Mills a “…la sociología norteamericana y al marxismo”, consonancia

con los puntos de interés de Peña.

Pero acaso el texto que denuncia de modo más evidente la confrontación entre las lecturas de Wright Mills por parte de Germani y Peña es el que este último publicó con el seudónimo “Alfredo Parera Dennis” en ese mismo número 2 de “Fichas”. Para Peña, el prólogo de Germani a “La imaginación sociológica” había buscado “inmunizar” a los lectores hispanohablantes contra el “pensamiento de Wright Mills”. En la lectura de Peña, el “Wright Mills” presentado por Germani era una versión contradictoria de la que el propio sociólogo norteamericano buscó forjar entre sus colegas ya que habría ponderado su perfil de profesional de las ciencias sociales antes que el fuerte contenido crítico construido contra la “Gran teoría” parsoniana vigente o contra el “empirismo abstracto” al modo de Lazarsfeld. Peña señala en su crítica que el objetivo de Wright Mills en su libro fue el de denunciar la

(17)

burocratización de la sociología profesional estadounidense, resultado de la concentración de poder en las elites sociales y del cual el tipo humano “profesor académico” sería apenas un instrumento ideológico de aquella estructura social dominante.

Conclusiones parciales

Wright Mills foi um defensor dos teóricos clássicos e ao mesmo tempo esteve vinculado ao trabalho de campo empírico, defensor do intelectual comprometido e crítico do establishment acadêmico do seu país. Com a publicação dos seus livros e a apropriação de suas ideias por intelectuais no Brasil e na Argentina, a sociologia de Wright Mills ganhou um lugar central tanto no interior da disciplina sociológica como nos debates político-culturais dinamizados pela “nova esquerda”. Os livros e a circulação das ideias de Wright Mills no Brasil e na Argentina tiveram a capacidade de gerar amplos debates, desde Gino Germani, passando pelas “aplicações” de Marsal, De Imaz ou Agulla e as leituras críticas de Juan Carlos Torre ou Jorge Balán, até uma sociologia da modernização como a de Costa Pinto ou os debates regionais que estiveram vinculados à formulação do conceito de colonialidade interna.

A particularidade da institucionalização da sociologia na Argentina, inicialmente vinculada a outras disciplinas tradicionais como a história ou a filosofia, mas autonomizando-se delas - não autonomizando-sem grandes obstáculos a partir dos anos 1960 (Blanco e Jackson, 2017) - permite pensar, em contraposição ao lugar da sociologia no Brasil, o modo pelo qual autores e ideias ligados a essa tradição disciplinar foram “apropriados” e postos em jogo com orientações diferentes. Dessa forma, embora Germani tenha buscado “regular” o efeito crítico de Wright Mills em A imaginação sociológica, desde o trostikismo, do marxismo heterodoxo de perfil gramsciano ou inclusive a partir de setores da juventude comunista inscritos no curso de socologia em Buenos Aires, a “radical sociology” imprimiu tanto um interesse por contar com ferramentas teóricas mais sofisticadas como uma aproximação que permitisse praticar uma sociologia voltada para a subverção da ordem capitalista estabelecida.

Bibliografía

ARONOMITZ, S. (1965) “¿Qué puede esperarse de la clase obrera norteamericana?”, Fichas

(18)

BLANCO, A. (2006) Razón y modernidad. Gino Germani y la sociología en Argentina, Buenos Aires: Siglo XXI.

BOTTOMORE, T. Críticos da sociedade: o pensamento radical na América do Norte. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1970.

BRICK, H. (2011) C. Wright Mills, sociology, and the politics of the public intellectual.

Modern Intellectual History, v. 8, n. 2, p. 391–409, 2011.

BRICK, H. C. Wright Mills, sociology, and the politics of the public intellectual. Modern Intellectual History, v. 8, n. 2, p. 391–409, 2011.

DEUTSCHER, I. (1965) “Acerca de Wright Mills y de la clase obrera como agente histórico del socialismo”, Fichas de Investigación Económica y Social, Nr. 6.

FERNANDES, H. Mills, o sociólogo-artesão. In: Wright Mills: sociologia. São Paulo: Ática, 1985.

GARONE, M. (2020) “Los catálogos editoriales como fuentes para el estudio de la bibliografía y la historia de la edición: El caso del Fondo de Cultura Económica”, Palabra

Clave, La Plata, Vol. 9, nr. 2

GEARY, D. (2008) Becoming C. Wright Mills and the Emergence of a Global New Left , 1956-1962. The Journal of American History, v. 95, n. 3, p. 710–736, 2008.

GEARY, D. Becoming C . Wright Mills and the Emergence of a Global New Left , 1956-1962. The Journal of American History, v. 95, n. 3, p. 710–736, 2008.

GEARY, D. Wordly ambitions: the emergence of a Global New Left. In: C. Wright Mills, the Left, and american social thought. Berkeley: University of California Press, 2009.

GERMANI, G. (1961) “Prólogo” en Wright Mills, C. La imaginación sociológica, México: Fondo de Cultura Económica.

GERTH, H. (1964) “Charles Wright Mills, 1916-1962”, Fichas de Investigación Económica y

Social, Nr. 2.

GRISENDI, E. (2017) Intelectuales, política y la recepción de la “sociología crítica norteamericana” en Argentina (1955-75). Buenos Aires, II Congreso Latinoamericano de

Teoría Social y Teoría Política. Disponível em:

<http://diferencias.com.ar/congreso/ICLTS2015/PONENCIAS_2017/Mesa_13/00248_17_IIC LTS_MT13_Grisendi.pdf>.

HOROWITZ, Irving Louis (org.). (1963) Power, politics and people: the collected essays on

(19)

HOROWTIZ, I. (1964) “Los escritos inconclusos de C. Wright Mills: La última fase”, Fichas

de Investigación Económica y Social, Nr. 2.

LAZARSFELD, P. (1966) “Científicos sociales en un tiempo de crisis”, Fichas de

Investigación Económica y Social, Nr. 9.

MATTSON, K. (2002) Intellectuals in action. The origins of the New Left and the radical

Liberalism, Pennsylvania University Press.

MATTSON, K. Intellectuals in Action: The Origins of the New Left and Radical Liberalism, 1945-1970. University Park, Pennsylvania: The Pennsylvania State University Press, 2002. MILLS, C. W. The New Left. In: HOROWITZ, Irving Louis (org.). Power, politics and people: the collected essays on C. Wright Mills. Nova York: Oxford University Press, 1963. p. 247–259.

MILLS, K.; MILLS, P. C. Wright Mills: Letters and autobiographical writings. Berkeley and Los Angeles, California: Colubia University Press, 2000.

MONTECINOS, V. (2016) “C. Wright Mills and Latin America” en Oakes, G. (ed.) The

Anthem Companion to Charles Wright Mills, Anthem.

PARERA DENNIS, A. [PEÑA, MILCÍADES] (1964) “Gino Germani sobre W. Mills o las enojosas reflexiones de la paja seca ante el fuego”, Fichas de Investigación Económica y

Social, Nr. 2.

RIBADERO, M. (2017) Tiempo de profetas. Ideas, debates y labor cultural de la izquierda

nacional de Jorge Abelardo Ramos (1945-1962), Bernal: Ed. Universidad Nacional de

Quilmes.

SAUNDERS, F. S. (2001) La CIA y la guerra fría cultural, Barcelona: Debate.

SERVÍN, Elisa. (2020) La experiencia mexicana de Charles Wright Mills. HMex, LXIX: 4, 2020

SILVA, Leonardo Nóbrega da. (2019) Editoras e ciências sociais no Brasil: a Zahar Editores e a emergência das ciências sociais como gênero editorial (1957-1984). 2019. 288f. Tese (Doutorado em Sociologia) – Instituto de Estudos Sociais e Políticas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

SORÁ, G. (2008) “Edición y política. Guerra fría en la cultura latinoamericana de los años ´60”, Revista del Museo de Antropología, UNCórdoba, 1, pp. 97-114.

SORÁ, G. (2017) Editora desde la izquierda em América Latina, Buenos Aires: Siglo XXI Editores.

(20)

TARCUS, H. (1996) El marxismo olvidado en la Argentina: Silvio Frondizi y Milcíades

Peña, Buenos aires: El Cielo por Asalto.

TORRE, J. C. (1963) “Robert Lynd y la crítica de la sociología”, Pasado y Presente, nr. 2-3, Córdoba.

WRIGHT MILLS, C. (1964) “Los marxistas”, Fichas de Investigación Económica y Social, Nr. 2.

WRIGHT MILLS, C. (1965) “Una estrategia para los sindicatos”, Fichas de Investigación

Referências

Documentos relacionados

The present study evaluated the potential effects on nutrient intake, when non- complying food products were replaced by Choices-compliant ones, in typical Daily Menus, based on

Após a colheita, normalmente é necessário aguar- dar alguns dias, cerca de 10 a 15 dias dependendo da cultivar e das condições meteorológicas, para que a pele dos tubérculos continue

Conclusão: a mor- dida aberta anterior (MAA) foi a alteração oclusal mais prevalente nas crianças, havendo associação estatisticamente signifi cante entre hábitos orais

Os interessados em adquirir quaisquer dos animais inscritos nos páreos de claiming deverão comparecer à sala da Diretoria Geral de Turfe, localizada no 4º andar da Arquibancada

Acreditamos que o estágio supervisionado na formação de professores é uma oportunidade de reflexão sobre a prática docente, pois os estudantes têm contato

submetidos a procedimentos obstétricos na clínica cirúrgica de cães e gatos do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Viçosa, no período de 11 de maio a 11 de novembro de

• Quando o navegador não tem suporte ao Javascript, para que conteúdo não seja exibido na forma textual, o script deve vir entre as tags de comentário do HTML. &lt;script Language

In magenta we have the solar case (Model D), as expected for Models B and C, we have an excess of free electrons due to the high metallicity that they present, on the other hand, it