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Evitar o desperdício de água: responsabilidade e comprometimento. Reúso de água: uma necessidade para as próximas décadas

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ISSN 1806-4779

Evitar o desperdício de

água: responsabilidade e

comprometimento

Reúso de água: uma

necessidade para as

próximas décadas

ENTREVISTA

Huub Gitzen, PhD

Um dos maiores especialistas

mundiais em reúso

Associação dos Engenheiros da Sabesp

EDIÇÃO ESPECIAL

FENASAN / ENCONTRO TÉCNICO 2006

vol 02, nº 23

agosto / 2006

(2)

Saneas é uma publicação técnica quadrimestral da Associação dos Engenheiros da Sabesp AESABESP

DIRETORIA EXECUTIVA Walter Antonio Orsatti / Presidente Gilberto Alves Martins / Vice-Presidente Ivan Norberto Borghi / 1º. Secretário Cecília Takahashi Votta / 2º. Secretário Hiroshi Ietsugu / 1º. Tesoureiro

Emiliano Stanislau de Mendonça / 2º. Tesoureiro DIRETORIA ADJUNTA

Carlos Alberto de Carvalho / Diretor de Marketing Olavo Alberto Prates Sachs / Diretor Cultural Zito José Cardoso / Diretor de Esportes José Carlos Vilela / Diretor de Pólos Magali Scarpelini / Diretora Social

Reynaldo Eduardo Young Ribeiro / Diretor Técnico Fernando Batista Blessa / Coordenador do Site CONSELHO DELIBERATIVO

Amauri Pollachi, Dejair José Zampieri, João Luís Cais da Silva Gomes, José Carlos Vilela, José Márcio Carioca, Júlio César Villagra, Laércio José Ayres Hansted, Luiz Henrique Peres, Osvaldo Ribeiro Júnior, Ovanir Marchenta Filho, Renato Hochgreb Frazão, Reynaldo Eduardo Young Ribeiro, Sérgio Eduardo Nadur, Viviana Marli de Aquino Borges, Yazid Naked CONSELHO FISCAL

Ivo Nicolielo Antunes Junior, Nelson Luiz Stábile, Nizar Qbar Pólos da Região Metropolitana de São Paulo Coordenador - Nelson César Menetti

Centro - Célia Maria Machado Ambrósio Costa Carvalho - Célia Maria Machado Ambrósio Leste - Luciomar dos Santos Werneck

Oeste - Celso Murgolo Miguel Sul - Débora Torres

Norte - Oswaldo de Oliveira Vieira Ponte Pequena - Aram Kemechiam Pólos Regionais

Baixada Santista - Ovanir Marchenta Filho Botucatu - Osvaldo Ribeiro Júnior Franca - Heliezer Zanelli

Itapetininga - Valter Katsume Hiraichi Lins - Marco Aurélio Saraiva Chakur

Presidente Prudente - Robison José de Oliveira Patricio Vale do Paraíba - José Galvão F. Rangel

CONSELHO EDITORIAL

Luiz Henrique Peres (Coordenador), Viviana Marli de Aquino Borges, Carlos Alberto de Carvalho, José Marcio Carioca, Célia Maria Machado Ambrósio

FUNDO EDITORIAL Equipe responsável pela Saneas: Marcelo Kenji Miki (Coordenador)

José Antônio de Oliveira Jesus, Nilton Akihiko Furukawa, Sonia Maria Nogueira e Silva e Jairo Tardelli Filho Odair Marcos Faria (fotógrafo colaborador)

JORNALISTA RESPONSÁVEL: Ana Holanda Mtb 26.775, ARTE E PRODUÇÃO GRÁFICA:

Formato Artes Gráfi cas (formato@uol.com.br) IMPRESSÃO: Editora Parma (fone: 6462 4000) TIRAGEM: 3.000 exemplares

AESABESP

Associação dos Engenheiros da Sabesp Rua 13 de maio, 1.642 – casa 1 01327-002 - São Paulo, SP Fone (11) 3284 6420 – 3263 0484 Fax (11) 3141 9041 www.aesabesp.com.br aesabesp@aesabesp.com.br

Saneas

SUMÁRIO

EDITORIAL

3 Evitar o desperdício de água: responsabilidade e comprometimento

MATÉRIA DE CAPA

4 Reúso de água: uma necessidade para as próximas décadas

10 ENTREVISTA

Futuro da água depende da mudança de práticas atuais

12 EMPREENDIMENTO E GESTÃO

Custo, preço e valor da água: uma refl exão necessária 16 RESENHAS

ISSN 1806-4779

EDIÇÃO ESPECIAL

FENASAN / Encontro Técnico AESABESP 2006 18 PROGRAMA OFICIAL

Programação completa dos três dias do XVII Encontro Técnico AESABESP 24 CATÁLOGO OFICIAL

Relação dos participantes da XVII FENASAN 43 MAPA DA FEIRA

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Saneas / ESPECIAL FENASAN/ENCONTRO TÉCNICO – agosto 2006 – 3

Evitar o desperdício de água:

responsabilidade e comprometimento

Walter Antonio Orsatti

Presidente da Associação dos Engenheiros da Sabesp

É

de responsabilidade geral, seja das esferas públicas ou priva-das, quanto às conseqüências das ações sociais e da postura individual, a defesa da preservação da água, dádiva da natureza, que aperfeiçoamos com o emprego de tecnologia, para propor-cionar uma qualidade de vida digna para todos, fazendo com que o comprometimento seja fator fundamental para que o nos-so papel seja cumprido.

Baseada nessa forte convicção, a AESABESP, que represen-ta o corpo técnico da maior empresa de presrepresen-tação de serviços de água e esgoto da América Latina e se destaca entre as cinco maiores do mundo, lança como tema central do seu “XVII En-contro Técnico e XVII Fenasan 2006”, o slogan: “Evitar o Des-perdício de Água – Responsabilidade e Comprometimento”.

Este tema nos traz à luz de que é cada vez mais evidente a im-portância da água neste século, porém 40% da população mun-dial convive em regiões escassas desse recurso. Trata-se de uma realidade que ainda pode não assustar a população que vive em um estado como São Paulo, cujo modelo de saneamento é referência mundial. Mas isso não diminui o nosso comprometimento, pois é de nossa mais completa responsabilidade, como sani-taristas, empenhar a experiência, que alcançamos por vários anos de dedicação, e toda a tecnologia que o mercado nos apresenta, em favor de um bem maior: a universalização do saneamento.

Esperamos que esse nosso tradicional e importante evento, de grande repu-tação tecnológica na América Latina, também seja uma oportunidade para uma refl exão mais profunda sobre o quanto ainda faltam ações efetivas, em termos locais e mundiais, capazes de suprir as necessidades das populações, sobretudo as mais carentes, que adoecem por falta de saneamento adequado. Basta lembrar que para cada investimento de um dólar em saneamento ambiental, a economia atingida é de cinco dólares na esfera da saúde. Face a esse panorama sócio-eco-nômico, é preciso mais argumentos?

Esse Encontro e essa Feira, onde os maiores fabricantes de equipamentos do mundo e os grandes especialistas do setor fazem o seu intercâmbio de conheci-mentos, também deve se transformar sobretudo em um cenário propício para discutirmos nossos pontos chaves: o acesso da população à água potável, à cole-ta de esgoto, à manutenção da saúde, à qualidade de vida, enfi m à importância que o saneamento ambiental pode signifi car para o desenvolvimento saudável de qualquer habitat.

Dessa forma, contamos com a sua presença e de antemão sabemos que nos-sas expectativas serão realizadas, pois, principalmente em relação ao corpo de técnico da Sabesp, sabemos que estendemos esse convite a profi ssionais com ga-barito e consciência do seu nobre papel no bem estar social. Sendo assim, me antecipo a agradecer a participação de todos em nosso XVII Encontro Técnico e XVII Fenasan- 2006.

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P&DMATÉRIA DE CAPA

A

água, um dia, pode acabar. A frase soa alarmista demais, mas basta uma conversa mais demorada com um especialista na área de recursos hídricos para perceber que o que pa-recia impossível – não haver água limpa para todos – é cada vez uma realidade mais próxi-ma. Entre as soluções está o reaproveitamento disso. E é isso o que engenheiros, sanitaristas, biólogos, empresários e o poder público têm debatido nos últimos anos: formas de desen-volver processos produtivos mais limpos, com

Reúso de água: uma

necessidade para as

próximas décadas

Pesquisas mostram que o reúso de água é uma maneira inteligente e

ambientalmente responsável de economizar, sem prejudicar o meio

ambiente. Aqui, mostramos tudo o que já foi feito, o que deu certo e o

que ainda não saiu da teoria sobre este tema, que promete ser o assunto

da vez para as próximas décadas – Ana Holanda.

mento de uma água que já foi utilizada, de um efl uente tratado ou não, em qualquer aplica-ção diferente daquele em que foi gerada. Por exemplo: usar a água do banho para a rega de jardim ou aquela que foi utilizada em um pro-cesso de resfriamento industrial para lavagem de equipamentos. A vantagem disso? Redução nos gastos, na geração de esgotos e, principal-mente, uma mudança cultural, que parte do princípio que é preciso fazer uso da água com responsabilidade.

Na lavagem de ruas e áreas públicas, a água de reúso tem dupla vantagem: é mais barata que a potável e alinhada com os princípios de economia dos recursos hídricos

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Saneas / ESPECIAL FENASAN/ENCONTRO TÉCNICO – agosto 2006 – 5

Matéria de Capa

saíram do papel e o país ainda dá seus primei-ros passos nisso. Um dos entraves para tanto é que não existe, por enquanto, uma legislação que estabeleça os sistemas de reúso e suas regras e, principalmente, padrões de qualidade aceitá-veis. Essa água pode conter uma quantidade ele-vada de microorganismos que trazem danos à saúde, como bactérias, vírus e afi ns. Os padrões usados, até o momento, são os internacionais. Existem diretrizes sobre o tema, mas nenhuma regra estabelecida ou políticas de incentivo ao sistema – o que vale, ainda, é a consciência de cada um, em optar por formas que poluam me-nos e que dêem uma força para o meio-ambien-te, auxiliando e não prejudicando.

Um caminho é comprar esta água menos no-bre (não potável). A Sabesp, atualmente, forne-ce 8 L/s de água de reúso, mas a capacidade é de 31 L/s. Os dados são de 2005. Boa parte disso vai para a lavagem de ruas para retirar a sujeira dei-xada pelas feiras livres, para rega de jardins, na limpeza dos trens e ônibus coletivos. “Mas ainda não existe uma demanda grande para a comer-cialização dessa água de reúso”, esclarece o en-genheiro Antônio César da Costa e Silva, supe-rintendente de tratamento de esgoto da Metro-politana, Sabesp. Por que isso acontece? Quan-do se fala em reúso para fi ns urbanos, como os citados acima, primeiro, antes de comercializar, é preciso tratar o esgoto (o índice de coleta de esgoto na Região Metropolitana de São Paulo, de acordo com a Sabesp, é de 82% e o índice de tratamento disso é de 57% ). Para comprar água de reúso e utilizá-la em processos produtivos, as empresas precisam, por exemplo, desenvol-ver uma rede de distribuição. “E se agrega muito valor, fi ca desinteressante para o cliente”, conta o engenheiro Antônio César. Outra alternativa é comprar os tais carros pipas. Só que, neste caso, é para uma demanda menor.

Por conta disso, muitas indústrias aca-bam investindo em sistemas internos de reú-so, como é o caso da empresa do ramo têxtil Covolan, de Santa Bárbara do Oeste, interior de São Paulo. A indústria que fabrica tecido para confecção de peças jeans existe há exatos 40 anos. No segundo semestre do ano passa-do, fi nalizou um sistema de reúso nas suas ins-talações. A novidade lhe valeu o primeiro lu-gar no Primeiro Prêmio Fiesp de Conservação e Reúso de Água, que aconteceu no início des-te ano. O sisdes-tema funciona da seguindes-te forma: a água, depois de captada e utilizada nos pro-cessos fabris, passa por uma estação interna de tratamento de efl uentes (primeiro é feito um

processo biológico com lodo ativado e, em se-guida, um físico-químico, com fl oculação, de-cantação e fi ltração). Com isso, o índice de re-aproveitamento da água é de 70%. E toda água devolvida aos mananciais passa por tratamen-to para retirada de corantes (comum no tingi-mento do tecido). Para controlar a qualidade de tudo isso, existe, dentro da indústria, uma equipe de engenheiros, que fazem uma coor-denação diária, com assessoria de uma em-presa na área de tecnologia em meio ambien-te. “Houve uma economia na captação de água e também o benefício ambiental, social e em-presarial. Nos dias atuais, mais do que fabricar, produzir, é necessário que uma empresa desen-volva estratégias e obtenha resultados através das pessoas, porque isso faz parte do nosso pa-pel na sociedade”, acredita Telma Mendonça, gerente de marketing da empresa.

O papel da empresa ou, ainda, o marketing

Na indústria do setor têxtil Covolan, no interior de São Paulo, a implantação de projeto de reúso garantiu para a empresa o prêmio de Conservação e Reúso de Água da Fiesp. Nas fotos, de cima para baixo, tanque de estabilização, tanque de aeração e adensador de lodo físico químico

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Matéria de Capa

ambiental por trás disso é um dos pontos le-vantados por especialistas na área para que indústrias de pequeno, médio e grande por-te, invistam no reúso. De qualquer forma, a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) é uma grande incentivadora da prática – daí ter criado o prêmio como forma de chamar a atenção das companhias. “A água fi ca cada vez mais cara para as in-dústrias e isso as afasta dos grandes centros, como foi o caso de empresas de bebidas como a Brahma e a Antarctica, que tiveram, entre outros transtornos, difi culdade em obter grande quantidade de água para seus processos industriais”, conta Anicia Pio, téc-nica do departamento de meio ambiente da Fiesp. A Federação tem investido na cons-cientização dos empresários e, assim, divul-gado o reúso, dentro dos processos de ges-tão. Em 2002 e em 2004, respectivamente, a Fiesp, junto com outras entidades, publicou o Manual de Conservação e Reúso de Água para a Indústria e outro para Edifi cações. São medidas que podem ser adotadas por shopping centers, prédios comerciais, esco-las e, também, condomínios residenciais. “A redução no consumo de água costuma ser de cerca de 40%”, avalia Anicia Pio.

tre as inscritas, 50% são de grande porte, 16%, médio, e 11%, pequeno. São empresas de seto-res variados, como vidro, petroquímica, meta-lurgia, farmacêutica, química, têxtil e, incluem nomes como Petrobras, Cosipa e BSH Conti-nental. “Isso é uma boa sinalização, porque mostra que todos os setores estão preocupados com o assunto”, fi naliza Anicia.

Dentro de casa – “As iniciativas de reúso ain-da estão limitaain-das à indústria”, atesta o profes-sor de engenharia da Escola Politécnica (USP), José Carlos Mierzwa, que é também coordena-dor de Projetos do Cirra (Centro Internacio-nal de Referência em Reúso de Água). O Cirra nasceu, principalmente, do desejo de um gran-de estudioso da área e gran-defensor do sistema gran-de reúso, o professor Ivanildo Hespanhol, da Poli. Atualmente, além de desenvolver pesquisas, o Centro dá suporte para projetos em empresas e condomínios residenciais, que queiram desen-volver o sistema. Essa é, aliás, uma novidade. E já existem moradores de prédios interessados em economizar água. Os motivos são diver-sos e passam, inclusive, pela adequação com a legislação. O projeto do vereador Aurélio No-mura (PV), aprovado em junho de 2005, é um conjunto de medidas, com prazo de dez anos de adequação, que prevêem a “conservação, uso racional e utilização de fontes alternativas para a captação de água e reúso nas novas edi-fi cações”, entre outras coisas.

Atualmente, alguns condomínios residen-ciais estão sendo erguidos de acordo com a nova medida. Um bom exemplo é o Mundo Apto, da construtora Setim. Espalhados por di-versos bairros da capital paulista, os seis empre-endimentos, com dez torres – parte dessas tor-res estão sendo entregues no segundo semestre deste ano – incluem sistema de reúso de água, fachada pré-fabricada que evita a re-pintura e reduz os custos de manutenção e, ainda, aque-cimento de água por energia solar, entre outros benefícios ambientalmente responsáveis.

Na Setim, a idéia de reaproveitar e gerar, as-sim, uma quantidade menor de resíduos, bro-tou há cerca de quatro anos. O processo co-meçou dentro de casa. Ou seja, a construtora passou a reciclar os materiais das obras. E, em 2004, surgiu o projeto Mundo Apto. “Existe uma mudança cultural grande, que começa no momento em que se compra o terreno: é

preci-Estação de tratamento de esgoto na Grande São Paulo: atualmente, a Sabesp vende água de reúso, após tratamento, para lavagem de ruas de feira, limpeza de trens e ônibus públicos e rega de jardins.

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Saneas / ESPECIAL FENASAN/ENCONTRO TÉCNICO – agosto 2006 – 7

Matéria de Capa

midor gosta de comprar algo que é alinhado ao meio ambiente, mas não quer pagar mais caro pela novidade”, diz o engenheiro Antonio Se-tim, diretor da empresa.

No entanto, Antonio Setim admite que exis-te um valor agregado nesexis-te tipo de empreendi-mento. No dia a dia, o morador irá gastar me-nos com água e luz, por exemplo. E mais: na hora de vender, provavelmente, o “marketing ecológico” pode ajudar.

Atualmente, o reúso em conjuntos residen-ciais funciona da seguinte forma: a água usa-da no banho e na máquina de lavar roupa, por exemplo, é segregada; passa, então, para um sis-tema de tratamento e depois é direcionada para ser utilizada na descarga sanitária e para a lim-peza das áreas comuns (rega de jardins, lavagem de piso). Estes volumes, em geral, se equivalem.

Estudos feitos pelo Cirra mostraram que a economia, de fato, acontece. Em um condo-mínio de 50 apartamentos, a redução na con-ta de água pode chegar a R$ 12 mil (incluindo pagamento de água e lançamento de esgoto).

Reúso de água: uso de efl uentes tratados ou não para fi ns benéfi cos, tais como irrigação, uso industrial e fi ns urbanos não potáveis.

Reúso Agrícola: é a utilização de um efl uente de ETE, com o devi-do pós-tratamento, para a irriga-ção de cultura de sustento ou for-rageira e /ou para a dessedentação de animais. Como conseqüência desta modalidade de reúso, na maioria das vezes, ocorre a recar-ga do lençol freático. Ainda não há uma regulamentação para esta modalidade de reúso. No fi nal do ano passado (18/10/2005), a Ce-tesb apresentou, no Seminário de Utilização Agrícola de Efl uente de Lagoa de Estabilização em Lins, a Instrução Técnica nº 31 (Irrigação com água de reúso proveniente de esgoto sanitário tratado). Não há previsão da versão fi nal desta Ins-trução, de acordo com a Cetesb. Exemplos: utilização do efl uen-te do Sisuen-tema de Lagoas de Lins,

Campus Experimental da USP.

Reúso Industrial: é a utilização de um efl uente de ETE, com o de-vido pós-tratamento, caso neces-sário, para torres de resfriamento, caldeiras, água de processamen-to, construções civis e fi ns menos nobres que possam prescindir da qualidade da água potável.

Reúso Recreacional e ou Públi-co: é a utilização de um efl uente de ETE, com o devido pós-tratamento, caso necessário, para a irrigação de parques, campos de esporte, rega de jardins, lagos ornamentais e/ou re-creacionais, postos de serviço para lavagem de automóveis.

Reúso Doméstico: trata-se do reúso das ETEs, convenientemen-te condicionado por tratamento posterior, para rega de jardins re-sidenciais, lavagem de carros, áre-as verdes de condomínios, descar-gas de vasos sanitários.

Reúso para aquacultura: tra-ta-se do reúso do efluentes das ETEs, convenientemente condi-cionado por tratamento supe-rior para a alimentação de re-servatórios destinados à produ-ção de peixes e plantas aquáti-cas, O objetivo é a obtenção de alimentos e/ou energia da bio-massa aquática.

Reúso de Aqüíferos subter-râneos: trata-se do reúso do efl uente de ETEs, conveniente-mente condicionado por trata-mento posterior, se necessário, para suplementar o nível do aqü-ífero ou para evitar a intrusão da cunha salina em cidades a beira mar. A recarga permite a redu-ção dos custos de bombeamento, uma vez que o nível da água sub-terrânea aumenta após a recarga. No Brasil, já surgiram manifesta-ções contrárias a esta prática nas discussões da elaboração da nova lei de reúso.

As várias formas de reúso

Nas residências, a água do banho pode, após passar por processo de tratamento, ser destinada para limpeza de piso, rega de jardins e também para a descarga do vaso sanitário. Já existem em São Paulo condomínios adequados para isso

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Matéria de Capa

Agricultura pode ser grande benefi -ciada – Existem uma série de pesquisas que apontam, também, para os benefícios do reúso na agricultura.

Uma experiência positiva nesta área pôde ser verifi cada na cidade de Lins, no interior de São de Paulo. O projeto foi desenvolvido por pesquisadores e teve apoio da Sabesp. É uma área de cultivo experimental, onde esta água de reúso é utilizada para irrigar culturas de café, cana-de-açúcar, girassol, milho e outras. De-pois de passar por pós-tratamentos na Esta-ções de Tratamento de Esgoto (ETE) para di-minuir a contaminação pelo excesso de mi-croorganismos, essa água, muitas vezes ainda é rica em componentes como nitrogênio e fós-foro. Quando jogadas no rio, essas substâncias levam ao que se chama de eutrofi zação: preju-dica a vida aquática e aumenta excessivamen-te a quantidade de algas. No entanto, usar essa água, rica em nutrientes, para a irrigação é van-tajoso porque, na terra, estes componentes têm ação positiva e substituem, inclusive, em até 60% a necessidade de adubação. “É um ganha, ganha”, acredita o engenheiro Luiz Paulo de Al-meida Neto, da unidade de Lins, da Sabesp.

Legislação é ponto fraco – Se o método é tão vantajoso, por que ainda não é utilizado em Nos condomínios, o sistema de reúso

funcio-na por meio de uma unidade interfuncio-na de tra-tamento de esgoto, com tratra-tamento biológi-co e fi sibiológi-coquímibiológi-co. “Para o leigo, no fi nal des-se processo, não existe diferença na aparência de uma água potável e a de reúso, por isso, muitas vezes, indicamos a adição de um co-rante azul na água de reúso. Dessa forma, a pessoa, automaticamente, associa que aquilo não pode ser bebido”, conta o professor José Carlos Mierzwa. Reúso na agricultura: pesquisas mos-tram resultados positivos, mas ainda falta a obtenção de licença ambien-tal para colocar a experiência em prática em uma escala maior

Controle ainda precisa de normatização

A

tualmente, não existe uma legislação que estabeleça a quem cabe o controle da quali-dade da água de reúso. A Cetesb, por exemplo, não tem a respon-sabilidade de avaliar a qualidade da água que uma indústria está usando para fabricar o seu pro-duto. “Se aquele produto está sob fi scalização de órgãos federais ou estaduais, eles são responsáveis por aquilo. Cabe a eles fazer a fi s-calização e verifi car se ela pode ser usada para isso ou não. Somos responsáveis pelo que a indústria está lançando nos corpos d’água. Isso é o que diz a atual legislação”, esclarece Lineu José Bassoi,

dire-Ainda segundo Bassoi: “a água de reúso usada para lavagem de ruas é um problema de saúde pú-blica. Isso afeta o Centro de Vi-gilância Sanitária. Eles é que são os responsáveis para ver se aquela água é apropriada para a lavagem da rua, que engloba a segurança do lavador, da população”.

Em relação ao reúso agrícola, em que há a disposição do esgo-to tratado no solo, existe a neces-sidade de uma avaliação por parte da Cetesb. A Instrução Técnica nº 31 da Cetesb “Irrigação com água de reúso proveniente de esgoto sa-nitário tratado” não tem previsão de ser revista e publicada.

reúso é algo novo. A Vigilância, por sua vez, também não atua no controle direto disso. “É preciso avançar para estabelecer normas. O que temos hoje são resoluções genéricas, do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (número 54, de 28 de novembro de 2005)”, diz Luis Sergio Valentim, dire-tor de meio ambiente do Centro de Vigilância Sanitária. Na prá-tica, o que acontece, atualmente, é que cada um (indústria e afi ns) tenta fazer a sua parte da melhor maneira e se responsabiliza pela qualidade de água de reúso que oferece. Como diria Sergio Valentim: “Existe uma demanda

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Saneas / ESPECIAL FENASAN/ENCONTRO TÉCNICO – agosto 2006 – 9

Matéria de Capa

larga escala? A resposta é simples: no caso do uso agrícola, em especial, é preciso uma licen-ça ambiental. Este projeto da experiência de Lins, por exemplo, foi encaminhado, há cerca de um ano e meio, para a Agência Ambiental, mas ainda não se conseguiu a tal licença. Ter uma legislação adequada ainda é um entrave para que a prática do reúso se dissemine. En-quanto isso não vem, as empresas seguem pa-drões internacionais, buscam ajuda em empre-sas de tecnologia ambiental e, no caso da agri-cultura, o que se vê é, muitas vezes, o que se chama de reúso indireto –agricultores usam a água, proveniente de estações de tratamento de esgoto e lançadas no rio, para a irrigação. Tudo isso sem um controle de qualidade mais rígido por parte dos agricultores.

As discussões para se criar diretrizes estão caminhando junto aos órgãos competentes como Sabesp, Cetesb, Fiesp, Agência Nacio-nal das Águas, Centro de Vigilância Sanitária. O único receio, de acordo com o engenheiro Antonio César Costa e Silva, da Sabesp, é criar barreiras ambientais que inviabilizem o reúso, por meio de regras rígidas demais.

O professor José Carlos Mierzwa, do Cirra,

re-Onde buscar

mais informação

No site da Fiesp dá para baixar o arqui-vo com o Manual de Conservação e Re-úso de Água para a Indústria e também para Edifi cações: www.fi esp.com.br No site da Sabesp (www.sabesp.com.br/ legislacao) existem diretrizes e as nor-mas vigentes relacionadas ao tema. No site do Cirra (www.usp.br/cirra) é possível encontrar um completo ban-co de dados sobre o tema

U

ma questão que afl ige par-te dos estudiosos em reúso está relacionada a qualidade des-ta água. A bióloga Silvana Audrá Cutolo, do departamento de Saú-de Ambiental, da FaculdaSaú-de Saú-de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, tem dedicado os últi-mos anos de suas pesquisas a este tema. Ela explica que a água é um meio de transporte para uma série de microorganismos prejudiciais à saúde, como bactérias, vírus, para-sitas. “Muitos desses organismos são resistentes e nem sempre são eliminados por agentes químicos, como o cloro”, exemplifi ca Silvana. Isso acontece porque alguns desses seres microscópicos se protegem em uma espécie de casca, chama-da de cisto. Por conta disso, é pre-ciso que o processo de tratamento inclua uma maior detenção dessa

água. “Em sistemas como as we-tlands, nas lagoas de estabilização e nos processos de disposição do solo existe uma redução da quan-tidade de parasitas. Isso acontece porque o tempo de detenção do esgoto nesses ambientes é maior”, diz Silvana, que sugere estes mé-todos para quem pretende utili-zar a água de reúso com seguran-ça, principalmente na agricultura e nas criações de animais. Um tra-tamento sem controle ou feito de maneira inadequada pode conta-minar os animais e as hortaliças e, consequentemente, o homem.

Nas Lagoas de Estabilização da cidade de Lins, onde existe uma área experimental de reúso na agricultu-ra, a água tem qualidade controlada por padrões internacionais e, na prá-tica, têm se mostrado de boa quali-dade para o uso a que se destina.

O mesmo acontece na cidade, na água utilizada para lavar trens, ônibus e ruas de feiras. Há dois anos, a empresa CDL Laboratórios realizou, a pedido da Sabesp, uma análise da água de reúso da esta-ção de tratamento de Barueri (SP). A água tinha como fi nalidade a la-vagem dos vagões (bancos e chão) da companhia de trens metropoli-tana. “O perfi l da água se mostrou excelente, não envolvendo perigo de contaminação do ponto de vis-ta microbiológico, parasitológico ou virológico”, afi rma o bioméco Eneo Alves da Silva Junior, di-retor do CDL Laboratórios. Para ele, a água de reúso que é oferecida hoje pela companhia de água e sa-neamento da cidade de São Paulo não oferece risco à saúde de quem a manipula ou de quem utiliza os trens ou ônibus limpos com ela.

Uma questão de qualidade

sume bem a situação atual: “Não estamos atrasa-dos em relação ao reúso, mas o que falta é apli-car o conhecimento que temos. Somos atrasados, sim, em políticas públicas que incentivem esta prática. Em todas as regiões metropolitanas, te-mos o problema da escassez de água, que é crôni-co. O meio ambiente tem uma capacidade limita-da de fornecer recurso e uma hora vai faltar”.

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A nossa sobrevivência está em perceber a água não como um recurso

fi nito, mas algo a ser reutilizado para durar. Esta é uma das idéias do

maior especialista na área, que defende práticas sustentáveis para a

continuidade da espécie humana

Ana Holanda

plesmente não há água sufi ciente e uma larga quantidade de comida precisa ser importada por conta dessa defi ciência. Em vários países, os rios estão altamente poluídos e muitas vezes seu uso é inaceitável. Geralmente nos referi-mos a água dizendo que ‘água é vida’. Esta frase certamente é verdade, porque sem ela nossos dias por aqui estão contados. No entanto, que-ro adicionar outra frase: água é a matadora nú-mero um. A água contaminada pela poluição e pelos patógenos que por conta disso a habi-tam mata mais pessoas do que qualquer outra doença: são cerca de seis milhões de pessoas, a maior parte delas crianças com menos de cin-co anos. E a única maneira de lidar cin-com essa situação insustentável é mudar nossas práticas atuais. É necessário uma mudança de paradig-ma. Temos que organizar nossa água em um sistema mais cíclico. E o reúso é a chave disso tudo, você torna a água um bem mais produti-vo. Isso é verdade para a indústria, onde a água pode ser tratada e usada novamente –isso tam-bém se traduz em economia para a indústria, que reutiliza isso, reduz suas contas de água e gera quantidade menor de esgoto. É uma situ-ação em que ganha o meio ambiente e ganha a empresa. Processos de produção mais limpa ajudam a indústria a conquistar uma utilização mais racional da água pela redução do seu uso e melhorando os processos de reúso.

Isso se aplica também à agricultura?

Na produção agrícola, a falta de efi ciência é enorme. Somente uma fração da água usada na irrigação agrícola realmente alcança a raiz de uma colheita. Melhoramentos podem ser feitos selecionando as espécies (plantas) mais resisten-tes, desenvolvendo geneticamente e utilizando

O

biólogo holandês Huub Gijzen, PhD, esteve no Brasil, em junho, para falar em um evento da Faculdade de Saúde Pública da Universi-dade de São Paulo e na Sabesp sobre tecnologias ecologica-mente sustentáveis para reuti-lização de águas. O professor Huub é um dos maiores espe-cialistas do mundo em reúso e responsável pela disciplina de biotecnologia para o meio am-biente do Institute for Water Education de Delfi , na Holan-da. E ocupa, ainda, o cargo de diretor nesta área da Unesco para a Ásia e Pacífi co. Aqui, ele fala sobre a importância urgente em se investir em programas de uso racional da água, incluindo o reúso, e da necessidade de um envolvimento das empresas e do governo nisso tudo.

Por que o senhor decidiu trabalhar com o tema reúso de água?

Água é um assunto importante que vem cres-cendo no cenário nacional e internacional, nos últimos anos. É resultado do crescimento da re-tirada da água para diferentes usos e da poluição dos recursos hídricos. Tudo isso tem colocado pressão sobre a viabilidade para se ter água lim-pa e sufi ciente lim-para abastecer as gerações futuras. Nos últimos cem anos, a água usada pelo homem aumentou seis vezes, enquanto a população cres-ceu 300%. Esta tendência é insustentável.

Ao mesmo tempo, vemos recursos hídricos em massa sendo destruídos por causa da po-luição industrial, da agricultura e dos resíduos domésticos. A eutrofi zação é um problema em

ENTREVISTA HUUB GIJZEN

Futuro da água depende da

mudança de práticas atuais

Referências

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